HD Fotografe #317 15fev23

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Fotografe

A revista que valoriza a fotografia brasileira

fotografemelhor.com.br
n0 317 | Ano 26

Limites da
manipulação no
fotojornalismo
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Dicas para
trabalhar com
ensaios de
gestantes

O desafio de ser

CRIATIVO
• Caminhos da criatividade • Onde buscar inspiração • O processo de criação
• A relevância de dominar a técnica • A pressão de ser diferenciado
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EDITORIAL
Leo Martins/O Globo

20
Ano 26
Edição 317

Foto de capa:
Tina Gomes

O desafio de ser criativo é o principal assunto desta Fotografe, com opiniões e dicas de muita
gente boa do mercado. Esta também é uma edição histórica: é a última da fase mensal da
revista. A partir da edição 318, Fotografe passará a ser bimestral, ou seja, publicaremos uma
edição a cada dois meses. É uma decisão estratégica para manter a revista financeiramente
saudável em tempos bicudos para publicações impressas. Esse hiato editorial se revertará em
um tempo maior para cuidarmos de outros afarezes diretamente ligados a Fotografe: renovar
nosso site, incrementar nossas redes sociais, promover mais concursos de fotografia, além do
Grande Prêmio Fotografe – estão nos planos um só para mulheres, um dedicado apenas a nu e
sensualidade, outro para fotografia de casamento... Também temos um projeto para criar uma
"confraria" para os leitores, com direito a leitura de portfólio e consulta
para orientação profissional com gente renomada no mercado. Portanto,
teremos novidades em breve, e a revista impressa continuará como a base
de todas essas atividades. Boa leitura.
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Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
EQUIPE DE REDAÇÃO [email protected]
Denise Camargo (revisora), Izabel Donaire
(editora de arte), Livia Capeli (colaboradora
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
FALE CONOSCO
[email protected]
www.fotografemelhor.com.br
SUMÁRIO
@fotografemelhor
PARA ANUNCIAR CONCURSOS & PRÊMIOS .................................. 4
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Angela Taddeo, Mauricio Dias, Elisangela Xavier, GRANDE ANGULAR ................................................... 8
Ligia Caetano e Roberta Barricelli
AULA COM BRASILIO.............................................. 10
A revista Fotografe Melhor é uma publicação da
Editora Europa Ltda. (ISSN 1413-7232). FOTOGRAFIA SOCIAL............................................. 14
A Editora Europa não se responsabiliza pelo
conteúdo dos anúncios de terceiros. MATÉRIA DE CAPA
PARA ASSINAR E COMPRAR REVISTAS, O desafio de ser criativo ......................................... 20
LIVROS, COLEÇÕES E ENCICLOPÉDIAS
(11) 3038-5050 (SP) DOCUMENTAL .................................................................. 36
(11) 95186-4134
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Fundada por Aydano Roriz


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CONCURSOS

Kat Zhou
IMAGENS PREMIADAS EM
FOTOGRAFIA SUBAQUÁTICA
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O 110 Concurso de Fotografia Subaquática


Ocean Art, organizado pelo Guia de
Fotografia Subaquática, anunciou a fotógrafa
Kat Zhou, que vive em São Francisco,
Califórnia, informa que a foto escolhida como
a melhor do concurso foi capturada em Palm
americana Kat Zhou como a ganhadora do Beach, Flórida. Segundo ela, mostra um polvo de
“Best in Show” (melhor do evento) pela imagem recife caribenho guardando seus ovos e, como
de uma mãe polvo com uma ninhada de ovos todas as outras espécies de polvo, a mãe não
– ela também ficou
com o primeiro lugar
Alessandro Buzzichelli

na categoria Macro. Ao
todo, foram premiados
fotógrafos subaquáticos
de 96 países em 14
categorias, sendo que
o concurso distribuiu
cerca de US$ 100 mil
em prêmios.

No alto, a foto eleita a


melhor do concurso,
feita pela americana
Kat Zhou; ao lado, a
imagem vencedora na
categoria Mobile

4 FOTOGRAFE 317
Aleksei Permiakov

Dennis Corpuz
Ao lado, a imagem vencedora da categoria
Nudibrânquios (moluscos); acima, a
ganhadora da categoria Água Escura

come enquanto cuida dos ovos e


morre depois que eles eclodem. Zhou
usou uma Nikon D850 com lente
Nikkor 105 mm Micro em uma caixa-
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-estanque Nauticam. Ela ainda usou
flashes Inon Z330 e uma lanterna de
mergulho Big Blue.
Renee Capozzola

A novidade do concurso de
2022/2023 foi a introdução da
categoria Mobile para imagens
captadas com smartphone –
o vencedor foi o fotógrafo
italiano Alessandro Buzzichelli.
Wei Kao

Entre as demais categorias, há


algumas bem específicas, como a
Nudibrânquios, pequenos animais
marinhos pertencentes ao grupo
dos moluscos gastrópodes (nesta
o melhor foi o russo Aleksei
Permiakov), ou a Água Escura
(na qual o filipino Dennis Corpuz
foi o vencedor). Para conhecer
todos os premiados, acesse: www.
uwphotographyguide.com.

Acima, a foto que levou o


primeiro lugar na categoria
Grande Angular; ao lado, a
vencedora da categoria Retrato

FOTOGRAFE 317 5
Ao lado, a foto
vencedora na
categoria Retrato
e Paisagem;
abaixo, a melhor
Dalia Fichmann

na categoria
Cães e Pessoas

AS MELHORES
FOTOS DE CÃES
O concurso Dog Photography Awards de 2022,
que teve 1.400 inscritos de 50 países, anunciou
os vencedores das suas quatro categorias. Em
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Retrato e Paisagem, o primeiro lugar ficou com a suíça
Dalia Fichmann, que fotografou um border collie
especializado em resgastes em caso de avalanches.
Na categoria Cães e Pessoas, a vencedora foi Sabrina
Theden, da Alemanha, que flagrou um cão e sua tutora
em um museu ferroviário. O italiano Francesco Mura foi

Sabrina Theden
o ganhador da categoria Ação ao registar um cachorro
durante uma competição de agilidade. Já a britânica Su
Kaye foi a melhor da categoria Estúdio com o retrato
incomum de um cão com muitas dobras na pele.
Francesco Mura

Su Kaye

Acima, a imagem ganhadora na categoria Ação;


ao lado, o primeiro lugar na categoria Estúdio

6 FOTOGRAFE 317
JORGE DIEHL VENCE
CONCURSO DA UNB
P ara comemorar os 60 anos da
Universidade de Brasília (a UnB),
completados em 2022, foi organizado
um concurso fotográfico denominado
“Universidade de Brasília: 60 anos em 6
imagens”; e Jorge Diehl, fotógrafo gaúcho
radicado na capital federal, ficou em primeiro
lugar na categoria Cotidiano – também
havia a categoria Arquitetura, vencida pela
fotógrafa Raquel Batista.
Diehl, leitor de Fotografe e com muitos
prêmios nacionais e internacionais na sua
trajetória de 30 anos na fotografia, produziu
um inspirado ensaio em P&B, batizado de “60
anos de muitas vidas”, em que mostra cenas
do dia a dia da UnB, com alunos e professores.

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Fotos: Jorge Diehl

O ensaio 60 anos de muitas vidas abordou o


cotidiano da Universidade de Brasília (UnB)

FOTOGRAFE 317 7
GRANDE ANGULAR SUPERPÔSTER COM
CÂMERAS HISTÓRICAS
V ocê pode ter agora na sua parede

Imagens: Divulgação
um produto exclusivo da Biblioteca
Fotografe: a revista-pôster Câmeras que
Marcaram Época, que reúne 16 modelos
que fizeram história na fotografia no século
20 e se tornaram ícones no tempo do filme.
Speed Graphic, Roleiflex, Contax, Leica M3,
Hasselblad 500C, Nikon F, Canon F1… Essas
são algumas das câmeras clássicas que fazem
parte desta edição especial que destaca os
principais atributos e a ficha técnica de cada
modelo e oferece um pôster
de 50 x 70 cm, que você
pode receber sem dobras.
Para adquirir o
superpôster, que custa
apenas R$ 24,90, acesse
www.europanet.com.br e
clique em Pôsteres e depois
em Infográficos. Você
também pode encomendar
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via Atendimento ao Leitor O superpôster mede
ligando para (11) 3038-5050 50 x 70 cm e apresenta
ou mandando mensagem para o 16 câmeras clássicas
WhatsApp (11) 95186-4134.

ERRATA: GRANDE PRÊMIO FOTOGRAFE


Por uma falha da redação, foi publicada uma informação
incorreta na edição do livro Grande Prêmio Fotografe/
Imagens Destacadas/edição 2021. Na página 14, nas 50
primeiras edições impressas, foi grafado errado o nome
da fotógrafa Patrícia Vieira (saiu Priscila). A fotógrafa foi a
primeira colocada na subcategoria
Natureza, dentro da categoria
Imagens Destacadas, com um
flagrante registrado na África – um
leopardo que levou sua presa para o
alto de uma árvore. Pedimos sinceras
desculpas a Patrícia Vieira pelo
ocorrido e esperamos que ela continue
a participar de nossos concursos.
Uma novidade para 2023, aliás, será o
Capa do livro e página lançamento de outro Grande Prêmio
com a foto premiada de com inscrições abertas somente para
Patrícia Vieira mulheres que fotografam.

8 FOTOGRAFE 317
SIGMA 60-600 MM
A Sigma anunciou o
lançamento da objetiva
60-600 mm f/4.5-6.3 DG DN
OS, que ela chama de a única
telezoom 10x do mundo
para câmeras mirrorless full
frame. É a segunda lente com
zoom para sem espelho e
com sensor de quadro cheio
lançada pela empresa na sua linha A novidade é o
Sports. Ela estará disponível nos motor linear no
EUA primeiramente para câmeras Canon foco automático
e Sony e com preço sugerido de US$ 1.999.
A Sigma usa pela primeira vez em uma estabilização óptica OS (Optical Stabilizer),
lente dessa categoria o sistema de foco alimentada pelo novo algoritmo “OS2” –
automático com motor linear de alta resposta segundo a empresa, isso permite até sete
(HLA) – alinhando-se com empresas como paradas de compensação em 60 mm e até seis
a Tamron e vários fabricantes de lentes paradas em 600 mm. Produzida na fábrica da
originais que já haviam adotado esse Sigma em Aizy, no Japão, a lente é construída
sistema. A objetiva oferece também o Dual com 27 elementos em 19 grupos e tem
Action Zoom da Sigma, que permite ao distância mínima de foco de 45 cm em 60 mm
fotógrafo ajustar o zoom pelo anel dedicado e 2,6 m em 600 mm. Usa uma rosca de filtro
ou empurrando/puxando a frente da lente. frontal de 105 mm e conta com um diafragma
A nova 60-600 mm tem ainda sistema de de abertura de nove lâminas.
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SENSOR ESPECTRAL
PARA SMARTPHONES
A Spectricity, empresa americana em massa no mundo, não apenas pode captar
de semicondutores, desenvolveu uma mais luz visível como também enxergar o
tecnologia proprietária de imagem espectral espectro infravermelho. Com isso, é capaz
que é capaz de melhorar muito as câmeras de reproduzir cores mais consistentes e com
dos smartphones, tornando-as mais aparência mais natural e melhor equilíbrio de
inteligentes e capazes de capturar cores de branco do que os sensores atuais, assegura a
forma mais consistente, independentemente empresa. Essa tecnologia deverá resolver um
das condições de iluminação. O sensor problema atual: cada marca de smartphone
multiespectral S1 pode perceber mais luz “vê” a cor de maneira diferente, mas
do que os atuais sensores nenhuma é eficiente. 
RGB de três cores A Spectricity informa
(vermelho, verde e azul). ainda que o S1 é capaz
O S1, primeiro de representar mais
módulo de câmera e fielmente os tons de pele,
sensor espectral móvel pois a solução, segundo a
miniaturizado e fabricado empresa, é usar um gerador
de imagens espectrais
O sensor espectral S1 para analisar as condições
pode revolucionar a de iluminação e chegar
captação da imagem realmente ao tom correto.
Fotos: Divulgação

FOTOGRAFE 317 9
AULA COM BRASILIO ESTÉTICA DE FILME NOIR
H istórias de suspense, roteiros
policiais com personagens
dúbios, femme fatales e imagens
nessa estética cinematográfica que
marcou as décadas de 1940 e 1950.
O esquema de luz é simples, baseado
contratadas, com muitas sombras em uma fonte de luz apenas, mas com
dramáticas, são marcas características capacidade de gerar resultados muito
do chamado cinema noir. Para atraentes. É uma boa forma de exercitar
apresentar um trabalho diferenciado os efeitos de luz e de sombra com um
nesta aula, Brasilio Wille se inspirou estilo visual bastante interessante.

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Fotos: Brasilio Wille

10 FOTOGRAFE 317
Do que você
vai precisar
Um chapéu e
Para esse trabalho, Brasilio Wille convidou luvas 3/4 foram
duas modelos (Ana e Yohanna). A produção elementos cruciais
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delas foi bastante simples: bastou um chapéu na produção
(elemento importante para criar o efeito
de sombra e que pode ser encontrado em
brechós), luvas de lycra 3/4 (facilmente
encontradas no site do Mercado Livre com
preço entre R$ 25 e R$ 45), meias 3/4 de lycra
(vendidas no site da Shein por R$ 12), sapatos
de salto alto, parte de baixo de lingerie, calça e
jaqueta. O fotógrafo usou o preto como única
tonalidade nas peças, criando uniformidade
estética. O ideal é ter à mão um elemento
colorido como destaque – ele usou uma flor
artificial vermelha. Um batom vermelho no
lábio das modelos também criou um detalhe
visual importante. Um fundo branco e uma
placa branca de MDF no chão, um flash com
200W de potência (ele usou o flash Vlite 640)
e um softbox Vlite de 30 x 40 cm compuseram
o esquema de luz.

FICHA TÉCNICA
Câmera: Canon EOS 6D Mark II
Objetiva: Canon 70-300 mm
Exposição: f/9, 1/125s e ISO 100

FOTOGRAFE 317 11
Brasilio Wille usou um
softbox de 30 x 40 cm
para conseguir um efeito
de luz de cinema noir

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Fotos: Brasilio Wille

Como executar
Para criar uma luz menos suave e mais ela, um pouco à frente. Observe nas imagens
dura que gere o efeito de filme noir, Brasilio como a sombra é dura e definida. Isso ocorre
Wille retirou a tela difusora frontal do softbox porque o softbox é pequeno, o que cria
de 30 x 40 cm deixando apenas a tela difusora bastante contraste entre o claro e o escuro
intermediária do acessório. “Exercite usando desenhado no corpo da modelo. A distância
softboxes de diferentes tamanhos, isso ajuda entre a modelo e o softbox deve ser de cerca
muito a entender o efeito de luz e sombra de 1 metro. Para conseguir o contraste
no mesmo objeto”, ensina. Ele posicionou o desejado, Brasilio Wille usou o flash Vlite 640
softbox acima da modelo, quase alinhado a em 200W de potência (EU 4.0).

12 FOTOGRAFE 317
A posição da
modelo deve
ser testada até
que consiga o
efeito desejado

O pulo
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FICHA TÉCNICA
Câmera: Canon EOS 6D Mark II
O grande segredo consiste pela adição de cor quente. Objetiva: Canon 70-300 mm
em direcionar os movimentos Já o batom desenhando a Exposição: f/11, 1/125s e ISO 100
das modelos: um pouco para boca ajuda a criar um grande
frente, um pouco para trás, detalhe visual chamativo. O
para um lado e outro, até suave desenho do contorno no
obter o melhor efeito de luz corpo da modelo é o efeito da
e sombra. O fotógrafo explica placa de MDF branca no chão.
que a técnica é bem simples Além de criar um rebatimento
de ser executada, porém, suave e elegante da luz, facilita
não é fácil de realizar, pois a limpeza e a manutenção do
exige um controle preciso estúdio. “Treine e exercite
sobre a iluminação. Tanto o muito até entender a
chapéu quanto a flor causam iluminação e os efeitos que
um grande impacto visual na você pode obter para cada tipo
imagem. O chapéu por conta de acessório que usar”, ensina
do efeito do contraste e a flor Brasilio Wille.

Quem é Brasilio Wille Aprenda mais nos Conheça mais seu trabalho
Amanda Müller

Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e o siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
de técnicas simples e práticas em cursos e do YouTube (41) 99943-0607
workshops presenciais ou online. FOTOGRAFE
www.youtube.com/user/Brasiliow 317
(informações sobre cursos) 13
FOTOGRAFIA SOCIAL

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A fotógrafa fez curso


de personal stylist
para agregar mais
valor à sua fotografia

GRÁVIDAS NA PASSARELA
Com um olhar voltado para o mundo fashion, a
fotógrafa carioca Jeniffer Castro produz ensaios
de gestantes com estilo de editorial de moda
14 FOTOGRAFE 317
Jeniffer Castro,
além de fotografar,
cuida de figurino,
maquiagem e cabelo
nas produções

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Fotos: Jeniffer Castro

POR LIVIA CAPELI

F ormada em Enfermagem e Recursos


Humanos, Jeniffer Castro, 30 anos, sempre
gostou muito do universo fashion – além de já
que ela viu acender a chama da paixão pela
fotografia. A partir daí, decidiu reunir todas as
suas paixões em um único segmento.
ter trabalhado em empresas de grifes, sempre foi Jeniffer fez cursos de personal stylist,
muito antenada em desfiles e na moda conceitual. modelista, maquiadora e, claro, de fotografia
Foi em 2016, quando se presenteou com uma profissional. Dedicada à produção de imagens
câmera semiprofissional para fazer uma viagem, de gestantes, partos e newborn, o portfólio de

FOTOGRAFE 317 15
Fotos: Jeniffer Castro

Na escolha de looks para os


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ensaios, a fotógrafa se inspira
em desfiles de moda, grifes
e tendências futuristas

Jeniffer chama a atenção pelo compromisso mais presente, para que as pessoas olhassem os
de criar sempre algo inovador. Os retratos que ensaios e identificassem: ‘foi a Jeniffer Castro
produz com as grávidas têm sempre um quê de quem fez”. E tem dado certo”, comenta.
ensaio de editorial de moda.
Ela começou fotografando as amigas para MUITO COM POUCO
treinar (quem nunca...), e justamente na época Jeniffer Castro conta que começou a
uma delas estava grávida. Como gosta de atender as primeiras clientes na sala da casa da
roupas diferentes, levava seus próprios looks mãe – tirava todos os móveis para ter espaço
para serem usados nos ensaios, e o para montar os equipamentos de
resultado foi bastante incentivador. estúdio. Os esquemas de luz desde
Foi assim, com a indicação de uma aquela época sempre foram muito
gestante para outra, que a fotógrafa Ao estudar e me simples, com poucos equipamentos.
caiu no mundo da fotografia de Até o quarto ano de profissão,
maternidade. “Me aprofundei no
aprofundar no ela tinha apenas um flash e dois
ramo da beleza (moda, maquiagem, setor de beleza, modificadores de luz. E, mesmo
penteado, produção, direção de posso oferecer com uma câmera “cropada” (sensor
poses, consultoria de imagem e um produto menor, APS-C), conseguia entregar
modelagem) e passei a oferecer mais completo um bom trabalho. “Sempre falo para
meu produto de forma mais os meus alunos de workshops para
para minhas
completa, de forma que pudesse ter comprarem o melhor que puderem
controle do meu trabalho e assim clientes" naquele momento. Alerto para
deixar a minha identidade ainda Jeniffer Castro não se compararem com outros,

16 FOTOGRAFE 317
O objetivo de Jennifer Castro no ensaio é que a cliente
pois nenhuma pessoa é superior a
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outra, cada uma tem sua trajetória.
grávida set.me/BRASILREVISTAS2
sinta como uma modelo de capa de revista
É possível sim fazer fotos incríveis
com poucos recursos, e isso é um
estímulo para a criatividade. Minhas
técnicas são simples, porém, usadas
da maneira correta”, explica.
A fotógrafa carioca considera
seu know-how em moda e beleza
um diferencial de trabalho. Diz que,
quando recebe uma cliente grávida,
costuma sugerir os melhores looks
e acessórios de acordo com o estilo
de cada uma, procurando sempre
respeitar a preferência delas. Ela
mesma cria os figurinos, cuida da
maquiagem, do cabelo, orienta
as clientes sobre as escolhas dos
looks e acessórios – confessa que
se inspira em desfiles de moda,
grifes internacionais e tendências
futuristas. Com maquiagem, cabelo,
produção de moda, acessórios e
principalmente direção de poses,
ela faz com que uma grávida pareça
estar na capa da revista Vogue. “Elas
são mulheres comuns, com uma

FOTOGRAFE 317 17
Fotos: Jeniffer Castro
A fotógrafa beleza que vou realçando ainda muito boa para a captação de novos
também faz alguns mais com as técnicas que aprendi ao clientes, bem como exposição de
ensaios externos longo dos anos”, diz. portfólio. “Em 2022 conquistei
(à esq.) e usa Para vender seus ensaios, bastante visibilidade e seguidores
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efeitos especiais Jeniffer Castro criou pacotes com por conta do meu trabalho.
em algumas base em uma pesquisa que fez Confesso que ainda não estou
imagens (à dir.) com seu público-alvo. Elaborou 100% satisfeita, pois eu tenho
as opções oferecendo a entrega um pouco de dificuldade de ficar
de fotos e looks limitados, dando aparecendo em Stories, entretanto,
a possibilidade de a cliente as pessoas gostam de ver o dia a dia
Jeniffer divulga adicionar extras, caso deseje. Já das outras. E, sempre que apareço,
seu trabalho no na divulgação do trabalho ela usa bomba! Estou trabalhando isso
Instagram e tem duas estratégias: a do bom e velho em mim, para que possa melhorar
também um forte boca a boca (que sempre dá muito nessa parte”, comenta.
boca a boca retorno) e o Instagram, ferramenta Na hora de dar dicas sobre
poses para ensaios de gestantes,
a fotógrafa sugere incluir no
repertório poses clássicas, algumas
sorrindo, algumas da grávida
sozinha e outras com o parceiro. Ela
lembra que rosto sempre elevado
transmite poder, ombros sempre
empinados transmitem elegância e
fotos intimistas transmitem conexão.
“Faça tudo com amor, imagine-se
no lugar da cliente e pense no que
gostaria que oferecessem a você. É
um momento lindo, porém, também
delicado. As gestantes merecem o
melhor”, ensina.

18 FOTOGRAFE 317
Mestres da Fotografia
Apresentados por Juan Esteves
O livro Mestres da Fotografia -
Apresentados por Juan Esteves
faz parte das comemorações dos
25 anos da revista Fotografe,
e tem como objetivo trazer
informação de qualidade para
ampliar sua cultura fotográfica.
Fotógrafo, curador, crítico e
professor de fotografia, Juan
Esteves entrevistou alguns dos
mais renomados fotógrafos
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estrangeiros que vieram ao Brasil
entre 2004 e 2019 e produziu
textos sobre mestres já falecidos,
que deixaram uma imensa obra,
como Henri Cartier-Bresson,
Ansel Adams e Irving Penn, entre
outros. Leia e aprenda com
Juan Esteves.

Compre pelo telefone (11) 3038-5050 e


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Saco de juta como
MATÉRIA DE CAPA fundo, palha colorida
como adereço de cabeça
e embrulho de juta como
manto: Tina Gomes usa
o quem tem em mãos em
seus retratos criativos

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Tina Gomes

20 FOTOGRAFE 317
Gustavo Minas
A sobreposição é um dos recursos que Gustavo Minas usa nas imagens que capta pelas ruas

O desafio de ser
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CRIATIVO
A fotografia tem se tornado cada vez mais exigente em todos os
mercados, e uma forma de se diferenciar é usar a criatividade.
Veja caminhos e sugestões para que a inspiração não o abandone

POR SÉRGIO BRANCO E LIVIA CAPELI

N ão existe técnica, fórmula ou poção


mágica para manter a lâmpada das
ideias sempre acesa para quem trabalha em
mercado cada vez mais competitivo e milhões de
imagens que circulam pela web, essa empreitada
parece se tornar cada vez mais difícil.
atividades que exigem criatividade. Cada um Para indicar caminhos e dar dicas de como
vai encontrando sua rota, seu jeito ou sua luz manter a luzinha criativa acesa, Fotografe
para manter a inspiração sempre em alerta, conversou com sete profissionais de diferentes
mas há momentos em que ela adormece (pior áreas, todos considerados bastante criativos:
quando hiberna) e, em casos assim, o bom e Leo Martins (fotojornalismo/retratos),
velho “feijão com arroz bem temperado” pode Gustavo Minas (fotografia de cenas de rua),
ser o ideal, conforme comentam fotógrafos mais Pol Kurucz (moda e publicidade), Tina Gomes
experientes. O desafio de ser criativo sempre (retratos artísticos), Leo Cordeiro (nu e
foi uma constante em quase todas as áreas sensual), Brasilio Wille (atua em várias áreas
da fotografia profissional, mas diante de um em estúdio) e Alexander Landau (gastronomia).

FOTOGRAFE 317 21
Fotos: Gustavo Minas
Pegou sugestões também com O aproveitamento de Leo Martins, por exemplo,
o americano Bob Davis e com reflexos é uma marca acredita que a criatividade
a neozelandesa Sue Bryce, do estilo fotográfico seja recarregável e que o refil
ambos com mais de 30 anos de de Gustavo Minas é a curiosidade. “O interesse
experiência – veja nos boxes. em aprender, descobrir, viajar,
Há os que se sentem pressionados a ser ler, degustar, ouvir, assistir, enfim, viver
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criativos, os que temem perder a criatividade intensamente. Nunca senti medo de perder
e os que simplesmente ignoram esses a criatividade porque sigo tudo isso à risca.
percalços e vão em frente. O fotojornalista Tomara que esteja certo”, afirma.

CLUBE DE FOTÓGRAFOS

B ob Davis é fotógrafo profissional há


mais de 30 anos nos Estados Unidos,
paixão que começou no colégio, quando
clientes, sofrer pressão de prazos ou “ter
que fazer uma ótima foto”. Para ele, isso foi
muito libertador: tornou-se um oásis para
ele se tornou editor do jornal da escola. No experimentar, falhar e aprender, e tudo sem
Columbia College, foi nomeado o fotógrafo a ansiedade da satisfação do cliente. “Para
do ano da faculdade. Com isso, veio um chegar ao próximo nível do seu ofício, seja
emprego em tempo integral no jornal ele qual for, você precisa ser livre para
Daily Southtown em Chicago e depois no experimentar coisas novas e aprender com
jornal Chicago Sun-Times por 14 anos, até elas. Minhas colaborações no Lighting Lab
ele sair e criar seu próprio negócio. “A arte me deram novas ideias que atenderão melhor
e o ofício da fotografia podem se tornar casamentos, eventos e clientes corporativos,
uma prática individual, mas descobri que mantendo-me pessoal e profissionalmente
produzo meu melhor trabalho quando atualizado e engajado”, comenta ele.
colaboro e ajudo meus colegas”, diz. A dica de Davis é: encontre tempo para
Para superar períodos de baixa experimentar, colaborar com colegas e
criatividade, ele se uniu a outros fotógrafos aprender novas maneiras de fazer as coisas
na criação do Lighting Lab, uma espécie para atualizar sua fotografia e aplicar novas
de clube onde se reúnem sem nenhuma técnicas para manter os clientes satisfeitos
expectativa de produzir trabalhos para e ter outros batendo à sua porta.

22 FOTOGRAFE 317
A combinação de vários elementos no enquadramento e
AFLIÇÃO DE SE REPETIR na composição é um traço criativo do fotógrafo mineiro
Especialista em capturar cenas de
rua de maneira artística e ousada, o
fotógrafo mineiro Gustavo Minas não
se sente pressionado a ser criativo.
O que mais o aflige é a sensação de
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estar se repetindo. “Faço fotografia
de rua há pelo menos 14 anos, então
é natural que os temas, os lugares
e a maneira de fotografar sejam
recorrentes. Por isso, fico sempre
nesse dilema de como criar imagens
que ainda não criei para não me
plagiar e conseguir acrescentar algo
ao que já fiz”, comenta.
Para superar a aflição de
não se repetir, ele tem algumas
estratégias. A primeira é sempre
buscar inspiração de alguma
maneira, comprando livros de
fotografia, assistindo a vídeos de
fotógrafos que admira, lendo ou
revendo fotolivros de fotógrafos
que o inspiraram quando começou.
Também ajuda meditar um pouco
antes de sair à caça de imagens para
deixar a mente o mais livre possível
de ideias preconcebidas e fazer com
que o olhar flua mais livremente.
“Às vezes, 15 minutos sentado em
silêncio de olhos fechados já ajuda
muito no processo”, sugere.

FOTOGRAFE 317 23
Quando sai
para fotografar,
Gustavo Minas
preocupa-se em
não se repetir,
mas sabe que
é impossível
ser criativo o

Gustavo Minas
tempo todo

Ele confessa que já sentiu que estava tentar prever a iluminação que encontrará e
perdendo a criatividade algumas vezes. Para o fluxo de pessoas e então se programar para
sair desse conflito pessoal, conta que ajuda o lugar e a hora certa da “luz boa”.
muito tentar coisas que o tirem da zona de
conforto, como fotografar temas que não são TODO SANTO DIA
sua especialidade ou que ele não sabe fazer Retratista de jornal diário, Leo Martins
bem. “Por exemplo: usar o flash em fotografia de começou na imprensa como caricaturista na
rua é algo que para mim é muito pouco natural, coluna Sinais Particulares de O Estado de S. Paulo
porque gosto de passar despercebido. Ou fazer e depois, com o tempo, tornou-se fotógrafo
retratos posados e consentidos na rua, coisa que
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Fotos: Leo Martins

quase nunca faço por gostar mais de um tipo de


fotografia mais espontâneo”, explica.
Viajar para outros lugares sempre dá uma
renovada. Mas não precisa ser um lugar exótico
e superfotogênico. Muitas vezes, pegar o metrô
até a estação final ou descer em um ponto
totalmente desconhecido já resolve, comenta
ele. “Temo sim que um dia falte criatividade,
mas também não tenho a pretensão de inovar
o tempo todo”, diz. Alguns fotógrafos que ele
admira fizeram quase a mesma coisa a vida
toda e produziram um trabalho maravilhoso,
apesar da (ou por conta da) repetição, como
o americano Saul Leiter, que fotografou
praticamente apenas no seu bairro em Nova
York. Cita uma frase do Manoel de Barros de que
gosta muito: “Repetir é um dom do estilo”.
Quando Gustavo Minas sai para
fotografar, jamais tem ideias preconcebidas, é
sempre no momento. Ele gosta de estar com
a cabeça e o olhar o mais livres possível para

No alto, cena de rua pelo olhar


de Gustavo Minas; ao lado, retrato
do escritor português Valter
Hugo Mãe por Leo Martins

24 FOTOGRAFE 317
profissional – está na equipe do
jornal O Globo desde 2012. O
desenho o ensinou a perceber a
individualidade física e psicológica
de cada personagem, o que ajuda na
hora de produzir retratos de forma
rápida e criativa. O grande desafio
é fotografar pessoas famosas ou
renomadas transmitindo um pouco
da personalidade delas ao contexto
de cada pauta do jornal.
Martins diz que nunca se
sente pressionado a ser criativo.
A verdadeira cobrança parte dele
mesmo, da sua ânsia em não ser
ordinário. “Eu tento evitar (e não
é fácil) que minha pressão interna
por alguma solução mágica domine
meu pensamento, até porque,
obviamente, não há criatividade que
funcione 24 horas por dia”, afirma.
As demandas de um jornal,
no seu caso, precisam sempre ser
supridas, fazendo do seu trabalho
uma oportunidade de superar
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as adversidades e entregar um
material minimamente publicável trabalhar sua visão pessoal do Acima, o campeão
todo dia. “Isso ajuda a se criar uma personagem – e que possa existir de tênis de mesa
biblioteca mental de soluções uma opinião pública para se Hugo Calderano;
simples e versáteis que suprem as confrontar e se comparar com o abaixo, a
necessidades básicas quando as boas que ele imprime ao retrato. Quando artista mineira
ideias não surgem na hora em que é uma celebridade, busca sempre contemporânea
preciso delas”, observa. ver antes tudo o que já se produziu Laura Lima
Explica que nem sempre um
retrato se constrói em torno
de um conceito elaborado. Às
vezes, uma luz interessante
(disponível no ambiente ou
montada) pode ser a solução,
uma locação instigante pode
ditar o sucesso da foto ou até
o contato com o personagem
pode ser tão poderoso que
resolve a questão criativa. “Com
um pouquinho de sangue frio e
abraçando o acaso, matam-se
leões a cada dia”, diverte-se.
Ele tem preferência por
fotografar pessoas públicas
(ou que ao menos ele conheça)
porque o interessante é

FOTOGRAFE 317 25
Fotos: Leo Martins
sobre a pessoa para tentar prever um permitido. Diz que chega a visualizar
Como o desafio pouco dos limites e das possibilidades fotos prontas à sua frente. “Encaixo
é diário, tenho que o aguardam, mas principalmente mentalmente a pessoa em cada
uma biblioteca
Acesse nossopara
Canal no Telegram:
evitar repetir soluções. No local,t.me/BRASILREVISTAS2
canto por onde vou passando,
mental com tenta sempre que possível deixar o imaginando composições e sua
soluções boas repórter fazer a entrevista antes da interação com o meio. No fundo,
sessão de fotos, já que isso lhe dá não há inspiração maior do que meu
e versáteis que
tempo para observar o personagem e medo de passar vergonha”, brinca. 
uso quando avaliar sua personalidade e seu ânimo
ideias melhores naquele dia específico – algo muito CRIAÇÃO E PRESSÃO
não aparecem" importante, frisa. Criações coloridas e bem-
Leo Martins Ele observa tudo ao redor e -humoradas e, ao mesmo tempo,
um tanto mais da locação quando é ácidas e críticas são a marca do
fotógrafo Pol Kurucz, que se diz
franco-húngaro-brasileiro. Ele morou
por anos no Rio de Janeiro (RJ)
quando chegou ao Brasil, em 2013,
e agora se divide entre Los Angeles
(EUA) e São Paulo (SP). Kurucz é um
criativo nato, que bebe na fonte do
surrealismo e tem influência direta
do americano David LaChapelle e
do britânico Miles Aldridge, mas
confessa que se sente pressionado

No alto, a terapeuta portuguesa


Angelina Ataíde; ao lado, o
pianista argelino radicado na
França Hakim Bentchouala

26 FOTOGRAFE 317
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Pol Kurucz

quando tem que propor ideias e Cherry on Top, criatividade. “O que pode acontecer
conceitos de forma muito rápida obra criada com a é que um dia, quando eu ficar mais
em projetos comerciais, às vezes modelo Angelina velho, minhas ideias ou minha
em uma reunião. Duplisea para estética não sejam vistas como
Kurucz conta que, quando a agência Early criativas ou relevantes”, argumenta.
percebe que lhe falta de inspiração, Morning Riot Afirma que seu processo criativo é
faz uma pausa. Anda, treina na simples e objetivo: imagina o que ele,
academia ou toma uma ducha para relaxar como público, gostaria de ver na imagem ou a
e retomar o fio da imaginação. Às vezes, história que ele queria que a imagem contasse.
dependendo do projeto, reúne as pessoas O estilo de Kurucz atiça o observador,
envolvidas em um brainstorm – quando todos a começar pelas cores fortes, sejam quentes
apresentam sugestões e ideias. ou frias. Sua criatividade é exercitada quase
Nunca sentiu medo de perder a sempre em estúdio, tanto em editoriais

FOTOGRAFE 317 27
Pol Kurucz tem
como referências
criativas para o seu
trabalho o britânico
Miles Aldridge e o
americano David
LaChapelle

de moda excêntricos
quanto em campanhas
publicitárias arrojadas –
tem ainda um projeto para
retratar celebridades ao
seu estilo. Produz também
para o mercado de fine art,
vendendo seu trabalho em
galerias formais ou online.
Ele lamenta que algumas

Fotos: Pol Kurucz


pessoas achem que o
trabalho dele tem muita
pós-produção por conta do
aspecto surreal e das cores
berrantes – isso tem relação
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CRIATIVIDADE NA ESCASSEZ
com gelatinas coloridas que ele coloca diante dos
flashes. Segundo Kurucz, recursos de pós- Tina Gomes é um talento bruto ainda sendo
-produção são usados somente para retoques ou lapidado. Ex-cobradora de ônibus, mãe solo
ajustes de nitidez. Também utiliza o Photoshop de seis filhos, ela descobriu na fotografia uma
quando é preciso fazer fusão de imagens. forma de terapia e expressão artística. Calejada

No alto, produção com a modelo


Jazzelle Zanaughtti; ao lado,
com a drag queen Gigi Goode;
acima, homenagem à Barbie

28 FOTOGRAFE 317
Fotos: Tina Gomes
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pela vida, a fotógrafa Acima e ao lado,


paulistana passou por obras de Tina
diversas situações ao longo Gomes: ela usa
da carreira que a fizeram recursos simples,
estimular a criatividade, como tinta guache,
como adversidades nas suas criações
financeiras, preconceito,
fome, violência doméstica e problemas de saúde.
Seus retratos, com um quê da russa Irina Ionesco,
são quase sempre feitos com a filha Nicole e com
recursos muito simples – caso da foto que abre
esta matéria e capa desta edição, na qual ela usou
um saco de juta como fundo, palha colorida como
adereço de cabeça e o embrulho de um presente
que ela ganhou, também de juta, como “manto”.
Com quadro de depressão, Tina Gomes foi
diagnosticada com transtorno esquizoafetivo, o
que a fez ficar internada por dois anos: “Quando se
está hospitalizada em um nosocômio, a pessoa fica
em um vazio absoluto, não tem fome, entre outras

FOTOGRAFE 317 29
Fotos: Tina Gomes
Eu tento coisas, e aí que sua criatividade De personalidade inquieta,
Tina Gomes diz que a partir do
aproveitar tudo é trabalhada ao extremo. Como
sempre digo: o deserto é a escola momento em que se aprende a
o que acho ou de Deus! Então, acostumei a ver focar, acreditar e executar o trabalho
ganho como tudo como algo que pode ser evolui. “Apostar em boas soluções
material para
Acesse nossoreciclado,
Canalreutilizado, e é onde
no Telegram: consagradas é fazer mais do mesmo.
t.me/BRASILREVISTAS2
produzir meus a criatividade fica a mil, pois me Para mim, buscar incessantemente
retratos" obrigo a observar ao meu redor ser criativa todos os dias é a maneira
mais detalhadamente, enxergando mais certeira de fazer o diferencial.
Tina Gomes oportunidade em tudo, até na Marcos Varanda, meu curador, me
falta”, comenta. ajuda muito com isso há pelo menos
10 anos. Ele me impulsiona a buscar
mais e mais, a achar todo dia um
novo caminho, pois o olhar dele como
curador é também um olhar do lado
de fora, e isso ajuda a enxergar além
do olhar do fotógrafo”, comenta.

SENSUAL E CRIATIVO
O carioca Leo Cordeiro,
especializado em fotografia de
nu e sensualidade e autor do
livro O Estilo de Leo Cordeiro,
da coleção Fotografia de Nu &
Sensual, publicado pela Biblioteca
Fotografe, sabe muito bem como
funciona a pressão para manter

Tina Gomes tem na filha


Nicole sua principal modelo e
toda a produção é feita pela
própria fotógrafa em casa

30 FOTOGRAFE 317
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Leo Cordeiro mostra criatividade no
corte, no ângulo e no enquadramento
das imagens de sensualidade que faz

a chama da criatividade sempre acessa no cursos e workshops, conhecer bem os recursos


dia a dia. “A cada novo projeto as pessoas do equipamento e novas técnicas de edição
esperam algo a mais, que seja surpreendente também fazem parte do conjunto. Para ele,
e/ou diferente dos trabalhos anteriores. Para outro ponto que ajuda a fugir do arroz com
manter esse vigor e aguçar a criatividade, feijão está em o próprio fotógrafo cuidar da
busco observar muito ao meu redor: ambiente, edição das imagens, o que colabora bastante
pessoas, artes de outras áreas, como pintura para definir bem o próprio estilo.
e cinema, e também trabalhos de outros Na fotografia de sensualidade, Leo
profissionais de diversas áreas da fotografia. Cordeiro acredita que a criatividade fica ainda
Sempre dá pra enxergar algo novo e que seja mais estimulada quando precisa fotografar em
uma fonte de inspiração
Fotos: Leo Cordeiro

para os ensaios de nu e
sensualidade”.
E, em um mundo de
milhões de imagens sendo
produzidas todos os dias,
Leo Cordeiro procura se
diferenciar usando cortes e
ângulos criativos, ousando
sem medo de quebrar
regras e padrões. Estudar
muito, se atualizar fazendo

FOTOGRAFE 317 31
Eu me cobro diariamente
para tentar sempre algo novo
e criativo, e isso é um grande
desafio em um estúdio"
Brasilio Wille

DESAFIOS NO ESTÚDIO
Autor do livro A Versatilidade de
Brasilio Wille, também da coleção
Fotografia de Nu & Sensual,
publicado pela Biblioteca Fotografe,
Brasilio Wille é um profissional muito
produtivo, que enxerga a fotografia
de estúdio como uma tela em branco
pronta para ser rabiscada. Para ele,
ser criativo é um desafio diário, mas
que pode ser superado quando o
fotógrafo define o próprio estilo
de fotografar, conhece o ambiente
Fotos: Brasilio Wille

em que trabalha, assim como os


Um tecido vermelho equipamentos e as técnicas. “Como
pode gerar muita exercício, sempre indico buscar
atratividade na imagem fontes para se alimentar de ideias
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2 e de conceitos novos. Pinterest,
sites de buscas da internet e grupos
um cenário com poucos elementos: “um set rico de fotografia servem de berço para essa
em detalhes fica muito mais fácil explorar tudo inspiração”, indica o fotógrafo.
ao redor e conseguir resultados interessantes. Wille explica que também sofre com
Por outro lado, a escassez desse tipo de esgotamento criativo, e nessas horas usa aquilo
recurso obriga o fotógrafo a ser engenhoso nas que tem como truque na manga: um ‘feijão com
ideias, desafiando seu talento”, explica. arroz bem temperado’ acaba sendo muito bem-

Um reflexo bem
trabalhado pode
fazer a diferença

32 FOTOGRAFE 317
MOVIMENTO E CHIFFON

S ue Bryce é uma renomada fotógrafa


neozelandesa que vive e trabalha
em Los Angeles (EUA). Especialista em
cliente. Então adicionei outros elementos,
incluindo tecido, claro, para capturar
movimentos dinâmicos e retratos com
retratos há mais de 30 anos, ela lembra estilo de dança. Comecei a comprar chiffon
claramente de um momento na carreira em várias cores para o estúdio. É muito
em que construiu um negócio de sucesso e acessível, fácil de lavar e extremamente
realmente começou a dominar seu ofício, versátil. A translucidez é perfeita para
mas se sentia sem inspiração e entediada. contraluz e pode ser usada em boudoir, nu e
“Percebi que a fome de aprender estava imagens de maternidade”, ensina ela.
começando a diminuir e senti que estava Outra ideia foi pendurar várias
murchando criativamente. À medida que camadas de chiffon sobre um suporte de
continuei a me concentrar nos clientes pano de fundo para criar um “túnel” de
e no meu negócio, tornei-me mais tecido. Colocando a cliente dentro do túnel
complacente criativamente e deixei que de tecido, ela usa um ventilador de chão
o meu negócio me consumisse. Uma coisa para soprar o chiffon ao redor dela criando
que aprendi é que você não pode ignorar várias camadas de tons que mudam com
o artista que gerou tudo isso em primeiro a luz. “Você não precisa de adereços de
lugar”, ensina ela. estúdio caros ou ventiladores industriais
Tudo mudou quando Bryce lembrou para criar algo interessante. Um simples
que sua relação com o movimento sempre a secador de cabelo pode gerar efeitos
inspirou, pois adora criar diferentes formas excelentes e, conforme você continua a
de capturá-lo. “O interesse começou com experimentar, começará a adicionar seus
um simples secador de cabelo da minha próprios toques criativos”, afirma.

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Escadas como solução para
uma pose diferente em um
ensaio sensual no estúdio

-vindo, pois vai servir como


referência para formar um
novo conjunto visual durante
um ensaio e também como
base para encontrar novas
poses e variações para um
mesmo tema. “Escolhi trabalhar
de forma mais minimalista, com
poucos objetos de cena, para
não haver competição visual
com o assunto fotografado.
Driblo a mesmice escolhendo
uma lente apropriada para
registrar da melhor forma a
cena e as poses ou inserindo
elementos inusitados. Estimulo a modelo a fazer pensa na renovação do próprio portfólio. Isso se
expressões que fujam do usual, sem que ela perca transforma em um grande desafio na fotografia
a naturalidade. Até usar um gel colorido à frente de estúdio – que facilmente cai na rotina. A fuga
do flash pode fazer toda a diferença”, ensina. é apostar sempre em elementos neutros para
Ele confessa que se cobra diariamente compor a cena e que serão renovados ao longo
para entregar sempre algo mais criativo, pois do ano – seja com uma pintura ou uma utilidade

FOTOGRAFE 317 33
A montagem da luz também é
um exercício de criatividade
para quem trabalha em estúdio

se dedicar apenas ao trabalho e


produzir mais e mais, isso se torna
escravidão, e não permite ter
tempo para o ócio criativo. Praticar
Fotos: Brasilio Wille

o ‘nadismo’ também é importante


para abrir espaço mental e renovar
a criatividade”, avalia.
Na opinião dele, os profissionais
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momentos em que é necessário
inovadora. Na falta de inspiração, aconselha a fazer um trabalho um pouco menos criativo
meditação: um momento de silêncio seguido e entregar o que o cliente pediu e em outros
de exercícios de respiração: “ser fotógrafo é um liberar a criatividade, ganhando menos, mas
desafio diário de criatividade e da capacidade de alimentando a alma e o portfólio: “É normal
se renovar a cada período”, diz. que o fotógrafo queira sempre fazer arte,
entregar algo criativo, mas nem sempre
QUANDO VALE A PENA isso é possível. Tem cliente que não quer
Alexander Landau é autoridade
quando o assunto é fotografia de
gastronomia. Ele confessa que
se desafia diariamente para sair
do piloto automático, porém, às
vezes, dependendo do cliente,
entregar mais do mesmo também
faz parte do jogo. Para ele, os
fotógrafos precisam entender
que a fotografia é um trabalho,
uma paixão, mas não é 100% da
vida. “Quando o profissional deixa
de estar com a família, os filhos,
os amigos e os parceiros para

Ângulo, luz, composição e


montagem dos pratos ditam o lado
criativo em fotos de gastronomia
Alexander Landau

34 FOTOGRAFE 317
Para Alexander
Landau, muitas vezes
a criatividade deve
ser deixada de lado
em função do cliente

Fotos: Alexander Landau


Chefs que estão interessados em
novidades desafiam a criatividade
de fotógrafos do segmento, diz Landau
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seu produto mais refinado, à vezes não tem Dentro do universo da fotografia de
sensibilidade para isso. Só deseja que você gastronomia, Landau confessa que o seu desafio
seja objetivo, não tem tempo para aguardar diário para ser menos ou mais criativo está
arroubos criativos. Por isso, é preciso ter diretamente relacionado com o ambiente e com
feeling para identificar isso e não perder tempo a equipe de trabalho. Ele explica que alguns
se esforçando nesse tipo de situação. O chefs trazem referências do que querem, estão
simples é melhor, pegue sua remuneração e abertos a novidades e isso aguça a criatividade.
parta para o próximo trabalho”, aconselha. Por outro lado, existem clientes que estão
mais interessados no preço do
serviço. “Tenho certo sexto sentido
e percebo sempre a energia do
cliente. Quando noto que vai
‘dar ruim’, sempre peço mais caro
porque, se fechar, ganhei uma boa
grana, pois se aceito o choro do
cliente, que muitas vezes é confuso,
não sabe o que quer e busca apenas
algo mais barato, vou acabar me
aborrecendo. Não vai valer a pena
ser criativo porque a pessoa não
sabe muito bem o que quer. Então,
tem que pesar essas coisas”, ensina.

Landau é defensor do
"nadismo", o ócio criativo,
para renovar as ideias

FOTOGRAFE 317 35
FOTOGRAFIA DOCUMENTAL

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OLHOS DO BRASIL
O documentário
M'Kumba está
sendo feito com o

PARA O MUNDO apoio da National


Geographic Society

seus trabalhos publicados no exterior do que por


Veja como o fotógrafo aqui. Recebeu recentemente o título de National
Geographic Society Explorer pelo documentário
Gui Christ vive no Brasil M'Kumba, que aborda religiões de matriz
produzindo material de africana no Brasil, e tem uma bolsa do Pulitzer
Center para um de seus projetos em andamento.
forma independente para Recentemente, foi nomeado para o Foam Paul
veículos de comunicação Huf Award 2023, prêmio voltado a fotógrafos
emergentes de reconhecimento internacional.
estrangeiros Nascido em, Niterói (RJ) em 1980, mas
criado em Angra dos Reis (RS), apostou
primeiramente na fotografia publicitária ao
POR JOSÉ DE ALMEIDA se tornar um dos sócios do Estúdio Manipula,
com o qual ganhou vários prêmios – como

A pontado como um dos melhores


fotógrafos documentaristas de sua
geração pela revista European Photography,
Creative Cannes Awards e Clio Awards.
Mas, depois de 10 anos, seis sem tirar férias,
mudou totalmente de rumo e hoje vive de
editada na Alemanha, o brasileiro Gui Christ contar histórias, que podem ser pautas suas
muito provavelmente é mais conhecido pelos ou encomendadas. Não ganha tanto dinheiro

36 FOTOGRAFE 317
M'Kumba é uma palavra
religiosa que vem da língua
kikongo, falada na região
central da África. Aqui, por
preconceito, foi desvirtuada"
Gui Christ

como antes, mas é muito mais feliz.


Distante do fotojornalismo
tradicional, Gui Christ produz para
revistas, como a própria National
Geographic, a Time, a Billboard e
a Esquire, e jornais, como o The
Washington Post e o El País. Ele
lembra que, quando estava no
estúdio, mais administrava o
negócio do que fotografava. Saiu
no momento em que tinha feito um
bom “pé de meia” e podia ficar cerca
de um ano e meio vivendo com uma
renda mensal. A partir daí, passou
a usar o conhecimento técnico
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adquirido no estúdio para produzir
documentários dentro de um estilo
que ele chama de “não ortodoxo”.
Formado em Belas Artes
pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro e pós-graduado em
Cinema Documental e Direção
de Fotografia pela Academia
Internacional de Cinema de São
Paulo (SP), Christ junta esse
conhecimento acadêmico ao
domínio técnico prático que
adquiriu na fotografia publicitária.
Isso se reflete no uso de flashes
para “desenhar” a luz e na forma
Fotos: Gui Christ/National Geographic Society

de fazer a composição. Mas ele faz


questão de frisar: “Técnica não se
impõe à linguagem”.
No seu primeiro trabalho de
documentação de longo prazo,
montou um estúdio fotográfico na
Cracolândia, na região central da

Iniciado no candomblé e da
umbanda, Christ faz o trabalho para
tratar de intolerância religiosa

FOTOGRAFE 317 37
capital paulista, e por lá ficou três anos como entendidos. Essa lição ele coloca em prática
voluntário em um serviço de assistência social quando precisa acessar lugares em que tratará de
e, ao mesmo tempo, de documentação autoral: temas que envolvam estigmas e preconceitos. “Se
ele fazia os retratos das pessoas que precisavam você não fizer a abordagem do jeito adequado,
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de novos documentos. Com o tempo, ganhou a eles podem se sentir ofendidos ou invadidos. Eu
confiança dos usuários de drogas e começou a vou para ser visto, nunca chego fotografando
registrá-los com seus cachimbos artesanais, já e tento estabelecer uma troca. Fui para um
que cada um improvisa o seu. quilombo, por exemplo, e ofereci ajuda financeira
para pagar minha comida e a hospedagem pelos
M’KUMBA dois dias”, conta ele.
Por ter morado perto de uma favela, Gui Sua abordagem com os personagens
Christ aprendeu que nesse tipo de comunidade que pretende fotografar é sempre muito
você precisa ter jogo de cintura, conhecer as respeitosa – caso de um de seus mais recentes
lideranças locais caso queira entra no lugar e trabalhos, M’Kumba, ainda em andamento.
se comunicar de forma clara, para evitar mal- Iniciado no candomblé e na umbanda, ele
usou seu conhecimento
nessas religiões de matriz
africana para tratar dos
temas intolerância e
racismo. Christ vê na
documentação que faz um
instrumento de combate
ao racismo religioso, termo
mais adequado do que
intolerância, segundo ele,

Acima e ao lado, imagens


captadas da Cracolândia,
em São Paulo (SP), para o
documentário Fissura

38
Retratos
Acesse nossoda série Pixo, feitos
Canal com o apoio
no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2
do Pulitzer Center of Journalism, com
sede em Washington DC, EUA

pois os praticantes são muito mais afetados do


que os fiéis de outras religiões por causa da cor
da pele – esse trabalho foi exposto na Alemanha,
na Suíça, na Argentina, na Inglaterra e na Índia,
foi finalista do Lensculture Portrait Awards 2022
e selecionado para uma edição com imagens do
fotojornalismo mundial pelo Pulitzer Center.
Christ lembra que há séculos a palavra
macumba vem sendo usada de forma pejorativa.
“Ainda é comum ouvir expressões intolerantes
como ‘chuta que é macumba!’. É crucial combater
essa forma de racismo. A palavra deveria ser
sagrada e, devido ao preconceito, foi totalmente
Fotos: Gui Christ

distorcida. 'M'Kumba' vem do kikongo, língua


falada na região centro-africana. 'Kumba' significa
curandeiro, homem sábio, senhor da palavra; e
o M' indica o coletivo nesse idioma. Os povos
trazidos para o Brasil como escravos muitas
vezes só tinham nos encontros desses sábios, VIVER DE FOTOGRAFIA
a m’kumba, seus momentos de alento e cura”, Ao deixar a fotografia publicitária, Gui
explica ele. Por preconceito e desconhecimento, Christ optou por levar uma vida mais simples
a palavra passou a ser associada ao mal, algo que financeiramente, mas diz que ganhou em
dura até hoje, informa o fotógrafo. satisfação pessoal. Ele não tem feito trabalhos

FOTOGRAFE 317 39
Fotos: Gui Christ

Acima e abaixo, para veículos de comunicação no oito meses (os pagamentos são
retratos do Brasil, só para estrangeiros. Avalia mensais nesse período). Também
documentário que a questão cambial, ou seja, ser tem ajuda financeira nos projetos
Peixe Seco, que pago em dólares, ajuda bastante. que apresenta, como Nat Geo
mostra a nova face Aposta em projetos a longo prazo Explorer. “Eu faço um projeto e
de indígenas de e produz documentários pontuais encaminho com o orçamento.
São Paulo (SP) quando é requisitado. Por exemplo: 60 diárias com um
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2
Está na terceira bolsa paga pelo valor em dólar. Se aprovado, eles
Pulitzer Center com duração de me mandam o dinheiro”, explica.
Christ prefere se identificar como
documentarista a fotojornalista,
pois acredita que o que faz tem
um foco diferente. Jamais se
interessou em cobrir hard news
para jornais e revistas pelos
baixos valores que são pagos.
“Infelizmente, o fotojornalismo
está desvalorizado, e é assim no
mundo inteiro”, comenta.
De uma família judia de
origem alemã que veio para o
Brasil fugindo do nazismo, ele
explica que o sobrenome Christ
não é o original, mas foi adotado
na chegada ao País para chamar
menos a atenção. Ele teve
educação bilingue e é fluente em
inglês desde criança. Atualmente
se dedica a estudar espanhol para
falar e escrever bem. “Dominar o
inglês me ajuda muito no contato
com editores estrangeiros.
Acho que todo fotógrafo tem

40 FOTOGRAFE 317
Fotos: Gui Christ/Pulitzer Center for Journalism
que estudar bem o inglês para versátil zoom 24-70 mm e as fixas Retratos realizados
ir atrás de bolsas, fazer projetos 35 mm, 50 mm e 85 mm, todas f/2. no Maranhão para
para apresentar fora do Brasil, se Tem três tochas a bateria e alguns a série Franja da
comunicar com editores e sugerir modificadores de luz – usa bastante Amazônia, também
pautas de longa duração”, sugere. o softbox grande e a sombrinha com apoio do
Além de M’Kumba, Christ fez para fazer luz principal e contraluz.
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2 Pulitzer Center
outros projetos de longo prazo Por isso, depende quase sempre
nesses cinco anos em que virou de assistente para ajudá-lo nas
documentarista: Marrocos, sobre produções. Leva ainda fundos de
uma ocupação no antigo Cine acordo com o tema (pode ser lona,
Marrocos, no centro de São Paulo; tecido ou papel). Ele usava flashes
e Fissura, que aborda a Cracolândia, da sueca Profoto, mas hoje prefere
geraram livros premiados; os chineses da Godox, eficientes e Gui Christ em
Desconstructo, uma pesquisa bem mais baratos. “O fato é que o ação: experiência
visual sobre os vestígios físicos de equipamento ficou muito caro para o de 10 anos em
objetos e edifícios abandonados fotógrafo brasileiro com a cotação do estúdio usada no
encontrados na capital paulista; dólar nos últimos anos”, comenta. documental
Pixo, que trata da disputa entre
grupos de pixadores por territórios
na cidade de São Paulo; e Peixe
Seco (tradução do tupi-guarani
para piratininga), o mais recente,
que documenta as várias etnias
indígenas que vivem na região
metropolitana de São Paulo e sua
inserção no mundo atual, como o
hip-hop e a cena LGBTQI+.
Em termos de equipamento,
o fotógrafo fluminense fez a
Ulisses Lima

transição da DSLR Canon EOA


5Ds para a mirrorless R5 e usa
basicamente quatro lentes: a

FOTOGRAFE 317 41
s
strela
tas 5 E
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Livros
ÓTIMAS OFERTAS
elo site
hats ou p
Por v oz, por W

Aluiznatureza
claudio marigo
Dicas, informações e análises de Luiz
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FOTOJORNALISMO

OS
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Acima, a foto do
presidente Lula que
causou polêmica;
nosso Canal no Telegram:
MANIPULAÇÃO
na pág. ao lado, a de
Marina Silva também
em dupla exposição

Imagem de Lula feita com dupla exposição pela fotógrafa


Gabriela Biló gera uma grande polêmica e faz voltar ao
debate a interpretação da realidade no fotojornalismo
POR SÉRGIO BRANCO

D epois de ler muitos textos, ler dezenas


de opiniões no Instagram, conversar
com alguns fotojornalistas experientes e
principais responsáveis pela decisão que causou
tanta discussão, não a fotógrafa; as ofensas
dirigidas a ela (houve até ameaça de morte)
entrevistar a fotógrafa Gabriela Biló sobre a mostraram que a incitação à violência não é
polêmica foto do presidente Lula, feita com dupla privilégio somente da direita extremista.
exposição e publicada na primeira página da A dupla (ou múltipla) exposição é um recurso
Folha de S.Paulo no dia 19 de janeiro de 2023, foi antigo, dos tempos analógicos. Não é estranho
possível chegar a algumas conclusões: ela não ao fotojornalismo, pois é comum vê-lo sendo
foi antiética ao produzir a imagem, apenas um usado em esportes (para mostrar a sequência
pouco imprudente; o momento de publicação de movimentos de um atleta), em coberturas de
pareceu inadequado diante dos acontecimentos shows e em pautas do cotidiano. Esse uso “lúdico”
ameaçadores de 8 de janeiro e da polarização jamais gerou polêmica, atesta Eduardo Nicolau,
política atual; os editores da Folha foram os que foi editor de fotografia do Estadão de 2010

44 FOTOGRAFE 317
A imagem gerou
duas interpretações
antagônicas e
muitas críticas pela
forma que foi feita
Fotos: Gabriela Biló/Folha de S.Paulo

a 2021, e o responsável pela contratação de Sobre as críticas que a fotógrafa recebeu


Gabriela Biló, em 2013. Seis anos depois ele a por ser muito popular em redes sociais
indicou para trabalhar na sucursal de Brasília e publicar vídeos sobre os bastidores da
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(DF), onde a fotógrafa ficou até 2022 antes de se cobertura política em Brasília, Nicolau
transferir para a sucursal da Folha. lembra que ela é de uma nova geração de
Nicolau lembra que Biló publicou várias fotojornalistas. “Temos que entender que essa
imagens em dupla exposição no Estadão moçada é multimídia, pensa diferente da minha
quando ainda era repórter fotográfica em geração. Acho que essa exposição que ela tem
São Paulo (SP). Lembra que a fotojornalista tido incomoda algumas pessoas. Então veio a
Karime Xavier, também da Folha, sempre chance de ouro para esse pessoal bater forte
foi muito elogiada por seus retratos feitos e pesado nela, alguns com uma carga de ódio
com executivos em que usa longa exposição, acima do normal”, comenta.
light painting, recursos técnicos que também
manipulam a realidade. “Acredito que a dupla FOTO POLARIZADA
exposição pode ser usada no fotojornalismo Gabriela Biló é uma mulher forte e decidida.
quando fica bem explícita, não gera dúvidas Foi criticada, insultada e ameaçada após a
de que é uma sobreposição de imagens, publicação da foto de Lula, mas encarou tudo
funcionando como informação e ilustração”, e seguiu trabalhando. Ela mantém sua posição
argumenta Nicolau. de que a intenção da imagem foi mostrar um
Na visão dele, a publicação da foto de Lula presidente resistente diante de uma tentativa de
com a vidraça estilhaçada à frente foi em um golpe, mas as leituras contrárias – a mais radical
momento ruim. “O timing não foi bom e o fato é de que seria uma apologia à morte de Lula
de a dupla exposição não ser reconhecida – pipocaram nas redes sociais, o que suscitou
de imediato, ter sido necessário uma legenda análises semióticas, artigos, notas e comunicados –
para explicar, piorou as coisas. Mas defendo a a maioria condenando-a.
Gabriela Biló com todas as forças, pois acho Biló não vê qualquer problema na discussão
que o fotógrafo tem que sugerir coisas novas e em si, se é fotojornalismo ou não, mas acha
abordagens fora do comum. Ela fez o papel dela, que houve um exagero em relação ao tema e
já a decisão de publicar foi do jornal”, avalia. uma oportunidade para várias pessoas a atacar

FOTOGRAFE 317 45
Fernando Frazão
pessoalmente – a maioria, gente Uma imagem com a MUITAS OPINIÕES
que ela nem conhecia. “O que técnica de múltipla Uma comunicado da Arfoc-
me doeu mais foi ler que não tive exposição feita na -SP (a associção dos repórteres
ética. Fui honesta o tempo todo, Olimpíada do Rio por fotográficos da qual ela faz
não apresentei a foto como um Fernando Frazão parte) condenou a publicação,
flagrante. Deixei claro que era uma
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2 alegando que a dupla exposição
dupla exposição. Tinha feito isso com uma foto da "tira a imagem da natureza do fotojornalismo”;
Marina Silva dias antes e recebi elogios”, conta ela. poupou um pouco a fotógrafa e atacou a Folha:
Ela crê que alguns “coleguinhas” misturaram "... publicou a montagem de fotos na sua primeira
diferenças pessoais com o lado profissional, já página, decisão editorial falha e covarde, num
que o fotojornalismo é dominado por homens, momento tão delicado à democracia do País...".
principalmente na cobertura política em Brasília. O jornalista José Henrique Mariante,
“Teve também misoginia nos insultos que ombudsman da Folha, também condenou a
fizeram contra mim. Sei que meu trabalho, a escolha da imagem. Em sua coluna no jornal, logo
maneira como faço, incomoda algumas pessoas”, após o episódio, lembrou que cenas que insinuam
comenta. Ela define a imagem como “uma foto uma realidade além da retratada sempre causam
polarizada” que oferece pelo menos duas visões: polêmica. “A fotografia de Dilma Rousseff
a do presidente resistente e a do presidente atravessada por uma espada, publicada por O
ameaçado. “Eu expliquei minha visão, mas tem Estado de S. Paulo em 2011, ganhou prêmios,
gente que ainda fala em fotomontagem, em mas também muitas críticas pela percepção de
colagem. Não é nada disso, dupla exposição existe uma mensagem subliminar de rejeição da mídia à
desde os primórdios da fotografia. Se eu tivesse então presidente”.
usado um espelho e refletisse o vidro trincado Mariante afirma que a imagem técnica de
no Lula, talvez não tivesse tanta polêmica. dupla exposição “resultou inevitavelmente em
O problema, para colegas que criticam, foi uma montagem”. Informa que a fotógrafa e o jornal
enquadrar o vidro trincado na primeira exposição refutam essa descrição, mas não têm opção, já que
e o Lula na segunda. Já fiz muitas fotos assim. O o artifício é vetado pelo Manual da Redação (pág.
arquivo do Estadão tem várias delas, da época em 106): “... são proibidas adulterações da realidade
que trabalhei lá”, afirma. Perguntada se o Estadão retratada, tais como apagar pessoas ou alterar
publicaria especificamente essa foto de Lula à suas características físicas, eliminar ou inserir
frente do vidro estilhaçado, ela nem pestanejou objetos e mudar cenários”.
para responder: “Não!”. A resposta da Secretaria de Redação do

46 FOTOGRAFE 317
Klaus Schwab,
fundador do
Foro Econômico
Mundial, em retrato
de 2011 feito por
Karime Xavier com
com light painting

Karime Xavier/Folha de S.Paulo


jornal para o ombudsman foi a seguinte: “A fotojornalismo. “Tese discutível, ainda mais que
Fotografia da Folha está modernizando o registro a técnica não é uma inovação que se inaugurou
imagético tradicional do poder em Brasília. com essa foto. Além disso, há uma imagem de
Preferimos correr os riscos da renovação a
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2 Marina Silva sobreposta a copas de árvores, da
reforçar a pasmaceira”. mesma fotógrafa, feita com a mesma técnica e
O fotógrafo e curador Eder Chodietto, publicada no mesmo jornal uns dias antes, sobre
que foi editor de fotografia da Folha de 1995 a a qual não há registro de polêmicas”, comenta.
2004, fez um longo texto de análise e crítica que Quanto à polêmica da interpretação
repercutiu bastante no meio fotográfico. “Bateu” da foto, ele lembra que a mera escolha do
tanto na fotógrafa quanto no jornal. Em um dos enquadramento, dos ângulos, dos elementos da
trechos, escreve: “ Que Biló deseje ultrapassar composição e da lente a ser usada é um grau de
limites éticos e estéticos à revelia das normas intervenção muito importante e pode produzir
que regem a prática do fotojornalismo, na ânsia conotações e denotações muito difíceis de serem
de ser, talvez, uma artista, é uma questão dela. O controladas. "Uma superposição de fatos visuais
problema está na Folha em bancar essa atitude”. pode acontecer sem uso de múltipla exposição,
Em outro, é mais direto quanto ao papel do como na foto em que a ex-presidente Dilma
jornal: “Logo, a escolha editorial de Rousseff parece ser atravessada por
estampar a imagem-ilustração de uma espada", argumenta.
Biló na primeira página é só mais uma Susana Dobal, professora da
que vem dentro dessa lógica de fazer Fui honesta o Faculdade de Comunicação da
‘shownalismo’ de crítica ao governo Universidade de Brasília (UnB), em
que ainda está começando”.
tempo todo, texto para o site Poder 360, reforça
Wilson Gomes, doutor em não apresentei que há sempre uma interpretação
Filosofia, professor titular da a foto como dos fatos e,que, quanto melhor o
Faculdade de Comunicação da um flagrante. fotógrafo, mais sábia sua escolha
Universidade Federal da Bahia Deixei claro que do momento e do enquadramento
(UFBA), em texto para o site da revista para traduzir uma leitura dos
era uma dupla
Cult, escreve que há quem ache acontecimentos que pode estar
que uma imagem feita com dupla exposição" nas entrelinhas da imagem,
exposição não é o que se espera do Gabriela Biló especialmente em fotos de política.

FOTOGRAFE 317 47
Wilton Junior/Estadão

Flagrante premiado
de Wilton Junior
com a ex-presidente
Dilma Rousseff

Ela compara a imagem de Biló a uma charge para os fotojornalistas em Brasília. “Começa até
feita com fotografia por propor explicitamente antes, no final de 2022, quando o ex-presidente
uma leitura dos fatos. “E o jornal confirma Bolsonaro viaja escondido dos fotógrafos para
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isso ao dizer na legenda que se trata de uma a Flórida. Eu passei dias de plantão, em cima de
montagem (múltipla exposição)”, escreve. Para uma escada, com a tele de 600 mm, para fazer
Dobal, quem se sentiu ultrajado com a publicação duas fotos da despedida dele lá no Palácio da
já não via o jornal com bons olhos e se agarrou Alvorada”, comenta. Depois, veio a posse do
a uma definição inflexível sobre a serventia presidente Lula, a tentativa de golpe em 8 de
da imagem no contexto do fotojornalismo. janeiro e a polêmica com a foto de Biló.
“Serve para isto: não só para retratar os fatos, Entre a posse e a invasão de bolsonaristas
mas para pensarmos como a realidade se radicais que vandalizam os prédios da Praça dos
constrói também no calor do debate sobre o Três Poderes, Marcelino confessa que viveu
sentido de uma imagem”, avalia. Já a Secretaria momentos de muita tensão (veja box). Quando
de Comunicação Social do Governo Federal surgiu a polêmica sobre a foto de Lula, ele estava
defendeu a tese da incitação de violência e trabalhando na Amazônia, incomunicável, e
publicou uma nota: “É lamentável só tomou conhecimento quando
que o jornal Folha de S.Paulo tenha restabeleceu a comunicação. “Eu já
produzido e veiculado uma imagem tinha falado sobre isso com a Biló,
não jornalística sugerindo violência antes dessa foto. Na minha visão,
Na minha
contra o presidente da República no dupla exposição não é fotojornalismo.
contexto dos atos antidemocráticos visão, a dupla Acho que você dá uma conotação
de 8 de janeiro”. exposição não é para a imagem e isso transforma a
fotojornalismo. realidade do fato à sua frente. Além
VISÃO DE COLEGAS Entra em uma disso, a imagem foi captada em dois
Ueslei Marcelino, fotógrafo área próxima da ambientes diferentes, em momentos
brasiliense da agência Reuters e diferentes”, comenta.
colega de Gabriela Biló em muitas
montagem, da Lembra que o saudoso Orlando
coberturas na capital federal, pontua ilustração" Brito (1950-2022), mestre tanto
que foi um começo de ano atípico Ueslei Marcelino dele quanto de Biló na cobertura de

48 FOTOGRAFE 317
PÂNICO E
FRUSTRAÇÃO

E ntre os cerca de 15 fotógrafos


e jornalistas agredidos após
o ato golpista de bolsonaristas
radicais no dia 8 de janeiro de

Ueslei Marcelino/Reuters
2023, Rafaela Felicciano, do portal
Metrópoles, foi uma das que mais
sofreram. Foi cercada por 10
homens, tomou socos na barriga,
chutes nas pernas e teve os cartões
de memória da câmera e o celular
roubados. Ela estava de plantão Tentativa de golpe: invasão do Palácio do Planalto por
naquele domingo e da janela da bolsonaristas radicais no dia 8 de janeiro de 2023
redação, que fica perto da Praça
dos Três Poderes, viu quando muita gente se o smartphone e ninguém falou nada. Entrou
dirigia para lá. “Comecei a avisar os colegas que e saiu do Supremo Tribunal Federal (STF),
algo grave estava para acontecer. Peguei meu também invadido, sem ser incomodado.
equipamento e fui seguindo o povo”, conta. Foi então que viu um golpista com uma
Rafaela não é novata em manifestações, mangueira de incêndio jogando água em
já cobriu várias em Brasília (DF) e foi direção à sala da presidência do STF. Correu
hostilizada, mas nunca tinha sido agredida para fazer a imagem lá de dentro e, ao chegar,
física e psicologicamente. “De repente um deu de cara com um grupo que queria saber
cara descobre que você é da imprensa, te de onde ele era. Explicou que era fotógrafo
agarra e chama outros. Como mulher, é da agência Reuters, pois jamais esconde isso.
muito apavorante. Não sabia o que queriam Um dos golpitas tomou-lhe a câmera, uma
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fazer comigo”, diz ela. Depois de apanhar, Canon R3, e sabia exatamente como tirar os
ela conseguiu acalmar o grupo e um deles cartões de memória e a bateria. Marcelino
sabia exatamente como acessar o cartão foi liberado não sem antes tomar empurrões,
de memória da câmera. Rafaela conseguiu chutes e ouvir palavrões. Saiu correndo
avisar os colegas sobre a violência e outros e ficou no meio da praça, atônito. “Foi a
fotógrafos da equipe optaram por fazer maior frustração profissional perder aquele
imagens apenas com celular. material”, comenta. Não desistiu: começou a
Na segunda e na terça, ela parecia que procurar colegas que pudessem emprestar
tinha o trauma de domingo, mas na quarta, um cartão e uma bateria até conseguir. “Aí,
durante a cobertura na Polícia Federal, teve voltei pro jogo. Continuei fotografando a
um ataque de pânico. “Segurei a onda, fiz meu retomada da praça pela polícia e todo o
trabalho, mas, quando voltei para a redação, rescaldo até as 2h da manhã”, conta.
desabei”, relata. Logo depois, ela se afastou do Gabriela Biló também estava de folga
Metrópoles para fazer uma cirurgia no joelho naquele domingo. Foi para a Praça dos Três
(problema antigo, sem relação com a violência Poderes quando o quebra-quebra já tinha
que sofreu) e está tendo acompanhamento começado. “Tive mais sorte e não roubaram
psicológico para voltar ao trabalho. nada nem me agrediram, pois cheguei depois
Ueslei Marcelino estava de folga no dia 8 que uma leva de golpistas, mais violenta e
de janeiro, vendo um desenho animado com a organizada, já tinha invadido tudo”, conta.
filha, quando descobriu que a Praça dos Três Foi vestida normalmente e com um capacete
Poderes tinha sido invadida. Saiu correndo, vermelho, que usa quando anda de patins.
estacionou o carro nas proximidades e, por Só levou a câmera e disse que parecia uma
segurança, levou apenas uma câmera e duas fotógrafa amadora. “Procurei sorrir o tempo
objetivas. Fotografou o Congresso Nacional, todo e não chamar muito a atenção. Quando
seguiu para o Palácio do Planalto registrando perguntavam de onde eu era, respondia que
tudo sem problemas, gravou imagens com era de São Paulo, capital, e saía rápido”, afirma.

FOTOGRAFE 317 49
Sohrab Hura/Magum Photos
Duas imagens da nova
geração de membros da
Magnum Photos: outra
visão de fotojornalismo?

pessoas que vão fotografar:


“vira pra cá”, “ergue a faixa”,
“movimenta a bandeira”... Para
ele, o fotógrafo jamais deve
interferir em nada na ação.
Rafaela Felicciano, jovem
fotógrafa do portal de notícias
brasiliense Metrópoles,
ainda estava se recuperando
das agressões físicas e
psicológicas que sofreu de
um grupo de bolsonaristas
radicais no dia 8 de janeiro de
2023 (veja box) quando surgiu a discussão sobre
a foto de Lula em dupla exposição. Para ela, que
também faz imagens com essa técnica em alguns
casos, o debate é válido e pode ser positivo para
o fotojornalismo, só não concorda, como Ueslei
Marcelino, com o baixo nível de comentários
e ataques que Gabiela Biló sofreu. “Acho que
muitos ataques foram porque ela é mulher. Não
sei se fosse um homem o pessoal se comportaria
Acesse nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS2 do mesmo jeito. Nós estamos ocupando
espaço na fotografia, mostrando competência e
determinação. E isso incomoda certas pessoas”,
avalia Rafaela Felicciano.
Rafaela lembrou que Gabriela Biló, em
Matt Black/Magum Photos

2020, ainda como fotógrafa do Estadão, foi até o


endereço da extremista Sara Winter em Brasília
para acompanhar o trabalho da Polícia Federal
na intimação para ela prestar depoimento no
inquérito das fake news, em tramitação no STF.
A partir daí, Biló passou a ser atacada nas redes
sociais e teve seus dados vazados por uma conta
política, pregava contra o uso de dupla ou múltipla anônima no Twitter: RG, CPF, telefone, endereço
exposição em fotojornalismo. “Acho válido você e até uma foto da casa de sua família, em São
ter uma ideia para realizar uma foto em dupla Paulo (SP). “Foi muito difícil para ela, na ocasião,
exposição, mas aí entra em outro setor, de esse ataque da direita radical. Agora, volta a
montagem, de ilustração, de arte”, diz. Por outro sofrer com a esquerda radical. Somos tão poucas
lado, acha um absurdo que Biló tenha recebido mulheres no fotojornalismo e viramos alvo com
até ameaça de morte por causa da foto. “Pelo facilidade”, comenta a fotojornalista.
que observei, a Folha falhou em não proteger a Resiliente e segura, Gabriela Biló acredita
Biló. Ela ainda teve de explicar a técnica da dupla que usou a dupla exposição para fazer uma foto
exposição em vídeo nas redes sociais. Quem histórica de um momento muito tenso da política
deveria ter tomado à frente nas explicações é o brasileira, mesmo que contestada no meio do
secretário de redação do jornal”, opina Marcelino. fotojornalismo. “Não me arrependo de nada,
Ele também faz questão de pontuar que sei que não agi de forma antiética e estou com a
considera muito errado colegas que orientam as consciência tranquila”, resume.

50 FOTOGRAFE 317
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