Estética
Estética
Estética
De qualquer forma, hoje, a maioria dos autores continua a considerar o belo como
conceito central da Estética, quer se evidencie pelo prazer dos nossos sentidos, quer se
equacione como fruto da contemplação intelectual.
Para que se possa (tentar) definir o belo, a filosofia tem de começar por perguntar como
é que experienciamos a beleza, isto é, tem de analisar a experiência estética.
• o objeto ou aquilo que provoca a experiência: a obra de arte (que pode ser pintura,
música, dança, escultura, etc) ou elemento da natureza (que pode ser um pôr-do-sol, um
vale, etc.);
• a relação entre sujeito e objeto: o efeito que a obra de arte provoca no sujeito
(emoções, sensações, ideias, imagens);
• a relação espectador (sujeito)/natureza (objeto);
• a relação espectador (sujeito)/obra de arte (objeto);
Por último, o terceiro tipo de relação remete-nos para a experiência estética do artista
aquando da criação. Durante a criação da obra de arte, o artista experimenta diferentes
sensações. Porém, a sua relação com a obra é também reflexiva e de isolamento
(distanciamento relativamente ao que o rodeia) e não meramente contemplativa.
0 juízo estético
Subjetivismo Estético
Kant tenta resolver o problema pela definição de juízo de gosto ou estético. Para este
filósofo, o juízo de gosto ou estético é subjectivo, porque o seu fundamento está no
sentimento do sujeito que frui e não no objecto ou nas suas características. Os juízos de
gosto são diferentes dos juízos de conhecimento, uma vez que não exprimem um
conhecimento com validade geral, antes exprimem uma reação o sujeito perante um
objecto estético e que pode não ser igual em todo o ser humano.
No entanto, a subjetividade desse sentimento (de gosto) não significa que a capacidade
de fruir (de gostar) não seja universal. A partir da distinção que Kant faz entre juízo de
gosto e agradável, podemos perceber melhor a definição kantiana de juízo estético.
Nem todos os juízos que resultam da fruição de um objecto são juízos estético. Perante
o juízo "Gosto da cor deste casaco", pode depreender-se que o sujeito que o formula
manifesta apenas uma preferência pessoal e que esse sujeito não espera que todos os
sujeitos possíveis concordem com ele. O sujeito está apenas a dizer que a cor do casaco
lhe agrada, manifesta um sentimento individual e não espera que os outros sintam o
mesmo. Mas do juízo de gosto "A obra de Vivaldi é belíssima", pode depreender-se que
o sujeito espera que todos reconheçam a beleza da música de Vivaldi, a qual não se
reduz a algo meramente agradável para um indivíduo. Segundo Kant, não existe uma
natureza egoísta no juízo estético. O sujeito não deseja fruir sozinho da sensação, antes,
espera que todos possam ter a mesma emoção estética perante a contemplação do
objecto estético. Esta exigência do sujeito (que existe em todo o ser humano) justifica a
universalidade do juízo estético, mas não o torna um juízo de conhecimento, dado que
não é possível universalizar um sentimento, ainda que desinteressado, e construir a
partir dele conhecimento estético com validade geral.
Objetivismo Estético
A criação artística pode analisar-se sob dois aspectos: enquanto actividade criativa e
imaginativa do criador e enquanto trabalho prático ou técnico de produção da obra. A
obra de arte resulta da combinação destes dois momentos, ou seja, resulta da projecção
do artista e da sua materialização no objecto (na obra de arte). Por isso, obra de arte e
artista tornam-se conceitos indissociáveis. A obra carrega para sempre com ela alguma
coisa do artista e, por sua vez, o artista só é chamado criador mediante a obra criada.
Neste sentido, a criação artística evidencia-se como um diálogo entre criador e obra de
arte, como um processo original e único que rompe com a aparente tranquilidade
humana face ao mundo e à realidade.
Pela criação, o artista transfigura a realidade, cria um mundo novo (resultante da sua
interpretação) e coloca-o sobre a obra, permitindo que ela seja fruída por outros. A obra
de arte ganha, assim, alguma independência face ao criador e, de algum modo, é capaz
de o transcender (de o ultrapassar).
Ao longo dos tempos, diferentes correntes tentaram definir obra de arte. O termo arte
tem como etimologia ars, considerado como o equivalente grego techné, que designam a
técnica e a perícia, isto é, o conjunto de procedimentos que servem para produzir um
certo resultado. A arte que visa a criação artística e a procura do belo liberta-se do útil.
Considerada por alguns como imitação da Natureza, como procura de proporção por
outros, indefinível, pura arte desinteressada ou símbolo especificamente artístico, a obra
de arte sempre se revelou difícil de definir. A obra de arte resulta do encontro de três
elementos, eventualmente quatro: a realidade a representar; os meios técnicos; o artista
e o espectador. A dificuldade está em definir os critérios que permitam distinguir arte
daquilo que não é arte e que possam ser igualmente aplicados a todas as manifestações
artísticas: pintura; música; dança; escultura; etc.
A teoria da arte como imitação, defendida, por exemplo, por Platão e Aristóteles,
considera que o objectivo essencial da arte consiste na imitação ou reprodução das
coisas e dos objectos, tal como estes existem na natureza.
Platão, vendo na imitação uma mera criação de imagens, defende que, uma vez que a
verdadeira essência do objecto se encontra no mundo inteligível - sendo o objecto uma
imitação da sua essência -, ao imitar a natureza, o artista está a imitar uma imitação.
Aristóteles também vê na arte uma imitação da natureza, considerando existirem tantas
artes distintas quantas as maneiras que há de imitar os diferentes objectos.
Os críticos às conceções que sustentam esta perspetiva consideram que elas reduzem a
arte a uma caricatura da vida. Por outro lado, aquele que se limita a imitar a natureza
restringe-se a mostrar a sua habilidade, pois produz uma reprodução privada de
criatividade.
Opondo-se à ideia de que a arte é uma imitação da natureza, muitos autores defendem
que a verdadeira arte é sempre uma transfiguração do real, feita mediante a imaginação,
a sensibilidade e a inteligência do artista.
Como critério classificativo, a teoria da arte como classificação falha quando aplicada a
obras reconhecidas como arte e que não imitam coisa alguma.
A teoria da arte como forma significante baseia-se na ideia de que a emoção estética
desencadeada no espectador pelas verdadeiras obras de arte resulta de uma qualidade
que tais obras possuem: a forma significante. Tal qualidade diz respeito à relação
existente entre as partes, o que é particularmente notório nas artes visuais.
Esta propriedade das obras de arte é indefinível, podendo, no entanto, ser reconhecida
de forma intuitiva pelos críticos mais sensíveis. O mesmo não se verifica se os críticos
forem insensíveis.
Duas objeções podem ser dirigidas contra esta teoria. Ela parece apoiar-se num
argumento circular, pois refere que a emoção estética resulta de uma propriedade
destinada a desencadear tal emoção no espectador. Aquilo que se pretende explicar - a
emoção estética sentida pelo espectador - faz parte da própria explicação. Além disso,
esta teoria não pode ser refutada: se alguém disser que não sente emoção estética
perante uma obra de arte, os defensores da teoria dirão que essa pessoa está enganada.
Por outro lado, se algum objecto a que chamamos obra de arte não desperta emoção
estética ao crítico sensível, então esse objecto não pode ser considerado uma verdadeira
obra de arte. Nada existe que nos permita refutar uma tal perspectiva, pois estamos no
pleno domínio da subjetividade do crítico. Uma teoria que não pode ser refutada
(porque é sempre confirmada, qualquer que seja a situação) é desprovida de significado,
no entender de vários filósofos.
• todas as obras de arte são artefactos, isto é, sofreram uma manipulação por parte de
alguém. A simples exposição intencional de um qualquer objeto (uma pedra, um vaso,
um sinal de trânsito, e por aí fora) numa galeria de arte é já um passo para que esse
artefacto venha a ser considerado uma obra de arte.
• todas as obras de arte possuem o estatuto de obras de arte porque este lhes é conferido
por pessoas que, estando ligadas à esfera artística, detêm autoridade suficiente para o
fazer. Essas pessoas, mediante uma acção de baptismo, transformam os artefactos em
obras de arte, através de processos que vão desde a exibição, a representação e a
publicação dessas obras, até ao simples facto de lhes chamarem arte.
A teoria idealista da arte afirma que a verdadeira e autêntica obra de arte reside apenas
na mente do artista. Nesse sentido, a obra de arte (entenda-se, a verdadeira obra de arte)
não existe de um ponto de vista material. 0 que o artista faz é partir da ideia ou da
emoção que possui na mente, traduzindo-a numa expressão física (aquilo a que
vulgarmente chamamos obras de arte).
Segundo esta teoria, as obras de arte são distintas dos artefactos. As primeiras não têm
uma finalidade específica, diferenciando-se, por isso, dos meros artefactos, que
pressupõem uma finalidade. Tal não quer dizer que as obras de arte não possam também
ser artefactos (como uma cadeira ou uma mesa): o que sucede é que nenhuma obra de
arte se reduz, enquanto tal, a um meio destinado a um fim utilitário.
Esta teoria diferencia também as obras de arte genuínas, que são fins em si mesmas, da
arte destinada ao divertimento (arte recreativa), bem como da arte religiosa.
Conclusão
Nota: As orientações para a lecionação do programa de filosofia indicam para discussão
apenas a teoria da arte como imitação, a teoria da arte como expressão e a teoria da arte
como forma e coloca nos professores a escolha dos filósofos representativos de cada
uma das três teorias indicadas.
Assim:
• a obra de arte é aberta ao público, do que decorre que a apreciação estética surge do
diálogo entre dois mundos: o do artista e o do espectador.
A questão do contexto ou situação permite-nos perceber melhor aquilo que hoje alguns
autores classificam de massificação, democratização e dessacralização da arte. Neste
sentido, para que percebamos a situação atual da arte do mundo e cultura ocidentais,
basta responder às questões: quem é hoje o espectador, o público da arte? Que
consequências isso acarreta?
• Contrariamente ao que aconteceu durante vários séculos, em que o público da arte era
a aristocracia, nos nossos dias todos temos acesso à arte - democratização da arte.
• Esta dimensão comercial da arte desvirtua um dos princípios fundamentais em que ela
assenta: a ideia de que a arte se fundamenta na experiência desinteressada da própria
arte.
• Surgem novos materiais, novas formas de expressão e novos domínios artísticos, como
a fotografia, o cinema, os graffiti e as artes digitais.
• A arte, em muitas das suas manifestações, não é uma linguagem discursiva (permite
dizer o que não se diz por palavras), não se preocupa em obedecer rigidamente às regras
lógicas do pensamento, é polissémica (podemos atribuir diferentes sentidos à obra de
arte) e, portanto, susceptível de múltiplas interpretações. Como forma de comunicação,
a obra de arte interpela o espectador e influencia-o na maneira como concebe a
realidade e como atuará perante ela. É neste sentido que a arte é uma linguagem
ampliada e generalizada.
Pela arte, o ser humano (trans)figura e (re)cria a realidade, por forma a descortinar os
seus enigmas e descobrir-lhes um significado. Neste sentido, ao interpretar o mundo
pela arte, o ser humano explora-o nas suas diferentes possibilidades, tal como o
cientista, mediante a exploração das suas hipóteses pela experimentação, averigua as
possibilidades de explicar o fenómeno. Por conseguinte, tal como a ciência ou a
religião, a arte é também ela uma forma de conhecimento. Por isso, no âmbito da
Estética podemos estudar diferentes teorias (estéticas) que apresentam diversas
respostas aos problemas relativos ao belo, isto é, diferentes interpretações da beleza, da
arte, da criação artística, etc.