Utilização e Importância Da Informação Contabilística Nas Pequenas e Médias Empresas Portuguesas
Utilização e Importância Da Informação Contabilística Nas Pequenas e Médias Empresas Portuguesas
Apesar da informação contabilística ser apontada como uma das fontes de informação mais
continuam a ignorar o seu potencial, considerando que esta apenas se destina ao cumprimento
das obrigações fiscais. Assim, este trabalho teve como objetivo apurar os fatores
atribuída, pelos gestores das PME, à informação contabilística e que condicionam a sua
utilização. Os dados foram recolhidos através de um inquérito por questionário aplicado aos
Os resultados mostram que o grau de escolaridade dos gestores, assim como as suas áreas de
Verificou-se ainda que PME de menor dimensão, assim como as PME que recorrem à
contabilística.
Palavras-chave
Abstract
Despite the fact that accounting information has been regarded as one of the most important
sources of management information, the reality is that many companies, particularly SMEs,
continue to ignore its potential, using accounting information just for tax compliance.
Thus, this work had the objective of ascertaining the factors (characteristics of the Manager,
the company and the accounting system) that influence the importance attributed to
2
A survey was carried out using an online questionnaire and captures data from Portuguese
managers of SMEs.
The results suggest that the manager’s level of education, as well as their training areas have
an impact on the importance they attach to accounting information. It was also found that
smaller SMEs, as well as SMEs who outsource accounting services, have a smaller use of
accounting information.
Key Words
3
1. Introdução
As empresas operam em ambientes cada vez mais instáveis. A tecnologia evoluiu a cada dia
que passa e os clientes tornam-se cada vez mais exigentes. Também a globalização obriga as
informação contabilística, em particular, tem-se revelado uma das fontes de informação mais
importantes no apoio ao gestor (Hall, 2010; Mckinnon e Bruns, 1992; Ball e Brown, 1968;
No entanto, verifica-se que existem ainda muitas organizações, principalmente PME, que não
fazem um bom uso desta fonte de informação para fins de gestão (Marcos et al. 2001;
Jawabreh et al., 2012), considerando que a contabilidade apenas tem como finalidade o
cumprimento das obrigações legais e fiscais (Dyt e Halabi 2007; Holmes e Des 1988;
Importa por isso perceber o que leva os gestores a excluir esta fonte de informação,
considerada por tantos como uma das mais importantes para as organizações. Assim, com este
4
Procurando responder a esta questão de investigação foi desenvolvido um estudo empírico em
pequenas e médias empresas (PME). A escolha das PME deve-se à sua importância no
desenvolvimento das economias modernas por todo o mundo (Ayyagari et al., 2007; La Porta
estatuto de PME foi atribuído tendo por base o número de funcionários, o volume de negócios
Os dados foram recolhidos através de um inquérito por questionário aplicado aos dirigentes
Este estudo é pertinente na medida em que a informação contabilística tem-se revelado cada
vez mais importante no apoio à gestão das empresas, em particular das PME. Também a
importância das PME na economia portuguesa justifica o interesse por esta temática.
estudo empírico com a apresentação da metodologia utilizada. No ponto seguinte (4) são
2. Revisão da Literatura
As empresas inserem-se em ambientes cada vez mais instáveis e incertos. A tecnologia evolui
a cada dia que passa, os clientes têm constantemente novas exigências e a globalização leva
estas alterações. Apesar de estas serem consideradas empresas com algumas vantagens em
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relação às grandes empresas, devido à sua capacidade de rápido crescimento e grande
flexibilidade, a verdade é que muitas PME têm acesso limitado a recursos e têm menor
competitiva face à concorrência (Husin e Ibrahim, 2014; Marriott e Marriott, 2000; Salles,
2006).
Neste sentido, há muito que a literatura refere as fontes de informação como recurso
cada vez mais eficiente no apoio ao gestor (Marcos et al., 2001), sendo mesmo considerara
por muitos autores como uma das fontes de informação mais importantes (Hall, 2010;
Mckinnon e Bruns, 1992; Ball e Brown, 1968; Dyt e Halabi, 2007; Libby, 1975).
gestão (Alves, 2008; Boyd e Cox, 2002; Gouveia et al., 2015; İbicioğlu et al., 2010; Nunes e
muitas organizações, principalmente PME, não fazem qualquer uso desta fonte de informação
não aproveitar os dados provenientes da contabilidade, considerando que esta apenas tem
como finalidade o cumprimento das obrigações legais e fiscais, e que o estado é o principal
6
Assim, apesar de a literatura apontar a informação contabilística como chave para o sucesso
das organizações, o seu potencial é muitas vezes desaproveitado pelos gestores (Jawabreh et
ainda uma questão em aberto, sendo por isso pertinente o estudo desta temática.
tais como o seu nível de escolaridade ou a sua experiência (Gouveia et al., 2015; Holmes e
Des, 1988; Lybaert, 1998b; Serrasqueiro e Nunes, 2004). Outros fatores relacionam-se com
(Gouveia et al., 2015; Holmes e Des, 1988; Lybaert, 1998b). Alguns autores defendem ainda
que também o tipo de serviço contabilidade escolhido pela empresa pode condicionar a
Existem diferentes características dos gestores que podem influenciar o grau de importância
informação contabilística, sendo ainda mais elevada se este tiver formação em gestão (Cassar
e Holmes, 2003; Gouveia et al., 2015; Holmes e Des, 1988; Lybaert, 1998b; Lybaert, 1998a;
Mcmahon e Holmes, 1991; Serrasqueiro e Nunes, 2004; Thomas e Evanson, 1987; López e
Hiebl, 2015).
7
Um estudo recente (Gouveia et al., 2015) revelou que a principal razão apontada pelos
contabilidade, gestão e finanças. Os respondentes admitiram ainda que, com uma linguagem e
No entanto, este problema não afeta apenas pequenas empresas. Segundo Cheffi e Beldi
Desta forma, torna-se fundamental perceber qual o impacto real do nível de escolaridade dos
informação contabilística.
H 1.2 - Os gestores com formação em gestão, ou áreas afins, dão mais importância à
informação contabilística.
Lybaert (1998b), aponta ainda outros fatores que condicionam a utilização da informação
contabilística por parte dos gestores, como o desejo de fazer a empresa evoluir e crescer, ou a
8
experiência e familiaridade com o setor em que operam. Assim, gestores mais inexperientes e
pessimistas tendem a procurar ajuda de consultores externos para obterem os dados de que
necessitam (Lybaert, 1998b; Lybaert, 1998a). Contudo Gouveia et al. (2015) afirmam que são
gestores mais fortes e mais experientes, que valorizam mais a informação contabilística,
necessitam. Esta aparente contradição nas conclusões dos trabalhos reforça a ideia de que são
necessários mais estudos sobre estas temáticas. Para isso, e com base nos autores acima
contabilística.
Características da Empresa
Para além das características dos gestores, também a própria organização pode ter
informações financeiras. Assim, quanto maior a dimensão da empresa, maior será a utilização
desta fonte de informação (Holmes e Des, 1988; Lybaert, 1998b; Gouveia et al., 2015; Davila,
2005; López e Hiebl, 2015; Benjaoran, 2009; Cassia et al., 2005; Elhamma, 2012).
varáveis para gerir e controlar, tornando a tomada de decisões mais complexa. Assim, o
gestor tende a procurar mais e melhores fontes de informação que suportem e apoiem a gestão
da empresa.
9
A antiguidade da empresa também poderá ter influência na utilização da informação
financeira (Gouveia et al., 2015; Davila, 2005; López e Hiebl, 2015). Segundo Gouveia et al.
(2015), empresas com mais de 5 anos de atividade tendem a atribuir mais importância à
informação contabilística do que empresas mais jovens. Este fator poderá estar relacionado
diretamente com as características do gestor, dado que os mesmos autores afirmam que os
H 3 - As PME com maior dimensão e com mais anos de atividade fazem uma maior utilização
de informação contabilística.
H 3.2 - As PME com mais anos de atividade utilizam mais informação contabilística.
concluiu que a maioria das PME não possui meios necessários, tais como conhecimento,
dinheiro e tempo, para fazer um uso adequado da informação que possuem. Por norma as
pequenas empresas enfrentam restrições ao nível dos recursos disponíveis, sendo que este
poderá ser um dos motivos para a não utilização da informação contabilística (Benjaoran,
2009). Empresas com maior disponibilidade financeira têm maiores possibilidades de obter as
evitar solicitar informações adicionais ao contabilista com receio dos custos associados
Por outro lado, existem as particularidades das empresas familiares. Nestas PME o gestor é na
maioria das vezes o fundador e proprietário e não raras vezes os seus colaboradores são
10
membros da mesma família, formando um negócio familiar. Neste tipo de organizações a
informação financeira é muitas vezes desvalorizada e as decisões são tomadas com base em
2012; Lybaert, 1998b; Tout et al., 2014; López e Hiebl, 2015; Hiebl, 2012). Assim, surge a
familiares.
Na literatura existem diversos critérios para definir uma empresa familiar, não existindo
consenso entre autores. (Songini et al., 2013; Poutziouris et al., 2006). Handler, um dos
principais autores na matéria, citado por Poutziouris et al. (2006) afirma mesmo que “defining
the family firm is the first and most obvious challenge facing family business researchers”.
aquelas em que a família detém o controlo, em termos da nomeação dos órgãos de gestão, e
alguns dos seus membros participam e trabalham na empresa. Esta será a definição adotada
Também o setor de atividade da organização tem influência na utilização que esta faz da
que algumas empresas do sector industrial recorrem a informação gerada não só pela
contabilidade financeira, mas também pela contabilidade analítica, sendo esta última
essencialmente produzida internamente (Gouveia et al., 2015; Holmes e Des, 1988; Marriott e
setores de atividade.
11
Características do Serviço de Contabilidade.
Para além das características do empresário e da organização, existem outros fatores que
Assim, constata-se que grande parte das PME recorrem a contratação de serviços de
contabilidade via outsourcing (Gouveia et al., 2015; Husin e Ibrahim, 2014), sendo que a
literatura tem revelado que existe uma diferença significativa na utilização de informação
Assim, segundo Nunes e Serrasqueiro (2004), as empresas que recorrem mais à informação
que fazer uma menor utilização possuem contabilidade externa, sendo que quando a
mais uma vez, dificuldades na análise e interpretação das várias demonstrações financeiras.
Por outro lado, existem empresas que recorrem ao outsourcing e recorrem a informação
(Gouveia et al., 2015; Holmes e Des, 1988). Segundo Holmes e Des (1988), a maioria da
informação solicitada pelos gestores das PME tem como finalidade o cumprimento das
12
Tal pode revelar falta de conhecimento por parte do empresário, acerca da informação que a
informações contabilísticas relevantes que não são facultadas aos dirigentes. Também
Marriott e Marriott (2000) concluíram que, apesar de muitos empresários não compreenderem
superior em empresas com regime de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) mensal. Tal
poderá dever-se à dimensão da empresa, como referido acima, mas também à necessidade de
Por outro lado, conforme sugerem Jawabreh et al. (2012), os gestores relevam por vezes
decisões da empresa (Tout et al., 2014). Assim, e tendo por base os autores acima citados,
informação contabilística.
13
Na revisão da literatura efetuada constatou-se que os gestores têm uma forte preferência pela
informais (Hales, 1986; Mckinnon e Bruns, 1992; Alves, 2003; Hall, 2010). No entanto, e
transmitida aos gestores através das formas tradicionais, isto é, documentos escritos e
Para testar as hipóteses formuladas nesta parte do estudo foi desenvolvido um estudo
numa plataforma eletrónica (Google forms), tendo sido remetido às empresas, por correio
O universo do estudo é composto por PME, definidas pelos critérios estabelecidos nos termos
utilizando uma base de dados facultada pela empresa Informa D&B, contendo dados de 1000
pequenas e médias empresas de todo o país, continente e ilhas. Esta base de dados apenas
incluiu empresas consideradas PME ao abrigo do critério usado neste trabalho, abrangendo
válidas o que corresponde a uma taxa de resposta de 6%. Esta taxa, quando comparada com as
taxas de respostas obtidas por outros autores pode considerar-se bastante baixa (Holmes e
Des, 1988; Lybaert, 1998b; Lybaert, 1998a; Boyd e Cox, 2002; Nunes e Serrasqueiro, 2004;
Serrasqueiro e Nunes, 2004; Nunes, 2004; Dyt e Halabi, 2007; İbicioğlu et al., 2010;
Jawabreh et al., 2012; Tout et al., 2014; Gouveia et al., 2015). Contudo, o número de
observações encontra se dentro dos parâmetros normais deste tipo de estudo (Lopez e Hielb,
2015). As baixas taxas de resposta são uma das desvantagens da obtenção de dados através de
de todas as dificuldades associadas, esta continua a ser uma metodologia muito utilizada
O tratamento de dados foi feito com recurso ao software SPSS (versão 22). Para avaliar a
consistência interna das escalas realizou-se o teste de alfa de Cronbach (Pestana e Gageiro,
2005), tendo-se verificado uma boa consistência interna. Foi também aplicado o teste de
mesma não segue uma distribuição normal. Consequentemente, para o teste de hipóteses
15
4.1. Caraterização da Amostra
Constata-se que relativamente à localização geográfica, a maioria das empresas estão sediadas
16
Quanto à forma jurídica, verifica-se que predominam as sociedades anónimas (54,24%) e
jurídicas.
As empresas inquiridas têm em média 31 anos de antiguidade, sendo que a empresa mais
recente tem 5 anos de atividade, e a mais antiga 88. Com base na análise da tabela 1, observa-
se que 38,33 % das empresas têm até 25 anos de atividade e 45% têm mais de 25 anos.
seguintes:
(25%);
Com base no CAE, as empresas foram classificadas como industriais e não industriais
(Gouveia et al., 2015; Holmes e Des, 1988; Marriott e Marriott, 2000). Como se pode
observar na tabela 1, mais de um terço das empresas (31,67%) são industriais, contudo, a
empresas que compõem a amostra possuem um volume de negócios superior a 700 mil euros
sendo que o valor mínimo de funcionários é de 3 e o máximo de 249. Verificou-se ainda que a
das empresas Microempresas, 33,33% são pequenas empresas e 23,33% médias empresas,
Ainda relativamente aos recursos humanos, os dados mostram que as empresas inquiridas
referidas áreas.
Quanto à classificação das empresas como familiares ou não familiares, utilizando a definição
da APEF, constata-se quea maioria (51,67%) das empresas inquiridas é familiares, conforme
Relativamente aos cargos ocupados pelos familiares dos gestores, estes variam muito, sendo
Quanto à titularidade do capital, e com base na análise efetuada, verifica-se que temos um
único proprietário em 25% das empresas inquiridas, dois proprietários em 35% das empresas
No que toca à contratação de gestores, 18,33% das empresas admitem não ter nenhum gestor
contratado e 26,67% possuem apenas um gestor contratado, sendo que 15% das empresas
apresentam 4 ou mais gestores contratados. Por último, 16,66% das empresas admitem outras
situações tais como sociedades gestores de participações sociais (SGPS), advogados, chefes
Por último, verifica-se que a maioria das empresas inquiridas (98,31%) apresenta uma
18
Quanto à caracterização dos inquiridos, os resultados indicam que, do total dos 60 inquiridos,
A maioria dos inquiridos possui formação na área financeira (71,67%). Quanto ao nível
(25). Um dos inquiridos admite que a sua formação inicial (licenciatura) é numa área diferente
da contabilidade e afins, mas que possui formação posterior (pós graduação, mestrado,
a sendo que o inquirido com menor experiência exerce há apenas um ano cargos de gestão, e
Este estudo pretendeu averiguar que fatores influenciam a importância atribuída, pelos
gestores,à informação contabilística e condicionam a sua utilização nas PME. Para isso, foram
As características das empresas (dimensão, sector de atividade, etc.), dos gestores (formação,
foram analisadas no ponto anterior. Para testar as hipóteses é necessário relacionar estes
Para isso, foram colocadas aos gestores questões que permitiram averiguar o grau de
importância atribuído à informação contabilística. Assim, foi pedido aos gestores que
19
finalidades (Tabela 2). Para o efeito foi facultada uma escala progressiva de 5 níveis, sendo
Através análise das médias pode verificar-se que os gestores atribuem bastante importância a
foi solicitado aos gestores que as classificassem tendo em conta a importância da informação
contabilística para cada tipo de decisão. Foi igualmente facultada uma escala progressiva de 1
20
Tabela 3 – Importância atribuída à informação contabilística nos diferentes tipos de
decisão
(Média, número de observações e desvio padrão)
importante em todos os tipos decisões apresentas sendo, no entanto mais importante nas
decisões estratégicas.
3.7., foram apresentados diversos documentos contabilísticos (Tabela 4) e foi pedido aos
respondentes que indicassem a frequência com que utilizam ou analisam os mesmos. Mais
uma vez foi fornecida uma escala progressiva de 5 níveis, em que 1 corresponde a nunca e 5 a
mensal.
Documentos contabilísticos
(Escala: 1 – Nunca; 5 - Mensal) Média Desvio padrão
Verifica-se que as peças contabilísticas são utilizadas com alguma frequência. Todos os
documentos apresentados apresentam médias superiores a 2,50, o que significa que a maioria
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das empresas utiliza estes documentos mais do que uma vez por ano. Dos documentos com
O grau de escolaridade dos gestores foi agrupado em dois níveis “ensino básico ou
secundário” e “ensino superior”. Assim, para testar a hipótese 1.1. foi aplicado o teste U de
Mann-Whitney.
gestor.
Assim, gestores com escolaridade de nível superior dão mais importância à informação
escolaridade.
Consequentemente, existem evidências de que os gestores com maior nível de formação dão
resultados são consistentes com a literatura (Cassar e Holmes, 2003; Holmes e Des, 1988;
22
Gouveia et al., 2015; López e Hiebl, 2015; Lybaert, 1998a, 1998b; Mcmahon e Holmes, 1991;
Ainda relativamente à formação dos gestores, procurou-se apurar também se os gestores com
Para este efeito foram criados dois grupos de gestores: “Com formação em gestão” e “Sem
formação em gestão”.
gestores com formação em gestão dão mais importância à informação contabilística quando
esta se destina a outras partes interessadas, como clientes, fornecedores e investidores (Valor
informação contabilística nos diferentes tipos de decisões (tabela 3) entre gestores com e sem
Desta forma, e com base nos resultados obtidos, pode concluir-se que, apesar de não haver
dos items analisados, a verdade é que existem algumas evidências de que os gestores com
formação em gestão lhe atribuem maior importância, verificando-se assim H 1.2. Estes
resultados estão em consonância com a literatura (Cassar e Holmes, 2003; Holmes e Des,
1988; Gouveia et al., 2015; López e Hiebl, 2015; Lybaert, 1998a, 1998b; Mcmahon e
(H2.1 e H2.2.).
23
Para medir a experiência dos gestores, foi criada uma nova variável com 3 níveis, tendo por
Os resultados mostram que das finalidades apresentadas (Tabela 2) apenas existem diferenças
bancárias, sendo que são os gestores que têm entre 11 e 20 anos de experiência (nível
intermédio) os que atribuem mais importância à informação contabilística para esta finalidade
(𝒳²=7,096; P-Value=0,029)
com mais experiência não são os que atribuem mais importância à informação contabilística.
Contata-se que são gestores com um nível intermédio de experiência os que valorizam mais a
com a literatura, sendo que alguns dos investigadores que estudaram a influência da
experiência dos gestores na informação contabilística têm chegado também eles a conclusões
distintas. Por exemplo, Lybaert (1998a, 1998b) concluiu que os gestores mais inexperientes
(2015) que afirma que são os gestores mais experientes aqueles que mais valorizam a
informação contabilística.
24
4.2.3 Características das PME
Para além das características dos gestores, pretendeu-se também perceber que características
Assim, o primeiro fator analisado prende-se com a dimensão e antiguidade das empresas (H
3.1. e H 3.2.)
Para o teste desta hipótese foi criada a variável “frequência de utilização/análise” através da
sendo que as médias empresas utilizam mais a informação contabilística do que as pequenas e
microempresas. Com base nestes dados torna-se possível verificar a hipótese 3.1: As PME
com maior dimensão fazem uma maior utilização da informação contabilística. Tendo em
conta a literatura analisada, este era o resultado esperado para esta hipótese (Holmes e Des,
1988; Benjaoran, 2009; Cassia et al., 2005; Lutz e Schraml, 2010; Lutz e Schraml, 2012;
utilizam.
Outro fator que se pretendeu analisar diz respeito ao número de anos de atividade das PME (H
3.2). Para testar a influência desta variável na utilização na informação contabilística utilizou-
25
se novamente a variável criada “frequência de utilização/análise”. No entanto os
dadosmostram que não existem diferenças estatísticas que permitam verificar H 3.2.
Contrariamente alguns autores concluíram que empresas com mais anos de atividade tendem
a fazer uma maior utilização da informação contabilística (Davila, 2005; Gouveia et al., 2015;
Outro objetivo deste estudo é apurar se existem diferenças entre as PME familiares e PME
pretendeu-se analisar a relação entre PME Industriais e não industrias, no que toca a utilização
hipótese 4 como no teste para a hipótese 5 não se obtiveram resultados que permitam afirmar
chegaram a conclusões diferentes. A literatura sugere que as PME familiares usam menos a
informação contabilística do que as não familiares (Lybaert, 1998b; Hiebl, 2012; López e
Hiebl, 2015; Lutz e Schraml, 2010; Lutz e Schraml, 2012; Tout et al., 2014). Relativamente
que as empresas de outros sectores de atividade (Holmes e Des, 1988; Gouveia et al., 2015;
Marriott e Marriott, 2000). Importa, no entanto, salientar que o conceito de empresa familiar é
complexo, tendo neste trabalho sido apenas considerado o número de funcionários com grau
de parentesco ao gestor como critério para definição de empresa familiar, o que pode enviesar
os resultados.
26
Finalmente, pretendeu-se analisar a influência da subcontratação dos serviços de
resultados mostram que existem evidências suficientes para afirmar que há diferenças
126,00; P-Value=0,000).
resultados obtidos estão em consonância com a literatura (Gouveia et al., 2015; Holmes e
5. Conclusões
Relativamente às características dos dirigentes, verificou-se que os gestores com maior grau
de escolaridade dão mais importância à informação contabilística do que gestores com níveis
Constatou-se também que aqueles que possuem formação em gestão ou áreas relacionadas
(33,33%) (níveis inferiores de dimensão), quase todas as empresas possuem a pelo menos um
trabalhador neste departamento, sendo que uma percentagem ainda significativa de empresas
contabilística em todas as finalidades apresentadas (tabela 2), bem como em todos os tipos de
decisão (tabela 3). Contata-se ainda que todas as peças contabilísticas apresentadas aos
Tais resultados mostram que os gestores das PME portuguesas atribuem bastante importância
à informação contabilística, utilizando a para fins de gestão, apesar da maioria das evidências
frequência.
Em suma, conclui-se que o grau de escolaridade dos gestores, assim como as suas áreas de
formação têm impacto na importância que estes atribuem à informação contabilística, tanto na
tomada de decisão como para outras finalidades, tais como avaliação do desempenho,
cumprimento das obrigações fiscais, etc. Também a experiência dos dirigentes tem influência
nestes parâmetros. Verificou-se ainda que PME de menor dimensão, assim como as PME que
28
recorrem à subcontratação de serviços de contabilidade, são asque fazem um menor uso da
informação contabilística.
Inevitavelmente, este trabalho apresenta algumas limitações. Em primeiro lugar a baixa taxa
de resposta (6%) constitui a principal limitação, apesar de o número de observações (60) estar
cima do obtido em grande parte dos estudos elaborados sobre microempresas (López e Hiebl,
sectores de atividade, poderá ter contribuído para a não obtenção de alguns dos resultados
esperados. Por último, a classificação das empresas como “Empresa familiar/não familiar” foi
feita de forma muito superficial, podendo residir aqui o motivo dos resultados obtidos.
Apesar das limitações apresentadas, este trabalho responde a muitas das questões colocadas.
Contudo, a importância da informação contabilística para o apoio à gestão nas PME e o efeito
decisivo que pode ter na sobrevivência destas empresas faz com que seja necessário continuar
transmitida aos gestores de forma formal, através de completos mapas financeiros e relatórios
escritos. Tal facto poderá ajudar a explicar alguns dos resultados obtidos neste trabalho, uma
vez que, apenas os gestores com maiores níveis formação e formação em gestão poderão
incompreensão, podem fazer com que a informação contabilística seja excluída como fonte de
Da mesma forma, uma vez que se verificou uma menor utilização da informação
contabilidade, considera-se pertinente avaliar a qualidade dos serviços prestados por estas
29
empresas, não apenas no que toca ao cumprimento das obrigações fiscais, mas também em
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