7, Contrato de Empréstimo - Comodato

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PROFESSOR FLÁVIO REBELO

DIREITO CIVIL – DIREITO DOS CONTRATOS


CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - COMODATO
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - COMODATO

1. CONCEITO.

Trata-se de contato de empréstimo de coisas infungíveis


(“empréstimo de uso”), fazendo-se uma interpretação contrário senso do
art. 85 do CC, ou seja são bens que não podem ser substituídos por
outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Trata-se, pois, de empréstimo gratuito de um bem infungível,


ou seja, insubstituível. Claro está que se trata de uma figura contratual
especialmente assentada no princípio da lealdade contratual (boa-fé
objetiva), pois parte do pressuposto de que o dono da coisa (comodante)
confia no beneficiário do empréstimo (comodatário).

Aliás, é bom que se afirme que o comodato opera apenas a


transferência da posse da coisa, e não da propriedade, razão por que
podemos afirmar, sem risco de erro, que o comodatário é titular de uma
simples posse precária, ou seja, de favor, podendo ser compelido à
restituição a qualquer tempo.

Em outras palavras, por estar exercendo uma posse


simplesmente de favor, o comodatário não poderá usucapir o bem.
Entretanto, caso o proprietário notifique-o para que devolva a coisa, e a
restituição seja negada, a partir daí começa a fluir o prazo prescricional
em favor do prescribentecomodatário, uma vez que, tendo afrontado o
verdadeiro dono, passou a atuar como se proprietário fosse.

Por isso a importância do estudo das características abaixo:

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CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - COMODATO
2. CARACTERÍSTICAS

O contrato de comodato é uma forma contratual típica e


nominada, que possui as seguintes características:

a. real — já anotamos que o contrato real é aquele que só se torna


perfeito com a entrega da coisa de uma parte à outra. É o que ocorre no
caso do comodato. O contrato em si somente se considera concluído
quando o comodante entrega o bem ao comodatário. Trata-se, pois, de
um pressuposto existencial específico deste tipo de negócio, a exemplo
do que ocorre com o penhor e o depósito.

b. unilateral — pois apenas o comodatário, assume obrigação em


face do comodante: deverá guardar e conservar a coisa como se fosse
sua, devendo restituí-la ao final do contrato ou quando o comodante o
exigir.

c. gratuito —é um contrato benéfico, pois apenas o comodatário


experimenta benefício, uma vez que poderá usar (e possuir) coisa alheia
infungível;

d. temporário — o comodato, por gerar mero direito pessoal, é


essencialmente temporário, não se transmitindo aos herdeiros do
comodatário. O prazo de sua vigência poderá vir estipulado no contrato,
ou, caso este seja omisso, será o necessário para o uso concedido;

e. intuitu personae — o comodato é contrato personalíssimo, de


natureza individual, pois é pactuado em atenção à pessoa do
comodatário, embora esta característica possa ser afastada pela vontade
das partes.

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3. COMODATO MODAL OU COM ENCARGO.

Quando o comodante permite o empréstimo da coisa, com uma


condição atinente a seu uso. Exemplo comum seria o empréstimo de
refrigeradores nos restaurantes para uso de determinada marca de
cerveja, refrigerante, sorvetes e etc; o comodatário recebe aquele bem e
o utiliza nas condições prefixadas pelo comodante, especialmente
ligados a sua marca, sob pena de cassação do uso do bem emprestado.

4. DA FORMALIDADE DO COMODATO.

Quanto à forma, é uma avença não solene, uma vez que a


forma é livre para a validade da estipulação contratual.

5. PRAZO DO CONTRATO

Vimos acima que o comodato é um contrato essencialmente


temporário, conforme assenta o art. 581 do Código Civil.

Depreende-se que o mais comum seja a fixação de prazo


para o comodato, não obstante permita a norma legal que o contrato não
tenha prazo determinado, caso em que se presumirá o necessário para o
uso concedido.

O contato sem prazo determinado está calcada na lealdade


e confiança entre as partes, decorrência da cláusula geral de boa-fé
objetiva que impõe ao contratante um padrão de conduta, de modo que
deve agir como um ser humano reto, vale dizer, com probidade,
honestidade e lealdade.

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Posto isso, como o comodato verbal é feito por prazo
indeterminado, devendo o comodante comunicar ao comodatário acerca
da devolução, o que pode ser feito por meio de notificação judicial ou
extrajudicial. Em suma, o STJ adota os seguintes critérios nos casos de
comodato verbal:

a. Nos contratos de comodato firmados por prazo determinado:


mostra-se desnecessária a promoção de notificação prévia - seja
extrajudicial ou judicial - do comodatário, pois, logicamente, a mora
constituir-se-á de pleno direito na data em que não devolvida a
coisa emprestada, conforme estipulado contratualmente.

b. Nos contratos de comodato firmados por prazo indeterminado:


tem-se como essencial a prévia notificação, pois, somente após o
término do prazo previsto na notificação premonitória, a posse
exercida pelo comodatário, anteriormente tida como justa,
tornar-se-á injusta, de modo a configurar o esbulho possessório.

Em conclusão, devemos observar que o comodato —


diferentemente do que ocorre no usufruto ou na superfície — não gera
direito real, mas sim, e tão somente, direito pessoal ao comodatário,
caracterizado por uma natural transitoriedade.

6. PARTES E OBJETO

São partes no contrato de comodato o comodante


(proprietário da coisa emprestada) e o comodatário (beneficiário do
contrato/possuidor da coisa).

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Não podem figurar como comodantes, no presente contrato,
as pessoas mencionadas no art. 580 do Código Civil: tutores, curadores
e em geral todos os administradores de bens alheios não poderão dar
em comodato, sem autorização especial, os bens confiados à sua
guarda.

O objeto por excelência do contrato de comodato são as


coisas infungíveis, ou seja, que não se podem substituir por outras do
mesmo gênero, quantidade e qualidade, independentemente do valor.

7. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES

Como visto, o contrato de comodato é essencialmente


unilateral, impondo, pois, ao comodatário, a precípua obrigação de
restituir a coisa, quando lhe for reclamada.

Mas o comodatário, a quem fora confiado o bem


emprestado, deverá usá-la de conformidade com o contrato ou a sua
natureza, conservando o bem como se seu próprio fosse (art. 582 do
CC/2002), e ainda salvaguardando-o de eventuais riscos de destruição
(total ou parcial) pela ocorrência de caso fortuito ou de força maior (art.
583 do CC/2002).

Caso não utilize corretamente a coisa, causando dano ao


seu proprietário, deverá indenizá-lo, segundo as regras da
responsabilidade civil contratual. Vale lembrar, inclusive, que, tratando-se
de responsabilidade civil contratual, a culpa do comodatário é presumida,
cabendo-lhe o ônus da prova de que o fato ocorreu sem concorrência de
sua culpa.

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É interessante salientar a referência feita no art. 583, no
sentido de, caso o comodatário pretenda antepor a salvação de objeto
seu, em detrimento do direito do comodante, responderá pelo dano
ocorrido, ainda que proveniente de evento acidental.

No tocante a mora na devolução do objeto emprestado,


vimos acima que se for por tempo determinando não é obrigada a
notificação do agente, caso contrário esta se impõe.

Caso se afira a mora do agente há o direito conferido ao


comodante de arbitrar aluguel a ser pago pela outra parte, enquanto a
mora estiver configurada. Primeiramente, posto a lei faculte ao próprio
comodante indicar este valor, claro está que a sua fixação não poderá
ser extorsiva, sob pena de atuar abusivamente, incorrendo na previsão
normativa do art. 187 do CC.

Deverá atuar, pois, de conformidade com os princípios da


boa-fé objetiva e da função social do contrato (art. 422), por isso que
Enuncidado 180 da III Jornada de Direito Civil que a regra que autoriza a
limitação pelo juiz do aluguel-pena arbitrado pelo locador, aplica-se
também ao aluguel arbitrado pelo comodante, autorizado pelo art. 582, 2ª
parte, do novo Código Civil.

Finalmente, embora o legislador haja referido a palavra “aluguel”, isso


não quer dizer que o contrato de comodato haja se convertido em
locação. Não é nada disso. A palavra “aluguel” vem aí empregada no
sentido de perdas e danos, ou seja, deverá o comodatário indenizar o
comodante em virtude da mora.

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8. EXTINÇÃO

1. Exaurimento do seu prazo de vigência, e, caso seja pactuado por


prazo indeterminado, será considerado cumprido quando esgotada
a finalidade de sua utilização;
2. Por resolução ou resilição;
3. seu objeto sofrer destruição total (perecimento), como na hipótese
de um acidente natural (enchente, terremoto etc.) destruir a casa,
cedida para uso do comodatário.
4. morte das partes, em caso de falecimento do comodatário, se o
contrato for considerado intuitu personae, pois há casos em que o
comodante cede o uso da coisa em atenção, não especificamente
à pessoa do comodatário, mas em favor do interesse do mesmo.

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