Gerenciamento Das Diretrizes Artigo
Gerenciamento Das Diretrizes Artigo
Gerenciamento Das Diretrizes Artigo
ISBN: 978-85-5722-026-3
thiagosouza.uem@gmail.com
marianecasseres@gmail.com
jehbauer@hotmail.com
Resumo
- 60 -
1. Introdução
Hoshin Kanri é um método de tomada de decisão estratégica que está voltada para cumprir os
objetivos organizacionais de forma alinhada aos planos específicos em todos os níveis da
estrutura organizacional (CALADO, 2011). O Hoshin Kanri foi desenvolvido no Japão, mas
também é conhecido como Gerenciamento pelas Diretrizes, Policy Deployment, ou
Desdobramento das Diretrizes. Tal modelo tem como definição ser disseminado na empresa
como abordagem em criação de metas dentro do modelo organizacional. A palavra policy é
utilizada significando meio que aponta a direção (ho – direção, shin – agulha), deployment é a
administração de meios ou controle (kan – controle, ri – lógica / razão), portanto, Hoshin
Kanri pode ser compreendido como a bússola que guia/direciona as ações estratégicas da
empresa (AKAO, 1997; CALADO, 2011; LOPEZ, 2010; CUDNEY, 2009; WITCHER;
CHAU, 2007).
Segundo (Castro, 2012) o Hoshin é um sistema administrativo cuja premissa visa disseminar
por toda a organização, a visão e os objetivos institucionais, definindo metas e estratégias,
dimensionando recursos e indicadores para as metas propostas e gerando ações programadas.
O sistema tem como princípio a sistemática de melhoria contínua e visa manter a empresa
competitiva através da disseminação em metas por todos os participantes da organização,
sendo ele estratégico, tático ou operacional (CAMPOS, 1992). O método foi, provavelmente,
desenvolvido a partir da Administração por Objetivos (APO) proposto por Peter Drucker.
Segundo Akao (1991) o Hoshin Kanri buscou adaptar a Administração por Objetivos a
- 61 -
pratica do Controle da Qualidade Total (CQT). É importante diferenciar o Hoshin da APO
para não haver divergências em sua execução. Turrioni (1995) destaca que a diferença básica
entre estes dois métodos reside no fato que o Hoshin Kanri busca definir e atingir as metas
estabelecidas através da análise do processo, enquanto que a APO se focaliza na definição das
metas a serem atingidas.
A ideia de sistematizar o Hoshin Kanri foi da Bridgestone Tire Company e que esta decisão
foi baseada em uma pesquisa realizada junto a empresas ganhadoras do Prêmio Deming. Mais
recentemente, com o início das críticas à Gestão da Qualidade devido ao fato dos resultados
obtidos estarem aquém do esperado, outras perguntas surgiram, mas a que permanece com
destaque tem sido a questão do comprometimento da alta administração (AKAO, 1991).
Devido aos reconhecidos benefícios do Lean Production, no mundo, companhias dos mais
diversos tipos e tamanhos estão tentando implantar as técnicas deste sistema de produção. No
entanto, na sua pressa por alcançar em curto prazo os benefícios da manufatura enxuta, as
empresas implantam esporádica e pontualmente suas ferramentas, sem uma ligação clara com
as estratégias globais. Como consequência, a maioria fracassa na sua tentativa de ser uma
empresa enxuta e volta aos seus antigos sistemas de manufatura. Vários autores sugerem o
uso do Hoshin Kanri para o desdobramento das estratégias e a ligação das ferramentas Lean
com o planejamento estratégico da organização. Atualmente, pouca literatura científica pode
ser encontrada a respeito deste sistema de gerenciamento estratégico e de sua relação com a
produção enxuta (AYALA, 2010). Neste contexto, técnicas que orientem a qualidade dos
processos por meio do desdobramento de objetivos estratégicos surgem como necessidade
para a perenidade das organizações e o Hoshin Kanri é uma destas técnicas estudadas ao
longo dos anos.
2. Referencial teórico
O Hoshin Kanri facilita o gerenciamento das estratégias por meio dos diversos níveis
organizacionais e das distintas funções existentes na organização, possibilitando a soma dos
esforços para atingir objetivos-chave para o negócio (WITCHER; BUTTERWORTH, 2001).
É um desdobramento da política de qualidade que permeia desde a gerência até as equipes de
implantação, desdobramento das estratégias ou desdobramento das diretrizes (CAMPOS,
1996, DENNIS, 2007). O princípio fundamental do Hoshin Kanri é que cada colaborador da
organização, deve ter na sua rotina de trabalho uma contribuição para o cumprimento dos
objetivos-chave para o sucesso da organização (WITCHER; CHAU, 2007).
Conforme Kondo (1998) as principais atividades do Hoshin Kanri são: as diretrizes anuais,
estabelecimento das diretrizes de qualidade, converter as diretrizes metodológicas em
diretrizes objetivas (compostas por metas, objetivos e prioridades estratégicas) e por último o
desdobramento top-down e bottom-up (de cima para baixo e de baixo para cima). Por meio da
- 63 -
aplicação do ciclo PDCA, se desdobram os objetivos em toda a organização, e assim alinhar
todos os seus níveis (YACUZZI, 2005). Yacuzzi (2005), também destaca as três principais
características que diferenciam o Hoshin de outros modelos, o Catchball, processo de
negociação que emprega reuniões formais e informais para traduzir fins em meios, estabelecer
o uso de recursos, e converter os objetivos dos diversos níveis da organização em metas
acordadas entre todos. Este processo previne a sub-otimização ou otimização local em
detrimento do desempenho global. O catchball é uma discussão em três direções, de cima
para baixo, de baixo para cima e horizontalmente, entre departamentos. Este processo de
discussão traduz as metas em ações realizáveis para cada nível da organização (WOOD;
MUNSHI, 1991).
Formulação das poucas prioridades estratégicas vitais (VFO: vital few objectives),
partindo dos requerimentos dos stakeholders;
Tradução destas estratégias prioritárias em planos de ação para o seguinte ano através
da decisão entre os gerentes e seus subordinados;
Análise das diretrizes e estratégias em toda a organização para revisar e avaliar seu
desempenho.
O Hoshin Kanri auxilia a identificar os processos que são críticos ao sucesso das estratégias.
Estes processos são identificados e mapeados utilizando técnicas de mapeamento. É
importante que todas as pessoas envolvidas tenham bem claro este objetivo final. Uma vez
que o objetivo final fica estabelecido, são estabelecidos os objetivos intermediários, que
normalmente coincidem com os Hoshin anuais. Estes objetivos intermediários são como
vários marcos de referência que servem para guiar até os objetivos finais. O Hoshin Kanri
pode ser interpretado como o ciclo PDCA aplicado ao processo de planejamento e execução
dos VFO, como mostra a Figura 1 (LEE; DALE, 1999).
- 64 -
Figura 1 – A roda do Hoshin Kanri
O Hoshin Kanri requer a identificação dos processos que são críticos para o sucesso das
estratégias. Estes processos-chave são identificados e mapeados utilizando técnicas de
mapeamento. Muitas das técnicas são adaptadas do sistema Lean e aplicadas ao nível
estratégico (SLOCUM, 2004).
- 65 -
Figura 2 – Modelo do Hoshin Kanri
Segundo Dennis (2007), o Hoshin Kanri é composto por: o norte verdadeiro estratégico, o
ciclo PDCA, o processo de gerenciamento composto pelos ciclos PDCA macro, anual e
micro, o conceito de líder de desdobramento, o catchball e o pensamento A3 (Figura 3).
Dentro de cada departamento se tem estratégias desdobradas denominadas estratégias filhas,
correspondentes aos temas escolhidos globalmente, que poderiam ser ou não os QCDE.
Figura 3 – A3 de estratégia
- 67 -
O ciclo PDCA é rodado em três níveis: micro (semanal ou mensal), anual e macro (de três a
cinco anos). Os ciclos anuais e micro são reativos, já que reagem a dados quantitativos do
período anterior, como o alcance ou não das metas propostas. O ciclo macro é proativo já que
se devem projetar as ações para um horizonte maior, tendo presentes as necessidades do
negócio, a visão de longo prazo, as competências chave, as mudanças ambientais e os valores.
- 68 -
Fonte: Adaptado de Jackson (2006).
Hutchins (2012) propõe em seu modelo quatro elementos chave para implementação do
Hoshin Kanri, integrando conceitos e métodos provindos do Sistema Toyota de Produção
para construção de seu modelo. Tais elementos seriam:
- 69 -
O ciclo de feedback de resultados para completar o ciclo Plan-Do-Check-Act (PDCA),
que é o Ciclo de Shewhart (que alguns hoje em dia refere-se a como o Ciclo de
Deming).
3. Metodologia
Este artigo objetivou realizar uma análise bibliográfica acerca dos modelos de implementação
do Hoshin Kanri. A presente pesquisa consiste num estudo teórico-conceitual voltado à
comparação entre os modelos de implementação de Akao (1997), Campos (1996), Dennis
(2007), Jackson (2006) e Hutchins (2012). A parte teórica do estudo se constitui de pesquisa
bibliográfica sobre os conceitos, comparando a inter-relação dos modelos baseados em
critérios como: missão e visão, desenvolvimento de políticas, qualidade total e políticas de
controle (PDCA) (HUTCHINS, 2012).
Quanto à condução da pesquisa e melhor esclarecimento, esta foi dividida em três etapas
relacionadas conforme ilustrado na Figura 6.
- 70 -
Para a obtenção dos dados o procedimento adotado foi a pesquisa bibliográfica em periódicos
científicos internacionais e nacionais bem como em teses e dissertações. Justifica-se a
utilização da pesquisa bibliográfica, pois uma das funções do presente estudo é identificar,
conhecer e acompanhar o desenvolvimento da pesquisa em determinada área do
conhecimento. Na primeira etapa foram evidenciadas as oportunidades de pesquisa sobre o
tema. Foram encontrados e selecionados na literatura cinco modelos de implementação de
Hoshin Kanri.
Os critérios de seleção das fontes de dados são descritos no protocolo apresentado no Quadro
1.
A pesquisa bibliográfica foi conduzida seguindo-se cinco etapas: (i) definição das palavras-
chave; (ii) escolha das bases de dados e definição do período das publicações; (iii) pesquisa de
artigos em bases de dados. Na sequência, procedeu-se à leitura e análise do título (title) e
- 71 -
resumo (abstract) dos artigos encontrados, selecionando-se os que apresentavam relevância
para os objetivos do trabalho.
- 72 -
Realizando uma análise da Tabela 1, possibilitou construir tais análises críticas:
O Modelo de Akao (1997) apresenta interação forte em relação aos critérios “Missão e
Visão”, “Desenvolvimento de Políticas” e “Desdobramento de Políticas” de Hutchins
(2012). Já o elemento-chave “Política de Controle” evidencia-se por uma interação
moderada. O critério Qualidade Total demonstra fraca relação com o modelo em
questão. Isso se deve ao fato de que Akao (1997) tem foco principal no planejamento
inicial da estratégia (Visão e Objetivos) e seu desdobramento (Recursos e Plano de
Ação).
O Modelo de Dennis (2007) apresenta interação forte em relação aos critérios “Missão
e Visão”, “Desenvolvimento de Políticas”, “Desdobramento de Políticas” e “Política
- 73 -
de Controle” de Hutchins (2012). Já o elemento chave “Qualidade Total” demonstra
uma interação fraca com o modelo estudado. Isso se deve ao fato de que Dennis
(2007) propõe uma forte formulação e desenvolvimento da estratégia (Norte
Verdadeiro), desdobramento (ciclos anuais, mensais e semanais; catchball) e política
de controle (A3). Porém, o critério “Qualidade Total” apresenta pouco foco em seu
modelo.
Em resumo, todos os modelos apresentaram interação forte com os elementos chave "Missão
e Visão" e "Desenvolvimento de Políticas". Já no quesito "Desdobramento de Políticas"
somente o modelo de Campos (1996) apresentou interação moderada, porém, tal elemento, e
suas relações, demonstra a importância do Desdobramento da Estratégia trazido pelo Hoshin
Kanri sendo ponto chave para o sucesso de sua implementação. Os critérios "Política de
Controle" e "Qualidade Total" de Hutchins (2012) aparecem em segundo plano em alguns
modelos evidenciando a fragilidade das organizações no que tange a execução de sua
estratégia.
5. Considerações Finais
O presente artigo buscou comparar cinco modelos de implementação do Hoshin Kanri e suas
relações. Para isso, o procedimento adotado foi a pesquisa bibliográfica onde se analisou os
cinco modelos selecionados os quais evidenciavam os critérios mais abrangentes em relação
aos conceitos do Hoshin. Desta forma, identificou-se que há uma tendência dos modelos
estudados em relação aos critérios estabelecidos por Hutchins (2012) sendo eles: Missão e
Visão, Desenvolvimento de Políticas, Desdobramento de Políticas, Qualidade Total e Política
de Controle. Os resultados obtidos evidenciaram que todos os modelos apresentam interação
com os critérios de Hutchins (2012), entretanto, o modelo desenhado por Jackson (2006)
estruturado em estratégias de longo e médio prazo, desenvolvimento de políticas e
desdobramento tático e operacional de metas possui foco na melhoria contínua da qualidade.
Além disso, este método maior interação com os critérios definidos por Hutchins (2012).
- 74 -
Finalmente todos os modelos estudados, de maneira geral, apresentaram boa interação com os
elementos-chave, porém, a Qualidade Total e Políticas de Controle tiveram menor aderência
na análise entre os autores demonstrando assim a necessidade de maiores pesquisas no tema e
ressaltando a importância do Hoshin Kanri como método de desdobramento de estratégias.
Como implicação prática esta pesquisa é útil para nortear pesquisadores e gestores
organizacionais na implantação de modelos de desdobramento da estratégia e assim,
possibilitar maior grau de resultados com o método.
REFERÊNCIAS
CUDNEY, E. A. Using Hoshin Kanri to Improve the Value Stream. New York:
Productivity, 2009.
NICHOLAS, J. Hoshin kanri and critical success factors in quality management and lean
production. Total Quality Management & Business Excellence, v.27, n.3-4, p.250-264,
2014.
AKAO, Y. Kanri: Policy deployment for successful TQM , Productivity Press, Cambridge,
1991.
- 75 -
AKAO, Y. Desdobramento das Diretrizes para o Sucesso do TQM. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
KONDO, Y. Hoshin Kanri: a participative way of quality management in Japan. The TQM
Magazine, v.10, n.6, p.425-431, 1998.
- 76 -
THIAGARAJAN, T.; ZAIRI, M. A review of total quality management in practice:
understanding the fundamentals through examples of best practice applications – Part I. The
TQM Magazine, v.9, n.4, p.270–286, 1997.
WITCHER, B.; BUTTERWORTH, R. What Is Hoshin Kanri A Review. The Economic &
Social Research Council, 1999.
- 77 -