Empreender F4 - Final

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TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA


PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS/MEIs

4
ESG: empresa
do século XXI
José de Paula Barros Neto
Copyright © 2021 Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência: Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira: André Avelino de Azevedo
Gerência Geral: Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos: Raymundo Netto
Gerência Canal FDR: Chico Marinho
Gerência Marketing & Design: Andrea Araujo
Análise de Projetos: Aurelino Freitas e Fabrícia Góis
Edição de Mídias: Isabel Vale

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Gerência Pedagógica: Viviane Pereira
Coordenação de Cursos: Marisa Ferreira
Design Educacional: Joel Lima
Front End: Isabela Marques

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS/MEIs


Concepção e Coordenação Geral: Nazareno Albuquerque
Coordenação Executiva: Valéria Xavier
Coordenação de Conteúdo: José Antônio Fernandes de Macedo e Janaína Oleinik Rosa
Coordenação Editorial: Raymundo Netto
Projeto Gráfico: Andrea Araujo
Ilustração: Rafael Limaverde
Revisão: Daniela Nogueira
Design: Welton Travassos
Estagiária de Design: Kamilla Damasceno
Análise de Marketing Digital: Fábio Jr. Braga
Análise de projetos: Taci Moura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


Fundação Demócrito Rocha
Bibliotecário Me. Francisco Edvander Pires Santos (CRB-3/1212)

T696
Transformação digital para pequenas e médias empresas / Concepção e coordenação geral:
Nazareno Albuquerque; coordenação executiva: Valéria Xavier; coordenação de conteúdo: José
Antonio Fernandes de Macedo e Janaina Oleinik Rosa; ilustrações: Rafael Limaverde. – Fortaleza:
Fundação Demócrito Rocha, 2021.
12 fascículos (192 pg): il. color.

ISBN 978-85-7529-992-0 (coleção)


ISBN 978-85-7529-993-7 (Fascículo 4)

1. Empreendedorismo. 2. Transformação digital. 3. Criatividade e inovação. 4. Metodologias


ágeis. 5. Marketing digital. 6. Modelo de negócio. 7. Proteção de dados. I. Título.

CDD 658.421

Todos os direitos desta edição reservados à:


Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
fdr.org.br | [email protected]
Sumário
Introdução 52
1. Histórico 52
2. Conceituação 53
3. ODS X ESG 58
4. A pequena empresa
no Brasil 60
5. Considerações finais 62
Referências 63
Introdução
E
ste fascículo discutirá o papel do ESG
(Environment, Social and Governance)
para empresas neste momento de
transformação digital, com os respectivos
efeitos nas organizações. Para isso, haverá
a discussão sobre o histórico, a concei-
tuação, os fatores (ambiental, social e de
governança), a relação entre ODS e ESG e
os impactos na pequena empresa.

1
Histórico
A
sigla ESG surgiu pela primeira vez pitalista, iniciada por Reagan e Thatcher, da população, quanto pelas questões eco-
em um relatório, de 2005, intitulado de valorização do mercado, sendo segui- nômicas, que estavam levando a uma alta
“Who Cares Wins” (“Ganha quem se da por várias nações. Ao mesmo tempo, concentração de renda dos mais ricos.
importa”, em tradução livre), resultado de iniciou-se um processo de aumento da Desse modo, o capitalismo precisou
uma iniciativa liderada pela Organização desigualdade social na sociedade, princi- se reinventar, mudando sua visão de um
das Nações Unidas (ONU), em um processo palmente nos países em desenvolvimen- capitalismo de shareholders (foco no acio-
conduzido pelo secretário geral da ONU, Kofi to. Simultaneamente, aumentaram o grau nista) para um capitalismo de stakehol-
A. Annan, refletindo a crescente importân- de escolaridade e o nível de informação ders (foco nos intervenientes), de forma
cia das questões ambientais, sociais e de da população e, consequentemente, uma a distribuir os resultados das empresas
governança corporativa para as práticas maior criticidade. não apenas para os acionistas, mas para
gerenciais (PRI, 2012). Com isso, elevou-se a insatisfação da todas as partes interessadas.
Contudo, o mundo vem, há algum tem- sociedade com o capitalismo, pois obser- Dentro deste caldeirão, reforçou-se a
po, passando por turbulências e por gran- vava-se o aumento da riqueza de poucos importância do ESG (Environment, Social
des transformações. Até o começo dos em detrimento da baixa expectativa de and Governance) para as empresas da-
anos 1990, havia uma “guerra” entre os crescimento dos demais, principalmen- rem início a esse processo de mudança
regimes capitalistas e socialistas, capita- te da juventude. Assim, nos anos 2010 de rumo, em que as questões ambientais,
neados por Estados Unidos e União Sovi- houve várias manifestações em diferen- de responsabilidades sociais e de gover-
ética. Com a queda desta, o capitalismo tes países (Estados Unidos – Tea Party; nança deverão ser implantadas para que
triunfou, aparentemente. França – Coletes amarelos; Brasil – Black sejam reconhecidas como empresas res-
Neste mesmo período, houve um re- bloc), tanto pelas questões políticas, que ponsáveis perante a sociedade.
crudescimento da política neoliberal ca- não estavam mais atendendo aos anseios

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2
Conceituação
A
sigla ESG relaciona-se aos princípios
que norteiam uma agenda atual e
inovadora, com as organizações que
abraçam a causa devendo adotar boas práticas
para cada um deles (Figura 1). Embora o acrô-
nimo ESG não represente um tema necessa-
riamente novo no mercado, vem despontando
como grande tendência e tem sido uma impor-
tante e necessária resposta das empresas
frente aos desafios da sociedade contempo-
rânea, relacionados em especial à integração
da geração de valor econômico aliado à preo-
cupação com as questões ambientais, sociais
e de governança corporativa. É uma forma
de mostrar responsabilidade e comprometi-
mento com o mercado em que atuam, seus
consumidores, fornecedores, colaboradores
e seus investidores (TOTUS, 2021).

Figura 1 – Representação
gráfica do ESG

Environmental
(Meio Ambiente)
Social Environmental (Meio Ambiente)
ESG

Governance
(Governança)

(Fonte: justicaeco.com.br, em 17/09/2021).

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Direitos do
O ESG também pode ser usado para
dizer quanto um negócio busca formas
Figura 2 trabalhador
Direitos dos
Acionistas
de minimizar seus impactos no meio am-
Impacto na Gestão
biente, construir um mundo mais justo e comunidade de Riscos
responsável para as pessoas em seu en-
torno e manter os melhores processos de GO
administração (NUbank, 2021).

VE
I AL
Sendo assim, em um mundo em que Responsabi- Transparência

RN
SOC
as expectativas da sociedade com relação lidade com Fiscal

AN
às empresas são crescentes, a incorpo- clientes

ÇA
ração dos aspectos sociais e ambientais
às estratégias e práticas de governança
corporativa (ESG) ganha cada vez mais Saúde e
importância, proporcionando vantagem Anti-corrupção
Segurança
competitiva às organizações, uma vez que
o seu papel na sociedade passa a ser uma
AMB
IENTAL
questão crítica à sua criação de valor de
longo prazo e atrai cada vez mais a aten-
Mudança Poluição
ção de investidores e demais stakeholders. climática

2.1. Fatores ESG Pegada


Ambiental
Uso de
recursos
Segundo Fernandes e Linhares (2017), as
dimensões ESG possibilitam uma análise
sustentável das organizações em conjun-
to com informações econômico-financei- Fonte: Folha de S.Paulo, 2021.
ras. A dimensão ambiental procura con-
servar e gerir os recursos ambientais, Apesar de ser um assunto bem en- Segundo Fernandes e Linhares (2017),
em especial aqueles tipos de recursos fatizado na Europa, nos Estados Unidos os fatores ESG têm como objetivo apro-
que são indispensáveis ao suporte à vida e no Japão, no Brasil essa discussão co- fundar os componentes ambientais, so-
e que são não renováveis, requerendo meçou a ganhar mais relevância no ano ciais e de governança nas organizações,
uma série de ações; dentre elas, preser- passado, seja no âmbito das empresas, criando a médio e longo prazo elementos
var a diversidade biológica, minimizar os seja entre bancos, corretoras e gestoras de valor. Nos últimos anos, os assuntos
níveis de poluição, promover um consu- de investimento. E tornou-se um fenôme- relacionados a esses fatores passaram
mo responsável e melhorar a qualidade no de peso indiscutível. Nos dias atuais, a atrair mais atenção, de forma que, com
do meio ambiente. A dimensão social os consumidores exigem cada vez mais mudanças no clima social, as corpora-
aborda a igualdade e o respeito pelos que as empresas adotem práticas sus- ções passaram a adotar o gerenciamento
direitos humanos a todos os indivíduos tentáveis do ponto de vista ambiental e se ambiental, a igualdade de oportunida-
da sociedade, com objetivo de promover comprometam do ponto de vista ético e de des, o equilíbrio entre o trabalho e a vida
uma sociedade justa com inclusão social inclusão social. A eclosão da pandemia do pessoal, os direitos trabalhistas e outras
com foco na extinção da pobreza, evitan- novo coronavírus em 2020 e seus impac- políticas socialmente responsáveis como
do qualquer forma de exploração huma- tos gigantescos sobre o mundo ajudaram parte integrante da gestão dos riscos e
na e procurando o bem das comunidades a reforçar essa tendência. Dessa forma, o oportunidades empresariais, e não como
locais. A dimensão de governança busca que antes se restringia a estratégias de um custo comercial adicional.
antecipar os riscos que possam também marketing passou a ser incorporado nas De acordo com Siddy (2009), fatores
repercutir no desempenho econômico da estruturas das companhias, a partir de ligados a questões ESG são fundamen-
organização, preocupando-se em gerar métricas e regras definidas por institui- tais para inovação, produtividade e cres-
prosperidade em diferentes níveis, refle- ções globais, como a Organização das Na- cimento de mercado, como também para
tindo em empregos de qualidade e rique- ções Unidas e o Fórum Econômico Mun- a gestão de risco e para o valor da marca.
za em suas atividades (Figura 2). dial (PINTO, 2021). Além dos investidores, outros tomadores

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de decisão, como legisladores, regulado- e gestores institucionais buscam formas forma que o potencial de retorno dessas
res e profissionais da área contábil, con- de compreender o funcionamento inter- questões tem sido um foco chave, mos-
sideram os fatores ESG nas esferas em- no de uma empresa além da análise fi- trando uma relação positiva entre uma
presarial e de investimento. Os autores nanceira tradicional. Quando esse tipo de boa avaliação ESG e maiores expectati-
Van Duuren, Plantinga e Scholtens (2016) investimento é adotado, eles se destinam vas de lucros.
reforçam essa afirmação, relatando que a criar um impacto positivo na sociedade
cada vez mais os fatores ESG tornam-se
presentes na tomada de decisão de ges-
e no meio ambiente. Investidores social-
mente responsáveis acreditam que, ao
2.2. Governança
tores e investidores, servindo, principal- integrar os fatores ESG no processo de A governança se originou quando os pro-
mente, para melhorar a gestão de riscos. investimento, empresas com desempe- prietários passaram a gerir a distância
Existem diversas razões para o cres- nhos inferiores serão eliminadas. as suas propriedades, seus bens e seus
cimento mundial da procura por estra- Peiris e Evans (2010) relatam que investimentos, delegando a terceiros, aos
tégias ESG, incluindo o desejo de maior existe uma influência das questões ESG agentes, a autoridade e o poder de deci-
transparência nos negócios. Investidores com o desempenho das empresas, de são para administrar o bem em foco, ge-

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rando a desconcentração da propriedade culturais, as relações de poder existentes
(BRASIL, 2014). Dessa forma, a governan- e as limitações ecológicas, pois, se essas
ça surgiu devido ao distanciamento dos preocupações não forem consideradas, o
proprietários da gestão das suas posses, mesmo padrão predatório de desenvolvi-
com o intuito principal de alinhar os de- mento será mantido. E, com isso, o intui-
sejos dos gestores aos dos primeiros, de to de uma maior preservação do planeta
forma a estabelecer ações que venham para a presente e as futuras gerações.
a dirigir, monitorar ou controlar as orga- Luiz et al. (2013) abordam, na questão
nizações para o alcance dos resultados ambiental, a proteção e a preservação do
almejados (TEIXEIRA; GOMES, 2019). Ela meio ambiente com uso racional dos re-
deve cuidar da lisura dos processos cor- cursos naturais, redução dos padrões de
porativos, garantindo a independência do consumo, destinação adequada de resí-
conselho de administração e investindo duos, contenção do desperdício de água e
em mecanismos para impedir casos de energia, controle da poluição, combate às
corrupção e da não valorização da diversi- mudanças climáticas e adoção de critérios
dade de gênero, de raça, de visão política. sustentáveis na escolha dos fornecedores.
A governança se torna o fator que via- Enfatizando agora o aspecto ambien-
biliza a solidificação da preocupação so- tal da sustentabilidade, Camargo (2003)
cioambiental nas organizações, fazendo o e Veiga (2006) afirmam que a gradativa
ESG permear em toda a empresa. Pode-se e desregulada utilização dos recursos
dizer que os aspectos de governança são naturais do planeta no processo de de-
estruturantes. Os princípios de equidade, senvolvimento da humanidade vem sen-
transparência, relações com entes gover- do responsável pela geração de efeitos
namentais e regras evidentes de gestão danosos sobre o meio ambiente. Dessa
corporativa instituem o framework sobre o forma, a preocupação com a questão am-
qual os fatores ambientais e sociais se de- biental, ao longo dos últimos anos, tem
senvolvem. Assim, é a governança que ga- estado em evidência na sociedade devido
rante que exista uma forma de trabalhar aos constantes desastres naturais como
essas questões dentro das companhias, efeito visível de um processo degradante
com mensurações, verificações e accoun- provocado pela ação humana na acentua-
tability (QUEIROZ; WATANABE, 2021). da utilização dos recursos naturais, mui-
tas vezes superiores à capacidade com
que o meio ambiente se regenera (VAS-
2.3. Sustentabilidade CONCELOS, 2015). Esses impactos que
ambiental são danosos ao meio ambiente podem
funcionar como limitadores do processo
De acordo com a sustentabilidade am- desenvolvimentista (BORGES et al., 2015).
biental, é preciso definir limites às pos- A dimensão ambiental preza que deve
sibilidades de crescimento de determi- ser diminuído o consumismo exacerbado
nada sociedade, definindo um conjunto e deve fomentar a reciclagem e o aprovei-
de iniciativas que levem em consideração tamento de produtos, a fim de se atingir
a existência de interlocutores e partici- a sustentabilidade ambiental. O objetivo
pantes sociais relevantes e ativos, forta- não é que a sociedade não consuma, mas
lecendo a corresponsabilidade e a cons- que isso seja feito de forma consciente,
tituição de valores éticos, acarretando passando a comprar somente aquilo de
em políticas que visam a uma sociedade que necessita, gerando menos descartes
sustentável, sem ignorar as dimensões (OLIVEIRA; ÁRTICO, 2019).

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2.4. Responsabilidade social
A dimensão social indica o respeito aos Nascimento, Lemos e Mello (2008) e
direitos humanos e a igualdade de opor- Khoury, Rostami e Turnbull (1999) com-
tunidades dos indivíduos na sociedade, plementam essa visão afirmando que
por meio da promoção de uma sociedade a questão social diz respeito à cidada-
mais justa, da inclusão social, da proteção nia corporativa, incluindo o respeito aos
de seus clientes, como proteção de dados funcionários e suas famílias, bom rela-
e satisfação, da distribuição equitativa dos cionamento com os grupos de interesse
bens, com foco na extinção da pobreza e e associações representativas, criação e
do racismo e a preocupação com as comu- manutenção de empregos, desempenho
nidades locais para o reconhecimento e o financeiro da entidade e investimento em
respeito à diversidade cultural, além de evi- atividades comunitárias.
tar toda forma de exploração (LIMÃO, 2007). Ao apresentar a definição de susten-
Mckenzie (2004) relata cinco princí- tabilidade social, é indispensável enfati-
pios de sustentabilidade social: zar a sua importância, em igual peso, ao
1) equidade: a comunidade oferece opor- comparar com as dimensões econômicas
tunidades e resultados equitativos para e ambientais do desenvolvimento sus-
todos os seus membros, particularmente tentável. Entretanto, trazer a discussão
aos mais pobres e vulneráveis; sobre a dimensão social é relevante, já
2) diversidade: a comunidade promove e
que esta dimensão tem sido a mais ne-
impulsiona a diversidade;
gligenciada em detrimento das outras, de
3) interligação: a comunidade fornece pro-
forma que as organizações e seus admi-
cessos, sistemas e estruturas que promo-
nistradores precisam ter informações e
vem a conexão dentro e fora da comunida-
destinar mais atenção para as questões
de no nível formal, informal e institucional;
sociais (LOURENÇO; CARVALHO, 2013).
4) qualidade de vida: a comunidade ga-
A dimensão social é considerada o pi-
rante que as necessidades básicas serão
lar esquecido da sustentabilidade, princi-
atendidas e oferece uma boa qualidade de
vida para todos os membros, individual, palmente no meio corporativo, e um dos
grupal e comunitário; motivos é a dificuldade de estabelecer
5) democracia e governança: a comuni- indicadores e de mensurar os impactos
dade proporciona processos democráti- para entender melhor o que é neces-
cos e estruturas de governança abertas e sário fazer para avançar neste campo
responsáveis. (HUTCHINS et al., 2019).

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3
ODS X ESG
O
s Objetivos de Desenvolvimento Sus- composta por 17 objetivos e 169 metas a
tentável (ODS) (Figura 3) são uma serem atingidos até 2030. Os objetivos e as
agenda mundial adotada durante a metas são integrados e abrangem as três
Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvol- dimensões do desenvolvimento sustentável –
vimento Sustentável, em setembro de 2015, social, ambiental e econômica (Amorim, 2021).

Figura 3 – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: https://blog.atados.com.br/relacao-praticas-esg-ods/ Acessado em: 17/09/2021

A pauta do Desenvolvimento Susten- partir das quais uma empresa pode ser cialmente responsáveis viraram temas
tável, colocada pela ONU por meio dos avaliada nesse contexto. vitais para as empresas (Amorim, 2021).
Duas palavras pequenas, mas com um Essas duas siglas guiam as empre-
Objetivos de Desenvolvimento Susten-
significado enorme. A cada dia, a socieda- sas com foco na sustentabilidade. Alguns
tável, os ODS, que compõem a Agenda
de tem mais consciência da importância comportamentos que existiram antes
2030, mais do que elencar valores da so-
dos temas ambientais e sociais, mudando não são mais aceitáveis pela sociedade
ciedade, direciona importantes mudan- no mundo todo, e as empresas precisam
a forma de como escolhe as marcas de
ças de comportamento e das formas de mostrar cada vez mais que são sustentá-
seus produtos, serviços e investimentos.
produção. O ESG indica três dimensões a Por isso, as práticas sustentáveis e so- veis (Amorim, 2021), conforme Figura 4.

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Figura 4 – Exemplos de relação entre ODS e ESG.
ODS ESG
Desenvolve produtos ou serviços que beneficiam e melhoram a qualidade de vida de grupos
1. Erradicação da pobreza
economicamente vulneráveis. 

2. Fome zero e agricultura


Apoia pequenos produtores de alimentos e a agricultura familiar.
sustentável

Incentiva comportamentos saudáveis entre seus públicos e melhora o acesso de seus colaboradores
3. Saúde e bem-estar
aos cuidados com a saúde.

Assegura que os funcionários de suas operações diretas e da cadeia de fornecimento tenham acesso
4. Educação de qualidade 
a treinamento profissional e oportunidades de aprendizagem.

Trata mulheres e homens de forma justa, com oportunidades iguais de crescimento profissional e
5. Igualdade de gênero
equiparação de cargos e salários. 

6. Água potável e Implanta estratégias de gestão da água que sejam ambientalmente sustentáveis e economicamente
saneamento benéficas na região hidrográfica em que atua.

7. Energia acessível Aumenta sua eficiência energética, utiliza fontes renováveis e leva essas ações à sua cadeia de
e limpa suprimentos.

8. Trabalho decente e Garante condições de trabalho decente para funcionários em toda a sua operação e na cadeia de
crescimento econômico negócios e suprimentos.

9. Indústria, inovação e Investe em tecnologia para criar produtos, serviços e modelos de negócios que promovam uma
infraestrutura infraestrutura sustentável, moderna e resiliente.

10. Redução das


Desenvolve políticas de compras que beneficiam pequenas empresas da região em que atua.
desigualdades

11. Cidades e Reflete sobre as melhores políticas de deslocamento e mobilidade de funcionários bem como de
comunidades sustentáveis produtos e matéria-prima, dentro do contexto urbano.

12. Consumo e produção Desenvolve, implementa e compartilha soluções para rastrear e divulgar a procedência de seus
responsáveis produtos.

13. Ação contra a Reduz substancialmente as emissões associadas às operações próprias e às da cadeia de
mudança global do clima suprimentos, em alinhamento com os mecanismos de regulação climática.

Pesquisa, desenvolve e implementa produtos, serviços e modelos de negócios que eliminam


14. Vida na água 
impactos nos ecossistemas oceânicos e colaboram para sua restauração.

Implementa políticas e práticas para proteger os ecossistemas naturais que são afetados por suas
15. Vida terrestre
atividades e pelas ações de sua cadeia de suprimentos (embalagem biodegradável).

16. Paz, justiça e Identifica e toma medidas eficazes contra a corrupção e a violência, nas suas próprias operações e
instituições eficazes nas de sua cadeia de abastecimento.

17. Parcerias e meios de Atua em conjunto com o governo e a sociedade civil em prol dos Objetivos de Desenvolvimento
implementação Sustentável.

Fonte: www.sgssustentabilidade.com.br – Acessado em 17/09/2021

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4
A pequena empresa no Brasil
P
rimeiramente, uma das princi- A terceira característica deste tipo de
pais características da pequena empresa diz respeito à sua administração,
empresa está relacionada com a pois ela é geralmente feita dentro de uma
concentração de poder na figura do execu- estrutura familiar, na qual os proprietá-
tivo-chefe. Ou seja, a maioria das questões rios e seus parentes dividem as funções
e decisões (de operacionais a estratégicas) administrativas entre si (TAJRA; SANTOS;
passa pelo crivo dele (MINTZBERG, 2003). SEABRA, 2021). Frequentemente, muitos
Eles também gostam de uma mistura de deles não têm conhecimento aprofunda-
eventos (rápidos, de preferência) e de dias do das técnicas administrativas.
repletos com um máximo de variedades, Por fim, a quarta grande particulari-
complementa Handy (2012). Em função dade da pequena empresa brasileira está
disso, muitas vezes, as pequenas organiza- relacionada com a cultura do país. Segun-
ções tornam-se paternalistas e autocráti- do Barros e Prates (2010), tem-se uma
cas, gerando uma grande dependência dos cultura imediatista de não valorização
liderados com os líderes na consequente da memória com uma perspectiva volta-
manutenção do poder na mão de poucos. da para o presente (valorização do cur-
Por um lado, este executivo tende a se to prazo em detrimento do longo prazo).
concentrar na tomada de decisões ope- Normalmente, tomam-se decisões pen-
racionais e, muitas vezes, ele não tem sando na sobrevivência atual por meio
capacidade nem informação suficiente de uma criatividade pragmática de curto
para tomá-las. Essa atitude, por outro prazo. Consequentemente, nas pequenas
lado, acaba sobrecarregando-o e dificul- empresas, não se consegue pensar em
tando a realização de atividades mais li- um horizonte de tempo muito amplo e,
gadas à sua função (estratégica) dentro normalmente, elas trabalham dentro de
da empresa: busca de novos negócios e uma postura defensiva, na qual observam
oportunidades, análise dos concorrentes o ambiente para ver o que acontece, es-
e contato com clientes reais e potenciais. perando alguma empresa experimentar
Há também a relutância do proprietário uma novidade para analisar as suas con-
em dividir autoridade e responsabilidade. sequências e verificar a possibilidade de
Outra característica está relacionada implementá-la também.
com a pessoalidade, pois a propriedade e Além da consequência menciona-
a administração na pequena empresa são da no parágrafo anterior, há outras que
geralmente exercidas pela mesma pes- merecem destaque. Normalmente, são
soa – no caso, o proprietário. Isso faz com empresas enxutas com uma boa mobili-
que as suas características pessoais e seus dade e de fácil gestão, nas quais as co-
anseios, desejos, complexos e ambições municações fluem informalmente, com
sejam transferidos para os negócios e aca- um contato rápido e direto entre a cúpula
bem influenciando os objetivos a serem da empresa e os operários, permitindo
perseguidos e as estratégias adotadas pela respostas rápidas e eficazes, porém com
empresa. Observa-se, assim, que as em- uma certa aversão à burocratização das
presas refletem a “cara” e a personalidade atividades. O fluxo de trabalho tende a ser
de seus donos (BARROS; PRATES, 2010). flexível, com os serviços do núcleo opera-

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cional sendo relativamente sem especia-
lização e intercambiáveis.
Como segunda consequência, o poder
do líder (ou dono) é fortemente baseado
no carisma. Ou seja, as pessoas que tra-
balham em uma pequena empresa têm
afinidade e confiança no seu chefe. Por-
tanto, essa postura carismática faz com
que a distribuição de poder e funções,
muitas vezes, não ocorra por méritos,
mas por afinidade com o executivo-chefe.
Os proprietários, por sua vez, tendem
a tomar todas as suas decisões baseados
na intuição e no bom senso; não valori-
zam muito a fase de análise e preferem
passar rapidamente para ação e apren-
der por meio de processos de tentativa e
erro. Há alguns riscos relacionados com
esta tendência.
No entanto, a principal consequência
das particularidades explanadas anterior-
mente é a flexibilidade que as empresas
adquirem para se adaptar rapidamente a
novas situações. Em função disso, é dada
pouca ênfase na observação do futuro,
não havendo preocupação em observar
as mudanças antes de outras empresas
e, por conseguinte, não valorizando a es-
truturação de um planejamento de longo
prazo. Desse modo, observa-se que a fle-
xibilidade proporciona agilidade e rapidez
de adaptação ao ambiente para as pe-
quenas empresas, fato não visto em em-
presas de maior porte. Todavia, quando
mudanças estruturais precisam ocorrer,
a única pessoa com poder para fazê-las
(o executivo-chefe) comumente resiste,
arraigado às suas percepções baseadas
em experiências passadas. Como conse-
quência, a grande força da pequena em-
presa – a flexibilidade – torna-se, então, a
sua principal fraqueza.

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS/MEIs | 61


5
Considerações
finais

D
e acordo com Elkington (2001),
os pilares econômico, social e
ambiental ainda podem sofrer
intersecções. A intersecção das dimen-
sões sociais e ambientais gera a justiça
ambiental, sendo ela responsável pela
equidade intra e intergerações, tendo como
resultado a necessidade de investimentos
em educação e treinamento para as pes-
soas e as comunidades.
Diversos estudos relatam uma ligação
entre um bom desempenho socioambien-
tal e os resultados financeiros. Entre os ções devem adotar políticas ambientais preensão de como esses fatores podem
mais importantes objetivos e benefícios de como ações estratégicas para a empresa, afetar os ativos e gerar valor para clien-
avaliar e reportar a sustentabilidade, es- com objetivo de conseguir uma melhor tes e investidores (CARLOS, 2020).
tão: ganho de vantagem competitiva; legi- preservação ambiental e uma melhor Porém este é um caminho sem volta
timação das atividades, dos produtos e dos qualidade de vida. Essas ações, como já para a sobrevivência das empresas, num
serviços corporativos, que produzem im- enfatizado, também se relacionam com o mundo cada vez interconectado, diver-
pactos ambientais e sociais; comparação e propósito de tornar as organizações mais so e injusto. Para a pequena empresa, é
benchmarking com concorrentes; aumento competitivas, agregando mais valor aos mais desafiador ainda, mas também uma
da reputação corporativa e do valor da mar- seus produtos (GOLLO et al., 2013). oportunidade de se diferenciar em um
ca; crescimento da transparência e da res- Contudo, esse não é um processo mercado cada vez mais competitivo. Ou
ponsabilidade dentro da empresa; e moti- simples, porque parte da necessidade de seja, a aplicação é uma oportunidade ino-
vação dos funcionários (TELES et al., 2016). uma mudança cultural dos dirigentes das vadora de as empresas se posicionarem
É observado que os consumidores es- empresas e do reconhecimento da cons- no mercado agregando valor ao produto/
tão cada vez mais exigentes e priorizando tante continuidade deste processo, inte- serviço e, consequentemente, gerando
produtos ambientalmente viáveis; por- grados às estratégias das organizações e melhores resultados financeiros. Portan-
tanto, os administradores das organiza- às práticas de gestão. Voltam-se à com- to, é uma escolha estratégica.

62 | FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA - UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


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TRANSFORMAÇÃO DIGITAL PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS/MEIs | 63


Autor
José de Paula Barros Neto
Graduado em Engenharia Civil (UFC), doutor em Administração (UFRGS) e pós-doutor
em Engenharia Civil (University of Texas at Austin). É professor titular da Universidade
Federal do Ceará (UFC), professor do Programa de Pós-Graduação em Administração e
Controladoria (PPAC/UFC) e do Programa Pós-Graduação em Estruturas e Construção
Civil (PEC/UFC). É líder do Grupo de Pesquisa e Assessoria em Gerenciamento da Cons-
trução Civil (Gercon/UFC) e coordenador geral da Plataforma Ceará 2050. É ex-diretor
do Centro de Tecnologia/UFC e ex-presidente da Fundação Astef.

Ilustrador
Rafael Limaverde
Nascido em Belém e naturalizado cearense, começou sua carreira como cartunista
e ilustrador editorial. Paralelo a carreira como ilustrador, passou a trabalhar como
xilogravurista onde, no ano 2000, fez sua primeira exposição de gravura intitulada “Xi-
lofagia”. Graduou-se em Artes Visuais (IFCE) e fez parte do Grupo Acidum. Atualmente
trabalha com design, xilogravura, intervenção urbana e ilustração, principalmente, de
livros infantis, entre os quais também é autor.

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