Vulnerabilidade Social À Inundação e Suas Conexões Com o Plano Diretor Do Município de Laranjal Do Jari Amapá.

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GOVERNO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ


PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO/MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

MARCELO DA SILVA OLIVEIRA

VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO


E SUAS CONEXÕES COM O PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE LARANJAL
DO JARI, AMAPÁ.

Macapá - Amapá
2014
MARCELO DA SILVA OLIVEIRA

VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO


E SUAS CONEXÕES COM O PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE LARANJAL
DO JARI, AMAPÁ.

Linha de Pesquisa: Organização do território, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.


Professor orientador: Prof.ª Dr.ª Odete de Fátima Machado da Silveira.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação/Mestrado em Desenvolvimento Regional
da Universidade Federal do Amapá –
PPGMDR/UNIFAP, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento
Regional.

Macapá - Amapá
2014
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá

338.98116
O48v Oliveira, Marcelo da Silva.

Vulnerabilidade social à inundação e suas conexões com o plano


diretor do município de Laranjal do Jari, Amapá / Marcelo da Silva
Oliveira; orientadora Odete de Fátima Machado da Silveira -- Macapá,
2014.
120 f.

Dissertação (Mestrado) – Fundação Universidade Federal do


Amapá, Programa de Mestrado Integrado em Desenvolvimento
Regional.

1. Amapá (Estado) – Condições sociais. 2. Inundações – Jari, Rio


(AP). 3. Vulnerabilidade social. 4. Ordenamento territorial. 5. Política
públicas. I. Silveira, Odete de Fátima Machado da, orient. II.
Fundação Universidade Federal do Amapá. III. Título.
MARCELO DA SILVA OLIVEIRA

VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO


E SUAS CONEXÕES COM O PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE LARANJAL
DO JARI, AMAPÁ.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da


Universidade Federal do Amapá, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre
em Desenvolvimento Regional a sob orientação da Professora Dr.ª Odete de Fátima Machado
da Silveira.
.

Data da Apresentação: 11/2013

CONCEITO: _____________

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof.ª Dr.ª Odete de Fátima Machado da Silveira (in memorian)
(Orientadora)

______________________________________
Prof. Dra. Valdenira Ferreira Santos
(Co-orientadora)

_______________________________________
Prof. Dr. Valter Gama de Avelar
(Examinador externo)

_______________________________________
Prof. Dr. Luís Roberto Takiyama
(Examinador externo)
EPÍGRAFE

Está difícil conter as lágrimas e a falta de ar que esse aperto no coração me provoca,
devido à saudade que sinto de você, ampliada nesse instante em que inicio esse pequeno texto
de despedida. Essa saudade nunca mais vai me deixar, até o dia em que nos encontrarmos
novamente.
Nesse momento especial gostaria de prestar a você essa homenagem! Agora, você
segue por essas águas até alcançar, em algum momento, a branda areia que lambe o mar, onde
não veremos mais suas pequenas pegadas como antes. Agora você segue sozinha, percorrendo
um caminho que por anos a fio tentou desvendar daqui, desse nosso mundo tão insólito e
reduzido de percepções e entendimentos. Agora você segue em silêncio (e imagino que
repleta de contentamento!) até as águas profundas do mar e depois, trazida pela força das
correntes e do vento, virá até nós na espuma do mar. Jamais saberemos o que se passa em
você nesse caminho: quantas perguntas vão ser enfim respondidas, quantas angústias vão ser
sanadas e que dores antigas vão ser para sempre esquecidas. Apenas sabemos aqui, do nosso
mundo de ares e saudades, que você vai se recostar nas conchas, nadar com os peixes,
conhecer outras praias e rios. Você vai enfim viver novos poemas, cantar com sereias a
canção que se canta no mar, conhecer a voz antiga do vento e das ondas. Você vai até onde
seus amigos daqui apenas sonham conhecer e compreender. Daqui podemos somente chorar e
esperar.
(...) Cinco sirenitas
Te llevarán
Por caminos de algas
Y de coral
Y fosforescentes
Caballos marinos harán
Una ronda a tu lado
Y los habitantes
Del agua van a jugar
Pronto a tu lado. (...)
Agora nós, todos os seus amigos daqui, vamos desligar a lâmpada e deixar que você
durma em paz. E sonhar com você vestida de mar!

Saudades,
Venerando Amaro.

Em memória da Prof.ª Dr.ª Odete de Fátima Machado da Silveira.


AGRADECIMENTOS

Este trabalho é dedicado a todos que me acompanharam nesta longa trajetória de


formação, das quais não poderia deixar de mencionar: à Deus que sempre iluminou meu
caminho, oportunizando-me sabedoria e coragem para trilhar em vida com responsabilidade;
À minha mãe amada, Dalzira Alexandre, mulher forte e guerreira que nunca mediu
esforços para me oferecer oportunidades de obter uma educação de qualidade, apesar das
limitações; ao amor dos meus irmãos, Marcos Vinicius e Tatiana Oliveira, dos quais sempre
pude contar e que sempre apoiaram minha formação acadêmica;
À minha esposa Arianne Vasconcelos que esteve comigo em todos os momentos e
sempre acompanhou minha evolução acadêmica, apoiando-me e dando força para que eu
pudesse lograr êxito; e à minha amada filha, Camilla Oliveira, uma graça que meu querido
Deus me proporcionou, fazendo-me ter outra visão do mundo, filha que Deus colocou em
minhas mãos para que pudesse educar e amá-la.
Ao meu amigo Orleno Marques, pelo apoio moral e técnico no desenvolvimento
deste trabalho, um verdadeiro amigo que sempre estará no meu coração.
A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Amapá – CEDEC/AP e a todos os
integrantes desta briosa instituição da qual tive a oportunidade de compor esta equipe, de onde
partiu o interesse para o desenvolvimento da temática desta pesquisa, mediante a convivência
com os eventos adversos no Estado do Amapá e também de onde pude abstrair todo e
qualquer tipo de informação disponível para a formatação desta dissertação.
Ao Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá – IEPA, através do
LASA, de onde tive a oportunidade e me foi disposto os arquivos e referências necessárias
para a qualificação técnica destes estudos.
Ao Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial – IMAP, órgão
importante que proporcionou a logística necessária para a efetivação das pesquisas e trabalho
de campo, além das informações disposta em seu acervo fundiário e ambiental, trabalhados
através de sua Assessoria de Geomática.
À Prefeitura Municipal de Laranjal do Jari, através de sua Secretaria de Obras, A
Empresa Jari Celulose S/A, a 6° CIA do Corpo de Bombeiros Militar do Amapá em Laranjal
do Jari, que disponibilizaram material de apoio de suma importância para análise das
informações levantadas por esta pesquisa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Mestrado em Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal do Amapá – PPGMDR/UNIFAP, pela aceitação no referido curso e por
darem oportunidade, incentivo e subsídio para a conclusão do curso de mestrado através de
seus professores, funcionários e infraestrutura. Aos colegas do PPGMDR/UNIFAP pela união
e amizade construída ao longo dessa nossa formação, e que esta amizade perdure por muito
tempo.
E não deixar de mencionar e destacar uma pessoa muito especial neste processo,
minha orientadora Profa. Dra. Odete de Fátima Machado da Silveira, que desde o princípio de
suas orientações me deu força, propôs mudanças mediante muitas broncas, o que fez com que
eu percebesse as minhas deficiências e meus avanços, neste sentido, esta dissertação de
mestrado é especialmente dedicada à memória desta pesquisadora que tanto fez pelo Estado
do Amapá, pois, além de contribuições técnicas e científicas relevantes que ficarão registrados
em acervos técnicos para consultas eternas, há também uma contribuição muito mais
significativa, que é o fomento do desenvolvimento intelectual daqueles que compuseram seus
grupos de pesquisas e muito mais, para aqueles que foram diretamente orientados por ela.
Á Profa. Dra. Valdenira Ferreira dos Santos, companheira de trabalho e amiga da
Profa. Dra. Odete Silveira, co-orientadora desta dissertação, profissional esta dedicada
integralmente para o desenvolvimento científico no Estado do Amapá, uma verdadeira
pesquisadora de dedicação exclusiva, da qual tem um quê fundamental na condução desta
dissertação através de suas orientações.
RESUMO

A cidade de Laranjal do Jari, localizada no sul do Estado do Amapá, sofre historicamente com
a ameaça de inundação. Em vários anos se observou que na época da enchente, o rio Jari
aumenta seu nível, inundando as partes mais baixas da cidade. A presente dissertação analisa
a ameaça à inundação em Laranjal do Jari, analisando os fatores naturais e antrópicos que
potencializam essa ameaça. Faz uma avaliação também do Plano Diretor do município de
Laranjal do Jari, para verificar a eficácia quanto às ameaças, risco e vulnerabilidade. A análise
de ameaça se baseou em uma metodologia que agrega dados físicos (maré, precipitação,
geomorfologia, geologia e hifrografia), dados gerados por sensores remotos e hidrológicos. O
cálculo da vulnerabilidade social foi realizado a partir da construção de um índice que inclui
dados do censo demográfico de 2010, usando como parâmetros de população total do
aglomerado, população infantil (idade entre 0 e 4 anos), população idosa (com idade maior
que 60 anos), chefe de família com menos de 4 anos de estudo, chefe de família com
rendimento mensal menor que 2 salários mínimos. Para a espacialização, utilizou-se como
unidade de analise os aglomerados subnormais. Para a análise do plano diretor foi aplicado
um questionário composto por cinco perguntas. Os resultados mostram que dos 6
assentamentos analisados, 5 apresentaram alta vulnerabilidade social e um apresenta
vulnerabilidade moderada. A análise do Plano Diretor indica a falta de abordagem de forma
explicita no que tange às ameaças, riscos e vulnerabilidades relacionadas a desastras naturais.
Os resultados obtidos são importantes para subsidiar políticas públicas relacionadas ao
ordenamento territorial e a ocorrência de desastres na região.

Palavras-chave: Ameaças e Vulnerabilidade Social, Ordenamento Territorial, Laranjal do Jari.

VIII
ABSTRACT

The city of Laranjal do Jari, located in the southern state of Amapá has historically suffered
from flooding. An analysis of the data over several years has shown this flooding occurs
during the natural high water cycles, at this time the river Jari receives an additional abnormal
increase in water volume, resulting in flooding of the lower parts of the city. This Thesis
investigates the reasons of water influx in the Laranjal do Jari, analyzing natural and
anthropogenic factors that result in this abnormal water volume. A review of the City Plan of
the city of Laranjal do Jari, to verify the effectiveness of future plans against threats, risk and
vulnerability. An analysis of sources of water volume was based on physical data of tide,
rainfall, geomorphology, geology, hydrography, data generated by remote sensing and
hydrological. The calculation of social vulnerability has been realized from the construction
of an index that includes data from the 2010 census, using as parameters the total population
of the cluster, child population (aged 0 to 4 years), elderly (aged greater than 60), head of
household with less than 4 years of study, householder with less than 2 minimum wages
monthly income. For spatial distribution was used as the unit of analysis subnormal
agglomerates. For the analysis of the master plan a questionnaire consisting of five questions
was applied. The results show that the 6 settlements analyzed, 5 had high social vulnerability
and presents moderate vulnerability. The analysis of the Master Plan indicates the lack of
approach explicitly in relation to threats, risks and vulnerabilities related to natural disasters.
The results are important to support public policies related to land use and the occurrence of
disasters in the region.
Keywords: Threats and Social Vulnerability, planning, Laranjal do Jari.

IX
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1. Ocorrência de eventos adversos por região brasileira. 19

Figura 1.2. Localização da bacia do rio Jari, com destaque para a área de estudo. 21
Figura 2.1. Bacia Hidrográfica do rio Jari, com destaque para os dois maiores
contribuintes, sendo na margem direita o rio Ipitinga, município de Almerim – PA e do 24
lado esquerdo o rio Iratapuru, no município de Laranjal do Jari - AP.
Figura 2.2. Faixa da Zona de Convergência Inter-Tropical - ZCIT 27
Figura 2.3. Pontos das estações, em função da bacia hidrográfica do rio Jari, com os e
29
destaque para a área de estudo e para a estação São Francisco.
Figura 2.4. Mapa Geológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo. 31
Figura 2.5: Aspectos do degrau da Cachoeira Santo Antônio.
32
Figura 2.6. Mapa Geomorfológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de
34
estudo.
Figura 2.7. Mosaico da evolução ocupacional do município de Laranjal do Jari, feito
38
através de imagens de aerofotogrametria referente aos períodos de 1968 a 1992.
Figura 2.8: Delimitação da área de estudo, tendo como base no recorte os Setores
40
Censitários do IBGE, 2010.
Figura 3.1. Tipos de leito. Relações existentes entre os diversos tipos de leito: maior,
menor e de vazante, dispostos em sua planície de inundação, com destaque para os 45
diques marginais.
Figura 3.2. Forma dos Vales. Vales em “V” e “U” e mistos, os quais se dispõem nas
46
planícies de inundação.
Figura 3.3. Imagem de satélite do rio Jari, nas proximidades do rio Amazonas. Observa-
48
se as áreas inundadas e canais menores ao longo do leito principal do rio Jari.
Figura 3.4. Perfil esquemático do processo de enchente e inundação. 50

Figura 3.5: Danos Humanos por inundações graduais – Região Norte. 54


Figura 4.1: Régua utilizada pela CEDEC/AP para realizar o monitoramento do nível do
66
rio Jari. A mesma utilizada para a leitura da influência de maré.
Figura 4.2.Delimitação da área de estudo. 68
Figura: 4.3.Organograma metodológico para a geração do índice de vulnerabilidade
69
social.
Figura 5.1. Série temporal de 1972-2010, estação de São Francisco, no Rio Jari 74

Figura 5.2. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2000. 74

Figura 5.3. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2006. 75

Figura 5.4. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2008. 75

X
Figura 5.5.. Medição da tábua de maré no cais do porto Santarém, no Rio Jari entre
76
23.04.2012 e 24.04.2012.
Figura 5.6. Aspectos do relevo na bacia do rio Jari, com destaque pra área de estudo. 78
Figura 5.7. Modelo Digital de Elevação com a sobre sobreposição de curvas de nível
79
para a área de estudo.
Figura 5.8. Perfil do terreno no qual se localiza a cidade de Laranjal do Jari e fotos do
80
em época de cheia do Rio Jari, no aglomerado Três Irmãos. Fonte: Oliveira, 2012.
Figura 5.9. Classificação da vulnerabilidade social a inundação em função da
83
concentração da população por aglomerado.
Figuras 5.10. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
84
função da população com idade entre 0 e 4 anos.
Figura 5.11. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
85
função da população idosa
Figura 5.12. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
87
função dos chefes de família com menos de quatro anos de estudo.
Figuras 5.13. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em
88
função da do chefe de família com renda inferior a dois salários mínimos.
Figura 5.14. Mapa da vulnerabilidade social à inundação na área urbana de laranjal do
90
Jari.
Figura 5.15. Fotografia área oblíqua da ocupação espontânea da cidade de Laranjal do
91
Jari.
Figura 5.16. Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari. 96
Figura 6.1. Padrão de relevo da região do Baixo Amazonas, Estado do PARÁ. 101
Figura 6.2: Área de influência direta da UHE Santo Antônio do Jari. 103
Figura 6.3. Inundação na cidade de Laranjal do Jari. 105

XI
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Evolução da dinâmica populacional em cada município de Estado do


36
Amapá.

Tabela 2.2. Descrição da área do município de Laranjal do Jari. 39


Tabela 3.1. Dez maiores inundações ocorridas no período de 1900 a 2012 e número de
52
pessoas mortas por país.
Tabela 3.2. Maiores desastres e números de mortos no Brasil. 53
Tabela 3.3. Municípios com solicitação de reconhecimento de Situação de Emergência
54
ou Estado de Calamidade Pública no Estado do Amapá.
Tabela 4.1. Indicadores utilizados no cálculo da vulnerabilidade Social. 70
Tabela 4.2. Classificação da vulnerabilidade dos aglomerados segundo os indicadores
71
de análise.
Tabela 4.3. Classificação da vulnerabilidade social. 71

Tabela 5.1. Ocorrência do fenômeno La Niña. 73


Tabela 5.2. Dados absolutos e percentuais (por aglomerado) das variáveis para a
81
definição da vulnerabilidade social.
Tabela 5.3. Indicadores de vulnerabilidade por aglomerado – classificados. 82

Tabela 5.4: Vulnerabilidade social a partir do indicador de concentração populacional


83
por aglomerado subnormal.
Tabela 5.5: Vulnerabilidade social a partir do indicador de percentual de população com
84
idade entre 0 a 4 anos de idade por aglomerado subnormal.
Tabela 5.6: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população
85
idosa por aglomerado subnormal.
Tabela 5.7: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população
86
chefe de família com menor de quatro anos de escolaridade por aglomerado subnormal.

Tabela 5.8: Vulnerabilidade Social a partir do indicador do percentual de população


88
chefe de família com renda inferior a dois salários mínimos por aglomerado subnormal.

Tabela 5.9. Dados dos aglomerados de acordo com o cálculo de vulnerabilidade. 89

Tabela 6.1. Registro de enchente e repercussão dos eventos. 106

Tabela 6.2.Classificação dos desastres em relação à intensidade 107

XII
LISTA DE QUADROS

Quadro 4.1. Questionamentos integrantes da matriz de análise do PDMLJ. 72


Quadro 5.1. Resultado da aplicação da matriz no Plano Diretor Municipal de Laranjal do
92
Jari.

LISTA DE SIGLAS

ANA AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUA


AVADAN AVALIAÇÃO DE DANOS (FORMULÁRIO)
CEDEC/AP COORDENADORIA DE DEFESA CIVIL DO AMAPÁ
CEPED CENTRO DE PREVISÃO E ESTUDOS DE DESASTRES
COMDEC COORDENADORIAS MUNICIPAIS DE DEFESA CIVIL
CPRM COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS
EM-DAT EMERGENCY EVENTS DATABASE
FUNCAP FUNDO NACIONAL DE CALAMIDADES PÚBLICAS
GPS SITEMA DE POSICIONAMENTO GLOBAL
IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
ICMBIO INSTITUTO CHICO MENDES DA BIODIVERSIDADE
IDH ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
IEPA INSTITUTO DE PESQUISAS CIENTÍFICAS E TECNOLÓGICAS DO
ESTADO DO AMAPÁ
IMAP INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE E DE ORDENAMENTO
TERRITORIAL DO ESTADO DO AMAPÁ
NHMET NÚCLEO DE HIDROMETEOROLOGIA E ENERGIAS RENOVÁVEIS
DO AMAPÁ
PDMLJ PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE LARANJAL DO JARI
PNDC POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA CIVIL
PRIMAZ PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO MINERAL EM MUNICÍPIOS DA
AMAZÔNIA
SEDEC SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL
SINDEC SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL
SIPAM SISTEMA DE PROTEÇÃO DA AMAZÔNIA
SRTM SHUTTLE RADAR TOPOGRAPHY MISSION
ZCIT ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL
ZEE ZONEAMENTO ECONOMICO ECOLOGICO

XIII
ZEIS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL
ZEPA ZONAS ESPECIAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
ZERA ZONAS ESPECIAIS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

XIV
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................. 17
1.1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 18
1.1.1 Objetivos Gerais.............................................................................................. 20
1.1.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 21

CAPÍTULO II........................................................................................................... 23
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................. 23
2.1.1 Bacia hidrográfica do rio Jari.......................................................................... 23
2.2 CLIMA E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS.............................................. 25
2.3 ASPECTOS FÍSICOS........................................................................................ 29
2.3.1 Aspectos geológicos........................................................................................ 30
2.3.2 Aspectos geomorfológicos.............................................................................. 33
2.4 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA ÁREA....................................................... 35
2.4.1 Demografia...................................................................................................... 36
2.4.2 Áreas de uso restrito........................................................................................ 39

CAPÍTULO III......................................................................................................... 42
3.1 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 42
3.1.1 Bacia Hidrográfica.......................................................................................... 42
3.2. SISTEMAS FLUVIAIS.................................................................................... 44
3.3 DEPÓSITO DOS SISTEMAS FLUVIAIS........................................................ 46
3.3.1 Planície de Inundação...................................................................................... 47
3.3.2 Enchente e Inundação...................................................................................... 49
3.3.3 Inundações e Desastres Naturais..................................................................... 52
3.4. CONCEITOS BASE PARA O ENTENDIMENTO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL............................................................................. 54
3.4.1 Danos e Prejuízos............................................................................................ 54
3.4.2 Ameaça............................................................................................................ 55
3.4.3 Vulnerabilidade............................................................................................... 55
3.5 VULNERABILIDADE SOCIAL....................................................................... 56
3.6 POLÍTICAS COMO INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO
TERRITORIAL........................................................................................................ 61

CAPÍTULO IV......................................................................................................... 64
4.1 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................. 64
4.1.1 Base de dados geográficos.............................................................................. 64
4.1.2 Ameaça a inundação na área urbana de Laranjal do Jari................................ 65
4.1.3 Cálculo da vulnerabilidade social.................................................................... 67
4.1.4 Análise do plano diretor municipal de Laranjal do Jari e as inundações –
PDMLJ..................................................................................................................... 72

CAPÍTULO V.......................................................................................................... 73
5.1 RESULTADOS.................................................................................................. 73
5.1.1 Inundações e suas ameaças na zona urbana de Laranjal do Jari..................... 73
5.1.2 Indicadores de Vulnerabilidade Social a Inundação....................................... 81
XV
5.2 MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIAL................................................... 89
5.3 O PLANO DIRETOR MUNICIPAL PARTICIPATIVO DE LARANJAL
DO JARI – PDMLJ NO CONTEXTO DAS AMAÇAS,
VULNERABILIDADES E RISCOS NATURAIS.................................................. 92

CAPITULO VI......................................................................................................... 98
6.1 DISCUSSÕES.................................................................................................... 98
6.1.1 Vulnerabilidade Social e aspectos físicos....................................................... 98
6.1.2 UHA Santo Antônio e as inundações.............................................................. 102
6.2. PLANO DIRETOR E POLÍTICAS DE GESTÃO DE RISCO........................ 103

CAPÍTULO VII........................................................................................................ 108


7.1 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.......................................................... 108

REFERÈNCIAS....................................................................................................... 112

XVI
APRESENTAÇÃO

Em função da busca do aprimoramento e de novos conhecimentos, este autor vislumbrou em


pesquisar, através do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade
Federal do Amapá, na área de concentração do Meio Ambiente, Cultura e Desenvolvimento
Regional, na linha de pesquisa Organização do Território, Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável, uma realidade vivenciada nas atribuições de sua função profissional na
Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Amapá – CEDEC/AP, durante o atendimento de
eventos adversos no território amapaense e, principalmente, os relacionados à inundação no
município de Laranjal do Jari, no Estado do Amapá; município, este que eventualmente sofre
com desastres de várias ordens, como por exemplo, incêndios e inundações. Ficou evidente
que de fato não havia um estudo concreto que identificasse as ameaças e vulnerabilidades da
sociedade perante a um evento que mantem uma frequência de ocorrências, ficando sempre na
subjetividade dos fatos, no empirismo, para que se pudesse entender o fenômeno durante as
ações de respostas para as pessoas atingidas pela inundação. Nesse sentido, esta dissertação
visa, de certa forma, contribuir com uma análise crítica e construtiva, visando a aplicabilidade
dos resultados identificados aqui, para que estes possam contribuir através de fortalecimento
das políticas públicas para a área de estudo e que o método aplicado nesta dissertação seja
tomado como base e replicado em outros municípios para tentar identificar as falhas das
políticas públicas, visando saná-las. Por essa justificativa a delimitação da área de estudo
desta dissertação se deu nos aglomerados subnormais do município de Laranjal do Jari, pois
estes aglomerados coincidem com as áreas eventualmente inundadas, necessitando de uma
informação científica dos fatos que levam o aumento da ameaça e da vulnerabilidade à
inundação das famílias ocupante na área objeto deste estudo.

17
1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história humana, as populações quase sempre procuraram se fixar às
margens dos cursos d’água, sendo que muitas civilizações tiveram seu florescimento à
presença de um grande rio, como verificado no Egito (rio Nilo), Mesopotâmia (rio Tigre e
Eufrates) assim nas grandes cidades europeias como Londres (rio Tâmisa), Paris (rio Sena) e
Roma (rio Tibre). No Brasil essa realidade não foi diferente, a população nativa e índios,
também ocupavam a margem dos rios. Com a chegada dos invasores europeus, as ocupações
que inicialmente se restringiram ao litoral, avançaram em direção aos rios, houve a fundação
de missões religiosas, vilas e posteriormente cidade ao longo dos cursos d’água. (METRI,
2007; PANIZZA, et al, 2010; SANTOS, 2012)

O processo de crescimento das cidades no Brasil começou a se intensificar na


segunda metade do século XX, com a expansão dos centros urbanos e também um
desenvolvimento acelerado de algumas cidades do interior. Até então, as cidades eram
modestas, com um processo de ocupação tímida, onde imperava a economia primária que
concentrava uma grande parte da população no campo. Com o novo modelo econômico, o
industrial, houve um aumento das atividades produtivas que exigiu uma vida social mais
grupal e com isso, um crescimento da população nas cidades, de acordo com Souza (2000).

Neste período começam a surgir os aglomerados urbanos, que são formados


rapidamente sem um prévio planejamento, de acordo com Guerra e Cunha (2001):

“...As áreas urbanas, por constituírem ambientes onde as ocupações humanas


se tornam intensas e muitas vezes desordenadas, tornam-se locais sensíveis
às gradativas transformações antrópicas, à medida que se intensificam em
frequência e intensidade o desmatamento, a ocupação irregular, a erosão e o
assoreamento dos canais fluviais...”
Desta forma, o crescimento urbano desordenado traz ameaças tanto para a sociedade,
quanto para o meio natural. Observa-se que um dos problemas associados à instalação
precária de algumas cidades e vilas são os riscos de acidentes que podem ser provocados por
processos geomorfológicos, entendidos como situações que envolvam inundações e
movimentos de massas (GUERRA; MARÇAL, 2006).

No Brasil a ocorrência de riscos geomorfológicos, como deslizamentos de terra e


inundações tem se intensificado nos últimos anos, como é observado nos noticiários diários,
porém, um dos efeitos mais lesivos, referem-se às inundações, principalmente, em áreas

18
urbanas devido à ocupação imprópria 1 da planície de inundação dos canais fluviais, dada não
apenas a maior concentração populacional, mas, principalmente, pela duração do evento e ao
lento retorno das águas ao canal fluvial (PNDC, 2007). De acordo com dados da Defesa Civil
Nacional a ocorrência de inundação está presente em todas as regiões da federação, conforme
Figura 1.1.

Figura 1.1. Ocorrência de eventos adversos por região brasileira.

Fonte: Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010. Publicado em 2012.

A população da Amazônia é de aproximadamente de 21 milhões (12% do total do


País), existindo ilhas de alta concentração urbana (Manaus, Belém, Macapá) entre grandes
“vazios” demográficos (4 hab./km2) (IBGE, 2010). A área influenciada de forma direta pela
grande Bacia do Rio Amazonas corresponde a 72% dessa região. Neste sentindo é
fundamental que essas áreas com influência direta tenham uma visão integrada e regional
próprios para uma análise e mapeamento de fenômenos extremos, muito em função da estreita
relação existente entre a população, suas residências, formas de vida e atividades econômicas
com os rios da bacia do rio Amazonas.

1
Edificações realizadas sem critério técnico como: planejamento, projeto de engenharia, estudos
geológicos, autorização do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA).

19
Historicamente as cidades da Amazônia foram se desenvolvendo ao longo das
margens dos numerosos cursos fluviais, devido, principalmente, à facilidade de transporte,
comunicação e escoamento da produção. O crescimento desordenado de muitas dessas
cidades tem pressionado para ocupação de áreas inundáveis sazonalmente, o que constitui um
fator de vulnerabilidade para estas populações (BECKER, 2000).

No Amapá, todos os dezesseis municípios existentes têm suas sedes localizadas as


margens de grandes ou pequenos cursos d’água (rios ou lagos). Algumas dessas cidades
sofrem constantemente com problemas ligados a cheia dos rios e consequente inundação de
sua área. De acordo com os dados do Ceped (2010), entre os anos de 1991 a 2010, Ferreira
Gomes, Santana, Vitória e Laranjal do Jari apesentaram eventos de desastres ligados a
dinâmica dos rios, principalmente as ligadas às cheias, em decorrência dos regimes
pluviométricos, sobretudo as cidades de Vitória e Laranjal do Jari, localizadas as margens do
rio Jari.

Assim se desenvolveu a sede do município de Laranjal do Jari, seguindo as


características de ocupação da região ribeirinha amazônica, que na maioria das vezes se dão
em áreas sujeitas à inundação. Nessa dinâmica ocupacional as famílias em Laranjal do Jari
foram se instalando às margens do rio Jari, e na época das cheias sofrem graves transtornos
provocados pela subida das águas. No período de 2000 a 2012, Laranjal do Jari registrou
quase que anualmente ocorrências relacionadas à inundação, variando a intensidade do evento
em diferentes anos, sendo as inundações que mais causaram danos à cidade ocorridas nos
anos 2000, 2006, 2008.

Neste sentido esse trabalho propõe-se aos seguintes questionamentos: quais as


características físicas dá área em que está localizada a cidade de Laranjal do Jari que podem
potencializar as ameaças de inundação? quais são os fatores que aumentam a vulnerabilidade
social à inundação na área urbana de Laranjal do Jari? Como a ameaça e conceitos correlatos
como vulnerabilidade e risco a inundação são tratados no Plano Diretor para a cidade?

A hipótese de trabalho considera que a urbanização da cidade tenha levado o


aumento dos efeitos da inundação na região de estudo.

Assim, o presente estudo visa analisar as ocorrências de inundação na área urbana do


município de Laranjal do Jari, buscando verificar quais fatores que ampliam os impactos
desse processo sobre a população.

20
Os objetivos específicos do trabalho são: a) identificar quais os processos naturais
que levam a ameaça à inundação na área urbana do município de Laranjal do Jari; b) mapear,
diante das ameaças, a vulnerabilidade social quanto à inundação na faixa urbana de Laranjal
do Jari; c) e ainda, analisar se o Plano Diretor da cidade de Laranjal de Jari considera as
ameaças, vulnerabilidades e riscos a inundação na área de estudo.

A área de estudo está inserida na bacia hidrográfica do rio Jari e corresponde à parte
urbana do município de Laranjal do Jari. O município, cuja sede foi estudada, limita-se ao
Norte com o Suriname, Guiana Francesa e Oiapoque; a leste com os municípios de Pedra
Branca do Amapari e Mazagão, ao Sul com o município de Vitória do Jari e a Oeste com o
Estado do Pará (Figura 1.2). O município possui uma área de 32.166,29 km², apresentando
uma maior extensão no sentido NW-SE, a Oeste acompanha o traçado do rio Jari até o limite
com o Município de Vitoria do Jari. A sede do município dista aproximadamente 265 Km de
Macapá, Capital do Estado do Amapá e tem como coordenadas geográficas de referência
00º50'51" S e 52º31'41", correspondente ao prédio da Prefeitura Municipal da cidade de
Laranjal do Jari.

Figura 1.2. Localização da bacia do rio Jari, com destaque para a área de estudo.

Fonte: Limites territoriais, IBGE (2005), Aglomerados Subnormais, IBGE (2010) adaptado pelo autor (2013).

21
Para maior compreensão, esta Dissertação foi organizada em 7 capítulos.

No Capítulo 1 se insere a introdução, na qual, é apresentado o tema, área de estudo,


os objetivos, a justificativa, o problema de pesquisa e as suas hipóteses.

No capítulo 2 é apresentada uma descrição sucinta das características da área de


estudo, ressaltando as suas características físicas e realiza um apanhado geral sobre o processo
ocupacional da região sul do estado do Amapá, especificamente na área de estudo.

O capítulo 3 apresenta a fundamentação teórica, que serão abordados inicialmente


alguns conceitos básicos a respeito dos termos relacionados à temática de ameaça,
vulnerabilidade e riscos. Posteriormente, a importância da análise da vulnerabilidade social na
redução dos riscos e o princípio de utilização dos índices na gestão e por fim apresenta a
ferramenta de plano diretor como instrumento de ordenamento.

O Capítulo 4 descreve a metodologia utilizada na dissertação.

O Capitulo 5 apresenta os resultados da pesquisa e está divido em três itens:


inundações e suas ameaças na zona urbana de Laranjal do Jari; indicadores de vulnerabilidade
social a Inundação; plano diretor da PMLJ no contexto das ameaças e riscos naturais

O Capítulo 6 apresenta as discussões acerca dos resultados obtidos, comparando-os


com outros trabalhos sobre a temática assim como com outras regiões que apresentam
características similares em relação aos eventos analisados.

O capítulo 7 finaliza a dissertação, apresentando as conclusões, as limitações do


trabalho e as recomendações finais. As referências bibliográficas encontram-se na sequência
deste capítulo.

22
CAPITULO II

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


Para entender a dinâmica da área de estudo é importante conhecer as características
físicas, incluindo informações sobre a bacia hidrográfica em que ela está inserida, condições
climáticas, geologia, geomorfologia, assim como, informações pertinentes ao corpo d’água
analisado: o rio Jari.

2.1.1 Bacia hidrográfica do rio Jari


A área de estudo se insere na bacia hidrográfica do rio Jari, situa-se na região
Amazônica, parte setentrional da bacia do rio Amazonas, próximo à sua foz, no oceano
Atlântico. O rio Jari é um importante contribuinte da margem esquerda do rio Amazonas, que
faz a divisa natural dos estados do Pará e do Amapá. A bacia hidrográfica do rio Jari, de
acordo com dados da Agência Nacional das Águas (ANA, 2006) possui cerca de 57.000 km2 e
ocupa as áreas dos municípios de Almeirim, no estado do Pará, Laranjal do Jari, Vitória do
Jari e Mazagão, no estado do Amapá. A rede hidrográfica da bacia é relativamente densa,
sendo constituída por três cursos d’água principais, sendo o primeiro, o rio Jari, o segundo, o
rio Ipitinga, principal contribuinte da margem direita do rio Jari, e o terceiro, o rio Iratapuru,
principal contribuinte da margem esquerda do mesmo, Figura 2.1.

23
Figura 2.1. Bacia Hidrográfica do rio Jari, com destaque para os dois maiores contribuintes, sendo na margem
direita o rio Ipitinga, município de Almerim – PA e do lado esquerdo o rio Iratapuru, no município de Laranjal
do Jari - AP.

Fonte: Base de dados dos Limites Estaduais e Municipais (IBGE, 2005); Limite das OttoBacias da Agência
Nacional da Águas – ANA (2010).

24
2.2 CLIMA E CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS

Apesar da deficiência das redes de monitoramento meteorológicas, nos últimos trinta


anos o comportamento da precipitação sobre a Região Amazônica é um tema bastante
investigado (MARENGO, 1992; MARENGO et al., 1993; SOUZA e ROCHA, 2006; NEVES
et al., 2011). Mas, quando se trata do Estado do Amapá, há lacunas como falta de rede de
estações de monitoramento com série de dados históricos e apoio aos trabalhos para maior
compreensão do clima local.

Para se entender o clima, diversas variáveis devem ser analisadas e entendidas,


principalmente no que diz respeito à influência de fatores geográficos, como relevo, latitude,
continentalidade e maritimidade que são exercidos em interação com os sistemas regionais de
circulação atmosférica. Desta forma, para a caracterização climática da bacia do rio Jari, é
necessária uma análise dos principais sistemas de circulação atmosférica e de sua influência
no clima regional. Por sua localização, nas imediações da linha do equador, os sistemas
atmosféricos na área são de grande importância, pois sua posição, com parte no hemisfério
norte e parte no sul, está sujeita à interferência dos sistemas dos dois hemisférios (EPE, 2010).

Segundo o Anuário Brasileiro de Desastres Naturais (BRASIL, 2012), os principais


sistemas que influenciam o tempo e clima do norte do Brasil são a Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT); as Linhas de Instabilidade (LI) e circulação de brisa marítima; a
penetração de sistemas frontais; o deslocamento da Alta Subtropical do Atlântico Sul
(Asas)/Alta Subtropical do Atlântico Norte (Asan) e a Alta da Bolívia, que, por sua vez,
podem interagir com Distúrbios Ondulatórios de Leste e outros mecanismos de escala
regional, como o vapor d’água da Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes, e de escala
global, como El Niño e La Niña; e o dipolo do Atlântico Tropical.

Para Silva Dias (1995), é na área equatorial para onde convergem os ventos (alísios)
originários dos Anticiclones do Atlântico norte e sul (centros de alta pressão). O Anticiclone
do hemisfério norte produz os alísios de nordeste e do sul e os alísios de Sudeste. O resultado
dessa convergência é a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), área de baixa pressão,
com intensa nebulosidade, movimentos verticais produzindo intensa convecção, provocando
chuvas torrenciais e fortes aguaceiros (EPE, 2010).

Na Amazônia, a ZCIT adquire várias configurações, no Brasil, a parte leste, mais


ligada ao Oceano Atlântico, atua no nordeste e leste do Amapá, adentrando no estado do Pará
(Figura 2.1). A região onde se insere a bacia em estudo é caracterizada pelo sistema de
25
circulação atmosférica da ZCIT, essa massa de ar, pela característica de forte umidade
específica e ausência de subsidência superior, torna-se em instabilidades causadoras de
chuvas abundantes. De acordo com informações do Núcleo de Hidrometeorologia do Instituto
de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá – NHMET/IEPA, tais correntes
atmosféricas, na bacia do rio Jari, são comuns durante todo o ano e as chuvas associadas a
ZCIT são de notável concentração, sendo que em 2008, este fenômeno foi observado e
influenciando ainda mais no regime pluviométrico (EPE, 2010).

Conforme Santos (2006), a ZCIT move-se anualmente de um lado para outro da


linha do Equador deslocando-se para o Norte, entre os meses de junho a setembro, e para o
Sul do equador, nos meses de dezembro a fevereiro, originando-se as estações secas e úmidas
na zona equatorial tropical. Esta zona influencia fortemente a temperatura e a precipitação,
marcando as áreas tropicais com altas precipitações e forte nebulosidade, observáveis em
imagens de satélite.

Outro fator que deve ser considerado na bacia é o regime de temperatura da região,
segundo Nimer (1979), a região apresenta o clima quente, uma vez que todos os meses se
mantêm com a temperatura média superior a 24ºC. As temperaturas médias anuais variam
entre 24 º C e 26 º C. A foz do rio Jari e o sudeste do estado do Amapá são as regiões das
mais altas temperaturas, onde eventualmente a dinâmica climática pode ser alterada por
fenômenos como mudanças climáticas e fenômenos como El Nino 2 e La Nina3 que podem
afetar o clima como um todo na América do Sul com grande impacto sobre a Amazônia e
consequentemente na área de estudo, ora com aumento das chuvas ora com secas extremas,
como será descrito mais adiante.

2
El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas
superficiais no oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de
vento a nível mundial, e afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.
(CPTEC, 2013).
3
La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao EL Niño, e que
caracteriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos
impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El Niño, mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño
apresenta impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña (CPTEC, 2013).
26
Figura 2.2. Faixa da ZCIT, mostrando a homogeneidade no oceano (seta em vermelho) e suas variações dentro
do continente (seta em amarelo).

Fonte: <http://www.cptec.inpe.br/~rupload/arquivo/Chuva_PB_06052008.pdf>. Acessado em 17 jul. 2012.


Modificado pelo autor (2012).

O estudo do Macrodiagnóstico do Estado do Amapá: primeira aproximação do


Zoneamento Econômico Ecológico – ZEE (2002) no sul do estado do Amapá foi possível
verificar que os meses com maiores índices pluviométricos foram março, abril e maio, do ano
de 2000, enquanto os meses mais secos foram outubro, novembro e dezembro de 2000. Em
um maior refinamento, Sobrinho et al., (2012), faz uma classificação climática do município
de Laranjal do Jari, evidenciando que o município possui um regime pluviométrico marcado
por duas estações bem definidas, uma de período chuvoso e outra de seca. O clima pode ser
caraterizado como equatorial quente e úmido, em quatro meses secos, podendo chegar a cinco
em algumas ocasiões. Por período seco se entende os meses em que os totais de precipitações
são normalmente inferiores a evapotranspiração potencial, evidenciando características de
climas tropicais. Por sua vez, o inverno é chamado período chuvoso correspondendo ao
período de maior índice pluviométrico, correspondente ao primeiro semestre do ano.

O trabalho de Sobrinho et al. (2012) utilizou dados primários de estações


climatológicas e postos pluviométricos distribuídos na área de estudo disponibilizados pela
Agencia Nacional de Águas-ANA (Hidroweb) e pelo Núcleo de Hidrometeorologia e
Energias Renováveis do Amapá (NHMET/IEPA), georreferenciadas e dispostas em um raio
27
de 150 km da sede do município de Laranjal do Jari (Figura 2.3). Tal distância, de acordo com
a metodologia de Thornthwaite (1948) utilizada por Sobrinho et al. (2012), é exigida como
rigor científico pela Organização Mundial de Meteorologia – OMM. A estação Monte
Dourado com coordenadas 00º51’00’’ e 52º33’00’’ é a mais próxima da área de estudo, fica
localizada na outra margem do Rio Jari, em frente a cidade de Laranjal do Jari, já no estado
do Pará, município de Almeirim.

Os dados analisados por Sobrinho et al. (2012) são referentes às estações de Monte
Dourado (1968 a 1975), Planalto (1968 a 1975), Pilão (1969 a 1977), São Miguel (1970 a
1977) e Pacanari (1974 a 1977) localidades e distritos de Almeirim/PA. Os valores
pluviométricos, bem como a faixa temporal de análise, referem-se aos postos localizados em
distritos e povoados nos municípios de Almeirim/PA (1968 a 1989), Laranjal do Jari (1968 a
2011) e Mazagão (1977 a 2011). A média do total acumulado de precipitação corresponde a
2.158,8mm. Os maiores índices foram os registrados em São Francisco (2.325mm), Carecuru
(2.34mm) e Monte Dourado (2.347mm). Os menores foram observados no Iratapuru
(2.051mm), São Pedro (2.022mm) e Pilão (1.998mm).

Ainda de acordo com Sobrinho (2012), o trimestre mais chuvoso vai de março a
maio, com total precipitado alcançando 41,6% do acumulado no ano. Os meses de setembro a
novembro apresentam os menores índices de chuva, correspondendo a 7,4% do total
precipitado. Verifica-se a elevada pluviosidade na estação de Monte Dourado, o que contribui
para a cheia do rio Jari, sobretudo entre março e maio, os mesmos meses identificados pelo
ZEE (2002). Diante desses dados, pode-se prever uma ameaça considerável com relação ao
evento de inundação na área urbana de Laranjal do Jari, entre os meses de março e maio.

28
Figura 2.3. Pontos das estações, em função da bacia hidrográfica do rio Jari, com os e destaque para a área de
estudo e para a estação São Francisco. O círculo corresponde ao raio de 150km, seguindo a metodologia adotada
por Sobrinho et al. 2012.

Fonte: Base de dados IBGE(2005). Modificado pelo autor (2013).

2.3 ASPECTOS FÍSICOS

O meio ambiente é um sistema complexo, constituído por componentes bióticos e


abióticos. As características físicas e químicas do ambiente é que caracterizam sua ocupação
pelos elementos bióticos. As inter-relações entre esses diferentes componentes resultam no
equilíbrio do ecossistema. No passado geológico este equilíbrio só era interrompido por
grandes alterações tectônicas ou climáticas. O homem a partir da revolução industrial, com o
crescente aumento da população e de suas atividades modificadoras foi capaz de provocar
significativas mudanças nos ambientes tão profundas quanto aqueles originados pelas
alterações tectônicas e climáticas.

29
Para entender essas alterações e a forma com que a ocupação humana interfere no
ambiente, é necessário conhecer os aspectos físicos da área que se deseja estudar. A bacia
hidrográfica do rio Jari, por sua grande extensão, apresenta diferenciadas feições naturais nos
aspectos geológicos e geomorfológicos. Essas características refletem-se no relevo e
consequentemente nos tipos de vegetação. A seguir, essas características serão descritas com
detalhes.

2.3.1 Aspectos geológicos

Segundo a caracterização baseada no projeto Radam (1974), na bacia hidrográfica do


rio Jari há um conjunto diversificado de rochas, cujas idades que vão desde o Proterozóico
Inferior (aproximadamente 2,6 bilhões de anos atrás) até o Holoceno (aproximadamente
11.500 anos atrás). As rochas mais antigas encontradas na referida bacia pertencem ao
Complexo Guianense. No Complexo Guianense, de idade pré-cambriana inferior
(aproximadamente 4,5 bilhões de anos) à média (aproximadamente 2 bilhões de anos),
destacam-se numerosos corpos alongados, orientados na direção NW, Radam (1974).

Em direção ao sul do Complexo Guianense encontram-se rochas sedimentares de


Idade Paleozóica (aproximadamente 320 milhões de anos atrás) da Bacia Sedimentar do
Amazonas, representadas pela Formação Trombetas, assim pela Formação Curuá (SPIER;
FERREIRA FILHO, 1999). Na porção sul da área da bacia do rio Jari, próxima à confluência
dos rios Jari e Carecuru, encontra-se uma faixa de rochas do período Terciário
(aproximadamente 180 milhões de anos atrás), representada pelo Grupo Barreiras. A área de
planície do rio Amazonas é constituída por aluviões contendo areias, argilas e siltes, datados
do holoceno, os quais, quando localizados no rio Jari, apresentam assoalho constituído por
cascalhos, (Figura 2.4).

Em suas expedições pelo antigo território do Amapá na década de 60, Antônio


Teixeira Guerra identificou seis tipos de estratigrafia nos terrenos formadores do Amapá:
holoceno, pleistoceno, devoniano, siluriano, algonquiano e arqueano. A predominância é do
arqueano do escudo das Guinas que cobre grande parte do estado. No Brasil o escudo das
Guianas representa um grande afloramento de rochas separado externamente das outas rochas
arqueanas brasileiras pela vasta bacia sedimentas de subsidência, formada pelos aluviões do
vale amazônico (GUERRA, 1994).

30
Figura 2.4. Mapa Geológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo.

Fonte: Base de dados IBGE (2005). Modificado pelo autor (2013).

Segundo Guerra (1994) ao se estudar a natureza das rochas da parte sul do estado do
Amapá, observa-se que no rio Jari a cachoeira Santo Antônio (Figura 2.5) marca o primeiro

31
degrau à franca navegação do rio. As rochas que predominam nessa região são granitos e
biotita de textura granular. A cachoeira Santo Antônio tem desnível relativo de 5 a 7 metros.

Figura 2.5: Aspectos do degrau da Cachoeira Santo Antônio.

Fonte: www.agenciaamapa.com.br. Acessado em 20 jun.2012.

Na parte sul desta bacia, onde está localizada a área de estudo há predominância de
compartimento de rochas sedimentares semiconsolidadas e depósitos recentes com a
Formação Alter do Chão com maior importância. Os Sedimentos da Formação Alter do Chão
foram depositados durante o Cretáceo Superior (aproximadamente 100 milhões de anos atrás)
(EPE, 2010). Esta unidade engloba os sedimentos anteriormente atribuídos ao Grupo
Barreiras pelo Projeto RadamBrasil (1974). Quando se analisam os elementos de cobertura, a
referida formação fica situada entre as unidades morfoesculturais do Planalto Setentrional da
Bacia Sedimentar do Amazonas e do Planalto de Uatumã-Jari, que representam superfícies
bastante desgastadas pelos processos erosivos, resultado do desgaste atuante sobre os arenitos,
rochas estas bastante friáveis (CAMPOS; TEIXEIRA, 1988).

É identificado também, na área de estudo, a unidade geológica mais recente, os


Depósitos Holocênicos, ainda em processo de formação. Sua formação inicia no período do
Holoceno, no Quaternário, que conforme Guerra e Cunha (2001) corresponde ao intervalo de
tempo posterior a última glaciação, cerca de 10.000 anos até os nossos dias. Esta formação
origina solos com predominância de argila, são sedimentos inconsolidados recentes de origem
fluvial que constituem os terraços fluviais e as áreas aluvionares (CPRM, 1998).

32
2.3.2 Aspectos geomorfológicos

A geomorfologia é uma das ciências que estuda o que há de mais concreto na


superfície terrestre e que se constitui como um dos principais fatores da interação entre o
gênero humano e o meio natural. A geomorfologia compreende o relevo enquanto um dos
componentes do meio ambiente, aparentemente monótono e estático, porém, apresenta-se de
maneira dinâmica e multiforme nas várias escalas de tempo e espaço (MONECHE, 2009).

Segundo dados do RadamBrasil (1974), 6 unidades morfoestruturais e


morfoesculturais, estão presentes na bacia do rio Jari, que consistem no Planalto do Uatumã-
Jari, Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Amazonas, Planaltos Residuais do Amapá,
Colinas do Amapá, Depressão Periférica da Amazônia Setentrional e Planície Amazônica. As
principais unidades morfoestruturais encontradas no terreno onde se assenta a cidade de
Laranjal do Jari, são constituídas pela Planície Amazônica e pelo Planalto Rebaixado da
Amazônia representado pelo planalto do Uatumã-Jari (Figura 2.6).

O Planalto Uatumã possui formas tabulares e apresenta dois níveis de aplainamento;


o mais elevado situa-se nos interflúvios e apresenta coberturas argilosas; o mais rebaixado
apresenta colinas com vales dissecados, em rochas areno-argilosas.

A Planície Amazônica corresponde a uma faixa de relevo mais rebaixado nas


margens do rio Amazonas. limita-se ao norte com o Planalto Uatumã-Jari e caracteriza-se por
apresentar um emaranhado de canais recentes, paleocanais, “furos”, igarapés, paranás,
meandros abandonados, lagos, num processo complexo de evolução atual do sistema fluvial.
A planície Amazônica compreende áreas alagadas e periodicamente inundáveis, em alguns
casos lacustres, e fixados progressivamente por vegetação pioneira, tendo como eixo o rio
Jarí, predominando na área de estudo, sua altitude é próxima à do nível do mar. É constituída
pelos depósitos fluviais quaternários, depositados nos terrenos periodicamente inundados,
além de material arenoso formadores de feições como diques marginais (BEMERGUY,
1997).

33
Figura 2.6. Mapa Geomorfológico da bacia do rio Jari com destaque para a área de estudo.

Fonte: Base de dados IBGE (2005). Modificado pelo autor (2012).

Uma das características mais marcantes da planície amazônica é que a mesma está
sujeita às inundações periódicas, e consequentemente, essas inundações permitem a deposição
de sedimentos recentes em vastas áreas. A dinâmica das inundações naturais é importante
para a distribuição dos nutrientes nas áreas marginais da planície, pois esta dinâmica

34
recorrente mantem o ciclo de vida de diversos ambientes e seres vivos nesses espaços
naturais.

2.4 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA ÁREA

De acordo com estudos históricos observados no relatório do Programa de Integração


Mineral em Municípios da Amazônia – PRIMAZ (CPRM, 1998), a ocupação humana na área
onde hoje se encontra o Município de Laranjal do Jari, remonta o ano de 1623, quando o
Capitão-mor Bento Maciel Parente iniciou a construção de uma casa forte, na Feitoria do
Caaguará, cujas terras hoje pertencem ao Projeto Jari, a construção foi posteriormente
destruída pelos holandeses que já ocupavam a região (CPRM, 1998). Um nome que se
destacou, de acordo com Lins (2001), na época do desbravamento da região do Jari, foi o do
cearense José Júlio de Andrade, considerado o maior comerciante na época, desbravou,
comprou e se apossou de uma extensa área, tanto no Pará quanto no Amapá, terras essas hoje
de domínio da Empresa Jari Celulose.

Outro nome importante para o desenvolvimento da região foi o de Daniel Ludwig, de


acordo com Lins (2001), empresário norte americano que investiu na região amazônica, nas
áreas do município de Almerim – PA e Laranjal do Jari, área comprada de um grupo de
portugueses que gerenciavam o Projeto Jari. Ludwig dinamizou a economia local através de
projetos florestais, pecuária, produção de arroz e outras culturas, abertura de vias terrestres,
áreas industriais além de construir uma cidade operária com toda infraestrutura necessária.
Tais desenvolvimentos na região, que antes considerada até certo ponto intacta, promoveram
um grande fluxo migratório, criando novos aglomerados ao redor deste projeto, pois a cidade
de Monte Dourado não suportava esse crescente fluxo populacional, intensificando assim o
processo de ocupação no lado da região sul do Estado do Amapá, área esta que mais tarde se
tornaria, em termos populacionais, o terceiro município do Estado, a cidade de Laranjal do
Jari, segundo interpretação da obra de Porto (2007).

A política desenvolvimentista na Amazônia serviu de referência na formação da


cidade de Laranjal do Jari, que aconteceu por um processo de exclusão acentuada do Projeto
Jari, onde a mão-de-obra, por não ter sido aceita no projeto por uma série de situações,
ocupam terras da empresa no outro lado do rio em frente a company town Monte Dourado,
dessa forma surgiu o primeiro aglomerado (LINS, 2001).

Tal aglomerado recebeu o nome de “Vila do Beiradão”, que se desenvolveu na


margem esquerda rio Jari espontaneamente e de forma desordenada devido ao fluxo
35
migratório induzido pelo Projeto Jari. Diante deste fato, houve o crescimento acelerado da
“Vila do Beiradão”, sendo que as infraestruturas básicas para o desenvolvimento local não
acompanhou na mesma proporção o crescimento populacional, o que veio a ocasionar graves
problemas urbanos e ambientais em Laranjal do Jari, criando um aglomerado de residências,
formando uma enorme favela fluvial, que hoje, conceitualmente definida, como veremos
adiante, de aglomerados subnormais. Incidentes relacionados a incêndios em meados da
década de 1980 foram preponderantes para a expansão da “Vila do Beiradão”, que até então
era administrada pelo município de Mazagão. Diante de tal expansão, cria-se o município de
Laranjal do Jari pela Lei nº 7.639, de 17/12/1987, que se desmembrou do município de
Mazagão em 1987, desde então, passou a ter autonomia administrativa. Outro incêndio, em
1989, foi determinante para o processo de expansão urbana de Laranjal do Jari, o que deu
início a ocupação da parte alta da cidade, no bairro Agreste.

2.4.1 Demografia

Após a transformação em estado da federação em 1988, o Amapá se tornou um dos


estados brasileiros que mais recebem migrantes, sobretudo provenientes dos estados do Pará e
Maranhão. Entre 1991 e 2010 a população do estado cresceu mais de 131 %, apresentando
uma taxa anual de crescimento populacional de 4,7% em decorrência do intenso fluxo
migratório, onde grande parte da população se estabeleceu no meio urbano ocupando áreas
impróprias e de forma desordenada, pois não houve um planejamento urbano que
acompanhasse tal crescimento populacional.

A população do município de Laranjal do Jari cresceu mais de 86%, entre 1991 e


2010 (Tabela 2.1). Desde sua formação, cerca de 90% da população de Laranjal do Jari vive
na área urbana, o que consequentemente exerce forte pressão sobre o espaço urbano,
submetendo um processo de expansão acelerada, criando espaços altamente desordenados e
ilegais (MARICATO, 2001).

Tabela 2.1. Evolução da dinâmica populacional em cada município de Estado do Amapá.


Município 1991 2010 % Crescimento
Amapá 8.075 8.069 - 0,08 %
Calçoene 5.177 9.000 73 %
Cutias - 4.696 -
Ferreira Gomes 2.386 5.802 143 %
Itaubal - 4.265 -
Laranjal do Jari 21.372 39.942 86 %
Macapá 179.777 398.204 122 %
Mazagão 8.911 17.032 91 %
Oiapoque 7.555 20.509 171 %
Pedra Branca do Amapari - 10.772 -
36
Porto Grande - 16.809 -
Pracuúba - 3.793 -
Santana 51.451 101.262 96 %
Serra do Navio - 4.380 -
Tartarugalzinho 4.693 12.563 167 %
Vitória do Jari - 12.428 -
Total 289.397 669.526

Fonte: IBGE. Censo demográfico referente dos anos de 1991 e 2010.

A sede do município de Laranjal do Jari se desenvolveu em um vale e possui uma


alta urbanização, não pelo incremento de infraestrutura, mas sim, pelo alto índice de
ocupações, gerando um ambiente contraditório e degradado. A cidade apresenta, atualmente,
uma configuração espacial caracterizada por duas áreas: uma de ocupação induzida, parte alta,
onde estão os aglomerados que foram construídos pelo governo estadual juntamente com o
municipal para atender as situações de sinistros que passou a cidade. A outra área de
ocupação espontânea, na parte baixa, onde estão as áreas alagadas evidenciadas no mosaico
da evolução ocupacional de Laranjal do Jari feito ao longo dos anos de 1968 a 1992,
conforme Figura 2.7.

Em 1968, (Figura 2.7, “A”) pode-se observar na fotografia aérea que aparentemente,
pela interpretação feita, não há impacto algum motivado pela ocupação humana mostrada na
área objeto de estudo, mostrando uma área ainda intacta; em 1977 (Figura 2.7, “B”) pode-se
observar a construção da Company Town de Monte Dourado, na margem direita do rio Jari, o
processo de ocupação dessas áreas já se torna realidade. Em 1992, (Figura 2.7, “C”) essa
realidade já é consolidada, como é observada na imagem. As Figuras 2.7 “D, E e F”, tratam-se
de imagens do mesmo ano da (Figura 2.7, “C”) retiradas em sessões e tempos diferentes, que
mostra a realidade da ocupação, onde o tracejado dos arruamentos ainda continuam os
mesmos, aumentando significativamente para a região da cidade dita anteriormente como
induzida, a parte alta da cidade de Laranjal do Jari.

Tanto as partes altas como as partes baixas da cidade padecem de carência de


serviços urbanos, apresentam um desordenamento espacial que ajuda a caracterização de um
espaço urbano de agressão aos aspectos urbanísticos, com pouca estrutura sanitária, péssimos
aspectos habitacionais e sociais, nessas duas áreas estão aquilo que Maricato (2001) denomina
de constituição do espaço ilegal. Aliada ao crescimento sem as infraestruturas necessárias, por
sua localização as margens do rio Jari, Laranjal do Jari sofre com as consequências
provenientes da inundação que anualmente atingem parte da cidade.

37
Figura 2.7. Mosaico da evolução ocupacional do município de Laranjal do Jari, feito através de imagens de
aerofotogrametria referente aos períodos de 1968 a 1992. As elipses mostram as áreas de maior crescimento da
cidade nos diferentes períodos.

Fonte: Empresa Jari Celulose S/A, 2012. Modificada pelo Autor, 2013.
38
2.4.2 Áreas de uso restrito
A maior parte do município de Laranjal do Jari é coberto por unidades de
conservação de proteção integral com destaque para o Parque Nacional Montanhas do
Tumucumaque e Estação Ecológica do Jari, sob jurisdição do ICMBIO (Tabela 2.2.). Existem
também unidades de conservação de uso sustentável, terras indígenas, áreas de litigio entre
governo estadual e a empresa Jari Celulose com posseiros da região. Essa realidade fez com
que a cidade de Laranjal do Jari se localize em território “estrangulado” cercado de áreas de
uso restrito e de jurisdição não definida. Essa peculiaridade prejudica o desenvolvimento da
cidade, facilitando a ocupação de áreas de forma espontânea e ilegal.

Tabela 2.2. Descrição da área do município de Laranjal do Jari.

Área % Crescimento
Município
(km²)
PARNA do Tumucumaque 16.474,36 52,85
R.D.S. do Rio Iratapuru 6.174,80 19,80
Terra Indígena dos Waiãpi 3.535 11,34
RESEX do Rio Cajari 1.962,23 6,29
Áreas Particulares (Jari Celulose) 1.325,49 4,25
Estação Ecológica do Jari 866,53 2,78
PA do Rio Maracá 216,37 0,69
Área Patrimonial do Município 32 0.1
Área Remanescente 583 2
Total 31.170,62 100%

Fonte: Instituto o Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial – IMAP (2010).

Diante da descrição retirada da Tabela 2.2 resta apenas uma área de 32 km² para
gestão administrativa no município de Laranjal do Jari; associado aos dados censitários do
IBGE, conclui-se que o estrangulamento devido ao processo de expansão urbana do
município, ocasionou um processo de ocupação espontânea e de forma desordenada,
principalmente na área de estudo.

2.5 AGLOMERADOS SUBNORMAIS

O Censo Demográfico é a maior e mais complexa operação de levantamentos


geográfico e estatístico realizada num dado território, quando é sistematizado o quadro
territorial e são investigadas as características de toda a população e dos domicílios do País,
estes levantamentos tem como objetivo mostrar os recortes territoriais classificados e um
desses recortes são denominados como aglomerados subnormais.
Segundo o IBGE, aglomerado subnormal é um conjunto constituído de, no mínimo,
51 unidades habitacionais (barracos, casas etc.) carentes, em sua maioria de serviços públicos
essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia
39
(pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A
identificação dos aglomerados subnormais deve ser feita com base nos seguintes critérios:
a) Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia
(pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de
propriedade do terreno há 10 anos ou menos) e;
b) Possuírem pelo menos uma das seguintes características:
• urbanização fora dos padrões vigentes - refletido por vias de circulação estreitas e
de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não
regularizadas por órgãos públicos ou;
• precariedade de serviços públicos essenciais.
Esse recorte é necessário devido a referência básica para o conhecimento da
condição de vida da população brasileira em todos os municípios e nos recortes territoriais
intramunicipais – distritos, subdistritos, bairros e localidades –, onde na oportunidade, o
Censo Demográfico 2010 aprimora a identificação de um recorte territorial específico – os
aglomerados subnormais –, oferecendo à sociedade um quadro nacional atualizado sobre esta
parte das cidades que demandam políticas públicas especiais.

Figura 2.8: Delimitação da área de estudo, tendo como base no recorte os Setores Censitários do IBGE, 2010.
Aglomerados Subnormais.

Fonte: Base de Dados IBGE (2010). Modificado pelo autor (2012).

40
Observa-se que os limites dos aglomerados subnormais ultrapassam a linha do
continente, pois, segundo normativa interna da cartografia censitária do IBGE, a malha dos
setores censitários, por obrigatoriedade, devem ser adjacentes e contíguas, não podendo haver
espaços entre os setores de diferentes unidades da federação. Assim, os limites destes setores
censitários no município de Laranjal do Jari se estendem até o leito do canal fluvial, limite
entre os Estado do Amapá e Pará.

41
CAPÍTULO III

3.1 REFERENCIAL TEÓRICO

Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar os conceitos utilizados neste
trabalho. É necessário compreender uma variedade de conceitos quando se trabalha com a
temática proposta.

3.1.1 Bacia Hidrográfica

A bacia hidrográfica foi definida segundo Guerra (1993), como um conjunto de


terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A rede fluvial também chamada de rede
de drenagem ou de rede hidrográfica é constituída por todos os rios de uma bacia
hidrográfica, hierarquicamente interligados. É um dos principais mecanismos de saída da
água, principal matéria em circulação na bacia hidrográfica.

Christofoletti (1974) apresenta também, uma importante base teórica relacionada ao


entendimento da dinâmica fluvial:

 rede fluvial ou rede de canais: é o padrão inter-relacionado de drenagem formado por


um conjunto de rios em determinada área, a partir de qualquer número de fontes até a
desembocadura da referida rede;

 fonte ou nascente de um rio: é o lugar onde o canal se inicia, e desembocadura é o


ponto final, a jusante, de toda a rede;

 confluência ou junção: é o lugar onde dois canais se encontram, não sendo permitida
junções tríplices;

 segmento fluvial: é o trecho do rio ou canal ao longo, do qual, a ordem que lhe é
associada permanece constante;

Neste sentido, definir as características climáticas de uma bacia hidrográfica


particular, é importante para determinar o escoamento superficial na mesma, mas duas bacias
hidrográficas sujeitas às mesmas condições climáticas podem apresentar diferentes
escoamentos superficiais. Estas diferenças se devem às características dos cursos d’água
naturais e aos aspectos físicos das áreas drenadas por estes cursos d’água. Por exemplo, uma
bacia por ser mais íngreme que a outra produzirá maiores picos de vazão de escoamento
superficial. Por isso, no estudo do comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica as
suas características físicas revestem-se de especial importância pela estreita correspondência

42
entre estas e o regime hidrológico da bacia (TUCCI, 1997). Por isso, quando se estuda uma
bacia hidrográfica para fins de análise de inundação, algumas características são muito
importantes de serem conhecidas, pois influenciam em todos os processos, são elas: área,
forma, permeabilidade dos solos, capacidade de infiltração e topografia. Onde a área de
drenagem da bacia hidrográfica é a área plana (projetada sobre o plano horizontal) limitada
pelos divisores topográficos da bacia. A área de drenagem é um dado fundamental para
definir a potencialidade hídrica de uma bacia hidrográfica, uma vez que a multiplicação dessa
área pela altura da lâmina d’água precipitada define o volume recebido pela bacia. A área da
bacia hidrográfica constitui-se, ainda, em elemento básico para o cálculo de outras
características físicas da bacia. A área da bacia hidrográfica é determinada em mapas
topográficos e para determina-la é preciso, em primeiro lugar, realizar o traçado do contorno
da bacia, ou seja, estabelecer o traçado da linha de separação das bacias vizinhas. Delimitada
a bacia, a sua área pode ser determinada com o uso de um planímetro ou eletronicamente
(cálculo computacional), quando se dispõe do mapa digitalizado (CHRISTOFOLETTI, 1969).

As bacias de grandes rios têm, normalmente, a forma de uma pera ou leque, enquanto
as pequenas bacias assumem formas variadas. Dentre as bacias de mesma área, aquelas
arredondadas são mais susceptíveis a inundações nas suas partes baixas que as alongadas. A
importância da forma da bacia, particularmente para fins de inundação, está associada ao
conceito de tempo de concentração (tc), que é o tempo contado a partir do início da
precipitação, necessário para que toda a bacia contribua para a vazão na seção de saída (ou
para a vazão na seção em estudo), isto é, corresponde ao tempo que a partícula de água de
chuva que cai no ponto mais remoto da bacia leva para, escoando superficialmente, atingir a
seção em estudo. Alguns índices de forma têm sido utilizados para caracterizar as bacias
hidrográficas, como o coeficiente de compacidade e o fator de forma (TEODORO et al.,
2007).

O tipo de solo e o estado de compactação da camada superficial têm importante


efeito sobre a parcela da água de infiltração. As características de permeabilidade e de
porosidade do solo estão intimamente relacionadas com a percolação e os volumes de água de
armazenamento, respectivamente. Solos arenosos propiciam maior infiltração e percolação, e
reduzem o escoamento superficial. Por outro lado, os solos siltosos ou argilosos, bem como os
solos compactados superficialmente, produzem maior escoamento superficial
(CHRISTOFOLETTI, 1969).

43
Em estudos de inundação, conhecer a topografia da bacia é de suma importância,
pois o escoamento e avanço das águas serão condicionados pela topografia. Técnicas de
extração dessas informações de modelos digitais de elevação (ou de terreno) se tornaram
comum, principiante a partir do ano 2000, com o lançamento da missão da NASA
denominada Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), que recobriu cerca de 80% do
planeta com radar para fins de mapeamento topográfico (VALERIANO; CARVALHO Jr,
2003).

A declividade da bacia é um importante fator a influenciar a velocidade do


escoamento superficial, que determina o tempo de concentração da bacia e define a magnitude
dos picos de enchente. Além disso, a velocidade do escoamento condiciona a maior ou menor
oportunidade de infiltração da água de chuva e afeta a susceptibilidade para erosão dos solos.

3.2 SISTEMAS FLUVIAIS

Os sistemas fluviais são formados pelos rios e seus componentes, e o rio, pode ser
entendido como uma corrente contínua de água, mais ou menos caudalosa, que deságua
noutra, no mar ou lago. Guerra (1993) define drenagem como uma feição linear negativa
produzida por água de escorrência, que modela a topografia de uma região. Christofoletti
(1974) conceitua como canais de escoamento inter-relacionados que formam uma bacia.
Monteiro e Silva (1979) afirmam ser um conjunto da rede hidrográfica com elementos
temporários ou permanentes. Deffontaines e Chorowicz (1991) definem rede de drenagem
como um conjunto de superfícies topográficas subaéreas, as quais são contíguas com
pendentes ladeiras acima, em todos os lados, à exceção da direção do fluxo da água. Esse
conjunto de superfícies pode ser coberto com água, temporariamente ou de forma perene.

Os rios possuem diferentes tipos de canal por conta do regime de descarga, a qual
tem relação com o clima, solos e cobertura vegetal, o perfil do rio que está ligado ao relevo, as
condições de erodibilidade relativa aos tipos litológicos, consoante suas propriedades físicas e
influência da tectônica e estruturas primárias ou secundárias das rochas.

Os elementos morfológicos dos sistemas fluviais são os tipos de leito, de canal e


formas do vale. O leito corresponde ao espaço ocupado pelo escoamento das águas. Em
função da descarga e a consequente topografia dos canais fluviais, podem ser classificados em
leito menor (talvegue), leito de vazante, e leito maior, cujos limites são gradativos
(TRICART, 1966), Figura 3.1. O leito menor corresponde a parte do canal ocupada pelas

44
águas, o que impede o crescimento da vegetação. O leito maior está relacionado à época das
cheias, enquanto que o de vazante refere-se ao período de estiagem.

Figura 3.1. Tipos de leito. Relações existentes entre os diversos tipos de leito: maior, menor e de vazante,
dispostos em sua planície de inundação, com destaque para os diques marginais.

Fonte: Modificado de Christofoletti (1974).

O tipo de canal constitui uma feição importante, porque retrata o estágio de


sedimentação com referência ao material em suspensão. Este padrão deve ser analisado em
drenagens de ordem elevada, ou seja, nos principais rios de uma região, que apresentam seu
canal com considerável largura. A feição que o rio apresenta, ao longo de seu perfil
longitudinal, pode ser descrita como anastomosada, retilínea e meândrica, além dos tipos
intermediários. O tipo de canal é o resultado do ajuste do canal à sua seção transversal e
reflete o inter-relacionamento entre: descarga líquida, carga sedimentar, declive, largura e
declividade do canal, velocidade do fluxo e rugosidade do leito (CUNHA, 1994).

Os canais anastomosados são os formados em condições especiais, altamente


relacionados com a carga sedimentar do leito. É quando o rio não consegue transportar
material grosseiro em grandes quantidades, depositando-os no próprio leito, criando obstáculo
natural, fazendo com que se ramifique em múltiplos canais. Os retilíneos são aqueles em que
o rio percorre trajeto retilíneo, sem desviar significantemente de sua trajetória normal em
direção à foz. Os meandrantes são aqueles em que os rios descrevem curvas sinuosas, largas,
harmoniosas e semelhantes entre si, através de um trabalho contínuo de escavação na margem
côncava e de deposição na margem convexa.

Para Schumm (1967) as diferentes sinuosidades dos canais são muito mais
determinadas pelos tipos de cargas detríticas do que pela descarga fluvial. Assim, os canais
45
meandranticos estão ligados a elevados teores de silte e argila, enquanto os anastomosados, a
uma carga mais arenosa, o mesmo devendo ocorrer com o entrelaçado. Deste modo, a
diminuição da sinuosidade de um meandro está muito mais ligada ao aumento da
granulometria e da quantidade da carga detrítica do que a qualquer outro fato.

Os vales possuem vertentes simétricas ou assimétricas, e também podem ser de fundo


em V, UV, VU ou em U. A Figura 3.2 exemplifica a relação entre a drenagem e seu vale, neste
caso em forma de "U", que abriga uma drenagem com feições meândricas, incluindo o
desenvolvimento de terraços e diques marginais.

Figura 3.2. Forma dos Vales. Vales em “V” e “U” e mistos, os quais se dispõem nas planícies de inundação,
configurada pelo item “a” da Figura B.

A
a

Fonte: A) CUNHA, 1994. B) Christofoletti, 1974.

3.3 DEPÓSITOS DOS SISTEMAS FLUVIAIS


A morfologia fluvial é entendida como os tipos de leito, canal e forma dos vales por
onde flui a drenagem. Sua perfeita compreensão fornece subsídios para a obtenção de dados
que auxiliam o intérprete na busca dos fatores geológicos e geomorfológicos que
influenciaram o desenvolvimento da drenagem. Em termos geomorfológicos pode-se dividir o
ambiente fluvial em dois subambientes: depósitos de acreção lateral e depósitos de acreção
vertical (LEOPOLD; WOLMAN, 1957). Os primeiros são resultantes da redistribuição em
área dos sedimentos disponíveis, muito ativos em barras de meandros. Por sua vez, os de
acreção vertical relacionam-se a depósitos por sedimentos em suspensão, a exemplo do que
acontece na planície de inundação. Do ponto de vista prático, três são os principais grupos de
depósitos fluviais (SUGUIO, 1980).

a) Depósitos de Canal: formados pela atividade do canal e incluem depósitos residuais


de canal, barras de meandros, barras de canais e depósitos de preenchimento de canal.
46
b) Depósitos Marginais: originados nas margens dos canais durante as enchentes, e
compreendem os depósitos de diques marginais (ou naturais) e de rompimento de diques
marginais.

c) Depósitos de Planícies de Inundação: constituídos essencialmente por sedimentos


finos depositados durante as grandes enchentes, quando as águas ultrapassam os diques
naturais e inundam as planícies. Correspondem aos depósitos de planície de inundação e
pântanos.

3.3.1 Planícies de Inundações

As planícies de inundações são áreas que quando as águas ultrapassam o leito menor
do rio, ficam inundadas e recebem grande carga de sedimentos. A planície de inundação é
formada por aluviões e por materiais variados depositados no canal fluvial ou fora dele. A
planície é a faixa do vale fluvial composta de sedimentos aluviais, bordejando o curso d’água
e periodicamente inundada pelas águas de transbordamento provenientes do rio.

Portanto, segue-se na definição por critérios diversos, conforme a perspectiva e os


objetivos dos pesquisadores: Geólogo, área fluvial recoberta por materiais depositados pelas
cheias; Hidrólogo, área fluvial periodicamente inundada por cheias de determinadas
magnitudes e frequências; Legislador, delimitada e definida pelo estatuto da terra;
Geomorfólogo, apresenta configuração topográfica específica, com formas de relevo e
depósitos sedimentares relacionados com as águas fluviais, na fase do canal e na de
transbordamento (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Segundo Teixeira et. al. (2003), planície de inundação (food plain) é uma área
relativamente plana adjacente a um rio, coberta por água nas épocas de enchentes (Figura
3.3).

47
Figura 3.3: Imagem de satélite do rio Jari, nas proximidades do rio Amazonas. Observa-se nas poligonais com
tracejado em amarelo, as planícies de inundação e canais menores ao longo do leito principal do rio Jari, com
destaque para a área de estudo (círculo em vermelho).

Fonte: Google Earth (2013). Modificado pelo autor (2013).

A principal dinâmica ecológica da planície de inundação é o pulso de inundação


(JUNK, 1989). O conceito de pulsos de inundação é baseado nas características hidrológicas
do rio, sua bacia de drenagem e sua planície de inundação. Segundo Junk (1989), as planícies
de inundação são áreas que recebem periodicamente o aporte lateral das águas de rios, lagos,
da precipitação direta ou de lençóis subterrâneos, sendo de particular interesse na região
amazônica aquelas associadas a rios e lagos.

A planície fluvial inundável são as áreas alagadas apenas no período das enchentes.
As oscilações do nível dos rios da planície Amazônica apresentam-se em geral como um ciclo
monomodal de inundação, com um período regular de águas altas e outro de águas baixas
(JUNK; KRAMBECK, 2000). As flutuações no nível da água são uma importante função de
força que dirige o funcionamento ecológico, hidrológico, físico, químico e biológico do
sistema (TUNDISI et al., 2002). Durante o período de nível baixo da água, a região da
planície de inundação é seca, com apenas lagos permanentes remanescentes. Durante os
períodos de enchentes e de nível alto dos rios, todo o sistema sofre inundação (TUNDISI et
al., 2002).

48
Estas oscilações do nível d´água decorrente dos pulsos de inundação exerce
influência na ecologia dos ecossistemas alagáveis específicos da região amazônica, pois,
implicam no acréscimo/redução da área ocupada por “paranás”, “furos”, “igarapés”, vales
fluviais com foz afogada ou “rias” fluviais, lagos com forma e gênese diferenciadas, diques
aluviais e canais, áreas de inundação e constantemente alagadas como brejos e “igapós”,
cursos fluviais anastomosados com numerosas ilhas, além de outros (FRANÇA et al., 2005).

3.3.2 Enchente e Inundação

Santos (2007) e Carvalho et al. (2007), definem a enchente como um processo


natural que ocorre nos cursos de água. Consiste na elevação temporária do nível d’água em
um canal de drenagem (rio, córrego, riacho, arroio, ribeirão) devido ao aumento da vazão ou
descarga (Figura 3.4). A inundação ocorre quando a enchente atinge a cota acima do nível
máximo da calha principal do rio e assim ocorre o extravasamento das águas do canal de
drenagem para as áreas marginais - planície de inundação, várzea ou leito maior do rio
(Carvalho et al., 2007).

Para Amaral e Ribeiro, 2009, considera-se enchente (ou cheia), também pode ser
definida como um evento que resulta da incapacidade temporária de um canal de drenagem
(rio, córrego, etc.) conter, em sua calha normal, o volume de água por ele recebido, e quando
ocorre o extravasamento da água excedente, teremos uma inundação, que é quando o nível de
precipitação seja suficiente para fazer com que a lâmina d’água da enchente ultrapasse as
margens dos diques marginais, atingindo terras normalmente secas

Ainda segundo Amaral e Ribeiro (2009), a probabilidade e a ocorrência de


inundação, enchente e alagamento são analisadas pela combinação entre os condicionantes
naturais e antrópicos.

Entre os condicionantes naturais destacam-se:


a) formas do relevo;
b) características da rede de drenagem da bacia hidrográfica;
c) intensidade, quantidade, distribuição e frequência das chuvas;
d) características do solo e o teor de umidade;
e) presença ou ausência da cobertura vegetal.

49
O estudo desses condicionantes naturais permite compreender a dinâmica do
escoamento da água nas bacias hidrográficas (vazão), de acordo com o regime de chuvas da
cada região onde estão inseridas as diversas bacias hidrográficas.

De acordo com as características do vale, é possível prever a velocidade do processo


de inundação. Os vales encaixados (em V) e vertentes com altas declividades predispõem as
águas a atingirem grandes velocidades em curto tempo, causando inundações bruscas e mais
destrutivas. Os vales abertos, com extensas planícies e terraços fluviais, predispõem
inundações mais lentas (graduais), devido ao menor gradiente de declividade das vertentes do
entorno (TOMINAGA et. al, 2009).

Figura 3.4. Perfil esquemático do processo de enchente e inundação.

Fonte: Goert & Kobiyama, 2005 apud Sausen & Narvert (2013).

As enchentes e inundações são processos naturais de natureza hidrometeorológica


(CARVALHO et al., 2007) que ocorrem deflagrados por chuvas rápidas e fortes, chuvas
intensas de longa duração, degelo nas montanhas e outros eventos tais como furacões e
tornados. E podem ser intensificados pelas alterações ambientais e intervenções urbanas
produzidas pelo homem, como a impermeabilização do solo, retificação dos cursos d’água e
redução no escoamento dos canais devido a obras e assoreamentos.

As enchentes e inundações geram problemas ainda maiores quando há moradias nas


margens dos cursos d´água. Estas áreas serão atingidas primeiramente quando ocorrer à
elevação da água no canal do rio. As áreas de riscos atingidas pelas enchentes e inundações,
segundo Carvalho et. al. (2007), são definidas como terrenos marginais. Os processos de
enchentes e inundações são também intensificados com o aumento da população urbana
50
associado com a incapacidade do Estado em atender a demanda de moradias e o interesse
imobiliário que determina a ocupação do solo urbano. Essa situação também gera a ocupação
por populações nas áreas sujeitas a processos de dinâmica superficial desencadeadores de
risco (RECKZIEGEL; ROBAINA, 2007).

Santos (2007) ressalta que não existe rio sem ocorrência de enchente, ou seja, um rio
pode vir a ter um aumento na elevação da água e assim resultar em uma enchente e não
necessariamente ocorrer uma inundação. A inundação pode ocorrer por excesso de chuvas,
por barreiras formadas no canal do rio, como os assoreamentos e lixos, comuns em áreas
urbanas.

Na temática dos eventos de inundação há dois fatores – entre outros – que são
fundamentais para a análise da dinâmica hídrica: são os índices de precipitação e de vazão,
dados que são bastante utilizados na definição de projetos habitacionais e de drenagem
urbana. Quando suas características ou repetitividades não estão bem esclarecidas, o que é o
mais comum, trabalha-se com estatísticas de eventos conhecidos para projeção da
possibilidade de ocorrência futura. Embora tenham uma relação estreita entre si, são dois
dados distintos, pois, conforme Tucci (1997), as variáveis que podem incidir sobre a
precipitação (distribuição temporal, antecedente, etc.) fazem com que esta resulte em um risco
diferente de vazão resultante.

As precipitações além de serem influenciadas pelas correntes atmosféricas e


evaporação e evapotranspiração é também influenciada, principalmente, pelos eventos globais
como El Niño e La Ninã.

Eventos oceanográficos globais e regionais, relacionados às marés também


influenciam neste processo de inundação, pois, tomando como base, Santos (2006), as marés
se originam da ação de forças gravitacionais entre Terra-Sol-Lua agindo sobre os oceanos e
mares fechados e lagos (marés dinâmicas), resultando na variação periódica do nível do mar,
podendo ser amplificadas por agentes meteorológicos como os ventos. Elas interferem de
forma positiva ou negativa sobre a paisagem a partir do papel das correntes de marés como
fator de remobilização e transporte de sedimentos ao longo da linha de costa e nos estuários.

Conforme estudado também por Santos (2006), analisar e identificar a dinâmica


ambiental da área de estudo, é fundamental para se compreender os processos responsáveis
pelos fenômenos de inundação na área (marés e cheias). Esta análise foi realizada a fim de
compreender como os processos de inundação, relacionados às marés e cheias dos rios, atuam
51
na região, e entender o papel destes processos na estruturação do ambiente atual, suas
modificações e na dinâmica antrópica.

3.3.3 Inundações e Desastres Naturais

Entre os desastres provocados na sociedade por fenômenos de origem natural, as


inundações são as mais recorrentes. Os eventos de inundação são responsáveis por quase 55%
de todos os desastres registrados e aproximadamente 72.5% do total de perdas econômicas ao
redor do mundo. Anualmente causam danos às cidades, rodovias e agricultura com número de
mostos e custos para a economia como um todo, (PNDC, 2007; CEPED, 2011).

A Tabela 3.1 apresenta a relação das dez mais importantes inundações ocorridas no
período de 1900 a 2012, de acordo com os dados de Emergency Events Database. Por esta
tabela é possível constatar que a região do mundo que mais sofre com inundações é a Ásia,
pois, oito dos maiores eventos ocorreram nesse pais, com sete localizadas na China. O grande
número de mortos pode estar relacionado com a grande população do país, que
principalmente na zona rural, ocupa as zonas marginais dos rios para o cultivo de arroz e
outras atividades agrícolas. Na Europa, a inundação é o tipo mais frequente de desastre
natural e responsável por 75% das indenizações, causadas por desastres naturais, pagas por
companhias de seguro.

Tabela 3.1. Dez maiores inundações ocorridas no período de 1900 a 2012 e número de pessoas mortas por país.
País Data Nº de mortos
China Julho/31 3700000
China Julho /59 2000000
China Julho /39 500000
China 1935 142000
China 1911 100000
China Julho/49 57000
Guatemala Outubro/49 40000
China Agosto/54 30000
Venezuela 15/12/1999 30000
Bangladesh Julho/74 28700
Fonte: EM-DAT (2012).

Em 2011 os desastres naturais no mundo geraram quase 30 mil mortos, o Brasil entra
na conta com 900 óbitos causados por inundações e deslizamentos, o que coloca o Brasil na
73° posição, (no ranking do EMDAT) entre as maiores já ocorridas no mundo por desastres
naturais (em numero de mortos). Pela tabela 3.2 (EMDAT, 2013) pode-se observar que o
52
maior número de mortos ocorridos por desastres no Brasil, foi por epidemia em 1974. Dos
dez eventos que mais mataram pessoas, sessenta por cento (60%), estão relacionados com
eventos de inundação. Isso mostra que apesar do país não sofrer com eventos naturais como
abalos sísmicos, furacões, tornados, tsunamis, as inundações por si só provocam grandes
números de óbitos e de prejuízos a população atingida e ao poder público que deve fazer uso
de recursos para ajudar os afetados.

Tabela 3.2. Maiores desastres e números de mortos no Brasil.

Desastre Data Nº de mortos


Epidemia 01/01/1974 1500
Inundação 11/01/2011 900
Inundação 23/01/1967 785
Movimentos de massa 19/03/1967 436
Inundação 11/01/1966 373
Movimentos de massa 11/01/1966 350
Inundação 14/03/1969 316
Epidemia Janeiro/79 300
Epidemia Maio/84 300
Inundação 1988 300
Fonte: EM-DAT (2012).

Inundações graduais compõem o grupo de desastres naturais, relacionados com o


incremento das precipitações hídricas relacionados com o incremento das precipitações
hídricas e com a inundação. Segundo Castro (2003), as inundações graduais são
caracterizadas pela elevação das águas de forma paulatina e previsível, mantendo-se em
situação de cheia por algum tempo, para após, essas coarem-se gradualmente. As enchentes
são eventos que ocorrem com periodicidade nos cursos d’água, sendo características das
grandes bacias hidrográficas e dos rios de planície, como a do rio Amazonas. O fenômeno
evolui de forma previsível e a onda de cheia desenvolve-se de montante para jusante,
guardando os intervalos regulares (CASTRO, 2003).

Segundo o atlas de desastres naturais, elaborado pelo Centro Universitário de


Estudos e Pesquisa sobre Desastres - CEPED (2011), a inundação gradual, dentre todos os
eventos naturais adversos, é o que mais apresenta registros oficiais, principalmente na região
norte, o que afeta milhares de pessoas, conforme apresentado na Figura 3.5. No Estado do
Amapá, de acordo com levantamento na Defesa Civil do Estado do Amapá, no período de
1991 a 2012, dos dezesseis municípios do Estado, desastres de inundação foram registrados
em quatro deles: Laranjal do Jari, Vitória do Jari, com três registros cada, Ferreira Gomes e
53
Santana com um registro oficial, por mais que o evento tenha sido observado em outros
municípios como Macapá e Calçoene, por exemplo, estes não tiveram seus eventos
devidamente registrados através de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade
Pública.

Figura 3.5: Danos Humanos por inundações graduais – Região Norte.

Fonte: Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, 1991 – 2010. Publicado em 2012.

Tabela 3.3. Municípios com solicitação de reconhecimento de Situação de Emergência ou Estado de Calamidade
Pública no Estado do Amapá.

Fonte: Secretaria Nacional de Defesa Civil. http://www.integracao.gov.br/reconhecimentos-em-2011. Acessado


em 10 out. 2013.

3.4 CONCEITOS BASES PARA O ENTENDIMENTO DA VULNERABILIDADE


SOCIAL
Alguns termos recorrentes na literatura da temática desta dissertação merecem ser
conceituados nesse trabalho.

3.4.1 Danos e prejuízos

Segundo Lopes et al. (2009), para que haja um desastre é necessário que ocorram
danos, e os consequentes prejuízos. Dano é conceituado como sendo a intensidade das perdas
54
humanas, materiais ou ambientais ocorridas às pessoas, comunidades, instituições, instalações
e aos ecossistemas, como consequência de um desastre ou acidente. Ainda segundo Lopes et
al. (2009), prejuízo é a medida de perda relacionada com o valor econômico, social e
patrimonial de um determinado bem, em circunstâncias de desastre ou acidente.

A Política Nacional de Defesa Civil (PNDC, 2007) conceitua Dano como a perda
humana, material ou ambiental, física ou funcional, que pode resultar, caso seja perdido o
controle sobre o risco. Neste sentido, o que mais se observa perante estes eventos adversos é a
incapacidade, muita das vezes, do poder público e da população no reconhecimento destas
ameaças e na percepção do risco. As ameaças são difíceis de serem controladas, deve-se agir
em diminuir a vulnerabilidade da população afetada para diminuir os danos e,
consequentemente, os prejuízos econômicos e sociais.

3.4.2 Ameaça

A ameaça pode ser definida como um evento de origem natural, sócio natural ou
antropogênico que, devido à sua magnitude e às suas características, pode causar dano
(DEFESA CIVIL, 1998). Para Cardona (2001), a ameaça é a probabilidade da ocorrência de
um evento com certa intensidade em um lugar específico e dentro de um período definido. A
ocorrência de fenômenos de origem natural, sócio naturais ou tecnológicos ameaçadores se
constituirão em desastres ou riscos quando se manifestarem em espaços vulneráveis ou
ocupados por populações com escassa ou nula capacidade de resposta.

3.4.3 Vulnerabilidade

Vulnerabilidade é definida por La Red (2001) como uma condição existente na


sociedade que pode levá-la a sofrer um dano ou uma perda em caso de materialização de uma
ameaça. Para o autor, também pode expressar-se pela incapacidade de uma comunidade para
recuperar-se dos efeitos de um desastre.

Segundo CEPREDENAC (PNUD, 2003), vulnerabilidade significa uma falta de


resiliência e resistência e, além disso, de condições que dificultam a recuperação e
reconstrução autônoma dos elementos afetados. Brasil (2007) define vulnerabilidade como
grau de perda para um dado elemento, grupo ou comunidade dentro de uma determinada área
passível de ser afetada por um fenômeno ou processo.

Veyret (2007) afirma que os geógrafos veem desenvolvendo pesquisas com foco na
vulnerabilidade desde a década de 1980 e, principalmente, desde a década de 1990. Até então,

55
tendência dos estudos chamados natural hazards ou perigos naturais era direcionada
sobretudo a um contexto de planejamento, em que se buscava mensurar as probabilidades de
ocorrerem os perigos (entendendo-se perigo como o fenômeno estudado), ou seja, nas
palavras dos autores, “imperava uma preocupação prognóstica que reclamava a minimização
da incerteza”. Entretanto, após as décadas citadas, ao estudo dos perigos naturais foram sendo
incorporados cada vez mais os perigos sociais e tecnológicos, passando a ser enfatizada a
influência do homem sobre o ambiente.

Avançando no estudo da abrangência do conceito, Vedovello e Macedo (2007)


salientam que a vulnerabilidade aos desastres não está relacionada somente com as
características física e de infraestrutura da área e sim constitui um conjunto de fatores que
engloba questões econômicas, sociais, políticas, técnicas, institucionais, etc. Ou seja, nesta
perspectiva, o grau de vulnerabilidade não se expressa somente pela magnitude do desastre (a
intensidade e abrangência de uma inundação, por exemplo), mas também pela menor ou
maior capacidade da população residente em absorver o impacto e minimizar seus efeitos.
Veyret (2007) acrescenta que a tendência dos geógrafos é considerar a vulnerabilidade como
o “grau de capacidade de resposta e de habilidade de adaptação” da população a determinado
risco.

3.5 VULNERABILIDADE SOCIAL

Segundo Serra e Mesquita (2006), a vulnerabilidade é a qualidade de vulnerável,


susceptível de ser exposto a danos físicos ou morais devido à sua fragilidade. Esse conceito
pode ser aplicado a uma pessoa ou a um grupo social conforme a sua capacidade de prevenir,
de resistir e de contornar potenciais impactos. As pessoas vulneráveis são aquelas que, por
diversas razões, não têm essa capacidade desenvolvida e que, por conseguinte, se encontram
em situação de risco. Considera-se que as crianças, as mulheres e os idosos são sujeitos em
situação de vulnerabilidade. Esta concepção é atribuída pelas carências ou diferenças físicas
perante os homens, os quais estão naturalmente preparados para enfrentar certas ameaças.
Vulnerabilidade social é formada por pessoas e lugares, que estão expostos à exclusão social,
são famílias, indivíduos sozinhos, e é um termo geralmente ligado a pobreza.

Uma das causas da vulnerabilidade decorre da desigualdade social e econômica, que


tem impactos não somente na organização e modificação da paisagem, mas também na
estrutura familiar. O tamanho da família, a composição e sua distribuição estão relacionados
com os universos familiares determinados pelas condições sociais, econômicas, políticas e

56
culturais (com destaque para o nível educacional). Esses fatores que caracterizam a
vulnerabilidade das pessoas são fundamentais para se analisar a vulnerabilidade da população
em geral. (COSTA; DANTAS, 2009).

Apesar do aumento das ameaças, não se tem visto, principalmente em países em


desenvolvimento, melhorias na capacidade da sociedade em resistir ao seu impacto, nem para
recuperar-se delas, quando se manifestam. Pelo contrário, os níveis de vulnerabilidade da
sociedade têm se elevado substancialmente (MANSILLA, 2000). Vários estudos têm
associado este aumento com os processos sociais que derivam das modalidades de
desenvolvimento vigentes. Isto ocorre porque os aspectos econômicos, sociais,
organizacionais e institucionais e políticos podem interferir nas condições de segurança, na
capacidade da sociedade em responder ou recuperar-se de possíveis desastres (SILVA, 2010).
Os autores destacam o rápido crescimento da população, a pobreza e a fome, a saúde precária,
os baixos níveis de educação, a desigualdade entre homens e mulheres, a localização perigosa
e frágil das residências, e falta de acesso aos recursos e serviços básicos (vulnerabilidade
social).

O meio urbano tem se tornado cenário propício à geração de riscos ambientais que
através da sua materialização desencadeiam desastres em números crescentes. Vários fatores
contribuem com a vulnerabilidade e estes normalmente agem através do enfraquecimento da
capacidade de autoproteção da sociedade, da redução da proteção social e da demora na
recuperação na fase pós-desastre. Entre eles, Philip e Rayhan (2004) destacam o rápido
crescimento da população, a pobreza, os baixos níveis de educação, a falta de acesso aos
recursos e serviços básicos, a falta de acesso a informação e ao conhecimento e a degradação
ambiental.

Para reduzir os riscos e consequentemente os desastres, é preciso atuar na redução


dos fatores de risco (vulnerabilidade e ameaça). No entanto, interferir na ameaça, em muitas
vezes, não é possível, restando a opção de modificar as condições de vulnerabilidade.
Pensando assim, esta pesquisa torna-se importante, pois discute a relevância da
vulnerabilidade de populações para fins de planejamento de ações, de programas e projetos a
serem desenvolvidos como atividades de prevenção e atenção dos desastres (SILVA, 2010).

Alcántara-Ayala (2002) comenta que os perigos naturais não são apenas o resultado
do processo em si (vulnerabilidade natural), é o resultado dos sistemas humanos e das
vulnerabilidades associadas a eles. Desta forma, os desastres naturais ocorrem quando ambos

57
os tipos de vulnerabilidades possuem as mesmas coordenadas no espaço e no tempo. A
entidade social possui diferentes tipos de vulnerabilidade, e que ela não é somente o resultado
de ações humanas, é o resultado da interação do contexto econômico, social, cultural e
político do local onde as pessoas vivem. Desta forma, vulnerabilidade não pode ser tratada
como um termo geral e homogêneo, mas sim dinâmico e determinado por cada sociedade.

Para Alcántara-Ayala (2002), a ocorrência de desastres naturais em países em


desenvolvimento é devido a dois principais fatores. O primeiro diz respeito à relação existente
entre localização geográfica e características geológico-geomorfológicas. Os países em
desenvolvimento estão situados, na maior parte, em zonas afetadas pela atividade vulcânica,
sísmica e por inundações, etc. A segunda razão está ligada ao desenvolvimento histórico dos
países pobres, onde as condições de desenvolvimento econômico, social, político e cultural
não são boas, e, consequentemente, tornam-se fatores de grande vulnerabilidade
(vulnerabilidade social, econômica e político e cultural) aos desastres naturais.

Estas condições são, também na opinião de Silva (2010), fatores que contribuem com
o aumento da vulnerabilidade frente aos desastres naturais, demonstrando que os países em
desenvolvimento são os mais afetados. Isso pode ser verificado por meio dos dados
apresentados por este centro, que apresentam a relação entre o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) com os impactos que os desastres ocasionam nos seres humanos e na
economia.

A vulnerabilidade é parte de uma construção da sociedade através das suas decisões e


ações, tais como o crescimento acelerado e desordenado das cidades, o uso de formas
construtivas e materiais não apropriados ao meio físico, a pobre organização e disponibilidade
de recursos para uma rápida recuperação. Dada a complexidade das diferentes dimensões da
vulnerabilidade, além da sua análise qualitativa, a sua quantificação e espacialização são de
fundamental importância. Avaliar a vulnerabilidade requer a integração de um grande número
de informações relacionadas a uma pluralidade de disciplinas e áreas de conhecimento.
Apreender a riqueza dessas informações de forma consistente exige a produção de indicadores
claros e sintéticos (SILVA JUNIOR; SZLAFSZTEIN, 2010).

A vulnerabilidade ligada a desastres naturais é a incapacidade reativa de uma pessoa,


sociedade ou grupo populacional para evitar impactos de origem natural, e decorre de uma
combinação de processos econômicos, sociais, ambientais e políticos. Neste contexto, os
reflexos dos desastres naturais não são experimentados igualmente por todos. Pobres,

58
iletrados, mulheres, crianças e idosos são frequentemente os mais afetados em desastres
naturais em todo o planeta (DILLEY et al., 2005).

A concentração da população se constitui em fator de aumento da vulnerabilidade,


pois quanto mais pessoas estiverem presentes em uma unidade de área, maior o número de
indivíduos expostos a ameaças. Assim quanto maior for o número de pessoas maior é a
vulnerabilidade atribuída à área considerada (CUTTER, 1994; KAZTMAN et al., 1999).

Considera-se também para a estimativa da vulnerabilidade bastante adequada a


inclusão de indicadores que utilizam a razão de dependência, estes são uma aproximação
adequada da presença de famílias com alto número de crianças ou idosos, em relação ao
número de adultos e de pessoas em condições precárias para se defender, readaptar quando
atingidas por desastres. Esse aspecto é importante na determinação das componentes da
vulnerabilidade (BRAGA, 2006).

Em trabalho feito pela a Organização Mundial de Saúde denominado “Older people


in emergencies: Considerations for action and policy development” (HUTTON, 2008)
identifica-se os seguintes problemas na população idosa em caso de emergência: alta
dependência familiar e de medicamentos para o restabelecimento das condições de saúde,
cuidado redobrado com a alimentação, grande dificuldade em assimilar as informações acerca
do desastre e se adaptar aos abrigos, e facilidade em contrair doenças decorrestes das
condições adversas provocadas pelos desastres. As Populações mais esclarecidas e com nível
escolar maior são menos vulnerável, isso ocorre por basicamente dois fatores: maior nível
intelectual e outro fator que associa os anos de estudo ao nível de pobreza. (ALVES;
TORRES, 2006; ALBUQUERQUE, 2007; BARCELLOS; OLIVEIRA, 2009).

O fator renda é importante e deve ser considerado ao se mensurar a vulnerabilidade


de uma população, pois o poder aquisitivo da população está diretamente ligado a seu poder
de resiliência (CUTTER, 1996; CUNHA, 2004; RIBAS; GOLGHER, 2006; SZLAFSZTEIN,
2012).

Os desastres naturais, além de afetarem a população de ribeirinhos que vivem


nas várzeas amazônicas, isolados ou em pequenas comunidades, mesmo que adaptadas aos
regimes fluviais vêm prejudicando as populações das sedes municipais, que crescentemente
vão perdendo suas relações e adaptações ao regime dos rios e às ameaças decorrentes dos
fenômenos naturais associados a esta, transformando-se também num grupo vulnerável, como
no caso de algumas localidades em municípios do Estado do Amapá (SEDEC, 2010).
59
A utilização de índices de vulnerabilidade é enfatizada por esta pesquisa por ser
considerada uma ferramenta importante, principalmente, para auxiliar os administradores e
tomadores de decisão na Gestão de Risco, pois através desta ferramenta é possível saber quem
são e onde estão os mais vulneráveis. Desta forma, fornece subsídios no planejamento e na
escolha de medidas e ações mais adequadas para proteção dos grupos mais vulneráveis, bem
como na escolha de quais áreas possuem maior prioridade quanto a realização de
investimentos e de implantação de medidas que visam a redução do risco.

Para Dwyer et al (2004), a utilização de indicadores de vulnerabilidade poderá


fornecer uma resposta holística e abrangente, sendo que existem aspectos da vulnerabilidade
que podem ser explorados e representados através do desenvolvimento e aplicação de
indicadores de vulnerabilidade quantitativa. Mas a maioria das críticas em relação à má
aplicação desses indicadores é devido, na maioria das vezes, a algumas variáveis importantes
de vulnerabilidade social que são ignoradas ou inadequadamente representadas. Desta forma,
torna-se difícil alcançar uma resposta holística através de um único método, pois a
vulnerabilidade é um aspecto complexo, dinâmico e variável no processo de investigação do
risco aos desastres.

Hogan e Marandola Jr. (2005) abordam não somente a importância de elaborar


indicadores, mas também de elaborar mapa de vulnerabilidade no espaço geográfico e no
espaço social como ferramenta para identificar quem são e onde estão as pessoas e os locais
mais vulneráveis. A incorporação de diferentes elementos da estrutura causal da
vulnerabilidade, variando em diferentes escalas (local, regional e global) para as diferentes
dimensões dos fenômenos (sociais, políticas, econômicas, tecnológicas, demográficas,
culturais), contribui para uma visão mais complexa e global da vulnerabilidade.

Desta forma, pode-se afirmar que o principal desafio da análise da vulnerabilidade é


conseguir uma redução do risco e consequentemente dos impactos resultantes de desastres
(mortes e perdas ou de prejuízos econômicos). Uma das ideias propostas por este estudo para
alcançar esta redução é através da mitigação da vulnerabilidade já que nem sempre é possível
interferir na ameaça. Para dar início ao planejamento das ações voltadas para esta mitigação,
uma das ferramentas existentes, e enfatizadas por este estudo, é a utilização de indicadores ou
índices de vulnerabilidade aliados a gestão de risco. Através desta ferramenta é possível saber
quem são e onde estão os mais vulneráveis, quando utilizada a técnica de mapeamento. Estas

60
informações podem ser consideradas vitais principalmente para auxiliar os administradores e
tomadores de decisão.

No entanto somente mapear as vulnerabilidades não é suficiente, deve-se avançar em


políticas que efetivamente mudem a realidade da população afetada. O poder público tem
participação essencial nesse processo de ordenamentos dos espaços tanto para diminuir a
exposição da população as ameaças quanto para melhorar a vulnerabilidade desta frente aos
desastres.

3.6 POLITICAS COMO INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO TERRITORIAL

Vem se realizando, nos últimos anos, um debate fundamental em torno de formas de


proporcionar maior desenvolvimento urbano nas cidades, minimizando os desequilíbrios e as
desigualdades socioeconômicas que se acentuam a cada dia, diminuindo os graus de
satisfação das necessidades básicas de seus habitantes. A organização espacial da cidade
interfere na qualidade de vida da população, revelando que o espaço de uma cidade, frente ao
sistema econômico vigente, constitui-se no conjunto de diferentes usos da terra, este
complexo conjunto de usos da terra é, na realidade, a organização espacial da cidade ou,
simplesmente, o espaço urbano. As cidades tornaram-se espaços cada vez mais urbanizados e
crescem constantemente, assumindo papel relevante no cenário do meio ambiente global.
Torna-se fundamental reconhecer a natureza global dos problemas urbanos e empenhar nossos
melhores esforços para tornar as cidades lugares mais dignos para se viver – e mais favoráveis
do ponto de vista ambiental (VERONA; TROPPMAIR, 2004).

A urbanização gera uma demanda por diversos serviços e infraestruturas essenciais,


como recolhimento de lixo e de rede eficiente de drenagem do esgoto pluvial e sanitário.
Entretanto, é sabido que em geral a municipalização não oferece tais serviços na medida
necessária para todas as áreas habitadas da cidade, resultando em impactos ambientais
diversos. O lixo que não é recolhido pelo poder público, quando não é queimado ou enterrado
pela população, acaba por ser lançado no ambiente e, na ocorrência de eventos pluviométricos
intensos, é transportado para a drenagem, podendo causar degradação dos corpos hídricos,
entupidos dos canais e inundações.

Ou seja, quando não é precedida de um planejamento adequado, respeitando os


limites naturais, a ocupação de um ambiente pode resultar na degradação do mesmo, com
consequências danosas que, muitas vezes, são irreversíveis, seja por impossibilidade de se

61
retornar às condições originais (resiliência), seja pela impraticabilidade econômica de sequer
se tentar fazê-lo através de um programa de recuperação de áreas degradadas.

O crescimento populacional interfere cada vez mais no ambiente natural,


principalmente em um país “importador de tecnologias e capitais”, como é o caso do Brasil, o
que se reflete no ambiente urbano de nossas cidades marcadas pelo improviso ou pelo “eterno
provisório”, em uma verdadeira antípoda do patrimônio ambiental urbano, como bem
expressa Yázigi (2003).

As consequências dessa falta de planejamento e regulamentação são sentidas em,


praticamente, todas as cidades de médio e grande porte do país. Depois que o espaço está todo
ocupado, as soluções disponíveis são extremamente caras, tais como canalizações, diques com
bombeamentos, reversões e barragens, entre outras. O poder público passa a investir uma
parte significativa do seu orçamento para proteger uma parcela da cidade que sofre devido à
imprevidência da ocupação desordenada do solo. Esses fundos provêm de impostos de toda a
população do município, estado ou da federação, a exemplo do Fundo Nacional de
Calamidades Públicas – FUNCAP, gerido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil - SEDEC.
Portanto, cabe, muitas vezes, questionar quem deve pagar e se deveria ser permitida essa
ocupação.

No Brasil, os municípios da Amazônia estão entre os mais afetados por inundações,


secas e processos erosivos lineares e que por encontrarem uma frágil estrutura de resposta na
população, nas instituições e infraestruturas acabam provocando situações de desastre e
obrigando o poder público a declarar situações e estados de anormalidade nos municípios. O
problema da inundação na região é crônico, pois ações que busquem diminuir a
vulnerabilidade da população exposta às ameaças não são observadas, sendo que a maioria
das ações é associada com a ajuda após a ocorrência do evento desastroso. Diante da pouca ou
nula capacidade de responder adequadamente aos impactos dos desastres, os municípios
amazônicos são frequentemente obrigados a declarar estados de anormalidade nos municípios,
tais como situação de calamidade pública e de emergência (SILVA JUNIOR;
SZLAFSZTEIN, 2012). Leis e instrumentos de ordenamento territorial devem ser colocados
em práticas para aumentar a capacidade de respostas a esses eventos.

Neste sentido, visando uma maior eficiência na organização dos espaços urbanos, em
2001, no Brasil, é estabelecido um instrumento básico da política de desenvolvimento
municipal e de ordenamento territorial. De acordo com o artigo 40º da Lei 10257/01, que

62
institui o Estatuto das Cidades, o Plano Diretor Municipal Participativo (PDMP) tem como
principal finalidade “orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção
dos espaços urbano e rural e na oferta dos serviços públicos essenciais, visando assegurar
melhores condições de vida para a população” (BRASIL, 2001).

O PDMP, aprovado por lei municipal, é obrigatório para municípios acima de 20.000
habitantes e para os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, entre
outros4.

Diante dos graves problemas ambientais e sociais se manifestam nos municípios


independentemente do número de habitantes, do espaço físico e do nível de desenvolvimento,
o Plano Diretor norteia novos princípios e diretrizes alocados no ordenamento jurídico
vigente, que objetiva instituir uma cidadania ecológica, na qual a instituição principal é a
proteção do meio ambiente. O Plano Diretor, enquanto lei municipal contribui para a
efetivação do processo de gestão integrada, necessário para a melhoria das condições de vida
dos munícipes, que tem por finalidade o desenvolvimento e a sustentabilidade local e
regional. Observa-se que, no tocante aos municípios de pequeno porte, a ausência deste
processo de planejamento e sua consequente normatização levam ao distanciamento do
Estado e, portanto, das políticas públicas voltadas para a execução do planejamento
ambiental, social e urbano.

Para Falcoski (2000) o Plano Diretor deve ser um instrumento de Reforma Urbana,
garantidor da função social da cidade e propriedade. Deve, ainda, ter caráter redistributivo,
com a inversão de prioridades dos investimentos públicos e planejamento descentralizado, e,
afinal, ser um instrumento de Gestão Política da cidade: pacto territorial em torno dos direitos
e garantias urbanas. O Plano Diretor trata, em termos de conteúdo, do aspecto físico da
ordenação do solo urbano, do aspecto social da população relativo à melhoria da qualidade de
vida e do aspecto administrativo da atuação municipal. Uma vez que o plano é fruto de um
prévio planejamento urbano, ele deve ser um reflexo dos estudos preliminares realizados e
conter os planos de ação e instrumentos de intervenção vislumbrados, bem como orientar o
desenvolvimento futuro.

4
Locais onde se pretenda utilizar os instrumentos previstos no §4 do artigo 182° da Constituição da
República Federativa do Brasil, para os locais integrantes de Áreas de Especial Interesse Turístico; e em espaços
inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de
âmbito regional ou local (BRASIL, 2001).

63
CAPÍTULO IV

4.1 MATERIAIS E MÉTODOS

Para o método de investigação, foi adotado o Estudo de Caso, pois é um método que
procura retratar naturalmente a realidade do fenômeno estudado. Quanto ao tipo de estudo de
caso, adotou-se o tipo Intrínseco, de Stake (1995), pois há uma condição particular do
pesquisador no recorte, da área a ser estudada. Este método foi escolhido por apresentar
ferramentas e técnicas ideais na coleta e análise de dados (entrevista, análise de documentos,
verificação e coleta de dados em campo, dentre outras), técnicas estas, que segundo André
(2005), qualifica os procedimentos de obtenção das informações, tanto para compreender,
quanto para interagir no ambiente de pesquisa. Nesta pesquisa a preocupação maior não é
apenas quantificar dados para provar sua validade estatística, mas sim elaborar uma análise
qualitativa dos dados obtidos. Portanto, os métodos aplicados nesta dissertação possuem um
caráter quantitativo e qualitativo para que se alcancem os objetivos gerais e específicos aqui
propostos.

A metodologia geral da dissertação tem sua sustentação teórica baseada no trabalho


de diversos autores, citados durante o trabalho, com destaque para a metodologia de
mapeamento da vulnerabilidade social e a da avaliação do plano diretor com relação aos
conceitos de risco ameaça e vulnerabilidade. Quanto à documentação citada, foram obtidas
através do acesso a diferentes fontes: bibliotecas; livrarias; portais governamentais, de
instituições privadas; pesquisa on-line de trabalhos produzidos por outros autores, sobretudo
dissertações e teses sobre a temática.

4.1.1 Base de dados geográficos

A base de dados geográficos consistiu em dados provenientes do IBGE, do banco de


dados de 2005 os seguintes temas: limite estadual, limite municipal, sedes municipais e
drenagens. A base de dados temáticos (geologia e geomorfologia) também foi proveniente do
IBGE, sendo os dados primários para esse levantamento provenientes do projeto Radam
(1974).

O limite dos aglomerados subnormais é um produto da delimitação disponibilizada


pelo censo 2010 do IBGE, que em Laranjal do Jari, esses limites, referente à orla da cidade,
totalizam uma área de 7,7 km2, mais precisamente nos seguintes setores censitários:
Samaúma, Malvinas, Centro, 3 Irmãos, Santarém e Coração de Jesus (Figura 2.8) por serem
áreas de ocupação espontânea e que eventualmente sofrem com processo de inundação, e
64
ainda, tais setores censitários foram classificados recentemente pelo IBGE como
Aglomerados Subnormais 5,

Neste sentido, a escolha desses aglomerados subnormais (IBGE, 2010) deve-se ao


fato de que há disponibilidade de informações em grande detalhe, o que proporcionará maior
confiabilidade dos indicadores a serem estudadas para se fazer o mapa de vulnerabilidade da
comunidade que vive na referida área de acordo com o grau de ameaça à inundação.

Os dados supracitados foram utilizados nas diversas fases de análise do trabalho,


desde os mapas de localização, passando pelos mapas de características físicas, delimitação da
área, para delimitar a unidade de análise em parte da cidade de Laranjal do Jari. Com o uso
dessas informações georreferenciadas foi possível cruzar com os indicadores sociais de cada
um dos setores censitários (aglomerados subnormais) objeto da área de estudo.

Para a confecção dos mapas de vulnerabilidade, o software utilizado foi o Arcgis 9.3.
O sistema de projeção utilizado nos mapas e nos layers foi o SIRGAS 2000, projeção UTM e
Zona 22 Sul.

4.1.2 Ameaça a inundação na área urbana de Laranjal do Jari

Para auxiliar na análise delimitação da área susceptível a inundação e na análise


espacial, utilizou-se uma imagem proveniente do satélite WorldView, datada de fevereiro de
2010 e resolução espacial de 50 cm, imageado na faixa do visível (banda 1, 2 e 3), com
sistema de coordenadas UTM, Zona 22S e DATUM de referência SIRGAS 2000. Também
foram utilizados para a escolha da área o modelo de elevação fornecido pelo SRTM, com a
análise do modelo foi possível confirmar que as áreas em que estão localizados os
assentamentos subnormais também se configuram na parte do território da cidade com as
menores cotas topográficas.

Os dados hidrológicos utilizados nesta dissertação foram adquiridos no site da


Agência Nacional das Águas. A estação escolhida foi a São Francisco (código 19150000), no
rio Jari, atualmente sob a responsabilidade da ANA, inicialmente trabalhava de forma

5
Segundo o IBGE são assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas,
comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outro.
65
convencional e convertida em telemétrica 6 em 1997, apresenta dados históricos de cota
pluviométrica do período de 1972 a 2010 e precipitação de 1968 a 2010.

Para fins de associação da cota pluviométrica e da precipitação, foi realizado um


estudo para se identificar o grau de influência do evento oceanográfico relacionado à maré. Os
trabalhos de campo foram realizados, utilizando a mesma metodologia de Santos (2006),
procurando atender as características ambientais locais da área e observar os processos
naturais e antrópicos. O critério adotado foi: a) períodos de maior e menor precipitação. Todas
as informações coletadas foram posicionadas através de um GPS de navegação, com precisão
em torno de 5 m, realizando a navegação em tempo real. A leitura foi feita na mesma régua
em que a CEDEC/AP realiza o monitoramento do rio Jari, localizada nas margens do rio Jari,
mais especificamente no porto das catraias, Figura 4.1.

Figura 4.1: Régua utilizada pela CEDEC/AP para realizar o monitoramento do nível do rio Jari. A mesma
utilizada para a leitura da influência de maré.

Fonte: Trabalho de Campo do Autor, 2012.

A escolha do ponto na área de estudo baseou-se nos critérios de: a) disponibilidade


de dados pela CEDEC/AP; b) acesso em campo; c) acesso aos dados históricos. A observação
e registros das variações de marés do rio Jari, foi realizada a partir de inspeções visuais para
registrar dados do nível da maré, de 15 em 15 minutos. O registro foi realizado em dois

6
Estações automáticas, com a utilização de Plataformas de Coletas de Dados - PCDs na qual suas
transmissões são efetuadas pelos satélites brasileiros (SCD e CBERS), utilizando-se da estrutura do INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em Cuiabá e em Cachoeira Paulista (ANA, 2013).
66
períodos sazonais distintos, coincidentes com os equinócios de setembro de 2004 e março de
2005.

Seguindo ainda o método utilizado por Santos (2006), foi realizado o processamento
dos dados coletados de marés em software de tratamento estatístico Excell. O processamento
das leituras na régua de monitoramento teve como objetivo gerar uma curva de maré total
para que se pudesse entender o comportamento das marés no rio Jari e correlacioná-lo com a
dinâmica de enchente do rio, para que seja evidenciado os fatores naturais que provocam a
inundação na área de estudo.

4.1.3 Cálculo da vulnerabilidade social

A pesquisa delimita sua investigação nos seis aglomerados subnormais 7 da cidade de


Laranjal de Jari, de acordo com a classificação do IBGE (2010), analisando os seguintes
aglomerados: Samaúma, Malvinas, Centro, 3 Irmãos, Santarém e Coração de Jesus (Figura
4.1), totalizando uma área de 7,7 km2. A escolha dessas áreas deve-se ao fato de serem de
ocupação espontânea, que eventualmente sofrem com processo de inundação e que há
disponibilidade de informações em grande detalhe, o que proporciona maior confiabilidade
dos indicadores a serem estudados para se fazer o mapa de vulnerabilidade social de acordo
com o grau de ameaça à inundação. Para obter o grau de vulnerabilidade social da área de
estudo, foram selecionadas variáveis (CENSO DEMOGRÁFICO, 2010) que indicam
desvantagens sociais e econômicas e também variáveis demográficas.

As informações associadas aos aglomerados subnormais, espacializados conforme


Figura 4.1, uma área que foge dos padrões de consolidação habitacional, caracteriza-se numa
ótima fonte de dados devido a sua consistência, logo, a associação dessas informações para o
cálculo do grau de vulnerabilidade por indicador é a base para a construção do mapa índice de
vulnerabilidade social. A metodologia buscou criar um arcabouço de informações relevantes
para se conhecer a realidade das pessoas e residências que habitam as unidades espacializadas
pelo Censo, 2010 (IBGE, 2010). A Figura 4.2 mostra o organograma metodológico para a
geração do índice de vulnerabilidade social.

7
Segundo o IBGE (2010) são aglomerados irregulares conhecidos como favelas, invasões, grotas,
baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros.

67
Figura 4.2 Delimitação da área de estudo.

Fonte: Base de Dados IBGE (2005 e 2010). Imagem WordView (2010) cedida pela empresa Santo
Antônio Energia. Modificado pelo autor (2012).

Ao se observar os limites dos aglomerados apresentados na Figura 4.1 verifica-se que


eles se estendem além da área de terra, avançando sobre o rio Jari. A justificativa para isso,
segundo normativa interna do IBGE, que trata da cartografia censitária, é porque a malha de
setores do IBGE devem ser adjacentes e contiguas, não podem haver “buracos” ou espaços
entre os setores de diferentes unidades da federação, por isso que o limite segue o leito do
canal fluvial, onde se configura os limites entre os Estados do Amapá e Pará.

68
Figura 4.3. Organograma metodológico para a geração do índice de vulnerabilidade social.

Fonte: Desenvolvido pelo autor, 2013.

Para elaboração dos indicadores, foi efetuado um levantamento minucioso do estado


da arte envolvendo indicadores usados constantemente na literatura no cálculo de
vulnerabilidade social, a partir do qual foram definidos os seguintes elementos estruturais
constantes na Tabela 4.1. A Tabela apresenta e descreve os indicadores definidos por
aglomerado subnormal utilizados para mensurar a vulnerabilidade social.

69
Tabela 4.1. Indicadores utilizados no cálculo da vulnerabilidade social.

Indicadores Definição Importância


Quanto maior for o número de pessoas maior A elevada concentração de pessoas em áreas
População total é a vulnerabilidade atribuída à área vulneráveis com baixa capacidade de
do setor considerada. resposta potencializa a ação das ameaças
(ALVES, 2006; SANTOS et al. 2007).

População mais frágil em momentos de


O Ministério da Saúde do Brasil indica que
desastres devido a sua alta dependência de
População com este grupo populacional é responsável pela
seus familiares e por estarem mais propiciais
idade entre 0 e 4 maioria das internações na rede pública de
aos traumas e adversidades psicológicas
saúde (LAURENTI e MELLO, 1997).
possivelmente desencadeadas pelos desastres.

Os idosos em geral têm menor capacidade de


A Organização Mundial da Saúde classifica resiliência aos efeitos de um desastre
cronologicamente como idosas pessoas com (VIGNOLLI 2008; FRANKE e
População com
mais de 65 anos de idade em países HACKBART, 2008), pois possuem maiores
idade maior que
desenvolvidos e com mais de 60 anos de dificuldade de locomoção além de
60 anos
idade em países em desenvolvimento, como o dependência de outras pessoas, entre outras
Brasil. características que os tornam mais
vulneráveis.

Marandola e Hogan (2005) consideram as


pessoas com escolaridade menor do que
Pessoas que ainda não cumpriram a primeira
quatro anos, as mais vulneráveis. Rivera e
etapa do ensino fundamental no Brasil o
Chefe de Miller (2009) relatam que o nível de
antigo curso primário (com quatro de
Família com escolaridade da população é importante, pois
duração), chamado de primeiro ciclo do
menos de 4 estimula compreensão dos riscos decorrentes
Ensino Fundamental e regulamentado por
anos de estudo de desastres e crises. Estratégias
meio da Lei de Diretrizes e Bases da
educacionais aumentam a consciência cívica
Educação.
através da construção de instrução para os
efeitos que desastres e crises podem causar.

O Programa das Nações Unidas para o Os domicílios com integrantes que tenham
Desenvolvimento estabelece que as pessoas menor renda são os mais vulneráveis
cuja soma da renda familiar, dividida pelo comparados com os que possuem pessoas
Família com número de integrantes da família, é menor com melhor poder aquisitivo, pois após um
rendimento que meio salário mínimo estão abaixo da desastre, a capacidade de recuperação está
menor que 2 linha da pobreza. A escolha do rendimento estreitamente ligado à ajuda governamental e
salários menor a 2 salários mínimos associa-se com o às condições financeira de cada indivíduo
mínimos dado do censo (IBGE, 2010) que indica uma (CUTTER, 1996; CUNHA, 2004; RIBAS e
média de pessoas por domicilio na cidade de GOLGHER, 2006; SZLAFSZTEIN, 2008).
Laranjal do Jari é de aproximadamente 4
pessoas.

Fonte: Desenvolvido pelo autor, 2013.

Depois de analisados e calculados, os percentuais foram definidos intervalos


atribuindo-se classes de vulnerabilidade para cada indicador dentro de cada aglomerado
subnormal (Tabela 4.2), seguindo a metodologia usada por Szlafsztein e Silva Junior (2010).

70
Tabela 4.2. Classificação da vulnerabilidade dos aglomerados segundo os indicadores de análise.

PID
Vulnerabilidade Classificação PT PIN E
P
Baixa 1 Até 10 % Até 10 % Até 5 % Até 30% Até 30%
Moderada 2 10 a 20 % 10 a 15 % 5 a 10 % 30 a 50% 30 a 50 %
Mais de 20 Acima de Acima de Acima de Acima de
Alta 3
% 15% 10% 50% 50%

Fonte: Elaborada pelo autor (2012). Modificado de Silva e Szlafsztein (2010).


Onde:

PT: População total do aglomerado


PIN: população infantil (idade entre 0-4 anos)
PID: população idosa (com idade maior que 60 anos)
E: chefe de família com menos de 4 anos de estudo
P: chefes de família com rendimento mensal menor que 2 salários mínimos
A partir dos dados foi gerada a classificação da Tabela 4.2 aplicando a equação I, a
qual tornará possível a classificação dos resultados de vulnerabilidade. A fórmula para se
relacionar os indicadores também tem como base o trabalho de Szlafsztein e Silva Junior
(2010).

Equação I

IVS = (PT + PIN + PID + E + P)

A partir da média dos indicadores para cada aglomerado, com base em valores
resultantes aplicando-se a equação, fez-se a classificação da vulnerabilidade social em baixa,
moderada e alta, mostrado na Tabela 4.3. As cores atribuídas a cada classe serão
respectivamente verde, amarela e vermelha. Essa classificação segue as normas da cartografia
temática que associa cores mais fortes, “quentes”, a dados que apresentam maiores números
daquilo que se deseja mostrar, nesse caso a maior vulnerabilidade das pessoas frente a um
indicador (DUARTE, 1991; MARTINELLI, 1991).

Tabela 4.3. Classificação da vulnerabilidade social.

Vulnerabilidad
Valores Classe
e
Baixa Até 1.5 1
Moderada 1.5 - 2 2
Alta Mais de 2 3
Fonte: Szlafsztein e Silva Junior (2010). Modificado pelo autor, 2013.

71
4.1.4 Análise do Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari e as Inundações -
PDMLJ

O objetivo desta análise é identificar de que forma a vulnerabilidade e o risco são


tratados no PDMLJ e assim como mostrar os prejuízos econômicos e sociais que a falta de
planejamento no campo de ordenamento territorial e preparação para as ameaças causam a
cidade.

Para a avaliação do papel dos conceitos de ameaça, vulnerabilidade e riscos naturais


no PDMLJ emprega-se uma matriz de análise adaptada e já utilizada em trabalhos de
Azevedo (2008); Silva Junior e Szlafsztein (2012). A matriz é composta por cinco
questionamentos a serem analisados no PDMLJ (Quadro 4.1). Para cada uma dos
questionamentos foram associados cores verde, amarelo e vermelho, das quais são utilizadas,
respectivamente, para representar o maior ou menor grau de relacionamento das diretrizes
traçadas no PDMLJ de Laranjal do Jari com a gestão de riscos de desastres naturais. As cores
utilizadas também foram baseadas nos trabalhos de Duarte (1991) e Martinelli (1991), quanto
mais crítico o resultado maior a intensidade da cor.

Quadro 4.1. Questionamentos integrantes da matriz de análise do PDMLJ.

Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari (PDMLJ) nas suas políticas setoriais, na organização do
1
território, explicitamente faz referências á temática de riscos e desastres naturais?
2 O PDMLJ faz referência às ameaças naturais que afetam o município?
3 O PDMLJ estabelece medidas para a diminuição dos fatores de vulnerabilidades?
4 O PDMLJ propõe medidas e/ou estratégias de respostas? Quais?
5 O PDMLJ apresenta cartografia de riscos?
Fonte: Modificado e adaptado de Silva Junior e Szlafsztein (2012).

De acordo com os questionamentos presentes no Quadro 4.1, cada secção do plano


diretor foi lida e identificada as palavras chave ameaça, vulnerabilidade, risco e desastres.
Assim como se há ações previstas na Lei para gestão e mitigação dos mesmos. A análise
buscou o máximo de facilidade e objetividade, através de uma busca automática no
documento do PDMLJ.

72
CAPÍTULO V

5.1 RESULTADOS

O objetivo deste capítulo é mostrar os resultados da pesquisa assim como discuti-los.


Está dividido em três subcapítulos: inundação e suas ameaças na zona urbana de Laranjal do
Jari, vulnerabilidade social as inundações, as ameaças e risco a inundações no âmbito do
plano diretor.

5.1.1 Inundações e suas ameaças na zona urbana de Laranjal do Jari

Analisou-se os dados históricos das ocorrências dos fenômenos globais (El Niño e La
Niña), comparando-se com as maiores inundações observadas em Laranjal do Jari. Na Figura
5.1 é mostrado o resultado do monitoramento do Rio Jari para série temporal de 1972-2010,
com dados da estação de São Francisco. Com o cruzamento destes dados, observou-se que os
maiores níveis do rio nos anos de 2000 e 2008, anos que segundo mostrado na Tabela 5.1
foram respectivamente de moderada e forte ocorrência do La Niña, com aumento das
precipitações. Observa-se que de fato há um componente climático que influencia na
dinâmica hídrica da bacia do rio Jari, potencializando as ameaças à inundação na área urbana
de Laranjal do Jari.

Tabela 5.1. Ocorrência do fenômeno La Niña

Ocorrência do La Niña
1886 1903-1904
1906-1908 1909-1910
1916-1918 1924-1925
1928-1929 1938-1939
1949-1951 1954-1956
1964-1965 1970-1971
1973-1976 1983-1984
1984-1985 1988-1989
1995-1996 1998-2001
2007-2008 -
Legenda Forte Moderada Fraco
Fonte: CPTEC, 2013
Os dados mostrados correspondem aos períodos de maiores precipitação mostrados
nos gráficos das Figuras 5.2 e 5.4. Entre os picos na Figura 5.1, entre os anos de 2000 e 2008,
o ano de 2006 também apresentou nível do rio acima do normal e com o advento das
precipitações (Figura 5.3) também levaram a ocorrência de inundação em Laranjal do Jari.

73
Figura 5.1. Série temporal de 1972-2010, estação de São Francisco, no Rio Jari.

Fonte: Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Círculos Azuis: ocorrência de La Ninã. Modificado pelo
autor (2012).
Segundo da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil do Estado do Amapá –
CEDEC/AP, o ano 2000 foi marcado por um desastre de inundação gradual registrado
oficialmente no mês de abril. Nesse ano registrou-se média de 3.360,5 mm de chuvas,
somente no primeiro semestre foram 2.7763,08 mm, distribuídos em aproximadamente 23
dias de chuvas, que resultou em grande inundação no município de Laranjal do Jari. Fator
resultante de processos de variabilidade climática que potencializam a ameaças a inundações.
A figura 5.2, mostra a curva de precipitações observadas na ESF, potencializada pela
ocorrência de uma anomalia moderada (Tabela 5.1) de La Niña.

Figura 5.2. Série temporal dos totais na estação de São Francisco (ESF) no ano 2000.

Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).

74
Em 2006, o desastre por inundação foi registrado em maio, com média de
precipitação de 388,30 mm em 23 dias. A média nesse ano atingiu 2.461,83 mm, com 1.853
mm de chuva somente do primeiro semestre.

Figura 5.3. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2006.

Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).

Já em 2008, o mês de maio teve média de precipitação de 380,52 mm, em 22 dias


chuvosos. No entanto, o mês anterior, abril, apesar de não ter apresentado oficialmente
inundação, contribuiu com 511,55 mm de chuva, influenciando assim, na ocorrência do
evento adverso em maio. O primeiro semestre daquele ano teve 2.358,95 mm de pluviosidade;
e ainda, associando tais médias pluviométricas com a anomalia de La Niña que em 2008 foi
registrada como Forte (CPTEC, 2013), temos o segundo maior registro de inundação em
Laranjal do Jari.

Figura 5.4. Série temporal dos totais na estação de São Francisco no ano 2008.

Fonte: Base de Dados ANA (CPRM, 2010). Modificado pelo autor (2012).

75
A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil – CEDEC/AP trabalha no monitoramento
do rio Jari com a seguinte metodologia para resposta aos desastres referentes à inundação,
onde, estimou-se a Cota de Alerta de 1,85m, pois, de acordo com a experiência de respostas,
já se tem pelo menos duas famílias afetadas pelo evento; e a Cota de Alarme de 1,95m, tendo
24 famílias afetadas e já com a Cota do rio Jari de 2,18m, já se tem por volta 100 famílias
afetadas diretamente.
Sendo assim, o trabalho de campo realizado no período em que são observadas as
cheias do rio Jari (mês de abril), foi realizado no sentido de observar a influência da maré no
rio Jari, tendo como ponto de observação a régua instalada pela CEDEC/AP, no porto das
catraias, localizado no aglomerado Santarém. Assim, foi identificada a variação das cotas
inferior de 1,37 metros e a superior de 1,51, conforme Figura 5.5. Dessa forma observa-se que
a curva de maré observada indica que na área de estudo existe além da morfologia do relevo,
da precipitação e dos fenômenos climáticos como variáveis que influenciam nas inundações,
há outro fator, o oceanográfico (maré) que podem potencializar uma ameaça à inundação,
aumentando assim a vulnerabilidade da área, uma vez que, o ciclo diário deste fenômeno
retarda o escoamento das águas para o leito principal do rio num evento de inundação.

Figura 5.5. Medição da tábua de maré no cais do porto Santarém, no Rio Jari entre 23.04.2012 e 24.04.2012.

Fonte: Autor, 2012.

A partir dessa análise pode-se considerar que os desastres por inundações graduais
registrados em Laranjal do Jari relacionam-se as elevadas precipitações na Serra do
Tumucumaque, nas cabeceiras da bacia hidrográfica do rio Jari, que divide o Estado do Pará e
Amapá, das quais são observadas e lidas pela única estação hidrometeorológica que possui

76
uma série histórica considerável para a região, trata-se da Estação São Francisco, localizada
na foz do rio Iratapuru.

Com relação a frequência de inundação (entre 1991-2010), nota-se que o maior


número de registros no mês de maio, com 4 ocorrências e, os meses de abril e junho, com uma
ocorrência. Esses meses correspondem ao período de concentração das chuvas no Estado do
Amapá.

Todas as reincidências relacionadas às inundações ocorreram no período chuvoso


que vão do mês de janeiro a junho. No entanto o que chama a atenção é que a maior parte dos
registros oficiais, de acordo com dados históricos da Estação São Francisco - ANA, para cota
pluviométrica do período de 1972 a 2010 e precipitação de 1968 a 2010; foi registrada nos
últimos meses do período chuvoso (abril, maio e junho), a cota máxima do canal, acima do
normal, conforme evidenciado nas Figuras 5.1 a 5.4, resultado assim nas inundações
provocadas pelas cheias do rio, cobrindo toda a planície de inundação, devido a área de estudo
apresentar grande parte de seu terreno sobre domínio da planície amazônica, área que é
naturalmente sujeita a inundação sazonal do rio Jari, os fatores de relevo, geomorfologia
contribuem para que essa área sofra os eventos de inundação.

A análise dos dados SRTM mostrados na Figura 5.6, mostra que as maiores altitudes
da bacia se localizam na parte norte; Na direção sul, na região onde estão os aglomerados
subnormais, observa-se as menores altitudes e encontra-se a planície amazônica, conforme
Figura 2.6.

77
Figura 5.6. Aspectos do relevo na bacia do rio Jari, com destaque pra área de estudo.

Fonte: Base de Dados IBGE (2010) e SRTM (2000). Modificado pelo autor (2013).

78
Em um recorte mais detalhado do modelo de elevação SRTM, é possível observar
que a sede do município de Laranjal de Jari possui alturas suaves bordejando o rio Jari, na
área de estudo as cotas predominantes são as de 0 e 5 metros de altitude. Observa-se no
Modelo Digital de Elevação - MDE da Figura 5.7 que não há maiores elevações no terreno
onde se localizam os aglomerados subnormais, as maiores elevações se apresentam na parte
superior e já no estado do Pará, na localidade de Monte Dourado.

Figura 5.7. Modelo Digital de Elevação com a sobre sobreposição de curvas de nível para a área de estudo.

Fonte: Base de Dados IBGE (2010) e SRTM (2000). Destaque para os Aglomerados Subnormais e o Limite das
feições geomorfológicas. Modificado pelo autor (2013).

79
De acordo com um perfil de 6 km, levantado em campo, com GPS geodésico e
utilizando dados de elevação SRTM, tendo como ponto de partida a orla da cidade e
adentrando o terreno, seguindo o traçado da BR-156, feito sobre cotas extraídos de um
modelo digital de elevação, observa-se que as cotas próximas da orla do rio são poucos
maiores que um metro, e conforme se avança para o interior do terreno, elas continuam suaves
porém com cotas um pouco maiores, chegando a oito metros. A área correspondente ao
quilometro 5,2 atinge cota próximo a oito metros. Dos 6 km do perfil mostrado na Figura 5.8,
até 1,8 km o perfil atravessa área de estudo.

Figura 5.8. Perfil do terreno no qual se localiza a cidade de Laranjal do Jari e fotos do em época de cheia do Rio
Jari, no aglomerado Três Irmãos.

Fonte: Dados Imagem WorldView, cedida pela empresa Santo Antônio Energia. Adaptado pelo autor, 2013.

80
Assim, pode-se considerar que a área sob ameaça de inundação perfaz uma área de
cerca de 7,7 Km², onde se localiza cerca de 43% da população da cidade de Laranjal do Jari,
especificamente nos aglomerados subnormais, colocando o total de aproximadamente 16.281
pessoas em ameaça direta. De fato, a área de estudo apresenta fatores físicos que a tornam
propícias para eventos ligados ao fenômeno de inundação, uma vez que, tais ameaças
aumentam consideravelmente com os períodos de maior precipitação. Portanto, esses
fenômenos relacionados às precipitações são difíceis de serem controlados, restando aos
governantes agir no aumento da capacidade de prevenção e resposta da população a esses
eventos, por isso a necessidade de conhecer a que tipo de vulnerabilidade as populações
residentes nessas áreas estão expostas para que sejam realizadas ações no sentido de diminuí-
las ou saná-las, e estudar a vulnerabilidade social nesta área de estudo é importante para se
conhecer o nível de vulnerabilidade desses habitantes para que assim os instrumentos de
políticas públicas sejam mais bem aplicados sem que haja um desperdício de recurso público.

5.1.2 Indicadores de Vulnerabilidade Social a Inundação

Os dados absolutos e porcentagem em relação ao total para cada um dos aglomerados


estão apresentados nas Tabelas 5.2 e 5.3, dos quais foram extraídos dos dados absolutos do
Censo 2010, para os aglomerados subnormais.

Tabela 5.2. Dados absolutos e percentuais (por aglomerado) das variáveis para a definição da vulnerabilidade
social.

AGLOMERADO PT PT % PIN PIN % PID PID % E E% P P%

Demais setores 21 622 - 2 213 10,23 465 2,15 6 378 29,5% 7 513 34,75
da cidade de LJ
Três Irmãos 2 173 5,73 233 10,7 85 3,9 922 42,4 1 516 69,80

Centro 4 601 12,13 573 12,45 157 3,41 1 988 43,2 3 039 66,06

Coração de Jesus 4 261 11,24 505 11,85 255 6,0 2 037 47,8 3 536 83,01

Malvinas 2 549 6,72 393 15,45 99 3,88 1 242 48,7 1 835 72,03

Samaúma 975 2,57 120 12,3 53 5,4 481 49,3 780 80,65

Santarém 1722 4,54 266 15,41 86 5,1 772 44,8 1 084 63,59

Fonte: Dados do IBGE (2010). Tabela construída pelo autor, 2013.


Onde:

PT: População total do aglomerado


PT %: percentual da população em relação à população total da cidade
PIN: população infantil (idade entre 0-4 anos)
PIN%: percentual da população infantil (idade entre 0-4 anos)

81
PID: população idosa (com idade maior que 60 anos)
PID %: percentual da população idosa (com idade maior que 60 anos)
E: chefe de família com menos de 4 anos de estudo
E %: percentual de chefes de família com menos de 4 anos de estudo
P: chefes de família com rendimento mensal menor que 2 salários mínimos
P %: percentual de chefes de família com rendimento mensal menor que 2 salários mínimos
Os seis aglomerados analisados são: Três Irmãos, Coração de Jesus, Malvina,
Samaúma, Santarém e Centro. Dos seis aglomerados, cinco tem parte de sua área banhada
pelo rio Jari, apenas o Centro não é banhado pelo rio.

Considerando seis aglomerados analisados da idade de Laranjal do Jari, apenas


Centro e Coração de Jesus concentram mais que 10% da população, o que o permite
classificá-los como de moderada vulnerabilidade, sendo os demais classificados como baixa
vulnerabilidade. O aglomerado com menor população percentual é Samaúma com apenas
2,57% da população da cidade, Figura 5.9.

Tabela 5.3. Indicadores de vulnerabilidade por aglomerado – classificados.

PT PIN PID
AGLOMERADO E P

Três Irmãos 1 2 1 3 3
Centro 2 2 1 3 3
Coração de Jesus 2 2 2 3 3
Malvinas 1 3 1 3 3
Samaúma 1 2 2 3 3
Santarém 1 3 2 3 3
Fonte: IBGE (2010). Dados do Censo. Universo dos Aglomerados Subnormais em Laranjal do Jari

A partir dos resultados das analises da Tabela 5.2, serão apresentados os indicadores
para cada dimensão discutida na metodologia deste trabalho, gerando um mapa especifico
para cada indicador levantado.

Os resultados a seguir são referentes a concentração populacional por aglomerado


subnormal estudado, tal indicador é importante para se avaliar o adensamento populacional,
para que isso seja tomado como suporte de investimento, através de serviços públicos, para
minimizar os efeitos da vulnerabilidade social. Tendo em vista que há um instrumento de
planejamento urbano, o Plano Diretor Municipal, que tem como objetivo recuperar áreas
degradadas e impedir novas ocupações em áreas ambientalmente protegidas. O resultado aqui
apresentado poderá servir como base de discussão para o replanejamento urbano da área
urbana do município de Laranjal do Jari.
82
Tabela 5.4: Vulnerabilidade social a partir do indicador de concentração populacional por aglomerado
subnormal.

AGLOMERADO PT PT% IND


Demais setores da cidade de LJ 21 622 -
Três Irmãos 2 173 5,73 1
Centro 4 601 12,13 2
Coração de Jesus 4 261 11,24 2
Malvinas 2 549 6,72 1
Samaúma 975 2,57 1
Santarém 1722 4,54 1
Fonte dos dados: IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor

Figura 5.9. Classificação da vulnerabilidade social a inundação em função da concentração da população por
aglomerado.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.

O segundo indicador analisado foi a população com idade entre 0 a 4 anos por
aglomerado subnormal. O grande número de crianças eleva o nível de vulnerabilidade de uma
população, por dependerem diretamente de um responsável frente a uma adversidade ou

83
necessidade. As crianças com até quatro anos de idade em dois aglomerados, Malvinas e
Santarém representam mais de 10% do total, sendo estes aglomerados classificados como de
moderada vulnerabilidade. Ambos os setores possuem aproximadamente 15% de sua
população com idade até quatro anos. Três irmãos apresenta a menor porcentagem, com
10,7% de crianças, Figura 5.10.

Tabela 5.5: Vulnerabilidade social a partir do indicador de percentual de população com idade entre 0 a
4 anos de idade por aglomerado subnormal.

AGLOMERADO PIN % PIN IND


Demais setores da cidade de LJ 2 213 10,23
Três Irmãos 233 10,7 2
Centro 573 12,45 2
Coração de Jesus 505 11,85 2
Malvinas 393 15,45 3
Samaúma 120 12,3 2
Santarém 266 15,41 3
Fonte dos dados: IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor.

Figuras 5.10. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da população com
idade entre 0 e 4 anos.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
84
A Figura 5.11, resulta de outro indicador importante analisado que foram as unidades
com percentual de população idosa, observando-se que esses percentuais variam de 3,41
(Centro) até 6% (Três irmãos). Nas áreas dos demais setores da cidade de Laranjal, excluindo-
se os aglomerados subnormais essa proporção é de 3,7%. Este indicador, assim como, o
indicador população com idade entre 0 a 4 anos, necessita de uma política pública
diferenciada, pois o grau de dependência é equivalente, o que requer de uma atenção especial,
para que seja oportunizado a estas, condições que diminuam suas vulnerabilidades.

Tabela 5.6: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população idosa por
aglomerado subnormal.
IND
AGLOMERADO PID % PID
Demais setores da cidade de LJ 665 3,7
Três Irmãos 85 3,9 1
Centro 157 3,41 1
Coração de Jesus 255 6,0 2
Malvinas 99 3,88 1
Samaúma 53 5,4 2
Santarém 86 5,1 2
Fonte dos dados: IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor.

Figura 5.11. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da população idosa nos
aglomerados subnormais.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.
85
Segundo informações do Relatório Brasileiro de Desenvolvimento Social, mais da
metade da população brasileira declara-se branca (55,3%), 4,9% preta, 39,3% parda e 0,5%
amarela. Dados relativos ao analfabetismo no país demonstram acesso diferenciado à
educação segundo a cor: enquanto 12,1% dos brancos são analfabetos, entre os pretos a
proporção é de 30,1%, e entre os pardos, de 29,3%.

Em Laranjal do Jari todos os aglomerados analisados possuem mais de 30% dos


chefes de famílias com menos de quatro anos de escolaridade, por esses baixos índices de
escolaridade, os seis aglomerados analisados possuem alta vulnerabilidade para esse indicador
(Figura 5.12). Tal resultado corrobora com o indicador que será mostrado a seguir, que é o de
chefe de família com renda de até dois salários mínimos, pois se o cidadão não tem
oportunidade de acessar de forma igual a rede de educação, ele não terá a sua capacidade
intelectual desenvolvida para o âmbito do mercado atual, restando-lhe acesso a serviços
informais, pois, o padrão de crescimento econômico que prevaleceu no país desde os anos 30,
deixou como herança, uma sociedade urbano-industrial moderna e complexa, e ainda, o
aumento do setor terciário, por outro, um dramático quadro social, marcado por profundas
desigualdades.
As diferenças de renda do individuo, como se sabe, podem agravar antigas
desigualdades e criar novas vulnerabilidades, afetando de forma negativa regiões e grupos
sociais. O desafio que se impõe, portanto, é o de buscar um modelo de desenvolvimento que
permita a conciliação do imperativo de modernização da economia com a redução das
disparidades regionais e sociais. Para que sejam aplicadas de forma eficaz não apenas na área
de estudo aqui apresentada, mas sim em todas aquelas que necessitam deste tipo de
investimento.

Tabela 5.7: Vulnerabilidade social a partir do indicador do percentual de população chefe de família com menor
de quatro anos de escolaridade por aglomerado subnormal.

AGLOMERADO E % IND
Demais setores da cidade de LJ 6 378 29,5%
Três Irmãos 922 42,4 3
Centro 1 988 43,2 3
Coração de Jesus 2 037 47,8 3
Malvinas 1 242 48,7 3
Samaúma 481 49,3 3
Santarém 772 44,8 3
Fonte: Base dos dados IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor (2013).

86
Figura 5.12. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função dos chefes de família
com menos de quatro anos de estudo.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.

Ainda com base nas informações do Relatório Brasileiro de Desenvolvimento Social,


fruto de pesquisa nacional por amostra domiciliar, e utilizando-se uma classificação que
divide a população entre “pobres” (aqueles cuja renda, inferior à linha de pobreza, não
permite atender suas necessidades básicas de alimentação, moradia, vestuário etc.),
”indigentes” (aqueles cuja renda não permite atender nem mesmo às necessidades básicas
alimentares) e “não-pobres” (aqueles cuja renda se situa acima da linha de pobreza), foi
possível sistematizar algumas das principais características da pobreza na área de estudo desta
dissertação, pois, observou-se uma alta vulnerabilidade social em todos os seis aglomerados
subnormais da cidade, dos quais, apresentam mais de 50% dos chefes de família com renda
inferior a dois salários mínimos (Figura 5.13). O aglomerado Santarém possui 36,5% dos
chefes de família possuem renda superior dois salários mínimos. No aglomerado Coração de
Jesus, 83% dos chefes ganham menos de dois salários mínimo. Daí pode-se entender a
apropriação dos espaços urbanos de forma espontânea e com menor valor imobiliário, por
serem consideradas espaços altamente desordenados e ilegais, Maricato (2001).

87
Tabela 5.8: Vulnerabilidade Social a partir do indicador do percentual de população chefe de família com renda
inferior a dois salários mínimos por aglomerado subnormal.

P P% IND
AGLOMERADO
Demais setores da cidade de LJ 7 513 34,75
Três Irmãos 1 516 69,80 3
Centro 3 039 66,06 3
Coração de Jesus 3 536 83,01 3
Malvinas 1 835 72,03 3
Samaúma 780 80,65 3
Santarém 1 084 63,59 3
Fonte: Base dos dados IBGE (2010). Resultado obtido pelo autor (2013).

Figuras 5.13. Classificação do indicador de vulnerabilidade social a inundação em função da do chefe de família
com renda inferior a dois salários mínimos.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.

88
5.2 MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIAL À INUNDAÇÃO

O mapa com o índice de vulnerabilidade social à inundação dos aglomerados


subnormais da área urbana do município de cidade de Laranjal do Jari mostra que dos seis
aglomerados analisados, cinco apresentaram índices com alta vulnerabilidade social e apenas
um apresentou índice de vulnerabilidade social moderada (Figura 5.14, Tabela 5.9). O único
aglomerado subnormal que apresentou moderada vulnerabilidade social foi o Três Irmãos,
localizado na Orla da cidade de Laranjal do Jarí, aglomerado este, também sujeito a
constantes inundações na época de cheia do rio Jari, atingiu o resultado apresentado por ser
uma área de concentração comercial mais forte que habitacional, com uma população
trabalhadora do setor terciário, e não fixa a este setor, e sim somente com características
pendular, que exercem suas atividades durante o horário comercial, no entanto, em
levantamento de campo, identificou-se que mais de 65% destes trabalhadores moram nos
outros aglomerados subnormais aqui apresentados.

A Tabela 5.9 mostra os resultados dos dados após aplicados na Equação 1. Esses
dados de acordo com a classificação de Silva Junior e Szlafsztein (2010) foram definidos
usando uma escala que compreende valores de 1 a 3. Se o aglomerado apresenta resultado até
1,5 ele é classificado como de baixa vulnerabilidade, se apresenta de 1,5 a 2 classificado
como moderada vulnerabilidade e se apresenta resultados maiores de 2, classificado como alta
vulnerabilidade.

Tabela 5.9. Dados dos aglomerados de acordo com o cálculo de vulnerabilidade.

Aglomerados Aplicação
na equação 4.1

Três Irmãos 2
Centro 2,2
Coração de Jesus
2,4
Malvina
2,2
Samaúma
2,2
Santarém
2,4
Fonte: Desenvolvido pelo Autor ( 2013).

89
Figura 5.14. Mapa da vulnerabilidade social à inundação na área urbana de laranjal do Jari.

Fonte: Base dos Dados IBGE (2010). Mapa desenvolvido pelo autor, 2013.

Pelos resultados analisados, o mapa final de vulnerabilidade social à inundação


mostra que com exceção do aglomerado Três Irmãos, todos os demais apresentaram alta
vulnerabilidade, devido aos baixos índices sociais. Aliado a essa vulnerabilidade, deve-se
associar os fatores físicos que se constituem em ameaças para essa área. Ou seja, área com
baixos índices sociais, aliados a ameaças à inundação, se torna área com grande risco.

Com relação as ocupações inadequadas das áreas, ao se observar os aglomerados


Santarém; Três irmãos (onde se inclui a área denominada como comercial), Malvina,
Samaúma, Central na fotografia aérea oblíqua (Figura 5.15). É possível visualizar a ocupação
espontânea pelo estilo de construção das residências e modo de ocupação do terreno. Em

90
épocas de inundação parte da população que ocupam essas áreas são removidas para abrigos
temporários e retornam quando as águas baixam.

Figura 5.15. Fotografia área oblíqua da ocupação espontânea da cidade de Laranjal do Jari.

Fonte: Coordenadoria de Defesa Civil do Amapá, CEDEC/AP. Modificada pelo autor, 2013.
A ameaça aos eventos de inundação na área de estudo pode ser representado pelo
perfil mostrado na Figura 5.9, o perfil cruza quatro aglomerados subnormais, Centro, Coração
de Jesus, Santarém e Três irmãos. Santarém com alta vulnerabilidade social e três irmãos com
moderada vulnerabilidade, também apresentam cota topográficas inferiores a dois metros de
altura. Após o quilometro 2, observa-se aumento das cotas, até atingir cerca de 8, a cota de
oito metros já encontra-se na área de expansão da cidade, fora da área de estudo.

Os resultados apresentados mostram que a maioria dos assentamentos possuem alta


vulnerabilidade social, o que também está ligado a omissão de políticas públicas nessas áreas
para se diminuir essas vulnerabilidades, seja na coleta regular do lixo, em um sistema de
abastecimento de água que não sofresse com o processo de inundação, ou ainda, por uma
política de ordenamento territorial que permitisse o remanejamento dessas famílias para uma
área que não sofresse ameaça de inundação. O plano diretor deveria ser um documento para
orientar essas políticas.

91
5.3 O PLANO DIRETOR MUNICIPAL NO CONTEXTO DAS AMEAÇAS,
VULNERABILIDADES E RISCOS NATURAIS.
Os resultados da aplicação da análise da matriz para averiguação do plano diretor em
relação as inundações na área de estudo são mostrados no Quadro 5.1, conforme metodologia
aplicada no Quadro 4.1. (Questionamentos integrantes da análise do PDMLJ).

Quadro 5.1. Resultado da análise dos questionamentos no Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari.

Perguntas Respostas Comentários


A temática de riscos e desastres naturais
O PDMLJ nas suas políticas setoriais, na
não foi tratada de maneira explicita no
organização do território, explicitamente faz
1 documento, apenas relacionadas com as
referências á temática de riscos e desastres
ocupações irregulares e estudos de impacto
naturais?
ambiental.
O PDMLJ não faz referência ás ameaças
naturais que afetam o município. O que
pode ser considerado uma grande
O PDMLJ faz referência às ameaças
2 deficiência já que as inundações todos os
naturais que afetam o município?
anos atingem a cidade, tendo em vista que,
no ano de 2000 houve a maior enchente já
registrada oficialmente até o momento.
Trata da diminuição das vulnerabilidades
O PDMLJ estabelece medidas para a quando da ocupação de ambientalmente
3
diminuição dos fatores de vulnerabilidades? improprias para a ocupação e no artigo 11 e
12 que tratam da política de habitação.
O PDMLJ propõe medidas e/ou estratégias O PDMLJ não cita nenhum tipo de ação de
4
de respostas? Quais? resposta no caso de desastre.
Apresenta mapas no anexo do PDMLJ
entre os quais mapas de zoneamento de
áreas na cidade de Laranjal do Jari, onde se
5 O PDMLJ apresenta cartografia de riscos?
observa que a área da cidade mais propensa
as inundações são tratadas como áreas de
recuperação ambiental.
Fonte: Silva Junior e Szlafsztein (2010). Adaptado pelo autor( 2013).

Pode-se observar que a temática de risco a desastres naturais não é explicitada no


PDMLJ, há uma subjetividade com relação ao risco, uma vez que, não foi identificada, de
forma direta, principalmente com relação às inundações, umas vez que há registros históricos
e recorrentes no município. Essa relação fica evidenciada apenas no Capitulo IX, art. 128, do
documento, ao tratar sobre estudo de impacto de vizinhança, pressupõe que esse estudo deve
contemplar os aspectos positivos e negativos do empreendimento sobre a qualidade de vida da
população residente devendo propor soluções para os riscos ambientais causados pela ação do
empreendimento e não pela ação de um evento natural, mas sim antropogênico, ou seja, não
há uma classificação dos riscos que a área urbana possa sofrer.

Art. 128. O EIV deverá contemplar os aspectos positivos e negativos do


empreendimento sobre a qualidade de vida da população residente ou usuária da área em
questão e seu entorno, devendo incluir, no que couber, análise e proposição de solução para
as seguintes questões:
92
I – adensamento populacional;
...
XII – riscos ambientais;
...
(Grifo do Autor, 2012)
Para o segundo questionamento verificou-se que o PDMLJ não cita explicitamente às
ameaças naturais que afetam o município. As inundações da sede e áreas rurais do município
decorrentes da dinâmica do rio Jari não são consideradas como uma ameaça ao
desenvolvimento municipal, apenas são citadas na Seção III, mas somente relacionada a
questão de rede coletora de esgoto. Apenas as ocupações irregulares são identificas como uma
ameaça à preservação do meio ambiente, à segurança da população, ao planejamento de
crescimento da cidade e à infraestrutura de serviços públicos (Art. 12° do PDMLJ) e não
especificamente para ameaças naturais. O que pode ser considerado uma grande deficiência já
que as inundações todos os anos atingem a cidade, tendo em vista que, no ano de 2000 houve
a maior enchente já registrada oficialmente até o momento, ainda mais preocupante, porque o
Plano Diretor Municipal de Laranjal do Jari foi aprovado em 11 de maio de 2007, ou seja,
mesmo após duas ocorrências de inundações severas, 2000 e 2006, o PDMLJ não tratou a
ameaça à inundação de forma clara e explícita.

Em destaque, as seções abaixo, do Art. 12, evidenciam de forma implícita como são
tratadas as áreas que são sensivelmente afetadas pela inundação na área urbana de Laranjal do
Jari

Art. 12. Para a consecução da política municipal de habitação, deverão ser


adotadas as seguintes diretrizes:
I – promover a requalificação urbanística e regularização fundiária dos
aglomerados habitacionais precários e irregulares, inclusive de áreas degradadas;
...
IV – promover o acesso à terra, por meio do emprego de instrumentos que
assegurem a utilização adequada das áreas vazias e subutilizadas;
...
VI – viabilizar a reabilitação de áreas de várzea degradadas, utilizando-se
instrumentos que estimulem e atraiam novos moradores de diferentes segmentos de renda
para novas áreas habitacionais;
VII – impedir novas ocupações irregulares em área de proteção e de riscos e em
todo restante do território municipal;
...

93
IX – implementar programas de reabilitação física e ambiental nas áreas de
recuperação e proteção ambiental;
...
XI – recuperar ambientalmente as áreas legalmente protegidas ocupadas por
moradia, não passíveis de urbanização e de regularização fundiária;
... (Grifo do Autor,2012)
Em relação a implantação de medidas para redução dos fatores de vulnerabilidade, o
PDMLJ estabelece no Art. 12 que trata sobre os objetivos da política de habitação, o primeiro
princípio é garantir o acesso à terra urbanizada e a moradia, ampliando a oferta e melhorando
as condições de habitabilidade da população de baixa renda. Em seguida, este mesmo artigo
12 (diretrizes para a política municipal de habitação) são citadas as seguintes diretrizes:

I - Promover a requalificação urbanística dos aglomerados habitacionais precários


e irregulares, inclusive de áreas degradadas.
II - Viabilizar a reabilitação de áreas de várzea degradada com a transferência dos
moradores para novas áreas habitacionais,
III - Impedir novas ocupações irregulares em área de proteção e de risco em todo o
território municipal
IV - Garantir alternativas habitacionais para a população removida das áreas de
risco.
(Grifo do Autor, 2012)
No entanto apesar de citar termos como “áreas degradadas”, “áreas de várzea
degradada com a transferência dos moradores para novas áreas habitacionais”, “áreas de
risco” em nenhum trecho do documento são citadas ou mostradas em mapeamento onde estão
localizadas essas áreas. A exemplo disso, na Seção III, Art. 16, são citadas algumas medidas
para a diminuição da vulnerabilidade, que versa sobre o saneamento ambiental integrado é
colocado à necessidade de se criar a rede coletora de águas pluviais e do sistema de drenagem
nas áreas urbanizadas do território, de modo a minimizar a ocorrência de enchentes e
alagamentos. No entanto, nas seções XI e XIII, o PDMLJ faz menção à temática de
recuperação ambiental, revertendo os processos de degradação e de reabilitação das áreas
de risco, porém, isto não está evidenciado cartograficamente e nem há um detalhamento de
que risco o PDMLJ está se referindo, por isso classificou-se a analise desta temática de risco
como de forma implícita, pois não há um detalhamento do Plano Diretor de Laranjal do Jari.

Art. 16. A política de saneamento ambiental integrado deverá respeitar as seguintes


diretrizes:
I – garantir serviços de saneamento ambiental na área urbana e em todo o território
municipal;
94
...
XI – promover a recuperação ambiental, revertendo os processos de degradação
das condições físicas, químicas e biológicas do ambiente;
...
XIII – implementar programas de reabilitação das áreas de risco;
...
(Grifo do Autor,2012)
Como resultado de análise, identificou-se que as medidas para a diminuição das
vulnerabilidades, evidenciadas no PDMLJ, tratam-se especificamente das ocupações em áreas
ambientalmente impróprias, tomando como base as informações do IBGE com relação aos
aglomerados subnormais. Observou-se que as áreas das quais o PDMLJ menciona como
sendo de áreas degradadas são as áreas de planície de inundação do rio Jari, porém, a falha do
PDMLJ, foi de não classificar esta feição natural como sendo uma área de potencial ameaça à
inundação.

Daí o papel importante da cartografia, pois ela tem uma importância estratégica no
controle, mapeamento e ordenamento do território. O PDMLJ traz em seu anexo 25 mapas,
que trazem informação sobre as zonas especiais localizadas na área urbana, sobre as áreas
para as quais a cidade está se expandindo, evolução da ocupação, entre outros. Assim,
adotando-se este instrumento cartográfico para se dividir o território da cidade e assim poder
tratas das especificidades de cada local, a Seção III apresenta a criação de três tipos de zonas
especiais: duas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); três Zonas Especiais de Proteção
Ambiental (ZEPA) e quatro Zonas Especiais de Recuperação Ambiental (ZERA) que teriam
regulamentação especifica para o uso do solo. De acordo com o documento, as ZERAs são
áreas que se caracterizam pela existência de ocupações desordenadas, possuindo elevada
densidade populacional e deficiência de equipamentos públicos e infraestrutura urbanística.

No mapa de macrozoneamento urbano (Figura 5.16) observa-se que nas áreas mais
suscetível aos processos de inundação (orla da cidade de Laranjal do Jari) têm-se
estabelecidas duas zonas de recuperação ambiental, uma zona de uso misto e uma zona de
habitação. Essas áreas abrangem os aglomerados de Sagrado Coração de Jesus, Santarém,
Centro, Malvinas e Samaúma.

95
Figura 5.16. Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari.

Fonte: PDMLJ, (2007). Modificado e Adaptado pelo autor (2013).

Ao longo das 62 páginas do PDMLJ, não se observa referência a situações de


desastre nem a medidas de respostas a elas. Isso pode ser considerado uma omissão bastante
preocupante na medida em que essa cidade constantemente sofre com as inundações que
desabrigam famílias, desalojam o comércio e prejudicam o social, o econômico e as
atividades rotineiras da cidade.

96
De fato, a partir do momento em que for associando o mapeamento de
vulnerabilidade social frente a ameaça de inundação, com as áreas que frequentemente são
inundadas, das quais são tratadas pelo PDMLJ como uso misto ou de zona de interesse
ambiental, ter-se-á aberto um novo canal de discussão para que seja revisado o PDMLJ, para
que assim, seja considerado de fato as ameaças à inundação observadas e sentidas pela
população de Laranjal do Jari, pois não sofrem os efeitos deste evento adverso apenas aquelas
pessoas atingidas diretamente pelo sinistro, mas se é considerado também aquelas que sofrem
os efeitos de forma indireta, ocasionando prejuízos e danos os munícipes.

O plano diretor é o documento base para o pensamento e execução das políticas


setoriais que visam atender a população em situações de vulnerabilidade. Os instrumentos
desse documento devem ser objetivos e executáveis para o ordenamento do território de
maneira a dar melhores condições aos locais frente a eventos como as inundações.

97
CAPITULO VI

6.1 DISCUSSÕES

6.1.1 Vulnerabilidade Social e aspectos físicos

De acordo com apresentado na Figura 5.15 o mapa de vulnerabilidade social para a


área de estudo, dos seis aglomerados analisados, cinco apresentaram altas vulnerabilidades e
apenas um apresentou moderada vulnerabilidade. Algumas considerações devem ser feitas em
virtude desses resultados. A concentração da população por setor é uma variável importante a
ser analisada, levando-se em consideração que grande parte desses setores apresentam áreas
impróprias para a ocupação.

A cidade de Laranjal do Jari concentra 94,8% da população, 37 832 habitantes,


considerando-se que a cidade tem uma área de 27,8 km², uma densidade populacional de 1360
pessoas por quilometro quadrado. Analisando apenas os aglomerados subnormais, a
população, segundo os dados do IBGE (2010) é de 16.281, correspondendo a 42,8% da
população da cidade em uma área de 7,7 km², densidade populacional de 2015 pessoas por
km².

De acordo com dados do trabalho de Brito Paixão e Tostes (2010) ao analisar do


Plano Diretor Participativo de Laranjal do Jari os conflitos na gestão urbana, a que se refere
este documento, a área da cidade considerada “favelizada” é ocupada por cerca de 49% da
população local da cidade, o que equivale a 19.571 habitantes. A diferença entre os dados
apresentados entre os dois trabalhos, deveu-se ao fato de que em Paixão e Tostes (2010), o
recorte dos autores foram seis bairros localizados nas áreas de várzea de Laranjal de Jari.
Entre os limites dos bairros e dos aglomerados estudados nesta dissertação há uma diferença
da delimitação dos mesmos.

O número de crianças por setor variou entre 10,7% e 15, 45%. Os valores extremos
encontrados são próximos ao verificados no Silva Junior e Szlafsztein (2012) ao analisar a
concentração de população infantil na cidade de Alenquer, no Estado do Pará, os valores
encontrados variaram entre 6,9% a 15,2%. Na análise para Laranjal do Jari foram encontrados
números semelhantes para esse indicador.

Segundo os dados do censo 2010 a região norte do Brasil continua sendo a região
com maior número de filho por mulheres, em média, 2,47 filhos, contra 1.9 filhos da média

98
nacional. Assim o número de crianças em cidades da região tende a ser maior que nas outras
regiões do Brasil.

A média de 3,75% de idosos da cidade Laranjal, com as devidas variações


observadas entre os aglomerados, atingindo no máximo 6%, tornando-se o indicador
calcificado mais positivamente em relação a vulnerabilidade, três aglomerados com baixa e
três como moderada. Foi o único indicador que não apresentou nenhum aglomerado com alta
vulnerabilidade. Quando comparada com a média brasileira de idosos calculada para o ano de
2010, cerca de 10,8% da população, a população idosa de Laranjal do Jari é bem menos
expressiva. Com relação ao número de idosos, deve-se considerar que ao mesmo tempo em
que a população idosa representa maior vulnerabilidade a desastres, ao mesmo tempo, grande
número de idosos representa maior expectativa de vida, o que geralmente está ligado a melhor
qualidade de vida como ocorre em países europeus, ou mesmo em regiões mais desenvolvidas
no Brasil como o Sul e Sudeste.

Os resultados dessa pesquisa mostraram que nos aglomerados subnormais para todas
as unidades analisadas têm-se mais de 30% de pessoas com menos de quatro anos de estudo.
Considerando-se a população da cidade fora dos aglomerados, esse índice cai para 29,5%,
uma diferença significativa já que para os seis aglomerados o menor número encontrado foi
de 42,4%. Esses números refletem a baixa escolaridade no Estado do Amapá, que ser visto
pelos percentuais de analfabetos (5,4%), de analfabetos funcionais (15,5%), ou seja, pessoas
com até 3 anos de estudo, e os de baixa escolaridade (20,5%), compondo um indicador
formado pelos sem escolaridade, com muito baixa escolaridade, que na soma, corresponde a
41,4% do total da população acima de 25 anos, IBGE (2010). Gomes et al. (2009), em sua
pesquisa com cidades costeiras amazônicas, destaca a baixa escolaridade predominante na
maioria das pequenas cidades da Amazônia.

A área de estudo apresenta grande número de chefes de família com rendimento


inferior a dois salários mínimos, esse número chega a 83% no aglomerado coração de Jesus.
Considerando parte da cidade fora dos aglomerados subnormal esse índice cai para 34,5%. Na
Amazônia, frequentemente, renda familiar é total ou parcialmente composta dos benefícios
previdenciários e de outras fontes de renda resultantes de atividade relacionadas com o
extrativismo, o comércio informal, e mais recentemente, dos programas de transferência de
rendas do governo (CARDOSO; NEGRÃO, 2006).

99
A análise dos dados refere-se à faixa de renda média familiar mensal em termos de
salários mínimos tem influência sobre o déficit habitacional. Cabe destacar que os domicílios
urbanos precários e sua faixa de renda devem ser alvo preferencial de políticas públicas que
visem melhoria das condições de vida. No Estado do Amapá, as desigualdades sociais estão
expressas pelos indicadores do déficit habitacional, segundo faixa de renda. Os dados
mostram que a renda familiar é muito baixa, onde 78,4% das famílias pobres recebem uma
renda mensal de até três salários mínimos. Na região Norte, representa 88,6% enquanto a
média no Brasil é de 89,6% das famílias pobres. Déficit habitacional urbano em relação aos
domicílios particulares permanentes no Amapá é de 8,7 %, e média Brasil, 9,6%.

O fator de ocupação das áreas inundáveis se torna o maior problema, pois, o aumento
populacional do município não acompanhou um desenvolvimento que pudesse suprir as
necessidades desta população, ficando carente de políticas públicas e serviços básicos como
mobilidade urbana, habitabilidade e infraestrutura. Com esses agravantes o município ficou
conhecido como a maior “favela fluvial” da Amazônia, por abrigar inúmeras palafitas
construídas sobre a várzea, também conhecidas por “parte baixa”, área esta que foi ocupada
desordenadamente em função de fatores citados (THALEZ; COUTO, 2007). Como já foi
citado neste trabalho, de 1991 a 2010 houve um aumento de cerca de 86% na população do
município, concentrado sobretudo na sede. Em 2010 a população da cidade era estimada em
cerca de 36.000 habitantes, com 16.281 habitando os aglomerados subnormais, índice
superior a 45% da população urbana.

A situação das enchentes em Laranjal do Jari é semelhante a encontrada nas demais


regiões da Amazônia. Umas das áreas da região que apresenta padrões de ocupações de
terrenos bastante parecidas com a de Laranjal do Jari é o Baixo Amazonas Paraense. A
maioria das cidades se localiza em regiões de baixa altitude ao longo da calha do rio
Amazonas (Figura 6.2). Os fatores físicos (geomorfologia e geologia), os fenômenos
climáticos (La Ninã) e os oceanográficos (marés) potencializam as inundações. Os eventos
ligados à inundação no Baixo Amazonas tem maior recorrência do que observado em Laranjal
do Jari, de acordo com um minucioso levantamento sobre a publicação de decretos de
emergência realizado nos Diários Oficiais do Estado do Pará, entre os anos de 1992 e 2010, os
municípios do Baixo Amazonas foram os que apresentaram maiores publicações de decretos
de emergências em toda a Amazônia (ALBUQUERQUE, 2011).

100
Figura 6.1. Padrão de relevo da região do Baixo Amazonas, Estado do PARÁ.

Fonte: IBGE (2005) e SRTM (NASA 2000). Adaptado pelo autor (2013).

Na Figura 6.1 observa-se a influência do rio Amazonas no processo de inundação das


planícies de inundação no baixo amazonas, processo bastante semelhante quando comparado
a área de estudo desta dissertação com os estudos de Silva Junior e Szlafsztein (2010) para a
cidade de Alenquer, pois apesar da cidade de Alenquer estar inserida diretamente nesta
regiões de baixa altitude ao longo da calha do rio Amazonas, o município de Laranjal do Jari
também recebe a influência do rio Amazonas e associado a outros fatores de um conjunto
morfológico evidenciado na área de estudo, as ameaças ao processo de inundação são
potencializados.

No resto do Brasil as características das inundações também são devido a ocupação


de terrenos sazonalmente ocupados pelas enchentes. No entanto devido as características
peculiares dos rios amazônicos (grandes volumes de água, por exemplo) não se pode afirmar
que o contexto é o mesmo.

101
6.1.2 UHE Santo Antônio do Jari e as inundações

Segundo Godim (2010), quando um reservatório utilizado para geração de energia é


associado a função de controlar cheia, gera-se, potencialmente, um “conflito de interesses”,
uma vez que o operador do reservatório pretende tê-lo sempre cheio para garantir a geração
futura de energia, enquanto, a jusante dos reservatórios, os atingidos pelas cheias querem que,
no período chuvoso, o reservatório esteja o mais seco possível para poder absorver uma
eventual onda de cheia. As técnicas de controle de cheias em usinas hidroelétricas baseiam-se
em alocação de volumes vazios nos reservatórios, os chamados volumes de espera a fim de
amortecer futuras cheias. Se os reservatórios criarem um volume de espera demasiadamente
grande e a cheia não acontecer, então a geração de energia elétrica estará comprometida.

No rio Jari, nos municípios de Almeirim, no Pará e Laranjal do Jari, no Amapá,


desde 2011 está em construção a UHE de Santo Antônio do Jari, com capacidade instalada de
300 MW. A usina terá reservatório de 16,17 quilômetros quadrados e a previsão para início
das operações é 2014 (AMAPÁ ENERGIA, 2009). Muito se especula que quando houver o
enchimento do reservatório se algo mudará com relação as cheia a jusante da barragem, onde
está localizada a cidade de Laranjal do Jari. Devido ao pequeno reservatório da UHE do Jari
(Figura 6.2), por conta da usina não ter reservatório de acumulação, mas operando com o
conceito fio d´água, onde a usina depende da vazão do rio, provavelmente, não haverá
grandes alterações nos regimes das águas e das cheias que atingem a cidade de Laranjal do
Jari. A partir do momento em que a usina estiver em plena operação, com o reservatório cheio
é que poderão ser avaliados com mais critérios os efeitos dessa construção com relação a que
tipo de influência terá sobre esse fenômeno, no entanto, sabe-se que os reservatórios das
hidrelétricas ajudam no processo de descarga do rio, o que ajudaria de certa forma, um
monitoramento mais eficiente do rio na prevenção de uma futura ameaça à inundação em
Laranjal do Jari.

102
Figura 6.2: Área de influência direta da UHE Santo Antônio do Jari.

Fonte: Amapá energia ( 2009).

6.2 PLANO DIRETOR E POLÍTICAS DE GESTÃO DE RISCO

De acordo com o Artigo 42 da Lei 12.257/01 (incluído pela Lei 12.608-2012, que
institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC e dispõe sobre o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa
Civil – CONPDEC) o plano diretor deve conter no mínimo a identificação das áreas urbanas
onde será aplicado o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória, assim como
sistemas de acompanhamento e controle. O plano diretor dos municípios incluídos no
cadastro de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grandes
impactos, inundações, processos geológicos ou hidrológicos correlatos deve conter diretrizes
como: a) mapeamento contendo áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; b) planejamento de
ações de intervenções preventivas; c) realocação de população de áreas de risco a desastres.
103
O município de Laranjal do Jari se cadastrou nesse sistema, porém ainda não
reformulou seu plano diretor para atender as diretrizes exigidas, entre elas o mapeamento de
áreas suscetíveis a ocorrência de inundação. Nesse sentido um mapa indicativo das áreas de
inundação aparecem na versão do plano diretor aprovada em 2007 e a apresentada na Figura
5.10, que mostra o Macrozoneamento urbano da cidade de Laranjal do Jari. As zonas de
várzeas, atualmente ocupadas e que necessitam que a população seja remanejada são
classificadas como ZEPAs (Zonas de Proteção Ambiental), as zonas densamente ocupadas,
principalmente as localizadas na borda do rio Jari, são classificadas como Zonas Especiais de
Recuperação Ambiental (ZERAs), um dos objetivos das ZERAs é minimizar os impactos
ambientais e promover a regularização urbanística, fundamento que se encaixa perfeitamente
com o estudo realizado pelo IGBE em todo o Brasil, que são os aglomerados subnormais.

Apesar do plano diretor, em sua cartografia e no corpo textual, não se manifestar


claramente em relação ao risco de inundação, a ameaça de inundação são recorrentemente
relatadas na imprensa (por exemplo, disponíveis no jornal Zero Hora, na internet) ou
constantes nos boletins de atendimento da Defesa Civil do Amapá (banco de dados criado em
2008) e da Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Laranjal do Jari. Além disto,
fotografias coletadas em campo permitem a observação de evidencias de que há significativa
flutuação do nível do leito do Laranjal do Jari, após precipitações intensas ou prolongadas. As
imagens mostradas na Figura 6.3 mostram a falha do PDMLJ em não levar em consideração
as ameaças naturais, mais especificamente a proveniente do processo de inundação. Essas
inundações causam grandes transtornos à população, interditando ruas, passarelas, escolas,
fechando comércio, e ainda, somada a uma ineficiência de políticas públicas, como uma
coleta de lixo regular ou de uma própria política de educação ambiental (Figura 6.3).

104
Figura 6.3. Inundação na cidade de Laranjal do Jari.

Rua da Usina, concentração de vários Avenida Tancredo Neves – População afetada pela
estabelecimentos informais. inundação.

Ponto base das catraias no pátio da Secretaria Passagem 3 Irmãos, localizada entre o rio Jari e a
Municipal de Transporte de Laranjal do Jari na Av. Avenida Rio Branco
Tancredo Neves.
Fonte: CEDEC/AP (2011).

Os trabalhos de Tostes (2007a; 2007b) fizeram ampla análise sobre o PDMLJ com
vistas as propostas a aplicabilidade das políticas públicas propostas. Para o autor, a elaboração
do documento é uma importante ferramenta auxiliar no ordenamento territorial mas que deve
ter sua aplicabilidade efetivada com planos de ações e efetiva fiscalização. Os resultados do
estudo de Ferreira (2008) que tratou sobre expansão urbana, planejamento e políticas públicas
na cidade de Laranjal do Jari mostraram a clara necessidade de se repensar políticas públicas
dentro de um plano de decisão integrado, também se deve analisar as dificuldades que passam
a cidade de Laranjal do Jari com relação à implementação das políticas dissociadas do
planejamento urbano. Paixão (2008) analisou a contribuição do PDMLJ com vista a solução
dos problemas nas áreas de várzeas no município de Laranjal do Jari, para a autora, o plano
permite no conjunto das propostas pensadas, a possibilidade de modificar estruturas urbanas
extremamente adversas e inóspitas, que historicamente sempre estiveram sob a tutela de
interesses individuais ou de grupos corporativos. No entanto, a eficácia da aplicabilidade do
105
PDMLJ somente será possível com o auxílio e a fiscalização dos segmentos sociais que
contribuíram para a construção deste importante instrumento de política pública.

Os trabalhos supracitados, que analisaram o PDMLJ com vista a sua eficácia como
política pública tiveram resultados que mostraram a necessidade de modificação nas
estratégias de aplicabilidade dessa política pública. Com relação as questões a análise dos
conceitos de risco, vulnerabilidade e ameaça, também há necessidade de adequação

É grande o número de afetados, segundo dados do Ceped (2011), entre 1991 e 2010,
os afetados pelas inundações foram 21.868, incluindo 2.407 pessoas enfermas. Esse número
equivale a 57,8% da população residente na cidade no ano de 2010. Grandes também são os
prejuízos; analisando os trabalhos de Quaresma (2008); Marques e Cunha (2008), o município
de Laranjal do Jari no período de 1981-2008, registrou seis elevações do nível rio Jari que
atingiram o centro urbano do município, sendo que três dessas elevações causaram grandes
prejuízos (Tabela 6.1.).

Tabela 6.1. Registro de enchente e repercussão dos eventos.

Duração Danos Humanos


(dias) Prejuízos
ANO Econômicos Sociais
2000 50 7,6 milhões 4,2 12 983 desalojados, 6 384 desabrigados,
milhões 4089 pessoas feridas, 2407 pessoas
doentes e 1 morte.
2006 8 905 mil 675,3 665 desalojados e 285 desabrigados
mil
2008 30 2.0 milhões 640 mil 13045 desalojados, 2035 desabrigados 1
morte
Fonte: Quaresma (2008); CEDEC-AP (2000, 2006 e 2008).

A classificação quanto à intensidade necessita de uma avaliação. Essa avaliação da


intensidade dos desastres é muito importante para facilitar o planejamento da resposta e da
recuperação da área atingida. As ações e os recursos necessários para socorro às vítimas
dependem da intensidade dos danos e prejuízos provocados. Kobyama et al. (2006) classifica
os eventos em quatro níveis de intensidade, pequeno, médio, grande e muito grande, em
função dos recursos necessários para a reconstrução (Tabela 6.2).

106
Tabela 6.2.Classificação dos desastres em relação à intensidade

Nível Intensidade Situação


I Desastres de pequeno porte, também chamados Facilmente superável com os recursos
de acidentes, onde os impactos causados são do município
pouco importantes e os prejuízos pouco
vultosos (prejuízo menos que 5% do PIB
municipal)
II De média intensidade, onde os impactos são de Superável pelo município, desde que
alguma importância e os prejuízos são envolva uma mobilização e
significativos, embora não sejam vultosos administração especial.
(prejuízos entre 5% e 10% PIB municipal)
III De grande intensidade, com danos importantes A situação de normalidade pode ser
e prejuízos vultosos (prejuízos entre 10% e Reestabelecida com recursos locais,
30% desde que complementados com
PIB municipal) recursos estaduais e federais (situação
de emergência)
IV De muito grande intensidade, com impactos Não é superável, sem que receba
muito significativos e prejuízos muito vultosos ajuda externa. Eventualmente,
(prejuízos maiores que 30% do PIB municipal) Necessita de ajuda (Estado de
calamidade pública – ECP)
Fonte: Kobyama et al., 2006

Em Laranjal do Jari, as ações básicas de resposta à enchente do ano 2000, segundo a


Avaliação de Danos – AVADAN/2000/CEDEC/AP, custaram ao Governo do Estado R$
1.747.147,00 (um milhão setecentos e quarenta e sete mil e cento e quarenta e sete reais). Os
setores de agricultura, indústria e serviços contabilizaram um prejuízo na economia de R$
7.505.120,00 (sete milhões quinhentos e cinco mil e cento e vinte reais). Foram
comprometidos os serviços básicos tais como abastecimento de água (CAESA), energia
elétrica (CEA), transporte, saúde e educação causando um prejuízo de R$ 4.134.200,00
(quatro milhões, cento e trinta e quatro mil e duzentos reais).

Em 2006 com a enchente durando oito dias, os prejuízos econômicos ficaram e tono
de 905 mil reais e os sociais 675 mil reais. O número de desalojados atingiu 665 pessoas e
285 desabrigados. Em 2008 com a cheia voltando e ultrapassando a marca de 3 metros, tendo
como cota de alerta a marca de 1,85m, os prejuízos se elevaram para dois milhões
(econômicos) e os sociais ficando na faixa dos 640 mil. Verificando os prejuízos dos três anos
analisados e comprando com os recursos orçamentários e financeiros do município de
Laranjal do Jarí, que em 2008 foi por volta de R$ 3.167.200,00 (Três milhões e cento e
sessenta e sete mil e duzentos reais) verifica-se que em grandes enchentes como a do ano
2000 os valores utilizados para respostas ao desastre superam o orçamento anual municipal.
Para todos os anos analisados, os eventos foram classificados, segundo a classificação de
Kobyama et al. (2006), como de grande intensidade.
107
CAPÍTULO VII

7.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Na presente dissertação a metodologia adotada buscou obter a espacialização da


vulnerabilidade social através da construção de indicadores, em escala desagregada
(aglomerados subnormais), e do emprego de técnicas de geoprocessamento. Assim, foi
possível diferenciar o território em classes de vulnerabilidades sociais e correlacionar essa
informação com os dados históricos de desastres em Laranjal do Jari.

Analisando os resultados obtidos por meio da aplicação dessa metodologia,


verificou-se que a tendência de determinados grupos com nítida desvantagem social em
relação aos demais (ou seja, em piores situações econômicas, habitacionais, educacionais e
com determinadas características demográficas) é residir, mais frequentemente, em locais
sujeitos a desastres, em áreas com maior ocorrência de inundações. Uma das suas principais
causas está ligada ao fato de que as áreas sujeitas a ameaças, muitas vezes, são as únicas
acessíveis à população de baixa renda, por serem menos valorizadas no mercado imobiliário
em função das características de risco e da falta de infraestrutura urbana. Outro fator
relevante, é que essas áreas são consideradas impróprias pelas legislações urbanística e
ambiental voltadas para a ocupação urbana, principalmente por oferecer risco a desastres e o
fator cultural também corrobora para que esse tipo de ocupação seja ampliado, conforme
evidenciado por Becker (2000), onde as cidades da Amazônia foram se desenvolvendo ao
longo das margens dos numerosos cursos fluviais, devido, principalmente, à facilidade de
transporte, comunicação e escoamento da produção. O crescimento desordenado de muitas
dessas cidades tem pressionado para ocupação de áreas inundáveis sazonalmente, o que
constitui um fator de vulnerabilidade para estas populações.

Com o resultado da presente pesquisa pode-se observar que grupos com alta
vulnerabilidade social, estão localizados em aglomerados com alta ameaça a inundação,
principalmente os aglomerados Coração de Jesus, Malvina e Santarém, localizados muito
próximos a orla da cidade e com elevada densidade populacional. Verificou-se que os
aglomerados da cidade possuem perfis homogêneos para os indicadores: educação e renda.
Quando se analisa a questão etária e de concentração absoluta da população percebe-se
alguma heterogeneidade, o que leva a conclusão que no geral, quase toda a população que
habita essas áreas possuem alta vulnerabilidade social.

108
Considerando a metodologia empregada e resultados obtidos nesta dissertação, estes
podem servir como base para a replicabilidade de análise em outras cidades do Estado do
Amapá e da região Amazônica, pela facilidade de aplicação do método (mesmo aqueles sem
grandes recursos financeiros), desde que se disponha de dados e informações necessários,
obtidas em base de dados preexistentes e de topografia, assim como a possibilidade de realizar
pesquisas de campo, e ainda, a manipulação de dados no ambiente de SIG por técnicos
especializados.

Quanto à sensibilidade do método, apesar de o mesmo ser facilmente aplicável e com


poucos recursos, há necessidade de muitas informações que devem ser fornecidas por órgãos
competentes nas diversas áreas. O grau de detalhamento dessas informações nem sempre é o
indicado para a escala de análise, como por exemplo, trabalhar-se com dados de elevação
SRTM para estudos urbanos. Ocorre que levantamentos planialtimétricos de maior detalhe
requerem grandes somas em dinheiro e tempo para serem realizados de forma satisfatórias.
Com relação aos indicadores para o cálculo de vulnerabilidade, há controvérsias no uso de
alguns parâmetros ou em não usar o Incide de Desenvolvimento Humano (IDH) como forma
de mensurar a questão econômica e social. A escolha desses índices depende de que tipo de
abordagem se deseja fazer e do tipo de literatura em que o trabalho se baseia. No entanto,
apesar das limitações do método, avalia-se como facilmente aplicável para pequenas cidades
amazônicas como é o caso de Laranjal do Jari. Análises mais apuradas devem ser realizadas e
com informações de maior detalhe para aperfeiçoamento da pesquisa.

Uma das maiores dificuldades encontradas nessa pesquisa foi a obtenção de dados
hidrológicos e com escala adequada observados em pontos que não tivessem variação quanto
a régua de medição ou troca de locais de medição, pois a observação do nível do rio Jari,
começou a ser efetivamente monitorada a partir de 2006, no entanto, o monitoramento do rio
Jari até o ano de 2013 se dá apenas no período chuvoso, ou seja, a partir do mês de janeiro, e
em uma régua de monitoramento que não informa de forma fidedigna a cota exata do rio Jari,
pois nos meses em que o nível do rio está mais baixo, esta régua fica totalmente exposta e fora
da linha d’água, incorrendo num falso verdadeiro, para tanto, como recomendação, sugere-se
a instalação de pelo menos três réguas devidamente calibradas de acordo com a metodologia
do CPRM.

109
Para se analisar as cotas topográficas da cidade deveria se ter disponível estudos
topográficos com escala adequada a área de estudo, que foi de cerca de 7,7 Km², esse tipo de
levantamento é de alto custo e requer grande número de pontos de controle para a elaboração
de modelos absolutos. Os dados coletados constantes nos arquivos da Defesa Civil se
resumem basicamente a fotos dos eventos de inundação, outros dados deveriam ser coletados
pelo órgão para subsidiar documentos com análises técnicas mais apuradas.

Parte da cidade de Laranjal do Jari sujeita aos eventos das inundações devem ser
entendidos de maneira integrada. De acordo com os dados apresentados nessa dissertação,
pode-se observar que naturalmente parte da área ocupada pela cidade é propicia a ocorrência
de inundações devido aos fatores físicos: característica do revelo, localizada em planície de
inundação, em áreas de depósitos de aluviões de períodos recentes (holoceno), quantidade de
pluviosidade incidente na bacia hidrográfica do rio Jari. No entanto, essas características e
fenômenos naturais por si só não se constituem em risco, eles só se transformam em fatores de
risco quando há ocupação dessas áreas, como ocorreu em Laranjal do Jari. Sendo assim, o
Plano Diretor Municipal Participativo de Laranjal do Jari deve rever os conceitos de ameaças,
riscos e vulnerabilidades, uma vez que, o município sofre constantemente com a ameaça de
inundação, no entanto, no Plano Diretor municipal a problemática é tratada de maneira
superficial. Em relação à diminuição das vulnerabilidades em Laranjal do Jari, o PDMLJ cita
algumas ações no campo da habitação: a retirada das populações das áreas de risco (não
especifica que tipo de risco), a realocação em outros lugares não sujeitos a ameaças e a
estruturação de moradias. Estruturação que é fator importante do qual trata o plano diretor que
pode ser eficiente na diminuição da vulnerabilidade das residências e consequentemente da
população que nelas residem.

O documento do Plano Diretor cita por diversas vezes termos como “áreas
degradadas”, “áreas de várzea degradada com a transferência dos moradores para novas áreas
habitacionais”, “áreas de risco”, no entanto, em nenhum trecho do documento são citadas ou
mostradas em mapeamento onde estão localizadas essas áreas. Ou seja, sem a localização
adequada das áreas, há dificuldades em se aplicar o instituído pelo PDMLJ. Nesse ponto
mostra-se a importância de se mapear as áreas citadas, uma vez que, as perdas financeiras
decorrentes das inundações, por vezes, superam o orçamento anual do município. O fato de
elementos importantes para a economia da cidade como escolas e comércios ficarem
interditados quando ocorrem grandes inundações mostram a falta de planejamento e da

110
execução de políticas públicas eficazes que se adiantam a esses eventos, pois, o fechamento
de escolas e templos religiosos causam perdas sociais à população.

111
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