(APLs) Como Estratégia de Desenvolvimento

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Arranjos Produtivos Locais (APLs)

como Estratégia de Desenvolvimento

Cleidson Nogueira Dias1

Resumo1
Esta pesquisa busca analisar a importância das aglomerações territoriais, com ênfase no Arranjo
Produtivo Local (APL), para o desenvolvimento das regiões brasileiras. Para tanto, utilizou-se, além
da revisão bibliográfica, a análise de um questionário aplicado aos dirigentes de uma das principais
políticas públicas com vistas ao desenvolvimento territorial brasileiro: a Política Nacional de Desen-
volvimento Regional (PNDR) do Ministério da Integração Nacional (MI). Os resultados mostraram
que, na efetivação da política estudada neste trabalho, os arranjos produtivos locais influenciam
positivamente o alcance dos seus objetivos e se constituem em uma forte ferramenta de apoio, tendo
uma importância de destaque entre os fatores que impulsionam o desenvolvimento.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Aglomerações territoriais. Arranjos produtivos locais. Ministério
da Integração Nacional.

Abstract
This research inquity to analyze the importance of territorial agglomerations, with emphasis on Local
Productive Arrangement, for developing regions. Therefore, we used this research, besides the literature
review, analysis of a questionnaire administered to leaders of one of the major public policies aiming
at territorial development in Brazil, the National Policy for Regional Development from the Ministry of
National Integration (MI). The results showed that in the implementation of policies by this research,
the Locals Productives Arrangements influences positively the reach of its objectives and is an strong
tool support, having an outstanding importance among the factors that stimulate development.
Keywords: Development. Territorial agglomerations. Local production arrangements. Ministry of
National Integration.

1
Professor e coordenador do curso superior de Administração na Faculdade Projeção – Unidade Ceilândia/
DF; analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Bacharel em Administração; mestre
em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio
Vargas (FGV/Ebape); e doutorando em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração
da Universidade de Brasília (UnB/PPGA). [email protected]; [email protected]

DESENVOLVIMENTO EM QUESTÃO
Editora Unijuí • ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011 p. 93-122
Cleidson Nogueira Dias

O fenômeno de interação e cooperação nas aglomerações produtivas


ocorreu, ao longo da história, em diversas regiões do mundo, e a literatura que
trata das aglomerações empresariais criou uma diversidade de nomenclaturas
para denominar essas aglomerações, das quais se destacam os clusters, arranjos
produtivos locais, distritos industriais, polos e parques científicos, milieux
inovadores, consórcios, fóruns e outras variações. Amaral Filho e outros
(2002), contudo, observam que, na literatura internacional, essa diversidade
convergiu para três categorias fundamentais: distrito industrial, ambiente
inovador (milieu inovateur) e cluster.

No Brasil, a interpretação desses conceitos deu origem ao conceito


de Arranjo Produtivo Local, que passou a ser bastante utilizado no país por
instituições públicas e privadas, também se generalizando entre grupos de
pesquisa. Um dos mais importantes e reconhecidos esforços de análise e
pesquisa empírica sobre os “arranjos produtivos locais” foi desenvolvido
pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no
âmbito do programa Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos
Locais (RedeSist).

Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é o de analisar a relevância


do fomento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) para o desenvolvimento,
segundo a ótica dos seus partícipes. Deste modo, foram levantadas e inter-
pretadas as percepções dos colaboradores da Política Nacional de Desen-
volvimento Regional (PNDR), por meio de um questionário aplicado ao
corpo gerencial da Secretaria de Programas Regionais (SPR) do Ministério
da Integração Nacional (MI).

A secretaria é composta de 1 secretário, 2 diretores, 4 coordenadores-


gerais de programas e projetos e 13 gerentes (responsáveis técnicos) de
cada uma das mesorregiões prioritárias para as ações do Ministério, além
dos demais servidores, que estão em um patamar mais baixo na hierarquia.
Assim, incluímos na pesquisa os coordenadores de programas, gerentes das

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mesorregiões e a equipe do Projeto Produzir, ou seja, os coordenadores dos


3 programas de desenvolvimento, a coordenadora do Projeto Produzir, os 13
gerentes das mesorregiões e membros da equipe do Projeto Produzir.

Quanto à metodologia da pesquisa, tomou-se por base, portanto, no


presente artigo, a taxonomia apresentada por Vergara (2007), que se carac-
teriza por classificar os tipos de pesquisa de acordo com a ótica dos fins aos
quais a pesquisa se destina, bem como a quais meios de investigação foram
utilizados.

Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, pois se valeu de in-


formações contidas em livros e publicações técnicas e acadêmicas, e docu-
mental, em observância ao uso de material interno de órgão público, como
registros, informativos, ofícios, memorandos e relatórios, não acessíveis ao
público em geral.

Quanto aos fins, a pesquisa foi exploratória, uma vez que é realizada
em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado.

Aglomerações Territoriais
Nos últimos anos, a dimensão espacial voltou a despertar interesse
com a tentativa de se entender as razões que levaram ao surgimento de
aglomerações1 de micro e pequenas empresas eficientes e competitivas em
certas localidades. Assim, segundo Castanhar (2006, p. 338-339):

Os casos que inicialmente despertaram o interesse de pesquisadores e


estudiosos e que se transformaram em referência para toda uma vertente
de economia voltada para o estudo do desenvolvimento regional foram
os distritos industriais existentes no norte e no nordeste da Itália – a

1
O termo aglomeração – produtiva, científica, tecnológica e/ou inovativa – tem como aspecto central a
proximidade territorial de agentes econômicos, políticos e sociais (empresas e outras instituições e orga-
nizações públicas e privadas).

Desenvolvimento em Questão 95
Cleidson Nogueira Dias

chamada Terceira Itália – e o aglomerado de empresas de alta tecnologia


e software que se localizaram na região da Califórnia, nos EUA, que veio
a ser conhecida como vale do Silício.

Na concepção elaborada, em 2003, pela rede de pesquisa em sistemas


produtivos e inovativos locais (RedeSist2), o conceito de distritos industriais
foi introduzido pelo economista inglês Alfred Marshall, em fins do século
19. Tal conceito deriva de um padrão de organização comum à Inglaterra
do período, onde pequenas firmas concentradas na manufatura de produtos
específicos, em atividades econômicas como têxtil, gráfica e de cutelaria,
aglomeravam-se, em geral, na periferia dos centros produtores.

Alfred Marshall (1842-1924) deu grande destaque ao elemento espaço na


análise econômica. Lembrou que, historicamente, a atividade econômica
tende a se localizar em alguns sítios e que as civilizações se desenvol-
vem com a produção para a exportação para os mais distantes centros
consumidores. Ele cunhou o termo “economias externas” para designar
os benefícios que se originam da concentração da atividade econômica
em alguns centros (Souza, 2009, p. 6).

Sem dúvida, entre as várias estratégias de desenvolvimento local ou


de consolidação de sistema produtivo local, os distritos industriais italianos
são aqueles que mais se aproximam do tipo-ideal marshalliano, quer dizer,
uma aglomeração de pequenas empresas organizadas por uma divisão de
trabalho baseada no equilíbrio entre concorrência e cooperação, funcionando
sobre uma intrincada relação em rede, impulsionada por inovações contínuas
e especializada na produção de produtos de alta qualidade (Amaral Filho
et al., 2002).

Segundo Pyke, Becattini e Sengenberger (1990 apud Amaral Filho


et al., 2002) qualquer definição de distrito industrial não estará livre de
controvérsia. Os autores, no entanto, definem esse conceito como um sis-

2
Disponível em: <http//:www.redesist.ie.ufrj.br>.

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tema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas que


são envolvidas em vários estágios – e em várias vias – na elaboração de um
produto homogêneo. Um forte traço desse sistema é que uma vasta rede
dessas empresas industriais, criada a partir dos anos 70, é de pequeno ou
muito pequeno porte. Muitos desses “distritos” foram encontrados no Norte
e no Nordeste da Itália, chamada Terceira Itália, ao redor das cidades de
Bolonha, Florença, Ancona, Veneza e Módena. Eles eram especializados em
diferentes produtos que abrangiam desde fábricas de calçados, cerâmicas,
têxteis e de confecções, até fabricantes de motocicletas, equipamentos
agrícolas, autopeças e máquinas de ferramentas.

Para Castanhar (2006), nos distritos industriais identifica-se uma


relação entre as esferas social, política e econômica no interior do sistema
produtivo. Dessa forma, o sucesso dos distritos depende não só da dimensão
econômica (organização da produção, tecnologia, mercados, produtividade,
etc.), mas também, em grande escala, das dimensões social e político-insti-
tucional. Assim, nos distritos industriais italianos, uma importante caracterís-
tica identificada é a cooperação. De fato, os estudiosos dessas experiências
atribuem à cooperação desenvolvida pelas empresas desses distritos os
ganhos que puderam ser constatados pela elevada taxa de crescimento das
exportações e pela grande capacidade inovadora da Itália nos anos 1980 e
1990 – que se originou, em boa parte, nesses distritos.

A análise de aglomerações produtivas segundo a abordagem do milieu


innovateur – traduzido como ambiente inovador ou entorno inovador – reflete
uma preocupação legítima em identificar os elementos que podem, por um
lado, fornecer elementos para contribuir para a sobrevivência dos distritos
industriais e, de outro, fornecer elementos para que outras regiões e locais
pudessem despertar seus próprios projetos de desenvolvimento de maneira
planejada, inovadora e sólida. Essa corrente dispensa atenção especial para a
tecnologia, por considerá-la questão essencial no processo de transformações
das últimas décadas (Aydalot, 1986, apud Amaral Filho et al., 2002). Nesse
aspecto, a estratégia de milieu innovateur destaca-se daquela de distrito in-

Desenvolvimento em Questão 97
Cleidson Nogueira Dias

dustrial porque, enquanto este privilegia a visão do “bloco social”, aquele


confere às inovações uma certa autonomia e um papel determinante. Não
obstante, o milieu inovateur não se contrapõe ao surgimento e à existência de
micro e pequenas empresas, desde que elas sejam inovadoras.

Para o Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Lo-


cais, da rede de pesquisa RedeSist (2003, p. 18), o milieu inovateur pode ser
definido como “o local ou a complexa rede de relações sociais em uma área
geográfica limitada que intensifica a capacidade inovativa local através de um
processo de aprendizado sinergético e coletivo. Consideram-se não apenas
as relações econômicas, mas também sociais, culturais e psicológicas.”

O conceito referido foi criado por iniciativa do Group de Recherche


Européen sur les Milieux Innovateurs (Gremi), que reuniu, a partir de 1985,
pesquisadores da Europa, principalmente da França, Bélgica e Itália,
que analisavam as relações entre a inovação e o território, com destaque
aos trabalhos de Aydalot (1986), Maillat (1995) e Camagni (1995). Vários
pesquisadores que participaram da identificação e revelação dos distritos
industriais italianos também tomaram parte da agenda de pesquisa do Gremi,
cujo objetivo foi desenvolver uma metodologia comum e uma abordagem
teórica que permitissem uma análise – de forma territorializada – da inovação,
enfocando o papel do ambiente ou meio (milieu) no processo de desenvol-
vimento tecnológico. Destarte, está intrínseca a noção de que o processo
de desenvolvimento tecnológico e a formação de um espaço econômico
são fenômenos inter-relacionados, que têm lugar em um vasto processo de
desenvolvimento e reestruturação industrial.

O ambiente ou meio está no centro do sistema produtivo local, im-


plicando surgimento e manutenção de uma lógica de interação dinâmica,
facilitando a aprendizagem socialmente ampliada dos atores locais. Nesse
sentido, a inovação torna-se um processo coletivo, o qual é provocado com
complexidade e interatividade. O sucesso dessa dinâmica explica por que
algumas áreas inovam e outras não. As regiões adotam novos processos e

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produtos, que procuram a cooperação entre as empresas e demais agentes


locais, promovendo a investigação, a criação e a difusão do conhecimento.
A interação entre os agentes locais, com o apoio das autoridades locais e
regionais, reduz a incerteza e os riscos associados à inovação. Desse modo,
os meios só têm sucesso se mantiverem uma coerência interna, um sentido
de cooperação e uma visão comum do futuro (Maillat, 1995, p. 228 apud
Souza, 2009).

Percebe-se, por esse viés tecnológico, que a corrente dos defensores


dos milieux innovateurs apresenta certa preocupação em evitar que deter-
minadas regiões periféricas não sejam vítimas dos resultados perversos
difundidos pela desintegração do modelo fordista de produção (Amaral Filho
et al., 2002). Para Castanhar (2006), esse modelo pressupõe a produção em
massa, obtida principalmente com a verticalização do processo produtivo.
Nesse contexto, o processo de globalização e de reengenharia pela qual as
grandes empresas multinacionais passaram, com frequência, resultaram na
fragmentação do processo de produção. Esse processo pode vir também
acompanhado de uma desintegração espacial da produção, que resulta no
traslado das firmas, ou de parte delas, à procura de regiões que apresentem
vantagens locacionais.

Amaral Filho et al. (2002) afirmam que a desintegração vertical per-


mite que a empresa separe o núcleo estratégico – encarregado de pesquisa e
desenvolvimento, marketing, etc. – das partes de produção e/ou montagem;
logo, a empresa pode simplesmente conservar o seu núcleo estratégico no
lugar de origem e deslocar para outras regiões aquelas partes de simples
montagem do produto. Nesse caso, segundo análise de Castanhar (2006),
um fator importante para a escolha da região que vai receber essa ativida-
de é o custo da mão de obra, o que pode tornar ilusória a vantagem de ter
“atraído” uma grande empresa, posto que esta pode facilmente transferir a
produção para outra região quando (e se) cessarem as vantagens comparativas
identificadas inicialmente.

Desenvolvimento em Questão 99
Cleidson Nogueira Dias

As janelas de oportunidades abertas pela desintegração da produção


fordista para que uma região periférica passe a crescer, portanto, pode ser
apenas uma bolha passageira sem a capacidade de realizar a união entre
território e indústria. Nesse caso, o conceito de milieu innovateur fornece
subsídios importantes para se tentar evitar a formação de uma industrialização
vazia e por natureza nômade, sem vínculos permanentes com a região e, por
conseguinte, mais vulnerável (Amaral Filho et al., 2002).

A estratégia de aglomerações produtivas baseada no cluster, cuja


tradução denotativa significa “agrupamento”, também é empregada em
estudos de estruturas morfológicas de sistemas complexos na geografia,
na astronomia, na sociologia e na economia para descrever aglomerações
produtivas locais.

A comunidade científica começou a observar que a proximidade


física das pequenas e médias empresas (PMEs) propiciava não somente
externalidades (ou, como conhecido na literatura de economia regional,
economias de aglomeração), mas também condições para uma interação
cooperativa no sentido da superação de problemas comuns. Tais aglomerações
são chamadas de clusters.

Amato Neto (2008, p. 53) afirma que, de modo abrangente, o cluster


pode ser entendido como a “concentração setorial e geográfica de empresas”.
Por isso, segundo o autor, é importante frisar que são formados apenas quando
os aspectos setorial e geográfico estão concentrados. De outra maneira, o que
se tem é apenas organização de produção em setores e geografia dispersas,
não formando, portanto, um cluster. Neste caso, o escopo para a divisão do
trabalho e economia de escala é pequeno. Em contrapartida, no caso de um
cluster, encontra-se amplo escopo para a divisão de tarefas entre empresas,
bem como para a especialização e para a inovação – insumos imprescindí-
veis para a competição em mercados externos. Há também, nesse caso, um
espaço significativo para a ação sinérgica das empresas pertencentes a um
cluster, o que não ocorre em sistemas dispersos.

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Os clusters “consistem de indústrias e instituições que têm ligações


particularmente fortes entre si, tanto horizontal quanto verticalmente,
e, usualmente, incluem: empresas de produção especializada, empresas
fornecedoras, empresas prestadoras de serviços, instituições de pesquisas
e instituições públicas e privadas de suporte fundamental” (Haddad, 1999,
p. 24).

Para Amaral Filho e outros (2002), o autor de maior influência na


composição estrutural do conceito do cluster parece ter sido Michael Porter
(1990). Até 1998, contudo, esse nome não aparecia no título dos incontáveis
artigos do autor. Tudo indica, todavia, que a estrutura de um cluster, como
é veiculado sobretudo nas empresas internacionais de consultoria, guarda
íntima relação com o diamante de Porter.

De acordo com Porter (1999), quatro amplos atributos são capazes


de promover a inovação e vantagens competitivas. Atributos que, isolados
e como sistema, lapidam o “diamante” de vantagem nacional. Esses atri-
butos são:

1. Condições dos fatores. A posição do país quanto aos fatores de produção


– como mão-de-obra qualificada e infra-estrutura – necessários para
competir num determinado setor;

2. Condições da demanda. A natureza da demanda no mercado interno


para os produtos ou serviços do setor;

3. Setores correlatos e de apoio. A presença ou a ausência, no país, de seto-


res fornecedores e outros correlatos, que sejam internacionalmente
competitivos;

4. Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas. As condições predomi-


nantes no país, que determinam como as empresas são constituídas,
organizadas e gerenciadas, assim como a natureza da rivalidade no
mercado interno (Porter, 1999, p. 178).

Desenvolvimento em Questão 101


Cleidson Nogueira Dias

Estratégia, Estrutura e
Rivalidade das
Empresas

Condições dos Fatores Condições da


Demanda

Setores Correlatos e
de Apoio

Figura 1 – Determinantes das vantagens competitivas nacionais


(Porter, 1999, p. 179)
Ao analisar a vantagem competitiva das nações, Porter deparou-se com
clusters bem-sucedidos em diversos setores industriais. Para ele, um cluster
pode ser entendido como “concentrações geográficas de empresas inter-
relacionadas, fornecedores especializados, prestadores de serviço, empresas
em setores correlatos e outras instituições específicas (universidades, órgãos
de normalização, associações comerciais) que competem, mas que cooperam
entre si” (Porter, 1999, p. 209-210).

Em um primeiro momento, as pessoas que leram o livro de M. Porter


ou o seu artigo na Harvard Business Review (nov./dez. de 1989) e haviam
procurado entender por que determinadas cidades concentravam suas
empresas em determinado tipo de produto apresentaram a satisfação de
dizer “enfim surgiu a explicação”. As cidades do calçado, do bordado, das
malhas, da cerâmica, etc. não eram mais anomalias inexplicáveis. Eram
os casos de clusters de negócios, normais e naturais. Essas pessoas tiveram
uma aceitação imediata das idéias de competitividade dos clusters como
apresentado por Porter (Zaccarelli et al., 2008, p. 6).

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Ainda para Zaccarelli et al. (2008), as empresas introduzidas no modelo


de clusters desfrutam de vantagens competitivas sobre empresas concorrentes
isoladas, e a fonte para essas potenciais vantagens não foi construída por
nenhum empreendedor ou estrategista.

A estratégia do cluster, tal como vista pela corrente porteriana, procura


recuperar alguns conceitos tradicionais, como “polo de crescimento” e “efei-
tos concatenados”, de Perroux e Hirschman, respectivamente, presentes
na ideia de indústria-chave ou indústria-motriz, conjugada com uma cadeia
produtiva que tem como propósito adicionar o máximo de valor possível
(Castanhar, 2006).

Essa recuperação é processada através da incorporação de vários ele-


mentos que aparecem naqueles exemplos exitosos de desenvolvimento
endógeno e que estavam ausentes naqueles conceitos e modelos tradi-
cionais, que, aliás, serviram para estes como pontos críticos, quais sejam,
(i) articulação sistêmica da indústria com ela mesma, com o ambiente
externo macroeconômico e infra-estrutural e com as instituições públicas
e privadas, tais como universidades, institutos de pesquisa, etc. a fim de
maximizar a absorção de externalidades, principalmente tecnológicas; (ii)
plasticidade na ação conseguida através de uma forte associação entre a
indústria e os atores e agentes locais que permita processos rápidos de
adaptações face às transformações do mercado e (iii) forte vocação externa,
sempre buscando o objetivo da competitividade exterior (Amaral Filho
et al., 2002, p. 344).

A ideia central é constituir uma ou várias indústrias-chave em deter-


minada região, transformá-las em líderes do seu mercado, se possível inter-
nacionalmente, e fazer dessas indústrias a força motriz do desenvolvimento
dessa região, objetivos alcançados por meio da mobilização integrada e total
entre os seus agentes. Assim, a abordagem de cluster se distingue tanto da
visão fordista tradicional, identificada com a grande indústria de produção de
massa, quanto da visão predominante nos distritos industriais, identificada
com a pequena produção flexível.

Desenvolvimento em Questão 103


Cleidson Nogueira Dias

Além disso, a estratégia de cluster está mais próxima da ideia de um


“modelo”. A evidência mais clara desse aspecto é o fato de se encontrar com
frequência, na literatura sobre cluster, a solução do “diamante” proposto
por Porter, uma solução forte e até certo ponto convincente. Desse modo,
o cluster tem a vantagem de assumir uma forma mais precisa do que outros
conceitos e estratégias de desenvolvimento regional.

Observou-se, especificamente no Brasil, ao longo da última década,


um crescimento econômico muito mais acentuado em regiões periféricas,
fato que caracterizou um processo de gradual interiorização da atividade
econômica brasileira. Nesse contexto, para Castanhar (2006, p. 329-330),

esse deslocamento da atividade econômica para o interior do país esteve


associado ao dinamismo de aglomerações de micro, pequenas e médias
empresas. Essas aglomerações, quando apresentam um razoável grau de
coordenação interior, envolvendo articulação entre as empresas e entre
essas e outras instituições públicas ou privadas, são denominadas “arranjos
produtivos locais” (APLs).

Arranjos Produtivos Locais (APLs)


No final da década de 90, o programa RedeSist (Rede de Pesquisa
em Sistemas e Arranjos Produtivos Locais) iniciou uma série de estudos
sobre aglomerações produtivas e elaborou o conceito de Arranjo Produtivo
Local (APL).

A abordagem utilizada ressalta não somente a importância da orga-


nização social e política dos atores e a interação e cooperação entre eles,
presentes na definição de “distritos industriais”, mas também a relevância
da inovação, destacada no conceito de milieu innovateur. Os pesquisadores
da RedeSist optaram por definir de forma distinta duas categorias analíticas:
os “sistemas produtivos e inovativos locais” (Spils) e os “arranjos endógenos
produtivos locais” (APLs).

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ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

A concepção de APLs elaborada pela Rede de Pesquisa em Sistemas


Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) é: “Arranjos Produtivos Locais são
aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco
em um conjunto específico de atividades econômicas que apresentam vín-
culos, mesmo que sejam incipientes” (Zapata; Amorim; Arns, 2007, p. 73).

Não é este, porém, o entendimento comum na literatura, pois os


APLs, se comparados aos Spils, não se caracterizam como sistemas que
apresentam maior complexidade na interação dos agentes. Assim, segundo
Lastres e Cassiolato (2008), os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(Spils) designam conjuntos de atores econômicos, políticos e sociais locali-
zados em um mesmo território, cuja articulação contribui para a produção
de bens e serviços específicos. Os Spils comumente incluem:

• empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de bens e


serviços (matérias-primas, equipamentos e outros insumos), distribuido-
ras e comercializadoras, consumidoras, etc. atuando nos três setores da
economia, ou seja, no primário, secundário e terciário;

• demais organizações voltadas para a formação e treinamento de pessoas,


pesquisa e desenvolvimento, informação, promoção e financiamento;

• cooperativas, sindicatos, associações e representações de todo o tipo.

Já os Arranjos Produtivos Locais (APLs), para os autores, designam


aqueles casos fragmentados e que não apresentam significativos vínculos
entre os atores de interação, cooperação e aprendizagem, que são essenciais
para a geração e mobilização de capacitações produtivas e inovativas. De fato,
a base do dinamismo e da competitividade das empresas não se restringe:

• a uma única empresa ou a um único setor, estando fortemente associada


a atividades e capacidades existentes ao longo da cadeia de produção e
comercialização. Envolve, ainda, uma série de atividades e organizações
responsáveis pela assimilação, uso e disseminação de conhecimentos e
capacitações;

Desenvolvimento em Questão 105


Cleidson Nogueira Dias

• apenas aos atores econômicos e às cadeias e complexos produtivos, mas


reflete também as particularidades dos demais atores sociais e políticos,
bem como dos ambientes onde se inserem.

Para melhor entendimento Zapata, Amorim e Arns (2007) propõem


um diagrama sobre Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Sistemas Produtivos
Locais (SPLs), no qual cada círculo representa um ator (produtor, empresa,
instituição); as ligações entre esses atores correspondem às relações de inter-
dependência. Dependendo da intensidade dessas e da densidade produtiva,
a aglomeração tende a se caracterizar como um APL ou SPL, apresentando
maior complexidade e eficiência.

A Figura 2 representa um APL, que consiste em aglomerações


territoriais de atores (econômicos, políticos, institucionais, sociais) com
foco em um conjunto específico de atividades econômicas ou vínculos de
interdependência:

Figura 2 – Representação de um Arranjo Produtivo Local (APL)


Fonte: Zapata, Amorim e Arns (2007).

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ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Os Sistemas Produtivos Locais (SPLs) são aglomerações territoriais


de atores com fortes vínculos de interdependência e articulação, resultando
em: interação, cooperação, aprendizagem, inovações (produtos, processos e
formatos organizacionais), maior competitividade territorial e capacitação
social. A Figura 3, mostra uma representação desse sistema:

Figura 3 – Representação de um Sistema Produtivo Local (SPL)


Fonte: Zapata, Amorim e Arns (2007).

Figura 4 – Evolução de um APL para um SPL (inter-relacionamento,


interdependência, articulação, cooperação)
Fonte: Zapata, Amorim e Arns (2007).

Desenvolvimento em Questão 107


Cleidson Nogueira Dias

Como não existe, no entanto, uma padronização no uso dos termos


entre os pesquisadores e instituições, os conceitos de cluster, APL e SPLs
são usados, muitas vezes, como sinônimos. Tal fato decorre de uma impre-
cisão no uso dos conceitos, notadamente no que se refere ao balizamento e
fundamentação de políticas públicas que pretendem a promoção setorial,
localizada em territórios que apresentam relativo dinamismo institucional,
empresarial e não empresarial.

Independentemente da diversidade de nomenclatura e das categorias


analíticas associadas a aglomerações empresariais, o que há em comum
entre elas é o reconhecimento de que essas aglomerações, como quer que
sejam denominadas, são um poderoso e eficaz instrumento para impulsio-
nar o desenvolvimento regional e nacional a partir de ações locais. E que,
nessas aglomerações, as micro, pequenas e médias empresas exercem um
papel central. Além disso, as políticas públicas voltadas tanto para o apoio
ao desenvolvimento regional quanto para o desenvolvimento de ciência
e tecnologia, como a própria política industrial, cada vez mais utilizam
essas aglomerações empresariais como objeto (e instrumento), comple-
mentando e, eventualmente, até substituindo uma abordagem baseada
em setores ou empresas individuais (Castanhar, 2006, p. 346).

A terminologia que prevaleceu no Brasil para essas aglomerações foi


Arranjo Produtivo Local (APL), presente nas análises teóricas, nos estudos
empíricos e nas iniciativas de políticas públicas. De forma mais genérica um
APL, segundo Costa (2010, p. 127),

pode ser entendido como um grupo de agentes “orquestrados” por um


grau de institucionalização explícito ou implícito ao aglomerado que bus-
cam como finalidade, harmonia, interação e cooperação, não esquecendo,
vale repisar, que estes elementos ocorrem num ambiente competitivo, no
qual há sujeitos com distintos graus de poder e com projetos territoriais
diversos e muitas vezes antagônicos.

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ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Ainda, para este autor, sem correr o risco de redundância, cabe destacar
que o termo se refere à concentração de quaisquer atividades similares ou
interdependentes no espaço, não importando o tamanho das empresas, nem
a natureza da atividade econômica desenvolvida, podendo esta pertencer ao
setor primário, secundário ou até mesmo terciário, variando desde estruturas
artesanais com pequeno dinamismo, até arranjos que comportem grande
divisão do trabalho entre as empresas e produtos com elevado conteúdo
tecnológico.

Para concluir o entendimento sobre o termo APLs, vale a pena apre-


sentar a definição que, segundo Castanhar (2006, p. 347), é adotada pelas
diversas agências governamentais com políticas voltadas para o tema e que
se tornou também uma definição-base no próprio meio acadêmico:

arranjos produtivos locais são aglomerações de empresas localizadas em


um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm
algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre
si e com outros atores locais, tais como governo, associações empresariais,
instituições de crédito, ensino e pesquisa.

Logo, um fundamento valioso é reconhecer as vantagens de atua-


ção em APL. Esse entendimento é destacado, conforme Costa (2010), a
seguir:

• Dentro do aglomerado, a divisão do trabalho entre as empresas permite


que o processo produtivo ganhe flexibilidade e eficiência, uma vez que
as empresas são obrigadas a desenvolver competências específicas;

• A concentração de produtores especializados estimula o desdobramento


da cadeia produtiva a montante, principalmente pelo surgimento de
fornecedores de matérias-primas, máquinas e equipamentos, peças de
reposição e assistência técnica, além de serviços especializados (técnicos,
administrativos, financeiros e contábeis);

Desenvolvimento em Questão 109


Cleidson Nogueira Dias

• Este mesmo fator, por outro lado, estimula o desenvolvimento da cadeia


produtiva a jusante, por meio da atração de empresas especializadas nos
elos prospectivos e do surgimento de agentes comerciais que levam os
produtos para mercados distantes;

• Ademais, a alta concentração de uma mesma atividade no espaço permite


a formação de um contingente de mão de obra altamente especializado
e concentrado.

A importância dos Arranjos Produtivos


Locais (APLs) na Política Nacional
de Desenvolvimento Regional (PNDR)
No Brasil os APLs se consolidaram como um importante elo entre
estes dois elementos – territórios e aglomerações de empresas –, o que
impeliu uma série de estudos, pesquisas e ações de políticas direcionadas
a esta peculiar conformação produtiva. Esta preocupação está posta em um
documento recente que faz parte do “Estudo para subsidiar a abordagem
da dimensão territorial do desenvolvimento nacional no Plano Plurianual de
Ação (2008-2011) e no planejamento governamental de longo prazo (2023)”,
que visa a incorporar no planejamento do desenvolvimento a dimensão ter-
ritorial. Trata-se de uma sinalização de que a inflexão que vem ocorrendo
nos últimos anos no que se refere a uma tentativa, ainda que tímida, de se
voltar a pensar no desenvolvimento regional como política prioritária de
governo tende a se manter (Lastres, 2007 apud Costa, 2010).

Costa (2010, p. 228-229) adiciona que

Desde 1999 políticas públicas pensadas para o desenvolvimento de APLs


fazem parte oficialmente da agenda governamental, quando este tema
foi incorporado pelo MCT e incluído pela primeira vez em um plano

110 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

plurianual (PPA), no de 2000-2003. No período mais recente o MI captou


esta dimensão incluindo os arranjos produtivos como um instrumento
fundamental para o desenvolvimento regional no âmbito da Política
Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).

Bandeira (2007) lembra que, em dezembro de 2003, o Ministério da


Integração Nacional divulgou um documento, produzido por duas de suas
Secretarias, a de Políticas de Desenvolvimento Regional e a de Programas
Regionais, intitulado Política Nacional de Desenvolvimento Regional – pro-
posta para discussão. Nele é esboçada uma nova abordagem para as ações
da Administração Federal relacionadas com o desenvolvimento regional e
com o enfrentamento das desigualdades regionais.

O objeto principal da Política Nacional de Desenvolvimento Regional


(PNDR) é “a redução das desigualdades regionais e o apoio ao desenvolvi-
mento das regiões brasileiras, na busca de melhor exploração dos potenciais
que emergem da exuberante diversidade cultural, social e econômica do
nosso país” (Galvão, 2007, p. 338).

A intervenção da PNDR nas Mesorregiões Diferenciadas, de início,


não mais assume junto ao governo federal a posição de proeminência no pro-
cesso de planejamento e execução da política, pois reconhece que seu papel
é atuar como órgão de coordenação das diversas políticas que contribuem
para a integração nacional e o desenvolvimento regional, dando celeridade
aos esforços descentralizados e endógenos de regiões e localidades em busca
de melhores padrões de vida, contando, para tanto, com a participação ativa
da sociedade local e ações cooperativas das instâncias federal, estadual e
municipal.

Desenvolvimento em Questão 111


Cleidson Nogueira Dias

Assim, cabe elucidar que a Mesorregião é um espaço subnacional


entre dois ou mais estados ou de fronteira com países vizinhos, menores que
as macrorregiões, com identidade histórica, cultural, social e política e carac-
terizadas por problemas sociais, institucionais e de dinamismo econômico.

A organização social em bases sub-regionais, envolvendo Estados,


municípios e a sociedade civil, foi uma estratégia para as mesorregiões, posto
que a mobilização e o compromisso local em uma estratégia de crescimento
contribuem para o desenvolvimento endógeno de longo prazo em bases
sustentáveis.

Assim, segundo Ferreira e Moreira (2007), a escala mesorregional


é a mais indicada para a transformação das práticas de desenvolvimento
regional no país, propiciando melhores condições de internalização das
novas tendências de desenvolvimento regional, conforme ensinamentos
das experiências mundiais bem-sucedidas. Atributos como participação,
empoderamento, controle social e coordenação de iniciativas na base dos
territórios selecionados a partir da organização de atores regionais, são mul-
tiplicados em espaços onde prevalecem identidades econômicas, sociais,
culturais, ambientais, político-institucionais e históricas.

Para o desenvolvimento das sub-regiões brasileiras prioritárias, com


destaque às mesorregiões, a atuação por meio dos Programas de Desenvolvi-
mento Regional tem priorizado o estímulo à estruturação e à dinamização dos
Arranjos Produtivos Locais (APLs) na perspectiva de permitir a emergência
destes em espaços territoriais caracterizados pela desigualdade e pelo baixo
dinamismo, de acordo com a Figura 5.

112 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Figura 5 – Mesorregiões de atuação do MI, com principais APLs


Fonte: SPR/MI.

Castanhar (2006) argumenta que o desenvolvimento dos APLs exis-


tentes, com vistas ao aumento de sua competitividade e sustentabilidade,
bem como o apoio à criação de novos APLs, dependem crucialmente da
existência de políticas públicas eficazes e específicas para esse fim.

Segundo Lastres e Cassiolato (2008), a avaliação das políticas de


promoção de Arranjos Produtivos Locais (APLs) no Brasil revela uma sé-
rie de avanços. Essa oportunidade foi entendida e desenvolvida de forma
muito rápida no âmbito acadêmico e de pesquisa no Brasil nos anos 90. Sua
incorporação na esfera das políticas públicas e privadas também ocorreu de
forma precoce e rápida, passando a substituir outras supostamente análogas.
A resultante convergência, por um lado, favoreceu a aceitação e a difusão
da abordagem, assim como a articulação das ações dos agentes de política,
o que é fundamental para a maior efetividade das mesmas. Diniz, Santos e
Crocco (2006, p. 111-112) completam ao afirmar que:

Desenvolvimento em Questão 113


Cleidson Nogueira Dias

O desenvolvimento de políticas de apoio a arranjos produtivos locais


tornou-se, nos anos 1990, a mais popular ação governamental em termos
de desenvolvimento [...] as justificativas para este fenômeno são várias,
mas duas se destacam: o fato do processo competitivo atual implicar uma
revalorização do local, enquanto espaço privilegiado para o surgimento
de inovações; e o fim do estado intervencionista keynesiano, implicando
um movimento em direção à descentralização de responsabilidades do
estado no sentido da região e das localidades.

Para trabalhar os APLs, a Política Nacional de Desenvolvimento Re-


gional prioriza a territorialização, de forma a organizar as ações nas localidades
que mais a necessitam. A Secretaria de Programas Regionais do Ministério
da Integração Nacional, identifica e estimula os Arranjos Produtivos Locais
(APLs), ou melhor, os conjuntos específicos de atividades econômicas que
possuem certo vínculo e podem ser desenvolvidos por aglomerações terri-
toriais de agentes políticos, econômicos e sociais.

Cassiolato, Lastres e Szafiro (2000) indicam alguns “ingredientes


básicos” que caracterizam os APLs. São eles: dimensão territorial, especiali-
zação produtiva, conhecimento tácito,3 governança, inovação e aprendizado
interativo” (apud Zapata; Amorim; Arns, 2007, p. 77).

Ainda para Zapata, Amorim e Arns (2007), a cooperação entre os


agentes também se constitui num elemento fundamental na competitividade
do arranjo, pois o sucesso de uma unidade muitas vezes está associado ao
sucesso das outras que formam o APL.

Este modelo de arranjo, sob a tutela da teoria do desenvolvimento,


tem assentado as suas análises e prescrições na dicotomia local-global e na
exclusão das escalas intermediárias, colocando ao largo da agenda, ou mesmo

3
Conhecimento tácito: a palavra tácito vem do latim tacitus, que significa “não expresso por palavras”. Então,
conhecimento tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que está na cabeça das pessoas.
Geralmente é difícil de ser formalizado, codificado ou explicado a outra pessoa, pois é subjetivo e ine-
rente às habilidades de uma pessoa. É como andar de bicicleta: você aprende tentando, mas dificilmente
consegue explicar (“codificar”) para outra pessoa como fazê-lo.

114 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

rejeitando, qualquer papel ativo a ser desempenhado pelo Estado-nacional e


por políticas estruturantes pensadas em macroescalas, dentre estas as políticas
de desenvolvimento regional e as políticas industriais (Costa, 2010).

Neste ambiente de aglomerações territoriais como estratégia para o


desenvolvimento, associado muitas vezes às políticas públicas, emergem
reflexões sobre seus fatores-chave, que podem ser melhor entendidos sob
a ótica dos gestores que atuam diretamente na consolidação de políticas
concernentes ao tema estudado neste artigo, conforme será mostrado no
próximo tópico.

Análise dos resultados


No caso dos questionários, é útil e necessário submetê-los a testes
prévios, que antecedam sua aplicação, para o julgamento de pessoas com
reconhecida competência no assunto. Segundo Vergara (2007), o pré-teste
é realizado, solicitando que as pessoas façam seu julgamento a respeito
do questionário – lembrando que estas pessoas não poderão participar de
uma nova aplicação do questionário definitivo, ou seja, elas ficarão fora da
amostra.

Para tanto, foi feito o pré-teste com as seguintes pessoas: (I) Alam
Gualberto Teixeira – bacharel e licenciado em Ciências Sociais e especialista
em administração pública – Consultor do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS); (II) Marina Godoi de Lima – graduada em
Ciências Políticas e especialista em gestão pública – é servidora do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) na carreira de gestão governamental,
no cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; e
(III) Rosana do Carmo Guiducci – doutora em Economia Aplicada – pes-
quisadora da Embrapa (Sede).

Estes colaboradores foram escolhidos porque, além das competências


que detêm no tema, já trabalharam, por diversos anos, diretamente em pro-
gramas estratégicos de desenvolvimento regional/local do governo federal.

Desenvolvimento em Questão 115


Cleidson Nogueira Dias

Então, no que diz respeito ao universo desta pesquisa, dos 13 geren-


tes de mesorregiões que trabalham na Secretaria de Programas Regionais
(SPR/MI), público-alvo na aplicação dos instrumentos de coleta de dados,
houve o retorno de 8 questionários e entre os 4 coordenadores de programas
e projetos, 2 responderam. Entre os técnicos do Projeto Produzir, também
contido na SPR, buscou-se entrevistar os servidores com mais de dois anos
de casa, de forma que os entrevistados realmente tivessem tido um mínimo
de contato com as ações já realizadas – destes, haviam somente 2 servidores
que se encaixavam neste critério e todos responderam ao questionário. Assim,
obteve-se um total de 12 respondentes, entre os 19 possíveis.

Com relação à primeira pergunta – que questiona “se os dirigentes


concordam que a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR),
do Ministério da Integração Nacional (MI), é uma política pública que pro-
move o desenvolvimento local e regional no Brasil” – constata-se, conforme
o gráfico 1, que a grande maioria está de acordo que a PNDR atua como
promotora do desenvolvimento.

Discordo
0
Totalmente

Discordo 1

Concordo 8

Concordo
3
Totalmente

0 2 4 6 8 10

Gráfico 1 – Concordância da PNDR como promotora de desenvolvimento

116 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

No Gráfico 2, perguntamos se os fatores apresentados, conforme a


legenda, estão entre os principais impulsionadores do desenvolvimento
local e regional.

Conhecimento das particularidades do território;

Redes de cooperação entre organizações;

Capacitação profissional;

Fomento a Arranjos Produtivos Locais (APLs);

Deseja destacar outro(s) fator(es)?

14

12 12 12
11 11

10
9
8

4
3
2
1
0 0 0 0
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

Gráfico 2 – Fatores impulsionadores do desenvolvimento regional/local

Como se pode observar, houve uma concordância com todos os fatores


apontados como relevantes para o desenvolvimento local e regional, com os
quais praticamente todos os respondentes confirmaram/concordaram.

Apesar, no entanto de a maioria dos colaboradores adicionarem um


novo fator aos questionados inicialmente, 25 % deles (3 pessoas) destacaram
que existem outros fatores que poderiam ser acrescentados, a saber: (1)
Protagonismo social local, autonomia e sustentabilidade das organizações
da sociedade; (2) Planejamento, gestão e capacitação técnica dos gestores
públicos e de suas equipes; (3) Empoderamento por parte das sociedades

Desenvolvimento em Questão 117


Cleidson Nogueira Dias

locais/regionais na condução do processo, por meio da participação nos fóruns


mesorregionais; (4) Ação integrada das políticas públicas; (5) Orçamento,
capacidade gerencial das administrações e articulação política; (6) Articulação
entre políticas públicas a serem instituídas no território; (7) Fomento ao setor
turístico, que não caracteriza propriamente um arranjo produtivo local; (8)
Financiamento da infraestrutura; e (9) Organização social.

Além desses fatores, seu sucesso freqüentemente se explica a partir de


articulações com instituições, como, por exemplo, universidades, ban-
cos, institutos tecnológicos, serviços de apoio à produção e gestão. Esse
modelo está associado à idéia de rede, em que há um grande poder de
interligação entre produtores, consumidores, fornecedores e instituições
(Zapata; Amorim; Arns, 2007, p. 77).

Em seguida, pediu-se que os gestores, norteados pela pergunta ante-


rior, indicassem os dois principais fatores que estimulam o desenvolvimento
local e regional. O resultado nota-se no Gráfico 3.

0
a) Conhecimento b) Redes
Redes de c) Capacitação d)
d)Fomento
Fomentodos APLs
o APLs
das Cooperação
Cooperação Profissional
particularidades
Particularidades
território
Teritório

Gráfico 3 – Priorização de fatores que estimulam o desenvolvimento

118 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Desta maneira, visualizamos que o Fomento dos APLs foi o fator,


catalisador do desenvolvimento, priorizado como o mais relevante pela alta
gerência dos Programas Regionais do Ministério da Integração Nacional.
Assim, observa-se a importância da gestão estratégica de redes e relações
interorganizacionais no âmbito de concentrações geográficas de empresas,
cujo

fato da rede ser global e local, una e múltipla, estável e dinâmica, faz
com que a sua realidade, vista num movimento de conjunto, revele a
superposição de vários sistemas lógicos. Além disso, a mistura de várias
racionalidades cujo ajustamento é presidido pelo mercado e pelo poder
público, e, sobretudo pela própria estrutura socioespacial que também é
revelada nesse contexto (Santos, 2006, p. 278, grifo nosso).

Considerações Finais
Nos últimos anos os Arranjos Produtivos Locais (APLs) vêm se
constituindo como um importante instrumento de política econômica e
desenvolvimento local/regional. Aglomerações de pequenas e médias em-
presas estão no centro do debate contemporâneo do planejamento regional
e da ação pública.

Em síntese, para que um aglomerado de empresas caracterize um


arranjo produtivo são necessários: proximidade física, trabalho conjunto,
algum tipo de especialização produtiva, cooperação e confiança entre seus
integrantes.

Então, proximidade física entre os agentes permite que os laços de


confiança e cooperação se estreitem. Desta maneira, abrem-se espaços para
a criação de parcerias entre as empresas por meio de associações e consór-
cios. Estas, ao compartilharem da qualificação de mão de obra, da compra
de matérias-primas, máquinas e equipamentos, serviços especializados de

Desenvolvimento em Questão 119


Cleidson Nogueira Dias

logística, etc., estão obtendo acesso a competências que individualmente não


alcançariam e que lhes proporcionam eficiência, diferenciação, qualidade,
competitividade e lucratividade.

Assim, em que pese os APLs se constituírem como promissor instru-


mento de política de desenvolvimento, cabe ao Estado um papel importante
na coordenação de decisões econômicas, na regulação de mercados e serviços
públicos, no provimento de serviços sociais básicos e no desenvolvimento
de regiões menos favorecidas.

Em busca das possibilidades de intervenção do setor público nas


aglomerações produtivas industriais brasileiras, estabelecendo uma agenda
de intervenção que vise o desenvolvimento de arranjos produtivos consoli-
dados, nota-se que esse papel será mais bem-exercido, na medida em que
for planejado com o concurso da sociedade civil.

Grande parte da ação pública que objetiva o apoio ao desenvolvimento


destes aglomerados carece de uma agenda que dê direção e coerência para
a intervenção, potencializando e otimizando a ação do Estado. Desta forma,
o processo de planejamento tende a ser mais efetivo em âmbito local, con-
siderando a proximidade dos problemas e a representatividade dos atores
nele envolvidos.

Na escala mesorregional, a preferencial na atuação da Política Nacio-


nal de Desenvolvimento Regional – do Ministério da Integração Nacional
– ocorre uma ampla discussão teórica sobre o desenvolvimento endógeno na
estratégia das políticas de desenvolvimento local/regional e sobre as teorias
contemporâneas das aglomerações territoriais, com especial destaque aos
Arranjos Produtivos Locais (APLs) e às redes interempresariais intrínsecas
destes territórios.

Evidencia-se, diante disso, que a exploração de elementos teórico-


empíricos formulados pelos renomados autores citados e os resultados desta
pesquisa, que teve seu foco na Política Nacional de Desenvolvimento

120 Ano 9 • n. 17 • jan./jun. • 2011


ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS (APLs) COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

Regional, oferece alternativa para o entendimento e para novas perspecti-


vas de atuação no desenvolvimento, posicionados num contexto atual da
dimensão territorial.

Os arranjos produtivos locais estabelecem-se, portanto, por um lado,


como um importante instrumento de desenvolvimento em regiões periféricas
e, por outro, como o resultado de políticas adequadas, articuladas e pactuadas
de desenvolvimento regional.

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Recebido em: 4/1/2011


Aceito em: 27/4/2011

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