Racismo Linguistico - Gabriel Nascimento
Racismo Linguistico - Gabriel Nascimento
Racismo Linguistico - Gabriel Nascimento
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Eu não falo aqui a minha língua
Eu falo a língua que me deram
Mas essa língua é minha agora
Da forma que eu sei falar
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
“ESSA” RAÇA QUE NOS DIZEM
CAPÍTULO 2
FRANTZ FANON, ACHILLE MBEMBE E LÉLIA
GONZALEZ: INTELECTUAIS NEGROS QUE
FALAM DA RELAÇÃO ENTRE LINGUAGEM E
RACISMO
CAPÍTULO 3
POR UM CONCEITO (NOSSO) DE
RACIALIZAÇÃO, RACIALIDADE E RAÇA
CAPÍTULO 4
O DECOLONIAL (PRETO) FALA AO PÓS-
MODERNO
CAPÍTULO 5
ALGUNS TRECHOS DA HISTÓRIA BRASILEIRA
POR UMA LENTE RACIOLINGUÍSTICA
CAPÍTULO 6
O QUE FAZER? POR UMA OUTRA PERSPECTIVA
RACIOLINGUÍSTICA
REFERÊNCIAS
SOBRE O AUTOR
ALGUMAS PALAVRAS DE PREÂMBULO
A LÍNGUA E A MISCIGENAÇÃO
O LIVRO
Elejo práxis aqui para pensar, como Talal Assad (2003) fez
com o ocidente, como esse pensamento é um discurso
moderno europeu. Diversas comunidades tradicionais, das
quais se tem pesquisado e ouvido, têm permitido interrogar
se a práxis, como norteadora da ações do mundo através da
prática perspectivista de uma dada condição material,
surgiu entre os europeus, ou se eles foram os responsáveis
por cunhar seu conceito apenas. Ou seja: o conceito não
nasce antes do mundo. Isso incide naquilo que Stuart Hall
(2009) chamava atenção: nem tudo é discurso. Falaremos
mais à frente sobre essa máxima. No entanto, o falso
discurso da práxis chama atenção hoje porque passa a ser
usado por marxistas e pós-modernos como se fosse, em
primeiro plano, um pano de fundo para um mundo prático
utilitaristas em que eles vão testando saídas para a
modernidade. A única saída visível para essa modernidade
não está na expansão de um mundo moderno, mas, como
bem lembra Angela Davis (2003), a corrosão desse sistema
que, ao ser expandido, só encarcera e violenta em massa o
povo negro. Os marxistas usam se apropriam da ideia de
práxis a partir da lógica clássica, em que a Europa ainda é o
centro, e tentam, como fizeram os economistas ligados à
Comissão Economica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL), apenas quebrar a zona de dependência ao buscar
assimilação dos países subdesenvolvidos ao capital
internacional. E os pós-modernos por quererem dar conta de
tudo, do passado e do presente, e usar todos os conceitos
como uma grande colcha de retalhos, em que tudo se usa,
tudo se entende e tudo é decodificado, como se tudo
necessariamente devesse passar por uma decodificação.
Se a práxis for usada em contraposição com o próprio
sujeito moderno europeu, perceberemos que ele não só
nunca usou a práxis, mas como abriga esse conceito como
forma de evangelização dos povos que dominou. Ora por
ignorar como os próprios povos tradicionais heterogêneos
não brancos pensavam o mundo, ora por entrar nesses
lugares com conceitos prontos de ciência êmica, holística,
participante, etnográfica, com cunho intervencionista, em
que supostamente a teoria nascerá da prática, ignorando as
posturas muitas vezes mais êmicas e holísticas dos próprios
participantes.
Souza (2011) analisa isso na prática no Brasil quando
investiga a educação indígena. Entre o assimilacionismo e a
resistência, ele propõe que essa dicotomia é muitas vezes
criada pelo pesquisador que, a partir de uma visão de fora,
julga o indígena. O próprio pesquisador, cheio de
conceituações do que é práxis, do que é ciência êmica,
holística, não percebe no indígena a própria visão
perspectivista que pode civilizar o conceito de práxis.
Sabemos perfeitamente (ou deveríamos) o quanto de
moderno e europeu tem disso. Trata-se aqui, pensando a
tecnologia de opressão da escrita, de pensar o quanto
teorizar sem antes conhecer o mundo passa a ser o maior
problema moderno. Ou seja, quem nunca conheceu
comunidades que teorizam a partir da realidade do seu
próprio mundo, instrumentaliza o outro a partir do seu olhar
limitado.
Por isso, nos certificamos desse ser o primeiro ponto aqui
explorado.
8 Ver:<https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2018/06/05/taxa-de-homicidios-de-negros-
cresce-26-em-10-anos-mortes-de-brancos-caem.htm>.
Acesso em: 15 ago.2019.
9 O estruturalismo aqui é visto como um conjunto de
teorias que surgem a partir da publicação do livro Curso
de linguística geral, editado pelos alunos do linguista
suíço Ferdinand de Saussure, a partir de um curso dele.
Os maiores problemas do estruturalismo é a visão
centrada numa objetividade científica dada à língua, em
que ela passa a ser vista como um sistema universal em
que a própria historicidade do sujeito não é reconhecida
como produtora dos atos da linguagem. O pós-
estruturalismo se opõe a isso ao inserir a figura de
sujeito e história como formas de compreender as
formas de produção da linguagem. Porém, como aqui
queremos demonstrar, o pós-estruturalismo é uma
teoria eurocêntrica que, ao passo que permite
compreender os problemas da linguagem no mundo
contemporâneo, como observam as estudiosas
Woodward (2000) e Norton e Toohey (2011), limitam seu
olhar ao mundo europeu e ignoram as narrativas de
resistência ao colonialismo e à colonialidade, como
analisam Spivak (2010) e Stuart Hall (2009).
28 Disponível
em<https://www.nytimes.com/2014/11/19/opinion/the-
case-for-black-with-a-capital-b.html>. Acesso em: 17
ago. 2019.
38 Disponível em <
http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/20
18-04/Diretorio_dos_indios_de%29_1757.pdf>. Acesso
em: 18 ago. 2019.
39 Debatemos o conceito de linguicídio no primeiro
capítulo.
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Dicionário de Hermenêutica
Streck, Lenio Luiz
9788595300729
320 páginas
Este livro pode ser usado como um manual para quem quer
também se aventurar a pensar, com responsabilidade, a
complexidade – incluindo cada vez maiores ambiguidades –
do nosso mundo atual. Não é mais possível fundamentar
ativismos em certezas emancipatórias do passado. É preciso
admitir: ninguém entende o que está acontecendo, ninguém
tem nenhuma proposta salvadora, capaz de gerar consenso
absoluto, mesmo dentro de bolhas. E todos os passos e
discursos são perigosos, todos escondem múltiplas
armadilhas. É preciso encarar de frente aquilo que é difícil.
Que fazer? E fazer com quais ferramentas? Alê resume bem
o impasse central de qualquer iniciativa democrática hoje:
As hashtags mobilizadoras, as guerras virtuais, os memes e
toda forma de ativismo atual, majoritariamente ocupam a
timeline de grandes plataformas, geridas por interesses de
grandes empresas. Para os ativistas, parece não existir
outra maneira de mobilização on-line que não seja travar as
disputas nesses grandes condomínios privados, que reúnem
grande parte da população.