Elite Maconica e As Escolas Da Loja Sete
Elite Maconica e As Escolas Da Loja Sete
Elite Maconica e As Escolas Da Loja Sete
18, 2018)
ARTIGO ORIGINAL
E L I T E M A ÇÔ N I C A E A S E S C O L A S D A L O J A
SETE DE SETEMBRO NA REVISTA A
M AÇONARIA NO E STADO DE S ÃO P AULO
(1912-1932)
MASONIC ELITE AND THE SCHOOLS OF THE LODGE SETE DE SETEMBRO IN THE MAGAZINE A MAÇONARIA NO
ESTADO DE SÃO PAULO (1912-1932)
ELITE MASÓNICA Y LAS ESCUELAS DE LA TIENDA SETE DE SETEMBRO EN LA REVISTA A MAÇONARIA NO
ESTADO DE SÃO PAULO (1912-1932).
1*
Ivanilson Bezerra da Silva , Bruno Bontempi Júnior 2
1
Universidade Brasil, Faculdade de Sorocaba, Sorocaba, SP, Brasil. 2Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
*Autor para correspondência: [email protected]
R e s u m o : Este artigo explora o caráter elitista da maçonaria, enfatizando o lugar da educação em seu ideário
e prática como uma estratégia de distinção social e acumulação de capital de uso interno. Tomando como
categoria de análise a noção de elite, elabora uma prosopografia de expoentes maçons entre 1912 e 1932,
apontando a natureza e o volume dos capitais que perfazem um perfil comum, e examina, à luz da sociologia de
Bourdieu, a proposta e a experiência das escolas da Loja Sete de Setembro, destinadas às crianças pobres, filhos
de operários e estrangeiros. Os dados biográficos e as informações sobre a escola provêm da publicação A
Maçonaria no Estado de São Paulo (1912-1932). Conclui-se que nas mais altas posições na hierarquia maçônica
encontram-se detentores de significativos capitais econômicos, sociais, políticos, indicando haver homologia e
reconversões entre os campos; que o empenho na instrução das classes subalternas respondia a exigências
filantrópicas do grupo, revertendo em prestígio e distinção para promotores individuais e para a própria
maçonaria.
P a l a v r a s - c h a v e : elite; maçonaria, educação, A Maçonaria no Estado de São Paulo, Loja Sete de Setembro.
A b s t r a c t : This article explores the elitist character of Freemasonry, emphasizing the place of education in its
ideology and practice as a strategy of social distinction and accumulation of capital for internal use. Taking as a
category of analysis the notion of elite, it elaborates a prosopography of Freemason exponents between 1912 and
1932, pointing out the nature and volume of capitals that make up a common profile, and examines, in the light
of Bourdieu's sociology, the proposal and experience of the schools of the Lodge Sete de Setembro, destined to
the poor children, children of workers and foreigners. The biographical data and the information about the school
comes from the publication A Maçonaria no Estado de São Paulo (1912-1932). It is concluded that the highest
positions in the Masonic hierarchy are occupied by holders of significant economic, social and political capitals,
indicating homology and reconversions among the fields; that the commitment to the instruction of the subaltern
classes responded to philanthropic requirements of the group, reverting in prestige and distinction to individual
promoters and to Freemasonry itself.
K e y w o r d s : elite, freemasonry, education, A Maçonaria no Estado de São Paulo, Lodge Sete de Setembro.
R e s u m e n : Este artículo explora el carácter elitista de la masonería, enfatizando el lugar de la educación en su
ideario y práctica como una estrategia de distinción social y acumulación de capital de uso interno. Tomando
como categoría de análisis la noción de elite, elabora una prosopografía de exponentes masones entre 1912 y
1932, señalando la naturaleza y el volumen de los capitales que constituyen un perfil común, y examina, a la luz
de la sociología de Bourdieu, la propuesta y la experiencia de las escuelas de la Tienda Sete de Setembro, destinadas
a los niños pobres, hijos de obreros y extranjeros. Los datos biográficos y las informaciones sobre la escuela
provienen de la publicación A Maçonaria no Estado de São Paulo(1912-1932). Se concluye que en las más altas
posiciones en la jerarquía masónica se encuentran poseedores de significativos capitales económicos, sociales,
políticos, indicando haber homología y reconversiones entre los campos; que el empeño en la instrucción de las
clases subalternas respondía a exigencias filantrópicas del grupo, revirtiendo en prestigio y distinción para
promotores individuales y para la propia masonería.
P a l a b r a s c l a v e : elite, masonería, educación, A Maçonaria no Estado de São Paulo, Tienda Sete de Setembro.
http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v18.2018.e039
e-ISSN: 2238-0094
Elite maçônica e as escolas da Loja Sete de Setembro na revista A Maçonaria no Estado de São Paulo (1912-1932)
INTRODUÇÃO
Na bibliografia sobre a maçonaria no Brasil, o conceito de 'elite' comparece
de modo genérico e joga papel secundário em análises, como as de Colussi (1999) e
Magalhães (2013). Magalhães (2013), por exemplo, qualifica a entidade com
expressões como 'elite ilustrada', 'elite intelectual' e 'elite econômica'; Colussi
(1999), por sua vez, relaciona-a à 'elite intelectual e política' gaúcha. Para ambos, as
lojas constituem um espaço de sociabilidade destinado às elites político-
econômicas e intelectuais, mas, por opção metodológica, não procedem à
construção do perfil sociológico desse agrupamento, de modo a defini-lo em suas
peculiaridades. Amaral (2016) é um dos poucos a construir uma biografia coletiva
dos veneráveis mestres da maçonaria paranaense, mostrando a importância do
método prosopográfico para a compreensão da dinâmica de um grupo social, tanto
quanto a lacuna de estudos biográficos exaustivos sobre a maçonaria no Brasil.
Todavia, a consideração do caráter de elite da maçonaria e a consequente
utilização dessa categoria em análises de sua composição, organização e ações
sociais podem contribuir significativamente para a revelação de novos aspectos e
para a revisão e complementação do conhecimento sobre essa entidade à luz da
sociologia e da história, neste caso, nos domínios da educação e da cultura. Este
artigo parte da hipótese de que a maçonaria é um grupo de elite, não apenas pelo
fato de as lojas maçônicas serem, desde sua inserção na sociedade brasileira,
predominantemente constituídas por uma minoria masculina, escolarizada e
remediada da população, mas pelo fato de esse grupo se entender como elite e se
empenhar em produzir representações que revelem sua condição perante a
sociedade. A maçonaria guarda especificidades no que tange às propriedades que
valoriza e possui seu próprio senso de distinção, observável em ritos, eventos e
vestuário, na mutualidade, na hierarquia e nas instituições, na sociabilidade, no
linguajar e na guarda de segredos que se fundam na distinção entre iniciados e não
iniciados (Beaurepaire, 1998; Gunn, 1999; Urban, 2001; Esquivel, 2016). Sua
projeção para a sociedade inclusiva se faz mediante o poder de reconverter suas
propriedades distintivas para campos conexos, em que outras formas de capital
estão em jogo - o que têm sido demonstrado, por exemplo, nos estudos de história
política (Morel& Souza, 2008). Como elite, a maçonaria mantém um estilo de vida
com que comunica uma identidade geradora e reveladora de sua diferença diante de
outros grupos, um habitus que se apresenta à vida societária como preferência de
gosto, práticas e estilos de vida (Bourdieu, 2007).
No que tange à história da educação brasileira, à luz dessa proposição é
possível acrescentar conhecimento novo à literatura sobre as ações educativas da
maçonaria no campo da instrução, notadamente no que diz respeito ao movimento
de criação e desenvolvimento de instituições de caráter escolar e assistencial em São
Paulo nos anos iniciais da República, período que se caracteriza justamente pelo
e com o apoio de outras fontes, tais como A Maçonaria no Centenário (1922), Livro
do Senado de São Paulo (1891-1930), Dicionário histórico-biográfico da Primeira
República (1889-1930). As perguntas levaram em consideração o ano de iniciação na
maçonaria, o grau alcançado, a profissão, o cargo maçônico e a atuação política de
cada agente. Os dados biográficos, organizados segundo variáveis quantitativas
nominais, relativas à escolaridade, à ocupação, aos cargos maçônicos e aos cargos
políticos compuseram quadros prosopográficos em que se descrevem as
propriedades dos sujeitos, a fim de compreender-se a dinâmica do 'campo
maçônico'.
Com relação à fonte principal, a revista A Maçonaria no Estado de São Paulo
(1909 a 1932)1 tinha como editor Antonio Giusti2 e, como redator, Angelo Giusti3,
seu filho. Segundo os redatores, era uma revista ilustrada e de propaganda que, sob
os auspícios do Grande Oriente de São Paulo, mantinha 12 publicações por ano e se
distribuía mediante assinaturas. A revista teve farta publicação no início do século
XX, circulando em lojas maçônicas e, provavelmente, em espaços não maçônicos. A
respeito das revistas ilustradas, Fraga (2013) informa que o gênero teve início na
Europa no século XIX, chegando ao Brasil em fins dos Oitocentos e tendo como
característica a presença de charges (e mais tarde, de fotografias) a acompanhar os
textos verbais. Além disso, as revistas ilustradas tinham “[...] o mérito de condensar,
numa só publicação, uma gama diferenciada de informações, sinalizadoras de tantas
inovações propostas pelos novos tempos” (Martins, 2008, p. 40). Ainda segundo
Martins (2008), elas tinham custo baixo, configuração leve, leitura entremeada de
imagens, distinguindo-se tanto do livro, objeto sacralizado, dispendioso e ao
alcance de poucos, como do jornal diário, justamente por sua visualidade mais
agradável e atraente.
No caso de A Maçonaria no Estado de São Paulo, voltada sobretudo a um
público de iniciados, o recurso ao gênero ilustrado parece não ter tido como
principal objetivo a multiplicação de assinantes, uma vez que, diferentemente das
mais destacadas de suas contemporâneas, não apelava a resoluções gráficas
arrojadas, tampouco oferecia diversidade de assuntos e informações. Sua temática
resume-se a assuntos de interesse direto dos maçons; suas imagens, em que
prevalecem os retratos de suas figuras mais eminentes, denotam a expectativa dos
1 Na Biblioteca Mario de Andrade, atual depositária da revista, encontramos as edições de 1912 a 1932. O
uso da revista foi feito de acordo com a portaria nº 06/2016– BMA-G I.
2 Antonio Giusti, iniciado na Loja Maçônica 7 de Setembro em 1883, participou da fundação das Lojas
Roma, Itália, 1º de Maio e Garibaldi. Atuou como diretor de A Maçonaria no Estado de São Paulo,
exerceu vários cargos na maçonaria, tais como venerável e membro da Poderosa Assembleia de São
Paulo (A Maçonaria no Estado de São Paulo, 1928).
3 Angelo Estevam Giusti foi iniciado na Loja Roma. Formado na Faculdade de Direito de São Paulo
(1915-1919), atuou como advogado e como jornalista em noticiosos paulistas (A Maçonaria no
Estado de São Paulo, 1920).
A ELITE MAÇÔNICA
Reproduzindo, em seu interior, uma visão de mundo hierárquica, a maçonaria
ostenta a sua própria elite, que se estabelece e se torna legítima segundo critérios e
valores intrínsecos, eventualmente distintos do conjunto de propriedades e capitais
que comumente definem as posições de prestígio e mando no mundo social exterior.
O grau de controle sobre sua própria reprodução é significativamente alto,
dependendo de indicação, escrutínio e deliberação das lojas.
A maçonaria brasileira possui vários ritos: Rito Escocês Antigo e Aceito, Rito
de York, Rito de Schroeder, Rito Adonhiramita, Rito Brasileiro de Maçons, Antigos,
Livres e Aceitos e o Rito Moderno. Segundo (Pacheco Jr.,1990), o Rito Escocês Antigo
e Aceito, mais popular entre a população maçônica brasileira, compreende 33 graus,
assim distribuídos: Graus Simbólicos – 1 a 3, Graus Inefáveis ou Oficinas de
Perfeição – 4 ao 14, Graus Capitulares ou Oficinas Vermelhas – 15 ao 18, Graus
Filosóficos ou Oficina de Kadosh – 19 ao 30, Graus Administrativos ou Consistórios
– 31 e 32, Supremo Conselho – grau 33. A escalada hierárquica dos graus do Rito
Escocês Antigo e Aceito é dividida aprioristicamente em dois grupos: o Simbolismo,
que contempla os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, administrados
pelas Potências Simbólicas (Grandes Lojas ou Grandes Orientes), e os Altos Graus
ou Graus Superiores, que, divididos em quatro grupos, compreendem os Graus de
Perfeição ou Inefáveis (4 ao 14), os Graus Capitulares (15 ao 18), os Graus Filosóficos
(19 ao 30) e os Graus Administrativos (31 a 33), que são administrados pelos
Supremos Conselhos do Rito. Os Altos Graus são transmitidos pelas Oficinas ou
Corpos Subordinados por iniciação e comunicação. Os Graus 4, 9, 14, 15, 18, 19, 22,
28, 30, 31 e 32 são transmitidos por iniciação nos Corpos Subordinados. O Grau 33
é transmitido pelos Supremos Conselhos; os demais, por comunicação nos Corpos
Subordinados (Pacheco Jr., 1990). No 'campo maçônico', as posições mais elevadas
são ocupadas por indivíduos que alcançaram o grau 33, razão pela qual se admite
este agrupamento como 'elite maçônica'4.
Para que um maçom atingisse o grau 33, exigia-se, além de considerável
assiduidade e trajetória no campo maçônico, alto capital cultural, por ser esta ordem
bastante ciosa de seu apego ao conhecimento (Pacheco Jr., 1990). A Constituição do
Grande Oriente do Brasil estabelecia estas exigências para o recrutamento.
4 Bernardino José de Campos Júnior, Manuel Ferraz de Campos Salles, Washington Luis Pereira de Sousa,
Carlos de Campos, José Luiz Flaquer, Júlio Prestes de Albuquerque, Ernesto Goulart Penteado, Luiz Pereira
de Campos Vergueiro, José Adriano Marrey Júnior, Alberto da Cunha Horta, Pedro Augusto Gomes Cardim,
Antonio Zerrenner, José Vasconcellos de Almeida Prado, Lauro Sodré, Nilo Peçanha, Pedro de Toledo,
Arthur da Graça Martins, Acácio Piedade, Antonio Baptista da Luz, Alexandre Gama, Hermes Rodrigues
Fonseca, Octavio Kelly, Carlos Reis, Antonio de Souza Cunha, Luiz Soares Horta Barbosa, Martin Francisco
de Andrada Júnior, Pedro Ernesto de Oliveira, José Eduardo de Macedo Soares, Antonio Giusti, Mario
Marinho de Carvalho Behring, Antonio Maria Guerreiro, Cândido Nazianzeno Nogueira da Mota, Ubaldino
do Amaral, Rangel Pestana, Vicente Saraiva de Carvalho Neiva, João Severiano da Fonseca Hermes,
Ramon Roca Dordal, Luiz de Toledo Piza e Almeida.
Tabela 1 - Escolaridade
Escolaridade Número Percentual
Curso superior 34 89,5
Não identificada 4 10,5
Total 38 100,0
Fonte: Os autores.
Conforme tabela 1, os 34 maçons de que se obteve informação sobre a
escolaridade apresentam formação em curso superior, indicando que na 'elite da
maçonaria' estavam homens de alto capital cultural e que a escolaridade completa
era critério e elemento de homogeneidade. Neste caso, o capital interno ao 'campo
maçônico' correspondia ao perfil dos primeiros escalões do campo político
brasileiro, advindo do império. Segundo Carvalho (2003), a educação superior era
poderoso elo ideológico da elite no período imperial e, pelo que se observa, também
da 'elite maçônica' no período republicano.
Tabela 3 - Ocupação
Ocupação Número Percentual
Advogado/promotor 24 63,2
Médico 1 2,6
Militar 5 13,2
Professor 4 10,5
Engenheiro 1 2,6
Empresário 3 7,9
Total 38 100,0
Fonte: Os autores.
Na tabela 3 o conjunto das ocupações do grupo indica a predominância das
profissões liberais, notadamente a advocacia e o magistério, ou seja, de ocupações
de natureza predominantemente técnica ou intelectual para as quais se requer
preparo e treinamento superior e que, realizadas de forma autônoma, conferem a
seus praticantes prestígio social ou intelectual, ou ambos (Coelho, 1999). Com
relação à ocupação, verifica-se a predominância do campo jurídico: dos 38
membros, 24(63,2%) atuavam como advogados, promotores ou juízes, o que indica
que os formados em direito efetivamente seguiram as profissões em que foram
diplomados. Os dados obtidos são próximos aos percentuais dos estudos sobre a
elite política paulista, descrita por Joseph Love (1982), e sobre as do Rio Grande do
Sul, por Amaral (2005). Envolvidos com a educação como professores ou diretores
identificam-se quatro indivíduos (10,5%); 12 atuaram também no jornalismo, como
Ubaldino do Amaral, que defendeu pela imprensa propostas 'modernizadoras' para
Sorocaba (Silva, 2010), e Rangel Pestana, que figurou com destaque em A Província
de S. Paulo/O Estado de S. Paulo (Hilsdorf, 1986).
Presidente
Presidente
Nome da
do Estado
Prefeito Senador Deputado Vereador Ministro
República
Bernardino José de Campos Jr X X
Manuel F. de Campos Salles X X X X
Washington Luiz P. de Souza X X X X X X
Carlos de Campos X X X
Júlio Prestes de Albuquerque X X
José Luiz Flaquer X X
Ernesto Goulart Penteado X
Luiz P. de Campos Vergueiro X X
José Adriano Marrey Júnior X X X
Pedro Augusto Gomes X X
Cardim
José V. Almeida Prado X X
Lauro Sodré X X X
Nilo Peçanha X X X X
Pedro de Toledo X X
Acácio Piedade X X
Hermes Rodrigues Fonseca X X
Octávio Kelly X X
Carlos Reis X
Martim Francisco de Andrada X X
Jr
Cândido Nogueira Mota X X X
Ubaldino do Amaral X X X
Rangel Pestana X X
José Severiano da F. Hermes X
Luiz de Toledo Piza e X X
Almeida
Vicente Saraiva de C. Neiva X
Legislatura Deputados
2ª (1892-1894) Fernando Prestes de Albuquerque e Luiz de Toledo Piza e Almeida
3ª (1895-1897) Carlos de Campos, Fernando Prestes de Albuquerque, Luiz de Toledo
Piza e Almeida, Pedro de Toledo
4ª (1898-1900) Cândido Mota, Luiz de Toledo Piza e Almeida, Antonio Francisco de
Paula Souza
5ª (1901-1903) Cândido Mota e Carlos de Campos
6ª (1904-1906) José Luiz Flaquer, Carlos de Campos e Washington Luiz Pereira de
Souza
7ª (1907-1909) Carlos de Campos de Campos, José Luiz Flaquer, Cândido Mota, José de
Vasconcellos Almeida Prado Júnior, Júlio Prestes Albuquerque
8ª (1910-1912) Carlos de Campos, José Luiz Flaquer, Luiz Pereira de Campos Vergueiro,
Júlio Prestes Albuquerque, Pedro de Toledo, Acácio Piedade, José de
Vasconcellos Almeida Prado Júnior, Washington Luiz Pereira
9ª (1913-1915) Carlos de Campos, Washington Luiz Pereira de Souza, Júlio Prestes de
Albuquerque, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, Acácio Piedade, José
de Vasconcellos de Almeida Prado Júnior
10ª (1916-1918) Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, José de Vasconcelos
Almeida Prado Júnior
11ª (1919-1921) José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes de Albuquerque, Luiz Pereira
de Campos Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado Júnior
12ª (1922-1924) José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos
Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado
13ª (1925-1927) José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos
Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado5.
Quadro 2 - Legislatura.
Fonte: Os autores.
5
Outros maçons ocuparam o campo político. Na décima primeira e décima segunda legislatura aparece o
nome de Rui de Paula Souza e, na décima terceira, o de Spencer Vampré, professor da Faculdade de Direito,
iniciado na Loja Sete de Setembro, em 1920 (A Maçonaria no Estado de São Paulo, 1920). Rui de Paula
Souza também era maçom (A Maçonaria no Centenário, 1922) e diretor da Escola Normal Caetano de
Campos. Outros maçons aparecem como deputados, por exemplo, Armando Prado (A Maçonaria no
Centenário, 1922).
Aproveito o ensejo para também comunicar que esta Loj.´. [sic] desde janeiro
do corrente ano chamou para si a direção das suas escolas, até então confiadas
a Exma. Sra. D. Anália Franco. A nova orientação que se imprimiu a essa
escolas, que passaram por completa reforma, trouxe em consequência uma
afluência de alunos tal que formos forçados a novos sacrifícios, instalando
maior número de aulas e reabrindo escolas que haviam sido fechadas por falta
de frequência regular. Assim é que tivemos de abrir mais duas escolas além
do número determinado. Para avaliar a proporção e o incremento das mesmas
é bastante dizer que, no mês de janeiro a matrícula nas escolas registrava
apenas a existência de 140 alunos, no entanto, hoje, de acordo com os mapas
do mês de Julho, existem SETECENTAS CRIANÇAS (A Maçonaria no Estado
de São Paulo, 1913, p. 126).
Marrey acentua:
6 No ano seguinte, 1916, Sampaio Vianna fez oposição ao aumento que a Câmara Municipal de São Paulo
havia aprovado, pedindo uma redução para 5:000$000. Marrey fez severa oposição à postura de Vianna,
relembrando que a Loja Sete de Setembro visava a instruir os pobres e torná-los cidadãos úteis à pátria.
Em seu argumento, evoca que a Loja Sete de Setembro expandiu na organização de novas escolas, o que,
para Vianna, teria sido um grande erro da instituição (Anais da Câmara Municipal de São Paulo, 1916).
Marrey propunha reduzir a verba destinada ao Liceu de Artes e Ofícios para atender às escolas Sete de
Setembro. Vianna se opôs. Em 1926, o auxílio financeiro da Câmara Municipal de São Paulo às Escolas
Sete de Setembro foi de 30:000$000 (Anais da Câmara Municipal de São Paulo, 1926).
Municipal de São Paulo, 1913, p. 1). O diretor esclarecia a finalidade das escolas e
revelava possuir uma visão bem definida das classes sociais a que pretendia atender.
Perante essa Câmara, respeitável por si só, como o mais alto poder legislativo
Municipal e que conta em seu seio os mais ilustres cidadãos deste nosso
amado Estado, espíritos altamente iluminados pelo saber e guiados pela razão
clara, não precisa a Loja 'SETE de SETEMBRO' encarecer e valorizar a obra que
vem levantando com esforços e sacrifícios, sem visar outro objetivo que
concorrer com o trabalho para auxiliar a grandeza legitima do povo que
precisa saber ser útil e ser bom. Abrir escolas é fechar os cárceres; portanto,
procuremos tornar em verdade esse preceito. São Paulo, cumulado pela
natureza de tão prodigiosos elementos de vitalidade, este Estado, que sempre
caminha na vanguarda da Federação pelo seu admirável adiantamento e
progresso, precisa também preparar os seus filhos e os filhos dos operários
estrangeiros que agasalha em troca de seu labor pelo bem comum, para essa
cruzada magnífica do trabalho inteligente, facilitando a instrução à todas as
classes e abrindo destarte guerra ao analfabetismo, - criando o industrial para
ter indústria, - o lavrador para ter lavoura, - o artista para ter arte. Não bastam
os institutos superiores de ensino; antes digamos mesmo [que] eles avultam
em demasia em confronto com a pequena cifra da nossa população (Anais da
Câmara Municipal de São Paulo, 1913, p. 3, grifo do autor).
que trará mais tarde a sua grandeza de outros tempos (A Maçonaria no Estado
de São Paulo, 1916, p. 183).
A Loja Maçônica, '7 de Setembro' mantem, nesta Capital, sob a direção do sr.
Nelson Teixeira 5 Grupos Escolares e 20 escolas isoladas, calcadas nos nossos
programas e nos nossos regulamentos. Essas escolas estão repletas de alunos.
Onde quer que as abra, logo se lhes preenche a lotação. No entanto, a referida
Loja fornece casa e material didático ao professor e lhe paga apenas 2$000
mensais por aluno frequente. Esses professores não ganham, por mês, mais
de 100$000; as suas salas de aulas não são superiores às de nossas escolas
isoladas e o material didático usado, as mais das vezes, é fornecido pelo
Estado. Indagando do sr. Nelson Teixeira as causas do êxito dos seus
institutos de ensino, respondeu-nos ele, a sorrir, que seus professores não são
vitalícios; que a fiscalização das escolas é uma realidade, e que, diariamente,
os fiscais dessas escolas levam ao seu conhecimento as ausências dos
professores e a suspensão de aulas, o que combina perfeitamente com as
comunicações que os próprios professores lhe trazem. Quando os professores
7 Pertencia ao maçom Amadeu Bucciarelli e estava localizado na Rua Boa Vista. Segundo o anúncio na
revista, o restaurante oferecia os mais variados pratos da cozinha italiana. Dizia ser um lugar
irrepreensível para a realização de banquetes, por ser espaçoso e luxuoso, com excelentes vinhos (A
Maçonaria no Estado de São Paulo, 1919).
não ensinam bem, vão praticar nos Grupos Escolares, e, se apesar disso,
continuam a ensinar mal, são despedidos, assim como também o são quando
pecam pela falta de assiduidade à escola (Anuário de Ensino do Estado de São
Paulo, 1917, p. 267, grifo do autor).
sabe que, ao lado dos bons cidadãos, também se preparam bons soldados (A
Maçonaria no Estado de São Paulo, 1918, p. 132).
Apesar de, ao final da década, a revista não dar igual ênfase às escolas
mantidas pela Loja Sete de Setembro, sabe-se que ela ainda mantinha suas
atividades. Nas atas da Câmara Municipal de São Paulo, de 1929, informa-se que
essas escolas recebiam o valor de 42:000$000 e, para as atividades assistenciais
(dentária), 6:000$000.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No campo maçônico, os agentes sociais que ocupam os lugares privilegiados
são os de graus mais elevados, havendo forte homologia entre as propriedades de
elite maçônica e a elite cultural e política paulista, uma vez verificado que os maçons
de mais alto grau tiveram expressiva projeção social e política em sua época. O
grupo se torna homogêneo por sua formação comum na Faculdade de Direito
(provavelmente, local de sociabilidade primária e adesão), assim como por sua
profissionalização política. Afinal, o estudo aponta que mais de 60% dos maçons
que ingressaram no campo político anteriormente haviam ingressado no campo
maçônico.
Quanto à educação, a maçonaria se preocupou principalmente em oferecer
instrução elementar às camadas sociais desfavorecidas. Em meio a essas iniciativas,
outros projetos educacionais, voltados aos filhos dos maçons, foram pensados, mas
não executados. De todo modo, a expectativa que nutriam de criar ginásios (escolas
secundárias) para seus filhos indica o encaminhamento da formação intelectual da
prole para o mesmo destino dos pais, que haviam frequentado espaços educativos
privilegiados, como a Faculdade de Direito de São Paulo. A elite maçônica via a
pobreza e o analfabetismo como elementos a serem combatidos, a fim de que o
Brasil experimentasse o progresso social, econômico e cultural, posição que
sustentava seus esforços na criação de escolas, notadamente, para os mais
necessitados. Utilizando-se de boas relações no campo político, conseguiu, também,
importantes apoios logísticos e financeiros do poder público e de particulares em
suas iniciativas. A insistente preocupação com a publicidade de sua benemerência,
revelada pela revista, indica que a disposição dos maçons em educar os
desfavorecidos era, além disso, um meio de propagar sua distinção social e acumular
capital no interior no 'campo maçônico'.
REFERÊNCIAS
FONTES
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