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Autores:
JOSÉ CARLOS TIOMATSU OYADOMARI
(UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE)
OCTAVIO R. MEDONÇA
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP)
RICARDO LOPES CARDOSO
(UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE)
EMANUEL R. JUNQUEIRA
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas diversas técnicas gerenciais têm sido desenvolvidas nos
meios acadêmico e empresarial, tais como a gestão da qualidade total (Total Quality
Management), gestão baseada em valor (Value Based Management), organização de
aprendizagem (Learning Organization), organização orientada na estratégia, etc.. Este
crescimento de inovações gerenciais faz parte do que Caldas e Wood Jr. (1995) chamam
de modas e modismos em administração, para os autores, essas inovações gerenciais
possuem um ciclo de vida, e o aparecimento delas surge como resposta para tentar
resolver problemas não solucionados pelos artefatos atuais. No campo da contabilidade
gerencial isso não é diferente podendo-se citar entre outras, as técnicas como o ABC
Activity Based Costing, ABM Activity Based Management, BSC - Balanced Scorecard,
Beyond Budgeting, Target Costing, Life Cycle Costing, Economic Value Added.O
Balanced Scorecard (BSC) e o Economic Value Added (EVA), estão entre as mais
utilizadas e integram o conjunto de artefatos do último estágio evolutivo pelo qual
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2. TEORIA INSTITUCIONAL
2.1 Antecedentes
Até o início da década de 80, a abordagem racional influenciava fortemente o
estudo das organizações. Esta abordagem tem como idéia central a predominância da
racionalidade no processo de decisão, calcada na premissa de maximização do bem-
estar do agente econômico (CALDAS e FACHIN, 2005, p.48). Essa premissa constitui,
juntamente com a premissa do equilíbrio entre forças de mercado, o núcleo central da
Teoria Econômica Neoclássica, e durante muitas décadas influenciou os pesquisadores
da Contabilidade Gerencial a desenvolverem papers normativos, onde o foco era a
construção de modelos decisórios focados em melhor tomada de decisão .
Esta Teoria sofreu críticas dos próprios economistas, sob os argumentos de que
ela era insuficiente para responder questões da realidade econômica (SCAPENS, 1994,
p. 305). Surgiram novas abordagens em contraposição a esta, como a Economia
Institucional ou Institutional Economics, a qual passou a reconhecer a importância das
instituições na teoria econômica e no processo decisório. Nessa mesma linha, Caldas e
Fachini (2005, p.48), sob uma perspectiva histórica, afirmam que a discussão entre
modelos racionais e modelos normativo-institucionais que predominou nos últimos 25
anos, ou entre organizações e instituições , contribuiu para lançar novas luzes sobre
a idéia de que os atores organizacionais seriam objetivos e racionais.
Os estudos organizacionais que até então assumiam que as organizações
determinavam sua estrutura organizacional com base em escolhas econômicas,
passaram a ver as organizações dentro de uma perspectiva sociológica, conforme
Crubellate et al. (2004, p. 42)
no campo da teoria organizacional, a teoria institucional representa alternativa à concepção de
ação social predominantemente há algumas décadas, basicamente aquela de que toda a decisão
pode ser dirigida por critérios racionais de escolha .
2.2 Conceito de Instituições
Como as instituições são a essência da Teoria Institucional, faz-se necessário
revisitar o conceito de instituições sob a ótica de diversos autores. Para Veblen apud
Scott (2001, p. 3) instituições são hábitos estabelecidos do pensar comum generalizado
pelas pessoas; já para Hamilton (1932) apud Scapens (1994, p.306), uma instituição é
um modo de pensar ou agir predominante e que está inculcado nos hábitos de um grupo
ou costumes de um povo; para Barley e Tolbert (1997, p.96), instituições são regras
compartilhadas e tipificações que identificam categorias de atores sociais e suas
atividades próprias e relações; na visão de Berger e Luckmann (1967, p.54) a
institucionalização ocorre quando há uma recíproca tipificação de ações tornadas
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habituais por tipos de atores . Pode-se inferir dessas conceituações que a característica
predominante no conceito de instituições está relacionada à habitualidade do
comportamento de um determinado grupo social.
Recorre-se adicionalmente a Scott (2001, p.48) que detalha uma série de
concepções sobre instituições:
1. - instituições são estruturas sociais que atingiram um alto grau de recomposição;
2. - instituições são compostas de elementos cognitivo-culturais, normativos e regulativos,
os quais estão associados com atividades e recursos, provendo estabilidade e significado
para a vida social;
3. - instituições são transmitidas por vários tipos de portadores, incluindo sistema simbólico,
sistema relacional, rotinas e artefatos;
4. - instituições operam em múltiplos níveis de jurisdição, do sistema mundial para relações
interpessoais localizadas;
5. - instituições por definição conotam estabilidade, mas estão sujeitas ao processo de
mudança, sejam incrementais ou por descontinuidade.
2.3 Vertentes e Usos da Teoria Institucional
A Teoria Institucional adotada pelos pesquisadores organizacionais, nos últimos
anos também tem sido adotada pelos pesquisadores de contabilidade para explicar as
práticas de contabilidade gerencial (CARRUTHERS, 1995, p.313). Pereira e Guerreiro
(2005) explicam que a Teoria Institucional
é uma abordagem sociológica que tem sido aplicada na área contábil para explicar o paradoxo
estabelecido. Essa teoria, refutando as premissas da teoria neoclássica que têm orientado a
abordagem normativa da contabilidade gerencial, considera a contabilidade gerencial como uma
instituição dentro da empresa, isto é, uma rotina formada por hábitos que dá sentido a determinado
grupo de pessoas, sendo esta rotina amplamente aceita de forma inquestionável.
Conforme descrito anteriormente, a Teoria Institucional é classificada segundo as
suas orientações, as quais são denominadas vertentes. Para Scapens (2006) a vertente
NIE usa razões econômicas para explicar a diversidade nas formas de arranjos
institucionais, como no trabalho de Custos de Transações de Williamson; já a NIS
estuda como em determinados aspectos as organizações são similares, motivadas por
comportamentos miméticos, isomórficos e coercitivos; enquanto que a OIE estuda as
práticas contábeis como hábitos e rotinas institucionalizadas.
Na visão da OIE a institucionalização de uma prática ou de uma crença se
materializa pelos hábitos e rotinas, enquanto hábitos são individuais, as rotinas são
relacionadas com o grupo (SCAPENS, 1994, p.306). A materialização da Contabilidade
como instituição se dá por meio das rotinas contábeis e desde que institucionalizada
como rotina, dá sentido às atividades empresariais (GUERREIRO et al., 2004). Para
Burns (2000) apud Guerreiro et al.(2006, p.10), a OIE é a vertente que fundamenta
estudos analíticos de mudanças nas rotinas de Contabilidade Gerencial, enquanto que
para Machado-da-Silva et al. (2005, p.14) não se pode aceitar a associação dicotômica
feita por alguns autores, os quais associam NIS com permanência e OIE com mudança,
pois no Velho Institucionalismo o conceito de persistência de padrões sociais não está
ausente, enquanto que no Novo Institucionalismo o ator social também não é
desconhecido. Desta forma a vertente NIS será a utilizada nesse trabalho,
principalmente pela questão do isomorfismo, como será abordada a seguir.
2.4 A vertente NIS
DiMaggio & Powell no artigo seminal de 1983 estudaram a homogeneidade em
vez das diferenças entre as organizações. A idéia então vigente era a de que as
organizações eram diferentes em termos de estrutura e comportamento, e esta
diferenciação era deliberada, como forma das mesmas se ajustarem a fatores
contingenciais, notadamente exógenos. A principal contribuição dos autores está na
afirmação que a motivação para a burocratização e mudanças organizacionais decorre
menos de objetivos econômicos e mais em razão de outros processos que tornam as
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residual. Embora o TRS seja a proxy de mensuração mais adequada para o objetivo do
VBM, identifica-se que o Lucro Residual é mais utilizado pelas empresas e mais
discutido nos livros textos e nos artigos. Essa predominância pode estar relacionada
com a maior praticidade do uso dessa medida, uma vez que ela pode ser utilizada não
somente para avaliar o desempenho da empresa, mas também na avaliação de
desempenho de unidades de negócio, uma vez que capital empregado pode ser apurado
em cada unidade de negócio, enquanto que o valor de mercado de cada unidade de
negócio não é disponível de forma prática.
Sobre a adoção da VBM, Malmi e Ikäheimo (2003, p. 241) citam um estudo de
Huolman et al. em 1999, os quais identificaram a evolução da ênfase no valor do
acionista nos relatórios das maiores empresas (15% em 1990, 37% em 1995 e 59% em
1999), fato que comprova a popularidade deste artefato. Otley (1999, p.371) afirma que
o EVA juntamente com o BSC são as duas ferramentas mais populares em
contabilidade gerencial, e também um novo nome para lucro residual, segundo seu
criador.
A rigor conforme amplamente discutido pelos autores, o EVA é um tipo de Lucro
Residual, o que também é admitido por Stewart (1990, p. 118), mas este ultimo alinha
este artefato com o propósito do VBM, quando menciona que o EVA é a única medida
de performance que considera com propriedade os caminhos com os quais o valor da
empresa pode ser adicionado ou diminuído .
O quadro 2 confronta as definições da literatura normativa com as evidências
empíricas colhidas a partir do estudo de Malmi e Ikäheimo (2003, p. 239,247) que
estudaram múltiplos casos de empresas que adotaram o VBM.
Quadro 2. Estudo comparativo das dimensões do uso do VBM: teoria x prática.
Dimensão do uso do Literatura normativa Evidências da prática
VBM
Controle de gestão
Objetivos e estratégias Maximização da riqueza do Maximização da riqueza do
acionista. EVA ou seus acionista, com ênfase no crescimento
direcionadores de valor como a e na efetividade da estratégia.
única meta da organização Principalmente usados no nível
corporativo.
Mensuração de Performance deve ser medida usando EVA e métricas derivadas são
performance lucros econômicos e os utilizadas em diferentes níveis
direcionadores de valores de cima organizacionais. Medidas antigas são
para baixo. Outras medidas devem também utilizadas.
ser abandonadas
Estabelecimento das Melhoria no valor corrente do EVA. São principalmente negociadas,
metas Nível mínimo aceitável é EVA igual frequentemente outras medidas que
a zero. não EVA são utilizadas. Zero EVA
Metas devem estar relacionadas com não tem maior relevância.
direcionadores de valores.
Remuneração Bônus devem ser pagos com base Bônus são pagos baseados em
nas mudanças de EVA. diversas medidas financeiras. EVA
tem um papel menor.
Influências no processo
decisório
Decisões Estratégicas Todas as decisões de investimento e Há espaço para o julgamento
desinvestimento devem estar estratégico (subjetivo)
baseadas em EVA; Uso também do
EVA nas unidades de negócio.
Decisões Operacionais Balanço e DRE devem ser Ênfase no balanço. Induz o gestor
considerados. para uma menor vontade de realizar
Orientações para melhorar os investimentos de capital e aumenta
investimentos de capital e mais preocupação sobre o custo do capital
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4. DESENVOLVIMENTO DO ENSAIO
O ensaio é desenvolvido por meio da análise dos principais autores em Teoria
Institucional na vertente NIS, refletindo criticamente sobre a teoria e o processo de
institucionalização do VBM. Optou-se em analisar a institucionalização da VBM dentro
da estrutura conceitual de Tolbert e Zucker (1999) e identificar diferentes aspectos da
institucionalização à luz dos outros principais autores da NIS como Meyer e Rowan
(1977), DiMaggio e Powell (1983), e Scott (1995, 2001).
Utilizou-se o entendimento de Berger e Luckmann (1967, p.54-55) para quem as
instituições têm sempre uma história, e também são produtos dessa história, assim é
impossível entender uma instituição adequadamente sem compreender o processo
histórico em que ela foi gerada. Atendeu-se também à recomendação de Barley e
Tolbert (1997, p.100) ao estudar as razões de por que as instituições são criadas e
mantidas, à luz de uma estrutura conceitual, relacionando princípios institucionais e
acontecimentos.
4.1. Processo de Institucionalização com base em Tolbert e Zucker (1999)
Tolbert e Zucker (1999) desenvolvem o processo de institucionalização em quatro
fases: inovação, habitualização, objetificação e sedimentação.
No tocante à VBM não se pode caracterizar do ponto de vista conceitual como
sendo um processo de inovação. Young e O´Byrne (2001, p.5) abordam a importância
do EVA como forma de tornar a moderna teoria de finanças mais acessível aos gestores
com pouco conhecimento na área, reconhecendo, portanto, não se tratar de uma
inovação, mas de uma democratização de sua utilização. Quanto aos fatores que
provocam o processo de inovação citados por Tolbert e Zucker (1999), estes também
podem ser encontrados na descrição de Young e O´Byrne (2001, p.6), os quais
descrevem dentre outros: (i) a globalização do mercado de capitais; (ii) o fim do
controle de câmbio e capital; (iii) os avanços na tecnologia de informação; (iv) maior
liquidez do mercado de capitais; (v) melhoramentos na regulação do mercados de
capitais; (vi) mudanças nas atitudes dos investidores em busca de poupança e outra
formas investimentos e: (vii) a expansão de investidores institucionais.
Na fase de habitualização a adoção das práticas ocorre em organizações que
estão vivenciando o mesmo tipo de problema, assim é natural que elas levem em conta
as soluções desenvolvidas por outras organizações (TOLBERT e ZUCKER, 1999,
p.206). Uma hipótese para a existência de um problema comum às organizações, é que
principalmente nas grandes corporações, poderia estar havendo uma falta de uma
preocupação dos gestores com a questão do custo de capital próprio. A partir do
momento que uma organização manifesta a preocupação com o capital dos acionistas,
têm-se um efeito de propagação por outras organizações, já que estas se vêm forçadas a
adotar as mesmas práticas, uma vez que os agentes com quem interagem podem ser os
mesmos.
Na fase de objetificação as organizações podem utilizar evidências de diversas
fontes (noticiários, observação direta, cotação acionária, etc.) para avaliar os riscos de
adoção da nova estrutura, e também observam as atitudes dos competidores visando
manter sua competitividade relativa e como forma de medir a relação custo x benefício
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da prática (Tolbert e Zucker, 1999, p.207). Nesta fase destaca-se a importância dos
champions , que são indivíduos com interesse material na definição das práticas. As
autoras citam como exemplos: (i) a categoria, então emergente, dos administradores de
pessoal que difundiram procedimentos formalizados de avaliação de desempenho e
recrutamento no período pós Segunda Guerra Mundial; (ii) os consultores de qualidade
total que exerceram um movimento mundial pela Gestão da Qualidade Total,
difundindo modelos, práticas e também usando procedimentos de certificação por meio
das normas ISO 9000.
No caso da VBM podem ser identificados alguns champions , dentre eles um
conjunto de empresas de consultoria como Stern Stewart, McKinsey, Boston Consulting
Group, KPMG, PriceWaterhouse, dentre outras. O papel dos champions é realizar
duas grandes fases de teorização: na primeira fase define-se um problema
organizacional genérico, com reconhecimento público dos motivos que justificam este
problema; na segunda justifica-se o arranjo dado com a solução para o problema calcada
em bases lógicas ou empíricas, e com formulação de teoria sobre a solução (TOLBERT
e ZUCKER, 1999, p.208-9). Embora a VBM não tenha nenhuma teoria nova, a idéia de
lucro residual teve grande aceitação, também provavelmente, por que o mercado de
capitais se encontra bastante desenvolvido, mas é inegável a forte influência das
empresas de consultoria.
Para Tolbert e Zucker (1999, p.209) a sedimentação ocorre quando a
institucionalização sobrevive por várias gerações na organização, ou seja, ela passa a
fazer parte da história da organização. Sobre os fatores que podem impedir a
sedimentação, as autoras colocam que mesmo na ausência de grupos de oposição direta,
o processo pode ser truncado pela falta de resultados palpáveis, mas elas alegam que
associar uso de determinada estrutura e obtenção de resultados é muito difícil. Esse
argumento também é utilizado por Otley (1999, p.372) que critica a falta de constatação
empírica entre relacionamentos de EVA e preço das ações, argumento que é citado por
Stern Stewart como uma das vantagens da utilização do indicador.
Para Tolbert e Zucker (1999) a total institucionalização depende, provavelmente,
dos efeitos conjuntos de baixa resistência dos grupos de oposição, continuada promoção
de apoio cultural por grupos de defensores e correlação positiva entre variável uso e a
variável resultados. Sob a perspectiva VBM os grupos de oposição existentes podem ser
os gestores de uma organização contrários à implementação da VBM e também
empresas de consultoria que desenvolvem novas técnicas de mensuração de
performance, concorrentes do VBM. Quanto à continuada promoção de apoio cultural
ela é bastante intensa, como se pode ver pela realização de eventos e a divulgação da
adoção da prática VBM nos relatórios anuais das empresas. Já a constatação empírica de
relacionamento entre EVA e preço da ação, ainda não foi comprovada empiricamente
no Brasil, conforme revisão dos estudos feitos por Ferreira e Lopes (2005), mas esse
fato não parece estar agindo de forma negativa à sedimentação. Balachandran (2006)
identificou que o Lucro Residual aumenta nas empresas que implementaram políticas de
remuneração baseadas em Lucro Residual, confirmando a hipótese de que you get
what you pay for .
4.2 Análise com base em Meyer e Rowan (1977) com ênfase no processo cerimonial
4.2.1 Adoção da Linguagem Isomórfica
É possível perceber como algumas expressões acabam sendo incorporadas pelas
empresas e pelos acadêmicos e, embora no começo da divulgação possam ocorrer
divergências de nomenclatura das técnicas ou estruturas, com o tempo uma única
expressão prevalece sobre as demais. Como o EVA é uma marca registrada de Stern e
Stewart Co e que portanto não pode ser utilizada sem a permissão desta, as empresas de
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consultoria tem desenvolvido outras expressões para batizar suas técnicas, por exemplo
CVA (Cash Value Added) que é uma marca registrada da Boston Consulting Group
(MALMI e IKÄHEIMO, 2003, p.237). Já as empresas usuárias do conceito de Lucro
Residual, adotam outros nomes para esse artefato porém, é possível supor que dentre os
profissionais e intramuros organizacionais o termo mais utilizado é o EVA, mesmo que
não seja o EVA de Stern Stewart. Esse fato é coerente com Meyer e Rowan (1977,
p.349) para quem as organizações adotam uma mesma linguagem para nomear as
estruturas organizacionais.
4.2.2 Necessidade de mostrar racionalidade e uso de rituais
Meyer e Rowan (1977, p.344) exemplificam como procedimentos técnicos de
produção, técnicas contábeis, técnicas de seleção de pessoal ou de processamento de
dados tornaram-se crenças inquestionáveis nas organizações. Um dos fatores
facilitadores é que o uso de técnicas modernas possibilita aos administradores mostrar
que há uma gestão responsável e assim evitar acusações futuras de negligência
(MEYER e ROWAN, 1977, p.344).
Porém a simples adoção não garante a legitimação, é necessário que adoção seja
percebida pelos stakeholders, assim para atingir esse objetivo é necessário cumprir um
ritual de divulgação. Geralmente, a alta administração das empresas contrata empresas
de consultoria para implementar determinado artefato, mesmo que a organização possua
profissionais com competências para desenvolver tal atividade. Embora as consultorias
tenham um papel técnico, há que se considerar o papel que a consultoria confere ao
objetivo de legitimação, uma vez que: 1) é um agente externo e que tem sua
legitimidade reconhecida por ter implementado tal artefato em outras empresas tidas
como referência; 2) dados os altos custos com o projeto e o envolvimento das pessoas,
são formas de comunicar ao público interno envolvido que o projeto é importante e
portanto tem que dar certo ; 3) as consultorias funcionam também como uma possível
justificativa no caso da implantação não obter êxito, já que o gestor pode alegar que fez
tudo certo, ou seja contratou empresas de consultoria de renome e portanto a culpa não é
dele gestor.
4.3 Análise com base em DiMaggio e Powell (1983) e Scott (2001)
Nesta parte do trabalho é desenvolvida uma reflexão combinando os trabalhos de
DiMaggio e Powell (1983) e Scott (2001), dada as suas similaridades. Nos estudos em
NIS, de todos os três pilares, o mais abordado é o pilar cognitivo-cultural, embora se
concorde com Machado-da-Silva (2003, p. 67) de que as três vertentes não devam ser
tratadas de maneira mutuamente excludente
4.3.1 Isomorfismo coercitivo Pilar Regulativo
O isomorfismo coercitivo está mais presente nas práticas de contabilidade
societária no Brasil em função do alto grau de regulamentação da contabilidade. A
legislação tributária, a regulamentação de normas contábeis por meio das agências de
regulação faz com que as empresas adotem procedimentos iguais, nem sempre as
melhores do ponto de vista da qualidade da informação. Porém, quando a legislação é
facultativa, no caso dos juros sobre capital próprio, pode-se perceber que os
procedimentos não são homogêneos, com as empresas adotando diferentes formas de
utilização e contabilização.
Dois estudos ilustrativos do processo de isomorfismo coercitivo são apresentados
para uma melhor discussão do assunto. No primeiro estudo Touron (2005) encontrou
que as empresas de auditoria independente foram importantes para que as empresas
francesas adotassem os US GAAP (princípios contábeis norte-americanos). O segundo
caso de isomorfismo coercitivo foi descrito por Nabiha & Scapens (2005), que
estudaram o caso da implantação de um sistema VBM em uma companhia de gás do
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