A Necessidade Eo Necessário Etica I
A Necessidade Eo Necessário Etica I
A Necessidade Eo Necessário Etica I
1 Bolsista da Fapesp.
2 (espinosa, 2015a, ei, P33, esc1, p.103). Neste artigo nos referiremos à Ética de
Espinosa da seguinte maneira: Ética será abreviado por ‘e’, seguido do número romano
referente à parte da qual estamos falando. Definições serão abreviadas por ‘d’, Axiomas
por ‘ax’ e Proposições por ‘p’, seguidos por um número arábico que as especificará. Os
escólios serão abreviados por ‘esc’ e os corolários por ‘corol’, também sendo seguidos
por números arábicos sempre que for necessária a classificação. Essa abreviação será
utilizada em conjunto com as especificações requeridas pela revista para citações.
3 (chaui, 1999, p.751).
4 Como nos mostra Chaui, a tarefa principal da Ética I não é a de provar a existência
do ser absoluto, mas sim demonstrar a “unicidade substancial e [a] necessidade absoluta
da ação da Natureza naturante e da Natureza naturada”. (chaui, 1999, p.751).
5 Pela proposição 11, Deus existe necessariamente pois é a substância cuja essên-
cia envolve existência, ou seja, é causa de si. Já na proposição 29, que diz respeito aos
modos, temos que “na natureza das coisas nada é dado de contingente, mas tudo é
determinado pela necessidade da natureza divina a existir e operar de maneira certa”
(espinosa, 2015a, p.95).
7 Vinte e uma dentre as vinte e quatro vezes que a palavra aparece. No escólio de ei,
p10 e na demonstração de ei, p23 a palavra aparece no caso acusativo, pois diz respeito
aos atributos da substância que expressam sua necessidade. Já no escólio de ei, p17 ela
aparece no caso ablativo, porém não está acompanhada da preposição ex: “vel semper
eâdem necessitate sequi”.
8 “In rerum natura nullum datur contingens, sed omnia ex necessitate divinae naturae
determinata sunt ad certo modo existendum, & operandum”(espinosa, 2015a, p.94, ei, p29)
(grifo nosso). Também encontra-se no texto a construção ex necessitate essentiae, o que
é o mesmo, pois como veremos posteriormente a natureza e a essência de Deus são
um só e o mesmo.
10 “Com efeito, pelo já exposto, estimo estar estabelecido que por Natureza natu-
rante nos cumpre entender aquilo que é em si e é concebido por si, ou seja, os atribu-
tos da substância, que exprimem uma essência eterna e infinita, isto é (pelo corol. 1
da p 14 e corol. 2 da p17), Deus enquanto considerado como causa livre. Por Natureza
naturada, entretanto, entendo tudo aquilo que segue da necessidade da natureza de
Deus, ou seja, de cada um dos atributos de Deus, isto é, todos os modos dos atributos
de Deus, enquanto considerados como coisa que são em Deus, e que sem Deus não
podem ser nem ser concebidas.” (espinosa, 2015a, ei, p29, esc, p.97).
11 Pois mesmo no escólio de ei, p33 Espinosa trabalha com as maneiras de ser ne-
cessário, mas não com a própria noção de necessidade.
12 Optamos pela substituição de “modo” por “maneira”, pois a palavra “modo” tam-
bém assume um significado estritamente delimitado na Ética.
Uma dupla distinção é aqui latente: a) entre a causa sui, que con-
cerne à substância, e a causa das coisas, que concerne aos modos;
b) entre a essência e a potência de Deus. Da mesma maneira que
a substância foi colocada em primeiro lugar como sendo em si e
concebida por si antes de ser colocada como causa de si, os modos
são colocados primeiramente come sendo em Deus e concebidos
14 Para Macherey (1997, p.23) nas proposições ei, p1 a p15 Espinosa deduz o que é
Deus, enquanto nas proposições ei, p16 a p36 ele demonstra o que é em Deus. Já Chaui
(1999, p. 816) afirma que o primeiro grande movimento do De Deo vai de ei, p1 a p16
e diz respeito à essência do absoluto, ao passo que o segundo se volta para a potência
absoluta e vai de ei, p17 até p36. Por fim, Gueroult (1968, p.19) considera que a de-
monstração da Ética I tem três grandes momentos; o primeiro trabalha com a constru-
ção da essência de Deus e abarca de ei, p1 até p15, enquanto o segundo diz respeito à
dedução da potência de Deus, ei, P16 a P29, e o terceiro demonstra a identidade entre
a potência e a essência de Deus.
15 “A distinção, implícita na Ética, entre os próprios da essência e os da potência
é um vestígio da distinção tradicional, conservada pelos Cogitata Metaphysica, entre os
próprios intrínsecos, ou atributos não operativos (attributa non operativa), que explicam
o caráter do ser mesmo de Deus, ‘seu modo de existência’, mas ‘nada de sua ação’, e
os próprios extrínsecos, ou atributos operativos (attributa operativa), que ‘explicam sua
essência ativa’, e visam a caracterizá-lo na produção das coisas fora de si”. (gueroult,
1968, p. 244).
16 Primeiro, nesse caso, não tem conotação temporal, mas é apenas uma função na
lógica dedutiva.
referências bibliográficas:
chaui, m. (1999). A Nervura do Real: imanência e liberdade em Espinosa. vol.
I. São Paulo: Companhia das Letras.
espinosa, b. (2012). Breve Tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar.
Belo Horizonte: Autêntica Editora.
__________. (2015a). Ética. São Paulo: Edusp.
__________. (2015b). Princípios da Filosofia Cartesiana e Pensamentos Me-
tafísicos. Belo Horizonte: Autêntica Editora.
gueroult, m. (1968). Spinoza, Dieu : Éthique, I. Paris: Aubier.
macherey, p. (1997). Introduction à l’Ethique de Spinoza: La première partie,
la nature des choses. Paris: Presses Universitaires de France.
oliva, l.c. (2015). “Causalidade e necessidade na ontologia de Espinosa”
in: Revista Discurso, São Paulo, v. 45 nº 2, p. 247-272.