Resumo Expandido - Igor Monteiro
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RESUMO: Este estudo tem como objetivo abordar sobre a origem do futebol carioca, no
bairro de Bangu, e estabelecer uma relação entre o futebol popular/operário e o futebol da
classe média e da burguesia. Por meio de relatos históricos, há uma narrativa sobre o início do
Bangu Atlético Clube e sua importância para a popularização do futebol no estado do Rio de
Janeiro, em contrapartida, há a midiatização do futebol que precificou uma cultura popular.
INTRODUÇÃO
Ainda existem diversos estudos que analisam sobre como foi a chegada do futebol na
cidade do Rio de Janeiro, mas uma coisa é certa: o futebol carioca nasceu no bairro de Bangu.
Localizado na periferia do Rio de Janeiro, o bairro de Bangu conta com uma história vasta,
porém, infelizmente, pouco conhecida. O bairro foi fundamental para o desenvolvimento da
Revolução Industrial, ainda que tardia, no Brasil. No ano de 1889, nasce a Companhia
Progresso Industrial do Brasil, também conhecida como fábrica Bangu, uma indústria têxtil
que fornecia tecido para todo o estado da Guanabara (atualmente conhecido Rio de Janeiro) e
para todo o território nacional. Por ser uma indústria têxtil, somente mulheres trabalhavam na
indústria, o que rompeu diversos paradigmas trabalhistas da época, uma vez que o trabalho
era destinado aos homens, enquanto o “trabalho das mulheres” era servir o marido e procriar.
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Nesse contexto industrial, o escocês Thomas Donohoe, ainda no século XXI, trouxe
uma bola de couro e apresentou aos homens que viviam dentro da fábrica (muita das vezes os
maridos das trabalhadoras que ficavam supervisionando o trabalho delas) o que era o então
conhecido como “Football”, um esporte já conhecido entre os britânicos que consiste na
troca de passes com os pés para marcar o “goal”. Rapidamente o, já adaptado para o
português, futebol caiu fortemente na vida dos homens banguenses. Donohoe fez do jardim da
Fábrica Bangu o primeiro campo de futebol da história do futebol carioca.
Pouco tempo depois já surge o time de futebol do bairro de Bangu, que ainda praticava
no terreno em frente a fábrica. Nessas condições, os homens começaram a receber obrigações
nas fábricas que consistiam, basicamente, em treinar e aprender tudo sobre o futebol, visto
que o futebol já era muito discutido nos outros países. Então, no ano de 1904, um grupo de
banguenses e ingleses criam o “Bangu Athletic Club”, apenas dois anos após a fundação do
primeiro clube de futebol do Rio de Janeiro: o “Fluminense Football Club”.
Há uma enorme diferença entre o Bangu Atlético e o Fluminense. Bangu era um time
operário, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, com pouquíssimos recursos e passando
por um processo de Revolução Industrial, o que tornava um bairro subsidiado por conta das
atividades fabris. Já o Fluminense nasceu como um time da elite burguesa carioca, com
recursos de sobra para tornar-se referência no esporte que ainda era recém chegado no estado.
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carente de quaisquer assistências por parte do governo do estado, era como um efeito de uma
droga ou um ópio, um alívio momentâneo que duraria alguns minutos e que, após a partida, o
homem já teria que voltar para a realidade e ter consciência de que no dia seguinte teria mais
um dia exaustivo de trabalho. Então, por muito tempo, o Bangu Atlético Clube foi apenas um
time de operários que disputava os primeiros campeonatos de futebol dos times cariocas, mas
que não tinha nenhum suporte financeiro e incentivo externo aos da fábrica.
Pelo fato de ser um time operário, o Bangu Atlético nunca foi o foco das entrevistas
jornalísticas no início do jornalismo esportivo no Brasil. De fato, a grande mídia dava
preferência aos times de maior capital e poder aquisitivo, como o Fluminense e o Botafogo,
para falarem mais sobre o futebol com o fim de popularizar ainda mais o futebol que ainda era
emergente na visão geral. Entretanto, muitos serviços de mídia alternativa surgiram nesse
período de difusão das notícias da época, o que ocasionou na criação do Bangú-Jornal. O
Bangú-Jornal foi a primeira mídia a contar sobre a história do time e sobre os aperreios que
viviam dentro do campo industrial, se dividindo entre trabalhar e jogar futebol.
“Com uma abordagem ainda mais local, o Bangú-Jornal, em sua seção "Vida
Sportiva", também denunciava os estigmas e arbitrariedades que envolviam as
agremiações da zona suburbana,destacando tudo o que se relacionava ao clube do
bairro que era ligado à Liga Metropolitana, o Bangu Athletic Club.” (SANTOS
JUNIOR, N. J.; MELO, V. A., 2014, pág. 198)
A virada de chave para o time veio com a inserção do seu primeiro “patrocinador”: o
contraventor e bicheiro Castor de Andrade. Na década de 60, Castor se torna o presidente do
time e gera um enorme impacto no time. O bicheiro injeta uma enorme quantia de capital
extraído pelo jogo do bicho -prática muito comum nos subúrbios cariocas no século XX- com
a intenção de criar o maior e melhor time carioca que, segundo o próprio Castor, seria uma
retratação de Bangu para Bangu, tornando o nome do time digno a sua própria história. Com
um início impactante, o time obteve resultados positivos de maneira muito rápida: Um
campeonato internacional, um campeonato carioca e um vice-campeonato brasileiro.
Entretanto, Castor começou a ser procurado pela polícia por conta dos esquemas de corrupção
e lavagem de dinheiro por conta do jogo do bicho, o que ocasionou uma instabilidade no time
no seu auge.
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Castor era fascinado pela mídia e pela visibilidade que sua caricata figura poderia
trazer ao bairro. Então, louco por atenção das mídias para si mesmo, o contraventor começa a
fazer uma série de ações polêmicas que chamavam a atenção da mídia para si como uma
forma de aumentar o tempo de tela em Bangu, iniciando-se, assim, o início da midiatização de
Bangu.
De acordo com Valério Cruz e Anderson Gomes (2012, pág. 175), a interação dos
meios de comunicação na vida cotidiana da maioria dos indivíduos cria uma relação em que
são estes que têm a prioridade na definição de ações individuais e coletivas. Dada a sua
expansão para outras esferas sociais, para além da mediação social, cunhou-se o termo
midiatização, de forma a entender as novas relações estabelecidas através da informação em
circulação.
Infelizmente, não foi apenas o Bangu Atlético que sofreu o processo de midiatização, e
sim toda a esfera presente no esporte que passa por um processo onde sua base popular se
afasta do futebol presencial por conta da elitização presente dentro dos estádios. As grandes
mídias passaram a televisionar cada vez mais o futebol, o que ocasionou em uma grande e
massante entrada da classe média e da burguesia no futebol brasileiro visando a alta
rentabilidade que o esporte começou a proporcionar para os presidentes de times bem
sucedidos. A mídia começou a focar mais no futebol televisionado e começou a estudar a
melhor forma de lucrar em cima do esporte que já era adorado por grande parte da população.
Então, iniciando na década de 80, o futebol começou a sofrer um grande e gradual aumento
nos seus ingressos para assistir uma partida de futebol, fazendo com que quem não tivesse
condições de assistir presencialmente começasse a assistir pela televisão. Um grande exemplo
em escala mundial foi a Copa do Mundo da França, em 1988, onde o Brasil foi um dos
finalistas. A Copa de 98 foi inteiramente televisionada pela Rede Globo e registrou índices de
audiência jamais vistos na história da televisão brasileira por conta que uma parcela
esmagadora de torcedores brasileiros não tinham condição financeira de viajar para a França
para assistir uma partida de futebol.
“O interesse social pelo futebol no Brasil durante a Copa é apropriado pela mídia,
que, em princípio, atende a uma “demanda social” pré-existente,produzindo peças de
comunicação e criando um circuito de produção e consumo motivado pelo evento
em curso, no qual se inserem, além da cobertura dos jogos, cadernos especiais nos
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jornais e revistas, longas matéria nos telejornais, programas diversos com a temática
da Copa, anúncios publicitários, etc, colaborando de modo ativo para definir a
realidade nos termos ideológicos da representação do Brasil como “o país do
futebol”. (GASTALDO, Édison, 2009, pág. 362)
REFERENCIAL TEÓRICO
Foi realizada uma pesquisa nos sites de periódicos e artigos acadêmicos sobre o
futebol de Bangu e sobre o futebol periférico. O primeiro encontrado foi o “RECREAR,
INSTRUIR E ADVOGAR OS INTERESSES SUBURBANOS”: POSICIONAMENTOS
SOBRE O FUTEBOL NA GAZETA SUBURBANA E NO BANGÚ-JORNAL”, a partir da
leitura desse artigo ficou claro o direcionamento que esse resumo iria seguir: falar sobre o
futebol operário e da origem do esporte no bairro de Bangu. Entretanto, para conectar com o
tema central ao falar de mídias ainda faltava uma versão que daria um incremento bem maior
no meu trabalho. Então, o artigo "O país do futebol" mediatizado: mídia e Copa do Mundo no
Brasil.” realiza o feito. Por meio desse texto, foi possível criar uma linha de pensamento
lógica e cronológica a respeito do surgimento do futebol, ainda no século XIX, e como “fim
da linha” a precificação dos estádios e o primeiro ingresso de uma partida de futebol a chegar
na casa dos quatro dígitos que foi na final da Copa Libertadores da América em 2019. O
intuito foi estabelecer uma comparação real entre o antigo futebol e o novo futebol e
demonstrar que a principal diferença entre essas “versões” do esporte é que o novo futebol
ignora a história de seus principais líderes e figuras que lutaram pela vida e pela vivência do
esporte, enquanto o novo se preocupa, basicamente, em lotar estádios com preços absurdos,
criando uma falsa sensação de pertencimento e que é desfrutado, majoritariamente, pela classe
média.
METODOLOGIA
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Para a realização deste trabalho foi feita uma pesquisa no Grêmio Literário José Mauro
Vasconcelos, localizado no bairro de Bangu, RJ. Por ser morador do bairro e um grande
entusiasta do futebol e da história por trás do meu bairro que contém uma história muito rica e
importante para a história do município do Rio de Janeiro que não possui a visibilidade
necessária para a construção de uma memória do futebol popular nas periferias cariocas.
RESULTADOS PARCIAIS
De acordo com o que foi apresentado neste resumo, conclui-se que o futebol carioca,
marcado fortemente por times operários como o Bangu Atlético Clube, nascentes da periferia
carioca, em torno de indústrias e em locais sem a estrutura ideal para jogar futebol, perderam
sua força e sua característica de cultura popular praticada como ópio para as pessoas terem um
momento de prazer e de companheirismo ao jogar uma partida de futebol seja lá onde fosse:
campo, gramado, asfalto ou até na areia. Infelizmente, tal esporte se rendeu a sua própria
midiatização, fazendo com que houvesse uma grande inserção da classe média e da burguesia
no futebol e precificando, ainda mais, o valor de acesso aos estádios de futebol chegando,
então, a casa dos quatro dígitos na final da Copa Libertadores da América de 2019. Com isso,
a finalização do resumo cabe a alertar aos amantes do futebol que não enxergam a própria raiz
do futebol. O futebol nunca foi e nunca será pertencente à Elite, o futebol é dos operários de
Bangu que jogavam descalços, dos meninos que moram nas comunidades cariocas que jogam
no asfalto quente, das feridas abertas que todo verdadeiro jogador já teve em sua vida, do
fardo carregado pelos jogadores pretos que enfrentaram (e ainda enfrentam) diversos casos de
racismo no mundo inteiro. Aos meus companheiros, o futebol é nosso!
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BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, F. M. R. F. O futebol nas fábricas. Revista USP, [S. l.], n. 22, p. 102-109, 1994. DOI:
10.11606/issn.2316-9036.v0i22p102-109. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/26963. Acesso em: 24 jul. 2022.
CALDAS, W. Aspectos sociopolíticos do futebol brasileiro. Revista USP, [S. l.], n. 22, p. 40-49, 1994.
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https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/26958. Acesso em: 24 jul. 2022.
DOUTOR Castor. Direção: Marco Antonio Araujo. Brasil: Globoplay, 2021. Disponível em:
https://globoplay.globo.com/doutor-castor/t/PwgfQs1FHj/. Acesso em: 24 jul. 2022.
GASTALDO, Édison"O país do futebol" mediatizado: mídia e Copa do Mundo no Brasil. Sociologias
[online]. 2009, n. 22 [Acessado 24 Julho 2022] , pp. 353-369. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S1517-45222009000200013>. Epub 12 Ago 2009. ISSN 1807-0337.
https://doi.org/10.1590/S1517-45222009000200013.
https://www.osul.com.br/entenda-os-fatores-que-afetam-os-precos-inflacionados-dos-ingressos-no-fute
bol-brasileiro/