Vigiar e Punir (Resumo) Focault
Vigiar e Punir (Resumo) Focault
Vigiar e Punir (Resumo) Focault
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 3
3. REFERÊNCIAS: .................................................................................... 12
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1. INTRODUÇÃO
Foucault inicia expondo dois documentos que explicitam dois estilos penais
diferentes. O primeiro documento é a descrição de um suplício, um espetáculo público
bastante violento. “Essa operação foi muito longa, porque os cavalos utilizados não
estavam afeitos à tração; de modo que, em vez de quatro, foi preciso colocar seis; e
como isso não bastasse, foi necessário, para desmembrar as coxas do infeliz, cortar
os nervos e retalhar as juntas”; já o segundo documento descreve alguns artigos do
código de execução penal, com toda a sua utilização fragmentária do tempo e sua
sutileza punitiva ‘“Art. 17. – O dia dos detentos começará às seis horas da manhã no
inverno, às cinco horas no verão. O trabalho há de durar nove horas por dia em
qualquer estação. Duas horas por dia serão consagradas ao ensino. O trabalho e o
dia terminarão às nove horas no inverno, às oito horas no verão”. Entre eles há um
hiato surpreendente de apenas três décadas (do final do século XVIII e início do século
XIX). Para alguns relatos da época, o desaparecimento do suplício tem a ver com a
“tomada de consciência” dos contemporâneos em prol de uma “humanização” das
penas. Mas a mudança talvez se deva mais ao fato de que o assassino e o juiz
trocavam de papeis no momento do suplício, o que gerava revolta e fomentava a
violência social. Era como se a execução pública fosse “uma fornalha em que se
acende a violência” (p. 13). Sendo assim, necessário seria criar dispositivos de
punição através dos quais o corpo do supliciado pudesse ser escondido, excluindo-se
do castigo a encenação da dor. A guilhotina já representa um avanço neste sentido,
pois faz com que aquele que pune não encoste no corpo do que é punido. A partir da
segunda metade do séc. XIX, na mudança do suplício para a prisão, embora o corpo
ainda estivesse presente nesta última (por exemplo: redução alimentar, privação
sexual, expiação física, masmorra), é a um outro objeto principal que a punição se
dirige, não mais ao corpo, e sim à alma. “A expiação que tripudia sobre o corpo deve
suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade,
as disposições”. Mesmo que não haja grande variação acerca do que é proibido ou
permitido nesse período, o objeto do crime modificou-se sensivelmente. Não só o ato
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é julgado, mas todo um histórico do criminoso, “quais são as relações entre ele, seu
passado e seu crime, e o que esperar dele no futuro”. Assim, saberes médicos se
acumulam aos jurídicos para justificar os mecanismos de poder não sobre o ato em
si, mas sobre o indivíduo, sobre o que ele é. A justiça criminal se ampara em saberes
que não são exatamente os seus e cria uma rede microfísica para se legitimar.
Discursos oficiais da monarquia francesa que regiam as práticas penais de 1670 até
a Revolução Francesa, em 1789, ditam que a maioria das penas vinham
acompanhadas do suplício (pena corporal, dolorosa, mais ou menos atroz). O suplício
deveria marcar o condenado e por isso teriam níveis e hierarquias. A morte
(execução), por exemplo, é um suplício em que se atinge o grau máximo de sofrimento
(por esta razão chamada de “mil mortes”). Deveria ser um ritual, uma arte de fazer
sofrer. E deveria ser assistida por todos, constatada como triunfo da justiça. A
determinação do grau de punição variava não somente conforme o crime praticado,
mas também de acordo com a natureza das provas. Por mais grave que um crime
fosse, senão houvesse provas contundentes, o suplício era mais brando do que
aquele em que o crime era menos grave, mas que, por outro lado, dispunha de provas
integrais sobre o delito. O processo deveria ser feito sem o processado saber. Tal
sigilo garantia sobretudo que a multidão não tumultuasse ou aclamasse a execução.
Desta forma o rei mostrava que a “força soberana” não pertencia à multidão, tendo
em vista que o crime ataca, além da vítima, também o soberano. Quanto à
participação do povo nessas cerimônias, ela era ambígua. Muitas vezes era preciso
proteger o criminoso da ira do povo. O rei permitia um instante de violência, mas sem
excessos, principalmente para não dar a ideia de privilégio a massa. Por outro lado,
em algumas ocasiões o povo conseguiu até mudar a situação do suplício e suspender
o poder soberano; em casos semelhantes, havia revolta contra sentenças de crimes
menos graves; ou comparecia simplesmente para ouvir aquele que não tinha nada a
perder maldizer os juízes, as leis, o poder e a religião (uma espécie de carnaval de
papeis invertidos, em que os poderes eram ridicularizados e criminosos viravam
heróis).
Foucault, mostra que antes da prisão ser inaugurada como peça das punições,
ela já havia sido gestada na sociedade a partir do momento em que os mecanismos
de poder repartiam, fixavam, classificavam, extraíam forças, treinavam corpos,
codificavam comportamentos, mantinham sob visibilidade plena, constituíam sobre
eles um saber que se acumulava e se centralizava sobre os indivíduos. Por isso a
prisão surge como algo inevitável, por mais que existissem outros projetos de punição
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de reformadores, por mais que ela recebesse críticas sobre sua ineficácia e seu
perigo. Esta instituição penal surge para ser a coação de uma educação total, para
possuir uma disciplina onipresente a fim de transformar o indivíduo pervertido. Suas
técnicas de poder passam principalmente pelo “isolamento” (sobretudo nos modelos
americanos que eram baseados nos monastérios), logo, a “solidão”, a tentativa de
“autorregulação pela reflexão” e o “trabalho” (sendo que este último gerou
controvérsias entre os operários da época; contudo, é preciso ressaltar que o mesmo
não visava lucro e sim o efeito sobre os corpos e as almas dos presos). Neste sentido,
a pena é feita para ser regulada por ela mesma durante o processo de transformação,
não havendo uma relação necessariamente direta entre crime e castigo.
cela; pois ‘o isolamento é o melhor meio de agir sobre o moral das crianças; é aí
principalmente que a voz da religião, mesmo se nunca houvesse falado a seu coração,
recebe toda a sua força e emoção’; toda a instituição para penal, que é feita para não
ser prisão, culmina na cela em cujos muros está escrito em letras negras: ‘Deus o vê’”.
Este é o princípio essencial do panóptico, sentir-se vigiado mesmo quando ninguém
está vendo, coagido a fazer o correto e seguir a norma. Em Mettray, os chefes e
subchefes não agem como pais, juízes, professores, contramestres, mas são um
pouco de cada um. Na expressão do autor, são ortopedistas da individualidade.
Interessante notar que para trabalharem no local, os chefes e subchefes precisam
dominar uma técnica disciplinar que eles apreendem quando são submetidos a um
treinamento que consiste em fazê-los sofrer coisa semelhante aos infratores. Por fim,
os chamados efeitos do carcerário são os seguintes: espraiamento de poderes
disciplinares no corpo social; recrutamento dos grandes delinquentes e a produção
destes; criação da legitimidade de punir e disciplinar; invenção de uma relação íntima
entre natureza e lei, a norma; criação de um saber que objetiva o comportamento
humano, através da observação contínua via panóptico (e de sua relação com as
ciências humanas); isso explica sua continuidade sólida diante do pretenso fracasso
da prisão. Contudo, e apesar de toda esta maquinaria descrita, Foucault encerra o
livro com um texto anônimo publicado no jornal La Phalange, de 1836, para mostrar
que estes mecanismos apresentados em “Vigiar e Punir” não são o funcionamento
unitário de um aparelho (finalizado e vencedor), mas são estratégias postas em uma
batalha que até hoje não cessou.
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3. REFERÊNCIA