Fichamento Polany Cap 4 e 5

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Vitorio Vinicius De Souza Melo

Universidade Federal do Acre

Curso de Ciências Econômicas

História Economica

Profº. Raimundo Claudio Gomes Maciel

Assunto

Fichamento dos capítulos 4 á 5 (págs.62 a 88)

Obra estudada – A Grande Transformação, de Polany (2000)

Citações:

POLANY, Karl. A Grande Transformação. 2000

- Sociedades e Sistema Econômico (Págs. 62 a 75) Quarto


Capitulo -

“Uma economia, de mercado significa um sistema auto


regulável de mercados, em termos ligeiramente mais técnicos,
é uma economia dirigida pelos preços do mercado e nada além
dos preços do mercado. Um tal sistema, capaz de organizar a
totalidade da vida econômica sem qualquer ajuda ou
interferência externa, certamente mereceria ser chamado auto
regulável. Essas condições preliminares devem ser suficientes
para revelar a natureza inteiramente sem precedentes de um
tal acontecimento na história da raça humana.” (Pag: 62)
“Nenhuma sociedade poderia sobreviver durante qualquer
período de tempo, naturalmente, a menos que possuísse uma
economia de alguma espécie. Acontece, porém, que,
anteriormente à nossa época, nenhuma economia existiu,
mesmo em princípio, que fosse controlada por mercados.”
(Pág.: 62)

“Um pensador do quilate de Adam Smith sugeriu que a divisão


do trabalho na sociedade dependia da existência de mercados
ou, como ele colocou, da "propensão do homem de barganhar,
permutar e trocar uma coisa pela outra". Esta frase resultou,
mais tarde, no conceito do Homem Econômico. Em retrospecto,
pode-se dizer que nenhuma leitura errada do passado foi tão
profética do futuro” (Págs.62 e 63)

“A divisão do trabalho, um fenômeno tão antigo como a


sociedade, origina-se de diferenças inerentes a fatos como
sexo, geografia e capacidade individual. A alegada propensão
do homem para a barganha, permuta e troca é quase que
inteiramente apócrifa.” (Pág. 63)

“... a evidência parece indicar que o homem primitivo, longe de


ter uma psicologia capitalista, tinha, na verdade, uma
psicologia comunista (mais tarde também isto foi provado como
erro).” (Pág. 64)

“Hoje em dia não podemos continuar nesse caminho. O hábito


de olhar para os últimos dez anos, assim como para o conjunto
de sociedades primitivas, como mero prelúdio da verdadeira
história da nossa civilização” (Pág. 64)

“A tradição dos economistas clássicos, que tentaram basear a


lei do mercado na alegada propensão do homem no seu
estado natural, foi substituída por um abandono de qualquer
interesse na cultura do homem "não-civilizado" como
irrelevante para se compreender os problemas da nossa era.”
(Pág. 64)

“As diferenças que existem entre povos "civilizados" e "não-


civilizados" foram demasiado exageradas, principalmente na
esfera econômica.” (Pág. 64)

“Max Weber foi primeiro entre os historiadores da economia


moderna a protestar contra o fato de se deixar de lado as
economias primitivas como irrelevantes para a questão das
motivações e mecanismos das sociedades civilizadas. O
trabalho subsequente da antropologia social comprovou que
ele estava inteiramente certo. e qualquer conclusão pode ser
destacada, com mais clareza que as outras, no estudo recente
das sociedades primitivas, é justamente a não-modificação do
homem como ser social.” (Pág. 65)

“A descoberta mais importante nas recentes pesquisas


históricas e antropológicas é que a economia do homem, como
regra, está submersa em suas relações sociais. Ele não age
desta forma para salvaguardar seu interesse individual na
posse de bens materiais, ele age assim para salvaguardar sua
situação social, suas exigências sociais, seu patrimônio social.”
(Pág. 65)

“Em termos de sobrevivência, a explicação é simples.


Tomemos o caso de uma sociedade tribal. O interesse
econômico individual só raramente é predominante, pois a
comunidade vela para que nenhum de seus membros esteja
faminto, a não ser que ela própria seja avassalada por uma
catástrofe, em cujo caso os interesses são ameaçados coletiva
e não individualmente. Por outro lado, a manutenção dos laços
sociais é crucial.” (Págs. 65 e 66)

“O princípio da reciprocidade atuará principalmente em


benefício da sua mulher e de seus filhos, compensando-o
assim, economicamente, por seus atos de virtude cívica.” (Pág.
67)

“O princípio da redistribuição não é menos efetivo. Uma parte


substancial de toda a produção da ilha é entregue pelo chefe
da aldeia ao chefe geral, que a armazena.... torna-se aparente
a extrema importância do sistema de armazenamento. Do
ponto de vista econômico, é parte essencial do sistema vigente
de divisão do trabalho, do comércio exterior, da taxação para
finalidades públicas, das provisões de defesa” (Pág. 67)

“Princípios de comportamento como esse, contudo, não podem


ser efetivos a menos que os padrões institucionais existentes
levem à sua aplicação. A reciprocidade e a redistribuição são
capazes de assegurar o funcionamento de um sistema
econômico sem a ajuda de registros escritos e de uma
complexa administração apenas porque a organização das
sociedades em questão cumpre as exigências de uma tal
solução com a ajuda de padrões tais como a simetria e a
centralidade.” (Pág. 68)

“O padrão institucional da centralidade, por seu lado, que está


presente, de alguma forma, em todos os grupos humanos,
fornece um conduto para a coleta, armazenagem e
redistribuição de bens e serviços.” (Pág. 68)

“Numa tal comunidade, é vedada a ideia do lucro; as disputas e


os regateios são desacreditados; ao dar graciosamente é
considerado como virtude; não aparece a suposta propensão à
barganha, à permuta e à troca. Na verdade, o sistema
econômico é mera função da organização social.” (Pág. 69)

“encontramos o processo de redistribuição como parte do


regime político vigente, seja ele o de urna tribo, de uma cidade-
estado, do despotismo ou do feudalismo, do gado ou da terra.
A produção e a distribuição de mercadorias são organizadas
principalmente através da arrecadação, do armazenamento e
da redistribuição, sendo o padrão focalizado o chefe, o templo,
o déspota ou o senhor. Uma vez que as relações do grupo
dominante com os dominados são diferentes, de acordo com
os fundamentos em que repousa o poder político, o princípio da
redistribuição envolverá motivações individuais tão diferentes
como a partilha voluntária da caça pelos caçadores e o medo
do castigo que impulsiona a pagarem seus impostos em
espécie” (Pág. 72)

“O terceiro princípio, destinado a desempenhar um grande


papel na história, e ao qual chamaremos o princípio da
domesticidade, consiste na produção para uso próprio.” (Pág.
73)

“Aristóteles insiste na produção para uso, contra a produção


visando lucro, como essência da domesticidade propriamente
dita. Assim, uma produção acessória para o mercado,
argumenta ele, não precisa destruir a autossuficiência
doméstica, uma vez que a colheita seja reinvestida na fazenda,
para sustento, seja como gado ou cereal. A venda dos
excedentes não precisa destruir a base da domesticidade”
(Pág. 74)

“É verdade que Aristóteles não reconheceu claramente as


implicações da divisão do trabalho e sua ligação com os
mercados e o dinheiro, assim como não compreendeu as
utilizações do dinheiro como crédito e capital.” (Pág. 75)

“Ao denunciar o princípio da produção visando lucro "como não


natural ao homem", por ser infinito e ilimitado, Aristóteles
estava apontando, na verdade, para o seu ponto crucial, a
saber, a separação de uma motivação econômica isolada das
relações sociais nas quais as limitações eram inerentes.” (Pág.
75)
- Evolução do Padrão de Mercado. Págs. 76 a 88 –

“A permuta, a barganha e a troca constituem um princípio de


comportamento econômico que depende do padrão de
mercado para sua efetivação. Um mercado é um local de
encontro para a finalidade da permuta ou da compra e venda.”
(Pág. 76)

“Assim como a reciprocidade é auxiliada por um padrão


simétrico de organização, a redistribuição é facilitada por
alguma medida de centralização, e a domesticidade tem que
ser baseada na autarquia, assim também o princípio da
permuta depende, para sua efetivação, do padrão de
mercado.” (Pág. 76)

“Em alguns outros sentidos, porém, o princípio da permuta não


está em paridade estrita com os três outros princípios. O
padrão de mercado, com o qual ele está associado, é mais
específico do que a simetria, a centralidade ou a autarquia”
(Pág. 77)

“Em vez de a economia estar embutida nas relações sociais,


são as relações sociais que estão embutidas no sistema
econômico.... Desta vez, o sistema econômico é organizado
em instituições separadas, baseado em motivos específicos e
concedendo um status especial. A sociedade tem que ser
modelada de tal maneira a permitir que o sistema funcione de
acordo com as suas próprias leis.” (Pág. 77)

“A presença ou a ausência de mercados ou de dinheiro não


afeta necessariamente o sistema econômico de uma sociedade
primitiva. Isto refuta o mito do século XIX de que o dinheiro foi
uma invenção cujo aparecimento transformava inevitavelmente
uma sociedade, com a criação de mercados, forçando o ritmo
da divisão de trabalho, liberando a propensão natural do
homem à permuta, à barganha e à troca.” (Pág. 78)
“As razões são simples. Os mercados não são instituições que
funcionam principalmente dentro de uma economia, mas fora
dela. Eles são locais de encontro para um comércio de longa
distância. Os mercados locais, propriamente ditos, são de
pouca importância.” (Pág. 78)

“... embora as comunidades humanas nunca tenham deixado


de lado, inteiramente, o comércio exterior, esse comércio nem
sempre envolvia mercados, necessariamente. Originalmente, o
comércio exterior sempre esteve mais ligado à aventura,
exploração, caça, pirataria e guerra do que à permuta. Ele
pode implicar tanto em paz como em bilateralidade, porém,
mesmo quando implica ambos, ele é baseado, habitualmente,
no princípio da reciprocidade, e não da permuta.” (Pág. 80)

“Como sabemos, num estágio posterior os mercados se


tornaram predominantes na organização do comércio exterior.
Entretanto, do ponto de vista econômico, os mercados externos
são algo inteiramente diferente, tanto dos mercados locais
quanto dos mercados internos. Eles não diferem apenas em
tamanho; são instituições de função e origem diferentes.” (Pág.
80)

“Atos individuais de permuta ou troca esta é a verdade - não


levam, como regra, ao estabelecimento de mercados em
sociedades onde predominam outros princípios de.
comportamento econômico. Tais atos são comuns em quase
todos os tipos de sociedades primitivas, porém são
considerados incidentais uma vez que não preenchem as
necessidades da vida.” (Pág. 81)

“O mesmo se aplica onde a reciprocidade é a regra: aqui, os


atos de permuta são geralmente inseridos em relações de
longo alcance que implicam aceitação e confiança, uma
situação que tende a obliterar o caráter bilateral da transação.”
(Págs. 81 e 82)

“... seria audacioso afirmar que os mercados locais se


desenvolveram a partir de atos individuais de permuta. Embora
seja muito obscuro o início do mercado local, podemos afirmar
com segurança que, desde o princípio, essa instituição foi
cercada por uma série de salvaguardas destinadas a proteger
a organização econômica vigente na sociedade de interferência
por parte das práticas de mercado.” (Pág. 82)

“O resultado mais significativo dos mercados - o nascimento de


cidades e a civilização urbana foi, de fato, o produto de um
desenvolvimento paradoxal. As cidades, as crias dos
mercados, não eram apenas as suas protetoras, mas também
um meio de os impedir de se expandirem pelo campo e, assim,
incrustarem-se na organização econômica corrente da
sociedade.” (Pág. 82)

“As assim chamadas nações eram apenas unidades políticas,


na verdade bastante frouxas, e que consistiam,
economicamente, de inúmeros ambientes domésticos
autossuficientes, maiores ou menores, e insignificantes
mercados locais nas aldeias. O comércio limitava-se a distritos
organizados que o praticavam localmente, 'como comércio de
vizinhança, ou como comércio de longa distância os dois eram
estritamente separados e a nenhum deles era permitido
infiltrar-se no campo indiscriminadamente.” (Pág. 84)

“A cidade era uma organização de burgueses. Só eles tinham


direito à cidadania e o sistema repousava na distinção entre
burgueses e não burgueses.... os burgueses se encontravam
numa posição inteiramente diferente em relação ao comércio
local e ao comércio a longa distância.” (Pág. 85)
“No que se refere ao suprimento de alimentos, a
regulamentação envolvia a aplicação de métodos ... a fim de
controlar o comércio e impedir a elevação dos preços. Tal
regulamentação, porém, só era efetiva no comércio que era
levado a efeito entre a cidade suas cercanias. A situação era
inteiramente diferente no comércio de longa distância.” (Pág.
85)

“No que diz respeito aos artefatos industriais, a separação


entre o comércio local e o de longa distância era ainda mais
profunda, pois neste caso toda a organização de produção
para exportação era afetada.... No mercado local, a produção
era regulada de acordo com as necessidades dos produtores,
restringindo a produção a um nível remunerativo. Este princípio
não se aplicava, naturalmente, às exportações, onde os
interesses dos produtores não estabeleciam limites à produção.
Em consequência, enquanto o comércio local era estritamente
regulado, a produção para exportação da época era apenas
formalmente controlada pelas corporações de artesãos.” (Pág.
85)

“A separação crescente mente estrita entre o comércio local e


o de exportação foi a reação da vida urbana à ameaça do
capital móvel de desintegrar as instituições da cidade.” (Págs.
85 a 86)

“Na prática, isto significa que as cidades levantaram todos os


obstáculos possíveis à formação daquele mercado nacional ou
interno pelo qual pressionava o atacadista capitalista.
Mantendo o princípio de um comércio local não-competitivo e
um comércio a longa distância igualmente não-competitivo,
levado a efeito de cidade a cidade, os burgueses dificultaram,
por todos os meios a seu dispor, a inclusão do campo no
compasso do comércio e a abertura de um comércio
indiscriminado entre as cidades e o campo. Foi esse
desenvolvimento que forçou o estado territorial a se projetar
como instrumento da "nacionalização" do mercado e criador do
comércio interno.” (Pág. 86)

“Do ponto de vista político, o estado centralizado era uma nova


criação, estimulada pela Revolução Comercial.” (Pág. 86)

“A intervenção estatal, que havia liberado o comércio dos


limites da cidade privilegiada, era agora chamada a lidar com
dois perigos estreitamente ligados, os quais a cidade havia
contornado com sucesso, a saber, o monopólio e a
competição. Já se compreendia, naquela época, que' a
competição levaria, em última instância, ao monopólio, mas o
monopólio era ainda mais temido do que posteriormente, pois
ele muitas vezes estava ligado às necessidades da vida, e,
portanto, podia tornar-se facilmente um perigo para a
comunidade. O remédio encontrado foi a total regulamentação
da vida econômica, só que agora em escala nacional e não
mais apenas municipal.” (Pág. 87)

“A agricultura era suplementada, agora, pelo comércio interno -


um sistema de mercados relativamente isolados, inteiramente
compatível com o princípio da domesticidade ainda dominante
no campo.” (Pág. 88)

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