Casos Práticos Resolvidos - TGDC - Capelo de Sousa
Casos Práticos Resolvidos - TGDC - Capelo de Sousa
Casos Práticos Resolvidos - TGDC - Capelo de Sousa
CASO PRÁTICO 1
António
(74
anos)
e
Bernardo
(17
anos),
pai
e
filho
respectivamente
com
74
e
17
anos
de
idade,
estavam
embarcados
num
navio
de
pesca
que
após
largada
do
porto
da
Figueira
da
Foz,
deixou
de
ser
visto
ou
contactado
desde
15
de
Setembro
de
2006.
Após
continuo
patrulhamento
da
marinha
de
guerra
portuguesa
durante
30
dias,
após
várias
diligências
do
Ministro
dos
Negócios
Estrangeiros
e
após
terem
aparecido
a
boiar
os
cadáveres
de
3
outros
marinheiros,
em
10
de
Janeiro
de
2007,
por
sonda,
descobriu-se
um
navio
a
10
milhas
de
profundidade.
António
estava
casado
com
Carla
e
Bernardo
com
Dalila.
Bernardo
é
o
único
filho
de
António
e
Carla.
António
era
proprietário
de
um
terreno
agrícola
e
uma
loja
comercial
de
artigos
de
pesca.
A
quem
devem
ser
entregues
tais
bens?
2
3
António
faria
81
anos
e
não
dava
notícias
há
mais
de
5
anos.
A
sua
morte
poderia
assim
ser
declarada.
Já
quanto
a
Bernardo,
por
ser
menor,
a
declaração
de
morte
presumida
apenas
podia
ser
proferida
passados
cinco
anos
sobre
a
data
em
que
o
jovem,
se
fosse
vivo,
atingiria
a
maioridade,
isto
é,
apenas
podia
ser
proferida
quando
Bernardo
completasse
23
anos
de
idade
(2012).
Os
herdeiros
de
Bernardo
seriam
a
sua
mãe
e
a
sua
mulher.
O
que
agora
fica
exposto
alicerça-‐se,
respectivamente,
nos
n.º
1
e
2
do
artigo
114.º.
4
CASO PRÁTICO 2
Incapacidades
Miguel
vem
evidenciando,
desde
há
largo
tempo,
sinais
de
perturbações
psíquicas
que
o
impedem
de
reger
os
seus
bens.
Em
virtude
disso,
José,
seu
pai,
propõe
contra
si
a
competente
acção
judicial
tendente
a
restringir
a
sua
capacidade
de
exercício
de
direitos.
Foi
dada
publicidade
à
mesma
em
1
de
Abril
de
2008
e
foi
registada
a
sentença
que,
dando
razão
a
José,
o
nomeia
tutor
do
seu
filho
em
1
de
Outubro
de
2009.
Desde
o
momento
da
propositura
da
acção,
Miguel
praticou
uma
série
de
actos:
a)
Em
3
de
Junho
de
2009
vendeu
a
Constança
um
bilhete
de
lotaria
que
comprara
e
que
viria
a
ser
premiado
uma
semana
mais
tarde;
b)
Em
3
de
Maio
de
2010
comprou,
sem
autorização
do
seu
pai,
um
apartamento;
c)
Em
5
de
Novembro
de
2010
vendeu
os
frutos
de
um
pomar,
também
sem
autorização
do
seu
tutor.
Sabendo
que
José
teve
conhecimento
imediato
dos
actos,
diga
quem
pode
hoje
reagir
contra
eles.
A
presente
situação
prática
trata
do
problema
da
capacidade
de
exercício
de
direitos
(ou
capacidade
para
agir).
Ora,
em
primeiro
lugar,
e
antes
de
proceder
à
resolução
do
caso
em
concreto,
é
fundamental
esclarecer
em
que
é
que
consiste
a
capacidade
de
exercício
de
direitos
e
a
capacidade
de
gozo
de
direitos.
Nas
palavras
de
Manuel
de
Andrade,
a
personalidade
jurídica
consiste
na
aptidão
ou
idoneidade
para
ser
sujeito
de
relações
jurídicas,
ou
seja,
para
ser
centro
de
imputação
de
efeitos
jurídicos
(constituição,
modificação
ou
extinção
de
relações
jurídicas).
Nas
pessoas
singulares
esta
qualidade
é
uma
exigência
do
direito
à
dignidade
e
ao
respeito
que
se
tem
de
reconhecer
a
todos
os
seres
5
6
7
b) Quanto
à
compra,
a
3
de
Maio
de
2010,
sem
autorização
do
seu
pai,
de
um
apartamento,
a
questão
que
se
coloca
é
distinta.
A
sentença
de
interdição
já
foi
registada
e
os
actos
jurídicos
praticados
neste
período
estão
feridos
de
anulabilidade.
No
entanto,
existem
excepções,
ou
seja,
certos
actos
que
podem
ser
praticados
pelo
interdito.
Estes
actos
estão
previstos
no
art.
127º
nº1
CC.
De
acordo
com
este
artigo,
são
válidos:
os
actos
de
administração
ou
disposição
de
bens
que
o
maior
de
dezasseis
anos
haja
adquirido
por
seu
trabalho;
os
negócios
jurídicos
próprios
da
vida
corrente
do
menor
que,
estando
ao
alcance
da
sua
capacidade
natural,
só
impliquem
despesas,
ou
disposições
de
bens,
de
pequena
importância;
os
negócios
jurídicos
relativos
à
profissão,
arte
ou
ofício
que
o
menor
tenha
sido
autorizado
a
exercer,
ou
os
praticados
no
exercício
dessa
profissão,
arte
ou
ofício.
Podemos
entender
que
o
apartamento
que
Miguel
comprou
não
se
enquadra
em
nenhuma
destas
alíneas,
nem
na
alínea
b),
uma
vez
que
implica
uma
despesa
de
grande
importância.
Assim
concluímos
pela
anulabilidade
deste
acto.
Mais
uma
vez
se
refere
que
quanto
ao
8
c) No
que
diz
respeito
à
venda
dos
frutos
do
pomar,
sem
autorização
do
seu
tutor,
a
5
de
Novembro
de
2010
(ou
seja,
após
o
registo
da
sentença),
e
tendo
em
conta
que
o
interdito
se
equipara
a
um
menor,
trata-‐se
de
saber
se
o
incapaz
se
encontra
englobado
ou
não
pelas
excepções
do
art.
127º
relativas
à
incapacidade
dos
menores.
Ora,
no
art.
127.º,
n.º
2
alínea
b)
preveêm-‐se
os
negócios
jurídicos
próprios
da
vida
corrente
do
menor
(neste
caso
interdito),
que
só
impliquem
despesas
ou
disposições
de
bens
de
pequena
importância.
Impõe-‐se
aqui
a
necessidade
de
diferenciar
actos
de
disposição
de
actos
de
mera
administração,
cujo
critério
de
distinção
assenta
no
risco
que
acarretam.
Um
acto
de
disposição
de
bens
acarreta
um
risco
mais
elevado
para
o
incapaz,
é
um
acto
de
muita
responsabilidade
e,
por
isso,
necessita
de
uma
autorização
do
tutor
(venda
de
um
terreno).
Já
um
acto
de
mera
administração
acarreta
um
risco
bastante
menor
que
se
prende,
por
exemplo,
com
a
manutenção
dos
bens
do
interdito
(arranjo
de
um
telhado,
ou
venda
de
frutos
de
um
terreno).
Estes
são
actos
de
fruição,
de
gerência,
que
não
afectam
a
substância.
Nestas
circunstâncias,
a
venda
dos
frutos
do
pomar
é
um
acto
de
mera
administração
e,
por
isso,
não
é
admitida
a
possibilidade
de
ser
arguida,
por
José,
a
anulabilidade
de
tal
negócio
9
que
obedece,
como
se
verificou
a
uma
das
excepções
previstas
no
artigo
127.º
do
Código
Civil.
10
CASO PRÁTICO 3
11
12
13
Civil.
Por
esse
motivo,
estamos
perante
uma
situação
de
incapacidade
de
gozo
para
perfilhar,
cuja
sanção
é
a
anulabilidade.
Esta
incapacidade
não
pode
ser
suprida.
Este
negocio
é
inválido.
14
CASO PRÁTICO 4
Menoridade
Miguel,
nascido
a
1
de
Agosto
de
1990,
praticou
os
seguintes
actos:
a) comprou
em
5
de
Janeiro
de
2006
um
automóvel
a
Pedro,
tendo
para
o
efeito
falsificado
os
seus
dados
de
identificação
fazendo
deles
constar
uma
data
de
nascimento
anterior
à
real
b) vendeu
em
9
de
Outubro
de
2006
um
valioso
anel
de
família
que
tinha
herdado
do
seu
avô
c) com
o
consentimento
dos
pais,
casou
em
1
de
Setembro
de
2007
com
Inês
d) em
30
de
Janeiro
de
2008,
vendeu
a
Eduardo
um
apartamento
sem
o
conhecimento
da
sua
mulher,
e
sem
que
até
hoje
tenha
sido
paga
a
totalidade
do
preço.
Qual
o
valor
dos
actos
praticados
por
Miguel?
Quem
e
dentro
de
que
prazo
poderá
reagir
contra
ele?
a) Em
2006,
ano
da
compra
do
automóvel
por
parte
de
Miguel,
este
tinha
15
anos.
Com
15
anos
era
menor,
e
por
isso
padecia
de
uma
incapacidade
geral,
de
acordo
com
o
artigo
123.º
do
Código
Civil.
No
entanto,
existem
excepções.
Os
menores
podem
praticar
os
actos
e
negócios
previstos
nas
alíneas
a),
b)
e
c)
do
n.º1
do
artigo
127.º
do
Código
Civil.
Fora
estas
ressalvas,
todos
os
negócios
jurídicos
praticados
pelo
menor
são
anuláveis
(artigo
125.º
do
Código
Civil).
Uma
vez
que
este
acto
não
se
enquadra
em
nenhuma
das
situações
previstas
pelo
legislador,
consideramo-lo
anulável.
O
negocio
é
inválido.
Esta
anulabilidade
pode
ser
arguida
por
Miguel,
quando
maior
ou
emancipado,
de
acordo
com
o
art.
125º
nº2.
15
16
17
CASO PRÁTICO 5
Capacidade de exercício de direitos
Maria,
cônjuge
de
Bernardo,
propôs,
em
Novembro
de
2008,
uma
acção
em
tribunal
contra
este,
à
qual
foi
dada
publicidade
em
Maio
de
2009,
por
entender
que
o
seu
marido
pratica
repetidamente
actos
patrimoniais
injustificados
e
ruinosos.
Em
Agosto
de
2009,
Bernardo
vendeu
a
Xavier
por
18
mil
euros
um
automóvel
antigo
que
posteriormente
teve
uma
acentuada
valorização.
Findo
o
processo,
a
sentença
deu
razão
a
Maria.
Um
mês
depois,
Bernardo
comprou
a
Afonso,
com
o
dinheiro
da
venda
dos
frutos
de
um
pomar,
os
materiais
para
a
reconstrução
de
um
poço
e
vendeu,
nessa
mesma
data,
um
terreno
agrícola
seu
por
bom
preço.
Em
Janeiro
de
2008,
havia
vendido
a
casa,
onde
vivia
com
a
mulher,
que
tinha
recebido
por
herança
e
em
Fevereiro
de
2008
vendeu
o
carro
da
sua
esposa,
o
qual
Maria
tinha
recebido
por
doação
de
um
tio.
Quid
iuris?
A
presente
situação
prática
trata
do
problema
da
capacidade
de
exercício
de
direitos
(ou
capacidade
para
agir).
Ora,
em
primeiro
lugar,
e
antes
de
proceder
à
resolução
do
caso
em
concreto,
é
fundamental
esclarecer
em
que
é
que
consiste
a
capacidade
de
exercício
de
direitos
e
a
capacidade
de
gozo
de
direitos
(ou
capacidade
jurídica).
Nas
palavras
de
Manuel
de
Andrade,
a
personalidade
jurídica
consiste
na
aptidão
ou
idoneidade
para
ser
sujeito
de
relações
jurídicas,
ou
seja,
para
ser
centro
de
imputação
de
efeitos
jurídicos
(constituição,
modificação
ou
extinção
de
relações
jurídicas).
Nas
pessoas
singulares
esta
qualidade
é
uma
exigência
do
direito
à
dignidade
e
ao
respeito
que
se
tem
de
reconhecer
a
todos
os
seres
humanos.
À
personalidade
jurídica
(art.
66.º
do
CC)
é
inerente
a
capacidade
de
gozo
de
direitos,
que
se
traduz
na
aptidão
para
ser
titular
de
um
circulo,
maior
ou
menos,
de
relações
jurídicas
(art.
67.º
CC).
Diferente
é
a
capacidade
para
o
exercício
de
direitos,
a
qual
corresponde
à
aptidão
para
actuar
juridicamente,
exercendo
direitos
e
cumprindo
obrigações,
adquirindo
direitos
e
assumindo
18
obrigações
(e
deste
modo
se
deveria
falar
em
capacidade
para
agir),
por
acto
próprio
e
exclusivo
ou
mediante
um
representante
voluntário
ou
um
procurador,
isto
é,
um
representante
escolhido
pelo
próprio
interessado.
A
pessoa
age
pessoalmente,
não
carecendo
de
ser
substituída
por
um
representante
legal
e
age
autonomamente,
não
necessitando
do
consentimento,
anterior
ou
posterior
ao
acto,
de
outra
–
o
assistente.
Na
sua
falta
desta
capacidade
encontramo-‐nos
perante
uma
incapacidade
de
exercício
de
direitos,
que
pode
ser
genérica,
se
for
referente
a
todos
os
actos
jurídicos,
ou
específica,
se
apenas
se
referir
a
alguns
actos
em
particular.
Esta
incapacidade
de
agir
pode
ser
suprida,
quer
através
do
instituto
da
representação
legal,
significando
que
o
representante
legal
actua
em
substituição
do
incapacitado,
um
menor
ou
um
interdito,
quer
através
do
instituto
da
assistência,
em
que
o
assistente
autoriza
o
incapaz
na
sua
actuação,
caso
estejamos
perante
um
inabilitado.
Neste
caso
em
concreto
estamos
perante
uma
situação
de
inabilitação.
Estão
sujeitos
a
inabilitação
os
indivíduos
cuja
anomalia
psíquica,
surdez-‐mudez
ou
cegueira,
embora
de
carácter
permanente,
não
seja
tão
grave
que
justifique
a
interdição,
indivíduos
que
se
revelem
incapazes
de
reger
o
seu
património
por
habitual
prodigalidade
ou
pelo
abuso
de
bebidas
alcoólicas
ou
de
estupefacientes
(artigo
152.º
do
Código
Civil).
Aqui
em
concreto,
o
fundamento
da
inabilitação
é
a
prodigalidade.
Esta
categoria
abrange
os
indivíduos
que
praticam
habitualmente
actos
de
delapidação
patrimonial.
Trata-‐se
da
prática
de
actos
de
dissipação,
de
despesas
desproporcionadas
aos
rendimentos,
improdutivas
e
injustificáveis.
Bernardo
enquadra-‐se
precisamente
nesta
categoria
fundamento
de
inabilitação.
De
todo
o
modo,
a
incapacidade
dos
inabilitados
não
existe
pelo
simples
facto
da
existência
das
circunstâncias
referidas
no
mencionado
artigo;
torna-‐se
necessária
uma
sentença
de
inabilitação.
A
incapacidade
dos
inabilitados
é
suprida
pelo
instituto
da
assistência
e
a
pessoa
encarregada
de
suprir
tal
incapacidade
é
designada
pela
lei
por
curador.
A
inabilitação
é
uma
incapacidade
específica.
A
lei
não
regula
directamente
o
problema
do
valor
dos
actos
praticados
pelo
inabilitado,
sendo
aplicáveis
as
disposições
que
vigoram
acerca
do
valor
dos
actos
dos
interditos,
por
força
do
artigo
156.º.
Há
que
aplicar,
portanto,
os
artigos
148.º,
149.º
e
150.º
do
CC.
As
características
da
anulabilidade
são,
com
as
19
necessárias
adaptações,
as
do
artigo
125.º,
também
ele
aplicável
por
remissão
do
artigo
156.º.
A
venda
do
automóvel
foi
praticada
na
pendência
do
processo
de
inabilitação.
Assim,
e
de
acordo
com
o
art.
149.º,
que
regula
os
actos
praticados
pelo
incapaz
no
decurso
da
acção,
os
negócios
jurídicos
praticados
pelo
incapaz
são
passíveis
de
ser
anulados,
contando
que
se
verifiquem
dois
requisitos:
exige-se
que
a
inabilitação
seja
definitivamente
decretada
e
que
se
mostre
que
o
negócio
jurídico
em
apreço
causou
prejuízo
ao
interdito.
Veja-‐se:
se
o
acto
foi
praticado
depois
de
publicados
os
anúncios
da
proposição
da
acção
e
a
inabilitação
vem
a
ser
decretada,
haverá
lugar
à
anulabilidade,
desde
que
“se
mostre
que
o
negócio
causou
prejuízo
ao
inabilitado”.
O
primeiro
requisito
encontra-se
preenchido.
Quanto
ao
segundo,
a
questão
é
um
pouco
mais
complexa,
na
medida
em
que
os
negócios
praticados
pelo
interdito
na
pendência
do
processo
da
acção
(entre
a
publicação
dos
anúncios
da
propositura
da
acção
e
o
registo
da
sentença
de
interdição
definitiva)
só
serão
anuláveis
se
forem
considerados
prejudiciais
numa
apreciação
reportada
ao
momento
da
prática
do
acto,
não
se
tomando
em
conta
eventualidades
ulteriores,
dado
que
isso
faria
com
que
ninguém
estivesse
disposto
a
contratar
com
um
interdicendo,
pois
viria
sempre
a
correr
o
risco
de
o
negócio
desabar
(por
um
determinado
terreno
vir
a
valorizar,
por
exemplo).
Partindo
do
princípio
de
que
no
momento
da
venda
não
houve
prejuízo
para
Bernardo
(a
valorização
do
automóvel
verifica-se
posteriormente
à
venda),
este
negócio
jurídico
não
é
susceptível
de
ser
anulado.
A
compra
dos
materiais
para
reconstrução
de
um
poço
trata-se
de
um
acto
de
mera
administração.
Um
acto
de
mera
administração
acarreta
um
risco
bastante
menor
do
que
um
acto
de
disposição
de
bens.
Prende-‐se,
por
exemplo,
com
a
manutenção
dos
bens
do
interdito
(arranjo
de
um
telhado,
ou
venda
de
frutos
de
um
terreno).
Nestas
circunstâncias,
não
é
admitida
a
possibilidade
de
ser
arguida
a
anulabilidade
de
tal
negócio
que
obedece
a
uma
das
excepções
previstas
no
artigo
127.º
do
Código
Civil.
Caso
considerássemos
que
este
não
era
um
acto
de
mera
administração,
este
não
seria
válido.
20
21
CASO PRÁTICO 6
22
23
24
d) A
venda
do
andar
com
recurso
a
certidão
de
nascimento
da
qual
não
constava
o
averbamento
de
qualquer
incapacidade
é
um
negócio
claramente
anulável
(artigo
126.º
do
Código
Civil).
Há
aqui
dolo
do
inabilitado.
Nesta
circunstância,
o
direito
de
invocar
a
anulabilidade
é
precludido
pelo
comportamento
malicioso
do
menor.
Nesta
hipótese,
ficam
inibidos
de
invocar
a
anulabilidade
não
só
o
menor
mas
também
os
herdeiros
ou
o
representante.
Não
parece
coerente
a
solução
que
só
pretende
aplicar
ao
menor
e
não
já
ao
seu
representante
a
preclusão
estabelecida
no
mencionado
artigo.
e) Enquanto
inabilitado,
e
de
acordo
com
o
art.
1601º
CC,
só
se
fosse
inabilitado
por
anomalia
psíquica
é
que
António
não
podia
casar.
25
26
CASO PRÁTICO 7
1- Maria,
casada
com
Bernardo
em
1980,
em
Janeiro
de
2008
vendeu
a
casa
onde
vivia
com
o
marido,
e
que
tinha
recebido
por
herança.
2- Maria
vendeu,
a
1
de
Fevereiro
de
2006,
o
carro
de
Bernardo,
que
este
havia
recebido
por
doação
de
um
tio.
3- Maria
constitui
uma
hipoteca
sobre
um
terreno
rústico
que
ela
havia
adquirido
em
1979.
Quid
iuris?
1
–
o
art.
1682º/A/2
dá
uma
importância
tal
à
casa
de
família
que
consagra
que
os
negócios
jurídicos
que
a
afectem
carecem
de
consentimento
de
ambos
os
cônjuges,
independentemente
do
regime
de
bens
do
casamento.
Sendo
assim,
este
negócio
é
anulável
e
a
sanção
prevista
para
esta
situação
está
prevista
no
art.
1687º
CC.
O
cônjuge,
neste
caso
Bernardo,
tem
6
meses
e
nunca
mais
de
3
anos
para
arguir
a
anulabilidade
do
negocio
jurídico
praticado
por
Maria.
2
–
Isto
constitui
uma
venda
de
coisa
alheia,
e
de
acordo
com
o
art.
892º
CC,
esta
venda
é
nula.
3
–
Trata-se
de
um
bem
próprio
de
Maria,
o
terreno
é
dela.
O
regime
dos
bens
próprios
encontra-se
no
art.
1722º
CC.
No
entanto,
esta
situação
também
se
enquadra
no
art.
1682º,
neste
caso
na
alínea
a)
do
nº1.
Este
negocio
jurídico
carecia
do
consentimento
de
ambos
os
cônjuges,
e
por
isso
é
anulável.
A
sanção
está
prevista
no
art.
1687º.
27
CASO PRÁTICO 8
Este
é
um
caso
de
conflito
de
direitos.
Rosa
apresentou
uma
petição
inicial,
onde
invocou
o
direito
à
honra,
com
fundamento
legal
nos
arts.
70
nº1
CC,
26º
nº1
CRP,
484º
CC
e
79º
nº3
CC.
Jorge,
por
sua
vez,
invoca
a
liberdade
de
expressão,
com
base
no
art.
37º
da
CRP,
e
o
direito
geral
de
personalidade,
para
defender
a
sua
conduta.
O
conflito
de
direitos
está
previsto
no
art.
335º
do
CC.
Trata-se
aqui
de
direitos
desiguais
ou
de
espécie
diferente,
sendo
que
se
aplica
o
nº2
deste
artigo.
Esta
disposição
legal
preceitua
que
“prevalece
o
que
se
considerar
superior”.
Trata-se
aqui
de
saber
se
a
honra
de
Rosa
vale
mais
do
que
a
liberdade
de
expressão
de
Jorge.
28
29
CASO PRÁTICO 9
Zaida,
de
20
anos,
sofre
um
acidente
de
viação
ao
sair
do
emprego.
Estava
grávida
de
9
meses
e
em
virtude
do
acidente
teve
graves
lesões
corporais.
O
feto
morreu
e
teve
que
ser
retirado
por
cesariana
já
morto.
Quid
iuris?
O
caso
sub
judice
prende-‐se
com
o
problema
de
saber
qual
a
condição
jurídica
dos
nascituros
em
sede
de
personalidade
jurídica.
Nas
palavras
de
Manuel
de
Andrade,
a
personalidade
jurídica
consiste
na
aptidão
ou
idoneidade
para
ser
sujeito
de
relações
jurídicas,
ou
seja,
para
ser
centro
de
imputação
de
efeitos
jurídicos
(constituição,
modificação
ou
extinção
de
relações
jurídicas).
Nas
pessoas
singulares
esta
qualidade
é
uma
exigência
do
direito
à
dignidade
e
ao
respeito
que
se
tem
de
reconhecer
a
todos
os
seres
humanos.
Associado
à
questão
do
começo
da
personalidade
jurídica
(artigo
66.º,
n.º1
do
Código
Civil),
surge
o
problema
da
condição
jurídica
dos
nascituros,
concebidos
ou
não
concebidos.
Estabelece
o
artigo
66.º,
n.º2
que
os
direitos
reconhecidos
por
lei
aos
nascituros
dependem
do
seu
nascimento.
Significa
isto
que,
apesar
de
não
serem
ainda
sujeitos
de
direito,
reconhecem-‐se-‐lhes
direitos,
embora
dependentes
do
seu
nascimento
completo
e
com
vida.
Desta
feita,
é
ou
não
possível
pedir
indemnização
pelo
morte
do
feto?
Trava-‐se
uma
divergência
doutrinal
na
tentativa
de
responder
a
esta
questão.
Por
força
da
posição
adoptada
pelo
curso,
é
de
admitir
a
tutela
jurídica
do
nascituro
concebido,
no
que
toca
às
lesões
provocadas.
Pode
pois
um
filho
pedir
indemnização
pelas
deformações
físicas
ou
psicológicas
que
sofreu
ainda
no
ventre
da
mãe,
causadas,
por
exemplo,
por
um
acidente.
O
surgimento
deste
direito
à
indemnização
não
implica
forçosamente
a
atribuição
de
personalidade
jurídica
aos
nascituros,
estejam
ou
não
concebidos.
Tal
direito
surge
só
no
momento
do
nascimento,
momento
em
que
o
dano
verdadeiramente
se
consuma,
por
isso,
se
o
feto
lesado
no
ventre
materno
não
chega
a
nascer
com
vida,
ele
não
terá
direito
a
qualquer
indemnização.
Em
face
do
exposto,
conclui-‐se
que
o
filho
de
Zaida
não
terá
assim
direito
a
qualquer
indemnização.
Não
há
direito
a
indemnização
pelo
dano
da
morte.
30
CASO PRÁTICO 10
Joana
e
Miguel
estão
casados
e
Joana
está
grávida
de
12
semanas.
Porque
tem
42
anos
e
antecedentes
familiares
de
doenças
genéticas,
sujeitou-se
a
uma
análise
para
detectar
eventuais
anomalias
genéticas
no
embrião.
O
laboratório
trocou
as
análises
e
o
relatório
enviado
a
Joana
não
dava
conta
de
qualquer
anomalia.
A
gravidez
prosseguiu
até
ao
termo
e
a
criança
que
nasceu,
o
Rui,
padece
de
sindrome
de
down
e
de
graves
insuficiências
renais.
Volvidos
dois
anos
é
intentada
a
seguinte
acção:
• Rui
demanda
o
laboratório
por
violação
grosseira
das
regras
técnicas
e
pede
indemnização
pelos
danos
patrimoniais
(tratamentos
médicos,
incapacidade
para
desempenhar
no
futuro
uma
profissão
remunerada)
bem
como
uma
compensação
por
danos
morais.
O
caso
prático
apresentado
trata
do
problema
de
saber
se
há
um
direito
a
não
nascer,
designadamente
quando
se
nasce
com
graves
malformações,
de
tal
modo
que
a
pessoa
com
essas
deficiências
possa
agir
judicialmente
contra
os
médicos
que,
por
negligência,
não
detectaram
antecipadamente
essas
anomalias,
ou
não
informaram
devidamente
os
pais,
não
lhes
proporcionando
a
oportunidade
de
interromper,
licitamente,
a
gravidez.
Nestas
circunstâncias,
pode
o
Rui
pedir
uma
indemnização
contra
os
médicos?
Esta
questão
é
normalmente
conhecida
pelas
expressões
wrongful
birth
(pais
pedem
indemnização
por
danos
próprios)
e
wrongful
life
(pais
intervêm
como
representantes
do
filho
menor,
pedindo
uma
indemnização
por
danos
sofridos
pelo
filho).
A
situação
prática
em
causa
julgo
referir-‐se
a
um
caso
de
wrongful
life.
O
que
se
pretende
indemnizar
é
o
dano
sofrido
pela
própria
criança,
por
ter
nascido
com
graves
físicas
e
mentais
(sindrome
de
down
e
insuficiências
renais),
deficiências
essas
sobre
as
quais
os
médicos
não
informaram
convenientemente
os
pais.
Não
se
tratam
de
anomalias
provocadas
pelos
médicos
mas
sim
de
31
anomalias
que
não
foram
comunicadas
aos
pais,
em
virtude
da
troca
dos
relatório
das
análise.
É
pois
a
própria
criança
que
pretende
ser
indemnizada
pelo
dano
de
ter
nascido.
A
posição
de
Rui
em
muito
se
assemelha
a
um
caso
concreto
decidido
pelo
Supremo
Tribunal
de
Justiça,
na
sequência
do
qual
uma
criança
intentou
uma
acção,
invocando
danos
por
si
sofridos.
O
fundamento
do
pedido
foi
a
conduta
negligente
do
médicos.
O
Tribunal
concluiu
que
aquilo
que
estaria
em
causa
seria
o
direito
à
não
existência
e
no
entender
do
STJ
tal
direito
não
está
consagrado
na
lei,
pelo
que
o
mesmo
não
deve
ser
reconhecido.
E
decidiu
bem
o
STJ,
diz
o
curso.
Reconhecer
à
criança
o
direito
a
uma
indemnização
por
danos
próprios
parece
que
pressuporia
reconhecer
a
alguém
um
direito
a
não
nascer,
já
que
a
alternativa
seria
ter
nascido.
E,
não
nos
parece
que
tal
direito
seja
de
reconhecer.
No
fundo,
é
esta
a
decisão
que
cobre
a
situação
de
Rui:
esta
criança
não
pode
pedir
uma
indeminzação
pelo
seu
nascimento.
Acontece
todavia
que
o
Supremo
Tribunal
não
deixou
de
considerar
que
o
problema
seria
diferente
se
os
autores
do
pedido
de
indemnização
tivessem
sido
os
pais
e
não
o
menor.
Deste
modo,
se
Joana
e
Miguel
tivessem
sido
os
autores
da
acção,
havia
lugar
a
reparação
tanto
de
danos
patrimoniais
como
de
danos
morais.
Cumpre
salientar
que
quanto
aos
danos
patrimoniais,
há
tribunais
que
entendem
que
os
pais
apenas
têm
direito
aos
sobrecustos.
Outros
há
que
entendem
que
os
pais
têm
direito
a
indemnização
na
totalidade.
32
CASO PRÁTICO 10
Responsabilidade civil extra-contratual por acto ilícito
Tânia
estava
a
fazer
uma
queimada
de
silvas
no
seu
quintal,
mas
foi
tomar
café
durante
meia
hora.
Quando
voltou,
a
casa
da
Rute
tinha
ardido,
bem
como
o
gato
Komi
e
o
pai
da
Rute
de
93
anos,
acamado
há
8
anos.
Quid
Iuris?
33
34
CASO PRÁTICO 10
Aplicação da lei civil no tempo
Rui
e
Patrícia:
Rui
tem
uma
casa
arrendada
a
Patrícia
e
quer
fazer
obras.
Patrícia
não
deixa.
Depois
vem
uma
lei
que
diz
que
não
precisa
de
autorização.
Rui
pode
fazer
as
obras?
Este
caso
prático
trata
da
aplicação
da
lei
civil
no
tempo.
Para
resolver
este
caso
devemos
atender
ao
art.
12º
CC.
A
primeira
parte
do
nº2
deste
artigo
poderia
levar-‐nos
a
concluir
que
deve
prevalecer
o
interesse
de
Patrícia,
quando
diz
“Quando
a
lei
dispõe
sobre
as
condições
de
validade
substancial
ou
formal
de
quaisquer
factos
ou
sobre
os
seus
efeitos,
entende-‐se,
em
caso
de
dúvida,
que
só
visa
os
factos
novos”.
No
entanto,
a
segunda
parte
do
mesmo
artigo
poderia
levar-‐nos
a
concluir
que
prevalece
o
interesse
de
Rui:
“quando
dispuser
directamente
sobre
o
conteúdo
de
certas
relações
jurídicas
(...)
entender-‐se-‐á
que
a
lei
abrange
as
próprias
relações
já
constituídas”.
Assim,
temos
que
pensar
em
duas
situações.
Se
no
contrato
de
arrendamento
estiver
combinado
que
para
se
efectuarem
obras
se
exige
um
pedido
de
autorização,
a
nova
lei
não
se
aplicará.
Mas
se,
por
outro
lado,
o
contrato
for
omisso
em
relação
a
esta
questão,
aplica-se
a
lei
nova
e
Rui
pode
fazer
as
obras
que
entender.
35