Práticas Leitoras Na Escola Letramento Literário Através Da Contística Machadiana
Práticas Leitoras Na Escola Letramento Literário Através Da Contística Machadiana
Práticas Leitoras Na Escola Letramento Literário Através Da Contística Machadiana
1 INTRODUÇÃO
1Para Jacques Derrida, a literatura é uma instituição que tende a extrapolar a instituição. O espaço
da literatura não é somente o de uma ficção instituída, mas também o de uma instituição fictícia,
a qual, em princípio, permite dizer tudo. Assim, a obra se torna uma instituição formadora de
seus próprios leitores.
2 De acordo com Antonio Candido (2011, p. 188), a literatura corresponde a uma necessidade
universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar
forma aos sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos
humaniza.
aponta para o seu discurso literário, político e social repleto de ironia e sarcasmo,
em uma época que marcou a história e a cultura brasileira.
Vale salientar que durante muito tempo, Machado de Assis – escritor
negro – recebeu duras críticas por ser acusado de não demonstrar a angústia
vivida pelos negros durante o período mais obscuro da história de nosso país que
foi a escravidão. Porém, a crítica atual já analisa de maneira diferente,
principalmente Roberto Schwarz que se tornou um dos maiores críticos
machadianos.
Nessa perspectiva, sugerimos, para o letramento literário, o trabalho à luz
das reflexões e metodologias contidas na obra Letramento Literário: teoria e prática
(2012), do professor Rildo Cosson, que apresenta uma metodologia de trabalho
com a Sequência Básica para o ensino fundamental e a Sequência Expandida para
os consequentes níveis de ensino.
A intertextualidade é apontada por Cosson (2012), como um espaço da
literatura em sala de aula. Os dois contos machadianos podem ser lidos em uma
relação de contraste para verificar o que os assemelha e os individualiza.
Também podem ser analisados em relação a apropriação que Machado de Assis
faz da condição do negro na sociedade burguesa, escrevendo contos, romances,
poesias, peças de teatro, crônicas, entre outros textos que, devidamente
contextualizados ajudaram a moldar a noção que temos hoje do que é ser
brasileiro. É exatamente a análise dessas relações que constitui o espaço da
literatura como intertexto.
Pela nossa experiência enquanto discente, professora e assessora
pedagógica vemos que não é comum os professores trabalharem os textos de
Machado de Assis no Ensino Fundamental. Quando questionados sobre o
trabalho com os clássicos machadianos, a maioria acredita ser inviável, pois
considera a linguagem do autor difícil e muito refinada, distante da sintaxe atual,
além de achar os enredos complexos demais para a compreensão dos seus alunos.
A obra machadiana realmente apresenta enredos extensos e com conflitos que
nem sempre são fáceis perceber por conta da ironia particular do autor. No
entanto, isso não impede que as obras sejam lidas neste nível de ensino, pois os
conteúdos de suas narrativas podem ser compreensíveis para esta faixa etária.
Nesse sentido, acreditamos que o trabalho com os contos machadianos nas
aulas de literatura dos anos finais do ensino fundamental fará diferença na
formação dos jovens leitores, mesmo que se apresente uma certa dificuldade
inicial por parte dos alunos na questão da interpretação dos textos. Sobre essas
dificuldades por parte dos discentes, temos consciência que fazem parte da sua
formação enquanto leitor literário, e deve-se encarar como uma etapa natural
desse processo, pois como afirma Compagnon:
Sequência Básica
Motivação:
Introdução:
Leitura:
Interpretação:
Fazer uma mesa redonda de diálogos na sala, com efeito, serão feitas
perguntas com objetivo estético para averiguar a compreensão dos textos.
Formar grupos e pedir que os alunos apresentem o perfil dos personagens
através das características descritas nos textos;
No segundo momento da interpretação, os alunos farão uma atividade
escrita, na qual devem escolher um outro gênero textual para apresentar
os contos; pode ser feito através de desenhos, poesias, paródias,
construção de mural literário, etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antoine Compagnon, que buscam tornar o ensino de literatura nas escolas uma
prática essencial na formação de leitores, enfatizamos aqui a importância de
trabalhar com o letramento literário no ensino fundamental.
Portanto, a partir de nossas discussões, é possível estimular a competência
leitora dos alunos do ensino fundamental, fazendo com que possam perceber a
plurissignificação do texto literário e o seu efeito humano, social, pedagógico,
político e crítico, colaborar com as práticas pedagógicas das escolas públicas no
que se refere à letramento literário, além de dar visibilidade aos contos
machadianos nos anos finais do ensino fundamental.
REFERÊNCIAS
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: _______. Vários Escritos. Rio de Janeiro: Ouro
sobre azul, 2011.
COLOMER, Teresa. Introdução à Literatura infantil e juvenil atual. São Paulo: Global, 2017
COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Editora Contexto, 2012.
DERRIDA, Jacques. Essa estranha instituição chamada literatura: uma entrevista com Jacques
Derrida. Trad. Marileide Dias Esqueda. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
GLEDSON, John. 50 contos de Machado de Assis. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
MELLO, Ana Maria Lisboa de. Processos narrativos nos contos de Machado de Assis. In
Revisando o cânone: questões de historiografia e crítica literária. Organon/UFRGS, Instituto
de Letras – v. 15, n. 30 e 31, 2001. Porto Alegre: Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul.
PAULINO, Graça. COSSON, Rildo. Letramento Literário: para viver a literatura dentro e fora da
escola. In: ZILBERMAN, Regina; ROSING, Tânia M. K. [et al]. Escola e Literatura: velha crise,
novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Mutações da literatura no século XXI. São Paulo: Companhia das
Letras, 2016.