Aula 05 - Consumação Tipo Penal, Sujeito, Objeto e Núcleo

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Aula 05

4) Consumação

Segundo o artigo 14, inciso I, do CP, considera-se consumado o crime quando nele se
reúnam todos os elementos de sua definição legal, ou seja, quando o tipo penal se encontra
realizado. Exemplos:

a. O crime de homicídio (art. 121 do CP) se consuma com a morte da vítima (crime
material);
b. O estelionato (art. 171 do CP) também é um crime material, motivo pelo qual se
consuma quando o agente obtém efetivamente a vantagem ilícita;
c. O delito de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação (art.
122 do CP) é um crime formal, que se consuma com a mera prática de qualquer
dos verbos do tipo penal, não exigindo a produção do resultado naturalístico.

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Recordando!

Tipo penal. Trata-se da descrição da conduta humana prevista na lei penal. Os elementos do
tipo são: sujeito, objeto e núcleo.

→ Os sujeitos do tipo são classificados em ativo e passivo.

No caso do agente (criminoso/ativo), o crime pode ser:

a. Comum (o crime pode ser cometido por qualquer agente);


b. Próprio (quando exige uma qualidade especial do agente, por exemplo, a condição
de funcionário público ou de médico (omissão de notificação de doença, como
dengue, tuberculose, ebola, malária etc.)); ou
c. De mão própria (é o crime que só pode ser praticado por uma pessoa determinada
em uma situação especial, ou seja, quando o agente é incapaz de delegar a
execução a um terceiro; não admite coautoria - pluralidade de agentes -, mas
somente a participação). Ex.: crime de falso testemunho (art. 342 do CP - fazer
afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador,
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial,
ou em juízo arbitral); crime de autoaborto (art. 124 do CP - aborto provocado pela
gestante).

Atenção! Ressalta-se, a título ilustrativo, que há decisões do STF e STJ admitindo a coautoria
do advogado no crime de falso testemunho, no entanto não se trata de um posicionamento
consolidado e há inúmeras críticas doutrinárias a respeito.

• O sujeito passivo pode ser direto, imediato ou eventual. Trata-se, nesse caso, do titular
do bem jurídico tutelado pela norma. Ex.: no caso de furto (art. 155 do CP), o bem jurídico é
atribuído ao titular da coisa alheia móvel.
• O sujeito passivo indireto, mediato ou constante, será sempre o Estado. Nas palavras
do doutrinador Rogério Greco, “o Estado sofre todas as vezes que suas leis são
desobedecidas”.

O Estado pode ser, em alguns casos, sujeito passivo direto e indireto ao mesmo tempo,
quando o próprio Estado for o titular do bem jurídico tutelado. Ex.: crimes contra a
administração pública (arts. 312 a 327 do CP).

→ Os objetos do tipo são: o jurídico e o material.

Sempre haverá o objeto jurídico no tipo, que corresponde ao bem jurídico tutelado
pela norma, podendo ser uniofensivo ou pluriofensivo. No caso do furto, por exemplo, a
tutela é o patrimônio. No caso do crime de homicídio, é a vida. Ambos são uniofensivos. Ainda
nesse contexto, o crime poderá ser pluriofensivo quando a realização da conduta ofender
mais de um bem jurídico. Ex.: no latrocínio previsto no artigo 157, §3º, II, do CP, os bens
jurídicos tutelados são o patrimônio e a vida.

Objeto material. Corresponde à pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta


criminosa. Ex.: no crime de furto, o objeto material será coisa furtada; em um crime de
homicídio, será a pessoa que foi morta.

Importante! Não é todo crime que possui objeto material. Ex.: ato obsceno (art. 233 do CP) -
a pessoa fica pelada na rua ou fica exibindo seu órgão sexual.

→O núcleo corresponde ao verbo da conduta criminosa.

O crime pode ser uninuclear, quando o tipo descreve apenas um verbo relacionado à
conduta criminosa. Ex.: subtrair. O crime pode ser plurinuclear. Ex.: induzir, instigar ou auxiliar
alguém ao suicídio ou à automutilação.

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Arrependimento posterior

Diz o artigo 16 do CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços”.

✓ Qual a natureza jurídica do instituto?

Trata-se de causa geral de diminuição de pena, ou seja, uma minorante.

Por critérios de política criminal, nos termos do que escreve Rogério Greco, esse artigo
tem por objetivo estimular a reparação do dano pelo agente, isso para os crimes cometidos
sem o emprego de violência ou grave ameaça.

O arrependimento posterior, por sua vez, não exclui o crime, pois este já se
consumou, mas é causa obrigatória de diminuição de pena.
O arrependimento posterior é chamado de ponte de prata!

✓ Infrações penais que admitem sua aplicação

Primeiramente, é necessário delinear que a violência pode ser física, com o emprego
de força física no sentido de que a vítima realize uma conduta ou não, e pode ser também
moral, traduzindo-se no emprego de grave ameaça à pessoa.

Nesse sentido, o art. 16 será aplicado somente para os casos em que o tipo não tenha,
como um de seus elementos, o emprego da violência ou grave ameaça. Um exemplo colocado
pela doutrina envolve o crime de furto, ainda que qualificado pela destruição ou rompimento
de obstáculo (art. 155, §4º, I, do CP), visto que, embora haja um ataque à coisa, inexiste
violência contra a pessoa.

Outro exemplo envolve o crime de dano (art. 163 do CP). A violência, nesse caso, é
voltada à coisa a qual se quer destruir, deteriorar ou inutilizar, o que possibilita a aplicação
da referida norma.

Conforme conteúdo extraído do site Dizer o Direito4, ainda é possível a aplicação do


artigo 16 do CP nos casos em que o agente tenha praticado, culposamente, violência contra
a pessoa. Ex.: lesão corporal culposa no trânsito (art. 303 do CTB).

 Seria possível aplicar o instituto ao homicídio culposo?

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE


VEÍCULO AUTOMOTOR. ARREPENDIMENTO POSTERIOR. INAPLICABILIDADE. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. 1. Esta Corte possui firme entendimento de que, para que
seja possível aplicar a causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal, faz-
se necessário que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos patrimoniais.
Precedentes. 2. Inviável o reconhecimento do arrependimento posterior na hipótese de
homicídio culposo na direção de veículo automotor, uma vez que o delito do art. 302 do
Código de Trânsito Brasileiro não pode ser encarado como crime patrimonial ou de efeito
patrimonial. Na espécie, a tutela penal abrange o bem jurídico mais importante do
ordenamento jurídico, a vida, que, uma vez ceifada, jamais poderá ser restituída, reparada.
Precedente. 3. Em sede de habeas corpus vigora a proibição da reformatio in pejus, princípio
imanente ao processo penal (HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, 23.6.2015 - Informativo
791 do STF). 4. Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-HC 510.052; Proc. 2019/0136931-4;
RJ; Sexta Turma; Rel. Min. Nefi Cordeiro; Julg. 17/12/2019; DJE 04/02/2020).

Resposta: não, pois não há como restituir ou reparar uma vida ceifada, ainda que se
trate de delito do tipo culposo.

✓ O que se entende por ato voluntário do agente?

Exige-se que o ato seja voluntário, porém não necessariamente espontâneo, isto é, é
possível que o agente tenha sido convencido por terceira pessoa, o que possibilita o uso do
instituto. Também será agraciado o agente que, descoberto pela autoridade policial como
autor do delito, devolve a coisa furtada. Nesse caso, ainda assim o arrependimento estará
caracterizado.

Por lógica, não se aplica o dispositivo se o objeto furtado for apreendido pela
autoridade policial, situação que afasta a voluntariedade.

✓ Momento para a reparação do dano ou restituição da coisa

Primeiramente, é possível a reparação do dano ou a restituição da coisa ainda no curso


do inquérito policial; ou até o recebimento da denúncia ou queixa pelo magistrado.

Caso seja feita após o recebimento, o agente terá direito apenas à atenuante genérica
prevista no art. 65, III, “b” do CP:

“Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

III - ter o agente:

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano”.

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