África Na Primeira Guerra Mundial

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

INTRODUÇÃO

Em 1914, ano da eclosão da Grande Guerra, com excepção da Etiópia, da Libéria e da


União Sul Africana, que eram independentes, da Líbia e de Marrocos que não tinham
sido ainda «formalmente conquistados», o resto do continente africano encontrava-se
já ocupado e dividido entre o Reino Unido, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália
e-Bélgica.
Este artigo procura fazer uma síntese da importância de África no contexto da
Grande Guerra, analisando o respectivo contributo humano e material para o conjunto
da beligerância europeia. O texto focará ainda algumas das razões por trás da entrada
do continente africano na I Guerra Mundial, e conclui com uma síntese em torno das
repercussões sociais, políticas e económicas trazidas pelo conflito às relações Europa-
África, e que, em suma, servem para compreender o modo como o continente se foi
«moldando» por forma a conseguir satisfazer os interesses das potências
colonizadoras, durante a guerra.
DESENVOLVIMENTO

África na Primeira Guerra Mundial

Porque é que África se viu envolvida na Grande Guerra?

A 28 de Junho de 1914 o herdeiro do trono da Áustria-Hungria, Francisco


Fernando, e a sua mulher, a duquesa de Hohenburg, foram assassinados na capital da
Bósnia. Os conspiradores de Sarajevo, incluindo Gavrilo Princip, que disparou os tiros
fatais, eram sérvios bósnios – súbditos do império Austro-Húngaro – com ligações ao
grupo Mão Negra, que os teria armado e ajudado a atravessar a fronteira.

Quanto a Portugal, a defesa da integridade do império colonial português, tem


sido apontada pela historiografia portuguesa como um dos factores apresentados para
justificar a declaração de guerra à Alemanha, em Março de 1916, e a participação.

Os impactos da Grande Guerra em África

Apesar da maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o envolvimento do


continente africano na Grande Guerra acabaria por ser tudo menos irrelevante: ao
longo de quatro anos África forneceu recursos materiais e humanos, a uma escala sem
precedentes, para a Frente Ocidental. África ver-se-ia assim envolvida na Grande
Guerra em virtude não só do controlo político que a Europa exercia sobre o continente
mas também devido ao potencial estratégico de muitos destes recursos e
infraestruturas sobretudo portos, linhas de comunicação e estações telegráficas
considerados indispensáveis à prossecução da guerra. As colónias não foram por isso
meros campos de batalha, elas eram parte integrante das economias de guerra dos
países europeus, fornecendo matérias primas, alimentos e soldados para a frente
ocidental.

As consequências da Grande Guerra em África, cujos impactos se fizeram sentir


em todo o continente ao longo de quatro anos, só podem, em grande medida, ser
comparáveis aos efeitos devastadores provocados por séculos de escravatura. De uma
forma geral podemos afirmar, desde logo, que os impactos da Grande Guerra, quando
analisados para além da destruição provocada por quatro anos de conflito, se fizeram
sentir no quotidiano do continente devido a três causas principais:

1. o recrutamento das populações africanas;


2. o êxodo dos europeus;

3. o impacto económico.

Cerca de dois milhões e meio de africanos foram mobilizados, como soldados,


trabalhadores ou carregadores, valor que corresponde a, aproximadamente, 1% do
total da população do continente.

No Congo, entre 1914 e 1918, a Bélgica terá recrutado, aproximadamente, 260


mil carregadores, números que não deixam de surpreender sobretudo se tivermos
presente que a soberania belga no território era ainda recente.

A Alemanha e os aliados terão recrutado, nos territórios da África Central e


Oriental, entre 1914 e 1918, cerca de um milhão de carregadores, aproximadamente
três por cada militar branco. Os salários pagos aos carregadores eram miseráveis e as
tarefas que tinham que desempenhar, por si só, extremamente duras em tempo de paz
devido às dificuldades de comunicação e à agressividade das condições climáticas,
seriam, ainda, agravadas pelo evoluir das operações militares: os animais morriam
devido à doença do sono transmitida pela mosca tsé-tsé e os exércitos, quando se
movimentavam no interior do continente, longe de rios e com uma rede ferroviária
escassa, ficavam dependentes dos carregadores para transportar abastecimentos e
munições. Em 1915 era publicado um decreto instituindo o recrutamento obrigatório de
soldados e carregadores, o diploma era dirigido a todos os homens com idades
compreendidas entre os 18 e os 45 anos. Dois anos mais tarde a medida era estendida
ao protectorado do Uganda.

Em 1916 nos protectorados britânicos da África Oriental era ainda organizado o


Military Labour Bureau, no ano seguinte, a instituição era renomeada, passando a
denominar-se Military Labour Corps. Devido às dificuldades climáticas da África
Oriental o governo Na África do Sul, apesar dos receios iniciais do Congresso quanto
às consequências que o combate, lado a lado, entre brancos e negros poderia trazer
para o futuro da União, 30 000 sul africanos negros acabaram por ser recrutados e
enviados para combater no sudoeste africano, 17 000 foram incorporados no South
African Native Labour Contingent.

Ao longo de quatro anos, populações europeias e africanas foram deslocadas,


culturas foram destruídas, num cenário onde a contestação ao domínio político,
económico e administrativo europeu começou, também, inevitavelmente, a ganhar
notoriedade. Nos territórios do protectorado britânico da África Oriental, terminada a
guerra, as estimativas apontam que cerca de 100 000 africanos nunca terão
regressado a casa.

Na África Central estes impactos foram mais desiguais: enquanto na Rodésia do


Sul, território onde não existiram confrontações militares directas, acabaram por ser
recrutados apenas dois batalhões de tropas africanas, na Niassalândia que sofreu,
directamente, os efeitos devastadores da destruição militar foram incorporados 15 000
soldados, cerca de metade da força total do King’s African Rifles, e 197 000
carregadores.

Vale a pena mencionar ainda o papel desempenhado pelos soldados africanos na


frente europeia de guerra, no Médio Oriente ou nas diversas campanhas africanas que
foram sendo travadas no continente ao longo de quatro anos. Desde o início do
conflito, até ao mês de Novembro de 1917, o governo francês enviou 90 000 africanos
para combater em França. No seu conjunto, e até ao final da guerra, as colónias
francesas em África forneceram aproximadamente 450 000 soldados para a frente
ocidental, destes, aproximadamente, 65 000 morreram nos campos de batalha da
Europa. A Primeira Guerra Mundial marcou assim, também, o início da migração de
mão-de-obra argelina para França, tendência que seria continuada durante o período
entre-guerras.
Ao longo de quatro anos trinta e cinco mil senegaleses desertaram, refugiando-se
na Gâmbia e na Guiné Portuguesa. Em Fevereiro de 1915, nas comunidades Bambara,
em Novembro do mesmo ano em Abril de 1916, nas regiões do Volta ocidental, e a
norte do Dahomey, as populações revoltaram-se procurando preservar «(...) the
Independence of segmentary societies from all state and external tutelage».

Para além dos soldados os franceses recrutaram africanos para trabalharem em


França durante a Guerra. Em 1918, 137 000 africanos trabalhavam na Europa,
apoiando o esforço de guerra francês, na sua maioria tinham vindo do Norte de África e
de Madagáscar. A União Sul Africana também enviou 21 000 africanos negros para
França, como parte do South African Native Labour Contingent.

Por outro lado foram significativos, também, os impactos trazidos pela Guerra à
população europeia que vivia em África; os homens que se encontravam em idade de.
Esta situação acabaria por dar origem a um significativo êxodo de europeus e,
consequentemente, a uma diminuição muito significativa do número de funcionários
que exerciam funções administrativas e comerciais, em particular na Nigéria do Norte,
onde, entre 1914 e 1918, algumas circunscrições ficaram, totalmente, privadas de
administradores. Uma das consequências mais visíveis desse êxodo foi – por forma a
evitar a completa paralisação de alguns serviços – a ocupação por africanos instruídos
de cargos cujo acesso, em alguns casos, até então, se encontrava reservado apenas
aos europeus. Por outro lado, do ponto de vista religioso, a guerra determinaria,
também, o fim da hegemonia das missões cristãs; no pós-guerra as funções dos
missionários alemães seriam ocupadas por africanos.

São muitas as transformações que a guerra iria trazer à vivência e ao quotidiano


dos africanos, uma vez assinada a paz. Na verdade, as elites africanas acabaram por
saber tirar partido de algumas das oportunidades que a guerra lhes trouxe: em 1916
era aprovada a «Loi Blaise Diagne» que reconhecia o direito de cidadania francesa a
todos os residentes nas quatro comunas do Senegal: Dakar, Gorée, Saint-Louis e
Rufisque, A guerra, para além da mobilidade que trouxe às populações africanas,
desde longo no interior do continente – não nos podemos esquecer que tropas da
British West Africa.

CONCLUSÃO

Concluimos que em 1914, ano da eclosão da Grande Guerra, com excepção da


Etiópia, da Libéria e da União Sul Africana, que eram independentes.

Apesar da maioria dos confrontos ter ocorrido em solo europeu, o envolvimento do


continente africano na Grande Guerra acabaria por ser tudo menos irrelevante: ao
longo de quatro anos África forneceu recursos materiais e humanos, a uma escala sem
precedentes, para a Frente Ocidental.

Você também pode gostar