LivroUAB5TGA 2018
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LivroUAB5TGA 2018
RSIDA TA RI NA
UN I VE
Curso de Graduação em
ADMINISTRAÇÃO
Teoria Geral da Administração
Professor Raphael Schlickmann
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro Socioeconômico
Departamento de Ciências da Administração
Laboratório de Produção de Recursos Didáticos para Formação de Gestores (LabGestão)
Período 5
Florianópolis – 2018
2018. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
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não comerciais, que seja atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
Inclui referências
Curso de Graduação em Administração
CDU: 658
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Atividades de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
O Pensamento Administrativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Atividades de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
A Administração Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Gestão Administrativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Teoria da Burocracia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Atividades de Aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Unidade 4 – Abordagem Comportamentalista da Administração
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Minicurrículo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
Apresentação
Olá, estudante!
Seja bem-vindo à disciplina de Teoria Geral da Administração.
Os objetivos principais desta disciplina são apresentar e proporcionar a
você uma reflexão crítica sobre: o contexto histórico que levou à constituição
da administração como ciência; as propostas teóricas do campo administrativo,
surgidas a partir desse contexto; a evolução e as complementaridades dessas
propostas; a atualidade dos conceitos discutidos em cada uma das teorias e como
essas propostas podem ser visualizadas na prática administrativa.
Ao atingir esses objetivos, esperamos que você tenha base para com-
preender como as diferentes disciplinas da administração se constituíram e se
desenvolveram e quais suas origens. Nesse sentido, dividimos a disciplina em
seis Unidades. Nas duas primeiras optamos por definir a disciplina, delimitar seu
escopo e contextualizar seu surgimento. Nas demais caracterizamos as teorias
administrativas contempladas na ementa desta disciplina.
Na primeira Unidade, denominada Introdução às Teorias da Adminis-
tração, explicaremos a você do que se trata a Teoria Geral da Administração, a
qual pode ser denominada também de teorias da administração. Num primeiro
momento definiremos os termos “teoria” e “administração” para então chegar
a uma denominação geral para a disciplina. Mostraremos como elas podem ser
delimitadas e quais os diferentes temas de que tratam. Por fim, contextualizaremos
as teorias administrativas como uma disciplina contemporânea, possuidora de
características próprias de disciplinas relativamente recentes que a distingue de
outras mais consolidadas em termos teóricos.
Na segunda Unidade, denominada Contexto de Surgimento do Pensamento
Administrativo, mostraremos que o pensamento administrativo não surge por
acaso, mas como consequência de uma série de fatos históricos que criaram um
contexto para sua emergência. Assim, dividiremos esses fatos em dois grandes
grupos de acontecimentos: a consolidação do capitalismo e a emergência da
sociedade industrial; e o processo de modernização da sociedade.
Na terceira Unidade, denominada Abordagem Clássica da Administração,
apresentaremos a você qual foi o primeiro grupo de teorias que constituiu o
Introdução às Teorias da
Administração
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
»»
Entender de que tratam as Teorias da Administração.
»»
Compreender os enfoques e a delimitação que pode ser dada às Teorias da
Administração.
»»
Conhecer as características da ciência administrativa.
Unidade 1
Introdução às Teorias da
Administração
Caro estudante,
Começaremos nossa discussão deixando bem claro o ponto de partida
ao qual nos referimos quando falamos em teorias da administração.
Para tanto, vamos rever algo que você aprendeu nas disciplinas
de Metodologia da Pesquisa e de Introdução à Administração: os
conceitos de “teorias” e de “administração”.
Vamos lá!
V
amos iniciar com o conceito de teorias. Lá na disciplina de Metodologia
da Pesquisa você estudou esse conceito logo no início da disciplina.
Vamos retomá-lo?
Em outras palavras, as teorias são “[...] afirmações que predizem quais ações
vão levar a quais resultados e por que [...]” permitindo prever acontecimentos e
interpretar o presente (SOBRAL; PECI, 2008, p. 32).
Agora vamos passar para o segundo conceito que nos propusemos a rever.
Dessa vez vamos voltar à disciplina de Introdução à Administração, para rever
o que é administração? Como ação, a administração pode ser entendida como
conjunto de práticas com o uso de procedimentos, técnicas ou instrumentos
destinados a atingir os objetivos de dada organização. Já como área de conheci-
mento a administração pode ser entendida como ciência social aplicada que
tem por objeto de estudo tanto a própria ação
de administrar, conforme já explicada, quanto as
Ciência social aplicada
organizações como o espaço onde essa ação se dá.
Portanto, quando nos referimos à ad- As ciências aplicadas, por sua vez, também chamadas
ministração, ao atentarmos para seu conceito, de ciências práticas, são aquelas nas quais o
devemos considerar que estamos falando sobre conhecimento científico, previamente consolidado por
meio das ciências básicas, é aplicado a determinadas
todo o tipo de prática (formal ou informal) para o
áreas, com o objetivo de ampliar o conhecimento
atingimento dos objetivos (formais ou informais)
empírico de certos fenômenos. Fonte: Birochi (2017,
de dada organização (formal ou informal). Nesse
p. 33).
sentido, devemos incluir desde um modelo de
»»
Como deve ser a organização?
»»
Como deve ser sua gestão?
»»
Como é a organização?
»»
Como é sua gestão?
Ampliar o
conhecimento nas Propor modelos, técnicas e
Produto
diversas áreas da instrumentos de gestão.
administração.
Sendo assim, você notará ao longo da leitura deste livro e nas disciplinas
ao longo do curso que os estudiosos e pesquisadores da área, em alguns casos,
terão a pretensão de construir conhecimento em administração com fins prescri-
tivos e em outros com fins explicativos.
Nesse sentido, Ruben, Serva e Castro (1995) vão dividir as teorias da admi-
nistração em três grupos: as teorias das organizações (com viés mais explicativo),
as teorias gerenciais e as teorias voltadas às áreas funcionais (as duas últimas
com viés mais prescritivo).
As teorias das organizações buscam “[...] sobretudo, analisar, refletir e
melhor compreender o espaço onde o trabalho é realizado embora não inteira-
mente despojado de um certo pragmatismo” (RUBEN; SERVA; CASTRO, 1995,
p. 208). No Brasil, as teorias das organizações também são denominadas “estudos
organizacionais”, como o faz, por exemplo, a principal associação de pesquisa
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Observe que o intuito aqui é dar um norte para que você tenha uma
ideia do que são tais teorias e de como elas se constituem num
campo de conhecimento que podemos denominar de “ciência da
administração”.
Contexto de Surgimento do
Pensamento Administrativo
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
»»
Delimitar o contexto socioeconômico que favoreceu o surgimento do pensamento
administrativo.
»»
Compreender a emergência da sociedade industrial e a consolidação do capitalismo
como elementos do processo de modernização do mundo ocidental.
Unidade 2
Contexto de Surgimento do
Pensamento Administrativo
Operário em Construção
(Vinícius de Moraes, 1959)
Caro estudante,
Agora que você compreendeu do que se tratam as Teorias da Administração,
vamos discutir nesta Unidade que contexto socioeconômico favoreceu o
surgimento do pensamento administrativo. Nesse sentido, lançaremos
mão da história. Como nos faz refletir o historiador Sérgio Buarque
de Holanda “A história não é prisão ao passado. Ela é mudança, é
movimento, é transformação.” (VEJA, 1976, p. 6).
O Pensamento Administrativo
P
recisamos entender que a história não serve apenas para nos lembrar do
que foi o passado, mas como referência para nortear o entendimento do
que somos e por quais alternativas futuras optaremos por seguir. Nesse
sentido, partimos do pressuposto de que o pensamento administrativo e o con-
junto de teorias que o constitui não surgiram por acaso, mas foram frutos de um
processo histórico de escolhas feitas diante de situações que foram surgindo.
Prestes Motta e Vasconcelos (2011) mostram que o pensamento administrativo
é decorrente do processo de modernização da sociedade, o qual se dá em um
contexto de emergência da sociedade industrial. Tomando por base o fio con-
dutor que esses autores utilizaram, discutiremos num primeiro momento alguns
dos acontecimentos que culminaram na emergência da sociedade industrial e na
consolidação do capitalismo. Na sequência mostraremos como tais acontecimentos
contribuíram para o processo de modernização da sociedade.
»»
a expansão do comércio e a decadência do sistema feudal;
»»
a mudança no modo de produção das manufaturas;
»»
o cercamento dos campos e o surgimento da classe trabalhadora;
»»
o surgimento dos Estados Absolutistas, a emergência da burguesia
e o mercantilismo; e
»»
a Revolução Industrial.
atuava também como vendedor, era proprietário de sua oficina, das ferramentas
e das matérias-primas necessárias para a execução do trabalho, além de normal-
mente serem fazendeiros.
Por volta do século XVI, tal realidade já havia sido largamente substituí-
da pelo sistema doméstico de trabalho: o artesão adquiria a matéria-prima do
capitalista comerciante que por sua vez pagava um valor em troca de produtos
acabados. Esse sistema foi se modificando até o capitalista comerciante tornar-se
o proprietário do produto ao longo de todo o processo de produção: dono das
ferramentas de trabalho, do local onde o trabalho era desenvolvido, da maté-
ria-prima necessária, além de ter a responsabilidade pela contratação dos traba-
lhadores para a execução do trabalho. Tal sistema desaguou numa realidade em
que antigos artesãos medievais (tecelões, fiandeiros, tintureiros, etc.) que antes
ao menos vendiam seu produto acabado aos comerciantes, passaram a vender
o seu próprio trabalho em troca de seu sustento e de sua família.
Tem-se, assim, o surgimento do sistema econômico do capitalismo, marca-
do por duas características: o controle capitalista de todo o processo produtivo,
bem como a criação de uma força de trabalho que dependia apenas da venda
de sua força de trabalho para sobreviver. Nesse sentido, pode-se constatar que a
consolidação desse novo sistema econômico foi impulsionada pelo surgimento da
classe trabalhadora, constituída não só dos antigos artesãos medievais, conforme
descrito, mas também de uma população urbana recém-saída do campo. Vamos
analisar mais de perto, esse fenômeno?
Bem, os camponeses vão buscar a sorte nas cidades cujas indústrias ma-
nufatureiras cresciam e se desenvolviam, com a evolução do sistema doméstico
de que tratamos anteriormente. Vale destacar, que se os artesãos que ao menos
detinham o domínio de determinado ofício vão tornar-se reféns da classe capi-
talista (detentores de todo o processo de produção), é de se imaginar a situação
daqueles que sempre trabalharam na agricultura: se vêm obrigados a atuar na
indústria, no exército ou na marinha, ou ainda aventurar-se na política de colo-
nização das terras recém “descobertas”. Tem-se assim, o contingente humano
que vai se constituir na força de trabalho da indústria capitalista.
Antes de falar sobre esse processo, vamos discutir outro acontecimento que
nos ajuda a compreender o processo de consolidação do capitalismo. Vamos lá!
Nesse sentido,
Figura 4: Obra do pintor francês Claude Lorrain retratando um porto de mar francês
de 1638 na época do mercantilismo
Fonte: Mercantilismo (2017)
A Revolução Industrial
Saiba mais sobre a
Revolução Industrial
em: <www.infoescola.
A Revolução Industrial (entre os fins do século XVIII e início do século XIX)
com/historia/revolucao- pode ser caracterizada como um fenômeno que
industrial/>. Acesso em:
27 out. 2017.
[...] transformou grande parte da Europa e dos Estados Unidos ao
substituir sociedades de base essencialmente agrícola pelas sociedades
industriais, que se baseiam no uso de máquinas e fontes de energia
não-animais para produzir bens acabados. (JOHNSON, 1997, p. 199).
A Revolução Industrial teve início na Inglaterra o que fez com que tenha se
consolidado como a mais potente nação econômica da época, tendo a indústria
e o capitalismo de livre concorrência como grandes impulsionadores (PRESTES
MOTTA; VASCONCELOS, 2011). Johnson (1997) destaca que aumentos es-
pantosos em produtividade garantiram o protagonismo inglês, decorrentes das
seguintes condições:
»»
uma força de trabalho disponível;
»»
instituições altamente desenvolvidas de comércio externo e interno;
»»
um excelente sistema de transportes; e
»»
uma abundância de carvão como fonte de combustível.
Indo um pouco além, você deve ter notado que na sociedade medieval
os trabalhadores basicamente produziam apenas aquilo que fosse necessário
ao seu sustento ou em troca de proteção ou do direito de permanecer na terra.
O trabalho e o fruto do trabalho, portanto não estavam relacionados ao lucro,
mas a sobrevivência seja dos grandes donos de terras (senhores feudais) seja
dos camponeses que nelas trabalhavam. A partir do estabelecimento de uma
sociedade industrial é que os trabalhadores passam então não mais a produzir
para o seu próprio sustento, mas para garantir o recebimento de um salário
a partir da venda de sua força de trabalho. Da mesma forma, o interesse dos
donos de indústrias não era apenas sobreviver, mas acumular capital, expandir
seus negócios. Todo um sistema legal passa a fazer sentido, seja para garantir
vantagens aos capitalistas e o acúmulo de receitas para o Estado, seja para mais
tarde garantir o direito dos trabalhadores. As autoridades tradicional e carismá-
tica são consideradas muito instáveis para uma sociedade que busca evitar a
“[...] arbitrariedade, o confronto entre indivíduos e grupos e os abusos de poder.”
(PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
Veremos na Unidade 3 que a estrutura burocrática foi a solução encontrada
pela sociedade industrial para tornar suas organizações mais competitivas dentro
de uma lógica de mercado (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011). É nas
organizações burocráticas, portanto, que se vai verificar de forma mais evidente
o exercício da autoridade racional-legal e é dessa constatação que o pensamento
administrativo emerge: “[...] como consequência do processo de modernização
da sociedade [...]” que “[...] é a expressão da lógica burocrática, baseada no
controle da atividade humana por meio da regra, objetivando o aumento de
produtividade e a geração de lucro na sociedade industrial.” (PRESTES MOTTA;
VASCONCELOS, 2011, p. 12).
Esperamos que você tenha compreendido a partir dessa discussão que o
pensamento administrativo não surge por acaso, mas como fruto de uma série
de acontecimentos históricos que culminaram na emergência das organizações
burocráticas como protagonistas do sistema capitalista e da sociedade industrial.
Figura C Figura D
Abordagem Clássica da
Administração
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
»»
Compreender as contribuições da Administração Científica, os autores e os principais
conceitos.
»»
Compreender as contribuições da Gestão Administrativa, os autores e os principais
conceitos.
»»
Compreender as contribuições da Teoria da Burocracia, o autor e os principais
conceitos.
Unidade 3
Abordagem Clássica da
Administração
Linha de Montagem
(Novelli/Chico Buarque, 1980)
Linha linha de Na mão, o ferro, O que será que será
montagem a ferragem que se veja
A cor a coragem O elo, a montagem Vai passar por lá
Cora coração do motor Gente que conhece
Abecê abecedário E a gente dessa a prensa
Ópera operário engrenagente A brasa da fornalha
Pé no pé no chão Dessa engrenagente O guincho do
Eu não sei bem o Dessa engrenagente esmeril
que seja Dessa engrenagente Gente que carrega a
Mas sei que seja o sai maior tralha
que será As cabeças Ai, essa tralha
O que será que será levantadas imensa
que se veja Máquinas paradas Chamada Brasil
Vai passar por lá Dia de pescar Sambe sambe São
Pensa pensa Pois quem toca o Bernardo
pensamento trem pra frente Sanca São Caetano
Tem sustém sustento Também de repente Santa Santo André
Fé café com pão Pode o trem parar Dia-a-dia Diadema
Com pão com pão Eu não sei bem o Quando for, me
companheiro que seja chame
Para paradeiro Mas sei que seja o Pra tomar um mé
Mão irmão irmão que será
Caro estudante,
Após compreender em que contexto se dá o surgimento do pensamento
administrativo, vamos partir para o entendimento das primeiras
contribuições das chamadas Teorias da Administração.
Essas contribuições serão tratadas aqui dentro daquilo que chamaremos
de Abordagem Clássica da Administração que contempla três
C
omo temos deixado claro desde as primeiras Unidades deste livro, que o
pensamento administrativo trazido pela Abordagem Clássica não surge
ao acaso. Ele decorre de um contexto histórico que foi propício ao seu
aparecimento. Tal contexto pode ser explicado a partir da deixa dada pelo fim da
Unidade 2: o surgimento da sociedade industrial, a consolidação do capitalismo
e o processo de modernização da sociedade.
Sobral e Peci (2008) contextualizam material e intelectualmente o surgi-
mento da Abordagem Clássica da administração. Do ponto de vista material, a
Abordagem Clássica decorre das consequências da entrada do capitalismo em
sua fase monopolista no final do século XIX e início do século XX, ou seja, da
Outro filósofo e também jurista que com suas ideias também acaba por
influenciar o surgimento da administração é o inglês Jeremy Bentham, com
Jeremy Bentham foi
suas ideias sobre o utilitarismo. “A natureza colocou o gênero humano sob o o criador da filosofia
domínio de dois senhores soberanos: a dor e o prazer”: é com essa afirmação política conhecida como
utilitarismo, familiarizou-
que Bentham (1979, p. 3) inicia suas colocações acerca do princípio da utilidade.
se, desde criança, com
Utilidade designa aquela propriedade existente em qualquer coisa em virtude as línguas grega e latina.
da qual o objeto promova o prazer (benefício, vantagem, bem ou felicidade) ou Estudou no Queen’s
College, em Oxford,
impeça a dor (dano, mal ou infelicidade) de determinado indivíduo ou de uma de 1760 a 1763, e
comunidade em geral (BENTHAM, 1979). Assim, uma determinada ação estará graduou-se aos 15 anos.
Saiba mais sobre Jeremy
em consonância com o princípio da utilidade quando a tendência em aumentar a
Bentham em <https://
felicidade de um indivíduo ou de uma comunidade for maior que sua tendência educacao.uol.com.br/
a reduzi-la (BENTHAM, 1979). biografias/jeremy-bentham.
htm?cmpid=copiaecola>.
Acesso em: 20 out. 2017.
Você talvez deva estar se perguntando: mas e o que isso tem a ver
com o surgimento do pensamento administrativo? Vamos adiante!
por Martinho Lutero no século XVI vão influenciar numa ética individualista,
Martinho Lutero (1483-
ou seja, de que a diligência e o trabalho duro de cada indivíduo seria o melhor 1546) foi um sacerdote
caminho para agradar a Deus (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011; católico alemão, o
principal personagem
HUNT, 2005). O protestantismo foi assim, uma religião encontrada pelos capita-
da Reforma Protestante
listas para justificar sua busca pelo lucro, opondo-se frontalmente aos dogmas da realizada na Europa no
Igreja Católica que pregavam que o caminho para a salvação do homem deveria século XVI. Saiba mais
sobre Lutero em: <https://
ser intermediada pela Igreja, sendo que o homem não deveria fazê-lo por si só www.ebiografia.com/
(HUNT, 2005). De acordo com Weber (2009, p. 155), essa ética protestante teve martinho_lutero/>. Acesso
em: 20 out. 2017.
uma significação palpável para o desenvolvimento do capitalismo e
A Administração Científica
»»
racionalização do trabalho com o estabelecimento de normas de
atuação laboral bem detalhadas;
»»
fixação de tempos padrões;
»»
eliminação dos movimentos inúteis e introdução de novas ferramentas
de trabalho;
»»
seleção e treinamento de pessoal mais eficaz e racional tornando-o
especializado;
»»
maior eficiência e maior rendimento do trabalhador;
»»
fixação e equidade de salários e concessão de prêmios;
»»
cálculo preciso do custo unitário e preço de venda; e
»»
conciliação do interesse da organização (eficiência/lucro) com o in-
teresse dos trabalhadores (maiores salários).
»»
O principal objetivo da administração deve ser garantir ao mesmo
tempo a prosperidade ao patrão (mais lucros) e ao empregado (mais
salários), o que implica que os interesses de ambos são comuns e não
necessariamente antagônicos: produzir em ritmo mais rápido e com
maior eficiência torna-se benéfico para todos.
»»
Deve-se acabar com a vadiagem no trabalho, causada: pela falsa
impressão dos trabalhadores de que maior rendimento gerará maior
desemprego (poder-se-ia contratar um mais produtivo no lugar de
dois menos produtivos); pelo sistema defeituoso da administração
que favorece que os trabalhadores façam “cera”, para proteger seus
interesses (tendência natural a evitar o trabalho); e métodos inefi-
cientes de trabalho (baseados na mera observação) que favorecem
o desperdício do esforço dos trabalhadores.
»»
Deve-se realizar a divisão do trabalho entre a gerência (responsável
por preparar e instruir os operários de modo cordial para torna-los
Partindo desses pressupostos, Taylor (1990) irá tratar daqueles que con-
sidera os princípios da administração científica, os quais ele resume em quatro:
»»
Desenvolver para cada elemento do trabalho individual uma ciência
que substitua os métodos empíricos, substituindo o critério individual
do operário por uma ciência.
»»
Selecionar cientificamente, depois treinar, ensinar e aperfeiçoar o
trabalhador, evitando que o trabalhador escolha ele os processos
por acaso.
»»
Cooperar cordialmente com os trabalhadores para articular todo o
trabalho com os princípios da ciência que foi desenvolvida.
»»
Manter divisão equitativa do trabalho e de responsabilidades entre a
direção (a quem cabe atribuir o trabalho) e o operário (a quem cabe
executar o trabalho).
»»
Lei da Fadiga: sendo o trabalho do homem limitado pela fadiga, o
que acaba por impactar na produtividade, cabe à gestão realizar um
estudo dos movimentos de modo que – considerando os aspectos
de ordem fisiológica do indivíduo – o trabalho seja o mais adequado
possível considerando o uso do corpo, o arranjo físico e o uso de
equipamentos e ferramentas (CHIAVENATO, 2014a).
»»
Seleção de pessoal: para cada tipo de trabalho deve-se escolher o
homem mais apropriado para desempenhá-lo, considerando que
“[...] cada ato elementar do trabalhador pode ser reduzido a uma
ciência.” (TAYLOR, 1990, p. 56).
»»
Padronização de instrumentos e ferramentas: o estudo de tempos e
movimentos permite a melhoria dos instrumentos e ferramentas de
»»
Henry Ford: foi um empresário americano que na segunda década
do século XX desenvolveu um sistema de trabalho baseado em linhas
de montagem para a fabricação de automóveis. A ideia era que os
trabalhadores realizassem o mínimo de movimentação possível, tendo
em vista que esteiras rolantes conduziam as peças em trono das quais
o operário trabalhava. Isso possibilitou ganhos em produtividade
permitindo “a generalização da linha de montagem e de um sistema
econômico fundamental para a consolidação da sociedade industrial”
denominado fordismo o qual influenciou o sistema produtivo mundial
até por volta da década de 1970, quando o modo de produção japo-
nês, baseado no modelo Toyota (toyotismo) passa a ganhar espaço
(PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011, p. 33). A figura a seguir
retrata a linha de montagem fordista.
»»
Henry Laurence Gantt: engenheiro americano, fortemente influenciado
pelos trabalhos de Taylor com quem trabalhou fez contribuições ori-
ginais como o sistema de pagamento de incentivo tarefa-bônus pelo
qual o trabalhador recebia um bônus ao alcançar um padrão desejado
(SILVA, 2013). Além disso, pode-se mencionar o gráfico de Gantt até
hoje utilizado, por exemplo, na gestão de projetos como ferramenta de
planejamento e controle que permite contabilizar o tempo das atividades
e visualizar a dependência entre elas. A Figura 9 ilustra o gráfico de
Gantt aplicado a um software de gerenciamento de projetos.
»»
Frank Bunker e Lilian Moller Gilbreth: o “casal Gilbreth” baseou
seus estudos no estudo de tempos e movimentos de Taylor, tendo
demonstrado especial interesse pelo esforço humano no aumento da
produtividade (SILVA, 2013). Vale destacar que o próprio Taylor faz
menção a Frank Gilbreth em Princípios de Administração Científica
falando da aplicação que ele fez da administração científica no setor
de construção civil, além de outras contribuições relacionadas ao
estudo da fadiga humana (TAYLOR, 1990).
»»
Foco na busca incessante pelo aumento do lucro dos dirigentes à custa
da limitação dos direitos e do bem-estar dos empregados, sendo o
trabalhador um mero instrumento ou uma peça que fazia o processo
produtivo funcionar.
»»
A concepção de homem da administração científica (homo econo-
micus) baseada na ideia de que o homem é motivado por incentivos
monetários e simplistas não era capaz de considerar a complexidade
Tal crítica está muito da natureza humana.
relacionada ao
surgimento da abordagem »»
A ideia de que existe uma única maneira correta de realizar um tra-
comportamentalista que balho (the one best way) foi criticada, pois no longo prazo tenderia a
veremos na próxima
não aumentar a produtividade, bem como provocaria o surgimento
Unidade. Fique atento!
de comportamentos negativos em relação aos dirigentes e à própria
organização.
»»
A incompatibilidade na ideia de harmonia de interesses entre em-
pregadores e trabalhadores, tendo em vista que na prática há uma
tendência pró-empregadores em termos de ganhos.
»»
A não consideração dos aspectos relacionais e informais inerentes às
organizações (os quais serão tomados como ideias centrais da Escola
de Relações Humanas a qual discutiremos na próxima Unidade), o
que afastava a “teoria” da “prática” organizacional.
»»
a concepção da organização como um sistema fechado, tendo em vista
que não considerava a influência das forças externas à organização;
»»
criava condições que favoreciam a alienação do trabalhador, espe-
cialmente em função do foco excessivo na especialização e na divisão
do trabalho.
Por fim, cabe ainda trazer uma importante crítica trazida por autores como
Chiavenato (2014a) que praticamente põe em cheque a própria forma como
Taylor denomina suas contribuições: “científicas”. Taylor parte do pressuposto
que a melhor forma de melhorar a eficiência das organizações é por meio do
emprego de uma administração pautada em métodos “científicos”. Mas você
recorda o que discutiu sobre o conceito de ciência na disciplina de Metodologia
da Pesquisa, certo? Lembre-se do que faz um conhecimento “científico”? Pois
bem, o que ocorre é que os autores do movimento da administração científica
propuseram-se a desenvolver uma ciência “sem, entretanto, apresentar compro-
vação científica de suas proposições e princípios”, utilizando “[...] pouquíssima
pesquisa e experimentação científica para comprovar suas teses” (CHIAVENATO,
2014a). Além disso, há que se considerar que o próprio Taylor (1990) parece
desconsiderar uma das principais limitações inerentes às ciências sociais: a im-
possibilidade de generalização. Isso fica evidente quando Taylor (1990, p. 23)
termina de definir os objetivos de seu estudo:
casos (como sugere Taylor na citação supracitada) acaba por inviabilizar a cien-
tificidade requerida para a administração. Reflita: aplicar os métodos discutidos
por Taylor numa indústria típica traria resultados iguais na administração de
uma universidade, de uma igreja ou de uma instituição filantrópica, ou mesmo
numa indústria do mesmo setor daquela que Taylor teria baseado seus estudos?
A mesma lógica foi adotada por organizações de serviços por meio da de-
finição dos fluxos e padrões de atendimento. Você já foi contatado ou contatou
uma organização e foi atendido por meio de um sistema de call center? Pense
É uma central de
nesse atendimento e tende fazer a relação com o que você aprendeu até agora
atendimento que tem
nesta Unidade. como objetivo fazer a
A educação também é mencionada pelo autor como uma área influenciada interface entre o cliente e a
empresa. É uma expressão
pelo taylorismo, seja na área do ensino com a padronização de currículos, conteúdos do inglês call (chamada)
e métodos de ensino, ou mesmo na pesquisa onde as áreas de estudo foram se center ou centre (central).
Saiba mais em: <https://
tornando especializadas, e sua avaliação feita com base em critérios quantitativos
www.significados.com.br/
de análise: quanto mais artigos científicos se produzem em determinado espaço call-center/>. Acesso em:
de tempo, mais eficiente torna-se o pesquisador e mais prestígio ele acumula. 22 out. 2017.
da sociedade industrial.
Tal preocupação torna-se evidente quando observado que logo após a pu-
blicação da principal obra de Taylor, Henri Fayol (1841-1925), um engenheiro
Desenvolveu a
francês publica em 1916 Administração Industrial e Geral. Diferentemente de
Teoria Clássica da
Administração’, Taylor que desenvolveu uma “administração científica” que buscou explicar como
caracterizada pela deveria ser feita a administração a partir da execução do trabalho dos operários
ênfase na estrutura
organizacional, pela visão
no chão de fábrica – mesmo porque foi de sua atuação como operário que Taylor
do Homem Econômico foi construindo suas ideias –, Fayol desenvolve uma perspectiva de administração
e pela busca da máxima
que se baseia no olhar da alta gerência tendo sua atuação profissional sempre
eficiência. Saiba mais
em: <http://www. sido voltada ao nível diretivo.
administradores.com.br/ Já no prefácio da obra, Fayol (1994) afirma que a administração é funda-
artigos/negocios/teoria-
classica-da-administracao- mental na direção de qualquer negócio, independentemente do porte ou setor
segundo-henri- de atuação e que busca por meio de seu livro expor suas ideias relativas a ma-
fayol/13239/>. Acesso
neira pela qual ela deveria ser exercida. Vale salientar que os termos “industrial”
em: 22 out. 2017.
e “geral” que o autor utiliza para nomear sua obra parecem querer demonstrar
justamente que aquilo de que está tratando não se refere apenas à administra-
ção de indústrias, mas a qualquer organização. Isso fica evidenciado ao longo
do texto, quando busca aplicar os conceitos que explica tanto às organizações
privadas como às organizações estatais.
Fayol (1994) divide seu livro em duas partes: na primeira dedicada a ar-
gumentar sobre a necessidade e a possibilidade do ensino da administração, e a
segunda discutindo os princípios e elementos da administração. Vamos verificar
quais as contribuições trazidas por ele?
Assim, inicia a primeira parte do livro trazendo uma definição do que en-
tende por administração, operação que em conjunto com outras cinco constitui
as funções essenciais existentes em qualquer empresa (FAYOL, 1994). O Quadro
3 traz uma definição de cada uma dessas funções, incluindo a administrativa.
WƌĞǀĞƌ
^ŽŶĚĂƌ Ž ĨƵƚƵƌŽ Ğ ƚƌĂĕĂƌ Ž ƉƌŽŐƌĂŵĂ ĚĞ
ĂĕĆŽ͘ ĂůĐƵůĂƌ Ž ĨƵƚƵƌŽ Ğ ƉƌĞƉĂƌĄͲůŽ͘
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>ŝŐĂƌ͕ ƵŶŝƌ Ğ ŚĂƌŵŽŶŝnjĂƌ ƚŽĚŽƐ ŽƐ ĂƚŽƐ Ğ
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ŽŶƚƌŽůĂƌ
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ĂƐ ƌĞŐƌĂƐ ĞƐƚĂďĞůĞĐŝĚĂƐ Ğ ĂƐ ŽƌĚĞŶƐ ĚĂĚĂƐ͘
Finalizando a primeira parte do livro, Fayol (1994) trará a tona uma dis-
cussão que o torna pioneiro na defesa do ensino da administração. Defende a
formação de administradores com base em uma “doutrina administrativa” que
por sua vez se originaria da comparação e da discussão acerca das ideias pes-
soais de dirigentes de empresas “[...] sobre os princípios que consideram mais
adequados para facilitar a marcha dos negócios e sobre os meios mais favoráveis
à realização desses princípios.” (FAYOL, 1994, p. 38).
Fayol (1994, p. 43) inicia a segunda parte do livro, destacando o corpo
social (ou o pessoal) como órgão e instrumento da função administrativa, sendo
que lança mão de princípios – os quais utiliza como sinônimo de leis ou regras –
que devem ser considerados para garantir sua “saúde” e “bom funcionamento”.
Interessante ponderar que quando define esses princípios Fayol (1994) já flerta
com uma ideia que será muito cara à teoria da contingência que trataremos na
Unidade 6: a ideia de que em matéria de administração, tudo pode ser relativi-
zado em função do contexto.
Fayol (1994, p. 43) afirma que
»»
Luther H. Gulick (1892-1983): diretor do Instituto de Administração
Pública da Universidade de Columbia e membro do Comitê de
Gerenciamento Administrativo do presidente dos Estados Unidos
(1933-1945) Franklin D. Roosevelt (1882-1945), ampliou as funções
administrativas para além daquelas definidas por Fayol, desenvolvendo
aquilo que denominou de POSDCORB as iniciais das seguintes funções
respectivamente: planning (planejamento), organizing (organização),
staffing (assessoria), directing (direção), coordination (coordenação),
reporting (informação) e budgeting (orçamento). Da mesma forma
que Fayol, Gulick entendia que as atividades administrativas poderiam
ser aplicadas a qualquer tipo de organização, embora seu foco inicial
tenha sido voltado à administração governamental (SILVA, 2013).
»»
Lyndall Urwick (1891-1984): foi coronel do exército inglês, atuou na
indústria como diretor do Instituto Internacional de Administração
em Genebra, bem como presidente de uma empresa de consultoria
(SILVA, 2013). As contribuições de Urwick estão mais relacionadas a
uma divulgação e desenvolvimento das ideias de autores como Fayol
(além do próprio Taylor) (SILVA, 2013). Chiavenatto (2014a), por
exemplo, dirá que Urwick apenas desdobrou a função prever definida
por Fayol em: investigar, prever e planejar.
»»
coincidência em seus princípios, elementos e deveres;
»»
confusão entre estrutura organizacional e processo administrativo;
»»
extrema dependência da burocracia do topo para a base;
»»
fundamenta seus conceitos na observação e no senso comum, ou
seja, há ausência de rigor científico;
»»
racionalismo extremo: a organização é vista como um meio para se
atingir a eficiência técnica e econômica;
»»
enfatiza apenas os aspectos formais da organização;
»»
a organização é vista como uma máquina e as pessoas são as peças
que a fazem funcionar;
»»
a colocação em prática ou não dos princípios administrativos trarão
como consequência determinados efeitos ou consequências, numa
correlação determinística;
»»
a organização é vista como um sistema fechado;
»»
alinha-se a administração científica na concepção de homem com
base na ideia de homo economicus.
Teoria da Burocracia
Nesse sentido, Weber irá nos mostrar que a partir do momento em que as
organizações passaram com o processo de industrialização e consolidação do
capitalismo a: predominar sobre outros tipos de sistemas sociais; condicionar os
valores, pensamentos e formas de agir dos indivíduos; serem importantes para
o desenvolvimento econômico, social e político de um país (sua produtividade,
gera eficiência que leva ao desenvolvimento) todas as atenções voltam-se a elas
(PRESTES MOTTA; BRESSER-PEREIRA, 1986). Em outros termos, tudo se
voltava a responder de que forma tais organizações deveriam ser administradas
para atender da melhor forma possível seu papel de protagonista da sociedade
capitalista. O exercício da autoridade racional-legal era para Weber a resposta a
esse desafio, pois por meio do exercício dessa autoridade a organização voltaria
seu foco para seus fins, deixando de lado quaisquer interferências trazidas pelo
exercício dos outros tipos de autoridade que poderiam comprometer os seu
resultado.
Nesse sentido, o que Weber vai discutir na teoria da burocracia é como
devem ser estruturadas e administradas às organizações a fim de que cumpram
seu papel na sociedade capitalista. Para tanto, ele lançará mão de um recurso
metodológico denominado “tipo ideal” para explicar as características de um
“modelo ideal de organização burocrática” para servir de parâmetro para aquelas
organizações que mais ou menos se aproximam dele.
Características
Definição
ou princípios
realidade com a qual iniciamos a discussão sobre o trabalho de Weber. Para esse
autor, por mais que as organizações burocráticas tentem controlar a ação dos
indivíduos por meio do exercício da autoridade racional-legal, ou seja, criação
de procedimentos, normas e regras que condicionem o seu modo de agir rumo
aos objetivos organizacionais, os indivíduos tem liberdade para agir de outro
modo. Ou seja, os indivíduos podem ou não aceitar se conformarem às regras.
Vamos tentar clarear essa ideia com um exemplo. Imaginem o vendedor
de uma loja no shopping que se depara com a seguinte situação: um cliente
chega para trocar um calçado que comprara no dia anterior, mas ao calçá-lo
percebeu que o mesmo apresentava um defeito de fabricação na sola. De acordo
com os procedimentos da loja, o vendedor deveria encaminhar o sapato para a
fabricante e solicitar que o cliente aguardasse até uma semana para saber se a
fábrica consertaria o defeito ou se trocaria por um modelo novo. Ocorre que ao
informar o cliente sobre tal procedimento, o mesmo sente-se injustiçado, pois terá
que aguardar uma semana por uma resposta sendo que já efetuou o pagamento
e deseja fazer uso do calçado. O vendedor compreende o cliente e inclusive no
seu íntimo concorda com o mesmo. Ou seja, dependesse apenas do vendedor
ele efetuaria a troca, posto que para ele isso é o justo, o correto. Porém, ele pre-
cisa seguir uma regra estabelecida pela loja. Eis o dilema: ele efetua a troca ou
insiste nas normas da loja? O comum é que ele opte pela segunda alternativa,
mas nada impede que ele escolha a segunda opção. A grande questão é: até que
ponto ele está disposto a arcar com as consequências de não agir conforme as
regras? Afinal, ele pode ser advertido, punido ou mesmo demitido, não é mesmo?
Isso evidencia que por mais que as organizações persigam o modelo buro-
crático, a liberdade de ação dos indivíduos leva a efeitos disfuncionais do ponto
de vista prático. Por exemplo: regras rígidas de trabalho poderão tornar o traba-
lho, do ponto de vista de um funcionário, exaustivo, “bitolado” o que o levará
a buscar outras coisas – acessar uma rede social, por exemplo – como forma de
fugir desse estado. Isso pode levar desde a um atraso na entrega de um trabalho
até um trabalho final mal feito em função do desvio da atenção do funcionário.
Assim, por mais que a organização planeje, defina seus procedimentos e
regras de funcionamento, estabeleça cargos, funções e atribuições aos seus fun-
cionários, a prática é influenciada pelas características, necessidades, valores e
crenças de cada um dos indivíduos que a compõe. E mesmo com tais limitações
as organizações funcionam. Em outras palavras, embora não funcionem do modo
considerado ideal, as organizações sobrevivem. O que buscam as organizações é
limitar os efeitos dessas disfunções. Porém, como advertem os estruturalistas que
tratarão das disfunções trazidas pelo modelo burocrático de organização, muitas
vezes a busca por limitar os efeitos disfuncionais trará mais regras, mais formas
de controle, ou seja, mais burocracia, num ciclo que nunca cessará.
Um dos estruturalistas mais conhecidos no campo administrativo e que
abordará algumas das disfunções da burocracia foi Robert K. Merton (1910-2003).
Tais disfunções são resultantes da discrepância entre o modelo organizacional
oficial (burocrático) e as práticas informais. Sendo que essa distância entre o
mundo burocrático (da racionalidade e do cálculo) e o mundo das práticas in-
formais (sentimentos e afetividade) produz efeitos “disfuncionais” do ponto de
vista da organização (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011). Chiavenato
(2011, p. 252-254) resumirá as disfunções da burocracia trazidas por Merton da
seguinte forma:
»»
internalização das regras e apego aos regulamentos;
»»
excesso de formalismo e de papelório;
»»
resistência às mudanças;
»»
despersonalização do relacionamento;
»»
categorização como base do processo decisório;
»»
superconformidade às rotinas e aos procedimentos;
»»
exibição de sinais de autoridade; e
»»
dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público.
»»
Alvin Gouldner (1920-1980): que em decorrência das disfunções
burocráticas trabalhará com padrões de burocracia industrial (falsa
burocracia, burocracia representativa e burocracia autocrática).
»»
Philip Selznick (1919-2010): que discute a ficção do modelo
burocrático de organização em função de que atores sociais sempre
serão resistentes às formas de controle burocrático.
»»
Michel Crozier (1922-2013): que discute temas como ação co-
letiva, incertezas, poder e mudança organizacional, como forma de
mostrar a organização como um espaço onde atores sociais buscam
atingir seus objetivos individuais limitados pelas regras e estruturas
organizacionais.
»»
Peter Blau (1918-2002): que discute como a pessoalidade está
presente nas relações de trabalho, impedindo que o homem burocrático
(voltado apenas para o atingimento dos objetivos organizacionais)
é uma ficção.
»»
Amitai Etzioni (1929): que constrói uma tipologia de organizações
partindo do pressuposto que cada organização terá uma forma de
gestão específica que varia conforme a distribuição de poder e os
aspectos que motivam os participantes a contribuírem com os objeti-
vos da organização (organizações burocráticas: coercitivas, utilitárias,
normativas ou híbridas). Ainda, revela tensões inevitáveis e que em
maior ou menor grau sempre existirão nas organizações (necessidades
organizacionais X individuais; racionalidade X irracionalidade; disci-
plina X liberdade; relações formais X informais; níveis hierárquicos X
unidades administrativas).
»»
Não discute os aspectos informais inerentes às organizações, algo
que será o foco da Escola de Relações Humanas na Abordagem
Comportamentalista, a qual discutiremos na próxima Unidade.
»»
Não previsão das disfunções burocráticas, as quais serão estudadas
pelos estruturalistas que dão sequência ao trabalho de Weber, con-
forme apresentado anteriormente.
»»
O foco de análise da organização está voltado para seus aspectos
internos, ainda que como estruturalista Weber já reconheça as orga-
nizações como parte de uma estrutura social mais ampla (PRESTES
MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
Princípios de Administração
Economia e
Principais obras Administração Industrial e Geral
Sociedade (1947)*
Científica (1911) (1916)
Na estrutura
Nas tarefas
organizacional Na estrutura
Ênfase executadas pelos
e no processo organizacional
empregados
administrativo
Funções
Contribuição de Estudo de Tempos e administrativas Modelo burocrático
destaque Movimentos (processo de organização
administrativo)
Concepção da
Organização Formal
organização
Relações
administradores e Identidade de interesses
empregados
Sistemas de
Monetários
incentivos
Concepção do
Homo economicus
homem
Resultados
Máximos
esperados
Nota: *o ano de publicação refere-se à tradução para língua inglesa feita por Talcott Parsons e Alexander M.
Henderson (SILVA, 2013).
O Carimbador Maluco
(Raul Seixas)
Cinco, quatro, três, dois!
Parem! Esperem aí!
Onde é que vocês pensam que vão? Hum, hum
Plunct, plact, zum, não vai a lugar nenhum
Plunct, plact, zum, não vai a lugar nenhum
Plunct, plact, zum, pode partir sem problema algum, boa viagem
Abordagem Comportamentalista da
Administração
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
»»
Compreender as contribuições da Escola de Relações Humanas, os autores e os
principais conceitos.
»»
Conhecer as contribuições das Teorias de Motivação e Liderança, os autores e os
principais conceitos.
Unidade 4
Abordagem Comportamentalista
da Administração
Comida
(Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer, 1987)
Caro estudante,
A música Comida, uma das mais conhecidas entre aquelas
interpretadas pela banda brasileira Titãs, ajuda a ilustrar as críticas
feitas à Abordagem Clássica da administração e que levaram a um
desenvolvimento das teorias administrativas. Nesta Unidade, veremos
com mais detalhes como tais críticas vão culminar naquilo que
chamaremos de Abordagem Comportamentalista da Administração,
a qual analisaremos sob duas perspectivas: a Escola de Relações
Humanas e as Teorias de Motivação e Liderança.
Então, vamos adiante!
E
m termos históricos, a abordagem comportamentalista da administração
pode ser situada em termos de divulgação de seus estudos a partir da dé-
cada de 1930, período que remete à grave crise vivenciada pelo sistema
capitalista mundial com a queda da Bolsa de Nova York em 1929. Nesse momento
a sociedade capitalista foi abalada por uma grave crise, pondo em evidência as
fragilidades desse sistema econômico, o que nas organizações industriais refletiu-se
na necessidade de repensar as formas de se aumentar a produtividade e reduzir
os custos (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
O Estudo ou Relatório de Hoxie: tratou-se de uma investigação
profunda conduzida por Robert Hoxie, indicado pela Comissão de
Estudos Industriais da Câmara dos Deputados norte-americana, sobre
o método taylorista (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
Tal investigação foi decorrente da acusação de sindicatos e associa-
ções de trabalhadores sobre os impactos negativos do emprego das
»»
A produtividade dos trabalhadores era determinada por padrões e
comportamentos informais definidos pelos grupos de trabalho.
»»
Tais padrões e comportamentos acabam estabelecendo normas in-
formais que são influenciadas por elementos que os grupos trazem
em sua cultura e hábitos próprios, que refletem características de sua
socialização.
»»
A existência de um conflito entre as regras formais de trabalho e os
padrões informais estabelecidos pelo grupo, culminava numa tendência
deste em diminuir sua produtividade.
Mary Parker Follet (1868-1933) foi uma pesquisadora americana que atuou
em diversas áreas do conhecimento como direito, economia, administração pública,
filosofia, história e ciência política (GOLEMAN, 2007). Além de estudiosa, era
também muito atuante, tendo se dedicado ao serviço social voluntário e criado
centros vocacionais nas escolas de Boston, onde desenvolveu também a ideia
de usar as escolas como centros para educação e recreação da comunidade local
após o período regular das aulas (GOLEMAN, 2007).
Com a publicação de The New State (O Estado Novo) de 1918, Follet passou
a ser reconhecida como cientista política por defender a democracia como um
processo de governo baseado em grupos, ou seja, inicialmente sua contribuição
está mais voltada à democracia do ponto de vista da sociedade, o que adiante
passa a ser aproveitado no campo organizacional (GOLEMAN, 2007). Assim
é que mais adiante ela reconhecerá que as questões enfrentadas pelo Estado,
também serão enfrentados pelas organizações industriais: se a unidade da so-
ciedade não se encontrava nos indivíduos, mas nos grupos sociais, assim como
nas organizações a identidade e o potencial humano decorriam dos grupos dos
quais os trabalhadores faziam parte (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
De acordo com Goleman (2007), o potencial do grupo era obtido a partir
do relato de diferentes pontos de vista dos participantes, visando ao interesse
comum do grupo. De tais diferenças emergiam os conflitos, que para Follet eram
inerentes aos grupos. Para a autora, o uso de métodos participativos e democrá-
ticos (método de integração) deveria ser fomentado na organização para garantir
a integração dos trabalhadores, minimizando eventuais efeitos nocivos dos con-
flitos. Vale destacar que embora defendesse tais métodos reconhecia a existência
do método da força (ligado à coerção e utilização de ameaças e violência) e o
método da barganha (que contemplava a negociação política entre as partes
para chegar a um comum acordo) (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
Os objetivos dos indivíduos e das empresas são diversos e podem
não convergir, o que leva a existência dos grupos informais, ou da
parte informal da organização.
»»
As organizações são meios para os indivíduos satisfazerem objetivos
que sozinhos não seriam capazes (por meio da cooperação).
»»
Os indivíduos tenderão a cooperar desde que os objetivos da orga-
nização sejam condizentes com seus objetivos pessoais.
Com base nesses pressupostos, Barnard postula três funções que o exe-
cutivo deveria desempenhar:
»»
“[...] prover um sistema de comunicação para manter a organização
em funcionamento eficaz [...]” (SILVA, 2013, p. 180); ou seja, criar
métodos de persuasão, estimular valores comuns e outras formas
»»
Inserção de variáveis psicossociais na análise das organizações.
»»
Chamam atenção para a influência da motivação humana no de-
sempenho da organização (SOBRAL; PECI, 2008).
»»
Colaboração grupal, que não ocorre por acaso, devendo ser planeja-
da e desenvolvida para que o grupo seja mais coeso e cooperativo.
»»
Concepção de homem do homo economicus para o homo socialis
(homem social), ou seja: o comportamento do homem não é mais visto
como simples e mecanicista (condicionado apenas pelas demandas de
ordem biológica e material), mas complexo (oriundo também pelas
demandas do sistema social, incluindo necessidades de segurança,
afeto, aprovação social, prestígio, autorrealização e senso de pertencer
que influenciam mais a sua produtividade que as condições físicas do
ambiente de trabalho) (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
Grupos informais (duas ou mais pessoas reunidas em torno de ne-
cessidades comuns não diretamente relacionadas com os objetivos
dos grupos formais do qual fazem parte) e da organização informal
(formada por grupos informais, compreende o conjunto de relações
afetivas, relações de poder e envolvimento com o grupo que influen-
ciam a produtividade e o funcionamento das estruturas formais e
»»
Dirigentes empresariais criticavam a excessiva ênfase no bem-estar dos
funcionários em detrimento dos lucros (para aqueles a função principal
da empresa), bem como o aumento dos custos o que elevaria o preço
final ao consumidor (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
Os trabalhadores podem ser vistos como meios a serem manipula-
dos e ajustados (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011) com o
objetivo de fazer a organização atingir seus objetivos, tanto quanto
na abordagem clássica, mudando apenas os estímulos.
»»
Tendência pró-administração, visto que na prática os estudos reali-
zados acabavam por considerar que os aspectos psicossociais eram
considerados bons porque aumentavam a produção e não por-
que impactavam favoravelmente o indivíduo (PRESTES MOTTA;
VASCONCELOS, 2011).
»»
Especialmente em relação aos estudos de Elton Mayo, houve uma
crítica em relação ao viés excessivamente empirista, sem base teórica
para suas conclusões (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
Cria uma polarização: organização formal e lógica versus organização
informal e afetiva, o que acaba por distorcer a realidade organizacional,
que como dirão os estruturalistas, integra o lado formal e o informal
das organizações (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
»»
Falta de reconhecimento do conflito como algo que poderia ser bené-
fico às organizações, trazendo novos pontos de vista, incentivando a
criatividade e inovação: os estudiosos da escola de relações humanas
viam o conflito como algo que devesse ser minimizado, posto que
era considerado prejudicial (SILVA, 2013).
»»
Na medida em que dava ênfase aos grupos, especialmente os infor-
mais, a individualidade das pessoas que formavam o grupo eram
sufocadas pela necessidade delas buscarem se conformar aos padrões
do grupo (SILVA, 2013).
satisfeito hoje? O que você acha que poderia te deixar mais satisfeito com o
trabalho? Você acha que uma vez que atinja essa necessidade que te deixe mais
satisfeito, isso seria capaz de deixá-lo sempre satisfeito?
»»
Necessidades fisiológicas: são as mais primitivas (básicas) de
todas as necessidades humanas: alimentação, abrigo, repouso, etc.
»»
Necessidades de segurança: relacionadas à busca de proteção
contra ameaças ou privações.
»»
Necessidades sociais: relacionadas à participação em grupos, ser
aceito pelas pessoas, amizade, afeto, entre outras.
»»
Necessidades de autoestima: relacionadas à autoestima e à esti-
ma por parte de outras pessoas, por meio do exercício do poder, do
prestígio e autoconfiança.
»»
Necessidades de autorrealização: envolvem as mais comple-
xas e sofisticadas necessidades dos indivíduos e estão relacionadas
ao desejo que estes têm de maximizar suas habilidades e talentos,
por meio da auto compreensão, expressão de ideias e sentimentos
próprios.
Dito isso, cabe esclarecer até que ponto essa teoria pode ser aplicada
à realidade organizacional, ou ao campo administrativo? A figura a
seguir traz alguns exemplos de como a hierarquia das necessidades
pode ser aplicada ao trabalho dos indivíduos nas organizações.
»»
A consideração de que as necessidades humanas não só são mais
complexas como sugeria a Escola de Relações Humanas, mas variam
com o contexto e com o tempo, levando à substituição da concepção
de homem de “homem social” para “homem complexo”.
»»
A discussão dos fenômenos da motivação e da liderança nas orga-
nizações, abrindo perspectivas ao seu caráter contingencial, ou seja,
variável conforme as características do ambiente organizacional e
dos próprios indivíduos.
»»
A compreensão da importância dos aspectos intrínsecos aos indivíduos
para o desempenho no trabalho.
»»
A abertura de possibilidades para o estudo de novas abordagens,
modelos e técnicas de gestão: estruturas organizacionais mais hori-
zontalizadas; movimento de enriquecimento e ampliação das tarefas;
movimento de gestão democrática (cogestão e gestão participativa) com
a criação de grupos semiautônomos de trabalho; ênfase no compro-
metimento do empregado com a organização para a criação de uma
cultura organizacional forte (cidadania organizacional); abordagem
da qualidade total; reconhecimento da importância do conhecimento
tácito; reconhecimento dos aspectos políticos da gestão; etc.
»»
Podem ser vistas a partir de uma perspectiva puramente instrumental,
de manipulação motivacional do trabalhador, focando em encontrar
respostas a seguinte pergunta: como melhorar o desempenho do
indivíduo no trabalho? (SOBRAL; PECI, 2008).
»»
A realização e a construção da identidade de um indivíduo não se
dá necessariamente nas relações de trabalho, então por mais que a
gestão se preocupe em fornecer meios de envolver os trabalhadores,
2. Com base no texto anterior e no que você aprendeu sobre a Escola Clás-
sica e a Abordagem Comportamental, analise as afirmações a seguir e
assinale a alternativa correta:
I – Caso Chico e Caetano adotassem os pressupostos da Escola Clássica,
iriam agir para impedir que conflitos como os ilustrados ocorressem para
não prejudicar a produtividade.
II – Caso Chico e Caetano adotassem os pressupostos da Escola de Re-
lações Humanas, iriam adotar métodos administrativos para tentar lidar
Abordagem Sistêmica da
Administração
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
»»
Situar a Teoria dos Sistemas e a Teoria da Contingência como integrantes da
Abordagem Sistêmica da administração.
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Compreender as contribuições da Teoria dos Sistemas, os autores e os principais
conceitos para as teorias administrativas.
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Compreender as contribuições da Teoria da Contingência, os autores e os principais
conceitos para as teorias administrativas.
Unidade 5
A Abordagem Sistêmica da
Administração
Caro estudante,
Nesta Unidade vamos tratar de uma das mais importantes abordagens
que dão suporte ao entendimento da administração e do funcionamento
das organizações. Trata-se da Abordagem Sistêmica. Observe por alguns
instantes a figura que abre a Unidade e diga o que você vê. Somente
olhando a figura é que podemos perceber que ela ao mesmo tempo
representa a face lateral de uma jovem e o rosto de uma senhora.
Conseguiu perceber? Não? Tente mais uma vez! Caso não consiga, peça
a ajuda de um colega ou de alguém que esteja próximo a você. A figura
ilustra algumas das características do conceito de sistema que serve de
referência para a abordagem sistêmica que discutiremos nesta Unidade.
Ainda não conseguiu ver a jovem ou a senhora na figura? Então sugerimos
que prossiga a leitura desta Unidade e mais tarde volte a tentar!
Note que nomeamos cada uma das figuras anteriores como um sistema,
ainda que façam referências a coisas completamente distintas. Ao mesmo tempo,
se você voltar ao conceito de sistema verá que todas se encaixam na definição.
O sistema humano que constitui o corpo humano, por exemplo, é formado
de partes menores, os sistemas funcionais, como: o sistema digestivo, o sistema
respiratório, etc. Tais sistemas por sua vez são constituídos por diferentes órgãos,
que são formados por um conjunto de tecidos que se formam a partir da junção
de diferentes células... Para que o corpo humano funcione bem, é necessário
que as diferentes partes que o constituem estejam em sintonia de forma interde-
pendente. Isso quer dizer que embora cada órgão tenha sua função específica,
é necessário que cada um funcione bem para que os demais órgãos não sejam
afetados. Cada parte do corpo executando a sua função específica garantirá que
o sistema humano funcione bem.
Você deve estar lembrado que logo após o fim da Segunda Guerra Mun-
dial foi constituída uma série de organismos multilaterais, com destaque para
a Organização das Nações Unidas (ONU) que foi criada justamente para lidar
com a complexidade das relações entre os diferentes países de modo que a
paz fosse sempre garantida entre as nações (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2017a). Assim, a ONU de certa forma busca representar a totalidade
dos interesses das nações em diferentes áreas, como consta no próprio portal da
organização na internet “O Sistema da ONU está formado pelos seis principais
órgãos da Organização, bem como por Agências especializadas, Fundos, Progra-
mas, Comissões, Departamentos e Escritórios” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2017b).
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Os sistemas existem dentro de sistemas: isso significa dizer que
ao pensar em qualquer sistema, devemos entendê-lo como constituído
por partes menores – ou subsistemas – bem como partes integrantes
de um sistema mais amplo – ou um macro-sistema. Se voltarmos à
Figura 34 que ilustra o sistema solar, podemos entendê-lo composto
de subsistemas menores (por exemplo, os planetas e estrelas que o
compõem) bem como parte de um conjunto de galáxias que forma
o universo. Volte às outras duas figuras – a que ilustra o sistema hu-
mano e o sistema organizacional – e perceba como é possível partir
da mesma premissa ao analisá-las.
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Os sistemas são abertos: tal premissa é inerente a anterior. Na
medida em que um sistema se constitui de sistemas menores e faz
parte de um macrossistema, ele interage com as suas partes consti-
tuintes e com o sistema maior que o contem enquanto existir. Pense
em você mesmo como um sistema. Pense em como você interage
com seu interior (os sistemas que o compõem) ao mesmo tempo em
que está inserido num determinado ambiente (onde você se encontra
agora? Como está integindo com o local em que se encontra?). Reflita
sobre isso e faça o mesmo exercício com outros objetos, organismos,
estruturas.
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As funções de um sistema dependem de sua estrutura: tomemos
como no caso de um sistema organizacional, por exemplor. Caso ela
seja uma empresa que atue num mercado complexo e incerto com
mudanças rápidas, como é o setor de tecnologias de informação e
comunicação, por exemplo, talvez ela tenha que ter uma estrutura
mais flexível que uma organização pública. É possível que não faça
muito sentido que tal empresa tenha uma hierarquia muito rígida
que dificulte a tomada de decisão e crie barreiras à inovação. O que
influencia na definição de sua estrutura é portanto o mercado do
qual faz parte (marco-sistema) constituído de clientes, fornecedores,
concorrentes, etc. Ao mesmo tempo, os setores que a integram e as
pessoas que integram esses setores (partes que a constituem) também
influenciarão naquilo que a empresa será. Funcionários mais ou menos
competentes, capacidade de inovação e competitividade da empresa
influenciarão naquilo que a empresa será.
Como já deve ter ficado claro para você a partir de alguns exemplos apre-
sentados a teoria geral dos sistemas desenvolvida por Bertalanffy acaba fazendo
todo o sentido de ser aplicada ao campo administrativo, visto que as organizações
– as quais podem ser vistas a partir de sua perspectiva – são um de seus princi-
pais objetos de estudo. Uma das principais razões que levaram à introdução das
ideias da teoria dos sistemas nas teorias da administração surge da necessidade
de sintetizar e de integrar as teorias que a antecederam, especialmente pelo fato
de que estas focavam sua análise aos aspectos internos, ou seja, sua estrutura e
modo de funcionamento interno, bem como as relações internas entre as pessoas,
suas ações e comportamentos (CHIAVENATO, 2011).
Utilizaremos o termo abordagem sistêmica nesta Unidade para nos refe-
rirmos aos estudos que usaram os pressupostos e premissas da Teoria Geral dos
Sistemas aplicados às organizações e ao campo administrativo. Tais teorias por
sua vez serão subdivididas em duas correntes as quais denominaremos de: Teoria
dos Sistemas e Teoria da Contingência. A seguir são apresentadas as contribuições
de alguns autores sobre cada uma dessas correntes.
Vamos nos referir a Teoria dos Sistemas para discutir alguns estudos que
passam a adotar a concepção das organizações como sistemas abertos, ou seja,
que são influenciadas e influenciam direta ou indiretamente o ambiente em que
estão inseridas. Nos concentraremos nas contribuições de duas duplas de autores:
Eric Trist e Fred Emery e Daniel Katz e Robert Kahn.
Segundo esse modelo, esses dois subsistemas não podem ser considerados de
modo separado para compreender o que acontece de fato nas organizações – como
supnham os autores da abordagem clássica e da abordagem comportamentalista
–, visto que eles se inter-relacionam e influenciam-se mutuamente (CARAVANTES;
PANNO; KLOECKNER, 2005). Nesse modelo fica evidenciado portanto que a
determinação de como as coisas serão numa dada organização dependerá da
influência mútua entre a natureza da tarefa (subsistema técnico) e as características
psicossociais da pessoas em interação (subsistema social) (CHIAVENATO, 2011).
Outro aspecto evidenciado por este modelo é a ideia de que a organização
atua como um sistema aberto, importando recursos do ambiente (suprimentos,
equipamentos, produtos auxiliares, mão de obra, recursos financeiros, etc.), uti-
liza esses recursos por meio de um processo de conversão (transformação das
importações em produtos ou serviços) e exporta produtos e serviços resultantes
desse processo ao ambiente (CHIAVENATO, 2011). Nesse sentido, a eficiência
real do sistema organizacional dependerá da capacidade do subsistema social em
transformar a eficiência potencial dada pelo subsistema técnico no processo de
conversão dos recursos importados em produtos e serviços que são exportados
ao ambiente.
Daniel Katz (1903-1998) Robert Louis Khan (1918-) foram dois psicó-
logos americanos da Universidade de Michigan tendo sido pioneiros ao pro-
porem a aplicação da Teoria dos Sistemas Abertos no campo administrativo
(CHIAVENATO, 2011; SILVA, 2013). Em A Psicologia Social das Organizações
publicado na década de 1960, os autores desenvolveram um modelo conceitual
de organizações como sistemas abertos que contemplam as seguintes as carac-
terísticas descritas no quadro a seguir.
Característica Descrição
Importação de
A organização recebe insumos do ambiente (recursos humanos,
energia (entradas/
materiais, financeiros, etc.).
inputs)
Exportação de energia
A organização coloca seus produtos ou serviços no ambiente.
(saídas/outputs)
Por meio do exemplo ficou mais clara para você a aplicação das
características do modelo de sistema aberto de Katz e Kahn? Caso
ainda não tenha ficado entre em contato com seu tutor ou releia o texto.
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A concepção de homem funcional: a partir da inserção dos
pressupostos e premissas da teoria dos sistemas para a compreensão
das organizações, os indivíduos passam a ser vistos como atores des-
tinados a desempenhar um conjunto de papéis na organização, que
contribuam para o seu funcionamento (em outras palavras interessa
que o indivíduo trabalhe para manter a organização em uma situação
estável, mantendo o seu ciclo de eventos). Ocorre que cada indivíduo
possui características pessoais, personalidade e é influenciado de
diferentes maneiras pelo contexto organizacional do qual faz parte
(PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011). Sendo assim, tenderão a
desempenhar os papéis requeridos pela organização com base nessas
características e influências as quais poderão ir a favor ou contra as
expectativas que a organização tem desses indivíduos. Assim, para
a organização interessa que os indivíduos se comportem com base
naquilo que interessa ao cumprimento dos objetivos dela. Prestes
Motta e Vasconcelos (2011, p. 182) dirão que: “[...] a organização
não quer o homem integral, mas apenas os aspectos que considera
relevantes para evitar a manifestação de aspectos geralmente definidos
de forma muito estreita”. Em outros termos: o homem deve exercer
a sua função dentro da organização para que o sistema funcione e
cumpra com seus objetivos, evitando conflitos de papéis entre indi-
víduo e organização em função do custo que isso pode representar
para o indivíduo e para a própria organização.
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Organizações como sistemas abertos: com a teoria dos sistemas
a administração amplia seu escopo de análise mostrando importan-
tes relações entre as partes internas que a constituem (subsistemas)
e as variáveis que integram o ambiente externo do qual faz parte
(SOBRAL; PECI, 2008).
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Desmitificação da “ótima solução administrativa”: a partir de
conceitos como o de “equifinalidade” e “homeostase dinâmica” a
teoria dos sistemas evidencia que há diversos caminhos pelos quais
a organização pode alcançar seus objetivos (SOBRAL; PECI, 2008).
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Multidisciplinaridade da teoria: a teoria dos sistemas demonstra
a relevância da multidisciplinaridade para analisar os fenômenos
organizacionais ao aplicar suas ideias oriundas de outros campos
(como Sociologia, Psicologia, Economia, Ecologia, etc.) ao campo
administrativo (CHIAVENATO, 2011).
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Multidimensionalidade da análise organizacional: a teoria dos
sistemas chama atenção para a possibilidade de análise das organiza-
levá-lo apenas a comportar-se de acordo com o que a função exige dele, e não
a agir de acordo com sua próprias pretensões. O homem funcional remete, em
termos, ao mesmo homem da abordagem clássica: como uma peça (parte) que
deve contribuir para a organização (sistema) atingir seus objetivos (funcionar).
Teoria da Contingência
um produto da teoria dos sistemas, tendo como princípios de acordo com Cara-
vantes, Panno e Kloeckner (2005, p. 166), a não existência de uma melhor maneira
de organizar e a ideia de que “uma determinada forma de organizar não será
igualmente eficaz em todas as situações”. Em linhas gerais a teoria da contingência
“[...] estabelece que situações diferentes exigem práticas diferentes, apregoando
o uso das teorias tradicionais, comportamentais e de sistemas separadamente ou
combinadas para resolver problemas das organizações” (SILVA, 2013, p. 344).
A figura seguinte busca ilustrar que a variação dos níveis externos (incerteza,
diversidade, turbulência e pressões do ambiente) influenciam os níveis internos de
diferenciação (grau em que os subsistemas da organização respondem às variações
nos ambientes externo e interno) e integração (grau em que os subsistemas da
organização demonstram o espírito de equipe e cooperação das pessoas para
atingir os objetivos organizacionais) (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
Poucos níveis
Habilidade manual Produção em
hierárquicos;
ou operação de unidades com pouca
operários próximos
ferramentas; previsibilidade
do processo
Por projeto, unitária artesanato; pouca quantos aos
produtivo;
ou pequenos lotes padronização e resultados e incerteza
controles diretos e
automatização; mão quanto às operações.
predominantemente
de obra intensiva e Exemplo: criação de
pessoais, baixa
não-especializada. protótipos.
complexidade.
Produção em lotes
Médio número de
e em quantidade
níveis hierárquicos;
Máquinas agrupadas regular para cada
mais operários
em seções ou lote; razoável
diretos e menos
Produção em departamentos; mão previsibilidade dos
funcionários
massa de obra intensiva e resultados; maior
administrativos;
barata, utilizada com certeza quanto às
controles pessoais e
regularidade. operações. Exemplo:
impessoais; média
produção de
complexidade.
automóveis.
Muitos níveis
Processamento
Produção contínua hierárquicos;
contínuo, com
e em grande maior número
uso de máquinas
quantidade; forte de funcionários
especializadas e
Produção de previsibilidade dos qualificados; grande
padronizadas; alto
fluxo contínuo resultados e certeza controle sobre as
nível de padronização
(automatizadas) absoluta quanto etapas do processo;
e automatização;
à sequência das predominantemente
uso de tecnologia
operações. Exemplo: impessoais;
intensiva e pessoal
extração de petróleo. alto nível de
especializado.
complexdidade.
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Grupo de Aston: grupo de pesquisadores da Universidade de Aston
na Grã-Bretanha desenvolveu a ideia de que a burocracia pode ser
entendida a partir de uma visão pluridimensional. Ou seja, a estrutura
das organizações vai variar de acordo com a configuração do ambien-
te em que está inserida. O “tipo ideal” burocrático weberiano seria
posto à prova na medida em que para cada configuração ambiental,
haveria um “tipo ideal” correspondente: ou seja não há um tipo, mas
vários “tipos ideais” (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
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Alfred D. Chandler (1918-2007): professor norte-americano da
Universidade de Harvard na obra Strategy and structure: chapters
in the history of the American industrial enterprise de 1962 partiu da
tese de que a estrutura da organização segue a estratégia definida
por ela. Para comprovar sua tese analisou empresas de diferentes
setores como DuPont, General Motors, Standart Oil e Sears-Roebuck
demonstrando que Ambientes mais dinâmicos exigem uma estrutura
mais flexível (SILVA, 2013).
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Charles Perrow (1925-): sociólogo norte-americano, aprofundou
os estudos realizados por Joan Woodward do qual tratamos anterior-
mente e buscou analisar o impacto da tecnologia na estrutura orga-
nizacional em função de duas dimensões: variabilidade das tarefas e
o grau de formalização do sistema para lidar con situações que não
estão previstas. Assim, demonstra que dependendo das combinações
realizadas entre tais dimensões haverá tecnologias mais adequadas à
organização (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011).
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Complementando a teoria dos sistemas, proporcionou a identificação,
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A ideia de que a análise organizacional sob sua perspectiva padece
de certo grau de relativismo, posto que tudo parece depender do
contexto em que a organização está inserida (SOBRAL; PECI, 2008).
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Ênfase exacerbada no determinismo ambiental como principal condi-
cionante das características e do comportamento organizacional em
detrimento de aspectos internos, fato já criticado em relação a teoria
dos sistemas (SOBRAL; PECI, 2008).
Chegamos ao fim de mais uma Unidade! Ainda temos mais uma pela
frente, porém seria interessante fazer uma revisão daquilo que foi
aprendido até aqui, certo? Então, convidamos você a ler o resumo a
seguir e desenvolver as atividades propostas! Vamos lá? Lembre-se
que seu tutor está sempre disponível para ajudá-lo naquilo que for
necessário! Bom trabalho!
nativa correta:
I – Na Reportagem 1, a atitude da Mercedez Benz em adotar uma es-
tratégia diferente de todas as outras montadoras citadas na reportagem
para lidar com o impacto da queda das vendas aos argentinos e também
no mercado interno pode ser explicada pelo conceito de equifinalidade,
de Katz e Kahn.
II – Considerando as informações da Reportagem 2, o principal desafio
enfrentado pelo McDonald’s para cumprir com a sua promessa de comprar
carne bovina sustentável está relacionada à ideia de interdependência
entre as partes da teoria dos sistemas.
III – Considerando as informações da Reportagem 3, o modelo orgânico
de estrutura de Burns e Stalker é o mais indicado para uma empresa
que considere a sugestão de Curtis Carlson.
a) ( ) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) ( ) As alternativas I, II e III estão incorretas.
c) ( ) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
d) ( ) Apenas as alternativas I e III estão corretas.
e) ( ) Apenas as alternativas II e III estão corretas.
NEGÓCIOS, 07/04/2016).
Conceitos: Trechos/Palavras:
( ) suco
Orientação e Tecnologia de
Intervenção
Objetivos
Nesta Unidade, você vai:
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Conhecer abordagens de cunho intervencionista na prática organizacional.
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Compreender o desenvolvimento organizacional (DO), sua proposta e características.
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Compreender a Administração por Objetivos (APO), sua proposta e características.
Unidade 6
Orientação e Tecnologia de
Intervenção
Caro estudante,
Nesta Unidade vamos tratar de uma perspectiva relativamente distinta
daquela que vínhamos lhe apresentando até então. Nesta Unidade
serão apresentadas duas abordagens com um viés mais pragmático
de aplicação das ideias e conceitos das teorias administrativas à
prática organizacional. São elas: a abordagem do Desenvolvimento
Organizacional e a da Administração por Objetivos. Vamos em frente!
Introdução
N
as Unidades 3, 4 e 5 tratamos de algumas das principais teorias da
administração, que trouxeram ideias, conceitos e modelos de análise
administrativa e organizacional. Tais teorias refletem aquilo que nos di-
zeres de Prestes Motta e Vasconcelos (2011, p. XV), “[...] constituíram os pilares
(a base) do pensamento administrativo”. Nesta última Unidade trataremos de
duas abordagens que não chegam a formar uma teoria, mas um movimento de
vários autores (a maioria deles consultores de organizações) no sentido de “[...]
aplicar alguns conhecimentos para transformar as organizações, tendo logo com-
promisso com a prática e eficiência” (PRESTES MOTTA; VASCONCELOS, 2011,
p. 243). Daí o título desta Unidade, que subscreve um dos pontos da ementa da
disciplina Teoria Geral da Administração deste curso.
Nesse sentido, trataremos de duas abordagens: o movimento de Desenvol-
vimento Organizacional e o modelo de Administração por Objetivos.
Conceito Autores
Uma resposta à mudança, uma complexa estratégia educacional que tem Bennis (apud
CARAVANTES,
por finalidade mudar as crenças, as atitudes, os valores e a estrutura das
PANNO;
organizações, de modo que elas pudessem melhor se adaptar aos novos KLOECKNER,
mercados, tecnologias e desafios e ao próprio ritmo vertiginoso das mudanças. 2005, p. 186)
Prestes Motta
e Vasconcelos
É a mudança organizacional planejada.
(2011, p.
250)
Desenvolver um espírito de equipe por meio da integração e interação das pessoas (reduzir
tensões).
Mudança Organizacional
A mudança pode ser definida como “[...] transição de uma situação para
outra diferente ou a passagem de um estado para outro diferente” (CHIAVENATO,
2011, p. 349). Nesse sentido mudança está relacionada à alteração no modo
de fazer as coisas (ROBBINS, 2005) implicando em “ruptura, transformação,
perturbação, interrupção” (CHIAVENATO, 2011, p. 349). Para poder lidar
com as consequências de tais implicações, melhor para as organizações é que
a mudança se dê de forma planejada, daí a importância de programas de DO.
Para tanto, os programas de DO, já na etapa de diagnóstico precisam saber lidar
com a resistência à mudança que é inerente a qualquer processo de mudança.
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É mais fácil para os gestores enfrentar a resistência quando ela é
aberta e imediata, como quando há protestos, diminuição do ritmo
do trabalho ou ameaças de greve.
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O maior desafio é administrar a resistência quando ela é implícita
ou protelada.
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Os traços da resistência implícita são mais sutis e, portanto, mais
difíceis de identificar.
»»
Por conta do protelamento da resistência, esta pode tomar propor-
ções incompatíveis com mudanças futuras aparentemente pouco
impactantes.
Ameaça às
As relações de poder já estabelecidas (status quo), podem
relações de poder
ser ameaçadas por mudanças e tendem a sofrer resistência.
estabelecidas
»»
A abordagem de DO não chega a se constituir em uma disciplina
delimitada e independente, mas sim formada de outras áreas do
conhecimento (CHIAVENATO, 2011).
»»
Nem sempre aquilo que é melhor para o indivíduo é melhor para a
organização e vice-versa, nesse sentido essa contradição inerente ao
contexto organizacional acaba sendo um limitador dos programas
de DO.
»»
Há um risco de as abordagens de DO transformarem-se em “técnicas
terapêuticas”, enfatizando a “educação emocional” em detrimento
dos objetivos organizacionais (CHIAVENATO, 2011, p. 376).
Nesse sentido, a APO ainda que cada autor desenvolva um modelo próprio,
apresenta como características genéricas de acordo com Chiavenato (2011, p.
214-215) e Silva (2013, p. 405):
»»
o estabelecimento do conjunto de objetivos entre o gerente e seus
subordinados;
»»
o estabelecimento de objetivos para cada departamento ou setor;
»»
a interligação dos objetivos departamentais;
»»
a elaboração dos planos operacionais, com ênfase no controle;
»»
a contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos;
»»
a participação atuante da chefia na estimulação de envolvimento
dos subordinados.
Etapas Descrição
Na figura que ilustra o processo de APO fica claro que a (re)definição dos
objetivos deve ser algo contínuo, tendo em vista que, como já vimos na Unidade
anterior, há contingências que exigem das organizações que elas revejam a forma
como desenvolvem suas atividades.
Referências
AMARAL, Tarsila do. Site oficial: obras. [2017]. Disponível em: <http://
tarsiladoamaral.com.br/obra/social-1933>. Acesso em: 20 out. 2017.
NAVARRO, Roberto. O que foi a Guerra dos Cem Anos? 2016. Disponível
em: <https://mundoestranho.abril.com.br/historia/o-que-foi-a-guerra-dos-cem-
anos/>. Acesso em: 21 ago. 2017.
ISBN 978-85-7988-323-1
9 788579 883231