Dosimetria Da Pena de Multa

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CURSO SOBRE A

DOSIMETRIA DA PENA

1. PENA DE MULTA.

Esta é uma espécie de pena patrimonial em que o infrator é condenado a pagar um


determinado valor pecuniário ao Fundo Penitenciário Nacional, que é financiado por este tipo de pena.

Via de regra, o critério adotado para a pena de multa é o critério do dia-multa, que será
calculado tomando por base o art. 49, do CPB:

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da


quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um
trigésimo do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de
correção monetária.

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Todavia, nada obsta a possibilidade de adoção de um critério diverso, em lei especial,
conforme caput do art. 99, da lei 8.666/93 (Lei das Licitações):

Art. 99. A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 desta Lei consiste no
pagamento de quantia fixada na sentença e calculada em índices percentuais,
cuja base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou
potencialmente auferível pelo agente.

Relembrando que, diferentemente da pena privativa de liberdade, que adota um sistema


trifásico para fixação da pena, na pena de multa adotou-se um sistema bifásico, uma vez que inicialmente
o juiz deverá estabelecer o número de dias-multa, que deve variar entre o mínimo de 10 (dez) e o máximo
de 360 (trezentos e sessenta), conforme art. 49, do CPB, para, logo após, calcular o valor do dia-multa.

Entretanto, apesar de não adotar o sistema trifásico para fixação da pena de multa, o
magistrado, ao estabelecer o número de dias-multa, deve levar em consideração todas as circunstâncias
judiciais do caput do art. 59, do CPB, bem como as atenuantes e agravantes, causas de aumento e causas
diminuição da pena.

Pelo exposto, percebe-se que a quantidade de dias-multa deve guardar relação de


proporcionalidade com a pena privativa de liberdade fixada, conquanto ambas as sanções penais
observam os mesmos parâmetros.

Fixado o número de dias-multa, o juiz, considerando a condição financeira do apenado (art.


60, caput, do CPB), deve determinar o valor do dia-multa que, conforme dito anteriormente, não pode
ser inferior a 1/30 do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco)
vezes esse salário.

Excepcionalmente, ainda com base na condição financeira do apenado, sendo esta


satisfatória e a pena, embora aplicada no máximo, seja ineficaz, o magistrado poderá aumentar a pena
até o triplo, conforme §1°, do art. 60, do CPB:

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§1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação
econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.

Outrossim, crimes constantes nos arts. 33 a 39, da Lei de Drogas, bem como crimes contra
a propriedade industrial (art. 197, parágrafo único, da Lei n° 9.279/96) e contra o sistema financeiro
nacional são passíveis de aumento até o décuplo.

Por outro lado, a lei dos crimes contra a propriedade industrial (Lei n° 9.279/96) nos traz
hipótese de redução da pena de multa, conforme art. 197, parágrafo único:

Art. 197. As penas de multa previstas neste Título serão fixadas, no mínimo,
em 10 (dez) e, no máximo, em 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, de
acordo com a sistemática do Código Penal.
Parágrafo único. A multa poderá ser aumentada ou reduzida, em até 10 (dez)
vezes, em face das condições pessoais do agente e da magnitude da vantagem
auferida, independentemente da norma estabelecida no artigo anterior.

2. MOMENTO DO PAGAMENTO.

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O Código Penal, no art. 50, estabelece o momento em que o sentenciado deverá efetuar
voluntariamente o pagamento da pena de multa, podendo, ainda, após requerimento do condenado,
ser pago em parcelas mensais, vejamos:

Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada
em julgado a sentença. A requerimento do condenado e conforme as
circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas
mensais.

A propósito, o requerimento para parcelamento da multa deve ser feito até o dia do
vencimento, nos termos do art. 169, caput, da LEP:

Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 desta Lei, poderá
o condenado requerer ao Juiz o pagamento da multa em prestações mensais,
iguais e sucessivas.

Os §§1° e 2°, do referido art. 169, ainda estabelecem, respectivamente, como o magistrado
deverá proceder antes de decidir acerca do pedido de parcelamento e o que ocorrerá em caso de
inadimplemento das parcelas ou mudança satisfatória da condição financeira do apenado:

§ 1º O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a


real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará
o número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o
Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, revogará o benefício
executando-se a multa, na forma prevista neste Capítulo, ou prosseguindo-
se na execução já iniciada.

O adimplemento da pena de multa ainda pode ser efetuado mediante desconto em folha
de pagamento, desde que, obviamente, o réu não esteja cumprindo pena privativa de liberdade. Além

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disso, o desconto não poderá incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de
sua família, razão pela qual deve ser observado o limite máximo de desconto na fração 1/4 e o limite
mínimo de 1/10 da remuneração, conforme §§1° e 2°, do art. 50, do CPB c/c art. 168, inciso I, da LEP,
respectivamente:

Art. 50 (...)
§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento
ou salário do condenado quando:
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
c) concedida a suspensão condicional da pena
§2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento
do condenado e de sua família.

Art. 168. O Juiz poderá determinar que a cobrança da multa se efetue


mediante desconto no vencimento ou salário do condenado, nas hipóteses
do artigo 50, § 1º, do Código Penal, observando-se o seguinte:
I - o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte da remuneração

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e o mínimo o de um décimo.

3. EXECUÇÃO.

Em razão de inadimplemento voluntário do pagamento, o magistrado, em hipótese alguma,


poderá converter a pena de multa em pena privativa de liberdade. Ademais, por força do princípio da
intranscendência, já estudado por nós, em hipótese alguma a pena de multa deverá ser cumprida por
terceira pessoa, mesmo no caso de falecimento do infrator.

Além disso, por não ser possível a conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade,
não é cabível a propositura de Habeas Corpus, senão vejamos:

Súmula 693, STF - Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a
pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a
pena pecuniária seja a única cominada.

O procedimento de execução da pena de multa sofreu alterações pelo Pacote Anticrime. Com
efeito, o art. 51 do Código Penal foi modificado para positivar o que já havia sido decidido pelo Supremo
Tribunal Federal (ADI 3150/DF, julgada em 12 e 13/12/2018), no sentido de que a multa deve ser cobrada
perante o juiz da execução penal, por meio do Ministério Público:

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será


executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor,
aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no
que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição

O legislador apenas positivou o que havia sido decidido recentemente pelo STF, o qual
entendeu que a legitimidade para a execução da pena de multa fixadas em sentenças penais condenatórias
pertence ao Ministério Público, tendo em vista sua natureza de sanção penal. A competência da
Fazenda Pública para executar essas multas se limita aos casos de inércia do MP por prazo superior a 90
(noventa) dias após sua intimação.

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Restou superada, portanto, a Súmula 521 do STJ, que afirmava ser da Fazenda Pública a
legitimidade para cobrança da pena de multa, por meio de ação perante a Vara das Execuções Fiscais.

Súmula 521, STJ - A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de


pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria
da Fazenda Pública.

Já no que se refere às causas de interrupção e suspensão da pena de multa, elas deverão ser
observadas na Lei de Execução Fiscal e no Código Tributário Nacional. Acerca da interrupção, vejamos o
que dispõe o art. 174, P.Ú, do CTN:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco


anos, contados da data da sua constituição definitiva.
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;
II - pelo protesto judicial;

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III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

Em relação à suspensão, preceitua o art. 40, da LEF:

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado


o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e,
nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.

Considerando que o prazo para suspensão não poderá ser ad aeternum, o STJ firmou o
seguinte entendimento sumulado:

Súmula 314 - Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-


se o processo por um ano, findo o qual se inicia o prazo da prescrição
qüinqüenal intercorrente.

A execução fiscal ainda será suspensa no caso de advir ao apenado doença mental, conforme
art. 52, do CPB e art. 167, da LEP, respectivamente:

Art. 52 - É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado


doença mental.

Art. 167. A execução da pena de multa será suspensa quando sobrevier ao


condenado doença mental (artigo 52 do Código Penal).

4. CUMULAÇÃO, EM LEI ESPECIAL, DE PENA PECUNIÁRIA E PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.

Acerca desse ponto, cumpre fornecer o seguinte exemplo: imagine que um indivíduo é
condenado pelo cometimento do delito de oferecimento eventual de drogas para consumo (art. 33, §3º,
da Lei de Drogas), que possui a seguinte redação:

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Art. 33.
§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700
(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas
previstas no art. 28.

Percebam que a pena mínima aplicada é de 6 (seis) meses, cumulada com a pena de multa.
Nesse caso, seria possível, em tese, a aplicação do art. 60, §2º, do CP, que diz que “a pena privativa
de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os
critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código”?

Segundo o STJ, com entendimento sedimentado na Súmula 171, a resposta é NÃO, pois, ao
estabelecer de forma cumulativa a aplicação da pena privativa de liberdade e da multa, o legislador
vedou a aplicação do art. 60, §2º, do CP. Entendimento em sentido diverso implicaria em dizer que o
agente seria duplamente condenado à pena de multa. Nesse sentido, o entendimento sumulado:

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Súmula 171 - Cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa
de liberdade e pecuniária, é defeso a substituição da prisão por multa.

Assim, não é possível substituir a pena privativa de liberdade por multa (art. 60, §2º, do CP),
caso a lei já estabeleça a cumulação da pena privativa de liberdade e da pena pecuniária.

5. PENA DE MULTA NA LEI MARIA DA PENHA (LEI N°11.340/06).

O art. 17, da Lei n° 11.340/06 é autoexplicativo, vejamos:

Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar


contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária,
bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de
multa.

Logo, no caso de violência doméstica e familiar contra a mulher, a Lei Maria da Penha impede
a substituição da pena privativa de liberdade por multa ou por prestação pecuniária.

Conforme podemos perceber do estudo da pena de multa, há vários dispositivos legais e


súmulas importantes que tratam do assunto, razão pela qual a leitura e releitura deles é imprescindível.

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