(4.3.2.2) Sentidos10 - DP - (TesteAvaliacao 2) - U2

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TESTE

ESCOLA:______________________________________________ DATA: _____/_____/______ DE

NOME:_______________________________________________ N. : ______ TURMA: ______ AVALIAÇ o

ÃO II
GRUPO I

PARTE A
Leia o excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I e, se necessário, consulte as notas de
vocabulário.

Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando


el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.

Nem uũ falamento1 deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido 2, que poermos
logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela sobr’ela; e per que
modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram, por nom receber dano de
seus ẽmigos3; e o esforço e fouteza4 que contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada.
5 Onde sabee que como5 o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os mais
mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras cousas. E iam-
-se muitos aas liziras6 em barcas e batees, depois que Santarem esteve por Castela, e dali tragiam
muitos gaados mortos que salgavom em tinas, e outras cousas de que fezerom grande
10 açalmamento7; e colherom-se8 dentro aa cidade muitos lavradores com as molheres e filhos, e
cousas que tiinham; e doutras pessoas da comarca d’arredor, aqueles a que prougue 9 de o fazer;
e deles10 passarom o Tejo com seus gaados e bestas e o que levar poderom, e se forom contra 11
Setuval, e pera Palmela; outros ficarom na cidade e nom quiserom dali partir; e taes i 12 houve,
que poserom todo o seu13, e ficarom nas vilas que por Castela tomarom voz.
15 Os muros todos da cidade nom haviam mingua 14 de boom repairamento15; e em seteenta e
sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões de madeira, os quaes
eram bem fornecidos d’escudos e lanças e dardos e beestas de torno16, e doutras maneiras com
grande avondança17 de muitos viratões18. […]
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos muros pelos
20 fidalgos e cidadãos honrados19, aos quaes derom certas quadrilhas 20 e beesteiros e homẽes
d’armas pera ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino pera repicar
quando tal cousa vissem, e como21 cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente22
corriam pera ela […].
E nom soomente os que eram assiinados 23 em cada logar pera defensom, mas ainda as outras
25 gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações deles 24; e
os mesteiraes25 dando folgança26 a seus oficios, logo todos com armas corriam rijamente pera u 27
diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas
trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
fouteza contra seus ẽmigos.
Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica, seleção e notas), Crónica de D. João I de
Fernão Lopes (textos escolhidos), ed. revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992, pp. 170-172.

palavras, ditos; 2 alusão ao capítulo anterior, onde se descreve o soberbo acampamento do rei de Castela, que se estendia de
1

Santos até Campolide e outros lugares em volta; 3 inimigos; 4 coragem; 5 logo que; 6 lezírias (terras que ficam na margem do rio);
7
abastecimento; 8 refugiaram-se; 9 aprouve, agradou; 10 e alguns; 11 em direção a; 12 aí; 13 que poserom todo o seu: que puseram
em segurança os seus haveres; 14 necessidade; 15 reparação, fortificação; 16 armas que disparavam setas a grandes distâncias;
17
abundância; 18 setas grandes; 19 de boa categoria social, burgueses; 20 quadrelas, lanços de muralha onde se colocavam os
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Sentidos
21
10
quando; 22
apressadamente; 23 designados; 24 avivavom-se os corações deles: sentiam-se mais corajosos; 25 operários; 26
folga; onde.
27

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TESTE DE AVALIAÇÃO II

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.


1
Justifique a importância do primeiro parágrafo do excerto, tendo em conta a globalidade
do texto.

2
Indique as medidas tomadas pelo povo e pelo Mestre, assim que souberam que o cerco à
cidade estava iminente.

3
Releia o último parágrafo do excerto.

Demonstre que o povo estava todo unido na defesa da cidade.

PARTE B
Leia a cantiga abaixo apresentada. Se necessário, consulte as notas de vocabulário.
Vedes, amigo, [o] que hoj’oí1
dizer de vós, assi Deus mi perdom:
que amades já outra e mi nom;
mais, se verdad’é, vingar-m’ei assi:
5 punharei2 já de vos nom querer bem;
e pesar-mi-á en mais que outra rem.

Oí dizer: por me fazer pesar,


amades vós outra, meu traedor;
e, se verdad’é, par Nostro Senhor,
10 direi-vos como me cuid’a vingar:
punharei já de vos nom querer bem;
e pesar-mi-á en mais que outra rem.

E, se eu esto por verdade sei


que mi dizem, meu amigo, par Deus,
15 chorarei muito destes olhos meus,
e direi-vos como me vingarei:
punharei já de vos nom querer bem;
e pesar-mi-á en mais que outra rem.

Fernam Velho, B 819/V 403 (in https: //cantigas.fcsh.unl.pt).

1
ouvi; 2 esforçar-me-ei.

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.


4
Descreva a atitude do sujeito lírico em relação ao objeto do seu amor, apresentando as
respetivas razões.

5
Justifique o emprego do futuro do indicativo no refrão.

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TESTE DE AVALIAÇÃO II
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GRUPO II
Leia atentamente o texto.
O autocarro desde Joanesburgo sai às 8 da manhã para Maputo − entre tempos de paragem
noutras cidades ao longo do percurso e a travessia da fronteira de Ressano Garcia, chego a
Maputo já de noite. Fico plantado numa esquina à espera de um amigo de amigo de outros
amigos. Não sei sequer se existe, mas se existir, chama-se Henrique.
5 O que ficou combinado foi uma boleia com o Henrique até um promontório mítico para
praticantes de surf, onde quebra uma onda secreta, de qualidade mundial e de difícil acesso
para viajantes solitários, daí melhor apoiar-me na experiência e na viatura de quem sabe. O
Henrique, se existe, sabe.
Por ironia do destino ou, quem sabe, por malícia das sinergias que a História tece, tanto
Portugal como as suas ex-colónias são excelentes destinos para o surf. A diferença é que na (ex)
10
metrópole as ondas estão à distância de um parque de estacionamento.
Já em Angola e Moçambique, a logística de chegar à praia envolve guias locais, veículos todo-
-terreno, provisões, equipamentos de outdoor e um espírito desinibido e aventureiro. Tal como
fiz há uns anos em Angola, socorro-me agora da ajuda de um português expatriado para chegar
até às ondas. Henrique, se existe, imigrou para Moçambique não apenas pelo trabalho mas
15
também pelo surf. Provavelmente até na ordem contrária de prioridades.
A noite cai suavemente sobre esta cidade que me faz pensar no Portugal que eu nunca tive,
no português que nunca fui.
É uma cidade bonita, apesar do degrado e da incúria e da miséria. Uma cidade que desce
para o mar, que permite sempre um tom de azul no fundo do olhar, um pouco como Lisboa com
20 o Tejo.
No entanto, de todas as cidades coloniais portuguesas que visitei, é aquela que menos me
recorda Portugal.
Maputo é demasiado recente e demasiado airosa, demasiado planificada e escorreita para
recordar uma cidade portuguesa.
25 O que o caráter e a fisionomia urbana de Maputo me recorda, na brisa suave do fim da
tarde, é um Portugal que ficou por acontecer, uma possibilidade de evolução paralela que se
perdeu nas ramificações do destino. Tento imaginar uma outra História pátria que teria
resultado de uma aproximação mais humilde, menos aguerrida, às culturas do Índico, uma outra
miscigenação, uma outra abertura de espírito aos povos e às religiões que íamos encontrando.
30 Só Moçambique poderia evocar esta dimensão paralela e perdida da História de Portugal, só
aqui tivemos a porta aberta para esse oceano Índico que durante séculos promoveu comércio,
provocou diásporas, acomodou a diferença, ensinou a Humanidade a lidar com o Outro. Só aqui
poderíamos ter sido Outros, diferentes.
Angola, pelo contrário, que portas nos teria jamais aberto? Em que mundos nos teria
introduzido? O mesmo Atlântico cinzento e tenebroso que já conhecíamos; um planalto
35
esquecido pelos fluxos da História; uma cultura tribal e fratricida que se fechava em si própria e
que do exterior só conheceu agressões e esclavagismo.
Não é por acaso que Moçambique é solar e colorida e mediterrânica como só a orla do
Índico o consegue ser; enquanto que Angola é atlântica e sombria, envolta em brumas matinais
que não conseguem dar alegria a um litoral árido e estéril. Não é por acaso que Moçambique é
40
banhada por uma corrente tépida, transparente e tropical; enquanto que em Angola passa uma
das correntes mais gélidas, escuras e densas do mundo. Não é por acaso que a navegação do
oceano Índico é previsível, suave e de monção; enquanto que a do Atlântico é turbulenta,
irregular e traiçoeira. E o estado do mar não será alheio à perceção que o resto do mundo tem
destes dois países − benevolência para com o primeiro, comiseração para com o segundo.
45 Ou talvez esta seja apenas a opinião de quem olhou para os dois países a partir da crista de
uma onda, deslizando sobre uma prancha no meio do mar, em solidão serena e refletiva, ao
largo.
Gonçalo Cadilhe, in Visão, edição online, 30 de março de 2014 (consultado em janeiro de 2021).

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TESTE DE AVALIAÇÃO II

1 Para completar cada um dos itens de 1.1 a 1.7, selecione a opção correta.
1.1 O autor serve-se da ironia quando afirma “O Henrique, se existe, sabe” (l. 8), porque
A. não lhe reconhece autoridade como guia.
B. está cansado de esperar por ele.
C. não quer ir ao promontório aconselhado por ele.
D. prefere prescindir da sua companhia.

1.2 Para Gonçalo Cadilhe,


A. o Portugal de hoje assemelha-se ao Moçambique do passado.
B. Angola e Moçambique são dois locais igualmente representativos da cultura
portuguesa.
C. Moçambique espelha um Portugal que podia ter sido diferente do que o que foi.
D. Angola em nada se assemelha com Portugal.

1.3 A palavra “até” (l. 5) classifica-se como


A. preposição.
B. conjunção.
C. advérbio.
D. pronome.

1.4 No segmento “onde quebra uma onda secreta” (l. 6), a palavra sublinhada introduz
uma oração
A. subordinada substantiva completiva.
B. subordinada substantiva relativa.
C. subordinada adjetiva relativa restritiva.
D. subordinada adjetiva relativa explicativa.

1.5 Na frase “A noite cai suavemente sobre esta cidade” (l. 17), o termo sublinhado
desempenha a função de
A. modificador.
B. complemento oblíquo.
C. modificador apositivo do nome.
D. modificador restritivo do nome.

1.6 A palavra “incúria” (l. 19) significa


A. doença.
B. desleixo.
C. incoerência.
D. incompatibilidade.

1.7 Na frase “de todas as cidades coloniais portuguesas que visitei, é aquela que menos
me recorda Portugal”, (ll. 22-23), o verbo “recordar” classifica-se como
A. intransitivo.
B. transitivo direto.
C. transitivo indireto.

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TESTE DE AVALIAÇÃO II
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D. transitivo direto e indireto.

2
Responda de forma correta aos itens apresentados.

2.1 Tendo em conta a palavra sublinhada em “Fico plantado numa esquina” (l. 3), escreva
uma outra frase que com ela se possa constituir como um campo semântico do
vocábulo.
2.2 Explique o significado da palavra “fratricida” (l. 37), sabendo que em latim FRATRE-
significa ‘irmão’.
2.3 Classifique a palavra “fratricida” (l. 37), quanto ao processo de formação.

GRUPO III
Observe a pintura de Cândido Portinari.

Os Retirantes (1994), Cândido Portinari (1903-1962), Museu de Arte


de São Paulo Assis Chateaubriand.

Faça uma apreciação crítica desta pintura, num texto de 120 a 150 palavras,
considerando, entre outros que julgue pertinentes, os seguintes aspetos.
• Apresentação dos elementos que integram a imagem.
• Sentimentos transmitidos.
• Impacto.
• Pertinência da imagem em relação ao capítulo 148 da Crónica de D. João I de Fernão
Lopes.

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TESTE DE AVALIAÇÃO II

Deverá exprimir a sua opinião (positiva ou negativa) na introdução do texto. A fundamentação


da opinião expressa deverá ocorrer associada à exploração dos elementos constantes da
pintura.

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