ZZZ Fechamento Do Estudo Apostolos - Sabedoria Do Evangelho - Carlos Torres Pastorino
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OS 72 EMISSÁRIOS
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C. TORRES PASTORINO
Comecemos o comentário por Lucas que nos apresenta um pormenor com exclusividade: a consagra-
ção dos setenta e dois discípulos.
O verbo anadeíknymi usado por Lucas (anadeíxen) exprime literalmente “mostrar elevando”, ou
“mostrar no alto” e, nas escolas iniciáticas expressa a consagração da criatura ao grau do sacerdócio
onde se permanece “em evidência” perante o público.
Há uma variante séria: setenta? ou setenta e dois?
Os códices B, D, M, R, os minúsculos a, c, e, a Vulgata, as versões siríacas curetoniana e sinaítica, e a
armênia, trazem setenta e dois.
Os códices aleph, A, C, L, X, gama, delta, psi, pi, os minúsculos b, í, g, e as versões siríacas gótica e
etiópica, escrevem setenta.
Parece aos hermeneutas que setenta foi uma correção, para estabelecer paralelismo com o Antigo Tes-
tamento, como o diz expressamente Tertuliano (Patr. Lat. v. 2, c. 418) ao salientar a semelhança entre
os doze apóstolos e os setenta discípulos, com as doze fontes e as setenta palmeiras de Elim (Êx. 15:27
e Núm. 33:9).
Realmente o número setenta é frequente, como se vê no caso dos setenta anciãos (Ex. 24:1, 9;
Núm.11:16ss; Ez. 8:11) que se transformaram nos setenta membros do Sinédrio (Fl. Josefo, Bell. Jud.
2, 20, 5 e Vita, 14); os setenta reis (Juízes, 1:7); os setenta sacerdotes de Baal (Dan. 14:9); os setenta
anos normais da vida humana (Salmo 89;10); os setenta siclos de resgate (Núm. 7:13), os setenta cú-
bitos de altura do Templo (Ez. 41:12), etc.
Infelizmente não nos foram conservados os nomes desses discípulos da Segunda “leva”, embora dentre
eles tenham sido propostos os substitutos de Judas (José Barsabbas, o Justo, e Matias). tendo este últi-
mo (At. 1:21-26). Eusébio (Hist. Eccl 1,12) cita alguns nomes colhidos na tradição oral.
Jesus os enviou (apésteilen) para onde? O evangelista não o esclarece, embora diga que “iam aonde
Jesus estava para ir”. Não se trata, porém (como em Luc. 9:52) de preparar-Lhe pousada, mas apenas
para conquistar novos adeptos. Em vista do episódio de Marta e Maria (Mat. 10:38-42) que está pró-
ximo a este, supõe Lagrange que estavam nos arredores de Jerusalém.
Foram enviados dois a dois, como ocorrera com os Emissários (Marc. 6:7, vol. 3) e como parece se
tornaria praxe daí por diante (cfr. At. 13:2; 15:27, 39, 40; 17:14; 19:22).
Jesus demonstra querer apressar-se para que, antes de partir deixe três gerações de discípulos prepara-
dos. Ordena-lhes, pois, que orem para que venham muitos outros (cfr. Mt. 9:37, 38) para serem prepa-
rados trabalhadores. Evidentemente, nem todos os convidados se mostraram aptos para o serviço. Dis-
so já se queixara Gregório Magno (P. L. v. 76, c. 1139): ecce mundus est sacerdotibus plenus, sed ta-
men in messe Dei rarus valde reperitur operator; quia officium quidem sacerdotalem suscipimus, sed
opus officii non implemus, isto é: “eis que o mundo está cheio de sacerdotes, e no entanto, na seara de
Deus raríssimo é o trabalhador; porque recebemos, na verdade, o encargo sacerdotal, mas não cum-
primos os deveres do encargo”.
Da alocução preparatória, conserva-nos Lucas alguns excertos: são eles avisados de que serão como
cordeiros entre os lobos, já que não disporão das mesmas armas que os adversários nem poderiam pen-
sar em desforços nem vinganças (cfr. Luc. 9:54).
As instruções ministradas à primeira leva dos doze (cfr. Mat. 10:5-16; Marc. 6:7-11 e Luc. 9:1-6; vol.
3) são aqui repetidas: nem bolsa, nem dinheiro, nem alforges, nem sandálias, ou seja, nenhuma preo-
cupação com o preparo da viagem; confiança absoluta na Providência divina; pobreza total e nenhuma
perda de tempo para cumprimentar nem para conversar com amigos. Ao entrar na casa para anunciar o
reino de Deus, a saudação será uma emissão de fluidos de paz. A expressão aqui é mais completa que
em Mat. 10:12 (veja vol. 3). E temos a garantia assegurada de que essa emissão atingirá seu objetivo,
envolvendo e penetrando os que estiverem aptos a recebê-la. E se acaso ninguém for digno, o jato
emitido voltará para quem o irradiou.
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Também não deverão mudar de casa em casa para não desapontar nem magoar seus primeiros hospe-
deiros e também para fixar um centro de sua pregação, onde possam ser facilmente encontrados, por
quem quiser ouvi-los. Na casa em que se fixarem, poderão aceitar alimentos sem constrangimento )cfr.
Mat. 10:10), pois "o operário é digno de seu salário". Observemos que Lucas emprega o termo misthós
(salário) ao passo que Mateus, no trecho que acabamos de citar, emprega trophes (alimento); Paul
Vulliaud, “La Clé Traditionnelle des Évangiles", pág. 137, sugere que essa divergência se prende às
palavras m'hiro (seu salário) e m’hiato (seu alimento) que só diferem em uma letra no hebraico. A
idéia é repetida em outros pontos do Novo Testamento, de que, quem dá o pão espiritual, pode receber
sem escrúpulo o pão material; no entanto, cremos que isso não justifique a “venda” de pregações e atos
religiosos por dinheiro (mesmo que se procure enganar a Deus e a si mesmo, utilizando sinônimos e
eufemismos: “troca" ou “espórtula”, etc.). Eis outros locais: “não amarrarás a boca do boi quando de-
bulha” (Deut. 25:4, citado em 1." Cor. 9:9 e em 1.ª Tim. 5:18); “digno é o trabalhador de seu salário”
(1.ª Tim. 5:18); “Será que não temos o direito de comer e beber”? (1.ª Cor. 9:4); e mais adiante: “O
Senhor ordenou aos que pregam o Evangelho, que vivam do Evangelho” (1.ª Cor. 9: 14).
Esse princípio vale não apenas para a casa que o hospeda, mas para toda a cidade. E para que também
se dê além do pão do Espírito, a predisposição para ele, o Emissário terá o poder de curar os enfermos,
como faziam os terapeutas essênios. Aqui, porém, não são citados o poder de ressuscitar os mortos”,
nem a proibição de pregar fora de Israel (esta última, aliás, também não enumerada por Lucas no cap,
9).
Entretanto, onde não fosse encontrada receptividade, se retirassem sem mágoa, mas também sem levar
coisa alguma da cidade, nem mesmo a poeira na sola das sandálias. Não obstante a mensagem devia
ser entregue, de que o reino de Deus se aproximou deles.
A culpa da rejeição é grave. E, em estilo oriental, são trazidas à meditação comparações vivas e cho-
cantes entre cidades: Corazin e Betsaida opostas a Tiro e Sidon, e Cafarnaum oposta a Sodoma.
Corazin, cidade da Galiléia, na ponta norte do Lago de Tiberíades, um pouco a leste de Cafarnaum. É
identificada com as ruínas de Khisbet Kerázeh, a 4 km ao norte de Tell Houm.
Betsaida, hoje El-Aradj, a 2 km a leste de onde João se lança no Lago Tiberíades e na margem deste. É
a Betsaida-Júlias, de Felipe, construída em homenagem à filha de Augusto (cfr. vol. 1 e vol. 3).
Tiro, hoje Sour, cidade da Fenícia, no litoral mediterrâneo.
Sidon, hoje Saida, capital desse país, 18 km ao norte de Tiro, também porto do Mediterrâneo (cfr. Mat.
15:21 e Marc. 7:24; vol 4).
Cafarnaum “cidade de Jesus” (vol. 2, ver também vol. 1 e vol. 2), situada na Galiléia, a 60 km ao norte
de Jerusalém.
Sodoma, antiga cidade, celebre por sua destruição pelo fogo, na época de Abraão e sempre citada
como exemplo (cfr. Gén 10:19; 13:10, 12,13; 14:2, 8, 10, 11, 17, 21; 18:16, 20, 22, 26; 19:1, 24, 28;
Deut. 19:23; 32:32; Is. 1:9, 10; 3:9; 13:19; Jer. 23:14; 49:18; 50:40; Thre 4:6; Ez. 16:46, 48, 49, 53, 55,
56; Sof. 2:9; Amós, 4:11; Mat. 10:15; 11:23, 24; Luc. 10:12; 17:29; Rom. 9:29; 2.ª Pe. 2:6; Jud. 7 e
Apoc. 11:8).
As oposições são feitas no estilo figurado, da suposição do que teria sucedido se uma causa tivesse
sido interposta, e lançado o resultado no futuro, "no dia da triagem". Já vimos que "triagem" é o senti-
do certo da palavra krísis, geralmente traduzida por “julgamento” ou “juízo” (cfr. vol. 2 e vol. 3). Se
tudo o que foi feito em Corazin e Betsaida, deixando-as surdas e empedernidas, tivesse sido realizado
em Tiro e Sidon - cidades “pagãs” – estas teriam radicalmente modificado sua mente (metanóêsen).
Porque em Corazin e Betsaida, como em Cafarnaum, Jesus “manifestara (“fizera nascer” egénonto) as
suas maiores forças” (kai pleístai dynámeis autóu). Cafarnaum, então, poderia Ter sido “exaltada até o
céu”, em virtude de nela Ter residido por três anos o Mestre; mas por tê-lo rejeitado, cairia até o “ha-
des”: ao recusar a luz, escolhera as trevas. Trata-se evidentemente de comparações “por absurdo”, pois
se refletissem a realidade, sem dúvida o Cristo teria pregado naquelas cidades, e não nestas. Anotemos,
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porém, que em nenhum ponto do Novo Testamento se fala da pregação de Jesus em Corazin; deduzi-
mos, daí quanto as narrativas são resumidas a respeito da ação de Jesus no planeta (cfr. João 21:25).
Aos setenta e dois, tanto quanto fizera aos doze, é atribuída delegação plena, no mesmo pé de igualda-
de: todos são Emissários ("apóstolos") que representam Jesus como embaixadores plenipotenciários:
"quem vos ouve é como se a mim mesmo ouvira; quem vos rejeita, a mim mesmo rejeita; e quem me
ouve ou rejeita, está ouvindo ou rejeitando o Cristo, uno com o Pai, que impulsionou ou “enviou” o
Filho. E esta verdade vale ate hoje, para os que receberam a tarefa da pregação falada ou escrita.
A expressão "sentadas em saco e cinza” é tipicamente bíblica: v’schaq va-epher iatsiah, (Isaias 58:5).
Esta lição é preciosa, porque nos revela o plano executado por Jesus, quando de sua estada na Terra.
Em primeiro lugar, convoca doze elementos e lhes dá um curso intensivo de iniciação, revelando-lhes
os "segredos do reino”. Aptos a passar adiante os ensinos, são eles enviados dois a dois. Cada dupla
consegue (naturalmente por indicação de Jesus), exatamente mais doze elementos, sobre os quais.
possivelmente, exercessem direção. Seis vezes doze, formaram, então, os setenta e dois discípulos con-
vocados, que se aproximaram do Mestre para ouvir-Lhe os ensinos e serem, por sua vez, iniciados nos
“mistérios do reino”. Daí a necessidade que Pedro sentiu (At. 1:21) de designar um substituto para
Judas, a fim de chefiar o grupo dos doze que ficara acéfalo e poder, dessa forma, prosseguir no tra-
balho silencioso.
Agora, novamente, Jesus envia os setenta e dois, em duplas. São, por conseguinte, trinta e seis grupos,
cada um dos quais convocará doze novos iniciados, perfazendo, portanto, o total de 432 discípulos,
que estariam espiritualmente aptos a divulgar o ensino iniciático do Mestre. Cremos que esta nova
teoria não poderá ser tachada de imaginação nossa, já que, na 1.ª Cor (15:5-6), Paulo relata que os
“discípulos” englobavam exatamente os setenta e dois MAIS os quatrocentos e trinta e dois (que so-
mam 504), quando diz: “Apareceu (Jesus) a Cefas, e depois aos doze: depois apareceu a mais de qui-
nhentos irmãos de uma vez”. Ora, “irmãos” (adelphoí) era o termo técnico para designar os compa-
nheiros de iniciação. Portanto, quando Jesus desencarnou, deixou, ao todo, 516 discípulos já inicia-
dos e pronto para o trabalho da divulgação de Sua doutrina, garantindo, assim, a continuidade do
ensino. Estivesse, pois, a humanidade preparada, e dentro de poucos anos mais a Terra se teria podi-
do transformar pois no 12.º envio dessas duplas (dois já haviam sido feitos), teríamos 4.353.564.672
“irmãos“, ou seja, a população toda do planeta! Mas a humanidade se encontrava (e se encontra ain-
da!) muito retardada no caminho evolutivo. Aguardemos com paciência, até que a Lei se cumpra.
Essa maneira de agir explica-nos por que Jesus escolheu pequena aldeia desconhecida e se manifes-
tou a homens socialmente sem posição destacada, pois já eram humildes por sua própria condição. E
por isso o cristianismo se difundiu entre o povo pequeno, mais apto a receber a lição e a transmiti-la.
Não eram as grandes pregações nos centros populosos e cosmopolitas, que visassem a uma impressão
e a um aplauso externo, mas facilmente sufocáveis pela bacanal do “mundo". Jamais interessou ao
Mestre, que SABIA como agir, a aprovação exterior da personagem transitória: Ele queria a trans-
formação íntima e profunda, a CRISTIFICAÇÃO REAL. E por isso tem sempre falhado os grandes
pregadores de multidões, e têm obtido êxito os Mestres escondidos e silenciosos, quase anônimos das
grutas da Índia ... Todas as vezes que o culto se propaga horizontalmente entre milhares de crentes,
crescendo em número, com pompas e rumores e trombetas, observamos que se trata de um movimento
de superfície que encrespa as águas, mas não as revolve, que entusiasma, mas não dura. Frutos só
poderão ser colhidos, quando o trabalho é realizado verticalmente, na profundidade do ser. Daí a
decepção de tantos pregadores célebres, que falam a milhares de criaturas entusiasmadas e dispostas
a sacrifícios “naquela hora", mas que não chegam a transformar nenhuma: as sementes lançadas se
esriolam ao sol, ou são comidas pelas aves do céu, ou sufocadas pelas ervas daninhas (cfr. vol. 3).
Que os setenta e dois foram iniciados mostra-nos o verbo anadeíknymi: “elevar, mostrar no alto”, e
portanto, “consagrar como sacerdote”.
As instruções, iguais às do primeiro lote de doze, revelam que estavam no mesmo grau, tanto que lhes
foi confiada tarefa igual. Os requisitos foram os mesmos para os dois grupos. O termo “enviou”
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(apéstelen) é o mesmo. Por que só dão aos primeiros o título de “apóstolos"? Todos os oitenta e qua-
tro o foram, legítima e oficialmente consagrados por Jesus. A Tradição não os reconheceu? Observe-
mos um fato: o mais antigo documento da tradição escrita, a DIDACHÊ, em seu cap. 11, vers. 3 a 6.
diz: “enquanto aos apóstolos e profetas, agi conforme a doutrina do Evangelho. Ora, qualquer após-
tolo que chegue a vós, recebei-o como (vindo) do Senhor. No entanto, não permanecerá mais que um
dia só. Se houver necessidade, mais um dia. Mas se ficar três dias, é falso profeta. Ao sair o apóstolo,
nada leve consigo, a não ser pão, até a nova hospedagem. Se pedir dinheiro, é falso profeta". Racioci-
nemos. Se houvesse apenas os doze, a comunidade cristã os conheceria imediatamente, e saberia
quais eram os verdadeiros apóstolos. Como, entretanto, eram mais de quinhentos, fácil seria que al-
gum aventureiro se apresentasse como sendo “apóstolo”, não no sendo.
No vers. 9, de Lucas, traduzimos o verbo éggiken (perfeito de eggízó) por “aproximou-se”, e não
como nas traduções correntes: “está próximo”; e também eph’humín, traduzimos por “sobre vós”,
literalmente. Pode parecer algo duro”, no português, mas exprime a idéia original: o reino dos céus,
que é a realização interna, no coração já fez sua aproximação, chegando do Alto, das vibrações mais
elevadas, para atrair a si o Espírito, convidando-o a corresponder ao chamado e unificar-se com o
Amado.
Para apenas acenar ao sentido dos termos usados: Corazin significa “o Segredo” e Betsaida, “Casa
dos Frutos”. Realmente elas revelam a chave usada pelo Mestre: buscar os frutos em segredo, pela
iniciação INTERNA. E lamenta-se: quem sabe se não obteria maior êxito se o tivesse feito em Tiro, ou
“força” ou em Sidon, a “caçada” (vol. 4), ou seja, se lançasse à humanidade uma "cacada à força"?
Quem sabe se ao invés de "Casa do Consolador” (Cafarnaum) se agisse na "aridez" (Sodoma), isto é,
com dureza, os resultados teriam sido melhores?
Depois do desabafo, vem a confirmação de que os setenta e dois estavam no grau do sacerdócio, ca-
pazes de passar adiante a iniciação: é a alusão ao logos akoês, à “palavra ouvida”: quem vos ouve,
me ouve, e quem me ouve, ouve meu o Pai". A linha da tradição (parádosis) iniciática divina prosse-
gue na Humanidade. O essencial é que a "palavra ouvida" seja realmente o Logos DIVINO, e não o
logos dos homens. Quando o ensino (logos) é verdadeiro e testificado pelo CRISTO, sua rejeição
apresenta consequências graves: o afastamento da vibração divina, que é repelida, e a queda nas ilu-
sões de falsas e vazias teorias humanas, que a nada conduzem, que nada constróem, que levam à per-
dição.
COINCIDÊNCIAS
Há certas coincidências em nossos vidas que nos causam impressão. Eis alguns exemplos, cuja desco-
berta nos alegrou:
1) Nos comentários evangélicos (“Sabedoria do Evangelho”) adotamos o princípio (vol. 1) de escre-
ver com E (maiúsculo) a palavra Espírito, quando nos referíamos à Individualidade; e com “e”
(minúsculo), espírito, quando quiséssemos designar a personagem, a psychê. Ora, no ano passado
(1967) chegou a nossas mãos o volume “The Hidden Wisdom in the Holy Bible”, da autoria de
Geofrey Hodson (The Theosophical Publishing House, Adyar, Madras 20, Índia, 1963). Lemos aí,
na pág. 58, nota I: “Throughout this work, in order to reduce ambiguity concerning the meaning of
this term to a minimum, a capital initial is used when the unfolding, immortal, spiritual principle
of man is meant, e. g. Spiritual Soul. The term “Ego” is also used to denote this centre of the sense
of individuality in man. A small “s” is used when the psyche, the mental and emotional aspects of
the mortal personality, are referred, - e. g. soul”. A única diferença é que, na personalidade, deno-
minaríamos aspecto “Intelectual”, e não “mental”.
2) Outro ponto de coincidência ocorre quando consideramos em nossos comentários, como símbolo
da individualidade no homem (do homem-futuro) a figura de Jesus, ou seja, quando os evangelistas
atribuem esta ou aquela ação a Jesus, e quando Jesus age deste ou daquele modo, isso representa
em nós o que deve fazer a individualidade, o Eu Profundo (vol. 1). Lemos em Hodson: “Jesus
Christ Who personifies God’s Spirit and presence within man” (pág. 63).
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3) Quando dissemos que as pessoas citadas historicamente nas Escrituras representavam, além de seu
papel histórico, a caracterização de uma qualidade ou defeito humano, ou um veículo, um plano de
consciência (vol. 1). Na obra citada, lemos: “The second key is that each of the persons introduced
into the stories represents a condition of consciousness and a quality of character. All actors are
personifications of human nature, of attributes, principles, powers, faculties, limitations, weaknes-
ses and errors of man” (pág. 63).
4) Afirmamos ainda (vol. 3) que até mesmo a história do povo hebreu, como outras, representavam os
passos da evolução do Espírito. Eis o que diz o autor na página 90: “The third key is that each stary
is thus regarded as a graphic description of the human soul as it passes through the various phases
of its evolutionary Journey to the romised Land, or Cosmic Consciousness – the goal and summit
of human attainment”.
5) Quando comentamos o caso da “Samaritana”, salientamos (vol. 2) a incongruência do pedido de
Jesus: “Chama teu marido”, esclarecendo que isso alertava para um sentido mais profundo. Cite-
mos Hudson (página 93): “incongruities are clues to deeper meanings”, o que é explicado longa-
mente nas páginas seguintes.
6) Dissemos que os fatos narrados nas Escrituras se realizaram mesmo (vol. 1) e o simbolismo deles é
extraído por quem o consiga. Mas o simbolismo não invalida a realização dos fatos, como preten-
dem alguns ocultistas. Escreve Hodson (pág. 208): “Thus whilst the historicity of Bible is not con-
tested, the idea is advanced that the related incidents have both a temporal, historical significance
AND a timeless meaning, universal and human”.
Em numerosos outros pontos a obra de Hodson concorda com a nossa “Sabedoria do Evangelho”, em-
bora divirja em muitos outros. Dissemos, no início, que esse fato muito nos alegrou. Com efeito, veri-
ficamos que as mesmas idéias foram captadas por várias criaturas, em continentes diferentes e longín-
quos; e não sabemos se terão aparecido as mesmas idéias em outros lugares, pois assim como essa obra
levou quatro anos a chegar a nossas mãos, outras podem ter sido divulgadas sem que as conheçamos.
Alegra-nos o fato, pois segundo Allan Kardec, quando as mensagens são recebidas por diversas pesso-
as, em lugares diferentes, isso constitui uma prova de sua autenticidade. E uma confirmação indireta
do que escrevemos, conforta-nos o espírito, porque nos demonstra que estamos sendo fiéis pelo menos
nesses pontos, :não traindo o pensamento emitido do Alto.
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