TCC Supervisao

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO EDUCACIONAL

A SUPERVISÃO ESCOLAR NAS PRÁTICAS DE


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO

Deise Costa Martins


Sapucaia do Sul
2012
2

A SUPERVISÃO ESCOLAR NAS PRÁTICAS DE


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

por

Deise Costa Martins

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação à


distância, Especialização Lato Sensu em Gestão Educacional,
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como
requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Gestão Educacional

Orientadora: Profª Crystina Di Santo D’Andrea

Sapucaia do Sul, RS, Brasil


2012
3

Universidade Federal de Santa Maria


Centro de Educação
Curso de Pós-Graduação a Distância
Especialização Lato Sensu em Gestão Educacional

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,


aprova a Monografia de Especialização

A SUPERVISÃO ESCOLAR NAS PRÁTICAS DE


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

elaborada por
Deise Costa Martins

como requisito parcial para obtenção do grau de


Especialista em Gestão Educacional

Comissão Examinadora

Crystina Di Santo D’Andrea, Ms. (UFSM)


(Presidente/Orientador)

Oséias Santos de Oliveira, Dr. (UFSM)

Josiane Pozzatti Dal Forno, Dr. (UFSM)

Sapucaia do Sul, 30 de novembro de 2012.


4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, aos meus familiares e em especial ao meu marido Almedi
e aos meus filhos Matheus e Gabriela, por me aguentarem e me apoiarem
nestas últimas semanas.

Amo vocês!
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, por sempre prover-me o necessário;

À Universidade Federal de Santa Maria, por oferecer ensino gratuito e


de qualidade;

À professora Crystina Di Santo D’Andrea, que prontamente entrava em


contato diante das minhas dúvidas;

À tutora presencial Talita Teixeira, que esteve muito presente nesta


última etapa do curso;

Às colegas da Rede Municipal de Ensino de Esteio, Bianca, Cárin, Carla,


Márcia, Sílvia e Tereza, que aceitaram responder ao questionário sobre a
temática deste trabalho;

E por último, mas não menos importante, à Carla Mantay, a quem


sempre terei como modelo de supervisão dentro de uma perspectiva de gestão
democrática.

Muito Obrigada!
6

“... a mudança é aquilo que acontece depois que conseguimos olhar


para o mesmo de um jeito diferente.”

ROSA, 2000
7

RESUMO

Monografia de Especialização
Curso de Pós-Graduação a Distância
Especialização Lato Sensu em Gestão Educacional
Universidade Federal de Santa Maria

A SUPERVISÃO ESCOLAR NAS PRÁTICAS DE


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

AUTORA: DEISE COSTA MARTINS


ORIENTADORA: CRYSTINA DI SANTO D’ANDREA
Data e Local da Defesa: Sapucaia do Sul/RS, 30 de novembro de 2012.

O presente trabalho tem como objetivo trazer algumas reflexões sobre a


atuação do supervisor escolar nas práticas de alfabetização e letramento na
escola e a importância da ação deste profissional junto aos professores e a sua
formação profissional, propondo alternativas, discussões e argumentos
entrelaçados com o fazer pedagógico na busca da efetivação do ler e do
escrever nos anos iniciais. Para estabelecer uma aproximação do discurso
teórico com a realidade da escola, foi elaborado um questionário; o mesmo foi
entregue, a aproximadamente, vinte profissionais que atuam na Rede Municipal
de Esteio.
O trabalho da supervisão escolar nas práticas de alfabetização e
letramento dentro de uma perspectiva de parceria, como sugere uma gestão
democrática, exigirá uma visão mais unificada de gestão escolar.

Palavras-chave: Supervisor escolar; Alfabetização e letramento; Prática


pedagógica.
8

ABSTRACT

This paper aims to bring some reflections on the role of the supervisor in
school literacy practices and literacy in school and the importance of this
professional action with teachers and their training, proposing alternatives,
discussions and arguments entwined with the pedagogical in search the
effectiveness of reading and writing in the early years. To establish an
approximation of theoretical discourse with the reality of school, a questionnaire
was designed, it was delivered, approximately twenty professionals working in
the Municipal Esteio.

The work of supervision in school literacy practices and literacy within a


partnership approach, as suggested by a democratic management, will require
a more unified school management.

Keywords: Supervisor School Literacy and literacy; Pedagogical practice.


9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................10
CAPÍTULO 1: Alfabetização e Letramento................................12
CAPÍTULO 2: O Supervisor Escolar ...........................................18
CAPÍTULO 3: A importância da mediação do supervisor escolar
nas práticas de alfabetização e letramento...............................22
3.1 A supervisão escolar e as práticas de alfabetização e letramento na
visão das educadoras da Rede Municipal de Ensino de Esteio – RS........22
3.2 A supervisão escolar, uma mediação possível às práticas de
alfabetização e letramento.............................................................................25

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................28
REFERÊNCIAS...............................................................................30
APÊNDICE......................................................................................32
10

INTRODUÇÃO

De tempos em tempos, surgem, na área da educação, discussões sobre


as deficiências na alfabetização inicial, sobre quais ações, propostas ou
metodologias seriam mais eficazes para alfabetizar todos os alunos, dentro das
exigências da sociedade atual. Junto a este fato, temos recentemente as novas
Diretrizes para o ensino fundamental de nove anos, fixadas a partir da Res.
CNE/CEB 07/2010, que orienta os sistemas de ensino a adotarem, nos três
anos iniciais do Ensino Fundamental, o Ciclo da alfabetização, não havendo
retenção do aluno do primeiro para o segundo ano e deste para o terceiro,
propondo uma nova dinâmica curricular que anuncia uma ruptura com o
paradigma anterior e estabelece a criação de um período específico para a
alfabetização formal.
Nesse sentido, faz-se necessário entender como o papel da gestão
escolar, articulada com as propostas do sistema de ensino a que pertence, e
de forma mais específica, o papel da supervisão escolar (ou coordenador
pedagógico), pode ser fundamental nas práticas escolares de alfabetização e
letramento, não só dentro deste ciclo, mas desde a Educação Infantil, antes do
ingresso no Ensino Fundamental. Além disso, de que maneiras a equipe
gestora da escola pode estar aprimorando essas práticas dentro do espaço
escolar, propondo uma análise do processo de alfabetização e letramento,
dentro deste ciclo, através da Provinha Brasil e de outros instrumentos,
considerando que, de acordo com Nóvoa (1995) “o território da formação é
habitado por actores individuais e colectivos, constituindo uma construção
humana e social, na qual os diferentes intervenientes possuem margens de
autonomia na condução de seus projectos próprios.” (p.30).
A escolha deste tema está diretamente ligada à trajetória profissional da
autora enquanto educadora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no
município de Esteio – RS. Durante oito anos lecionou para o segundo ano (que
até 2007 era a primeira série), e dentro deste período, os dois últimos anos
atuou concomitantemente, no turno inverso, em turmas de pré-escola 2 e
primeiro ano, respectivamente. Em 2001, quando assumiu pela primeira vez
11

uma turma de alfabetização, o sentimento foi de desespero. Porém com o


apoio da equipe da escola, em especial da supervisão e com muito estudo,
tentativas, erros e acertos, trabalhar com alfabetização tornou-se um grande
objetivo. Nos anos que se seguiram, continuou estudando muito sobre o
assunto, aprofundando nos níveis da psicogênese da língua escrita1 e
participando de diversas formações onde a temática principal era alfabetização.
De 2009 a 2011, atuou como assessora pedagógica dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental na Secretaria de Educação e Esportes de Esteio, sendo
uma das pessoas responsáveis pelo acompanhamento da Provinha Brasil e da
organização da formação continuada das professoras que atuavam nos anos
iniciais, onde teve a oportunidade de observar, em uma esfera maior, o quanto
as professoras que lecionavam nas turmas de alfabetização e especificamente
as que estavam com turmas de 1º ano necessitavam de um maior
acompanhamento, tanto por parte da Secretaria de Educação, como de suas
equipes gestoras.
A atuação da supervisora, por ocasião da primeira turma de alfabetização
que a pesquisadora assumiu, foi fundamental na formação dessa profissional,
pois ao mesmo tempo em que se mostrava disponível para dialogar e
esclarecer as dúvidas da mesma, também insistia no estudo sistemático e na
reflexão sobre a prática, o que se tornou hábito uma vez por semana, durante
uma hora. Portanto, este estudo, embora de uma forma abrangente, se faz
relevante para assinalar a importância da atuação da supervisão escolar nas
práticas de alfabetização.
Assim, o primeiro capítulo traz um breve histórico da alfabetização no
Brasil e a conceituação deste termo junto ao letramento; o segundo capítulo
discorre sobre o conhecimento do supervisor escolar acerca dos processos de
aquisição da escrita e da leitura e, no terceiro capítulo, tece considerações
sobre a imprescindível mediação do supervisor escolar no processo de
alfabetização e letramento junto aos professores.

1
Os níveis da psicogênese constituem o resultado de uma pesquisa realizada por Emília
Ferreiro e Ana Teberosky e publicadas no livro intitulado “A Psicogênese da Língua Escrita”,
publicado no Brasil na década de 80.
12

1 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Alfabetização tem o mesmo significado que letramento? O que


diferencia um de outro? Para responder a estas questões, é necessário refletir
sobre o significado da alfabetização através da história da educação no Brasil.
Por muito tempo, o significado de ser alfabetizado se restringiu à
assinatura do nome próprio, ficando a leitura, o domínio das ideias sobre os
escritos somente para as classes sociais dominantes.
Apesar do material referente à história da alfabetização no Brasil se
referir ao Estado de São Paulo, ao menos no início, convém lembrar que na
época do Brasil Império e logo após, no nascimento da República, São Paulo
era como um grande centro difusor de cultura e inovação no país. O
conhecimento da história desta e a contextualização da mesma servem para
dar suporte, tanto para o supervisor, quanto para o professor que está em sala
de aula, enquanto visão geral de como se deu este processo para que se
produza uma reflexão das metodologias de alfabetização, teorias de
aprendizagem e atuação docente.
Conforme Mortatti (1999), Silva Jardim em 1882, ao criticar a
metodologia da soletração no processo de alfabetização e defender a
metodologia expressa na Cartilha Maternal, do português João de Deus, inicia
estudo. Esse primeiro movimento objetivava “modernizar” a educação,
tornando-a útil, prática e racional. Antes disso, para a aprendizagem da escrita
usava-se as “cartas ABC” e para o ensino da leitura utilizavam-se métodos
sintéticos, como a soletração, o fônico e a silabação. (MORTATTI, 2006).
A alfabetização só torna-se obrigatória a partir da proclamação da
República, em 1889. A escola se consolida, então, no lugar para preparar as
futuras gerações.
Silva, (1998, p.23) diz que

a escrita, assim, passa a ser um critério de seleção e exclusão dos


indivíduos de nossa sociedade, adquirindo estatuto jurídico. O
analfabeto adquire visibilidade e a escrita traz a possibilidade de uma
solução nova para a manutenção de antigas desigualdades, para
homogeneizar a heterogeneidade e a diferença em uma ordem
13

burguesa, urbana e industrial, que se contrapõe/ajusta-se a uma


sociedade oligárquica, rural e agrícola.

A partir de então, segundo as pesquisas de Mortatti (2006), houve uma


reforma na formação de professores, salientando-se o método analítico como
revolucionário para o aprendizado da escrita e da leitura. Esse método
consistia em partir do todo para depois analisar as partes; iniciava-se,
geralmente, por uma história. Mas devido à insatisfação dos professores pela
demora nos resultados, a utilização obrigatória do método no Estado de São
Paulo seguiu até 1920, quando outra reforma veio a garantir a “autonomia
pedagógica”. Buscando formas mais competentes e rápidas para o ensino da
leitura e da escrita, são introduzidos os métodos “mistos”, que mesclam os dois
tipos de metodologia: o analítico e o sintético; as cartilhas “ba-be-bi-bo-bu” que
persistiram por muito tempo no ensino brasileiro, exemplificam bem os métodos
mistos.
No início da década de 1980, os estudos de Emília Ferreiro e Ana
Teberosky, publicados no livro “A psicogênese da Língua Escrita”, transferem a
preocupação do modo como se ensina para compreender o modo como se
aprende a ler e a escrever. Conforme Ferreiro e Teberosky (1991) “que, além
dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca
a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-
los, seguindo a sua própria metodologia.” (Ibid, p.11)
O breve histórico sobre os momentos mais relevantes da alfabetização
no Brasil não encerra a discussão dos métodos, pois apesar da pesquisa de
Emília Ferreiro e Ana Teberosky (e depois tantos outros autores que se
dedicaram no aprofundamento das teorias de Piaget, Vigotsky e Wallon,
relacionando-as à aquisição da leitura e da escrita) deslocarem a atenção para
o processo de aprendizagem do aluno e o papel da mediação do professor,
ainda persistem as discussões sobre qual o método mais eficiente para garantir
uma efetiva alfabetização, o que não pode ser considerado de forma totalmente
negativa. São esses contrapontos que movem pesquisadores e professores na
busca de novas propostas ou mesmo para olharem de forma mais crítica o que
vem sendo produzido na teoria e na prática.
14

Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, a ideia


de alfabetização é “entendida como instrumento eficaz para a aprendizagem,
para o acesso e para a elaboração da informação, para a criação de novos
conhecimentos e para a participação na própria cultura e na cultura mundial
nascente.” (apud MACIEL E LÚCIO, 2009, p.14)
Anualmente, o site do instituto Paulo Montenegro divulga o INAF
(Indicador de Alfabetismo Funcional), criado em 2001, que possui uma
definição mais abrangente para o termo, classificando os indivíduos adultos
dentro de quatro níveis:

 Analfabeto: indivíduo que não lê e não escreve palavras ou


frases, ainda que reconheça números do seu cotidiano;
 Rudimentar: localiza informação explícita em textos curtos e
familiares, lê e escreve números usuais e realiza operações simples;
 Básico: o indivíduo lê e compreende textos de média extensão,
localiza informações fazendo inferências;
 Pleno: lê textos mais longos, analisando e relacionando suas
partes, realizando inferências e sínteses. (INAF, 2001, p. 1)

O letramento, termo ainda recente no Brasil, aparece primeiramente,


(SOARES, 2012), nas publicações de Mary Kato (No mundo da escrita: uma
perspectiva psicolinguística, 1986), Leda Verdiani Tfouni (Adultos não
alfabetizados: o avesso do avesso, 1988) e Ângela Kleiman (Os significados do
letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita, 1995). Mas
o que vem a ser letramento? Ou, “que novo fato, ou nova ideia, ou nova
maneira de compreender a presença da escrita no mundo social trouxe a
necessidade desta nova palavra, letramento?” (SOARES, 2012).
Conforme as professoras que responderam à pesquisa (desenvolvida a
partir de um questionário, já citado neste trabalho), alfabetização e letramento
são processos distintos, no entanto, o letramento complementa o processo de
alfabetização, dando sentido ao processo por se tratar das práticas sociais que
vivenciamos a partir da convivência com a leitura e a escrita de uma sociedade
letrada.
A alfabetização em si, é a apropriação do sistema alfabético,
constituindo-se na decodificação, enquanto que o letramento é a forma como a
escrita e a leitura são utilizadas no contexto social, concepção que vem de
15

encontro com a afirmação de Carvalho (2011), “alfabetizar é ensinar o código


alfabético, letrar é familiarizar o aprendiz com os diversos usos sociais da
leitura e escrita.” (Ibid, p.65)
Convém citar, que a palavra letramento, como é entendida no contexto
atual, vem da versão para o português da palavra inglesa literacy, “que denota
qualidade, sendo que a tradução do termo é o estado ou condição que assume
aquele que aprende a ler e a escrever.” (SOARES, 2012, p.17)
Para Maciel e Lúcio, (2009,p.31),

Conduzir o trabalho de alfabetização na perspectiva do letramento,


mais do que uma decisão individual, é uma opção política, uma vez
que estamos inseridos num contexto social e cultural em que
aprender a ler e escrever é mais do que o simples domínio de uma
tecnologia.

Nesse mesmo sentido, Ferreiro, (2011, p.17) nos coloca que “o sucesso
dos objetivos da alfabetização das crianças, (...), requer superar a visão da
introdução à leitura e à escrita como a aprendizagem de uma técnica, e essa
medida está indissoluvelmente ligada ao problema da “qualidade de ensino”.
É difícil chegar a uma conceituação definitiva sobre o termo letramento,
já que seu uso ainda é muito recente e o próprio termo alfabetização sofreu
modificações ao longo da história da educação no Brasil. Porém, uma definição
mais objetiva, talvez seja a trazida por Carvalho (2011, p.66): “letrado (...) é
alguém que se apropriou suficientemente da escrita e da leitura a ponto de usá-
las com desenvoltura, com propriedade, para dar conta de suas atribuições
sociais e profissionais.”.
Para que seja possível pensar uma proposta em que as práticas de
alfabetização venham a ser idealizadas a partir da perspectiva do letramento, é
extremamente necessário o conhecimento dos pressupostos teóricos sobre
esses dois termos pela supervisão pedagógica, pois é ela que vai gerir as
formas de trabalho com as professoras que atuam com as turmas de pré-
escola e anos iniciais dentro da escola.
Então, mais uma vez a figura do supervisor escolar ganha destaque, não
para ser o salvador do fracasso escolar advindo do analfabetismo, mas para
que, junto com os professores que atuam nas turmas de pré-escola e nos anos
iniciais, se produzam discussões e reflexões sobre a prática pedagógica e os
16

modos como as crianças se apropriam do sistema de leitura e escrita e


interagem com ele.
Para tanto, o conhecimento de como o indivíduo constrói as hipóteses
de escrita e leitura, relatadas nos estudos de Ferreiro e Teberosky (1985), até
chegar à forma convencional, são conhecimentos básicos para quem tem como
uma das atribuições orientar a prática de professores que atuam com turmas
de pré-escola e anos iniciais do ensino básico.
De uma maneira geral, os níveis da evolução da escrita descritos no livro
“A psicogênese da língua escrita” (1985), são os seguintes:

 Nível 1: Escrever é reproduzir os traços da escrita que a


criança identifica como a forma básica de escrita. (...) A criança
espera que a escrita dos nomes das pessoas seja proporcional ao
tamanho (ou idade) dessa pessoa,e não ao comprimento do nome
correspondente. (p.183-184)
 Nível 2: A hipótese central deste é a seguinte: Para poder ler
coisas diferentes (isto é, atribuir significados diferentes) deve haver
uma diferença objetiva nas escritas. (p.189)
 Nível 3: Este nível está caracterizado pela tentativa de dar um
valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita. É o
surgimento do que chamaremos a hipótese silábica. (p. 193)
 Nível 4: Passagem da hipótese silábica para a alfabética. (...) A
criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de
fazer uma análise que vá “mais além” da sílaba pelo conflito entre a
hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de grafias. (p.
196)
 Nível 5: A escrita alfabética constitui o final desta evolução. Ao
chegar a este nível, a criança já (...) compreendeu que cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a
sílaba, e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas
das palavras que vai escrever. (p. 213)

Ao nos debruçarmos sobre a pesquisa realizada a partir dos


pressupostos da teoria piagetiana pelas autoras supracitadas, é importante
chamar a atenção para o fato que “a teoria de Piaget não é uma teoria
particular sobre um domínio particular, mas sim um marco de referência
teórico, muito mais vasto, que nos permite compreender de uma maneira nova
qualquer processo de aquisição de conhecimento.” (FERREIRO &
TEBEROSKY, 1991, p. 28)
Junto a este conhecimento, é imprescindível trabalhar com o grupo de
professores a concepção de avaliação diagnóstica, pois não há coerência
numa perspectiva de ensino a partir da construção do conhecimento, supor que
17

a criança chega à escola sem nenhum conhecimento ou ideia sobre a escrita e


a leitura. Assim,

...na perspectiva de construção do conhecimento, parte de suas


premissas básicas: confiança na possibilidade de os educandos
construírem suas próprias verdades e valorização de suas
manifestações e interesses. (HOFFMANN, 2003, p.18)

Portanto,

A avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa, que nos


impulsiona a novas reflexões. Reflexão permanente do educador
sobre sua realidade, e acompanhamento de todos os passos do
educando na sua trajetória de construção do conhecimento.
(HOFFMANN, 2003, p.17)

Pensando nesta direção, quem é o profissional, dentro da escola, que


faz a mediação entre a ação do professor e os referenciais teóricos que
possibilite a reflexão sobre a prática diária, auxiliando o professor a
redimensionar a sua ação? Mais uma vez, a figura do supervisor escolar surge
para contribuir com esse espaço de construção dentro da proposta de gestão
democrática incentivando as práticas de alfabetização e letramento.
18

2 O SUPERVISOR ESCOLAR

Em primeiro lugar, mesmo que de forma breve, é importante situar o


supervisor escolar historicamente. Assim, conforme Oliveira (2010), a ação
deste profissional era, na Antiguidade, sinônimo de vigilância, exercida por
nobres e sacerdotes. Depois, na Grécia Antiga consistia no acompanhamento
do funcionamento escolar; em Roma, os censores, além de cuidarem do censo,
fiscalizavam os espaços escolares. Ainda segundo esta mesma autora, na
Idade Moderna surge o inspetor de ensino que tinha por função avaliar as
tarefas pedagógicas do professor, e com a Revolução Francesa, surge o
inspetor de ensino, cuja função era vigiar a ação do professor, buscando o
melhor desempenho do mesmo. Então,

pode-se perceber que a ideia de controle sempre esteve presente nas


ações de supervisão. Etimologicamente, a palavra supervisão é
composta pelo prefixo super (“sobre”) e pelo substantivo visão (“ação
de ver”); assim, o significado da palavra é “olhar de cima”, no sentido
de controlar a ação do outro. (OLIVEIRA, 2010, p. 6)

Assim, a atuação do supervisor escolar, por muito tempo, não ia muito


além de seguir o que o que era decidido por pessoas alheias ao contexto da
escola, perdendo-se na burocracia dos papéis a preencher e na fiscalização.
Não que se tenha abandonado a burocracia, no entanto, o supervisor escolar,
nos dias de hoje, é visto como um agente de mudança dentro da instituição
escolar, ou pelo menos se espera isto, depois de inúmeras mudanças nas
legislações que tratam da educação brasileira, garantindo (ou pretendendo
garantir) a construção do Projeto Político-Pedagógico de cada instituição
escolar, pois “atualmente, ele deve ser um membro atuante da equipe escolar,
um parceiro dos professores, contribuindo para a excelência do trabalho
pedagógico desenvolvido na escola” (OLIVEIRA, 2010, p. 31). É interessante
observar o que Alarcão, (2011, p.70) nos diz sobre função do supervisor:

Refiro-me à supervisão curricular e à supervisão como vertente


formativa da inspeção e como consequência natural da avaliação do
desempenho que não entendo sem que, concomitantemente, se
criem condições de aprendizagem e desenvolvimento profissionais,
objetivo principal da supervisão.
19

Kramer, (2010,p.68), também fala de um redimensionamento da prática


do pedagogo supervisor, voltadas à alfabetização e ao fazer do professor,
quando afirma que:

Esse aspecto coloca a importância de se (re)discutir e (re)definir a


função do pedagogo como sistematizador das diversas áreas do
conhecimento, hoje voltadas para a alfabetização em termos de
investigação científica, como articulador desses conhecimentos com
os problemas concretos vividos pelos professores no seu cotidiano,
ou seja, como mediador – junto com os professores- dos
pressupostos teóricos e das diretrizes práticas. É bem verdade que
essa função é também de difícil desempenho (...), mas parece ser
uma das estratégias necessárias para superar a fragmentação e o
esvaziamento do trabalho escolar.

Roza (2004, p.236), também nos diz que

No atual contexto, o supervisor é o profissional que irá partilhar com o


grupo de professores suas angústias, seus desafios, assumindo um
papel de provocador; de questionador da ação docente,
desinstalando certezas na busca de novas construções.

Então, para além da formação inicial e da formação continuada oferecida


pelos sistemas de ensino (público ou privado), há a necessidade de outra
formação em serviço, aquela que tem a ver com as necessidades expressas
pelos professores de cada escola e é neste espaço que a atuação do
supervisor escolar é primordial. Assim, entre outras atribuições,

a supervisão é uma atividade cuja finalidade visa o desenvolvimento


profissional dos professores, na sua dimensão de conhecimento e de
ação, desde uma situação pré-profissional até uma situação de
acompanhamento no exercício da profissão e na inserção na vida na
escola. (ALARCÃO, 2011, p. 71)

Isso não quer dizer que toda a responsabilidade é do supervisor; se faz


necessário que toda a equipe gestora (diretor, supervisor escolar e orientador
educacional), juntamente com a comunidade, tenham claro que projeto de
escola desejam construir e que, na ação dialógica cotidiana, cada um assuma
as suas atribuições de sua função. Mas o acompanhamento do trabalho
docente, a busca por materiais e alternativas no intuito de debater e refletir com
o grupo de professores é de responsabilidade do supervisor escolar, como
20

incentivador e organizador dos espaços de formação escolar. Nesta


perspectiva,

Para atingir seus objetivos e cumprir bem sua missão, a escola deve
contar com uma equipe de educadores comprometidos com ela e
com a sua filosofia. Todos são importantes, todos têm sua parcela de
responsabilidade. É nesse contexto, que deve ser de parceria, de
integração e de sonho coletivo, que atua a supervisão escolar.
(BARBOSA, 2004, p. 207)

O espaço de formação continuada na escola não se constitui em uma


via de mão única: ao mesmo tempo em que o supervisor escolar mobiliza o
grupo de professores para estudarem e refletirem sobre a prática e a teoria,
também ele está em formação, aprendendo novos conceitos e novas
abordagens com aqueles professores que estão em cursos de graduação, pós-
graduação, cursos de extensão e também com as experiências exitosas de
sala de aula, assim como coloca Barbosa, (2004, p.216):

Aqui também o supervisor pode, com humildade, aproveitar para se


atualizar e se qualificar, pois, muitas vezes, os professores estão
frequentando a universidade, estudando novas teorias, discutindo
ideias, ressignificando conceitos. Por que não aproveitar essa
circunstância para investir no crescimento profissional de todos?
Além disso, os professores, quando veem valorizados os seus
conhecimentos e experiências, tendem a trabalhar com mais
entusiasmo e a buscar sempre mais oportunidades de crescimento.

Os conhecimentos dos conceitos de alfabetização e letramento pelo


supervisor escolar constituem-se em uma ferramenta extremamente importante
não somente para orientar o planejamento dos professores que atuam nos
anos iniciais, mas para que a escola tenha um projeto que busque garantir que
os alunos cheguem ao final dos anos iniciais lendo e escrevendo de verdade, e
não como semianalfabetos. Porém, é necessário atentar que

Isto significa que não basta “levar” aos professores o conhecimento


psicolinguístico (em termos das etapas de aquisição da língua escrita)
ou sociolinguístico (em termos das relações entre linguagem e
sociedade). É preciso, sobretudo, considerar os professores como
produtores de conhecimento que são, como leitores reais, e, em
função desse pressuposto, ajuda-los a (re)apropriar-se do
conhecimento capaz de transformar criticamente sua prática
cotidiana. (KRAMER, 2010, p.88)
21

Portanto, o supervisor escolar não é o único ator de mudanças dentro do


cenário do cotidiano docente; é o impulsionador de novos atores de mudanças,
os professores. A tarefa não é apenas trazer material para o estudo, mas
instigar a falta e o desejo de preencher esta falta. Este deve ser um dos papéis
principais do supervisor escolar na atualidade, onde se busca tanto a qualidade
no ensino: qualificar o trabalho dos professores que estão na base para
garantir uma construção mais sólida e crítica do conhecimento nos anos
seguintes.
22

3 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DO SUPERVISOR


ESCOLAR NAS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO

3.1 A supervisão escolar e as práticas de alfabetização e letramento na


visão das educadoras da Rede Municipal de Ensino de Esteio – RS

Visando buscar uma aproximação do discurso teórico com a prática, foi


entregue a algumas profissionais da educação que trabalham nas escolas do
município de Esteio um questionário (que se encontra em anexo) com quatro
perguntas referentes ao conhecimento sobre alfabetização e a importância da
atuação do supervisor escolar. De um total de 26 questionários, apenas seis
foram devolvidos. Para sinalizar as falas das profissionais que responderam ao
questionário, optei por utilizar a letra “E”, como referência à Educadora, pois
ocupam funções variadas nas escolas em que atuam. Com exceção da
Educadora 3, todas atuam em escolas de porte médio (300/600 estudantes)
que funcionam nos turnos manhã e tarde. Três estão atualmente lecionando
em turmas do Ciclo de Alfabetização; as outras já lecionaram para classes de
alfabetização.
A Educadora 1, está no cargo de vice-diretora há seis meses, possui
formação como Pedagoga, tendo mais de vinte anos de atuação como
professora de anos iniciais no município. A Educadora 2, está cursando
Pedagogia, já atua como professora de séries iniciais há dezoito anos. A
Educadora 3, possui formação em Pedagogia e é especialista em
Psicopedagogia, tem quinze anos de experiência no magistério, sendo seis no
município e está há dois anos na Assessoria Pedagógica dos Anos Iniciais da
Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SMEE) de Esteio. Já a
Educadora 4, tem menos de um ano de município, é graduanda de Pedagogia
e atua nos anos iniciais. A Educadora 5 também possui menos de um ano de
município, atua nos anos iniciais e está cursando Pedagogia. Finalmente, a
Educadora 6, já tem vinte e cinco anos de município, sendo os últimos cinco
atuando como supervisora escolar, tem formação em Psicologia e é
Especialista em Supervisão Escolar.
23

A primeira pergunta do questionário referia-se ao significado dos termos


letramento e alfabetização. De forma restrita, o termo alfabetização, é a
codificação/decodificação do sistema de alfabético, como exposto no capítulo 1
pelos autores e também defendido pelas professoras que participaram da
pesquisa, para as quais a definição para alfabetização é:

aprendizagem do sistema de escrita alfabético ortográfico;(E3)


processo específico e indispensável de apropriação do sistema de
escrita; (E6)
é a capacidade de ler e escrever;(E5)
o processo educativo que envolve o ensino da leitura e da escrita”,
(E2)
é a apropriação do código da leitura e da escrita; (E1)
alfabetização é o domínio, a interpretação de signos para chegar à
leitura de palavras.(E4)2

Já letramento, como qualidade de quem utiliza a leitura e a escrita com


desenvoltura e com vistas a algum objetivo, é colocado pelas educadoras da
seguinte forma:

O letramento é mais amplo, inicia antes da alfabetização e continua


durante e depois dela; tem a haver com o significado que a leitura e a
escrita tem para cada indivíduo ou grupo social (...) (E1)
Letramento é todo o envolvimento em práticas sociais de leitura e de
escrita, (...), compreendendo o significado, mesmo sem saber ler.
(E2)
Letramento: apropriação da escrita e da leitura a partir das práticas
sociais. (E3)
(...) já o letramento é bem mais amplo, é o conhecimento e
reconhecimento da palavra escrita, é o contato com o mundo letrado.
(E4)
(...) letrado é aquele que sabe ler e escrever, e que responde às
demandas sociais da leitura e da escrita. (E5)
É um processo de inserção e participação na cultura escrita através
de diferentes formas e usos e dura a vida toda. ( E6).

O que se observa a partir dessas falas, é que letramento não ocorre


mecanicamente e muito menos isolado do processo de aquisição da leitura e
escrita. Ele é um processo social, interativo e concomitante à alfabetização dos
sujeitos e que se aperfeiçoa com o tempo. Este é um fato que o supervisor
escolar, ao planejar um trabalho junto com os professores que atuam nas
turmas de Educação Infantil e Ciclo de Alfabetização tem que ter muito claro

2
Apesar de estarem exercendo funções diferentes na Rede Municipal de Ensino de Esteio, todas as
profissionais que responderam ao questionário são educadoras; assim, optei por sinalizar as falas das
mesmas pela letra “E”.
24

em mente, para evitar que esta construção seja compartimentada em “períodos


escolares.” 3
Assim,

A alfabetização esta cada vez mais designada em não apenas


ensinar e aprender as habilidades de codificação e decodificação,
mas requer domínio dos conhecimentos que permitem o uso das
habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita surgindo assim o
letramento. (BARBOSA,2012, p.1)

Quanto ao conhecimento acerca dos estudos da Psicogênese da Língua


Escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 2005), todas as educadoras que
participaram desta pesquisa afirmam conhecer e utilizar em sua prática
cotidiana, destacando a importância do mesmo para o trabalho do supervisor
escolar:

(...)dá subsídios no sentido de conhecer a caminhada de cada aluno


rumo a alfabetização. (E1)
A partir deste conhecimento, propor, sugerir, acompanhar propostas
que contemplem o aprendizado de cada um. Muito importante ainda é
valorizar as práticas trazidas pelo professor e realizar um trabalho de
parceria. (E2)
(...)a escola deve favorecer a passagem de um nível para outro,
através de um ensino compromissado, consciente e ativo. (E3)
(...) auxiliar o professor na construção e elaboração de estratégias
para que cada criança possa evoluir e atingir outros níveis de
alfabetização. (E4)
O supervisor pode ajudar os professores na escolha de atividades
para os diversos níveis da alfabetização. (E5)
O supervisor tem o desafio atual de mediar e propor aos professores
a reflexão e a retomada de seu papel, enquanto pesquisadores e
aprendizes constantes, que oportunizam às crianças a compreensão
da função social da leitura e da escrita com contexto, sentido e
significado. (E6)

Ao papel do supervisor escolar, é atribuída uma função de parceria com


o professor: ao passo que também conhece como a criança constrói seu
processo de escrita e leitura, favorece o trabalho do professor auxiliando-o no
seu fazer diário, como outro olhar, contribuindo para um processo educativo
participativo e não arbitrário. Portanto,

3
Refiro-me aqui à separação de alguns conteúdos, conhecimentos e habilidades por bimestre/trimestre,
como se não pudessem ser trabalhados concomitantemente e como se todos os alunos aprendessem
juntos e da mesma forma.
25

O papel mediador do supervisor escolar, a sua responsabilidade e


seu compromisso incorporado quanto a sua formação técnica e ao
aspecto metodológico, tem um real significado como agente principal
e facilitador do desenvolvimento e de ações que conduzem à
sistematização dos conhecimentos. (BARBOSA, 2012, p. 3)

A terceira pergunta do questionário, referia-se à avaliação diagnóstica,


pois aliada a um trabalho que leve em consideração o processo de construção
da escrita dentro dos níveis da psicogênese, é extremamente necessária, na
medida em que fornece dados valiosos sobre o que os alunos conhecem sobre
o código escrito, ajudando o professor a focar a ação pedagógica. Conforme
Cafiero e Rocha (2009,p.77), avaliar a alfabetização,

Surge da necessidade de diagnosticar os níveis de aprendizagem do


alfabetizando em momentos mais precoces da escolarização, de
modo a poder encontrar caminhos alternativos para que a criança
aprenda a ler e a escrever.

Esta afirmação vem bem ao encontro do que responderam as


professoras, ao serem questionadas qual era o papel da avaliação diagnóstica;
estas foram unânimes em colocar que ela é imprescindível para o
planejamento de acordo com as necessidades dos alunos e a promoção de
desafios para que avancem em cada nível, assim como para visualizar o
processo de cada aluno, traçando um perfil da turma.

3.2 A supervisão escolar, uma mediação possível às práticas de


alfabetização e letramento.

Dentro desta proposta, as professoras que participaram da pesquisa, ao


responderem a questão quatro, sobre as intervenções que consideram
pertinentes, na ação do supervisor escolar, atribuem ao papel do
supervisor/coordenador pedagógico o papel de intervir, orientando o professor
e elaborando junto com o mesmo, instrumentos para o acompanhamento
individual do aluno, além de proporcionar espaços para leitura, estudos e
trocas entre os educadores que atuam no Ciclo de Alfabetização e aqueles
que, tanto trabalham com a pré-escola, como aqueles que darão continuidade
neste processo (4º e 5º anos), relatando práticas e articulando experiências,
trazendo como essencial a formação continuada para o espaço das reuniões
26

pedagógicas, sempre a partir de um diagnóstico das necessidades e anseios


do grupo de professores. Esse posicionamento das professoras também é
defendido por Kramer, ao afirmar que:

Nessa medida, para que se possa pensar e propor alternativas de


formação dos professores em serviço, comprometidas com a função
social e política da escola e, portanto, direcionadas à formação e ao
exercício de cidadania, a teoria não pode ser vista como soberana
sobre a experiência, da mesma forma que a experiência não substitui
a análise crítica, sendo, na verdade, mediada por ela. (2010, p. 81)

As professoras, também trazem nas suas respostas, que é importante


que o supervisor escolar possa “oportunizar aos professores tempo e espaço
para a avaliação diagnóstica de cada aluno e promover planejamentos
coletivos com os professores que atuam no Ciclo de Alfabetização.” Quanto a
esse aspecto, Libâneo nos coloca que:

A organização desse espaço implica a criação de lugares e tempos


que incentivem as trocas de experiências entre os professores e entre
professores e alunos, de modo a se implantar uma cultura
colaborativa. Nesse espaço, há de se destacar o papel da direção e
coordenação pedagógica para apoiar e sustentar esses espaços de
reflexão, investigação, negociação e tomadas de decisão
colaborativas. (2008, p.234)

Então,
nessa perspectiva, na atualidade pode-se inferir que o papel do
supervisor está atrelado à gestão da escola como um todo. Uma vez
que ele busca junto com o professor minimizar as eventuais
dificuldades do contexto escolar em relação ao ensino-aprendizagem.
(GIANCATERINO, 2012, p.2)

Dentro das sugestões colocadas pelas educadoras, sobre a ação de


intervenção do supervisor escolar, destaquei as seguintes:

Organizar formações que instrumentalizem os professores quanto


aos desafios de cada nível, (...), discutir no coletivo os níveis de
escrita dos alunos, para que todos (professores) possam aprender
mais. (E1)
Promover diálogos sistemáticos sobre os trabalhos desenvolvidos;
trazer textos pertinentes para leitura prévia e discussão em grupo;
promover espaço para relato da prática docente. (E2)
Acompanhar e intervir no processo de aprendizagem, para reorientar
o ensino e resgatar o sucesso dos alunos no processo de
alfabetização; elaborar junto com o educador planilha de sondagem
27

(...) para acompanhamento das etapas da leitura, da escrita e lógico-


matemático; promover oficinas pedagógicas para construção de
jogos. (E3)
Apoiar o professor, fazendo as intervenções necessárias. (E4)
Tenha um olhar para todo o Ciclo de Alfabetização e um
acompanhamento de forma sistemática a todos. (E5)
Promover a reflexão constante sobre a prática a partir de autores que
contribuam para a evolução da prática docente; promover grupos de
estudos sobre temas convergentes; ter foco na ideia de continuidade
e sequência entre um ano e outro. (E6).

Assim, aliado ao discurso teórico e à expectativa que as professoras que


participaram da pesquisa têm da atuação do supervisor escolar, há de se dizer
que não é tarefa fácil e que não são todos que a assumirão de bom grado. No
entanto, eis que este é um espaço que em se pode atuar como agente de
mudança, buscando como aliados o grupo de professores e os colegas da
equipe gestora. E apesar de difícil, há de se compreender, que mudar é uma
das tarefas mais complexas para o ser humano, mas que os enfrentamentos,
as discussões e os consensos também são aprendizados preciosos para a
construção de um processo de gestão democrática de verdade.
28

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível afirmar, ao final destas reflexões, que alfabetização e


letramento, são conceitos distintos, no entanto, complementares,
especialmente para aqueles que se ocupam da tarefa de realizar, junto com os
professores alfabetizadores, um projeto sério, que descortina para os pequenos
estudantes um novo patamar, pois afinal, saber ler e escrever sozinho é um
grande passo para a autonomia e independência do ser humano. Assim como
colocam Maciel e Lúcio:

Acreditar que é possível alfabetizar letrando é um aspecto a ser


refletido, pois não basta compreender a alfabetização apenas como a
aquisição de uma tecnologia. O ato de ensinar a ler e a escrever,
mais do que possibilitar o simples domínio de uma tecnologia, cria
condições para a inserção do sujeito em práticas sociais de consumo
e produção de conhecimento e em diferentes instâncias sociais e
políticas. (2009, p.16)

Sobre a avaliação diagnóstica e os níveis de construção da escrita e da


leitura, é um conhecimento que o supervisor tem a urgência de buscar, dada a
complexidade de sua atuação e do impacto que a aprendizagem efetiva do ler
e do escrever provoca nos anos posteriores ao Ciclo de Alfabetização. Este
conhecimento tem a necessidade de estar sempre sendo revisto, rediscutido,
pois a aprendizagem também se dá no grupo e com o grupo, estabelecendo
uma parceria.
Assim, ao assinalar a relevância deste profissional, o supervisor escolar,
na construção de uma proposta de alfabetização e letramento coerente com os
desafios da atualidade, juntamente com o grupo de professores e a equipe
gestora, não é uma tarefa que vai manter o foco apenas nele, mas vai
contribuir para o crescimento de todos os envolvidos neste projeto, pois busca,
acima de tudo, a qualidade do fazer pedagógico.
Ao fim deste trabalho, é oportuno dizer que os estudos nesta linha,
entrelaçando os saberes na área de alfabetização e letramento com as práticas
do supervisor escolar, ainda são muito recentes e escassos, há muito ainda
que falar sobre este assunto. Entretanto, as conceituações trazidas nas falas
29

das professoras que participaram da pesquisa, respondendo ao questionário, já


nos aponta um caminho muito fértil de produções e parcerias entre aqueles que
diariamente lidam com as delícias e as dores do processo de alfabetização das
crianças que ingressam no ensino fundamental e aqueles que procuram reger
uma música que dê conta do fazer e do saber de um grupo tão diversificado
como é um grupo de professores de uma escola.
30

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 8ª ed. São


Paulo: Cortez, 2011.

BARBOSA, L.L. A supervisão escolar faz diferença? In: ZORZO, C.M.;


SILVA, L.D. da; POLENZ, T. (org.) Pedagogia em conexão. Canoas: Ulbra,
2004.

BARBOSA, K. de M. Supervisão escolar no contexto da alfabetização e


letramento. www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Supervisao.Escolar/109012.html
acesso em: 24/jul./2012.

BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 7/2010. Brasília: MEC, 14 de dezembro de


2010.

CARVALHO, M. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. 8ª


ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

FERREIRO, E. ; TEBEROSKY, A. A psicogênese da língua escrita. 4ª ed.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

FERREIRO, E. Com todas as letras. 17ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.

GIANCATERINO, R. Relevância e as atribuições do supervisor


educacional de uma escola estadual do município de São Bernardo do
Campo. <meuartigo.brasilescola.com/educacao/relevancia-as-atribuicoes-
supervisor-educacional-uma-.htm> acesso em: 13/fev./2013.

História do analfabetismo no Brasil.


http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2010/12/historia-do-
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HOFFMANN, J. Avaliação: Mito e desafio. Porto Alegre: Mediação: 2003.

INSTITUTO PAULO MONTENEGRO. INAF. 2001


http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.00.00.00&ver=por <acesso
em: 13/out./2012>

KRAMER, S. Alfabetização, leitura e escrita: Formação de professores em


curso. São Paulo: Ática, 2010.

MACIEL, F.I.P; LÚCIO, I.S. Os conceitos de alfabetização e letramento e os


desafios da articulação entre teoria e prática. In: CASTANHEIRA, M.L.;
MACIEL, F.I.P.; MARTINS, R.M.F. (org.) Alfabetização e letramento na sala de
aula. 2ªed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
31

LIBÂNEO, J.C. Organização e Gestão da escola: Teoria e Prática. 5ª ed.


Goiânia: MF Livros, 2008.

MORTATTI, M.R.L. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: Unesp, 1999.

MORTATTI, M.R.L. História dos métodos de alfabetização no Brasil.


Conferência proferida durante o Seminário "Alfabetização e letramento em
debate", promovido pelo Departamento de Políticas de Educação Infantil e
Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do Ministério da
Educação, realizado em Brasília, em 27/04/2006.
MORTATTIhttp://www.secult.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-
virtual/espaco-alfabetizar-letrar/lecto-
escrita/artigos/historia%20dos%20metodos%20de%20alfabetizacao%20no%20
brasil.pdf <acesso em: 06/out/2012>

NÓVOA, A. (org.) Os professores e a sua formação. 2ª ed. Lisboa: Dom


Quixote, 1995.

OLIVEIRA, E. da S. G. de; GRINSPUN, M.P.S.Z. Princípios e Métodos de


Supervisão e Orientação Educacional. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010.

ROSA, S.S. Construtivismo e mudança 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

ROZA, J.P. da. Supervisor escolar: quem é esse agente? In: ZORZO, C.M.;
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2004.

SILVA, M. V. da. A história da alfabetização no Brasil.


http://www.ucb.br/sites/100/165/TeseseDissertacoes/Historiadaalfabetizacaono
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SOARES, M. Letramento: Um tema em três gêneros. 3ª ed. Belo Horizonte:


Autêntica, 2012.
32

APÊNDICE - Questionário

Universidade Aberta do Brasil - UAB


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Centro de Educação - CE
Curso de Especialização a Distância em Gestão Educacional

QUESTIONÁRIO: GESTÃO EDUCACIONAL E AS PRÁTICAS DE


ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Cargo: _______________________________________________________
Graduação:___________________________________________________
Pós-Graduação:_______________________________________________
Tempo de atuação no cargo:_____________________________________
Data:_____/_______2012.

1- Alfabetização e Letramento significam a mesma coisa? Conceitue:

2- Tens conhecimento da Psicogênese da língua escrita (segundo Emília


Ferreiro e Ana Teberosky - 1985)? Como os estudos desta teoria podem
auxiliar o trabalho do coordenador pedagógico na mediação com os
professores?
3- Qual o papel da avaliação diagnóstica no processo de alfabetização?

4- Que intervenções considera pertinente, por parte da equipe gestora,


mais especificamente da supervisão/ coordenação na prática das
professoras que atuam no Ciclo de Alfabetização ( Res. Cne/Ceb nº
7/2010)?

Obrigada pela sua colaboração!


33

Universidade Aberta do Brasil - UAB


Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
Centro de Educação - CE
Curso de Especialização a Distância em Gestão Educacional

TERMO DE CONSENTIMENTO

Como estudante do Curso de Especialização em Gestão Educacional,


na UAB/UFSM, estou desenvolvendo a pesquisa “A GESTÃO ESCOLAR NAS
PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO”. Tal pesquisa tem como
objetivo a coleta e análises de dados que resultarão na monografia de
conclusão de curso, sob a orientação da Prof. Ms Crystina Di Santo D’Andrea.
O trabalho consiste em analisar a importância da atuação da equipe
gestora, mais especificamente o papel da supervisão escolar, nas práticas de
alfabetização e letramento no interior da escola. A pesquisadora responsável é
Deise Costa Martins, aluna do referido curso. A pesquisadora compromete-se
em esclarecer adequadamente quaisquer dúvidas ou questionamentos que os
colaboradores possam ter no momento da pesquisa ou posteriormente, através
do telefone (51) 8463-5704 ou por email [email protected].
Após ter sido devidamente informado e de ter esclarecido minhas
dúvidas, eu ____________________________________________________
autorizo a realização do questionário sobre o assunto proposto. ( ) Sim ( )
Não.
Em caso positivo, concordo com a utilização das minhas escritas, sem
identificação do meu nome, nos relatórios da pesquisa e publicações
associadas.
( ) Sim ( ) Não
Sapucaia do Sul, _____ de _________________________ de 2012.

Assinatura do
entrevistado:______________________________________________
34

Assinatura do pesquisador
responsável:___________________________________

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