Vulnerabilidade Social À Inundação e Suas Conexões Com o Plano Diretor Do Município de Laranjal Do Jari Amapá.
Vulnerabilidade Social À Inundação e Suas Conexões Com o Plano Diretor Do Município de Laranjal Do Jari Amapá.
Vulnerabilidade Social À Inundação e Suas Conexões Com o Plano Diretor Do Município de Laranjal Do Jari Amapá.
Macapá - Amapá
2014
MARCELO DA SILVA OLIVEIRA
Macapá - Amapá
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
338.98116
O48v Oliveira, Marcelo da Silva.
CONCEITO: _____________
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof.ª Dr.ª Odete de Fátima Machado da Silveira (in memorian)
(Orientadora)
______________________________________
Prof. Dra. Valdenira Ferreira Santos
(Co-orientadora)
_______________________________________
Prof. Dr. Valter Gama de Avelar
(Examinador externo)
_______________________________________
Prof. Dr. Luís Roberto Takiyama
(Examinador externo)
EPÍGRAFE
Está difícil conter as lágrimas e a falta de ar que esse aperto no coração me provoca,
devido à saudade que sinto de você, ampliada nesse instante em que inicio esse pequeno texto
de despedida. Essa saudade nunca mais vai me deixar, até o dia em que nos encontrarmos
novamente.
Nesse momento especial gostaria de prestar a você essa homenagem! Agora, você
segue por essas águas até alcançar, em algum momento, a branda areia que lambe o mar, onde
não veremos mais suas pequenas pegadas como antes. Agora você segue sozinha, percorrendo
um caminho que por anos a fio tentou desvendar daqui, desse nosso mundo tão insólito e
reduzido de percepções e entendimentos. Agora você segue em silêncio (e imagino que
repleta de contentamento!) até as águas profundas do mar e depois, trazida pela força das
correntes e do vento, virá até nós na espuma do mar. Jamais saberemos o que se passa em
você nesse caminho: quantas perguntas vão ser enfim respondidas, quantas angústias vão ser
sanadas e que dores antigas vão ser para sempre esquecidas. Apenas sabemos aqui, do nosso
mundo de ares e saudades, que você vai se recostar nas conchas, nadar com os peixes,
conhecer outras praias e rios. Você vai enfim viver novos poemas, cantar com sereias a
canção que se canta no mar, conhecer a voz antiga do vento e das ondas. Você vai até onde
seus amigos daqui apenas sonham conhecer e compreender. Daqui podemos somente chorar e
esperar.
(...) Cinco sirenitas
Te llevarán
Por caminos de algas
Y de coral
Y fosforescentes
Caballos marinos harán
Una ronda a tu lado
Y los habitantes
Del agua van a jugar
Pronto a tu lado. (...)
Agora nós, todos os seus amigos daqui, vamos desligar a lâmpada e deixar que você
durma em paz. E sonhar com você vestida de mar!
Saudades,
Venerando Amaro.
A cidade de Laranjal do Jari, localizada no sul do Estado do Amapá, sofre historicamente com
a ameaça de inundação. Em vários anos se observou que na época da enchente, o rio Jari
aumenta seu nível, inundando as partes mais baixas da cidade. A presente dissertação analisa
a ameaça à inundação em Laranjal do Jari, analisando os fatores naturais e antrópicos que
potencializam essa ameaça. Faz uma avaliação também do Plano Diretor do município de
Laranjal do Jari, para verificar a eficácia quanto às ameaças, risco e vulnerabilidade. A análise
de ameaça se baseou em uma metodologia que agrega dados físicos (maré, precipitação,
geomorfologia, geologia e hifrografia), dados gerados por sensores remotos e hidrológicos. O
cálculo da vulnerabilidade social foi realizado a partir da construção de um índice que inclui
dados do censo demográfico de 2010, usando como parâmetros de população total do
aglomerado, população infantil (idade entre 0 e 4 anos), população idosa (com idade maior
que 60 anos), chefe de família com menos de 4 anos de estudo, chefe de família com
rendimento mensal menor que 2 salários mínimos. Para a espacialização, utilizou-se como
unidade de analise os aglomerados subnormais. Para a análise do plano diretor foi aplicado
um questionário composto por cinco perguntas. Os resultados mostram que dos 6
assentamentos analisados, 5 apresentaram alta vulnerabilidade social e um apresenta
vulnerabilidade moderada. A análise do Plano Diretor indica a falta de abordagem de forma
explicita no que tange às ameaças, riscos e vulnerabilidades relacionadas a desastras naturais.
Os resultados obtidos são importantes para subsidiar políticas públicas relacionadas ao
ordenamento territorial e a ocorrência de desastres na região.
VIII
ABSTRACT
The city of Laranjal do Jari, located in the southern state of Amapá has historically suffered
from flooding. An analysis of the data over several years has shown this flooding occurs
during the natural high water cycles, at this time the river Jari receives an additional abnormal
increase in water volume, resulting in flooding of the lower parts of the city. This Thesis
investigates the reasons of water influx in the Laranjal do Jari, analyzing natural and
anthropogenic factors that result in this abnormal water volume. A review of the City Plan of
the city of Laranjal do Jari, to verify the effectiveness of future plans against threats, risk and
vulnerability. An analysis of sources of water volume was based on physical data of tide,
rainfall, geomorphology, geology, hydrography, data generated by remote sensing and
hydrological. The calculation of social vulnerability has been realized from the construction
of an index that includes data from the 2010 census, using as parameters the total population
of the cluster, child population (aged 0 to 4 years), elderly (aged greater than 60), head of
household with less than 4 years of study, householder with less than 2 minimum wages
monthly income. For spatial distribution was used as the unit of analysis subnormal
agglomerates. For the analysis of the master plan a questionnaire consisting of five questions
was applied. The results show that the 6 settlements analyzed, 5 had high social vulnerability
and presents moderate vulnerability. The analysis of the Master Plan indicates the lack of
approach explicitly in relation to threats, risks and vulnerabilities related to natural disasters.
The results are important to support public policies related to land use and the occurrence of
disasters in the region.
Keywords: Threats and Social Vulnerability, planning, Laranjal do Jari.
IX
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.2. Localização da bacia do rio Jari, com destaque para a área de estudo. 21
Figura 2.1. Bacia Hidrográfica do rio Jari, com destaque para os dois maiores
contribuintes, sendo na margem direita o rio Ipitinga, município de Almerim – PA e do 24
lado esquerdo o rio Iratapuru, no município de Laranjal do Jari - AP.
Figura 2.2. Faixa da Zona de Convergência Inter-Tropical - ZCIT 27
Figura 2.3. Pontos das estações, em função da bacia hidrográfica do rio Jari, com os e
29
destaque para a área de estudo e para a estação São Francisco.
Figura 2.4. Mapa Geológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo. 31
Figura 2.5: Aspectos do degrau da Cachoeira Santo Antônio.
32
Figura 2.6. Mapa Geomorfológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de
34
estudo.
Figura 2.7. Mosaico da evolução ocupacional do município de Laranjal do Jari, feito
38
através de imagens de aerofotogrametria referente aos períodos de 1968 a 1992.
Figura 2.8: Delimitação da área de estudo, tendo como base no recorte os Setores
40
Censitários do IBGE, 2010.
Figura 3.1. Tipos de leito. Relações existentes entre os diversos tipos de leito: maior,
menor e de vazante, dispostos em sua planície de inundação, com destaque para os 45
diques marginais.
Figura 3.2. Forma dos Vales. Vales em “V” e “U” e mistos, os quais se dispõem nas
46
planícies de inundação.
Figura 3.3. Imagem de satélite do rio Jari, nas proximidades do rio Amazonas. Observa-
48
se as áreas inundadas e canais menores ao longo do leito principal do rio Jari.
Figura 3.4. Perfil esquemático do processo de enchente e inundação. 50
Figura 5.2. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2000. 74
Figura 5.3. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2006. 75
Figura 5.4. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2008. 75
X
Figura 5.5.. Medição da tábua de maré no cais do porto Santarém, no Rio Jari entre
76
23.04.2012 e 24.04.2012.
Figura 5.6. Aspectos do relevo na bacia do rio Jari, com destaque pra área de estudo. 78
Figura 5.7. Modelo Digital de Elevação com a sobre sobreposição de curvas de nível
79
para a área de estudo.
Figura 5.8. Perfil do terreno no qual se localiza a cidade de Laranjal do Jari e fotos do
80
em época de cheia do Rio Jari, no aglomerado Três Irmãos. Fonte: Oliveira, 2012.
Figura 5.9. Classificação da vulnerabilidade social a inundação em função da
83
concentração da população por aglomerado.
Figuras 5.10. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
84
função da população com idade entre 0 e 4 anos.
Figura 5.11. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
85
função da população idosa
Figura 5.12. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
87
função dos chefes de família com menos de quatro anos de estudo.
Figuras 5.13. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
88
função da do chefe de família com renda inferior a dois salários mínimos.
Figura 5.14. Mapa da vulnerabilidade social à inundação na área urbana de laranjal do
90
Jari.
Figura 5.15. Fotografia área oblíqua da ocupação espontânea da cidade de Laranjal do
91
Jari.
Figura 5.16. Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari. 96
Figura 6.1. Padrão de relevo da região do Baixo Amazonas, Estado do PARÁ. 101
Figura 6.2: Área de influência direta da UHE Santo Antônio do Jari. 103
Figura 6.3. Inundação na cidade de Laranjal do Jari. 105
XI
LISTA DE TABELAS
XII
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
XIII
ZEIS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL
ZEPA ZONAS ESPECIAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
ZERA ZONAS ESPECIAIS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL
XIV
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.................................................................................................. 17
1.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 18
1.1.1 Objetivos Gerais.............................................................................................. 20
1.1.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 21
CAPÍTULO II........................................................................................................... 23
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................. 23
2.1.1 Bacia hidrográfica do rio Jari.......................................................................... 23
2.2 CLIMA E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS.............................................. 25
2.3 ASPECTOS FÍSICOS........................................................................................ 29
2.3.1 Aspectos geológicos........................................................................................ 30
2.3.2 Aspectos geomorfológicos.............................................................................. 33
2.4 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA ÁREA....................................................... 35
2.4.1 Demografia...................................................................................................... 36
2.4.2 Áreas de uso restrito........................................................................................ 39
CAPÍTULO III......................................................................................................... 42
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 42
3.1.1 Bacia Hidrográfica.......................................................................................... 42
3.2. SISTEMAS FLUVIAIS.................................................................................... 44
3.3 DEPÓSITO DOS SISTEMAS FLUVIAIS........................................................ 46
3.3.1 Planície de Inundação...................................................................................... 47
3.3.2 Enchente e Inundação...................................................................................... 49
3.3.3 Inundações e Desastres Naturais..................................................................... 52
3.4. CONCEITOS BASE PARA O ENTENDIMENTO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL............................................................................. 54
3.4.1 Danos e Prejuízos............................................................................................ 54
3.4.2 Ameaça............................................................................................................ 55
3.4.3 Vulnerabilidade............................................................................................... 55
3.5 VULNERABILIDADE SOCIAL....................................................................... 56
3.6 POLÍTICAS COMO INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO
TERRITORIAL........................................................................................................ 61
CAPÍTULO IV......................................................................................................... 64
4.1 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 64
4.1.1 Base de dados geográficos.............................................................................. 64
4.1.2 Ameaça a inundação na área urbana de Laranjal do Jari................................ 65
4.1.3 Cálculo da vulnerabilidade social.................................................................... 67
4.1.4 Análise do plano diretor municipal de Laranjal do Jari e as inundações –
PDMLJ..................................................................................................................... 72
CAPÍTULO V.......................................................................................................... 73
5.1 RESULTADOS.................................................................................................. 73
5.1.1 Inundações e suas ameaças na zona urbana de Laranjal do Jari..................... 73
5.1.2 Indicadores de Vulnerabilidade Social a Inundação....................................... 81
XV
5.2 MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIAL................................................... 89
5.3 O PLANO DIRETOR MUNICIPAL PARTICIPATIVO DE LARANJAL
DO JARI – PDMLJ NO CONTEXTO DAS AMAÇAS,
VULNERABILIDADES E RISCOS NATURAIS.................................................. 92
CAPITULO VI......................................................................................................... 98
6.1 DISCUSSÕES.................................................................................................... 98
6.1.1 Vulnerabilidade Social e aspectos físicos....................................................... 98
6.1.2 UHA Santo Antônio e as inundações.............................................................. 102
6.2. PLANO DIRETOR E POLÍTICAS DE GESTÃO DE RISCO........................ 103
REFERÈNCIAS....................................................................................................... 112
XVI
APRESENTAÇÃO
17
1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história humana, as populações quase sempre procuraram se fixar às
margens dos cursos d’água, sendo que muitas civilizações tiveram seu florescimento à
presença de um grande rio, como verificado no Egito (rio Nilo), Mesopotâmia (rio Tigre e
Eufrates) assim nas grandes cidades europeias como Londres (rio Tâmisa), Paris (rio Sena) e
Roma (rio Tibre). No Brasil essa realidade não foi diferente, a população nativa e índios,
também ocupavam a margem dos rios. Com a chegada dos invasores europeus, as ocupações
que inicialmente se restringiram ao litoral, avançaram em direção aos rios, houve a fundação
de missões religiosas, vilas e posteriormente cidade ao longo dos cursos d’água. (METRI,
2007; PANIZZA, et al, 2010; SANTOS, 2012)
18
urbanas devido à ocupação imprópria 1 da planície de inundação dos canais fluviais, dada não
apenas a maior concentração populacional, mas, principalmente, pela duração do evento e ao
lento retorno das águas ao canal fluvial (PNDC, 2007). De acordo com dados da Defesa Civil
Nacional a ocorrência de inundação está presente em todas as regiões da federação, conforme
Figura 1.1.
1
Edificações realizadas sem critério técnico como: planejamento, projeto de engenharia, estudos
geológicos, autorização do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA).
19
Historicamente as cidades da Amazônia foram se desenvolvendo ao longo das
margens dos numerosos cursos fluviais, devido, principalmente, à facilidade de transporte,
comunicação e escoamento da produção. O crescimento desordenado de muitas dessas
cidades tem pressionado para ocupação de áreas inundáveis sazonalmente, o que constitui um
fator de vulnerabilidade para estas populações (BECKER, 2000).
20
Os objetivos específicos do trabalho são: a) identificar quais os processos naturais
que levam a ameaça à inundação na área urbana do município de Laranjal do Jari; b) mapear,
diante das ameaças, a vulnerabilidade social quanto à inundação na faixa urbana de Laranjal
do Jari; c) e ainda, analisar se o Plano Diretor da cidade de Laranjal de Jari considera as
ameaças, vulnerabilidades e riscos a inundação na área de estudo.
A área de estudo está inserida na bacia hidrográfica do rio Jari e corresponde à parte
urbana do município de Laranjal do Jari. O município, cuja sede foi estudada, limita-se ao
Norte com o Suriname, Guiana Francesa e Oiapoque; a leste com os municípios de Pedra
Branca do Amapari e Mazagão, ao Sul com o município de Vitória do Jari e a Oeste com o
Estado do Pará (Figura 1.2). O município possui uma área de 32.166,29 km², apresentando
uma maior extensão no sentido NW-SE, a Oeste acompanha o traçado do rio Jari até o limite
com o Município de Vitoria do Jari. A sede do município dista aproximadamente 265 Km de
Macapá, Capital do Estado do Amapá e tem como coordenadas geográficas de referência
00º50'51" S e 52º31'41", correspondente ao prédio da Prefeitura Municipal da cidade de
Laranjal do Jari.
Figura 1.2. Localização da bacia do rio Jari, com destaque para a área de estudo.
Fonte: Limites territoriais, IBGE (2005), Aglomerados Subnormais, IBGE (2010) adaptado pelo autor (2013).
21
Para maior compreensão, esta Dissertação foi organizada em 7 capítulos.
22
CAPITULO II
23
Figura 2.1. Bacia Hidrográfica do rio Jari, com destaque para os dois maiores contribuintes, sendo na margem
direita o rio Ipitinga, município de Almerim – PA e do lado esquerdo o rio Iratapuru, no município de Laranjal
do Jari - AP.
Fonte: Base de dados dos Limites Estaduais e Municipais (IBGE, 2005); Limite das OttoBacias da Agência
Nacional da Águas – ANA (2010).
24
2.2 CLIMA E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS
Para Silva Dias (1995), é na área equatorial para onde convergem os ventos (alísios)
originários dos Anticiclones do Atlântico norte e sul (centros de alta pressão). O Anticiclone
do hemisfério norte produz os alísios de nordeste e do sul e os alísios de Sudeste. O resultado
dessa convergência é a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), área de baixa pressão,
com intensa nebulosidade, movimentos verticais produzindo intensa convecção, provocando
chuvas torrenciais e fortes aguaceiros (EPE, 2010).
Outro fator que deve ser considerado na bacia é o regime de temperatura da região,
segundo Nimer (1979), a região apresenta o clima quente, uma vez que todos os meses se
mantêm com a temperatura média superior a 24ºC. As temperaturas médias anuais variam
entre 24 º C e 26 º C. A foz do rio Jari e o sudeste do estado do Amapá são as regiões das
mais altas temperaturas, onde eventualmente a dinâmica climática pode ser alterada por
fenômenos como mudanças climáticas e fenômenos como El Nino 2 e La Nina3 que podem
afetar o clima como um todo na América do Sul com grande impacto sobre a Amazônia e
consequentemente na área de estudo, ora com aumento das chuvas ora com secas extremas,
como será descrito mais adiante.
2
El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas
superficiais no oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de
vento a nível mundial, e afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.
(CPTEC, 2013).
3
La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao EL Niño, e que
caracteriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos
impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El Niño, mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño
apresenta impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña (CPTEC, 2013).
26
Figura 2.2. Faixa da ZCIT, mostrando a homogeneidade no oceano (seta em vermelho) e suas variações dentro
do continente (seta em amarelo).
Os dados analisados por Sobrinho et al. (2012) são referentes às estações de Monte
Dourado (1968 a 1975), Planalto (1968 a 1975), Pilão (1969 a 1977), São Miguel (1970 a
1977) e Pacanari (1974 a 1977) localidades e distritos de Almeirim/PA. Os valores
pluviométricos, bem como a faixa temporal de análise, referem-se aos postos localizados em
distritos e povoados nos municípios de Almeirim/PA (1968 a 1989), Laranjal do Jari (1968 a
2011) e Mazagão (1977 a 2011). A média do total acumulado de precipitação corresponde a
2.158,8mm. Os maiores índices foram os registrados em São Francisco (2.325mm), Carecuru
(2.34mm) e Monte Dourado (2.347mm). Os menores foram observados no Iratapuru
(2.051mm), São Pedro (2.022mm) e Pilão (1.998mm).
Ainda de acordo com Sobrinho (2012), o trimestre mais chuvoso vai de março a
maio, com total precipitado alcançando 41,6% do acumulado no ano. Os meses de setembro a
novembro apresentam os menores índices de chuva, correspondendo a 7,4% do total
precipitado. Verifica-se a elevada pluviosidade na estação de Monte Dourado, o que contribui
para a cheia do rio Jari, sobretudo entre março e maio, os mesmos meses identificados pelo
ZEE (2002). Diante desses dados, pode-se prever uma ameaça considerável com relação ao
evento de inundação na área urbana de Laranjal do Jari, entre os meses de março e maio.
28
Figura 2.3. Pontos das estações, em função da bacia hidrográfica do rio Jari, com os e destaque para a área de
estudo e para a estação São Francisco. O círculo corresponde ao raio de 150km, seguindo a metodologia adotada
por Sobrinho et al. 2012.
29
Para entender essas alterações e a forma com que a ocupação humana interfere no
ambiente, é necessário conhecer os aspectos físicos da área que se deseja estudar. A bacia
hidrográfica do rio Jari, por sua grande extensão, apresenta diferenciadas feições naturais nos
aspectos geológicos e geomorfológicos. Essas características refletem-se no relevo e
consequentemente nos tipos de vegetação. A seguir, essas características serão descritas com
detalhes.
30
Figura 2.4. Mapa Geológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo.
Segundo Guerra (1994) ao se estudar a natureza das rochas da parte sul do estado do
Amapá, observa-se que no rio Jari a cachoeira Santo Antônio (Figura 2.5) marca o primeiro
31
degrau à franca navegação do rio. As rochas que predominam nessa região são granitos e
biotita de textura granular. A cachoeira Santo Antônio tem desnível relativo de 5 a 7 metros.
Na parte sul desta bacia, onde está localizada a área de estudo há predominância de
compartimento de rochas sedimentares semiconsolidadas e depósitos recentes com a
Formação Alter do Chão com maior importância. Os Sedimentos da Formação Alter do Chão
foram depositados durante o Cretáceo Superior (aproximadamente 100 milhões de anos atrás)
(EPE, 2010). Esta unidade engloba os sedimentos anteriormente atribuídos ao Grupo
Barreiras pelo Projeto RadamBrasil (1974). Quando se analisam os elementos de cobertura, a
referida formação fica situada entre as unidades morfoesculturais do Planalto Setentrional da
Bacia Sedimentar do Amazonas e do Planalto de Uatumã-Jari, que representam superfícies
bastante desgastadas pelos processos erosivos, resultado do desgaste atuante sobre os arenitos,
rochas estas bastante friáveis (CAMPOS; TEIXEIRA, 1988).
32
2.3.2 Aspectos geomorfológicos
33
Figura 2.6. Mapa Geomorfológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo.
Uma das características mais marcantes da planície amazônica é que a mesma está
sujeita às inundações periódicas, e consequentemente, essas inundações permitem a deposição
de sedimentos recentes em vastas áreas. A dinâmica das inundações naturais é importante
para a distribuição dos nutrientes nas áreas marginais da planície, pois esta dinâmica
34
recorrente mantem o ciclo de vida de diversos ambientes e seres vivos nesses espaços
naturais.
2.4.1 Demografia
Em 1968, (Figura 2.7, “A”) pode-se observar na fotografia aérea que aparentemente,
pela interpretação feita, não há impacto algum motivado pela ocupação humana mostrada na
área objeto de estudo, mostrando uma área ainda intacta; em 1977 (Figura 2.7, “B”) pode-se
observar a construção da Company Town de Monte Dourado, na margem direita do rio Jari, o
processo de ocupação dessas áreas já se torna realidade. Em 1992, (Figura 2.7, “C”) essa
realidade já é consolidada, como é observada na imagem. As Figuras 2.7 “D, E e F”, tratam-se
de imagens do mesmo ano da (Figura 2.7, “C”) retiradas em sessões e tempos diferentes, que
mostra a realidade da ocupação, onde o tracejado dos arruamentos ainda continuam os
mesmos, aumentando significativamente para a região da cidade dita anteriormente como
induzida, a parte alta da cidade de Laranjal do Jari.
37
Figura 2.7. Mosaico da evolução ocupacional do município de Laranjal do Jari, feito através de imagens de
aerofotogrametria referente aos períodos de 1968 a 1992. As elipses mostram as áreas de maior crescimento da
cidade nos diferentes períodos.
Fonte: Empresa Jari Celulose S/A, 2012. Modificada pelo Autor, 2013.
38
2.4.2 Áreas de uso restrito
A maior parte do município de Laranjal do Jari é coberto por unidades de
conservação de proteção integral com destaque para o Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque e Estação Ecológica do Jari, sob jurisdição do ICMBIO (Tabela 2.2.). Existem
também unidades de conservação de uso sustentável, terras indígenas, áreas de litigio entre
governo estadual e a empresa Jari Celulose com posseiros da região. Essa realidade fez com
que a cidade de Laranjal do Jari se localize em território “estrangulado” cercado de áreas de
uso restrito e de jurisdição não definida. Essa peculiaridade prejudica o desenvolvimento da
cidade, facilitando a ocupação de áreas de forma espontânea e ilegal.
Área % Crescimento
Município
(km²)
PARNA do Tumucumaque 16.474,36 52,85
R.D.S. do Rio Iratapuru 6.174,80 19,80
Terra Indígena dos Waiãpi 3.535 11,34
RESEX do Rio Cajari 1.962,23 6,29
Áreas Particulares (Jari Celulose) 1.325,49 4,25
Estação Ecológica do Jari 866,53 2,78
PA do Rio Maracá 216,37 0,69
Área Patrimonial do Município 32 0.1
Área Remanescente 583 2
Total 31.170,62 100%
Diante da descrição retirada da Tabela 2.2 resta apenas uma área de 32 km² para
gestão administrativa no município de Laranjal do Jari; associado aos dados censitários do
IBGE, conclui-se que o estrangulamento devido ao processo de expansão urbana do
município, ocasionou um processo de ocupação espontânea e de forma desordenada,
principalmente na área de estudo.
Figura 2.8: Delimitação da área de estudo, tendo como base no recorte os Setores Censitários do IBGE, 2010.
Aglomerados Subnormais.
40
Observa-se que os limites dos aglomerados subnormais ultrapassam a linha do
continente, pois, segundo normativa interna da cartografia censitária do IBGE, a malha dos
setores censitários, por obrigatoriedade, devem ser adjacentes e contíguas, não podendo haver
espaços entre os setores de diferentes unidades da federação. Assim, os limites destes setores
censitários no município de Laranjal do Jari se estendem até o leito do canal fluvial, limite
entre os Estado do Amapá e Pará.
41
CAPÍTULO III
Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar os conceitos utilizados neste
trabalho. É necessário compreender uma variedade de conceitos quando se trabalha com a
temática proposta.
confluência ou junção: é o lugar onde dois canais se encontram, não sendo permitida
junções tríplices;
segmento fluvial: é o trecho do rio ou canal ao longo, do qual, a ordem que lhe é
associada permanece constante;
42
entre estas e o regime hidrológico da bacia (TUCCI, 1997). Por isso, quando se estuda uma
bacia hidrográfica para fins de análise de inundação, algumas características são muito
importantes de serem conhecidas, pois influenciam em todos os processos, são elas: área,
forma, permeabilidade dos solos, capacidade de infiltração e topografia. Onde a área de
drenagem da bacia hidrográfica é a área plana (projetada sobre o plano horizontal) limitada
pelos divisores topográficos da bacia. A área de drenagem é um dado fundamental para
definir a potencialidade hídrica de uma bacia hidrográfica, uma vez que a multiplicação dessa
área pela altura da lâmina d’água precipitada define o volume recebido pela bacia. A área da
bacia hidrográfica constitui-se, ainda, em elemento básico para o cálculo de outras
características físicas da bacia. A área da bacia hidrográfica é determinada em mapas
topográficos e para determina-la é preciso, em primeiro lugar, realizar o traçado do contorno
da bacia, ou seja, estabelecer o traçado da linha de separação das bacias vizinhas. Delimitada
a bacia, a sua área pode ser determinada com o uso de um planímetro ou eletronicamente
(cálculo computacional), quando se dispõe do mapa digitalizado (CHRISTOFOLETTI, 1969).
As bacias de grandes rios têm, normalmente, a forma de uma pera ou leque, enquanto
as pequenas bacias assumem formas variadas. Dentre as bacias de mesma área, aquelas
arredondadas são mais susceptíveis a inundações nas suas partes baixas que as alongadas. A
importância da forma da bacia, particularmente para fins de inundação, está associada ao
conceito de tempo de concentração (tc), que é o tempo contado a partir do início da
precipitação, necessário para que toda a bacia contribua para a vazão na seção de saída (ou
para a vazão na seção em estudo), isto é, corresponde ao tempo que a partícula de água de
chuva que cai no ponto mais remoto da bacia leva para, escoando superficialmente, atingir a
seção em estudo. Alguns índices de forma têm sido utilizados para caracterizar as bacias
hidrográficas, como o coeficiente de compacidade e o fator de forma (TEODORO et al.,
2007).
43
Em estudos de inundação, conhecer a topografia da bacia é de suma importância,
pois o escoamento e avanço das águas serão condicionados pela topografia. Técnicas de
extração dessas informações de modelos digitais de elevação (ou de terreno) se tornaram
comum, principiante a partir do ano 2000, com o lançamento da missão da NASA
denominada Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), que recobriu cerca de 80% do
planeta com radar para fins de mapeamento topográfico (VALERIANO; CARVALHO Jr,
2003).
Os sistemas fluviais são formados pelos rios e seus componentes, e o rio, pode ser
entendido como uma corrente contínua de água, mais ou menos caudalosa, que deságua
noutra, no mar ou lago. Guerra (1993) define drenagem como uma feição linear negativa
produzida por água de escorrência, que modela a topografia de uma região. Christofoletti
(1974) conceitua como canais de escoamento inter-relacionados que formam uma bacia.
Monteiro e Silva (1979) afirmam ser um conjunto da rede hidrográfica com elementos
temporários ou permanentes. Deffontaines e Chorowicz (1991) definem rede de drenagem
como um conjunto de superfícies topográficas subaéreas, as quais são contíguas com
pendentes ladeiras acima, em todos os lados, à exceção da direção do fluxo da água. Esse
conjunto de superfícies pode ser coberto com água, temporariamente ou de forma perene.
Os rios possuem diferentes tipos de canal por conta do regime de descarga, a qual
tem relação com o clima, solos e cobertura vegetal, o perfil do rio que está ligado ao relevo, as
condições de erodibilidade relativa aos tipos litológicos, consoante suas propriedades físicas e
influência da tectônica e estruturas primárias ou secundárias das rochas.
44
águas, o que impede o crescimento da vegetação. O leito maior está relacionado à época das
cheias, enquanto que o de vazante refere-se ao período de estiagem.
Figura 3.1. Tipos de leito. Relações existentes entre os diversos tipos de leito: maior, menor e de vazante,
dispostos em sua planície de inundação, com destaque para os diques marginais.
Para Schumm (1967) as diferentes sinuosidades dos canais são muito mais
determinadas pelos tipos de cargas detríticas do que pela descarga fluvial. Assim, os canais
45
meandranticos estão ligados a elevados teores de silte e argila, enquanto os anastomosados, a
uma carga mais arenosa, o mesmo devendo ocorrer com o entrelaçado. Deste modo, a
diminuição da sinuosidade de um meandro está muito mais ligada ao aumento da
granulometria e da quantidade da carga detrítica do que a qualquer outro fato.
Figura 3.2. Forma dos Vales. Vales em “V” e “U” e mistos, os quais se dispõem nas planícies de inundação,
configurada pelo item “a” da Figura B.
A
a
As planícies de inundações são áreas que quando as águas ultrapassam o leito menor
do rio, ficam inundadas e recebem grande carga de sedimentos. A planície de inundação é
formada por aluviões e por materiais variados depositados no canal fluvial ou fora dele. A
planície é a faixa do vale fluvial composta de sedimentos aluviais, bordejando o curso d’água
e periodicamente inundada pelas águas de transbordamento provenientes do rio.
Segundo Teixeira et. al. (2003), planície de inundação (food plain) é uma área
relativamente plana adjacente a um rio, coberta por água nas épocas de enchentes (Figura
3.3).
47
Figura 3.3: Imagem de satélite do rio Jari, nas proximidades do rio Amazonas. Observa-se nas poligonais com
tracejado em amarelo, as planícies de inundação e canais menores ao longo do leito principal do rio Jari, com
destaque para a área de estudo (círculo em vermelho).
A planície fluvial inundável são as áreas alagadas apenas no período das enchentes.
As oscilações do nível dos rios da planície Amazônica apresentam-se em geral como um ciclo
monomodal de inundação, com um período regular de águas altas e outro de águas baixas
(JUNK; KRAMBECK, 2000). As flutuações no nível da água são uma importante função de
força que dirige o funcionamento ecológico, hidrológico, físico, químico e biológico do
sistema (TUNDISI et al., 2002). Durante o período de nível baixo da água, a região da
planície de inundação é seca, com apenas lagos permanentes remanescentes. Durante os
períodos de enchentes e de nível alto dos rios, todo o sistema sofre inundação (TUNDISI et
al., 2002).
48
Estas oscilações do nível d´água decorrente dos pulsos de inundação exerce
influência na ecologia dos ecossistemas alagáveis específicos da região amazônica, pois,
implicam no acréscimo/redução da área ocupada por “paranás”, “furos”, “igarapés”, vales
fluviais com foz afogada ou “rias” fluviais, lagos com forma e gênese diferenciadas, diques
aluviais e canais, áreas de inundação e constantemente alagadas como brejos e “igapós”,
cursos fluviais anastomosados com numerosas ilhas, além de outros (FRANÇA et al., 2005).
Para Amaral e Ribeiro, 2009, considera-se enchente (ou cheia), também pode ser
definida como um evento que resulta da incapacidade temporária de um canal de drenagem
(rio, córrego, etc.) conter, em sua calha normal, o volume de água por ele recebido, e quando
ocorre o extravasamento da água excedente, teremos uma inundação, que é quando o nível de
precipitação seja suficiente para fazer com que a lâmina d’água da enchente ultrapasse as
margens dos diques marginais, atingindo terras normalmente secas
49
O estudo desses condicionantes naturais permite compreender a dinâmica do
escoamento da água nas bacias hidrográficas (vazão), de acordo com o regime de chuvas da
cada região onde estão inseridas as diversas bacias hidrográficas.
Fonte: Goert & Kobiyama, 2005 apud Sausen & Narvert (2013).
Santos (2007) ressalta que não existe rio sem ocorrência de enchente, ou seja, um rio
pode vir a ter um aumento na elevação da água e assim resultar em uma enchente e não
necessariamente ocorrer uma inundação. A inundação pode ocorrer por excesso de chuvas,
por barreiras formadas no canal do rio, como os assoreamentos e lixos, comuns em áreas
urbanas.
Na temática dos eventos de inundação há dois fatores – entre outros – que são
fundamentais para a análise da dinâmica hídrica: são os índices de precipitação e de vazão,
dados que são bastante utilizados na definição de projetos habitacionais e de drenagem
urbana. Quando suas características ou repetitividades não estão bem esclarecidas, o que é o
mais comum, trabalha-se com estatísticas de eventos conhecidos para projeção da
possibilidade de ocorrência futura. Embora tenham uma relação estreita entre si, são dois
dados distintos, pois, conforme Tucci (1997), as variáveis que podem incidir sobre a
precipitação (distribuição temporal, antecedente, etc.) fazem com que esta resulte em um risco
diferente de vazão resultante.
A Tabela 3.1 apresenta a relação das dez mais importantes inundações ocorridas no
período de 1900 a 2012, de acordo com os dados de Emergency Events Database. Por esta
tabela é possível constatar que a região do mundo que mais sofre com inundações é a Ásia,
pois, oito dos maiores eventos ocorreram nesse pais, com sete localizadas na China. O grande
número de mortos pode estar relacionado com a grande população do país, que
principalmente na zona rural, ocupa as zonas marginais dos rios para o cultivo de arroz e
outras atividades agrícolas. Na Europa, a inundação é o tipo mais frequente de desastre
natural e responsável por 75% das indenizações, causadas por desastres naturais, pagas por
companhias de seguro.
Tabela 3.1. Dez maiores inundações ocorridas no período de 1900 a 2012 e número de pessoas mortas por país.
País Data Nº de mortos
China Julho/31 3700000
China Julho /59 2000000
China Julho /39 500000
China 1935 142000
China 1911 100000
China Julho/49 57000
Guatemala Outubro/49 40000
China Agosto/54 30000
Venezuela 15/12/1999 30000
Bangladesh Julho/74 28700
Fonte: EM-DAT (2012).
Em 2011 os desastres naturais no mundo geraram quase 30 mil mortos, o Brasil entra
na conta com 900 óbitos causados por inundações e deslizamentos, o que coloca o Brasil na
73° posição, (no ranking do EMDAT) entre as maiores já ocorridas no mundo por desastres
naturais (em numero de mortos). Pela tabela 3.2 (EMDAT, 2013) pode-se observar que o
52
maior número de mortos ocorridos por desastres no Brasil, foi por epidemia em 1974. Dos
dez eventos que mais mataram pessoas, sessenta por cento (60%), estão relacionados com
eventos de inundação. Isso mostra que apesar do país não sofrer com eventos naturais como
abalos sísmicos, furacões, tornados, tsunamis, as inundações por si só provocam grandes
números de óbitos e de prejuízos a população atingida e ao poder público que deve fazer uso
de recursos para ajudar os afetados.
Tabela 3.3. Municípios com solicitação de reconhecimento de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade
Pública no Estado do Amapá.
Segundo Lopes et al. (2009), para que haja um desastre é necessário que ocorram
danos, e os consequentes prejuízos. Dano é conceituado como sendo a intensidade das perdas
54
humanas, materiais ou ambientais ocorridas às pessoas, comunidades, instituições, instalações
e aos ecossistemas, como consequência de um desastre ou acidente. Ainda segundo Lopes et
al. (2009), prejuízo é a medida de perda relacionada com o valor econômico, social e
patrimonial de um determinado bem, em circunstâncias de desastre ou acidente.
A Política Nacional de Defesa Civil (PNDC, 2007) conceitua Dano como a perda
humana, material ou ambiental, física ou funcional, que pode resultar, caso seja perdido o
controle sobre o risco. Neste sentido, o que mais se observa perante estes eventos adversos é a
incapacidade, muita das vezes, do poder público e da população no reconhecimento destas
ameaças e na percepção do risco. As ameaças são difíceis de serem controladas, deve-se agir
em diminuir a vulnerabilidade da população afetada para diminuir os danos e,
consequentemente, os prejuízos econômicos e sociais.
3.4.2 Ameaça
A ameaça pode ser definida como um evento de origem natural, sócio natural ou
antropogênico que, devido à sua magnitude e às suas características, pode causar dano
(DEFESA CIVIL, 1998). Para Cardona (2001), a ameaça é a probabilidade da ocorrência de
um evento com certa intensidade em um lugar específico e dentro de um período definido. A
ocorrência de fenômenos de origem natural, sócio naturais ou tecnológicos ameaçadores se
constituirão em desastres ou riscos quando se manifestarem em espaços vulneráveis ou
ocupados por populações com escassa ou nula capacidade de resposta.
3.4.3 Vulnerabilidade
Veyret (2007) afirma que os geógrafos veem desenvolvendo pesquisas com foco na
vulnerabilidade desde a década de 1980 e, principalmente, desde a década de 1990. Até então,
55
tendência dos estudos chamados natural hazards ou perigos naturais era direcionada
sobretudo a um contexto de planejamento, em que se buscava mensurar as probabilidades de
ocorrerem os perigos (entendendo-se perigo como o fenômeno estudado), ou seja, nas
palavras dos autores, “imperava uma preocupação prognóstica que reclamava a minimização
da incerteza”. Entretanto, após as décadas citadas, ao estudo dos perigos naturais foram sendo
incorporados cada vez mais os perigos sociais e tecnológicos, passando a ser enfatizada a
influência do homem sobre o ambiente.
56
culturais (com destaque para o nível educacional). Esses fatores que caracterizam a
vulnerabilidade das pessoas são fundamentais para se analisar a vulnerabilidade da população
em geral. (COSTA; DANTAS, 2009).
O meio urbano tem se tornado cenário propício à geração de riscos ambientais que
através da sua materialização desencadeiam desastres em números crescentes. Vários fatores
contribuem com a vulnerabilidade e estes normalmente agem através do enfraquecimento da
capacidade de autoproteção da sociedade, da redução da proteção social e da demora na
recuperação na fase pós-desastre. Entre eles, Philip e Rayhan (2004) destacam o rápido
crescimento da população, a pobreza, os baixos níveis de educação, a falta de acesso aos
recursos e serviços básicos, a falta de acesso a informação e ao conhecimento e a degradação
ambiental.
Alcántara-Ayala (2002) comenta que os perigos naturais não são apenas o resultado
do processo em si (vulnerabilidade natural), é o resultado dos sistemas humanos e das
vulnerabilidades associadas a eles. Desta forma, os desastres naturais ocorrem quando ambos
57
os tipos de vulnerabilidades possuem as mesmas coordenadas no espaço e no tempo. A
entidade social possui diferentes tipos de vulnerabilidade, e que ela não é somente o resultado
de ações humanas, é o resultado da interação do contexto econômico, social, cultural e
político do local onde as pessoas vivem. Desta forma, vulnerabilidade não pode ser tratada
como um termo geral e homogêneo, mas sim dinâmico e determinado por cada sociedade.
Estas condições são, também na opinião de Silva (2010), fatores que contribuem com
o aumento da vulnerabilidade frente aos desastres naturais, demonstrando que os países em
desenvolvimento são os mais afetados. Isso pode ser verificado por meio dos dados
apresentados por este centro, que apresentam a relação entre o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) com os impactos que os desastres ocasionam nos seres humanos e na
economia.
58
iletrados, mulheres, crianças e idosos são frequentemente os mais afetados em desastres
naturais em todo o planeta (DILLEY et al., 2005).
60
informações podem ser consideradas vitais principalmente para auxiliar os administradores e
tomadores de decisão.
61
retornar às condições originais (resiliência), seja pela impraticabilidade econômica de sequer
se tentar fazê-lo através de um programa de recuperação de áreas degradadas.
Neste sentido, visando uma maior eficiência na organização dos espaços urbanos, em
2001, no Brasil, é estabelecido um instrumento básico da política de desenvolvimento
municipal e de ordenamento territorial. De acordo com o artigo 40º da Lei 10257/01, que
62
institui o Estatuto das Cidades, o Plano Diretor Municipal Participativo (PDMP) tem como
principal finalidade “orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção
dos espaços urbano e rural e na oferta dos serviços públicos essenciais, visando assegurar
melhores condições de vida para a população” (BRASIL, 2001).
O PDMP, aprovado por lei municipal, é obrigatório para municípios acima de 20.000
habitantes e para os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, entre
outros4.
Para Falcoski (2000) o Plano Diretor deve ser um instrumento de Reforma Urbana,
garantidor da função social da cidade e propriedade. Deve, ainda, ter caráter redistributivo,
com a inversão de prioridades dos investimentos públicos e planejamento descentralizado, e,
afinal, ser um instrumento de Gestão Política da cidade: pacto territorial em torno dos direitos
e garantias urbanas. O Plano Diretor trata, em termos de conteúdo, do aspecto físico da
ordenação do solo urbano, do aspecto social da população relativo à melhoria da qualidade de
vida e do aspecto administrativo da atuação municipal. Uma vez que o plano é fruto de um
prévio planejamento urbano, ele deve ser um reflexo dos estudos preliminares realizados e
conter os planos de ação e instrumentos de intervenção vislumbrados, bem como orientar o
desenvolvimento futuro.
4
Locais onde se pretenda utilizar os instrumentos previstos no §4 do artigo 182° da Constituição da
República Federativa do Brasil, para os locais integrantes de Áreas de Especial Interesse Turístico; e em espaços
inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de
âmbito regional ou local (BRASIL, 2001).
63
CAPÍTULO IV
Para o método de investigação, foi adotado o Estudo de Caso, pois é um método que
procura retratar naturalmente a realidade do fenômeno estudado. Quanto ao tipo de estudo de
caso, adotou-se o tipo Intrínseco, de Stake (1995), pois há uma condição particular do
pesquisador no recorte, da área a ser estudada. Este método foi escolhido por apresentar
ferramentas e técnicas ideais na coleta e análise de dados (entrevista, análise de documentos,
verificação e coleta de dados em campo, dentre outras), técnicas estas, que segundo André
(2005), qualifica os procedimentos de obtenção das informações, tanto para compreender,
quanto para interagir no ambiente de pesquisa. Nesta pesquisa a preocupação maior não é
apenas quantificar dados para provar sua validade estatística, mas sim elaborar uma análise
qualitativa dos dados obtidos. Portanto, os métodos aplicados nesta dissertação possuem um
caráter quantitativo e qualitativo para que se alcancem os objetivos gerais e específicos aqui
propostos.
Para a confecção dos mapas de vulnerabilidade, o software utilizado foi o Arcgis 9.3.
O sistema de projeção utilizado nos mapas e nos layers foi o SIRGAS 2000, projeção UTM e
Zona 22 Sul.
5
Segundo o IBGE são assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas,
comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outro.
65
convencional e convertida em telemétrica 6 em 1997, apresenta dados históricos de cota
pluviométrica do período de 1972 a 2010 e precipitação de 1968 a 2010.
Figura 4.1: Régua utilizada pela CEDEC/AP para realizar o monitoramento do nível do rio Jari. A mesma
utilizada para a leitura da influência de maré.
6
Estações automáticas, com a utilização de Plataformas de Coletas de Dados - PCDs na qual suas
transmissões são efetuadas pelos satélites brasileiros (SCD e CBERS), utilizando-se da estrutura do INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em Cuiabá e em Cachoeira Paulista (ANA, 2013).
66
períodos sazonais distintos, coincidentes com os equinócios de setembro de 2004 e março de
2005.
Seguindo ainda o método utilizado por Santos (2006), foi realizado o processamento
dos dados coletados de marés em software de tratamento estatístico Excell. O processamento
das leituras na régua de monitoramento teve como objetivo gerar uma curva de maré total
para que se pudesse entender o comportamento das marés no rio Jari e correlacioná-lo com a
dinâmica de enchente do rio, para que seja evidenciado os fatores naturais que provocam a
inundação na área de estudo.
7
Segundo o IBGE (2010) são aglomerados irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas,
baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros.
67
Figura 4.2 Delimitação da área de estudo.
Fonte: Base de Dados IBGE (2005 e 2010). Imagem WordView (2010) cedida pela empresa Santo
Antônio Energia. Modificado pelo autor (2012).
68
Figura 4.3. Organograma metodológico para a geração do índice de vulnerabilidade social.
69
Tabela 4.1. Indicadores utilizados no cálculo da vulnerabilidade social.
O Programa das Nações Unidas para o Os domicílios com integrantes que tenham
Desenvolvimento estabelece que as pessoas menor renda são os mais vulneráveis
cuja soma da renda familiar, dividida pelo comparados com os que possuem pessoas
Família com número de integrantes da família, é menor com melhor poder aquisitivo, pois após um
rendimento que meio salário mínimo estão abaixo da desastre, a capacidade de recuperação está
menor que 2 linha da pobreza. A escolha do rendimento estreitamente ligado à ajuda governamental e
salários menor a 2 salários mínimos associa-se com o às condições financeira de cada indivíduo
mínimos dado do censo (IBGE, 2010) que indica uma (CUTTER, 1996; CUNHA, 2004; RIBAS e
média de pessoas por domicilio na cidade de GOLGHER, 2006; SZLAFSZTEIN, 2008).
Laranjal do Jari é de aproximadamente 4
pessoas.
70
Tabela 4.2. Classificação da vulnerabilidade dos aglomerados segundo os indicadores de análise.
PID
Vulnerabilidade Classificação PT PIN E
P
Baixa 1 Até 10 % Até 10 % Até 5 % Até 30% Até 30%
Moderada 2 10 a 20 % 10 a 15 % 5 a 10 % 30 a 50% 30 a 50 %
Mais de 20 Acima de Acima de Acima de Acima de
Alta 3
% 15% 10% 50% 50%
Equação I
A partir da média dos indicadores para cada aglomerado, com base em valores
resultantes aplicando-se a equação, fez-se a classificação da vulnerabilidade social em baixa,
moderada e alta, mostrado na Tabela 4.3. As cores atribuídas a cada classe serão
respectivamente verde, amarela e vermelha. Essa classificação segue as normas da cartografia
temática que associa cores mais fortes, “quentes”, a dados que apresentam maiores números
daquilo que se deseja mostrar, nesse caso a maior vulnerabilidade das pessoas frente a um
indicador (DUARTE, 1991; MARTINELLI, 1991).
Vulnerabilidad
Valores Classe
e
Baixa Até 1.5 1
Moderada 1.5 - 2 2
Alta Mais de 2 3
Fonte: Szlafsztein e Silva Junior (2010). Modificado pelo autor, 2013.
71
4.1.4 Análise do Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari e as Inundações -
PDMLJ
Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari (PDMLJ) nas suas políticas setoriais, na organização do
1
território, explicitamente faz referências á temática de riscos e desastres naturais?
2 O PDMLJ faz referência às ameaças naturais que afetam o município?
3 O PDMLJ estabelece medidas para a diminuição dos fatores de vulnerabilidades?
4 O PDMLJ propõe medidas e/ou estratégias de respostas? Quais?
5 O PDMLJ apresenta cartografia de riscos?
Fonte: Modificado e adaptado de Silva Junior e Szlafsztein (2012).
72
CAPÍTULO V
5.1 RESULTADOS
Analisou-se os dados históricos das ocorrências dos fenômenos globais (El Niño e La
Niña), comparando-se com as maiores inundações observadas em Laranjal do Jari. Na Figura
5.1 é mostrado o resultado do monitoramento do Rio Jari para série temporal de 1972-2010,
com dados da estação de São Francisco. Com o cruzamento destes dados, observou-se que os
maiores níveis do rio nos anos de 2000 e 2008, anos que segundo mostrado na Tabela 5.1
foram respectivamente de moderada e forte ocorrência do La Niña, com aumento das
precipitações. Observa-se que de fato há um componente climático que influencia na
dinâmica hídrica da bacia do rio Jari, potencializando as ameaças à inundação na área urbana
de Laranjal do Jari.
Ocorrência do La Niña
1886 1903-1904
1906-1908 1909-1910
1916-1918 1924-1925
1928-1929 1938-1939
1949-1951 1954-1956
1964-1965 1970-1971
1973-1976 1983-1984
1984-1985 1988-1989
1995-1996 1998-2001
2007-2008 -
Legenda Forte Moderada Fraco
Fonte: CPTEC, 2013
Os dados mostrados correspondem aos períodos de maiores precipitação mostrados
nos gráficos das Figuras 5.2 e 5.4. Entre os picos na Figura 5.1, entre os anos de 2000 e 2008,
o ano de 2006 também apresentou nível do rio acima do normal e com o advento das
precipitações (Figura 5.3) também levaram a ocorrência de inundação em Laranjal do Jari.
73
Figura 5.1. Série temporal de 1972-2010, estação de São Francisco, no Rio Jari.
Fonte: Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Círculos Azuis: ocorrência de La Ninã. Modificado pelo
autor (2012).
Segundo da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Estado do Amapá –
CEDEC/AP, o ano 2000 foi marcado por um desastre de inundação gradual registrado
oficialmente no mês de abril. Nesse ano registrou-se média de 3.360,5 mm de chuvas,
somente no primeiro semestre foram 2.7763,08 mm, distribuídos em aproximadamente 23
dias de chuvas, que resultou em grande inundação no município de Laranjal do Jari. Fator
resultante de processos de variabilidade climática que potencializam a ameaças a inundações.
A figura 5.2, mostra a curva de precipitações observadas na ESF, potencializada pela
ocorrência de uma anomalia moderada (Tabela 5.1) de La Niña.
Figura 5.2. Série temporal dos totais na estação de São Francisco (ESF) no ano 2000.
Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).
74
Em 2006, o desastre por inundação foi registrado em maio, com média de
precipitação de 388,30 mm em 23 dias. A média nesse ano atingiu 2.461,83 mm, com 1.853
mm de chuva somente do primeiro semestre.
Figura 5.3. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2006.
Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).
Figura 5.4. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2008.
Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).
75
A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC/AP trabalha no monitoramento
do rio Jari com a seguinte metodologia para resposta aos desastres referentes à inundação,
onde, estimou-se a Cota de Alerta de 1,85m, pois, de acordo com a experiência de respostas,
já se tem pelo menos duas famílias afetadas pelo evento; e a Cota de Alarme de 1,95m, tendo
24 famílias afetadas e já com a Cota do rio Jari de 2,18m, já se tem por volta 100 famílias
afetadas diretamente.
Sendo assim, o trabalho de campo realizado no período em que são observadas as
cheias do rio Jari (mês de abril), foi realizado no sentido de observar a influência da maré no
rio Jari, tendo como ponto de observação a régua instalada pela CEDEC/AP, no porto das
catraias, localizado no aglomerado Santarém. Assim, foi identificada a variação das cotas
inferior de 1,37 metros e a superior de 1,51, conforme Figura 5.5. Dessa forma observa-se que
a curva de maré observada indica que na área de estudo existe além da morfologia do relevo,
da precipitação e dos fenômenos climáticos como variáveis que influenciam nas inundações,
há outro fator, o oceanográfico (maré) que podem potencializar uma ameaça à inundação,
aumentando assim a vulnerabilidade da área, uma vez que, o ciclo diário deste fenômeno
retarda o escoamento das águas para o leito principal do rio num evento de inundação.
Figura 5.5. Medição da tábua de maré no cais do porto Santarém, no Rio Jari entre 23.04.2012 e 24.04.2012.
A partir dessa análise pode-se considerar que os desastres por inundações graduais
registrados em Laranjal do Jari relacionam-se as elevadas precipitações na Serra do
Tumucumaque, nas cabeceiras da bacia hidrográfica do rio Jari, que divide o Estado do Pará e
Amapá, das quais são observadas e lidas pela única estação hidrometeorológica que possui
76
uma série histórica considerável para a região, trata-se da Estação São Francisco, localizada
na foz do rio Iratapuru.
A análise dos dados SRTM mostrados na Figura 5.6, mostra que as maiores altitudes
da bacia se localizam na parte norte; Na direção sul, na região onde estão os aglomerados
subnormais, observa-se as menores altitudes e encontra-se a planície amazônica, conforme
Figura 2.6.
77
Figura 5.6. Aspectos do relevo na bacia do rio Jari, com destaque pra área de estudo.
Fonte: Base de Dados IBGE (2010) e SRTM (2000). Modificado pelo autor (2013).
78
Em um recorte mais detalhado do modelo de elevação SRTM, é possível observar
que a sede do município de Laranjal de Jari possui alturas suaves bordejando o rio Jari, na
área de estudo as cotas predominantes são as de 0 e 5 metros de altitude. Observa-se no
Modelo Digital de Elevação - MDE da Figura 5.7 que não há maiores elevações no terreno
onde se localizam os aglomerados subnormais, as maiores elevações se apresentam na parte
superior e já no estado do Pará, na localidade de Monte Dourado.
Figura 5.7. Modelo Digital de Elevação com a sobre sobreposição de curvas de nível para a área de estudo.
Fonte: Base de Dados IBGE (2010) e SRTM (2000). Destaque para os Aglomerados Subnormais e o Limite das
feições geomorfológicas. Modificado pelo autor (2013).
79
De acordo com um perfil de 6 km, levantado em campo, com GPS geodésico e
utilizando dados de elevação SRTM, tendo como ponto de partida a orla da cidade e
adentrando o terreno, seguindo o traçado da BR-156, feito sobre cotas extraídos de um
modelo digital de elevação, observa-se que as cotas próximas da orla do rio são poucos
maiores que um metro, e conforme se avança para o interior do terreno, elas continuam suaves
porém com cotas um pouco maiores, chegando a oito metros. A área correspondente ao
quilometro 5,2 atinge cota próximo a oito metros. Dos 6 km do perfil mostrado na Figura 5.8,
até 1,8 km o perfil atravessa área de estudo.
Figura 5.8. Perfil do terreno no qual se localiza a cidade de Laranjal do Jari e fotos do em época de cheia do Rio
Jari, no aglomerado Três Irmãos.
Fonte: Dados Imagem WorldView, cedida pela empresa Santo Antônio Energia. Adaptado pelo autor, 2013.
80
Assim, pode-se considerar que a área sob ameaça de inundação perfaz uma área de
cerca de 7,7 Km², onde se localiza cerca de 43% da população da cidade de Laranjal do Jari,
especificamente nos aglomerados subnormais, colocando o total de aproximadamente 16.281
pessoas em ameaça direta. De fato, a área de estudo apresenta fatores físicos que a tornam
propícias para eventos ligados ao fenômeno de inundação, uma vez que, tais ameaças
aumentam consideravelmente com os períodos de maior precipitação. Portanto, esses
fenômenos relacionados às precipitações são difíceis de serem controlados, restando aos
governantes agir no aumento da capacidade de prevenção e resposta da população a esses
eventos, por isso a necessidade de conhecer a que tipo de vulnerabilidade as populações
residentes nessas áreas estão expostas para que sejam realizadas ações no sentido de diminuí-
las ou saná-las, e estudar a vulnerabilidade social nesta área de estudo é importante para se
conhecer o nível de vulnerabilidade desses habitantes para que assim os instrumentos de
políticas públicas sejam mais bem aplicados sem que haja um desperdício de recurso público.
Tabela 5.2. Dados absolutos e percentuais (por aglomerado) das variáveis para a definição da vulnerabilidade
social.
Demais setores 21 622 - 2 213 10,23 465 2,15 6 378 29,5% 7 513 34,75
da cidade de LJ
Três Irmãos 2 173 5,73 233 10,7 85 3,9 922 42,4 1 516 69,80
Centro 4 601 12,13 573 12,45 157 3,41 1 988 43,2 3 039 66,06
Coração de Jesus 4 261 11,24 505 11,85 255 6,0 2 037 47,8 3 536 83,01
Malvinas 2 549 6,72 393 15,45 99 3,88 1 242 48,7 1 835 72,03
Samaúma 975 2,57 120 12,3 53 5,4 481 49,3 780 80,65
Santarém 1722 4,54 266 15,41 86 5,1 772 44,8 1 084 63,59
81
PID: população idosa (com idade maior que 60 anos)
PID %: percentual da população idosa (com idade maior que 60 anos)
E: chefe de família com menos de 4 anos de estudo
E %: percentual de chefes de família com menos de 4 anos de estudo
P: chefes de família com rendimento mensal menor que 2 salários mínimos
P %: percentual de chefes de família com rendimento mensal menor que 2 salários mínimos
Os seis aglomerados analisados são: Três Irmãos, Coração de Jesus, Malvina,
Samaúma, Santarém e Centro. Dos seis aglomerados, cinco tem parte de sua área banhada
pelo rio Jari, apenas o Centro não é banhado pelo rio.
PT PIN PID
AGLOMERADO E P
Três Irmãos 1 2 1 3 3
Centro 2 2 1 3 3
Coração de Jesus 2 2 2 3 3
Malvinas 1 3 1 3 3
Samaúma 1 2 2 3 3
Santarém 1 3 2 3 3
Fonte: IBGE (2010). Dados do Censo. Universo dos Aglomerados Subnormais em Laranjal do Jari
A partir dos resultados das analises da Tabela 5.2, serão apresentados os indicadores
para cada dimensão discutida na metodologia deste trabalho, gerando um mapa especifico
para cada indicador levantado.
Figura 5.9. Classificação da vulnerabilidade social a inundação em função da concentração da população por
aglomerado.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
O segundo indicador analisado foi a população com idade entre 0 a 4 anos por
aglomerado subnormal. O grande número de crianças eleva o nível de vulnerabilidade de uma
população, por dependerem diretamente de um responsável frente a uma adversidade ou
83
necessidade. As crianças com até quatro anos de idade em dois aglomerados, Malvinas e
Santarém representam mais de 10% do total, sendo estes aglomerados classificados como de
moderada vulnerabilidade. Ambos os setores possuem aproximadamente 15% de sua
população com idade até quatro anos. Três irmãos apresenta a menor porcentagem, com
10,7% de crianças, Figura 5.10.
Tabela 5.5: Vulnerabilidade social a partir do indicador de percentual de população com idade entre 0 a
4 anos de idade por aglomerado subnormal.
Figuras 5.10. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da população com
idade entre 0 e 4 anos.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
84
A Figura 5.11, resulta de outro indicador importante analisado que foram as unidades
com percentual de população idosa, observando-se que esses percentuais variam de 3,41
(Centro) até 6% (Três irmãos). Nas áreas dos demais setores da cidade de Laranjal, excluindo-
se os aglomerados subnormais essa proporção é de 3,7%. Este indicador, assim como, o
indicador população com idade entre 0 a 4 anos, necessita de uma política pública
diferenciada, pois o grau de dependência é equivalente, o que requer de uma atenção especial,
para que seja oportunizado a estas, condições que diminuam suas vulnerabilidades.
Tabela 5.6: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população idosa por
aglomerado subnormal.
IND
AGLOMERADO PID % PID
Demais setores da cidade de LJ 665 3,7
Três Irmãos 85 3,9 1
Centro 157 3,41 1
Coração de Jesus 255 6,0 2
Malvinas 99 3,88 1
Samaúma 53 5,4 2
Santarém 86 5,1 2
Fonte dos dados: IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor.
Figura 5.11. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da população idosa nos
aglomerados subnormais.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
85
Segundo informações do Relatório Brasileiro de Desenvolvimento Social, mais da
metade da população brasileira declara-se branca (55,3%), 4,9% preta, 39,3% parda e 0,5%
amarela. Dados relativos ao analfabetismo no país demonstram acesso diferenciado à
educação segundo a cor: enquanto 12,1% dos brancos são analfabetos, entre os pretos a
proporção é de 30,1%, e entre os pardos, de 29,3%.
Tabela 5.7: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população chefe de família com menor
de quatro anos de escolaridade por aglomerado subnormal.
AGLOMERADO E % IND
Demais setores da cidade de LJ 6 378 29,5%
Três Irmãos 922 42,4 3
Centro 1 988 43,2 3
Coração de Jesus 2 037 47,8 3
Malvinas 1 242 48,7 3
Samaúma 481 49,3 3
Santarém 772 44,8 3
Fonte: Base dos dados IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor (2013).
86
Figura 5.12. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função dos chefes de família
com menos de quatro anos de estudo.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
87
Tabela 5.8: Vulnerabilidade Social a partir do indicador do percentual de população chefe de família com renda
inferior a dois salários mínimos por aglomerado subnormal.
P P% IND
AGLOMERADO
Demais setores da cidade de LJ 7 513 34,75
Três Irmãos 1 516 69,80 3
Centro 3 039 66,06 3
Coração de Jesus 3 536 83,01 3
Malvinas 1 835 72,03 3
Samaúma 780 80,65 3
Santarém 1 084 63,59 3
Fonte: Base dos dados IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor (2013).
Figuras 5.13. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da do chefe de família
com renda inferior a dois salários mínimos.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
88
5.2 MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO
A Tabela 5.9 mostra os resultados dos dados após aplicados na Equação 1. Esses
dados de acordo com a classificação de Silva Junior e Szlafsztein (2010) foram definidos
usando uma escala que compreende valores de 1 a 3. Se o aglomerado apresenta resultado até
1,5 ele é classificado como de baixa vulnerabilidade, se apresenta de 1,5 a 2 classificado
como moderada vulnerabilidade e se apresenta resultados maiores de 2, classificado como alta
vulnerabilidade.
Aglomerados Aplicação
na equação 4.1
Três Irmãos 2
Centro 2,2
Coração de Jesus
2,4
Malvina
2,2
Samaúma
2,2
Santarém
2,4
Fonte: Desenvolvido pelo Autor ( 2013).
89
Figura 5.14. Mapa da vulnerabilidade social à inundação na área urbana de laranjal do Jari.
Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
90
épocas de inundação parte da população que ocupam essas áreas são removidas para abrigos
temporários e retornam quando as águas baixam.
Figura 5.15. Fotografia área oblíqua da ocupação espontânea da cidade de Laranjal do Jari.
Fonte: Coordenadoria de Defesa Civil do Amapá, CEDEC/AP. Modificada pelo autor, 2013.
A ameaça aos eventos de inundação na área de estudo pode ser representado pelo
perfil mostrado na Figura 5.9, o perfil cruza quatro aglomerados subnormais, Centro, Coração
de Jesus, Santarém e Três irmãos. Santarém com alta vulnerabilidade social e três irmãos com
moderada vulnerabilidade, também apresentam cota topográficas inferiores a dois metros de
altura. Após o quilometro 2, observa-se aumento das cotas, até atingir cerca de 8, a cota de
oito metros já encontra-se na área de expansão da cidade, fora da área de estudo.
91
5.3 O PLANO DIRETOR MUNICIPAL NO CONTEXTO DAS AMEAÇAS,
VULNERABILIDADES E RISCOS NATURAIS.
Os resultados da aplicação da análise da matriz para averiguação do plano diretor em
relação as inundações na área de estudo são mostrados no Quadro 5.1, conforme metodologia
aplicada no Quadro 4.1. (Questionamentos integrantes da análise do PDMLJ).
Quadro 5.1. Resultado da análise dos questionamentos no Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari.
Em destaque, as seções abaixo, do Art. 12, evidenciam de forma implícita como são
tratadas as áreas que são sensivelmente afetadas pela inundação na área urbana de Laranjal do
Jari
93
IX – implementar programas de reabilitação física e ambiental nas áreas de
recuperação e proteção ambiental;
...
XI – recuperar ambientalmente as áreas legalmente protegidas ocupadas por
moradia, não passíveis de urbanização e de regularização fundiária;
... (Grifo do Autor,2012)
Em relação a implantação de medidas para redução dos fatores de vulnerabilidade, o
PDMLJ estabelece no Art. 12 que trata sobre os objetivos da política de habitação, o primeiro
princípio é garantir o acesso à terra urbanizada e a moradia, ampliando a oferta e melhorando
as condições de habitabilidade da população de baixa renda. Em seguida, este mesmo artigo
12 (diretrizes para a política municipal de habitação) são citadas as seguintes diretrizes:
Daí o papel importante da cartografia, pois ela tem uma importância estratégica no
controle, mapeamento e ordenamento do território. O PDMLJ traz em seu anexo 25 mapas,
que trazem informação sobre as zonas especiais localizadas na área urbana, sobre as áreas
para as quais a cidade está se expandindo, evolução da ocupação, entre outros. Assim,
adotando-se este instrumento cartográfico para se dividir o território da cidade e assim poder
tratas das especificidades de cada local, a Seção III apresenta a criação de três tipos de zonas
especiais: duas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); três Zonas Especiais de Proteção
Ambiental (ZEPA) e quatro Zonas Especiais de Recuperação Ambiental (ZERA) que teriam
regulamentação especifica para o uso do solo. De acordo com o documento, as ZERAs são
áreas que se caracterizam pela existência de ocupações desordenadas, possuindo elevada
densidade populacional e deficiência de equipamentos públicos e infraestrutura urbanística.
No mapa de macrozoneamento urbano (Figura 5.16) observa-se que nas áreas mais
suscetível aos processos de inundação (orla da cidade de Laranjal do Jari) têm-se
estabelecidas duas zonas de recuperação ambiental, uma zona de uso misto e uma zona de
habitação. Essas áreas abrangem os aglomerados de Sagrado Coração de Jesus, Santarém,
Centro, Malvinas e Samaúma.
95
Figura 5.16. Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari.
96
De fato, a partir do momento em que for associando o mapeamento de
vulnerabilidade social frente a ameaça de inundação, com as áreas que frequentemente são
inundadas, das quais são tratadas pelo PDMLJ como uso misto ou de zona de interesse
ambiental, ter-se-á aberto um novo canal de discussão para que seja revisado o PDMLJ, para
que assim, seja considerado de fato as ameaças à inundação observadas e sentidas pela
população de Laranjal do Jari, pois não sofrem os efeitos deste evento adverso apenas aquelas
pessoas atingidas diretamente pelo sinistro, mas se é considerado também aquelas que sofrem
os efeitos de forma indireta, ocasionando prejuízos e danos os munícipes.
97
CAPITULO VI
6.1 DISCUSSÕES
O número de crianças por setor variou entre 10,7% e 15, 45%. Os valores extremos
encontrados são próximos ao verificados no Silva Junior e Szlafsztein (2012) ao analisar a
concentração de população infantil na cidade de Alenquer, no Estado do Pará, os valores
encontrados variaram entre 6,9% a 15,2%. Na análise para Laranjal do Jari foram encontrados
números semelhantes para esse indicador.
Segundo os dados do censo 2010 a região norte do Brasil continua sendo a região
com maior número de filho por mulheres, em média, 2,47 filhos, contra 1.9 filhos da média
98
nacional. Assim o número de crianças em cidades da região tende a ser maior que nas outras
regiões do Brasil.
Os resultados dessa pesquisa mostraram que nos aglomerados subnormais para todas
as unidades analisadas têm-se mais de 30% de pessoas com menos de quatro anos de estudo.
Considerando-se a população da cidade fora dos aglomerados, esse índice cai para 29,5%,
uma diferença significativa já que para os seis aglomerados o menor número encontrado foi
de 42,4%. Esses números refletem a baixa escolaridade no Estado do Amapá, que ser visto
pelos percentuais de analfabetos (5,4%), de analfabetos funcionais (15,5%), ou seja, pessoas
com até 3 anos de estudo, e os de baixa escolaridade (20,5%), compondo um indicador
formado pelos sem escolaridade, com muito baixa escolaridade, que na soma, corresponde a
41,4% do total da população acima de 25 anos, IBGE (2010). Gomes et al. (2009), em sua
pesquisa com cidades costeiras amazônicas, destaca a baixa escolaridade predominante na
maioria das pequenas cidades da Amazônia.
99
A análise dos dados refere-se à faixa de renda média familiar mensal em termos de
salários mínimos tem influência sobre o déficit habitacional. Cabe destacar que os domicílios
urbanos precários e sua faixa de renda devem ser alvo preferencial de políticas públicas que
visem melhoria das condições de vida. No Estado do Amapá, as desigualdades sociais estão
expressas pelos indicadores do déficit habitacional, segundo faixa de renda. Os dados
mostram que a renda familiar é muito baixa, onde 78,4% das famílias pobres recebem uma
renda mensal de até três salários mínimos. Na região Norte, representa 88,6% enquanto a
média no Brasil é de 89,6% das famílias pobres. Déficit habitacional urbano em relação aos
domicílios particulares permanentes no Amapá é de 8,7 %, e média Brasil, 9,6%.
O fator de ocupação das áreas inundáveis se torna o maior problema, pois, o aumento
populacional do município não acompanhou um desenvolvimento que pudesse suprir as
necessidades desta população, ficando carente de políticas públicas e serviços básicos como
mobilidade urbana, habitabilidade e infraestrutura. Com esses agravantes o município ficou
conhecido como a maior “favela fluvial” da Amazônia, por abrigar inúmeras palafitas
construídas sobre a várzea, também conhecidas por “parte baixa”, área esta que foi ocupada
desordenadamente em função de fatores citados (THALEZ; COUTO, 2007). Como já foi
citado neste trabalho, de 1991 a 2010 houve um aumento de cerca de 86% na população do
município, concentrado sobretudo na sede. Em 2010 a população da cidade era estimada em
cerca de 36.000 habitantes, com 16.281 habitando os aglomerados subnormais, índice
superior a 45% da população urbana.
100
Figura 6.1. Padrão de relevo da região do Baixo Amazonas, Estado do PARÁ.
Fonte: IBGE (2005) e SRTM (NASA 2000). Adaptado pelo autor (2013).
101
6.1.2 UHE Santo Antônio do Jari e as inundações
102
Figura 6.2: Área de influência direta da UHE Santo Antônio do Jari.
De acordo com o Artigo 42 da Lei 12.257/01 (incluído pela Lei 12.608-2012, que
institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC e dispõe sobre o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa
Civil – CONPDEC) o plano diretor deve conter no mínimo a identificação das áreas urbanas
onde será aplicado o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória, assim como
sistemas de acompanhamento e controle. O plano diretor dos municípios incluídos no
cadastro de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grandes
impactos, inundações, processos geológicos ou hidrológicos correlatos deve conter diretrizes
como: a) mapeamento contendo áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; b) planejamento de
ações de intervenções preventivas; c) realocação de população de áreas de risco a desastres.
103
O município de Laranjal do Jari se cadastrou nesse sistema, porém ainda não
reformulou seu plano diretor para atender as diretrizes exigidas, entre elas o mapeamento de
áreas suscetíveis a ocorrência de inundação. Nesse sentido um mapa indicativo das áreas de
inundação aparecem na versão do plano diretor aprovada em 2007 e a apresentada na Figura
5.10, que mostra o Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari. As zonas de
várzeas, atualmente ocupadas e que necessitam que a população seja remanejada são
classificadas como ZEPAs (Zonas de Proteção Ambiental), as zonas densamente ocupadas,
principalmente as localizadas na borda do rio Jari, são classificadas como Zonas Especiais de
Recuperação Ambiental (ZERAs), um dos objetivos das ZERAs é minimizar os impactos
ambientais e promover a regularização urbanística, fundamento que se encaixa perfeitamente
com o estudo realizado pelo IGBE em todo o Brasil, que são os aglomerados subnormais.
104
Figura 6.3. Inundação na cidade de Laranjal do Jari.
Rua da Usina, concentração de vários Avenida Tancredo Neves – População afetada pela
estabelecimentos informais. inundação.
Ponto base das catraias no pátio da Secretaria Passagem 3 Irmãos, localizada entre o rio Jari e a
Municipal de Transporte de Laranjal do Jari na Av. Avenida Rio Branco
Tancredo Neves.
Fonte: CEDEC/AP (2011).
Os trabalhos de Tostes (2007a; 2007b) fizeram ampla análise sobre o PDMLJ com
vistas as propostas a aplicabilidade das políticas públicas propostas. Para o autor, a elaboração
do documento é uma importante ferramenta auxiliar no ordenamento territorial mas que deve
ter sua aplicabilidade efetivada com planos de ações e efetiva fiscalização. Os resultados do
estudo de Ferreira (2008) que tratou sobre expansão urbana, planejamento e políticas públicas
na cidade de Laranjal do Jari mostraram a clara necessidade de se repensar políticas públicas
dentro de um plano de decisão integrado, também se deve analisar as dificuldades que passam
a cidade de Laranjal do Jari com relação à implementação das políticas dissociadas do
planejamento urbano. Paixão (2008) analisou a contribuição do PDMLJ com vista a solução
dos problemas nas áreas de várzeas no município de Laranjal do Jari, para a autora, o plano
permite no conjunto das propostas pensadas, a possibilidade de modificar estruturas urbanas
extremamente adversas e inóspitas, que historicamente sempre estiveram sob a tutela de
interesses individuais ou de grupos corporativos. No entanto, a eficácia da aplicabilidade do
105
PDMLJ somente será possível com o auxílio e a fiscalização dos segmentos sociais que
contribuíram para a construção deste importante instrumento de política pública.
Os trabalhos supracitados, que analisaram o PDMLJ com vista a sua eficácia como
política pública tiveram resultados que mostraram a necessidade de modificação nas
estratégias de aplicabilidade dessa política pública. Com relação as questões a análise dos
conceitos de risco, vulnerabilidade e ameaça, também há necessidade de adequação
É grande o número de afetados, segundo dados do Ceped (2011), entre 1991 e 2010,
os afetados pelas inundações foram 21.868, incluindo 2.407 pessoas enfermas. Esse número
equivale a 57,8% da população residente na cidade no ano de 2010. Grandes também são os
prejuízos; analisando os trabalhos de Quaresma (2008); Marques e Cunha (2008), o município
de Laranjal do Jari no período de 1981-2008, registrou seis elevações do nível rio Jari que
atingiram o centro urbano do município, sendo que três dessas elevações causaram grandes
prejuízos (Tabela 6.1.).
106
Tabela 6.2.Classificação dos desastres em relação à intensidade
Em 2006 com a enchente durando oito dias, os prejuízos econômicos ficaram e tono
de 905 mil reais e os sociais 675 mil reais. O número de desalojados atingiu 665 pessoas e
285 desabrigados. Em 2008 com a cheia voltando e ultrapassando a marca de 3 metros, tendo
como cota de alerta a marca de 1,85m, os prejuízos se elevaram para dois milhões
(econômicos) e os sociais ficando na faixa dos 640 mil. Verificando os prejuízos dos três anos
analisados e comprando com os recursos orçamentários e financeiros do município de
Laranjal do Jarí, que em 2008 foi por volta de R$ 3.167.200,00 (Três milhões e cento e
sessenta e sete mil e duzentos reais) verifica-se que em grandes enchentes como a do ano
2000 os valores utilizados para respostas ao desastre superam o orçamento anual municipal.
Para todos os anos analisados, os eventos foram classificados, segundo a classificação de
Kobyama et al. (2006), como de grande intensidade.
107
CAPÍTULO VII
Com o resultado da presente pesquisa pode-se observar que grupos com alta
vulnerabilidade social, estão localizados em aglomerados com alta ameaça a inundação,
principalmente os aglomerados Coração de Jesus, Malvina e Santarém, localizados muito
próximos a orla da cidade e com elevada densidade populacional. Verificou-se que os
aglomerados da cidade possuem perfis homogêneos para os indicadores: educação e renda.
Quando se analisa a questão etária e de concentração absoluta da população percebe-se
alguma heterogeneidade, o que leva a conclusão que no geral, quase toda a população que
habita essas áreas possuem alta vulnerabilidade social.
108
Considerando a metodologia empregada e resultados obtidos nesta dissertação, estes
podem servir como base para a replicabilidade de análise em outras cidades do Estado do
Amapá e da região Amazônica, pela facilidade de aplicação do método (mesmo aqueles sem
grandes recursos financeiros), desde que se disponha de dados e informações necessários,
obtidas em base de dados preexistentes e de topografia, assim como a possibilidade de realizar
pesquisas de campo, e ainda, a manipulação de dados no ambiente de SIG por técnicos
especializados.
Uma das maiores dificuldades encontradas nessa pesquisa foi a obtenção de dados
hidrológicos e com escala adequada observados em pontos que não tivessem variação quanto
a régua de medição ou troca de locais de medição, pois a observação do nível do rio Jari,
começou a ser efetivamente monitorada a partir de 2006, no entanto, o monitoramento do rio
Jari até o ano de 2013 se dá apenas no período chuvoso, ou seja, a partir do mês de janeiro, e
em uma régua de monitoramento que não informa de forma fidedigna a cota exata do rio Jari,
pois nos meses em que o nível do rio está mais baixo, esta régua fica totalmente exposta e fora
da linha d’água, incorrendo num falso verdadeiro, para tanto, como recomendação, sugere-se
a instalação de pelo menos três réguas devidamente calibradas de acordo com a metodologia
do CPRM.
109
Para se analisar as cotas topográficas da cidade deveria se ter disponível estudos
topográficos com escala adequada a área de estudo, que foi de cerca de 7,7 Km², esse tipo de
levantamento é de alto custo e requer grande número de pontos de controle para a elaboração
de modelos absolutos. Os dados coletados constantes nos arquivos da Defesa Civil se
resumem basicamente a fotos dos eventos de inundação, outros dados deveriam ser coletados
pelo órgão para subsidiar documentos com análises técnicas mais apuradas.
Parte da cidade de Laranjal do Jari sujeita aos eventos das inundações devem ser
entendidos de maneira integrada. De acordo com os dados apresentados nessa dissertação,
pode-se observar que naturalmente parte da área ocupada pela cidade é propicia a ocorrência
de inundações devido aos fatores físicos: característica do revelo, localizada em planície de
inundação, em áreas de depósitos de aluviões de períodos recentes (holoceno), quantidade de
pluviosidade incidente na bacia hidrográfica do rio Jari. No entanto, essas características e
fenômenos naturais por si só não se constituem em risco, eles só se transformam em fatores de
risco quando há ocupação dessas áreas, como ocorreu em Laranjal do Jari. Sendo assim, o
Plano Diretor Municipal Participativo de Laranjal do Jari deve rever os conceitos de ameaças,
riscos e vulnerabilidades, uma vez que, o município sofre constantemente com a ameaça de
inundação, no entanto, no Plano Diretor municipal a problemática é tratada de maneira
superficial. Em relação à diminuição das vulnerabilidades em Laranjal do Jari, o PDMLJ cita
algumas ações no campo da habitação: a retirada das populações das áreas de risco (não
especifica que tipo de risco), a realocação em outros lugares não sujeitos a ameaças e a
estruturação de moradias. Estruturação que é fator importante do qual trata o plano diretor que
pode ser eficiente na diminuição da vulnerabilidade das residências e consequentemente da
população que nelas residem.
O documento do Plano Diretor cita por diversas vezes termos como “áreas
degradadas”, “áreas de várzea degradada com a transferência dos moradores para novas áreas
habitacionais”, “áreas de risco”, no entanto, em nenhum trecho do documento são citadas ou
mostradas em mapeamento onde estão localizadas essas áreas. Ou seja, sem a localização
adequada das áreas, há dificuldades em se aplicar o instituído pelo PDMLJ. Nesse ponto
mostra-se a importância de se mapear as áreas citadas, uma vez que, as perdas financeiras
decorrentes das inundações, por vezes, superam o orçamento anual do município. O fato de
elementos importantes para a economia da cidade como escolas e comércios ficarem
interditados quando ocorrem grandes inundações mostram a falta de planejamento e da
110
execução de políticas públicas eficazes que se adiantam a esses eventos, pois, o fechamento
de escolas e templos religiosos causam perdas sociais à população.
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