Embriologia Descomplicada - Flavio Chame Barreto

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Flávio Chame Barreto

Embriologia descomplicada

Rio de Janeiro

Flavio Chame Barreto Ed.

2019
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9610 de
19/02/1998. É proibida a reprodução dessa obra, mesmo parcial, por
qualquer processo, sem prévia autorização, por escrito, do autor e
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B2751 – Barreto, Flavio C, 1956


Embriologia descomplicada

ISBN-13: 9781790169771

Flavio Chame Barreto. 2019


150 f.: il
1. Embriologia . 2. Aprendizagem. 3. Biologia.
II. Título.
CDD

Os créditos das imagens inseridas nessa obra foram


adaptadas do arquivo pessoal do autor ou originadas de Wikimedia
Commons, repositório da Wikimedia Foundation, disponíveis para
uso livremente em https://commons.wikimedia.org. Todas foram
utilizadas ou reaproveitadas para uso didático em conformidade
com a regulamentação legal da Licença Livre GNU Free
Documentation License.
Prefácio

A presente obra descreve os conteúdos da Embriologia


priorizando a simplificação da sua compreensão por meio de textos
explicativos e ilustrações didáticas.
Com uma abordagem bem mais simples e descomplicada dessa
vasta temática, este livro foi direcionado para professores e
estudantes de todos os níveis de Ensino.
Assim, a linguagem utilizada enfatizou uma didática para fácil
compreensão por qualquer leitor e, apesar de respeitar os termos
científicos da área, existiu uma preocupação em descrever suas
origens e funcionalidades com explicações textuais menos
complexas e ilustradas com imagens autoexplicativas.
Boa leitura.
O autor.
Sumário
INTRODUÇÃO
REPRODUÇÃO HUMANA
Sistema reprodutor masculino
Sistema reprodutor feminino
FORMAÇÃO DOS GAMETAS OU GAMETOGÊNESE
Espermatogênese
Ovogênese
FECUNDAÇÃO
Intercurso sexual e ejaculação
Da fecundação ao zigoto
Do zigoto à nidação
Hormônio Gonadotrofina Coriônica (hCG)
Folhetos germinativos
DETALHANDO O DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO
DETALHANDO O DESENVOLVIMENTO FETAL
PARTO
ANEXOS EMBRIONÁRIOS
Placenta
Decídua
Saco vitelino (ou Vesícula umbilical)
Alantoide
Âmnio
GÊMEOS
DISTÚRBIOS CONGÊNITOS E GENÉTICOS
Referências Bibliográficas
INTRODUÇÃO

A palavra embriologia em sua origem é formada pela


composição do termo grego en que significa “dentro”, do termo
grego bryein que significa “crescer” e do termo logos que indica
estudo.
Assim, a etimologia desse nome pode ser interpretada como o
estudo da formação de um indivíduo que cresce e se desenvolve
dentro de uma estrutura (nesse caso, dentro do útero humano).
Ou seja, é a denominação do estudo do produto da concepção
em toda sua extensão desde a formação do zigoto (que é a primeira
célula embrionária) passando pela formação da mórula que é o
primeiro aglomerado celular até a formação completa do indivíduo
por ocasião do parto.
Na espécie humana, o concepto recebe o nome de embrião
até a oitava semana de seu efetivo desenvolvimento, para, a seguir,
ser denominado como feto, até o parto lhe transformar em neonato.
O estudo da embriologia humana atualmente abrange tanto o
período embrionário quanto o fetal, considerando, em especial, a
formação e a estruturação dos órgãos e tecidos que gradativamente
irão compor o indivíduo que foi gerado.
Esta interessante formação a partir de uma célula que gera
tantas outras que, por sua vez, gradativamente se diferenciam,
ocorre precisamente conforme prévia determinação dos genes, das
moléculas de sinalização, dos receptores celulares e de outros
fatores moleculares na regulação do desenvolvimento embrionário.
Desta forma, o estudo e a compreensão desses processos são
fundamentais e enriquecedores para qualquer pessoa que se
interesse em apreender maiores saberes desta temática tão vasta.
REPRODUÇÃO HUMANA

A reprodução humana pressupõe maturidade e eficiência dos


órgãos reprodutivos que, em geral, passam a ser plenamente
funcionais a partir da puberdade.
Nesta fase surgem os caracteres sexuais secundários, como
por exemplo, a aparição dos pelos pubianos, geralmente entre os
doze e quinze anos de idade nas mulheres e entre os treze e
dezesseis anos nos homens.
A menarca que é a denominação da primeira menstruação
pode ocorrer já a partir dos oito anos de idade, contudo é mais
comum acontecer dos dez anos em diante. Enquanto nos homens, a
formação dos primeiros espermatozoides maduros, em geral,
começa dois anos mais tarde.
No sistema reprodutor masculino os órgãos genitais produzem
células germinativas que se diferenciam formando seus gametas
(espermatozoides) que precisam ser transportados desde suas
gônadas (testículos) até o local da fecundação na tuba uterina.
De modo análogo, no sistema reprodutor feminino as gônadas
(ovários), normalmente liberam um gameta (ovócito) a cada ciclo
menstrual para ser fecundado neste mesmo local.
Sistema reprodutor masculino

O sistema reprodutor masculino é formado pelos testículos


(ou gônadas), pelas vias espermáticas (epidídimo, canal deferente
e uretra), pênis, escroto e pelas glândulas anexas (próstata,
vesícula seminal e glândula bulbouretral).
Testículo é a designação de cada uma das gônadas
masculinas humanas e entre os vertebrados, o macho possui
habitualmente um par.
O nome deriva do termo em latim testiculu que significa
“pequena testemunha” que neste contexto pode ser interpretado
como a estrutura corporal que não toma parte ativa no ato da
cópula, mas a testemunha de perto.
São duas glândulas produtoras de espermatozoides e dos
hormônios que influenciam no desenvolvimento dos caracteres
sexuais secundários masculinos (crescimento dos pelos, timbre
mais grave da voz, barba, largura dos ossos, desenvolvimento
muscular etc.), contidas no interior do escroto ou bolsa escrotal e
suspensas pelos cordões espermáticos.
Durante a puberdade, os testículos crescem para dar início à
espermatogênese, que é a formação dos espermatozoides.
Os testículos são compostos por um emaranhado de tubos,
os túbulos seminíferos (ou ductos seminíferos), que por sua vez,
são formados e envoltos pelas células de Sértoli, epitélio
germinativo onde ocorrerá a formação dos espermatozoides.
No meio dos ductos seminíferos, existem as células
intersticiais ou células de Leydig que produzem os hormônios
sexuais masculinos, sobretudo a testosterona, responsáveis pelo
desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos e dos caracteres
sexuais secundários.
As funções das células de Sértoli incluem a proteção e
nutrição das células da linhagem espermatogênica (formação dos
espermatozoides), fagocitose de gametas danificados e restos
celulares e a secreção de um meio rico em frutose, que nutre e
facilita o transporte dos espermatozoides.
A atividade das células de Sértoli é regulada pelo hormônio
folículo estimulante (FSH sigla em inglês para follicle stimulating
hormone), enquanto as ações das células de Leydig são
controladas pelo hormônio luteinizante (LH sigla em inglês para
luteinizing hormone), ambas produzidas pela glândula pituitária
(hipófise).
Curiosamente, apesar do nome e dos hormônios FSH e LH
estarem intimamente ligados às funções ovarianas, como veremos
mais adiante, eles são produzidos por ambos os sexos, porém
atuam distintamente no homem e na mulher.
Na maioria dos mamíferos terrestres os testículos estão
localizados fora do corpo, suspensos pelo cordão espermático,
dentro do escroto. Isto se justifica, pois a eficiência da
espermatogênese (formação dos espermatozoides) é dependente
de uma temperatura menor 1 °C do que a temperatura corporal
normal, que é de 37 °C em humanos.
Desta forma o músculo cremastérico, que faz parte do
cordão espermático, se contrai quando a temperatura externa é
diminuída e assim, o testículo é movido em direção ao corpo,
elevando o calor local.
Do mesmo modo, quando é necessário o resfriamento, o
músculo cremastérico se relaxa e o testículo é abaixado e desta
forma se afasta do calor do corpo. Este fenômeno é chamado de
reflexo cremastérico.
Os testículos também podem ser elevados voluntariamente
por meio do músculo pubococcígeo.
Alguns mamíferos que possuem baixa temperatura corporal,
como os elefantes e os rinocerontes, não possuem sacos escrotais
externos, permanecendo seus testículos no interior do abdômen.
O principal hormônio produzido pelo testículo humano é a
testosterona cujo nome é uma composição do termo em latim
testiculu que significa “pequena testemunha”, do termo químico
ester que significa “abreviação de esteroide” e do termo químico ona
que significa “função cetona”.
A testosterona também é produzida, em menor escala, pelo
córtex das glândulas suprarrenais, sob o estímulo do hormônio
luteinizante (LH sigla em inglês para luteinizing hormone) liberado
pela adenoipófise.
No fígado, a testosterona é metabolizada, originando outros
hormônios androgênicos e também uma pequena porção de
hormônios femininos, razão pela qual os homens apresentam uma
pequena taxa de estrogênios no sangue circulante.
A testosterona é responsável pelo determinismo dos
caracteres sexuais secundários masculinos como a voz mais grave,
barba, distribuição de pelos pelo corpo etc., além, do
desenvolvimento dos órgãos sexuais.

Os epidídimos são dois tubos enovelados que partem dos


testículos, onde os espermatozoides produzidos no epitélio
germinativo são armazenados.
Este nome é a composição do termo grego epi que significa
“sobre” com o termo grego didymos que indica “testículos”. Ou seja,
uma estrutura situada acima dos testículos com uma pequena
formação oblonga da qual convergem os túbulos seminíferos.
Estes canais seminíferos também são chamados de tubos
seminíferos (ou túbulos seminíferos) e convergem para o
epidídimo correspondente.

Os canais deferentes são dois tubos que partem dos


testículos, circundam a bexiga urinária e unem-se ao ducto
ejaculatório, onde desembocam as vesículas seminais.
O termo em latim deferens significa “aquele que aceita”,
“aquele que recebe”, logo são canais que recebem algo e o
transfere para adiante. Neste caso é o canal condutor dos
espermatozoides que sai do epidídimo e vai se juntar com a
vesícula seminal correspondente, para formar o canal ejaculador.
O saco escrotal ou bolsa escrotal ou ainda escroto é uma
estrutura sacular que guarda os dois testículos. O nome escroto ou
escrotal se originou do latim scrotum que já indica a “bolsa
testicular” que, por sua vez, se derivou do termo scrautum que
denominava o “recipiente para portar flechas”.

Um espermatozoide leva aproximadamente setenta dias para


ser produzido. Como já foi descrito eles não podem se desenvolver
adequadamente na temperatura normal do corpo (36,5°C) e por
essa razão os testículos se localizam na parte externa do corpo,
dentro da bolsa escrotal, que assim tem a função de
termorregulação (aproximam ou afastam os testículos do corpo),
mantendo-os a uma temperatura geralmente em torno de 1 a 3 °C
abaixo da corporal.

Os espermatozóides permanecem imersos no sêmen que é


composto por líquidos produzidos pelas glândulas anexas, tais como
a vesícula seminal, a próstata e a glândula bulbouretral, também
conhecida como glândula de Cowper.

Cada homem normalmente possui duas vesículas seminais


que são responsáveis pela produção de um líquido, que será
liberado no ducto ejaculatório que, juntamente com o líquido
prostático e espermatozóides, entrarão na composição do sêmen. O
líquido das vesículas seminais age como fonte de energia para os
espermatozóides e é constituído principalmente por frutose, apesar
de conter fosfatos, nitrogênio, cloretos, colina, prostaglandinas e
enzimas (vesiculases).
O nome dessas vesículas foi inspirado na composição do
termo em latim semen que significa “semente” e do termo em latim
ferre que significa “que transporta”. Portanto é uma estrutura que
transporta o sêmen composta por delgadíssimos canais, muito
tortuosos e numerosos, na estrutura do parênquima testicular
(tecido próprio do órgão com células especializadas para a função a
que ele se destina), cujas paredes encerram, entre outras células,
algumas de natureza embrionária, chamadas células germinativas
primordiais.
Estas células em certo momento da vida do homem se
transformam em espermatogônias e desencadeiam o processo de
espermatogênese (formação dos espermatozoides)

A próstata é uma glândula com tamanho pouco maior que


uma noz, localizada abaixo da bexiga urinária, podendo ser sentida
através do exame de toque retal.
Esta localização possivelmente inspirou seu nome que se
derivou do termo grego prostates que significa “parado adiante”, ou
seja, nesse caso específico, “à frente dos testículos”. É um órgão
ímpar, de função glandular, exclusivo do sexo masculino que produz
uma secreção clara, aquosa que participa da formação do sêmen.
Ela produz de 10 até 30% do volume do fluido seminal, cujo
restante é produzido pelas duas vesículas seminais. Esse conteúdo
prostático secretado é rico em cálcio, zinco, ácido cítrico, fosfatase
ácida, albumina e de antígeno específico da próstata (PSA) com
natureza alcalina que neutraliza a acidez da urina e assim preserva
e ativa os espermatozóides.
Essa alcalinidade do fluido seminal, explicada pela
presença do antígeno prostático específico (PSA), também ajuda
a neutralizar a acidez do trato vaginal, ampliando a sobrevida e a
mobilidade dos espermatozóides.
A próstata também possui músculos lisos que auxiliam a
expelir o sêmen durante a ejaculação e sua regulação fisiológica é
dependente dos hormônios masculinos (andrógenos), em especial
da di-hidrotestosterona, um derivado da testosterona.

A glândula bulbouretral ou de Cowper produz uma


secreção transparente que é lançada dentro da uretra para limpá-la
e preparar a passagem dos espermatozóides. Também tem função
na lubrificação do pênis durante o ato sexual.

A uretra é comumente um canal destinado para a urina, mas


os músculos na entrada da bexiga se contraem durante a ereção
para que não haja misturas entre a urina e o sêmen. Todos os
espermatozóides não ejaculados são reabsorvidos pelo corpo.
O nome uretra é originado do termo grego ouréthra que
significa literalmente “desembocadura da urina”, sendo uma
estrutura exclusiva dos mamíferos que se abre para o meio externo
através do meato uretral.
No homem, é longa, passa por dentro da próstata, conduz a
urina e o esperma, e se situa, ao nível do pênis, ao longo e por
dentro do corpo esponjoso.
Na mulher, é curta, conduz unicamente urina (é independente
do sistema genital) e se abre no vestíbulo da vulva, à frente do
introito da vagina.

O pênis é o principal órgão do aparelho sexual masculino,


sendo formado por dois tipos de tecidos cilíndricos: um que forma os
dois corpos cavernosos e o outro que forma um corpo esponjoso
que envolve e protege a uretra.
Na extremidade do pênis encontra-se a glande (cabeça do
pênis), onde se encontra a abertura da uretra.
Com a manipulação da pele que a envolve chamada
prepúcio, acompanhado de estímulo erótico, ocorre a inundação
com sangue dos corpos cavernosos e esponjoso, tornando o pênis
rijo.
O prepúcio também serve para proteger o pênis do ambiente
externo, contudo, ao se deslocar para trás, expõe totalmente a
glande e normalmente permanece ligado na parte inferior do pênis
pelo freio.
Quando a glande não consegue ser exposta devido ao
estreitamento do prepúcio, diz-se que a pessoa tem fimose.
O nome do órgão copulador masculino é originado do termo
em latim penis que significa “pincel”. Ou seja, é um órgão cilíndrico
que se assemelha a um pincel, com um cabo e pelos em sua base
quando em estado erétil.

Situado adiante da sínfise pubiana masculina (na junção dos


ossos pubianos) é destinado a orientar e levar o sêmen para o
interior da vagina e ao colo uterino durante o coito.

A ereção deste órgão se faz por acúmulo de sangue nos


corpos cavernosos sob estímulo do sistema nervoso
parassimpático.
O pênis também é chamado popularmente por “falo”.
Sistema reprodutor feminino

O sistema reprodutor feminino está localizado no interior


da cavidade pélvica sendo constituído por dois ovários, duas tubas
uterinas (ou trompas de Falópio), um útero, uma vagina (ou canal
vaginal) e uma vulva.

A vagina é um canal de oito a dez centímetros de


comprimento, de paredes elásticas, que liga o colo do útero aos
genitais externos.

Contém de cada lado de sua abertura, porém internamente,


duas glândulas denominadas glândulas de Bartholin, que
secretam um muco lubrificante.
O nome desse canal se origina do termo em latim vagina que
significa “bainha da espada”, uma analogia com a bainha que
guarda a espada.
É um conduto muscular e membranoso que se estende, na
mulher, desde a vulva até o útero, à frente do reto e atrás da bexiga
urinária, no estreito inferior da pelve.
Atua como órgão copulador feminino e encerra, a uns dois
centímetros atrás da linha himenal (região onde se localiza
originalmente o hímem), uma área anular de alta sensibilidade
erotizante que em conjunto com o clitóris, representa um dos
principais pontos de excitação sexual feminino.

Na mulher que ainda não teve relações sexuais, a entrada da


vagina é normalmente protegida por uma membrana circular - o
hímen – uma película fina, com três milímetros de espessura que
fecha parcialmente o orifício vulvo-vaginal e é quase sempre
perfurado no centro, podendo ter formas diversas. Ele geralmente é
rompido na primeira relação sexual.
Originado do termo grego hymen que significa “membrana”,
ordinariamente obstrui em grande parte a entrada externa do canal
vaginal de alguns mamíferos, possivelmente com a função de
proteger as fêmeas durante a sua infância dos riscos de infecções
genitais.

Durante esta fase na vida das fêmeas o hímen geralmente se


apresenta como uma membrana relativamente espessa e resistente,
no entanto, com a aproximação da maturidade sexual ou da
puberdade essa membrana torna-se mais fina e menos resistente.

O seu rompimento pode provocar um pequeno sangramento


devido à ruptura dos capilares que irrigam a membrana, geralmente,
desacompanhados de dor ou ardor, ou quando estes sintomas estão
presentes, a sua intensidade geralmente não compromete à cópula,
caso haja adequada lubrificação do canal vaginal.
Em condições normais e adequadas, durante esse
rompimento raramente ocorre um grande sangramento, visto que
normalmente este é parcialmente estancado pela própria pressão do
pênis contra as paredes da vagina durante a cópula.
Contudo, todas essas condições e sintomas sempre estarão
intimamente relacionados com a espessura de cada hímen, da
lubrificação, da dilatação, do relaxamento entre outros fatores que
sempre serão diferentes em cada mulher.
Várias espécies de mamíferos, além do ser humano,
apresentam hímen em suas fêmeas como, por exemplo, a
chimpanzé, a girafa, a hiena, a porca, a ursa, a camela, a lhama, a
zebra, entre outras.
Pode ocorrer, mais raramente, o nascimento de uma mulher
com ausência do hímen, ou com o mesmo presente mais
imperfurado, ou ainda com um hímem complacente, que não se
rompe durante o coito, distendendo-se à entrada do pênis.
A genitália externa ou vulva é delimitada e protegida por
duas pregas cutâneo-mucosas intensamente irrigadas e inervadas
denominada grandes lábios.
Na mulher reprodutivamente madura estas grandes pregas
são recobertas externamente por pelos pubianos.

Mais internamente, existe outra prega cutâneo-mucosa que


envolve diretamente a abertura da vagina chamada pequenos
lábios que também protegem a abertura da uretra, localizada logo
acima da entrada do canal vaginal.
Na vulva também está o clitóris, formado por tecido
esponjoso erétil, homólogo ao pênis do homem e com muitas
terminações nervosas.
Originado do termo em latim vulva que indica “aquele que
envolve”, que neste caso, envolve a porção externa dos órgãos
genitais femininos, abrangendo os grandes e pequenos lábios, o
clitóris e o vestíbulo da vagina. Todos localizados em uma região
anatômica chamada períneo.
O útero é um órgão oco situado na cavidade pélvica feminina
atrás da bexiga urinária e à frente da porção final do intestino grosso
(reto), possui uma parede muscular espessa (miométrio) e
apresenta um formato de pera invertida.
É revestido internamente por um tecido vascularizado rico em
glândulas denominado endométrio (nome composto pelo termo
grego endo que significa “interno” e do termo grego metra que
significa “útero”).
Sua porção mais estreita, chamada colo uterino ou cérvix
(nome derivado do termo em latim cervix que significa “pescoço”,
“colo”) fica voltada para o interior da vagina. Lateralmente, no útero,
se inserem as trompas de Falópio ou tubas uterinas, uma a cada
lado.
Ele é sustentado e mantido em sua posição por ligamentos
fibromembranosos (ligamento largo, ligamento redondo e ligamento
útero-sacro), que também sustentam os ovários e as trompas.
Originado do termo em latim uterus que literalmente significa
“útero” é um componente exclusivo e integrante do aparelho ou
sistema genital das fêmeas de quase todos os mamíferos (exceção
única feita aos monotremados) destinado a abrigar o concepto,
desde a nidação do ovo até o fim da gestação e respectivo parto.
O revestimento interno, chamado endométrio, passa por
descartes periódicos, que caracterizam os ciclos menstruais, nas
mulheres, e o cio nas fêmeas dos demais mamíferos.
A maior parte da estrutura da parede do útero chama-se
miométrio que é uma camada muscular situada entre o
endométrio (mucosa mais interna do útero) e o tecido seroso mais
externo.
O miométrio é formado por tecido muscular liso e seu nome
é composto pelo termo grego mys que significa “músculo” e do
termo grego metra que significa “útero”.
O tecido seroso mais externo do útero e de seus anexos
chama-se paramétrio (nome composto pelo termo grego para que
significa “ao lado” e do termo grego metra que significa “útero”).

Os ovários são as gônadas femininas que armazenam os


ovócitos (futuros óvulos) e também produzem estrógeno e
progesterona, os hormônios sexuais femininos.
O nome ovário é originado do termo em latim ovariu que
significa “oveira”, “cesto que guarda ovos”, algo bem pertinente já
que nos vertebrados, procede como glândula mista, produzindo os
gametas femininos (função exócrina) e também segregando seus
hormônios (função endócrina).
No final do desenvolvimento embrionário de uma menina,
ela já tem todas as células que irão transformar-se em gametas
nos seus dois ovários.
Estas células são chamadas de ovócitos primários e
encontram-se dentro de estruturas denominadas folículos de Graaf
ou folículos ovarianos.
A partir da adolescência, sob ação hormonal, os folículos
ovarianos começam a crescer e a se desenvolver. Durante esse
desenvolvimento secretam o hormônio estrógeno.
Mensalmente, apenas um folículo geralmente completa a
maturação, rompendo-se e liberando o ovócito secundário
(gameta feminino) em um fenômeno conhecido como ovulação.
Após seu rompimento, a massa celular resultante transforma-
se em corpo lúteo ou corpo amarelo, que passa a secretar os
hormônios progesterona e estrógeno.

Com o tempo, caso o ovócito não seja fecundado, o corpo


lúteo regride e converte-se em corpo albicans ou corpo branco.
Essa degeneração do corpo lúteo se inicia entre dez a doze
dias após a ovulação, quando passa a ser chamado de corpo lúteo
da menstruação transformado em uma cicatriz branca no ovário, o
que justifica o nome corpo albicans ou corpo branco.
O gameta feminino liberado na superfície de um dos ovários
é recolhido por finas terminações das tubas uterinas chamadas
fímbrias.
As tubas uterinas, ovidutos ou trompas de Falópio são
dois ductos que unem o ovário ao útero. Seu epitélio de
revestimento é formado por células ciliadas.
Os batimentos dos cílios microscópicos e os movimentos
peristálticos das tubas uterinas impelem o gameta feminino até o
útero.

Os dois principais hormônios ovarianos, o estrogênio e a


progesterona, são responsáveis pelo desenvolvimento sexual da
mulher e pelo ciclo menstrual.
Esses dois hormônios possuem estruturas químicas
assemelhadas e da mesma forma como os hormônios
adrenocorticais e o hormônio masculino testosterona, são ambos
compostos esteroides, formados, principalmente, a partir da
estrutura primária do colesterol.
O estrogênio é a designação de um grupo de hormônios
sexuais femininos representados principalmente pelo estradiol (ou
foliculina) e também pelo estriol e a estrona, produzidos em grande
parte pelos folículos ovarianos (ou folículos de Graaf).
Esse nome é uma composição do termo em latim oestrus que
significa “mosca tavão” (que originou o vocábulo estro indicando
excitação do instinto sexual e cio) e do termo grego genos que
significa “produção”. Ou seja, a origem da palavra pode ser
interpretada como a produção de um composto com importante
papel no instinto sexual feminino.
Os estrogênios ou estrógenos são, realmente, vários
hormônios diferentes chamados estradiol, estriol e estrona, mas
que têm funções idênticas e estruturas químicas muito semelhantes,
logo, são considerados genericamente como um único hormônio.
O estrogênio provoca o aumento da vagina e o
desenvolvimento dos lábios que a circundam, faz o púbis se cobrir
de pêlos, os quadris se alargarem e o estreito pélvico assumir a
forma ovóide, em vez de afunilada como no homem.
Também provoca o desenvolvimento das mamas, a
proliferação dos seus elementos glandulares e finalmente, leva o
tecido adiposo a concentrar-se em áreas como os quadris e coxas,
dando-lhes o arredondamento típico do sexo feminino.
O estrogênio tem efeitos muito importantes no revestimento
interno do útero, o endométrio, no ciclo menstrual e também
estimula o crescimento de todos os ossos logo após a puberdade,
mas promove rápida calcificação óssea.

A mulher nessa fase cresce mais rapidamente que o homem,


porém esse crescimento se reduz após os primeiros anos da
puberdade. Por outro lado, o homem tem um crescimento menos
rápido, porém mais prolongado durante esse período, de modo que
ele assume uma estatura maior que a da mulher.

A progesterona está relacionada com a preparação do útero


para a aceitação do embrião e à preparação das mamas para a
secreção láctea (o nome se inspirou na sua função específica pró -
gestação).
Em geral, aumenta o grau da atividade secretória das
glândulas mamárias e, também, das células que revestem a parede
uterina, acentuando o espessamento do endométrio e fazendo
com que ele seja intensamente invadido por vasos sanguíneos.
Determina, ainda, o surgimento de numerosas glândulas
produtoras de glicogênio e finalmente, a progesterona inibe as
contrações do útero e impede a expulsão do embrião que está se
implantando ou do feto em desenvolvimento.
Deste modo, o nome progesterona se justifica plenamente
sendo a composição do termo grego pro que significa “anterior”, de
parte do termo em latim gestatione que significa “gestação”, do
termo químico ester que indica “esteroide” e do sufixo químico ona
que indica “cetona”.

O ciclo menstrual na mulher é regulado pela secreção


alternada dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e
luteinizante (LH) pela hipófise o que resulta na respectiva
produção pelos ovários dos hormônios estrogênios e
progesterona.
No 1º dia do ciclo menstrual o endométrio desenvolvido,
espesso e vascularizado começa a descamar iniciando o evento
conhecido por menstruação.
Também conhecido como mênstruo, catamênio ou
popularmente por regra, a menstruação se caracteriza por um fluxo
sanguíneo proveniente do útero que ocorre, em condições
fisiológicas, periodicamente, nas mulheres, durante toda a fase fértil
da vida, à exceção dos períodos de gestação e de lactação.
O nome menstruação é composto pelo termo grego mén que
significa “mês”, do termo grego struere que significa “fluir” e do
sufixo em latim action que indica “ação de”, logo, esta palavra pode
ser naturalmente interpretada como um fluxo que ocorre
mensalmente.

A partir do primeiro dia da menstruação a hipófise aumenta


a produção do hormônio folículo-estimulante (FSH), que atinge a
concentração máxima entre o 7º e o 14º dia do ciclo.
Durante essa fase, graças à estimulação do FSH, ocorre o
amadurecimento dos folículos ovarianos e consequentemente
ocorre a secreção de estrógeno pelo folículo em desenvolvimento
que estimula o crescimento do endométrio.
A concentração alta de estrógeno por sua vez, começa a
inibir (por feedback) a secreção de FSH e estimula o início da
secreção do hormônio luteinizante (LH) pela hipófise.
Um pico repentino na concentração de LH estimula a
ovulação (por volta do 14º dia de um ciclo regular de 28 dias).
De modo assemelhado, posteriormente a alta e crescente
taxa de LH estimula a formação do corpo lúteo ou amarelo no
folículo ovariano que por sua vez, inicia uma maior produção de
progesterona e também de estrogênio o que estimula as
glândulas do endométrio a secretarem seus produtos.
Por volta do 28º dia, caso não haja a fecundação do ovócito
liberado, o aumento dos níveis da progesterona inibe a
produção de LH e FSH (também por feedback) e o corpo lúteo
regride.

Assim, ao diminuir a concentração de progesterona


ocorre uma nova menstruação.
Isto ocorre porque este hormônio está intimamente
relacionado com a manutenção do espessamento e vascularização
do endométrio, inibindo contrações uterinas que expulsariam um
possível embrião recém implantado nele.

O ciclo de fenômenos que induzem a secreção alternada dos


hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH) pela
hipófise, e consequentemente dos estrogênios e progesterona
pelos ovários tem a possível explicação:

1. No começo do ciclo menstrual, isto é, quando a


menstruação se inicia, a hipófise secreta maiores quantidades de
hormônio folículo-estimulante (FSH) juntamente com pequenas
quantidades de hormônio luteinizante (LH).
Juntos, esses hormônios promovem o crescimento de
diversos folículos nos ovários e acarretam uma secreção
considerável de estrogênio.
2. Acredita-se que o estrogênio tenha, então, dois efeitos
sequenciais sobre a secreção da hipófise. Primeiro, inibiria a
secreção dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e
luteinizante (LH), fazendo com que suas taxas declinassem a um
mínimo por volta do décimo dia do ciclo.
Depois, subitamente a hipófise começaria a secretar
quantidades muito elevadas de ambos os hormônios, mas
principalmente do hormônio luteinizante (LH).
É essa fase de aumento súbito da secreção que provoca o
rápido desenvolvimento final de um dos folículos ovarianos e a
sua ruptura dentro de cerca de dois dias (ovulação).

3. O processo de ovulação, que ocorre por volta do décimo


quarto dia de um ciclo normal de 28 dias, a partir de um pico nos
níveis de LH, conduz ao desenvolvimento do corpo lúteo ou
corpo amarelo, que secreta quantidades elevadas de
progesterona e quantidades consideráveis de estrogênio.

4. O estrogênio e a progesterona secretados pelo corpo


lúteo inibem novamente a hipófise, diminuindo a taxa de secreção
dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH).
Sem esses hormônios para estimulá-lo, o corpo lúteo
regride, de modo que a secreção de estrogênio e progesterona
cai para níveis muito baixos.
É nesse momento que a menstruação se inicia, provocada
por esse súbito declínio na secreção de ambos os hormônios, mas
em especial, da progesterona.

5. Nesse momento, a hipófise, que estava inibida pelos altos


níveis de estrogênio e pela progesterona, começa a secretar outra
vez grandes quantidades de hormônio folículo-estimulante (FSH),
iniciando um novo ciclo.
A hipófise por sua vez, é controlada pelo GnRH, liberado
pelo hipotálamo que estimula a liberação de FSH e LH
continuamente durante toda a vida reprodutiva da mulher.
Isto ocorre ciclicamente, repetindo-se, em geral, a cada ciclo
lunar mensal, ou seja, a cada 28 dias.
Levando em conta um ciclo menstrual regular de 28 dias, o
cálculo do período fértil deverá sempre considerar o dia provável
da futura ovulação e estabelecer um intervalo a partir dele (quatro
dias antes e quatro depois).
Esse intervalo se justifica porque prevê uma sobrevida de
ambos os gametas (espermatozoides e ovócito) nas proximidades
do dia da ovulação, assim como a possibilidade de qualquer
adiantamento ou atraso desse evento.
Por exemplo, se uma mulher é fértil durante
aproximadamente nove dias por ciclo e seu último ciclo iniciou-se
em um hipotético dia 22 de setembro, podemos calcular seu período
fértil da seguinte maneira:
Considerando o primeiro dia do ciclo (1º dia de sua última
menstruação) como 22/09 e que seu ciclo é de 28 dias, teremos no
calendário a seguinte sequencia de dias:
22 23 24 25 26
27 28 29 30 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
13 14 15 16 17 18 19...

Logo, como a ovulação ocorre 14 dias após o 1º dia de


sua última menstruação (ou 14 dias antes da próxima menstruação),
esta se dará possivelmente no dia 05/10, ou seja, este será o
provável dia de ovulação.
Como o período fértil localiza-se entre quatro dias antes e
quatro dias após a ovulação, então este período fértil
possivelmente será do dia 01/10 até o dia 09/10.
Esta mulher, caso não engravide nesse ciclo, provavelmente
menstruará novamente no dia 19/10 (28 dias depois do primeiro dia
da última menstruação).
No caso de ciclos irregulares, convém fazer uma média da
sua duração considerando pelo menos seis ciclos mensais e após
encontrá-la, calcular o período fértil.
Nestes casos deve-se atentar que se a média encontrada
indicar um ciclo mais longo, isto possivelmente sinaliza que a
ovulação está ocorrendo mais tardiamente. Pelo mesmo raciocínio
se ele se mostrar mais curto, pode indicar que a ovulação esta
ocorrendo mais cedo.
Como após a ovulação, o período de catorze dias de
atividade do corpo lúteo é praticamente estável, basta contar esse
intervalo de tempo (duas semanas), retroativamente a partir da data
provável da futura menstruação para se estabelecer a possível data
da ovulação e seu respectivo período fértil.
Por exemplo, se a média indicar que o ciclo irregular
apresenta intervalos de 29 dias e que o último ciclo iniciou-se em
um hipotético dia 22 de setembro, então a próxima menstruação
deverá ocorrer 20 de outubro (29º dia depois).
Contando 14 dias retroativamente a partir de 20 de outubro
encontraremos o dia 06/10 como o dia provável da próxima
ovulação deste ciclo iniciado em 22 de setembro.
22 23 24
25 26 27 28 29 30 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
13 14 15 16 17 18 19 20 ...

Da mesma forma, como o período fértil localiza-se entre


quatro dias antes e quatro dias após a ovulação (neste caso
06/10), então este período fértil possivelmente será do dia 02/10
até o dia 10/10.
Esta mulher, caso não engravide nesse ciclo, provavelmente
menstruará novamente ao entorno do dia 20/10 (29 dias depois do
primeiro dia da última menstruação).

Convém destacar que irregularidades nos ciclos menstruais


são muito comuns após a menarca, no início da adolescência e no
período que antecede a menopausa. Porém, também podem
ocorrer, eventualmente, durante toda vida reprodutiva de uma
mulher, resultantes de vários fatores, como por exemplo,
desequilíbrios hormonais, situações de estresses, condições
nutricionais, processos infecciosos ou medicamentosos, entre
muitos outros que podem influir alterando pontualmente a
regularidade normal de um ciclo.
Concluindo, o ciclo menstrual pode ser dividido em quatro
fases:
1 - Fase menstrual: corresponde aos dias de menstruação e
dura cerca de 3 a 7 dias, geralmente.

2 - Fase proliferativa ou estrogênica: período de secreção


de estrógeno pelo folículo ovariano, que se encontra em maturação.

3 - Fase secretora ou lútea: o final da fase proliferativa e o


início da fase secretora são marcados pela ovulação. Essa fase é
caracterizada pela intensa ação do corpo lúteo.

4 - Fase pré-menstrual ou isquêmica: período de queda


das concentrações dos hormônios ovarianos, quando a camada
superficial do endométrio perde seu suprimento sanguíneo normal e
a mulher está prestes a menstruar.
Dura cerca de dois dias, podendo ser acompanhada por dor
de cabeça, dor nas mamas, alterações psíquicas, como irritabilidade
e insônia (TPM ou Tensão Pré-Menstrual).
FORMAÇÃO DOS GAMETAS OU GAMETOGÊNESE
A formação dos gametas decorre de um tipo de divisão celular
denominada meiose, cuja origem do termo provem do grego
meiosis que significa “divisão ao meio”.
Isto porque esta divisão celular é composta por duas etapas
(divisões) sucessivas, com o objetivo de formar, a partir de uma
célula diploide (com 2n cromossomas), quatro células haploides
(com n cromossomas), geneticamente diferentes entre si.
Cromossoma ou cromossomo é a designação de uma
estrutura nuclear que surge durante a mitose pela espiralização dos
cromonemas que encerram os genes, elementos responsáveis pela
transmissão dos caracteres hereditários. No caso dos seres
humanos normalmente existem 23 pares deles resguardados nos
núcleos de cada uma de suas células.
Apenas a título de informação, neste livro adotaremos somente
a forma cromossoma que é a composição original do termo grego
khroma que significa “cor” e do termo grego soma que significa
“corpo”, isto devido a característica dela ser uma estrutura que se
cora facilmente com corantes básicos para ser visualizada no
microscópio o que inspirou este nome. Contudo, ressaltamos que a
forma cromossomo também está correta e seu uso já foi aceito por
inúmeros autores.
Veremos que na oogênese (formação do ovócito) das quatro
novas células haploides que se formam apenas uma se torna viável,
enquanto na espermatogênese (formação dos espermatozoides),
todas as quatro novas células são funcionais.
Nas duas etapas de uma meiose sucedem-se uma divisão
reducional, em primeiro lugar, e uma divisão equacional, em
seguida.
Na primeira divisão (a reducional), uma célula diploide (com
2n cromossomas) já origina duas células haploides (com n
cromossomas).
Em seguida, na segunda divisão (a equacional), cada uma
das duas novas células haploides forma mais duas outras
células igualmente haploides, totalizando ao final quatro células
haploides.
Se não ocorresse a redução numérica de cromossomas
durante a meiose, os gametas seriam diploides (2n) e, pela união
de dois deles, resultaria um indivíduo tetraploide (4n) e a cada
geração, o número de cromossomas duplicaria nas células
somáticas dos indivíduos.
A primeira divisão meiótica (a reducional) é denominada de
meiose I e se subdivide em quatro etapas: prófase I, metáfase I,
anáfase I e telófase I, que ao final origina duas células haploides
(com n cromossomas).
A segunda divisão (a equacional) é denominada de meiose
II e também se subdivide em quatro etapas: prófase II, metáfase II,
anáfase II e telófase II, formando ao final, quatro células
haploides no total.
A prófase I (na primeira divisão reducional da meiose) é mais
longa sendo dividida em cinco subfases: leptóteno, zigóteno,
paquíteno, diplóteno e diacinese.
O leptóteno é a primeira etapa da prófase I da meiose,
quando cada filamento começa a se espiralizar e passa a se
individualizar dentro do núcleo, ainda como fios longos e finos, mas
que devido à espiralização começa a engrossar formando cada
cromonema.
Na sequencia, no zigóteno os cromonemas se juntam aos
pares em uma estrutura que se assemelha a um zíper e na fase
seguinte chamada paquíteno, estes cromonemas alcançam o seu
maior grau de espessamento passando então a se denominar
cromátides.
Nessa fase (paquíteno) também é onde se inicia o fenômeno
mais importante da meiose, chamado crossing over que é
responsável pela distinção e variabilidade dos seres vivos
eucarióticos. O crossing over é o entrelaçamento de suas
cromátides homólogas (porém não irmãs) com permuta de
segmentos ou de genes (permutação gênica) entre elas.
Este fenômeno se encerra no início da fase seguinte
denominada diplóteno, quando os cromossomas homólogos, que já
realizaram o crossing over, começam a se separar, deixando ver
nitidamente as zonas de entrelaçamento, chamadas quiasmas.
Finalmente na diacinese se verifica o término dos quiasmas e
a separação completa dos cromossomas homólogos. Nesta fase
(diacinese), que encerra a prófase I, também ocorre o desmonte
da cariomembrana (carioteca) permitindo que o material nuclear se
difunda pelo conteúdo do citoplasma.

Na metáfase I os cromossomas se dispõem na região


mediana da célula (região equatorial) formando a placa equatorial e
ligam-se aos microtúbulos do fuso acromático pelo centrômero, com
estes voltados para os polos opostos.
A anáfase I é caracterizada pelo deslocamento dos
cromossomas homólogos para polos opostos na célula, pela ação
dos microtúbulos (que se despolimerizam “puxando” os
cromossomas pelos centrômeros). Neste caso, diferente do que
ocorre na mitose, as cromátides irmãs não se separam.
O que ocorre é a disjunção dos pares homólogos duplicados
(constituídos por duas cromátides unidas pelo centrômero).
A última fase da primeira divisão (a reducional) da meiose I
chama-se telófase I que é caracterizada pela formação de dois
núcleos com metade do número de cromossomas.
Posteriormente ocorre a separação e divisão do citoplasma o
que leva à formação de duas células em um processo denominado
citocinese ou citodiérese.
Entre a meiose I e a meiose II ocorre um pequeno intervalo
que alguns autores denominam de intercinese, contudo, nesse
momento não ocorre duplicação de DNA.
Na segunda divisão meiótica (meiose II ou divisão
equacional) a prófase II é mais rápida que a prófase I. Os
cromossomas tornam-se novamente mais condensados (caso
tenham se descondensado na telófase I), desaparece a membrana
nuclear e forma-se o fuso acromático.
Depois na metáfase II, os cromossomas ficam dispostos com
os centrômeros no plano equatorial de cada célula, com
as cromátides voltadas cada uma para seu polo, ligadas aos
microtúbulos do fuso acromático.
Na anáfase II, finalmente separam-se as duas cromátides
irmãs, que passam a formar dois cromossomas independentes que
ascendem para os polos opostos. A anáfase II começa pela
duplicação dos centrômeros, libertando as cromátides e em seguida,
os microtúbulos se encurtam, puxando-as para os polos do fuso.
Na telófase II ocorre o reaparecimento da cariomembrana
(carioteca), nucléolo e a descondensação dos respectivos
cromossomas, e por fim na citocinese ou citodiérese ocorre a
divisão citoplasmática quando se formam quatro células filhas
haploides contendo cada uma apenas um cromossoma de cada par
de cromossomas homólogos.
Essa divisão meiótica que resulta na formação dos gametas
recebe o nome de espermatogênese nos homens, enquanto nas
mulheres é chamada de ovogênese.
Espermatogênese
A espermatogênese ocorre nos testículos (gônadas
masculinas), cujas células estão organizadas ao redor dos túbulos
seminíferos, nos quais os espermatozóides são produzidos.
A espermatogênese pode ser dividida em fases:
1- a Fase de proliferação ou de multiplicação que tem início
durante a vida intrauterina, antes mesmo do nascimento do menino,
e se prolonga praticamente por toda a vida.
Nesta fase as células primordiais dos testículos, diplóides
(2n), aumentam em quantidade por mitoses consecutivas e formam
as espermatogônias que ainda diploides (2n).
2- a Fase de crescimento na qual ocorre um pequeno
aumento no volume do citoplasma das espermatogônias que as
converte em espermatócitos primários ou espermatócitos I,
também diplóides (2n).
3- a Fase de maturação que corresponde ao efetivo período
de ocorrência da meiose. Depois da primeira divisão meiótica, cada
espermatócito primário origina dois espermatócitos secundários
ou espermatócitos II.
Como resultam da primeira divisão da meiose, ambos já são
haplóides (n), embora possuam cromossomas duplicados. Assim,
na segunda divisão meiótica, os dois espermatócitos secundários
originam, ao final, quatro espermátides haplóides (n).
4- a Fase da Espermiogênese ou Fase de Diferenciação
finalmente converte as espermátides em espermatozóides,
perdendo quase todo o citoplasma e as vesículas do complexo de
Golgi fundem-se, formando o acrossomo.
Localizado na extremidade anterior dos espermatozóides ele
contém enzimas proteolíticas (acrosina, esterases,
neuraminidases e hialuronidase) que perfurarão as membranas do
óvulo, na fecundação.
Da mesma forma os centríolos migram para a região
imediatamente posterior ao núcleo da espermátide e participam da
formação do flagelo, estrutura responsável pela movimentação dos
espermatozoides.
Uma grande quantidade de mitocôndrias, responsáveis pela
respiração celular e pela produção de ATP, concentram-se na região
entre a cabeça e o flagelo, conhecida como peça intermediária.
Ovogênese

A ovogênese ocorre nos ovários (gônadas femininas) e


também pode ser dividida em fases:

1 – a Fase de multiplicação ou de proliferação na qual


ocorrem mitoses consecutivas, quando as células germinativas
aumentam em quantidade e originam ovogônias.
Nos fetos femininos, a fase proliferativa termina no final do
primeiro trimestre da gestação.
Portanto, quando uma menina nasce, já possui em seus
ovários cerca de 400.000 folículos de Graff.
É uma quantidade limitada, ao contrário dos homens, que
produzem espermatogônias durante quase toda a vida.
Logo que são formadas, as ovogônias iniciam a primeira
divisão da meiose que é interrompida na sua prófase I,
retornando apenas a partir da puberdade.

2- a Fase de crescimento ocorre durante esta fase de


latência que dura do primeiro trimestre da gestação até o início da
puberdade.
Nesse intervalo de tempo passam, então, por um notável
crescimento, com aumento do citoplasma e grande acumulação
de substâncias nutritivas.
Esse depósito citoplasmático de nutrientes chama-se vitelo,
e será responsável pela nutrição do embrião durante seu
desenvolvimento.
Terminada esta fase de crescimento, as ovogônias tornam-se
ovócitos primários (ou ovócitos I).
Essa fase de crescimento perdura até a puberdade, quando a
menina inicia a sua maturidade sexual e dos 400.000 ovócitos
primários (diploides), apenas 350 ou 400 completarão sua
transformação em gametas maduros (haploides), e normalmente
somente um em cada ciclo menstrual se libera do folículo que o
contém, no evento chamado ovulação.

3- a Fase de maturação inicia-se quando a menina alcança


a maturidade sexual, por volta de 11 a 15 anos de idade, quando o
ovócito primário (diploide) completa a primeira divisão da
meiose, interrompida na prófase I (ainda no primeiro trimestre do
desenvolvimento fetal desta menina) e origina duas células
(haploides).
Uma delas praticamente não recebe citoplasma e desintegra-
se a seguir, na maioria das vezes sem iniciar a segunda divisão da
meiose.
É o primeiro corpúsculo ou glóbulo polar.
A outra célula, grande e rica em vitelo é chamada ovócito
secundário ou ovócito II e ao completar a 2ª divisão da meiose
também origina um segundo corpúsculo polar, que também se
degenera em pouco tempo, restando apenas um ovócito haploide,
grande e rico em vitelo.
Assim, ao final da meiose de cada célula germinativa
diplóide feminina inicial, resulta apenas um ovócito haplóide
apto a ser fecundado. Um resultado diferente daquele que ocorre
com as células germinativas diplóide masculinas, onde cada
uma normalmente gera quatro espermatozóides funcionais.
A maior aquisição de citoplasma durante as duas divisões
meióticas do ovócito também explica o tamanho desproporcional do
gameta feminino, que neste caso é bem maior quando comparado
ao seu análogo masculino.
FECUNDAÇÃO

Intercurso sexual e ejaculação

A reprodução humana, em geral, depende de um intercurso


sexual entre um homem e uma mulher cuja relação, normalmente,
resulta de uma atração entre eles e também, geralmente, carrega
um elevado grau de excitação sexual durante o coito.
No homem, seu ápice de prazer corresponde ao momento
da ejaculação e na mulher, a um estado de contração espasmódica
da musculatura uterina e vaginal, intimamente ligada à liberação de
prostaglandinas.
Após esse clímax prazeroso decorre um decréscimo nas
contrações e um posterior relaxamento muscular.
Tanto a atração sexual quanto a expectativa de um prazer
incomum propiciado durante o coito possivelmente se justificam
biologicamente para que se ampliem as possibilidades de ocorrer
um sucesso reprodutivo garantindo a perpetuação da espécie
humana.
A sensação de prazer varia conforme o gênero, sendo mais
comum e padronizada nos homens, mas tende a apresentar uma
maior complexidade nas mulheres. Contudo, seu ápice sempre é
resultante de uma intensa descarga de neurotransmissores tais
como noradrenalina, adrenalina, serotonina e dopamina que
estimulam a produção e liberação de endorfinas que amplificam esta
prazerosa sensação.
Como a prática sexual, envolve diferentes interferências
físicas, psicológicas, biológicas, sociais e culturais, não é incomum o
orgasmo não ser alcançado, em determinadas situações, por ambos
os sexos. Porém, esta ausência não interfere em uma possível
fecundação, caso, os fatores fisiológicos necessários para que ela
ocorra, estejam presentes.
Como resposta a excitação, geralmente o pênis fica ereto e
intumescido no homem e de forma análoga, o clitóris no corpo da
mulher.

Neste momento também há a produção de um muco


lubrificante liberado pelas glândulas de Bartholin no canal vaginal,
aumento da concentração sanguínea na região pélvica, perianal e
vaginal, ereção e hipersensibilidade dos mamilos e aumento de
frequência cardíaca e respiratória em ambos participantes do ato
sexual.

Em cada cópula podem ser depositados de duzentos até


seiscentos milhões de espermatozoides no interior da vagina,
contudo a maioria deles provavelmente não sobrevive por mais de
48 horas no trato genital feminino.
Alguns são armazenados nas pregas da mucosa do colo
uterino e gradualmente são liberados para o canal cervical,
atravessam o útero e seguem para as tubas uterinas.
Este curto armazenamento dos espermatozóides no colo
proporciona sua liberação gradual (durante a sua sobrevida de 24
até 48 horas) aumentando assim as chances de fertilização.
O fluido viscoso que compõem o líquido seminal, além de
facilitar a relação sexual, também auxilia na sua ancoragem nas
pregas da mucosa do canal vaginal e do colo uterino.
O ovócito secundário é expelido do folículo ovariano com
o fluído folicular durante a ovulação que ocorre por volta do décimo
quarto dia (14º dia) de um ciclo regular composto por vinte e oito
dias.
As estruturas ciliares das fímbrias das tubas uterinas
movem-se para frente e para traz. Esta ação de varredura dos cílios
destas células adicionada à ação do fluído folicular, facilitam a
captação do ovócito pela tuba.
Durante uma cópula, normalmente os espermatozoides são
depositados no interior da vagina e parte deles passa pelo canal
cervical (através do cérvix ou colo do útero) por meio dos
movimentos de suas caudas.
Adicionalmente a enzima vesiculase, produzida pela
vesícula seminal, coagula uma parte do sêmen liberado no
intercurso sexual e forma um tampão em torno do colo uterino, o
que parcialmente impede o refluxo completo do sêmen, do canal
cervical para a vagina.
Assim, uma grande parte dos espermatozoides liberados no
canal vaginal consegue migrar do colo uterino em direção à tuba
uterina, em busca do ovócito.
Da fecundação ao zigoto

A fecundação compreende todos os eventos desde a


penetração na zona pelúcida da membrana do ovócito pelo
acrossomo do espermatozoide até a união dos cromossomas do
espermatozoide e do óvulo em um só núcleo, restaurando o
número diploide de cromossomas (2n).
Esta fertilização desencadeia uma gravidez que, em geral,
deve durar normalmente entre 39 e 40 semanas, ou 280 dias,
contando a partir do início do último período menstrual.
A fecundação necessita da passagem do espermatozoide
através da zona pelúcida e por uma ou mais camadas de células
foliculares, as quais se arranjam radialmente, conhecidas como
corona radiata.

Aparentemente o pico do hormônio luteinizante (LH) que


ocorre previamente à ovulação parece que induz também o término
da primeira divisão meiótica do ovócito primário (diploide)
formando dois ovócitos secundários (haploides).
Logo, os folículos ovarianos maduros que se rompem na
ovulação já contêm ovócitos secundários.
A dispersão das células foliculares da corona radiata que
circunda o ovócito secundário e da zona pelúcida parece ser
resultado principalmente da ação da enzima hialuronidase,
liberada do acrossomo do espermatozoide.

As enzimas da mucosa tubária também parecem auxiliar


nesta dispersão e os movimentos da cauda do espermatozóide
também são importantes para sua penetração.
Após a penetração ocorre a fusão das membranas
plasmáticas do ovócito e espermatozóide.
A cabeça e a cauda do espermatozóide entram no
citoplasma do ovócito, mas a membrana plasmática do
espermatozóide fica para trás.
Nesse momento termina a segunda divisão meiótica e
formação do pronúcleo feminino.
A penetração do ovócito pelo espermatozóide estimula o
ovócito a finalmente completar a segunda divisão meiótica,
formando um ovócito maduro e o segundo corpo polar.

A seguir os cromossomas se descondensam e o núcleo do


ovócito torna-se o pronúcleo feminino. Ao mesmo tempo o núcleo
do espermatozóide aumenta e forma o pronúcleo masculino e a
cauda se degenera.
Assim, o ovócito contendo os dois pronúcleos
haplóides é chamado de oótide. Logo que eles se fundem em uma
agregação de cromossomas única e diploide, a oótide, enfim,
torna-se zigoto e os cromossomas arranjam-se em um fuso de
clivagem na preparação para a primeira divisão do zigoto.
Do zigoto à nidação

A partir daí, a fase imediatamente posterior se denomina


desenvolvimento embrionário, ou seja, o Embrião se forma a
partir desta primeira célula diploide (zigoto).
Enquanto percorre a tuba uterina, o zigoto inicia divisões
mitóticas denominadas clivagens que o leva a um estágio
multicelular conhecido como blástula, possuindo células chamadas
blastômeros.
Cerca de três dias depois da fertilização, uma esfera de
doze a dezesseis blastômeros iguais, chamada mórula penetra
no útero.
A mórula continua sofrendo transformações e se enche de
líquidos, tornando-se um blastocisto, preparando-se para, por volta
do sétimo dia após a fertilização, se prender no endométrio em
um processo conhecido por nidação (implantação do embrião).
Após a mórula se tornar blastocisto, este começa a
encher-se de líquidos que ocupam os espaços intercelulares e à
medida que a quantidade de líquidos aumenta as células se dividem
em duas partes: A parte mais externa que se chamará trofoblasto
e uma mais interna contendo a massa celular interna, que formará
o futuro embrião.
Envolvendo o blastocisto há a zona pelúcida, que serve
para manter os blastômeros unidos, assim como evita que o
embrião seja rejeitado pelo organismo materno.
Ela também impede que ocorra a implantação
prematura do embrião na parede da tuba uterina (gravidez
ectópica), por esconder os receptores de superfície.
Quando estão no útero as células do trofoblasto
secretam uma enzima que degrada a zona pelúcida e ocorre a
nidação.
Por volta do sexto ou sétimo dia o blastocisto prende-se
ao epitélio endometrial com as células mais externas do
trofoblasto (chamadas sinciciotrofoblastos) invadindo o epitélio
do endométrio, implantando o blastocisto no revestimento interno
útero.

O trofoblasto é ativamente erosivo e continua a invadir o


endométrio durante duas semanas, atingindo os capilares e
glândulas que se tornarão material nutritivo que passa por difusão
para a massa celular interna do blastocisto.
O fator inicial de gravidez, que é uma proteína
imunossupressora para evitar a rejeição, é secretado pelas células
trofoblásticas e surge no soro materno dentro de 24 a 48 horas
após a fertilização.
Este fator é a base do teste de gravidez durante os
primeiros dez dias de desenvolvimento.

Durante a segunda semana começa a se desenvolver


duas cavidades: a cavidade amniótica e o saco vitelino ou cavidade
exocelômica. Separando estas cavidades surge uma lâmina dupla
de células (que serão os futuros folhetos germinativos).
Todo esse conjunto chama-se disco embrionário
bilaminar (ou disco didérmico).

Este processo de formação de camadas germinativas


propicia em seguida um fenômeno denominado gastrulação, pois
forma a gástrula que é constituída pelas duas lâminas, uma mais
externa que passa a ser chamada ectoderma e uma mais interna
denominada endoderma (os dois primeiros folhetos germinativos).
Hormônio Gonadotrofina Coriônica (hCG)

A partir da terceira semana a mulher grávida geralmente


constata a ausência da sua menstruação (1º sinal de gravidez) e
concomitantemente o trofoblasto recém implantado no útero,
produz o Hormônio Gonadotrofina Coriônica humana (hCG –
sigla para human Chorionic Gonadotropin que é excretado pela
urina materna).
Como essa produção é exclusiva do trofoblasto, a dosagem
de hCG é utilizada primariamente para o diagnóstico da gravidez.
A função da hCG é manter o corpo lúteo ativo no ovário
secretando progesterona e estrogênio durante o primeiro
trimestre da gestação, para a manutenção do endométrio.
Quando o ovócito é fecundado, o corpo lúteo aumenta de
tamanho transformando-se no corpo lúteo gravídico que
permanece ativo durante as primeiras vinte semanas de gravidez.
Neste momento a placenta assume a produção de estrogênio e
progesterona necessários para a manutenção da gestação e o
corpo lúteo gravídico se degenera.
Com as concentrações dos hormônios ovarianos mantidas
nos níveis adequados, em especial da progesterona, independente
dos baixos níveis dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e
luteinizante (LH), a camada superficial do endométrio se mantém
íntegra e a mulher não menstrua.
Portanto, mesmo com a inibição do LH e FSH, a produção
do hCG pelo trofoblastos mantém os níveis da progesterona
elevados, garantindo, assim, a manutenção e vascularização do
endométrio inibindo contrações uterinas que expulsariam o próprio
trofoblasto recém implantado.

O hCG (human chorionic gonadotropin) é um composto


proteico composto por duas partes identificadas como subunidades
alfa (α) e beta (β). A subunidade alfa também está presente na
estrutura de outros hormônios, enquanto que a beta é exclusiva do
hCG.
A testagem que busca identificar a presença da subunidade
beta, que é exclusiva deste hormônio (hCG), na urina feminina
passou a ser chamado de teste beta hCG (βhCG).

As concentrações de hCG praticamente dobram a cada 48


horas durante uma gestação inicial normal, até em torno da sexta
semana, quando seus níveis começam a decrescer lentamente.
A partir desse momento, no qual as concentrações de hCG
começam a se reduzir até chegar próximo da vigésima semana, a
placenta concomitantemente se desenvolve para tornar-se apta para
produzir a quantidade de progesterona necessária para preservar o
endométrio e permitir que a gestação continue.
Folhetos germinativos

A partir da terceira semana sucessivas transformações


convertem a blástula em um embrião e um terceiro folheto
(mesoderma) começa a surgir entre as duas lâminas (ectoderma e
endoderma), convertendo o disco bilaminar em trilaminar.

As células do mesoderma preenchem todo espaço entre o


ectoderma e o endoderma, exceto na região da membrana
bucofaríngea e membrana cloacal.

Assim, na terceira semana os três folhetos germinativos,


ectoderma, mesoderma e endoderma tornam-se evidentes e a
partir deles mudanças subsequentes darão origem a todos os
órgãos e tecidos.

O nome mesoderma se origina da composição do termo


grego mesos que significa “meio”, “intermediário” e do termo grego
derma que significa “pele”, logo pode ser naturalmente interpretada
como sendo uma camada intermediária presente entre os dois
folhetos (ectoderma e endoderma).
A invaginação que ocorre durante a formação do
mesoderma, levando parte dos folhetos germinativos para o interior
da blástula, concomitantemente também gera um espaço fechado
entre os folhetos embrionários internamente adjacentes.
Este espaço ao ser formado permanece delimitado
internamente pelo terceiro folheto (mesoderma) e esta cavidade
recebe o nome de celoma que gradativamente se encherá de
líquidos e formará parte do sistema digestivo.
Esta invaginação que forma o celoma, com o surgimento do
terceiro folheto embrionário também promove um maior espaço
interior na blástula formando um vão chamado arquêntero cuja
abertura para o exterior chama-se blastóporo.

Nesse mesmo período um bastão celular chamado


notocórdio, (que será a base do esqueleto axial), começa a se
desenvolver, formando um eixo mediano no embrião.
O ectoderma e o mesoderma adjacente se espessam e
formam a placa neural que no fim da terceira semana formam
pregas neurais que se aproximam e se fundem, convertendo a
placa em um tubo denominado tubo neural que, por sua vez,
originará o sistema nervoso central. Esse processo chama-se
neurulação.
O embrião continua se desenvolvendo a partir das três
camadas germinativas que se diferenciam em vários tecidos e
órgãos, de modo que, ao final do período embrionário (as oito
primeiras semanas), os primórdios de todos os principais sistemas
de órgãos já foram estabelecidos.
O ser que está se desenvolvendo, recebe o nome de
embrião durante as oito primeiras semanas; depois é chamado
de feto e todos os seus órgãos importantes se desenvolvem durante
o primeiro trimestre.
DETALHANDO O DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO

O desenvolvimento embrionário efetivamente começa a


partir da fecundação. Assim, a data de nascimento é calculada
como sendo 266 dias após a data estimada desta fertilização, ou
280 dias após o início do último período menstrual normal.
Esta diferença de catorze dias se justifica, pois o único
evento realmente conhecido é a data inicial da última menstruação.
Logo, estima-se que a ovulação ocorreu duas semanas depois, e
consequentemente a fecundação se deu por volta desse dia.
Sendo assim, desde a fertilização até o fim do período
embrionário que dura aproximadamente oito semanas, a idade
embrionária é melhor expressada em dias e na sequencia, a idade
fetal, é melhor identificada por semanas.
Contudo, vários eventos importantes precisam
necessariamente ocorrer antes da união do ovócito secundário
com o espermatozoide como, por exemplo, a gametogênese
(formação dos gametas).
Os ovócitos produzidos nos ovários da mulher são
expelidos durante a ovulação, que acontece por volta do décimo
quarto dia após o início da última menstruação, e as fímbrias da
tuba uterina os carregam para a ampola na tuba uterina, onde um
deles será fertilizado.
Por outro lado, os espermatozoides são produzidos nos
testículos dos homens, armazenados no epidídimo e a ejaculação
do sêmen durante o intercurso sexual resulta no depósito de
milhões deles no canal vaginal.
Vários destes gametas masculinos passam pelo colo
uterino, pelo útero e entram nas tubas uterinas em busca do
gameta feminino.
Caso, o ovócito secundário esteja presente na tuba após
a ovulação, vários espermatozoides o circundam e apenas após ser
penetrado por um espermatozoide, completa sua segunda divisão
meiótica, resultando um ovócito maduro e um segundo corpúsculo
polar que se degenera a seguir.
Este ovócito maduro se constitui no pronúcleo feminino
e concomitantemente, o espermatozoide que o penetrou perde sua
cauda e seu núcleo aumenta, formando o pronúcleo masculino.
A fertilização realmente se completa apenas quando
ambos pronúcleos se unem e os cromossomas (paterno e
materno) se descondensam e se misturam durante a metáfase da
primeira divisão mitótica do zigoto.
O nome desta primeira célula diploide resultante da união
de dois gametas (células haploides) de sexos opostos é oriunda da
composição do termo grego zygos que significa "par" e do sufixo
grego oto que indica “diminutivo de”. Logo, identifica a célula ovo
cujo pequeno par de materiais genéticos originais iniciará as
divisões celulares que resultarão em um novo indivíduo da mesma
espécie.
À medida que o zigoto passa ao longo da tuba em direção
ao útero, sofre uma série de divisões mitóticas denominadas
clivagens formando várias células menores chamadas de
blastômeros que permanecem unidas.
O nome blastômero é composto pelo termo grego blastos
que significa “broto” e do termo grego meros que indica “partes”.
Logo, indica um broto sendo formado em partes.
Aproximadamente três dias após a fertilização, uma esfera
contendo doze ou mais blastômeros denominada mórula entra no
útero (nome originado do latim morula que significa “formato de uma
pequena amora”).

Forma-se então uma cavidade na estrutura da mórula


convertendo-a em um blastocisto. Este nome é composto pelo
termo grego blastos que significa “broto” e do termo grego kystis que
indica “estrutura arredondada assemelhada a uma bexiga”.
Portanto, pode ser interpretado como um broto que assume a forma
de uma bexiga.
O blastocisto se divide em uma parte que dará origem ao
embrião e alguns tecidos extra-embrionários chamada
embrioblasto (nome composto pelo termo grego en que significa
“dentro”, do termo grego genesis que significa “formação” e do
termo grego blastos que significa “broto”) e outra formada pela
cavidade blastocística que é um espaço preenchida por fluido.
Ambas são envolvidas por uma delgada camada celular
externa chamada trofoblasto, nome composto pelo termo grego
trophé que significa “nutrição” e do termo grego blastos que significa
“broto”. Logo, será a camada que se tornará responsável pela
nutrição do broto.
De fato, o trofoblasto além de envolver o embrioblasto e
cavidade blastocística, mais tarde formará as estruturas extra-
embrionárias e a parte embrionária da placenta.
Aproximadamente de quatro a cinco dias após a
fertilização, a zona pelúcida do ovócito desaparece enquanto o
trofoblasto adjacente ao embrioblasto adere ao epitélio
endometrial em um processo chamado nidação.
No polo embrionário, o trofoblasto se diferencia em duas
camadas, uma externa que invade o epitélio endometrial que é
denominada sinciciotrofoblasto (nome composto do termo grego
syn que significa “união”, do termo grego trophé que significa
“nutrição” e do termo grego blastos que significa “broto”), e uma
mais interna, chamada citotrofoblasto (nome composto do termo
grego kytos que significa “célula”, do termo grego trophé que indica
“nutrição” e do termo grego blastos que significa “broto”).
Concomitantemente na superfície inferior do embrioblasto,
forma-se uma camada cuboidal de hipoblasto (nome composto
pelo termo grego hypo que significa “abaixo de” e do termo grego
blasto que significa “broto”) e assim ao final da primeira semana, o
blastocisto está superficialmente implantado no endométrio
(mucosa interna uterina).
A segunda semana se caracteriza pela rápida proliferação
e diferenciação do trofoblasto enquanto o blastocisto completa
sua implantação no endométrio.
Assim, por volta da data esperada pela mulher para ocorrer
a próxima menstruação, geralmente ela não ocorre e o embrião já
está parcialmente implantado na mucosa uterina.

Nesse momento o saco vitelino primitivo se forma e


também o mesoderma extra-embrionário se desenvolve e nele
surge o celoma extra-embrionário.
Este celoma transforma-se na cavidade coriônica e o
saco vitelino primitivo se transforma em saco vitelino
secundário.
Entre o citotrofoblasto e o embrioblasto surge um
espaço que originará a cavidade amniótica.
O embrioblasto se diferencia em duas lâminas
embrionárias formando um disco bilaminar composto pelo
epiblasto, voltado para a cavidade amniótica, e pelo hipoblasto,
adjacente à cavidade blastocística.
A seguir ocorre um espessamento no hipoblasto indicando
a futura região cefálica do embrião e também o futuro local da
boca.
Na terceira semana o disco embrionário bilaminar é
convertido em trilaminar durante a gastrulação.
A gastrulação forma a gástrula a partir do curvamento do
disco embrionário que, por crescimento progressivo, vai envolvendo
e estrangulando a vesícula vitelínica.
O nome deste evento é composto do termo grego gaster
que significa “ventre”, do termo grego ula que significa “pequeno” e
do sufixo em latim action que indica “ação”. Ou seja, a origem desta
palavra pode ser interpretada como a formação de um pequeno
ventre.
Estas mudanças surgem com o aparecimento da linha
primitiva como um espessamento do epiblasto na extremidade
caudal do disco embrionário.
A linha primitiva resulta da migração de células
epiblásticas para o plano mediano do disco embrionário e uma
invaginação se inicia a partir dela, originando células
mesenquimais (células intermediarias) que ao se diferenciarem
migram entre o epiblasto e o hipoblasto.

Nesse momento o epiblasto passa a ser conhecido como


ectoderma do embrião, o hipoblasto forma o endoderma do
embrião e as células mesenquimais produzidas pela linha
primitiva logo se organizam em uma terceira camada germinativa
denominada mesoderma intra-embrionário.
As células deste mesoderma migram para as bordas do
disco embrionário, onde se unem ao mesoderma extra-embrionário
que recobre o âmnio e o saco vitelino.
Assim, ao término da terceira semana, o mesoderma
preenche toda a extensão do embrião entre o ectoderma e o
endoderma, exceto na membrana bucofaringea (na região onde
ocorreu originalmente a junção do arquêntero com o ectoderma), no
plano mediano da região que será ocupada pela notocorda e
também na membrana cloacal (na área onde se formou
originalmente o blastóporo).
No início da terceira semana algumas células
mesenquimais (intermediárias) provenientes do nó primitivo (ou nó
de Hansen) da linha primitiva formam gradativamente a placa
notocordal que posteriormente se dobra gerando a notocorda, o
eixo primitivo do embrião em torno do qual se formará o esqueleto
axial.
Concomitantemente surge a placa neural como um
espessamento de parte do ectoderma em um polo do embrião,
especificamente no nó primitivo (ou nó de Hansen)
acompanhando a notocorda em desenvolvimento.
Na placa neural forma-se um sulco neural, longitudinal,
com pregas neurais em suas laterais. A fusão destas pregas e seu
dobramento forma o tubo neural, primórdio do sistema nervoso
central e este processo chama-se neurulação.
Este nome é composto pelo termo grego neûron que
significa “nervo”, do termo grego ula que indica “diminutivo de” e do
sufixo em latim action que determina a “atividade de”. Logo, a
neurulação é o estágio em que se intensifica uma diferenciação
celular para a formação e ramificação do futuro sistema nervoso.
À medida que as pregas neurais se fundem para formar o
tubo neural, células ectodérmicas migram lateralmente para
formar a crista neural, entre o ectoderma da superfície e o tubo
neural formado.
Em seguida esta crista neural se divide em duas massas
celulares que dão origem aos gânglios sensitivos dos nervos
cranianos e espinhais. Outras células da crista neural migram do
tubo neural e dão origem a várias outras estruturas sensitivas.
Ao mesmo tempo, o mesoderma em cada lado da
notocorda espessa-se e forma colunas longitudinais e ao final da
terceira semana estas colunas paraxiais (nas laterais do eixo axial)
começam a se dividir em pares de somitos, a partir da extremidade
cefálica.
Os somitos são agregados bem compactos de células
mesenquimais, a partir dos quais as células migram e dão origem às
vértebras, costelas e musculatura axial.
Concomitantemente, o celoma embrionário surge como
vários espaços pequenos e isolados no mesoderma lateral e no
mesoderma cardiogênico (porção que formará mais adiante o
coração primitivo).
Estas pequenas vesículas celômicas coalescem formando
uma única cavidade, em forma de ferradura, que dará origem às
cavidades do corpo, como a cavidade peritoneal, por exemplo.
Nesse mesmo período os primeiros vasos sanguíneos
aparecem. Primeiro surgem na parede do saco vitelino, da alantoide
e do córion.
Estes vasos se formam nos espaços dentro de agregados
celulares de mesênquima, conhecidos como ilhotas sanguíneas
revestidas por um endotélio derivado de células mesequimais
(células intermediárias com grande potencial para se diferenciar).
O mesênquima é um tipo de tecido conjuntivo primitivo,
encontrado nas primeiras fases do desenvolvimento embrionário
que por meio de processos específicos de diferenciação celular, vai
dando origem a todos os tipos de tecidos conjuntivos definitivos,
como por exemplo, o tecido conjuntivo propriamente dito, conectivo,
adiposo, cartilaginoso, ósseo, hematopoiético bem como aos tecidos
musculares.
O mesênquima surge a partir do mesoderma e suas
células irregulares, com expansões filamentosas longas, se
distribuem no meio de espaços intersticiais embrionários onde se
diferenciam. Seu nome se origina da composição do termo grego
mesos que significa “meio” ou “intermediário” e do termo grego
egchyma que significa “infusão”. Logo, pode ser interpretado como
um tipo de tecido que se apresenta no meio de uma estrutura e
propicia a infusão de novos tecidos a partir dele.

Ao final da terceira semana, um coração primitivo é


representado por um par de tubos cardíacos endoteliais que se
unem aos vasos sanguíneos do embrião.
Neste momento os tubos cardíacos se fundem formando
um coração tubular, que permanece unido aos vasos no embrião,
no saco vitelino, no córion e no pedículo do embrião, formando
assim, o sistema cardiovascular primitivo.
As células sanguíneas primitivas denominadas
hemangioblastos são derivadas principalmente de células
endoteliais dos vasos sanguíneos do saco vitelino e da
alantoide.
Posteriormente durante o desenvolvimento fetal os
eritrócitos fetais se originarão de outros precursores hematopoéticos
diferentes.

Ainda na terceira semana as vilosidades coriônicas


primárias se transformam em secundárias, nas quais posteriormente
surgem capilares tornando-as vilosidades coriônicas terciárias.
São as extensões citotrofoblásticas destas vilosidades
que se unem para formar o suporte que irá ancorar o saco coriônico
ao endométrio.
O desenvolvimento das vilosidades coriônicas durante esse
período amplia significativamente a superfície do córion para as
trocas de gases, nutrientes e outras substâncias entre a circulação
sanguínea materna e a embrionária.

A quarta semana do desenvolvimento embrionário se


caracteriza por grandes mudanças que ocorrem na forma e na
estrutura do corpo.
Até aqui o embrião é praticamente reto com elevações na
superfície corporal devido os somitos e um tubo neural aberto nos
neuroporos rostral e caudal.
No início da quarta semana, o duodeno começa a se
desenvolver a partir da porção caudal do intestino anterior, assim
como o fígado, a vesícula biliar, as vias biliares que se originam de
um brotamento ventral denominado divertículo hepático, e também
os brotos pancreáticos que gerarão o pâncreas a partir desta
mesma porção distal do intestino.
Os arcos faríngeos se tornam visíveis, sendo que o
primeiro arco que dará origem à mandíbula e o segundo (hióideo) já
estão individualizados. Este segundo arco junto com o terceiro e
quarto arcos formarão o osso hioide.
Na sequencia surgem outros arcos dispostos obliquamente
a cada lado da futura região da cabeça, face e do pescoço fetal. Ao
final da quarta semana, quatro pares de arcos faríngeos já são
visíveis externamente e o quinto e o sexto arcos ainda são
rudimentares.
Os arcos faríngeos são separados uns dos outros por
fissuras denominadas sulcos faríngeos e sustentam as paredes
laterais da faringe primitiva oriunda da parte cefálica do intestino
anterior.
A boca primitiva surge como uma depressão do ectoderma
e está separada da cavidade da faringe primitiva por uma
membrana bilaminar denominada membrana bucofaríngea,
composta externamente por ectoderma e internamente por
endoderma.
Esta membrana bucofaríngea se romperá em torno do
vigésimo sexto dia, fazendo com que a faringe primitiva e o intestino
anterior passem a se comunicar com a cavidade amniótica.
Também ao final da quarta semana surge um sulco
mediano na extremidade caudal da parede ventral da faringe
primitiva que dará origem ao sistema respiratório. Este sulco
denominado fenda laringotraqueal é o primórdio da árvore
traqueobrônquica, pois seu endoderma irá originar o epitélio e as
glândulas da laringe, da traqueia, dos brônquios, como também o
epitélio pulmonar.
O embrião começa a se curvar devido às pregas cefálica e
caudal que tensionam a estrutura corporal ventralmente.
Concomitantemente o coração primitivo forma uma grande
saliência ventral e já bombeia sangue.
Durante a quarta semana os três pares de arcos faríngeos
se tornam bem visíveis, o neuroporo rostral se fecha, o encéfalo
anterior produz uma elevação saliente na cabeça e ainda está
presente uma estrutura caudal curvada (cauda).
Os primórdios dos membros superiores surgem como
pequenas intumescências na parte ventrolateral do corpo, assim
como as fossetas ópticas que originarão as orelhas internas também
tornam-se visíveis.

Nas laterais da cabeça surgem espessamentos


ectodérmicos que formarão os futuros cristalinos dos olhos e o
quarto par de arcos faríngeos e também os brotos dos membros
inferiores que irão surgir ao fim da quarta semana.
No início da quarta semana também aparece uma estrutura
celular na região do pescoço, bilateral, tubular, transitória, não
funcional denominada pronéfron.
Constituída por um pequeno grupo de células pareadas que
migram caudalmente até a cloaca, originando, ao final da quarta
semana, o mesonefro, uma rudimentar estrutura excretora, maior,
alongada e funcional.
O final da quarta semana se caracteriza pela presença da
eminência caudal em forma de cauda, pelo acentuado crescimento
do encéfalo, pelo início da formação das fibras nervosas que saem
da medula espinhal, pelo fechamento do neuroporo caudal e pelo
estabelecimento dos rudimentos de vários sistemas de órgãos,
especialmente do sistema cardiovascular.
Nesse momento, três pares de veias se ligam ao coração
tubular primitivo do embrião: um par de veias vitelínicas que
transportam sangue pouco oxigenado a partir do saco vitelino; um
par de veias umbilicais que levam sangue oxigenado a partir da
futura placenta; um par de veias cardinais comuns que carregam
sangue pouco oxigenado a partir do corpo do embrião.

Apesar do coração primitivo ainda ser uma estrutura


tubular, suas contrações musculares obedecem um fluxo
unidirecional, no qual o sangue vindo do embrião, da placenta e do
saco vitelino se encontra no seio venoso e entram no átrio primitivo,
sua primeira porção tubular.
Nesse momento como seu fluxo já é controlado pelas
válvulas sinoatriais, o sangue passa através do canal
atrioventricular para o ventrículo primitivo que em seguida se
contrai, bombeando o sangue através do bulbo cardíaco e do tronco
arterial para o saco aórtico. Daí ele é distribuído para os arcos
aórticos nos arcos faríngeos e na sequencia levado de volta para o
embrião, para o saco vitelino e para a placenta.

A quinta semana se caracteriza pelo crescimento da


cabeça que excede ao de outras regiões. Este aumento é causado
principalmente pelo rápido desenvolvimento do encéfalo e das
proeminências faciais.
O segundo arco faríngeo cresce sobre o terceiro e quarto
arcos, formando uma depressão ectodérmica lateral em ambos os
lados.
Surgem cristas mesonéfricas no local dos futuros e
provisórios rins mesonéfricos.
O fígado começa a crescer rapidamente a partir da quinta
semana e ao chegar à décima semana ocupará uma grande porção
da cavidade abdominal superior.
O baço também começa o seu desenvolvimento durante a
quinta semana e apenas no início do período fetal assume sua
forma funcional com lóbulos que normalmente desaparecem antes
do nascimento.
Surgem as primeiras cartilagens desenvolvidas a partir de
células mesenquimais que se diferenciam em condroblastos que
secretam fibrilas de colágeno matriz extracelular.
A partir do mesonefro, começa no início da quinta semana
o desenvolvimento do metanefro, o primórdio dos rins
permanentes, que passa a funcionar quatro semanas mais tarde
formando a urina durante toda a vida fetal.
A partir daí, a urina passa a ser excretada na cavidade
amniótica e mistura-se com o líquido amniótico que é parcialmente
deglutido pelo feto diariamente.

O metanefro constituirá as estruturas renais com


formação crescente dos glomérulos até a trigésima segunda
semana quando os rins fetais são subdivididos em lobos que
geralmente desaparecem durante a infância. Normalmente na
trigésima oitava semana esta estrutura renal está completa com a
formação de até dois milhões de néfrons funcionais.
Na sexta semana ocorre o desenvolvimento dos cotovelos,
das mãos inclusive surgindo os primórdios dos dedos. Ocorrem
movimentos espontâneos, como contrações musculares dos
membros e do tronco.
O desenvolvimento dos membros inferiores ocorre
posteriormente ao desenvolvimento dos membros superiores.
Saliências auriculares se desenvolvem em torno da fenda faríngea,
entre os dois primeiros arcos faríngeos. Este sulco torna-se o meato
acústico externo (canal auditivo externo) e as saliências
auriculares em torno deste se fundem, formando o pavilhão
auricular, a parte da orelha externa em forma de concha.
Durante a sexta semana inicia-se a diferenciação da
genitália externa, que até esse momento mantinha o sistema
genital em um estágio indiferenciado. A formação dos dois ductos
genitais que são os ductos mesonéfricos ou ductos de Wolff e os
ductos paramesonéfricos ou ductos de Müller iniciam este processo.
Os ductos paramesonéfricos desenvolvem-se lateralmente
às gônadas e aos ductos mesonéfricos e, caso não sejam inibidos,
se fundem para formar o primórdio uterovaginal em um embrião
feminino, dando origem ao útero e à vagina.
Contudo, no caso de um embrião masculino, a presença do
cromossoma Y, estimula a produção de testosterona, e isso induz
os ductos mesonéfricos a formarem os ductos genitais masculinos e
também a formação do hormônio inibidor dos ductos
paramesonéfricos (de Müller) resultando no desaparecimento
destes.
Logo, é o complexo cromossômico sexual estabelecido na
fecundação quem determinará o tipo de gônada que se diferenciará
da gônada indiferenciada, gradativamente, a partir da quinta e sexta
semana.
Posteriormente, a testosterona produzida pelo testículo
fetal, a diidrotestosterona, um metabólito da testosterona, e o
hormônio inibidor dos ductos paramesonéfricos, produzidos pelas
células de Sertoli, persistirão na diferenciação sexual masculina
normal e formação das suas estruturas reprodutivas.
Por outro lado, a diferenciação sexual feminina primária
não é dependente de hormônios e, inclusive, pode ocorrer mesmo
se os ovários estiverem ausentes. Nos embriões femininos, os
ductos mesonéfricos regridem por causa da ausência de
testosterona, enquanto os ductos paramesonéfricos desenvolvem-
se por causa da ausência do hormônio inibidor de Müller, unindo-se
aos ductos mesonéfricos residuais e não funcionais para originar o
primórdio uterovaginal.
Durante a sexta semana o olho também já é bem evidente,
em grande parte por causa da formação do pigmento da retina.
A face dorsal do estômago que vem crescendo desde a
quarta semana mais rápido do que a sua face ventral cria sua
grande curvatura ao mesmo tempo em que gira, vagarosamente,
noventa graus no sentido horário em torno do seu eixo longitudinal.
O córtex das glândulas adrenais começa a surgir nesse
momento pela agregação bilateral de células mesenquimais do
mesentério dorsal e da gônada em desenvolvimento, enquanto a
medula da supra renal é gerada a partir de células oriundas da crista
neural adjacente.
Entre a quinta e a sexta semana do desenvolvimento são
formados doze pares de nervos cranianos: o nervo olfatório
relacionado com a condução dos impulsos olfatórios; o nervo óptico
que se relaciona com os impulsos visuais; o nervo oculomotor, o
nervo troclear e o nervo abducente que são responsáveis pela
movimentação dos olhos; o nervo trigêmeo que está relacionado
com a sensibilidade da pele, da face, do couro cabeludo e também é
responsável por inervar os músculos que movimentam a mandíbula;
o nervo facial que se relaciona com os músculos da face que
formam as expressões faciais e também com a percepção de gosto
na língua; o nervo vestibulococlear que está relacionado com a
audição e também com o equilíbrio; o nervo glossofaríngeo que
inerva a glândula parótida e os músculos que movimentam a faringe
e inerva; o nervo vago que inerva as vísceras torácicas e grande
parte das abdominais; o nervo acessório que inerva alguns
músculos esqueléticos e finalmente o nervo hipoglosso que se
relaciona com a movimentação da língua.
Na sexta semana a cabeça do feto ainda é bem maior em
relação ao tronco e está encurvada sobre a grande proeminência
cardíaca flexionando a região cervical.
A sétima semana se caracteriza por modificações
consideráveis que ocorrem nos membros superiores, inclusive com
o inicio da ossificação dos seus ossos.
O esôfago se forma e alcança o seu comprimento ideal
durante esta semana e os intestinos penetram no celoma extra-
embrionário na parte proximal do cordão umbilical. Esta herniação
ocorre porque a cavidade abdominal é ainda muito pequena para
acomodar o rápido crescimento do intestino. Esta penetração
normalmente regride por volta da décima primeira semana quando
se inicia a acomodação intestinal no espaço abdominal fetal.

No início da oitava, última semana do período embrionário,


a região do pescoço já está definida, as pálpebras são mais
evidentes, inicia-se a ossificação nos membros inferiores e os
dedos estão separados, mas ainda estão claramente unidos por
membranas digitais.
Ocorrem os primeiros movimentos voluntários dos
membros e a eminência caudal (em forma de cauda)
desaparece. Os intestinos ainda estão herniados na porção
proximal do cordão umbilical, os pavilhões auriculares começam
a assumir sua forma final e já se notam sutis diferenças entre os
sexos, na aparência da genitália externa.
Ao final da oitava semana se inicia a ossificação dos
ossos longos dos membros que nesse momento passa a ser
bastante dependente do suprimento materno de cálcio e fósforo e o
coração fetal já apresenta suas válvulas atrioventriculares (mitral
e tricúspide), assim como as divisões de suas câmaras atriais e
ventriculares.

O final da oitava semana demarca o fim do período


embrionário, no qual o embrião já apresenta características
nitidamente humanas, apesar da cabeça ainda constituir quase
metade do corpo.
Até aqui decorreram aproximadamente apenas cinquenta e
seis dias da data em que ao seu entorno, possivelmente, ocorreu a
fecundação ou somente setenta dias desde o primeiro dia do último
período menstrual.
DETALHANDO O DESENVOLVIMENTO FETAL

O desenvolvimento fetal começa nove semanas após a


fecundação. Como estima-se que a fertilização provavelmente
ocorreu por volta de duas semanas depois do início do último
período menstrual, também podemos estimar que o começo do
desenvolvimento fetal aconteça aproximadamente onze semanas
depois do início (primeiro dia) da última menstruação.
Contudo, para efeito didático se estabeleceu considerar
apenas a provável data da fecundação para determinar as semanas
que se sucedem no desenvolvimento fetal.
Deste modo, então o desenvolvimento fetal se inicia nove
semanas depois da provável fecundação e se caracteriza pela
aceleração do crescimento corporal e pela rápida diferenciação dos
tecidos, órgãos e sistemas.
Durante a nona e décima semana a cabeça ainda
corresponde à metade do corpo e a face é larga com a presença de
olhos separados e lateralizados. As orelhas mostram-se com
implantação baixa e as pálpebras terminam sua formação e
fundem-se.
Diferenças nas características sexuais começam a surgir
durante a nona semana, mas as genitálias externas não são
totalmente distintas até a décima segunda semana.
A décima primeira semana se caracteriza pela formação
das impressões digitais e apesar de o crescimento da cabeça
diminuir consideravelmente até o final da décima segunda semana
do desenvolvimento fetal, ela ainda se mostra nesse período bem
desproporcional ao restante do corpo.
Na décima segunda semana se inicia a diferenciação da
genitália externa, o baço começa a eritropoese, inicia-se a
formação de bile pelas células hepáticas e também já existe
produção de urina e liberação desta no líquido amniótico que é
constantemente renovado.
A acomodação intestinal no espaço abdominal fetal
completada na décima primeira semana propicia que o intestino
posterior persista e conclua o colo transverso, o colo
descendente, o colo sigmóide, o reto e a parte superior do canal
anal. Nesse momento, a porção caudal do intestino posterior, a
cloaca, já foi dividida e originou a bexiga urinária, a uretra e o
reto.
Na décima terceira semana o pescoço já se mostra bem
definido e até a décima sexta semana persiste o rápido crescimento
do corpo, porém a cabeça ainda é relativamente menor.
Ao final da décima sexta semana os ossos já são visíveis
aos Raios X, os olhos se mostram mais anteriorizados na face e
também já apresentam movimentos lentos.
Da décima sétima até a vigésima semana as
sobrancelhas e cabelo se mostram mais nítidos, se inicia a
secreção de glândulas sebáceas e as células mais superficiais já
são descamadas da pele.
A taxa de crescimento corporal durante o período fetal é
muito grande e nas últimas semanas o ganho de peso do feto se
torna bem expressivo.
Por volta da vigésima semana surge uma espécie de
penugem que recobre o corpo do feto. A pele se mantém recoberta
por uma secreção, chamada verniz caseosa, que ela mesma
produz durante a vida intrauterina para protegê-lo contra a
maceração do líquido amniótico. É possível, nesse momento,
também se intensificar o surgimento de cabelos.
Entre a vigésima e a vigésima quarta semana se inicia a
produção de surfactante pulmonar pelas células chamadas
pneumócitos II nos pulmões e também surgem unhas nas mãos.
A produção do surfactante pulmonar será fundamental
para reduzir a tensão superficial entre o líquido presente na
cavidade alveolar e o ar inspirado, facilitando o esforço
respiratório inicial do neonato após o parto.
As pálpebras se abrem a partir da vigésima sexta semana
e o sistema respiratório já possui relativa maturidade, inclusive
capaz de sustentar sua sobrevida fora do útero.
Nesse momento os pulmões e os vasos pulmonares já
alcançaram um desenvolvimento suficiente para realizar trocas
gasosas adequadas, isto porque os sacos terminais passam a ser
revestidos por células epiteliais pavimentosas de origem
endodérmica denominadas células alveolares tipo I ou
pneumócitos I, que propiciam as trocas gasosas.
Concomitantemente a rede capilar prolifera rapidamente
no mesênquima em torno dos alvéolos em desenvolvimento e
dispersas por entre pneumócitos I se localizam os pneumócitos II
que são células epiteliais arredondadas e alveolares que já
secretam o surfactante pulmonar.
Do mesmo modo, o sistema nervoso central já
suficientemente maduro a ponto de dirigir os movimentos
respiratórios rítmicos e também de controlar a temperatura do corpo.
Da vigésima sexta até a vigésima nona semana os cabelos
estão bem visíveis, assim como as unhas nos pés e a pele tem
aspecto mais liso e translúcido devido o acúmulo de gordura
subcutânea.
O baço fetal torna-se o local prioritário para a realização da
hematopoese, sendo que a geração e desenvolvimento dos vários
tipos de células sanguíneas no baço é substituída pela medula
óssea na vigésima oitava semana quando ela assume
integralmente esse processo.
Por volta da trigésima semana o feto tem o corpo rosado
com a maioria da pele permanecendo delgada. O reflexo pupilar
dos olhos à luz já existe. Os membros superiores e inferiores já
assumem formatos bem mais parecidos com as formas definitivas
que terão.
Com trinta e cinco semanas o feto está quase a termo com
o sistema nervoso suficientemente maduro e com ganho de
peso se acentuando. A partir daqui o feto pode ganhar cerca de 14
gramas por dia, proporcionando um desconforto maior à gestante no
final da gestação.
O perímetro cefálico do feto está mais próximo ao
perímetro abdominal e o tórax apresenta-se saliente com
protrusão de mamilos em ambos os sexos.
Com trinta e seis semanas, as circunferências da cabeça e
do abdome do feto são quase iguais e a partir daí, a circunferência
abdominal pode superar a da cabeça.
Com trinta e sete semanas, geralmente o tamanho do pé é
um pouco maior do que o comprimento do fêmur e com a
aproximação do momento do parto, o crescimento torna-se mais
lento.
Com trinta e oito semanas os fetos normais estão
praticamente a termo, geralmente pesam em torno de 3.400
gramas e, em geral, ao nascerem, os fetos masculinos são mais
compridos e pesam mais do que os femininos.
O tórax é saliente com um leve deslocamento para frente
das mamas em ambos os sexos. Normalmente, nesse momento os
grandes lábios já estão totalmente formados nos fetos femininos e
os testículos dentro da bolsa escrotal nos fetos masculinos,
sendo que os nascidos prematuros comumente apresentam
testículos que ainda não desceram para o escroto.
Apesar de a cabeça do feto a termo ser menor em relação
ao restante do corpo, ela ainda é uma das maiores partes do feto.
Geralmente a formação de gordura se acelera bastante
durante as últimas oito semanas, dando ao feto uma aparência mais
lisa e arredondada.
Durante o desenvolvimento fetal os gases nutrientes
necessários aos processos metabólicos são provenientes da mãe e
passam livremente pela membrana placentária para chegar ao feto.
A glicose é a principal fonte de energia para o metabolismo
e crescimento do feto, assim como os aminoácidos também são
necessários ao desenvolvimento fetal.
Estas substâncias saem do sangue materno, passam pela
membrana placentária e chegam ao feto. Porém, a insulina,
necessária para o metabolismo da glicose é secretada pelo
pâncreas fetal, pois a insulina materna que chega ao feto é
insuficiente, já que a membrana placentária é relativamente
impermeável a este hormônio.

Diferente do período embrionário, durante o


desenvolvimento fetal, e em especial ao final deste, o feto mostra-se
menos vulnerável aos problemas congênitos oriundos dos efeitos
teratogênicos de drogas, de certos vírus e de radiações.
Apesar disto, nesta fase, estes agentes ainda podem ser
bem maléficos ao feto, pois podem interferir no desenvolvimento
funcional normal, especialmente do cérebro e dos olhos.
Ao nascer o corpo está recoberto de vernix caseosa que
também favorece o deslizamento do corpo pelo canal vaginal
durante o parto e mantém a temperatura corporal do recém-nascido
logo após o nascimento.
Após nascer o perímetro cefálico normalmente mede em
torno de trinta e cinco centímetros podendo ainda ser um ou dois
centímetros maior do que o perímetro torácico. O tórax apresenta-
se simétrico, de forma cilíndrica sendo mais largo na sua base com
eventual tumefação das glândulas mamárias que regride
posteriormente.
O crânio é ovóide, contudo esta morfologia pode sofrer
pequenas modificações reversíveis resultantes da passagem pelo
canal cervical. Isto decorre em razão da existência de espaços
cartilaginosos conhecidos como fontanelas ou moleiras, localizadas
na cabeça do recém-nascido, que auxiliam a adequação do crânio
ao canal durante o parto. As principais são a fontanela anterior ou
bregmática e a fontanela posterior ou lambdoide.
A face é pequena em relação ao crânio e pode apresentar
marcas consequentes ao parto, que regridem em poucos dias,
assim como, uma eventual assimetria devido a posicionamentos
inadequados durante a vida fetal ou como resultado de manobras
obstétricas.
Os olhos respondem à luz, apesar de permanecem
fechados, a maior parte do tempo, nos primeiros dias. Os cílios são
pouco nítidos e as orelhas se apresentam lateralmente ao redor
da linha ocular.
O nariz geralmente apresenta a base achatada e a boca é
emoldurada por lábios com um tubérculo labial bem
desenvolvido na porção central do lábio superior.
A coloração da pele é variável e o dorso do corpo, a face e
orelhas podem se apresentar recobertas por uma pelugem fina. A
coluna vertebral é reta, com discreta cifose dorsal e o abdômen
globoso demarca na sua parte central a inserção do cordão
umbilical com aspecto esbranquiçado e gelatinoso. A queda do coto
umbilical ocorre normalmente nas duas primeiras semanas após o
parto, como resultado de sua natural desidratação.
PARTO

A data provável do parto de um feto é de 266 dias ou 38


semanas após a fecundação, ou seja, 280 dias, ou 40 semanas
após o primeiro dia do último período menstrual normal. Este é um
processo contínuo no qual o feto, a placenta e as membranas fetais
são expelidos do trato reprodutor materno.
Denomina-se trabalho de parto a sequência de
contrações uterinas involuntárias, que resultam na dilatação do
colo uterino e na saída do feto e da placenta do útero.
Os fatores desencadeadores do parto ainda não são
totalmente compreendidos, mas vários hormônios estão
relacionados com o início e continuidade das contrações.
Pela parte fetal o hipotálamo do feto aumenta a secreção
do hormônio liberador de corticotrofina que estimula a hipófise
anterior a produzir adrenocorticotrofina que estimula a secreção de
cortisol pelo córtex da supra-renal (adrenal).
O cortisol, por sua vez, está envolvido na síntese de
esteroides hormonais maternos que estimulam as contrações
peristálticas do músculo liso uterino.
Pelo lado materno, o principal hormônio que desencadeia
essas contrações é a ocitocina, que é liberada pela hipófise
posterior e também estimula a liberação de prostaglandinas pela
membrana que envolve o feto, aderida ao córion liso e à membrana
amniótica onde a placenta está implantada, chamada decídua.
Estas prostaglandinas por sua vez, estimulam a
contratilidade do miométrio que compõe a maior parte do útero,
entre o endométrio (mucosa mais interna do útero) e o paramétrio
(tecido seroso mais externo do útero e seus anexo) formada por
tecido muscular liso.
Nesse momento, os estrogênios maternos também
aumentam a atividade contrátil do miométrio devido o início da
liberação de ocitocina e prostaglandinas.
Quando é necessário induzir o trabalho do parto, a
ocitocina pode ser administrada para provocar as contrações
uterinas.
Apesar de ser um processo contínuo o trabalho de parto
pode ser dividido em três estágios distintos:

1 – O estágio da dilatação que começa com a dilatação


progressiva do colo uterino e finda quando este se apresenta
completamente dilatado.
Esta fase de dilatação, em geral, se caracteriza por uma
sequencia de contrações do útero, dolorosas, regulares e
espaçadas em intervalos de tempo menores que dez minutos.
Pode ser brevemente precedida pelo rompimento da bolsa
amniótica ou esta ocorrer concomitantemente às contrações iniciais.
A duração média desse estágio fica em torno de doze
horas na primeira gravidez e de cerca de sete horas para mulheres
que já tiveram filhos (multíparas).

2 – O estágio da expulsão que se inicia em seguida,


geralmente após o colo uterino se mostrar plenamente dilatado e
finda com a efetiva saída do neonato.
Durante esta fase o feto desce pelo colo uterino e canal
vaginal com uma duração média, em geral, de cinquenta minutos
para primíparas e de vinte minutos para multíparas.

3 – o estágio da placenta que começa logo após o


nascimento da criança e termina com a expulsão da placenta e das
membranas.
Nesta fase as contrações uterinas reiniciam logo após a
expulsão do feto e a sua duração, em geral é de quinze minutos na
grande maioria dos partos.
Caso a placenta não seja expelida na primeira hora após o
nascimento do neonato, este é um quadro denominado de placenta
retida que, normalmente, vai exigir procedimentos específicos.
Durante a expulsão do feto do útero e sua efetiva saída do
corpo materno, consequentemente ocorre uma natural retração no
útero que se esvazia. Essa redução no volume uterino reduz sua
área de ligação com a placenta, formando um hematoma e
separando-a da parede do útero.
Tanto a placenta quanto as membranas fetais então
liberadas, são impulsionadas para o canal vaginal devido às
contrações uterinas subsequentes ao nascimento do neonato,
propriamente dito.
As contrações do miométrio também constringem as
artérias espiraladas, que antes supriam de sangue os espaços
intervilosos, reduzindo assim um sangramento uterino mais intenso.
Após ser expelida a placenta apresenta um formato
discoide, com diâmetro de quinze a vinte centímetros, espessura de
dois a três centímetros, pesando de quinhentos a seiscentos gramas
e com a ligação residual do cordão umbilical normalmente
centralizada em sua superfície fetal, porém ele também pode estar
ligado em qualquer outro ponto.
Normalmente, o cordão umbilical apresenta um
comprimento que varia entre trinta a noventa centímetros e um
diâmetro de um até dois centímetros, sendo que cordões longos
podem sofrer prolapsos, ficarem comprimidos entre o corpo do feto
e a pelve óssea da mãe ou até se enrolarem em torno do feto
causando agravos durante o parto, como por exemplo, hipóxia fetal
ou até anóxia fetal.
Neste caso, se a deficiência de oxigênio persistir por mais
de cinco minutos, o cérebro do feto pode ser lesado
permanentemente.
ANEXOS EMBRIONÁRIOS

Além do embrião, as membranas fetais e a maior parte da


placenta também se originam do zigoto.

Placenta

O nome originado do termo em latim placenta que significa


“bolo chato” indica a forma que se apresenta esta estrutura após ser
eliminada no parto.
É um órgão, em parte, materno e, em parte, fetal, por meio
do qual se dão as trocas respiratórias e metabólicas entre o sangue
da mãe e o sangue do filho.
A placenta tem implantação na parede do útero e se
comunica com o feto através do cordão umbilical. Origina-se a partir
do trofoblasto, ainda na fase do blastocisto e depois de formada
propicia as trocas de gases e substâncias, como oxigênio, dióxido
de carbono, glicose, aminoácidos, vitaminas, hormônios, anticorpos,
ureia etc. na relação feto-materna, com exceção dos elementos
figurados do sangue.

A placenta consiste em duas partes:


(1) uma porção fetal derivada do córion viloso e
(2) uma porção materna formada pela decídua basal.

As duas partes são mantidas juntas pelas vilosidades de


ancoragem e pelo revestimento citotrofoblástico.
A placenta é composta por quase um terço da decídua
basal (a parte materna) e pesa aproximadamente um sexto do
peso do feto.
A porção fetal da placenta formada pelo córion viloso
origina as vilosidades coriônicas que se projetam para o espaço
interviloso que contém sangue materno.
A porção materna da placenta formada pela decídua
basal é originada por uma camada mais externa de células
trofoblásticas que posteriormente prende as vilosidades
coriônicas que foram originadas pela porção fetal e também liga o
saco coriônico à própria decídua.
As principais funções da placenta envolvem proteção,
nutrição, respiração, excreção e produção de hormônios como
progesterona, estrógenos, gonadotrofina coriônica humana (hCG) e
lactogênio placentário.

A circulação fetal é separada da circulação materna por


uma fina camada de tecidos conhecidos como membrana
placentária (barreira placentária).
Trata-se de uma membrana permeável que permite que a
água, o oxigênio, substâncias nutritivas, hormônios e agentes
nocivos passem da mãe para o embrião ou para o feto e os
produtos de excreção passem pela membrana placentária destes
para a mãe.
Essas trocas ocorrem efetivamente nas vilosidades
coriônicas da placenta que formam uma grande superfície, na qual
os gases e produtos biológicos após cruzarem a delgada
membrana placentária, entre as circulações fetal e materna,
propiciam o intercambio destes materiais entre a mãe e o embrião
ou feto.
Assim, as circulações fetal e materna permanecem
plenamente separadas pela membrana placentária. Contudo, isto
não limita as principais atividades da placenta materna ao feto que
são garantir o metabolismo, transferência e secreção endócrina.
O sangue pouco oxigenado deixa o feto e segue em
direção à placenta, passando pelas artérias umbilicais. Na região
em que o cordão umbilical se une à placenta, essas artérias se
dividem formando as artérias coriônicas, que se ramificam e
entram nas vilosidades coriônicas que formam o espaço
interviloso.
Estes vasos mantém o sangue fetal bem próximo do
materno, sem ocorrer mistura entre eles no espaço interviloso,
destinado às trocas de gases e produtos metabólicos.
Após ser oxigenado nos capilares, o sangue fetal passa
para as veias que acompanham as artérias coriônicas até o local
da união do cordão umbilical onde convergem para formar a veia
umbilical. Assim é este grande vaso que transporta sangue rico em
oxigênio para o feto.
Por outro lado o sangue materno oxigenado ao chegar ao
espaço interviloso fica, temporariamente, fora do sistema
circulatório materno.
Ele chega por meio de quase cem artérias endometriais
espiraladas da decídua basal que entram com relativa pressão no
espaço interviloso permitindo a troca de produtos metabólicos e
gasosos com o sangue fetal. Na sequencia este sangue retorna
através das veias endometriais para a circulação materna.
Assim, o espaço interviloso da placenta se mantém
preenchido continuamente com aproximadamente 150 mL de
sangue que é substituído de três até quatro vezes por minuto.
Esta complexa estrutura tão fundamental para o pleno
desenvolvimento fetal perde a sua função após o parto e tanto ela
quanto as membranas fetais são impulsionadas por contrações
uterinas para o canal vaginal logo após o nascimento do neonato.
Decídua

A porção decídua refere-se à parte do endométrio


gravídico.
O seu nome se origina do termo em latim deciduus que
significa “aquilo que cai ao terminar sua função”. Uma denominação
bem apropriada para a membrana que envolve o feto, intimamente
aderida ao córion liso e à membrana amniótica. Ou seja, é a
parte do endométrio que se separa do restante do útero após o
parto.
A decídua é proveniente da hiperplasia da mucosa
uterina, na sua porção que fica recobrindo o óvulo após a nidação.
Ela responde pela proteção do embrião e dos anexos
embrionários e também pelo âmnio que é responsável pela
proteção e hidratação do embrião.
A partir dela o córion e o âmnio se fundem formando a
membrana amniocoriônica que é a membrana que se rompe no
trabalho de parto, permitindo que o líquido amniótico escape para
o exterior através da vagina.
A circulação placentária ocorre por meio das
vilosidades coriônicas da placenta que criam uma grande área de
superfície através da qual ocorre troca de material que cruzam uma
delgada membrana placentária (barreira placentária).
Como já descrito anteriormente, o sangue pouco oxigenado
deixa o feto através das artérias umbilicais e vai para as artérias
coriônicas nas vilosidades coriônicas que se ramificam em
extenso sistema artério-capilar-venoso onde ocorrem as trocas
gasosas. Da mesma forma, o sangue bem oxigenado nos capilares
das vilosidades, converge para a veia umbilical levando oxigênio
para o feto.
Saco vitelino (ou Vesícula umbilical)

O saco vitelino ou vesícula umbilical é uma estrutura


vestigial (que se atrofia), mas sua presença é essencial ao
desenvolvimento normal do embrião.
É um sítio precoce de formação do sangue, e parte dele é
incorporada ao embrião na forma de intestino primitivo.
O endoderma do saco vitelino origina além do intestino
primitivo, o epitélio da traquéia, dos brônquios, dos pulmões e
do trato digestivo.
As células germinativas primordiais também se originam no
saco vitelino que possui função nutritiva, pois transfere nutrientes
para o embrião na segunda e terceira semana quando a circulação
uteroplacentária ainda está sendo estabelecida.
O nome vitelino se origina do termo grego vitelo que
significa “gema de ovo” remetendo esta designação a algo que se
formou do zigoto. Ou seja, identifica uma estrutura formada logo no
início do desenvolvimento embrionário.

Alantoide

O alantoide também é uma estrutura vestigial (que se


atrofia) sendo responsável pelas futuras trocas gasosas, pois seus
vasos persistem como veia umbilical e artérias umbilicais.
A formação primária do sangue no embrião acontece nas
paredes do alantoide da terceira à quinta semana.
O nome alantoide é uma composição do termo grego
allantos, que significa “salsicha” e o termo grego eidos, que indica
“semelhante”. Logo, pode ser interpretado como uma estrutura
assemelhada a uma salsicha.
De fato este anexo embrionário membranoso apresenta um
formato de saco alongado que se forma durante o desenvolvimento
embrionário e possui origem endodérmica e mesodérmica, porém
regride gradualmente até quase desaparecer na época do
nascimento.
Âmnio

O âmnio contém o líquido amniótico e fornece o


revestimento do cordão umbilical.
Este líquido possui três funções principais: prevê um
anteparo protetor para o embrião ou feto; propicia espaço para os
movimentos fetais e contribui para a manutenção da temperatura
corporal do feto.
Seu nome se origina do termo grego âmnion que significa
“água corrente” que pode ser interpretado como uma estrutura que
gradativamente armazena água e que, em determinado momento,
será expelida de uma única vez, como um fluxo de água corrente.
Realmente o âmnio é caracterizado por se manter repleto
de líquido amniótico que se renova constantemente a cada três
horas durante todo o período gestacional.
Ele envolve e protege o embrião contra choques térmicos,
impactos e traumas mecânicos, assim como fatores físicos e
biológicos provenientes do ambiente externo.
O âmnio forma-se a partir de uma dobra do ectoderma
ficando envolto pelo córion, e este por sua vez, pela placenta.
Na época do nascimento se rompe dando passagem ao
concepto, geralmente liberando uma grande quantidade do líquido
amniótico armazenado durante a gestação, o que justifica a origem
do seu nome.
O líquido amniótico também permite o desenvolvimento
normal dos pulmões fetais e impede a aderência do âmnio tanto ao
embrião quanto ao feto posteriormente.
No inicio é secretado pelas células do âmnio, porém, logo
depois, grande parte dele será oriundo de fluido tecidual materno
que chegará até a bolsa amniótica por difusão simples pela
membrana amniocoriônica, a partir da decídua.
Posteriormente também ocorrerá difusão deste líquido a
partir do sangue presente nos espaços intervilosos da placenta e
também dos fluídos secretados pelo feto do seu trato respiratório e
da sua urina que irão se difundir para a cavidade amniótica.
O volume de líquido amniótico aumenta durante todo
desenvolvimento fetal, porém esse aumento é bem mais expressivo
nas últimas semanas, indo de aproximadamente 350 mL na
vigésima semana para até 1.000 mL na trigésima sétima semana.
O líquido amniótico é deglutido pelo feto, é absorvido
pelos tratos respiratório e digestivo, passa para o sangue fetal, e
os produtos de excreção nele contidos atravessam a membrana
placentária e vão para o sangue materno presente no espaço
interviloso.
O excesso de água contido no sangue fetal é filtrado e
excretado pelos rins do feto e, assim, retorna para o saco
amniótico por meio do sistema urinário fetal.
GÊMEOS

Denominam-se gêmeos quando dois ou mais irmãos


nascem de uma mesma gestação, podendo ser idênticos ou não.
Os gêmeos que se originam de dois zigotos são gêmeos
dizigóticos ou gêmeos fraternos, enquanto os gêmeos originários
de um único zigoto são gêmeos monozigóticos ou gêmeos
idênticos.
Assim, tanto as membranas quanto as placentas fetais irão
variar conforme esta origem dos gêmeos.
No caso de gêmeos dizigóticos ou gêmeos fraternos,
como são resultantes da fecundação de dois ovócitos distintos,
desenvolvem-se a partir de dois zigotos independentes, logo,
podem ser do mesmo sexo ou de sexos diferentes.
Pelo mesmo motivo, eles são geneticamente distintos e a
única coisa que eles têm em comum é o fato de terem
compartilhado o útero da mãe ao mesmo tempo.
Normalmente têm sempre dois âmnios (diamniótico) e
dois córions (dicoriônico) individualizados, porém,
eventualmente os córions e as placentas podem estar fundidos.

Já no caso de gêmeos monozigóticos ou gêmeos


idênticos o tipo de placenta e das membranas formadas depende
do momento em que ocorreu o processo de formação dos gêmeos.
Por resultar da fecundação de um mesmo ovócito e se
formar a partir de um único zigoto (que nas clivagens mais adiante
se separa em duas ou mais partes), eles sempre são do mesmo
sexo, geneticamente idênticos e muito semelhantes fisicamente.
Algumas pequenas diferenças físicas entre gêmeos
monozigóticos podem ser resultantes de fatores ambientais e
gestacionais que ocorrem posteriormente à separação embrionária.
A formação de gêmeos monozigóticos, normalmente se
inicia no estágio de blastocisto, por volta do fim da primeira
semana, devido uma divisão do embrioblasto em dois novos
núcleos embrionários.
Consequentemente, quando isto ocorre entre o quarto e o
oitavo dia do estágio de blastocisto, em geral, cada embrião se
desenvolve dentro de seu próprio saco amniótico (diamniótico),
envolto dentro de um único saco coriônico (monocoriônico) e
compartilham da mesma placenta.

A separação muito precoce dos blastômeros embrionários


é bastante rara, contudo quando esta ocorre nos estágios de duas
até oito células (entre o primeiro e terceiro dia), em geral, resulta em
gêmeos monozigóticos com dois âmnios (diamniótico), dois
córions (dicoriônico) e eventualmente até duas placentas que
podem ou não se apresentarem fundidas.

Separações tardias que ocorrem durante a fase que


imediatamente precede ou que acontecem no início da implantação
do blastocisto (entre o oitavo e décimo terceiro dia) também são
mais raras, porém podem originar gêmeos monozigóticos com um
único âmnio (monoamniótico), apenas um córion (monocoriônico)
e o desenvolvimento de ambos dentro da mesma placenta.
Os gêmeos monozigóticos, o tipo menos comum,
representam cerca de um terço de todos os casos de nascimentos
de gêmeos, pois derivam de um único zigoto que acidentalmente
se divide em dois núcleos embrionários e, em geral, possuem dois
âmnios (diamniótica), ou seja, cada um está imerso em seu liquido
amniótico e cada âmnio fornece o revestimento de cada cordão
umbilical.
Contudo, na maioria destes casos, apesar de terem dois
âmnios individualizados, eles possuem um único córion
(monocoriônico) responsável pela proteção de ambos os embriões
e dos anexos embrionários. Também compartilham da mesma
placenta e geralmente apresentam seus cordões umbilicais
frequentemente emaranhados.
Em alguns casos o compartilhamento placentário pode
ocasionar alguns problemas, propiciando um desenvolvimento fetal
desigual.
Isto pode ocorrer porque um deles pode receber mais
nutriente através da placenta do que o outro. Esse fenômeno é
chamado de restrição do crescimento fetal.

Pelo mesmo motivo, também correm o risco de desenvolver


uma desordem grave e potencialmente fatal conhecida como
Síndrome de Transfusão Feto-Fetal.
Esta complicação ocorre quando dois fetos estão dividindo
a mesma placenta, porém em bolsas amnióticas diferentes
resultando em um desequilíbrio no aporte de sangue materno entre
os dois fetos.
Assim, como um pode receber mais sangue do que o outro,
um feto é classificado como doador e o outro como receptor de
sangue, justificando o nome da síndrome. O doador normalmente
apresenta restrição de crescimento, enquanto o receptor se
desenvolve bem mais.
A ocorrência de gêmeos monozigóticos ou dizigoticos
não são tão raras, contudo, convém ressaltar que atualmente o mais
comum são nascimentos múltiplos derivados da formação de mais
de um zigoto (fecundação independente de múltiplos óvulos).
DISTÚRBIOS CONGÊNITOS E GENÉTICOS

O termo congênito se originou da composição do prefixo


em latim cum que significa “ao lado” e do termo em latim genitu que
significa “nascido”, logo, a origem desta palavra pode ser
interpretada como algo que começa a acompanhar um recém-
nascido, agregada a ele desde o período gestacional, ou seja, algo
adquirido “durante a gestação”.
Geralmente o termo congênito denomina as anomalias
decorrentes de malformação embrionária, devido a um distúrbio
adquirido durante a vida intrauterina, como, por exemplo, anomalias
que podem ocorrer ao feto durante uma gestação, na qual a mãe foi
contaminada por parasitas como na toxoplasmose, por vírus como
na rubéola, por medicamentos ou substâncias teratogênicas, entre
outros.
O termo congênito se diferencia de hereditário ou genético,
pois estes últimos se referem a eventos originados dos genes e por
consequência, ocorridos imediatamente na formação do zigoto
(primeira célula embrionária) oriundos do material genético dos pais
já na fecundação que originou esta primeira célula. Enquanto, um
evento congênito se instala após a fecundação, ou seja, durante a
gestação.

Assim, os problemas que ocorrem durante uma gestação


são qualificados como distúrbios ou defeitos congênitos e uma
grande variedade de fatores ambientais está relacionada a eles
como, por exemplo, infecções maternas (Rubéola, Toxoplasmose,
etc.), teratógenos químicos (Acido Valpróico usado no tratamento
da epilepsia e convulsões, Varfarina usada no tratamento de doença
tromboembolítica, Talidomida que era usada no tratamento de
enjôos, etc.), agentes físicos (radiação ionizante), mecânicos
(quedas, acidentes, etc.) e fatores nutricionais.
Muitos exemplos ainda poderiam ser listados e adicionados
nestas categorias, sendo que todos os agentes causadores sempre
serão particularmente nocivos no primeiro trimestre da
gestação.

Diferente de um distúrbio surgido durante o período


gestacional, ou seja, adquirido “durante a gestação”, um distúrbio
genético é oriundo dos genes ou de um erro na composição dos
cromossomas que os contém, mas que já estarão presentes nos
gametas que formarão o zigoto.
Assim eles são ocasionados já a partir da fecundação,
resultantes da combinação dos cromossomas e da estrutura dos
genes presentes já na primeira célula embrionária formada.

Considerando apenas esta definição, podemos perceber


que existe uma grande quantidade de distúrbios genéticos devido
não só aos problemas que podem ocorrer nos mecanismos
biológicos complexos de divisão celular como a meiose ou a
mitose, mas também aqueles já presentes nos próprios genes
maternos ou paternos e, assim, seria muito extenso enumerá-los
aqui.
Contudo, vamos exemplificar, explicando apenas alguns
tipos resultantes da inadequada combinação ou da estrutura
cromossômica e também da composição intrínsica dos genes
paternos.
Se na gametogênese um determinado par de
cromossomas ou duas cromátides de qualquer cromossoma não
se separarem durante a meiose, uma das células-filhas ao final
receberá uma cromátide a mais dele, enquanto outra não a
receberá.
Esse fenômeno chama-se não-disjunção meiótica e pode
ocorrer tanto na gametogênese paterna que originará
espermatozoides, quanto na materna que produzirá ovócitos.
No caso do recebimento de uma cromátide a mais
teremos neste cromossoma uma trissomia (três cromátides quando
o normal deveria ser duas) e na ausência dessa cromátide, uma
monossomia (apenas uma cromátide quando deveria ser duas).

Um típico caso de trissomia é quando o cromossoma 21


recebe uma cromátide a mais, gerando o quadro conhecido como
síndrome de Down ou trissomia do cromossoma 21.
Portadores desta síndrome podem ter uma habilidade
cognitiva abaixo da média e características típicas que incluem uma
prega única palmar transversa, olhos amendoados com formas
diferenciadas devido às pregas nas pálpebras, membros pequenos,
baixo tônus muscular e língua protrusa.
Também possuem maior risco de sofrer defeitos cardíacos
congênitos, refluxo gastroesofágico, otites recorrentes, apnéia de
sono obstrutiva e disfunções da glândula tireóide.
Por outro lado, um exemplo de monossomia é a síndrome
de Turner, quando a portadora recebe apenas um cromossoma
X.
Neste caso, a constituição cromossômica mais frequente é
45, X sem um segundo cromossoma sexual, (seja ele X ou Y).
Devido à presença de um único X ocorre o
desenvolvimento dos caracteres primários femininos (vulva, ovário,
útero, vagina, etc.). Logo, a síndrome de Turner é uma condição
que afeta apenas meninas, que inclusive, antes do nascimento, em
geral, possuem um número normal de folículos ovarianos.
Entretanto, estes desaparecem em seus ovários
rapidamente até o início da puberdade e, devido esta ausência,
também há uma deficiência na produção dos hormônios sexuais
femininos que são importantes para o desenvolvimento dos
caracteres sexuais secundários (pelos pubianos, desenvolvimento
dos seios, etc.).
Consequentemente, podem ter desenvolvimento
incompleto destas características sexuais secundárias e na maioria
dos casos, as portadoras desta síndrome não menstruam e
raramente podem gerar filhos.
Durante os primeiros anos de suas vidas, elas crescem no
mesmo ritmo de suas contemporâneas, porém, com o passar do
tempo, a diferença na altura torna-se bem aparente e a diferença é
particularmente notável quando as outras meninas entram na
puberdade e apresentam rápidos aumentos de estatura.
Outro exemplo interessante de trissomia é a síndrome de
Klinefelter que atinge pessoas do sexo masculino que apresentam
um cromossoma X adicional (47, XXY) em seu genótipo.
Estes indivíduos apresentam estatura elevada,
desenvolvimento do tecido mamário (ginecomastia) e testículos
pequenos. Também é comum apresentarem atraso no
desenvolvimento da linguagem, atraso motor e algum déficit
auditivo.
Um eventual fenótipo mais feminino devido a menor
produção de testosterona de origem testicular pode ser outro
importante agravante dependendo da cultura e da sociedade na
qual o portador desta síndrome estiver inserido.

Também existem distúrbios genéticos causados por uma


translocação nos cromossomas de um dos pais, ou seja, quando
parte do material genético de um cromossoma se uniu a outro.
Os progenitores com translocações equilibradas são
perfeitamente normais porque nenhum material genético foi perdido,
assim sendo, provavelmente não saberão que são portadores até
que tenham uma criança afetada na família, já que isto pode ocorrer
na prole de um portador de translocação que formou um gameta
não balanceado.
Por exemplo, pode ser uma translocação que resulte na
monossomia parcial do cromossoma 5 devido a quebra do braço
curto deste cromossoma.

Neste caso, geralmente produz um fenótipo anormal com


baixo peso no nascimento, atraso no desenvolvimento, retardo
mental, microcefalia, coloboma da íris e aspecto facial com
hipertelorismo marcante (muitos pelos) sendo conhecido como
síndrome do cri du chat (síndrome do choro do gato), por causa
da semelhança do choro da criança com um miado de gato.

Outro exemplo de deleção parcial cromossômica é uma


anomalia genética resultante da perda de uma parte do braço
curto do cromossoma 4 conhecida como síndrome Wolf-
Hirschhorn.

Ela se caracteriza por um grupo de manifestações clínicas


muito variadas que comprometem o desenvolvimento e o
crescimento, que podem incluir hipoplasia do cerebelo e nervo
olfatório, agenesia de estruturas cerebrais, hipotonia, convulsões,
baixo peso e estatura, coloboma da íris, estrabismo divergente,
estenose lacrimal, fendas palpebrais, sobrancelhas altas e
arqueadas, cifose, escoliose, displasia ou deslocamento do quadril,
desenvolvimentos anormais de hálux e polegares, hipoplasia
uterina, hérnias, aspecto facial característico com hipertelorismo,
nariz grande e largo, micrognatia e outras anormalidades
craniofaciais.

Outra pequena deleção parcial cromossômica que ocorre


no cromossoma 15 durante a fecundação origina a síndrome de
Prader Willi que causa obesidade, deficiencia mental,
hipogonadismo e afeta meninos e meninas.
Os neonatos apresentam dificuldade de sugar, apresentam
choro fraco e são muito pouco ativos, dormindo a maior parte do
tempo. Seu desenvolvimento neuromotor é bem lento, tardam a
sentar, engatinhar e caminhar.
Durante este lento desenvolvimento é comum surgir a
hiperfagia, que é a constante sensação de fome e um incomum
interesse pela comida que, em geral, aparece entre os dois e cinco
anos de idade ocasionando obesidade ainda na infância.
Também é comum a baixa estatura, as mãos e pés
pequenos, a fronte estreita e os olhos amendoados com estrabismo.
A hipotonia e o fraco tônus muscular leva à dificuldades no
equilíbrio, na apreensão da escrita, na aprendizagem e fala e
também no manuseio de brinquedos e instrumentos.
Também pode estar presente uma notória instabilidade
emocional e imaturidade nas trocas sociais.
Além desses exemplos de distúrbios causados por falhas
na combinação ou na estrutura dos cromossomas que interferem na
funcionalidade dos respectivos genes presentes já no zigoto, ainda
existem as alterações que são intrínsicas dos próprios genes e
independem da estrutura cromossômica.
Nestes casos, os agravos decorrentes são denominados de
doenças genéticas, já que são ocasionadas pelas composições
internas dos próprios genes nas fitas de DNA (ácido
desoxirribonucleico) que formam cada cromossoma.
Neste universo, incluímos todas as doenças genéticas
autossômicas recessivas, as autossômicas dominantes e
aquelas ligadas aos cromossomas sexuais.
O conjunto de cromossomas presentes numa célula do
indivíduo são ordenados em pares de homólogos, seguindo uma
numeração padrão previamente estabelecida.
Como no ser humano, apenas os cromossomas do
vigésimo terceiro par são idênticos na mulher e diferentes no
homem, cada cromossoma distinto deste par é respectivamente
identificado pelas letras “X” e “Y” e são denominados
cromossomas sexuais.
Já os outros vinte e dois pares de cromossomas são
identificados por números (par do cromossoma 1 até o par do
cromossoma 22) e são denominados cromossomas
autossômicos.
Cada cromossoma é composto por uma longa fita dupla
de DNA (ácido desoxirribonucleico) que encerra vários genes.
Portanto, cada gene é composto por um segmento de DNA cuja
sucessão de nucleotídeos condiciona um código específico (código
genético), que é transcrito para uma molécula de RNAm (RNA
mensageiro) e posteriormente traduzido, já no citoplasma, com a
ajuda de ribossomos e de moléculas de RNAt (RNA transferidor),
formando proteínas que definem suas manifestações fenotípicas
específicas.
A palavra gene se origina do termo grego gen que significa
“gerar”, que neste caso, indica o pedaço de fita de DNA gerador de
proteínas.
Como cada um dos componentes que formam um par de
cada gene em um organismo diploide (2n) chama-se alelo (nome
originado do termo grego allelon que significa “um e outro, lado a
lado”) as doenças genéticas estão intimamente correlacionadas ao
pareamento dos alelos.

Por exemplo, o albinismo é uma doença genética


autossômica recessiva. Isto significa que as duas cópias do alelo
causador da doença são necessárias para um indivíduo ser
suscetível à expressão do fenótipo albino.
Quando cada um desses alelos são respectivamente
recebidos tanto da parte materna quanto da paterna e passam a
constituir parte do conteúdo cromossômico da primeira célula
formada na fecundação (zigoto), não ocorrerá a síntese adequada
de melanina no indivíduo.
Isto porque todas as células que formarão o futuro embrião
se originarão desse zigoto e receberão exatamente o mesmo
conteúdo cromossômico em todas as mitoses subsequentes, logo a
limitação na produção da melanina estará presente em todas.
Esta limitação se dá quando a presença dos dois alelos
inibe a produção da enzima tirosinase que cataliza a oxidação do
aminoácido tirosina na formação do pigmento melanina e, sem ela,
não há pigmentação da pele, cabelos, olhos e, consequentemente,
nem proteção contra os raios ultravioleta (UV).

Por outro lado, uma doença genética autossômica


dominante se caracteriza por necessitar de apenas uma cópia do
alelo causador da doença para um indivíduo ser suscetível à
expressão do fenótipo.
Um exemplo, neste caso, é a acondroplasia que é uma
forma de nanismo produzida por um distúrbio do crescimento,
devido a uma deficiência da ossificação endocondral.
Os indivíduos afetados por ela apresentam baixa estatura
desde o nascimento, por terem os membros curtos, mas o tronco e
coluna vertebral têm tamanho quase normal.
Devido esta desproporção corporal a cabeça parece ser
maior, a fronte é proeminente, a ponte nasal baixa e geralmente o
nariz tem forma de botão com narinas e pontas antevertidas.
Também apresenta lordose lombar acentuada e o ventre e as
nádegas são proeminentes.
Nas crianças há excesso de pele nos membros, o que se
evidencia pela formação de volumosas pregas cutâneas.

Existem doenças genéticas oriundas de genes presentes


nos cromossomas sexuais que podem se comportar de forma
assemelhada ao que ocorre com genes autossômicos dominantes e
recessivos. Isto se justifica porque apesar de serem praticamente
diferentes, os cromossomas “X” e “Y” possuem uma pequena região
homóloga (no braço longo) que se pareia, enquanto o restante
contém apenas genes exclusivos tanto para cromossoma “X” quanto
para o cromossoma “Y. Logo, como estas outras regiões não são
homólogas entre o “X” e o “Y” elas não se pareiam entre ambos.

Um exemplo de uma doença genética dominante ligada


ao X é o raquitismo hipofosfatêmico que é um distúrbio que afeta
a mineralização da matriz óssea em ossos ainda em crescimento
devido a perda de fósforo.
A depleção de fósforo é devida a expressão de uma enzima
que causa fosfatúria intensa (eliminação de fósforo pela urina). Esta
enzima é expressada por um gene regulador do fosfato, localizado
no cromossomo X.
O quadro clínico das crianças com a doença é
caracterizado por baixa estatura, deformidades e arqueamento
predominante nos membros inferiores (genu varum ou genu valgum)
que se desenvolvem após o início da deambulação e alterações
dentárias decorrentes de anormalidades na formação da dentina.
Um exemplo de uma doença genética recessiva ligada
ao X é a distrofia muscular de Duchenne que é um distúrbio que
se caracteriza pela atrofia dos membros inferiores e pélvicos,
fazendo que a criança passe a ter dificuldades na locomoção nas
atividades quotidianas, como levantar-se, correr, subir escadas,
entre outras, apresentando quedas frequentes. O progresso da
doença compromete também os músculos dos membros superiores
e o grau de atrofia muscular e sua extensão aumentam com o
tempo.
O gene responsável pela distrofia muscular de Duchenne
está localizado no braço curto do cromossoma X e foi identificado
em 1986, assim como, a proteína distrofina cuja ausência acarreta
as alterações musculares.
Como na mulher existem dois cromossomas X, se um deles
possuir o gene afetado, o outro garantirá o bom funcionamento dos
músculos. Assim, a mulher pode ser portadora sem desenvolver a
doença. Por outro lado, a distrofia muscular de Duchenne afeta
prioritariamente o sexo masculino porque nele só há um
cromossoma X.

Um exemplo de um distúrbio genético exclusivo do


cromossoma Y é a hipertricose auricular, na qual os indivíduos
apresentam longos pêlos nas orelhas, e como é causada por um
gene presente no cromossomo Y apenas o pai o transmite para o
seu filho homem.
Além destes exemplos, convém destacar que qualquer
alteração do código genético do DNA, ou seja, de um gene, por
mínima que seja, provoca uma nova mutação.
Caso ela não seja deletéria e chegue à gametogênese e
posteriomente se perpetue nas gerações subsequentes, uma nova
doença ou distúrbio genético, possivelmente, serão gerados nesse
processo evolutivo.

Por exemplo, a anemia falciforme ou sisclemia é uma


doença genética autossômica recessiva caracterizada pela
produção de hemácias deformadas que por essa razão se tornam
ineficientes nos transportes de oxigênio
Isto porque em indivíduos normais as hemácias (também
conhecidas como eritrócitos) possuem moléculas de
hemoglobina, que são responsáveis pelas ligações gasosas.
A formação dessa hemoglobina é determinada por um
gene no cromossoma 11, que no caso dos indivíduos com anemia
falciforme, se encontra modificado.
Nestes, percebe-se que, possivelmente, em algum
momento evolutivo ocorreu a substituição de um único nucleotídeo
que consequentemente alterou um aminoácido da composição
original da hemoglobina, trocando o ácido glutâmico pela valina.

Os sintomas clássicos da anemia falciforme são causados


pela ineficiência das hemácias deformadas que incluem, fadiga
(cansaço), astenia (fraqueza), palidez, principalmente nas
conjuntivas e mucosas, entre outros.
Curiosamente os portadores da anemia falciforme são mais
resistentes à malária, pois os protozoários Plasmodium que causam
esta doença, necessariamente se reproduzem no interior das
hemácias humanas normais. Logo, as hemácias deformadas destes
indivíduos não são adequadas para essa função.

Estes são apenas alguns exemplos selecionados dentre


muitos, resultantes de modificações nos genes, da inadequada
combinação entre eles ou da alteração da estrutura cromossômica
já descritas na literatura médica.
Assim, não é leviano finalizar afirmando que todo o
processo de geração de um novo ser humano saudável, desde a
fecundação e formação do zigoto, até seu efetivo nascimento, é
uma sucessiva sequencia de eventos tão exitosos que merecem
sempre ser reverenciados e continuamente estudados.
Afinal, estes complexos caminhos biológicos geradores do
ser humano, certamente, ainda desafiarão por muito tempo nossa
limitada compreensão de seus maravilhosos mistérios.
Referências Bibliográficas

- ALBERT, B; BRAY, D; LEWIS, J; Biologia Molécular da


Célula; Ed. Artmed; São Paulo; 2009.

- BARRETO, F. C; Biocionário; Ed. KDP; 2017.

__________________________; A Biologia descomplicada


de A até Z; Ed. CreateSpace; 2016.

- GRIFFITHS, A.J.F; WESSLER, S.R; Introdução à Genética;


Ed. Guanabara Koogan; São Paulo; 2013.

- GUYTON, A.C; HALL, J.E; Tratado de Fisiologia Médica;


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- JUNQUEIRA, L.C; CARNEIRO J; Histologia Básica; Ed.


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- KEITH, L.M; PERSAUD, T.V.N ; Embriologia Clínica; Ed.


Elsevier; Rio de Janeiro; 2008.

- SADLER, T.W; Langman, Embriologia Médica; Ed.


Guanabara Koogan; São Paulo; 2016

- SCHOENWOLF, G.C. et all; Larsen, Embriologia Humana;


Ed. Elsevier; Rio de Janeiro; 2016
Sobre o autor

Flávio Chame Barreto é professor de Ciências e Biologia,


biólogo, especialista em Ensino de Ciências e Biologia, especialista
em Docência no Ensino Superior, mestre em Informática, Educação
e Sociedade pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e
membro da centenária Academia Fluminense de Letras, ocupante
da cadeira 39.
Atuante em todos os níveis da Educação, agregou em sua vida
profissional grande vivência como professor e coordenador
pedagógico em Instituições públicas e como docente e coordenador
de cursos de graduação em Instituições privadas sempre com foco
nas áreas da Educação, Saúde e Informática.
Autor de diversos livros nestes segmentos, nas poucas horas
vagas também é romancista, poeta e músico amador.

Outros livros do autor:

- Biocionário; Ed. KDP/ Amazon; 2018

- A Biologia descomplicada de A até Z; Ed. CDA; 2016

- Como educar uma criança chamada Brasil; Ed. CDA; 2017

- Os parasitas mais importantes do Brasil: das amebas aos


governantes; Ed. CDA; 2016

- Estratégias docentes eficazes: Quando a neurociência, as


teorias de aprendizagem e a prática do professor se
complementam; Ed. KDP – 2015

- Scratch: Construa brincando seus jogos e programas


computacionais; Ed. KDP / Amazon – 2014
- Informática descomplicada para Educação: Aplicações
práticas para sala de aula; Ed. Érica / Saraiva – 2014

- Educação escolar: Evolução histórica, teorias, práticas


docentes e reflexões; Flavio C. Barreto e Nádia Rockenback Ed.
Érica / Saraiva – 2014

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