Inquérito Policial

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INQUÉRITO POLICIAL – 5º PERÍODO UNTRI-

Prof. Geilson
]
Fonte: Adaptado de Curso de Processo Penal – Nestor Távora

1- A PERSECUÇÃO CRIMINAL
A persecução criminal para a apuração das infrações penais e sua respectiva autoria
comporta duas fases bem delineadas. A primeira, preliminar, inquisitiva, é o inquérito
policial. A segunda, submissa ao contraditório e à ampla defesa, é denominada de fase
processual.

2- POLÍCIA JUDICIÁRIA E POLÍCIA ADMINISTRATIVA


a) Polícia administrativa ou de segurança

De caráter eminentemente preventivo, visa, com o seu papel ostensivo de atuação,


impedir a ocorrência de infrações.

b) Polícia judiciária

De atuação repressiva, que age, em regra, após a ocorrência de infrações, visando


angariar elementos para apuração da autoria e constatação da materialidade delitiva.

Incumbirá ainda à autoridade policial fornecer às autoridades judiciárias as


informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; realizar as diligências
requisitadas pelo juiz ou pelo MP; cumprir os mandados de prisão e representar, se necessário
for, pela decretação de prisão cautelar.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
§ 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

3- CONCEITO E FINALIDADE DO IP
É o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a apuração de
uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar
em juízo.

O IP vem a ser o procedimento administrativo, preliminar, presidido pelo delegado


de polícia, no intuito de identificar o autor do ilícito e os elementos que atestam a sua
materialidade, contribuindo para a formação da opinião delitiva do titular da ação penal, ou
seja, fornecendo elementos para convencer o titular da ação penal se o processo deve ou não
ser deflagrado.

Vale ressaltar que o inquérito também contribui para a decretação de medidas


cautelares no decorrer da persecução penal, onde o magistrado pode tomá-lo como base
para proferir decisões ainda antes de iniciado o processo, como por exemplo, adecretação
de prisão preventiva ou a determinação de interceptação telefônica.

3.1 NATUREZA JURÍDICA DO INQUÉRITO

O inquérito é um procedimento de índole eminentemente administrativa, de caráter


informativo, preparatório da ação penal. Rege-se pelas regras do ato administrativo em
geral.

4- INQUÉRITOS NÃO POLICIAIS


A titularidade das investigações não está concentrada somente nas mãos da polícia
civil. Existe a possibilidade do desenvolvimento de procedimentos administrativos, fora da
seara policial, destinados à apuração das infrações penais e que podem perfeitamente viabilizar
a propositura da ação criminal.

✓ Inquéritos parlamentares, patrocinados pelas CPIs.

✓ Inquéritos policiais militares – estão a cargo da polícia judiciária militar, compostapor


integrantes da carreira. Nada impede que sejam requisitados à polícia civil e respectivas
repartições técnicas pesquisas e os exames necessários a subsidiar o inquérito militar.

✓ Inquérito civil – é presidido pelo MP e objetiva reunir elementos para a propositura da


ação civil pública. Pode perfeitamente embasar ação de âmbito criminal.

✓ Inquérito judicial – tratado na antiga Lei de Falências. Consistia em um procedimento


preparatório para a ação penal, presidido pelo juiz de direito, e irrigado pelo princípio do
contraditório e da ampla defesa. A nova Lei de Falências, contudo, revogando o diploma
anterior, não disciplinou o instituto. Para o autor, o inquérito judicial encontra-se revogado
pela nova Lei de Falências.

É de se ressaltar que o art. 3º da lei do crime organizado, autorizando que as diligências


investigatórias no âmbito das organizações criminosas fossem realizadas diretamente
pelo magistrado, instaurando a figura do juiz inquisidor, encontra-se sepultado para o autor
em razão dos seguintes fatores:

1. O inciso III do art. 2º autorizava o acesso a dados, documentos e informações fiscais,


bancárias, financeiras e eleitorais, para apuração dos ilícitos praticados por quadrilha,
bando, associação ou organização criminosa de qualquer tipo;
2. Quanto aos dados bancários e financeiros, a LC nº 105/01 disciplinou
completamente a matéria, revogando parcialmente o dispositivo. Já quanto aos dados
fiscais e eleitorais, o STF apreciando ADI nº 1.570/04, julgou o pedido parcialmente
procedente, fulminando por completo o que restava do dispositivo. Logo, não há mais
a figura do juiz inquisidor no combate ao crime organizado.

✓ Investigações envolvendo autoridades que gozam de foro por prerrogativa de função.


Nessas hipóteses, o delegado de polícia NÃO poderá indiciá-las nem instaurar
inquérito para apuração de eventual infração, pois as investigações vão
tramitar perante o tribunal onde a referida autoridade desfruta do foro privilegiado.
Ex: caso um senador venha a praticar uma infração penal, as investigações vão se
desenvolver sob a presidência de um Ministro do STF.

✓ Inquéritos por crimes praticados por magistrados ou promotores, nos quais as


investigações são presididas pelos órgãos de cúpula de cada carreira.

✓ Investigações particulares, que podem embasar a ação penal;

✓ Investigações a cargo do MP – é perfeitamente possível ao MP a realização de


investigações no âmbito criminal. Perceba que não se deseja a presidência do inquérito
policial pelo MP, pois isto, por reclamo constitucional, é atribuição da autoridade
policial. O que se pretende, sendo plenamente possível por decorrência do texto
constitucional, é a possibilidade do órgão ministerial promover, por força própria, a
colheita de material probatório para viabilizar o futuro processo.

Poderia assim o promotor de justiça instaurar o procedimento administrativo


investigatório, e colher os elementos que repute indispensáveis, dentro das suas atribuições,
para viabilizar a propositura da ação penal.

Em que pese a divergência no próprio STF, as decisões mais recentes da Suprema


Corte parecem ter consolidado o entendimento favorável à iniciativa investigativa do MP,
afinal, quem tem atribuição constitucional para exercer a ação, também deve possuir as
ferramentas para levantar os subsídios para esse mister (teoria dos poderes implícitos).

5- CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL


5.1 DISCRICIONARIEDADE

A fase pré-processual não tem o rigor procedimental para a persecução em juízo. O


delegado de polícia conduz as investigações da forma que melhor lhe aprouver. Pode atender
ou não aos requerimentos patrocinados pelo indiciado ou pela própria vítima, fazendo um
juízo de conveniência e oportunidade quanto à relevância daquilo que lhe foi solicitado. Só
não poderá indeferir a realização do exame de corpo de delito, quando a infração
praticada deixar vestígios.

IMPORTANTE!!! Sempre é bom lembrar que apesar de não haver hierarquia entre juízes,
promotores e delegados, caso os dois primeiros emitam requisições ao último, este será
obrigado a atender, por imposição legal.

5.2 ESCRITO

O IP, por exigência legal, deve ser escrito.


Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
autoridade.
5.3 SIGILOSO
Ao contrário do que ocorre no processo, o inquérito não comporta publicidade,
sendo procedimento essencialmente sigiloso. Este sigilo não pode se estender ao magistrado
nem ao MP.

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação


do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.

Já o advogado do indiciado pode consultar os autos do inquérito policial.

Objetiva-se assim o sigilo aos terceiros estranhos à persecução e principalmenteà


imprensa, no intuito de serem evitadas condenações sumárias pela opinião pública, com a
publicação de informações prelibatórias, que muitas vezes não se sustentam na fase
processual.

Pacificando a matéria, e consagrando o acesso do advogado aos autos do procedimento


investigativo, o STF editou o enunciado nº 14 de sua súmula vinculante.

Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado,


ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
política judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Sendo assim, havendo documentação do material probatório, que já faz parte dosautos
do inquérito, não há razão para impedir o acesso.

Havendo arbítrio por parte da autoridade, admite-se o manejo do mandado de


segurança, da reclamação constitucional ao STF (para fazer valer o mandamento da súmula
vinculante) e até mesmo de habeas corpus, caso se possa constatar, mesmo que indiretamente,
risco de ofensa à liberdade de locomoção do indiciado, sem prejuízo da responsabilidade por
abuso de autoridade.

Como decorrência do sigilo, preconiza o parágrafo único do art. 20 do CPP que “nos
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes,
salvo no caso de existir condenação anterior”.

A preservação do estado de inocência está a exigir esta conduta. Assim, afora as


condenações definitivas, quaisquer outras informações de inquéritos em curso só serão
certificadas se requisitadas por magistrado, membro do Ministério Público, autoridade policial
ou agente do Estado, em pedido devidamente motivado, explicitando o uso do documento.
Neste sentido, o ministério do STJ.

5.4 OFICIALIDADE

O delegado de polícia de carreira, autoridade que preside o IP, constitui-se em órgão


oficial do Estado.
5.5 OFICIOSIDADE
Em havendo crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial
deve atuar de ofício, instaurando o inquérito e apurando prontamente os fatos, haja vista que,
na hipótese, sua atuação decorre de imperativo legal dispensando, pois, qualquer autorização
para agir. Já nos crimes de ação penal privada e ação penal públicacondicionada, o legislador
achou por bem condicionar a persecução criminal a autorização da vítima, ou conferir-lhe o
próprio direito de ação.

Havendo delação anônima em crime de ação penal privada, NÃO poderá a


autoridade policial iniciar o inquérito sem a prévia autorização da vítima. Da mesma forma,
se terceiro for à delegacia no lugar do ofendido, o inquérito não será deflagrado.

5.6. INDISPONIBILIDADE

A persecução criminal é de ordem pública, e uma vez iniciado o inquérito, não


pode o delegado de polícia dele dispor.

IMPORTANTE!!! Se diante de uma circunstancia fática, o delegado percebe que não houve
crime, não deve iniciar o IP. Contudo, uma vez iniciado o procedimento investigativo, deve
levá-lo até o final, NÃO PODENDO ARQUIVÁ-LO.
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autosde
inquérito.

5.7 INQUISITIVO

O inquérito é inquisitivo: as atividades persecutórias ficam concentradas nas mãos de


uma única autoridade e não há oportunidade para o exercício do contraditório ou da
ampla defesa.

A inquisitoriedade permite agilidade nas investigações, otimizando a atuação da


autoridade policial.

Contudo, como não houve a participação do indiciado ou suspeito no transcorrer do


procedimento, defendendo-se e exercendo contraditório, não poderá o magistrado, na fase
processual, valer-se exclusivamente do inquérito para proferir sentença condenatória, pois
incorreria em clara violação ao texto constitucional.

Para o autor, atenuar o contraditório e o direito de defesa na fase preliminar, por suas
próprias características, não pode significar integral eliminação. O inquérito deve funcionar
como procedimento de filtro, viabilizando a deflagração do processo quando exista justa
causa, mas também contribuindo para que pessoas nitidamente inocentes não sejam
processadas.

Obs. Vale destacar, que ainda que de forma excepcional, existem inquéritosextrapoliciais onde
a defesa é de rigor, como no inquérito para a decretação da expulsão de estrangeiro e aquele
instaurado para apurar falta administrativa.
5.8 AUTORITARIEDADE

O delegado de polícia, presidente do IP, é autoridade pública.

5.9 DISPENSABILIDADE

O inquérito não é imprescindível para a propositura da ação penal. Contudo, se


for a base para a propositura, deverá acompanhar a inicial acusatóriaapresentada.

6- COMPETÊNCIA (ATRIBUIÇÃO)
Critério territorial – por este critério, delegado com atribuição é aquele que exerce
suas funções na circunscrição em que se consumou a infração. Circunscrição significa a
delimitação territorial na qual o delegado exerce as suas atividades.

Critério material – por este critério, temos a segmentação da atuação da polícia, com
delegacias especializadas na investigação e no combate a determinado tipo de infração, a
exemplo das delegacias especializadas em homicídios, entorpecentes, furtos e roubos, etc.

Critério em razão da pessoa – leva-se em consideração a figura da vítima, tais como


as delegacias da mulher, do turista, do idoso, dentre outras.

IMPORTANTE!!! É MERA IRREGULARIDADE o fato do inquérito tramitar em local


diverso do da consumação da infração, afinal, a violação dos critérios de atribuição não tem
o condão de macular o futuro processo. O advogado do indiciado, entretanto, poderá
impetrar habeas corpus para trancar o inquérito que tramita irregularmente, por desrespeito
à fixação da atribuição. A não contaminação do futuro processo não é obstáculo ao
combate do inquérito irregular.

7- PRAZOS
7.1 REGRA GERAL

Como regra geral, para os crimes da atribuição da polícia civil estadual, o prazopara
a conclusão do inquérito é de 10 dias, estando o indiciado preso, prazo este improrrogável,
e de 30 dias, se o agente enfrenta o inquérito solto. Este último prazo comporta
prorrogação, a requerimento do delegado e mediante autorização do juiz, não especificando
a lei qual o tempo de prorrogação nem quantas vezes poderá ocorrer,o que nos leva a crer
que esta pode se dar pela frequência e pelo tempo necessário, desde que haja autorização
judicial para tanto. Não se fez previsão quanto à prévia oitiva do MP para que haja ou não
prorrogação. Entendem os autores que o titular da ação deve ser ouvido, afinal, estando
satisfeito com os elementos até então colhidos,poderá de pronto deflagrar a ação, sem a
necessidade de maiores delongas.

7.2 PRAZOS ESPECIAIS

a) Inquéritos a cargo da polícia federal – se o indiciado estiver preso, o prazo para a


conclusão do IP é de 15 dias, prorrogável por igual período, pressupondo autorização
judicial. Estando solto o indiciado, será de 30 dias (prorrogáveis).

b) Crimes contra a economia popular – 10 dias (como a lei não faz distinção entre
indiciado preso ou solto, o prazo é considerado único, não contemplando prorrogação).
c) Lei antitóxicos – 30 dias, duplicáveis, em estando o indiciado preso, e 90 dias, também
duplicáveis, se solto estiver, por deliberação judicial, ouvindo-se o MP, mediante pedido
justificado da autoridade de polícia judiciária.

d) Inquéritos militares – indiciado preso: 20 dias; solto: 40 dias, prorrogáveis por mais 20 pela
autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja
necessidade de diligências indispensáveis à elucidação do fato.

7.3 CONTAGEM DO PRAZO

Mirabete entende que o prazo deve ser contado atendendo aos ditames do CPP, ou seja,
excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o último dia, sem fazer distinção entre indiciado
preso ou solto.

IMPORTANTE!!! Não obstante, reputam os autores que SE O INDICIADO ESTIVER


PRESO, O PRAZO DO INQUÉRITO DEVE SER CONTADO NA FORMA DO
ART. 10 DO CP, ou seja, incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o do vencimento. EM
ESTANDO SOLTO, SEGUE-SE A REGRA INSCULPIDA NO §1º DO ART.798 DO
CPP. Não é outra a posição de Nucci, salientando que se cuida de norma processual penal
material, que lida com o direito à liberdade, logo, não deixa de ter cristalino fundo de direito
material.

Se o prazo do inquérito encerrar-se em dia onde não há expediente forense,NÃO


cabe falar-se em prorrogação para o primeiro dia útil subseqüente, assim como se a prisão em
flagrante ocorreu no final de semana, o inquérito terá o seu início imediatamente, afinal as
delegacias de polícia atuam em sistema de plantão.

IMPORTANTE!!! A jurisprudência pátria tem admitido um sistema de compensação


caso haja o excesso prazal na conclusão do inquérito, levando em conta o prazo de que
dispõe o MP para ofertar denúncia. Assim, caso o delegado, estando o indiciado preso,
conclua o inquérito em 12 dias, mas o promotor oferte a denúncia em 2 dias, apesar de dispor
de 5 dias, não há de se falar em constrangimento ilegal a viabilizar o relaxamento da prisão,
concluindo que o Estado-investigação e o Estado-acusação dispõem, juntos, de 15 dias para
manter o suposto autor do fato preso.

Sem embargo, é de ver que a admissão de tal ordem de compensação equivale à


permissão de flagrante violação dos prazos legais, em prejuízo do imputado, dando margem a
interpretação distanciada do CPP, quando em seu art. 10 não admite a prorrogabilidade do
prazo para conclusão do inquérito quando o indiciado estiver recluso.

8- VALOR PROBATÓRIO

O inquérito policial tem valor probatório relativo, pois carece de confirmação por
outros elementos colhidos durante a instrução processual.

É que os elementos probatórios, reunidos na fase pré-processual devem serrepetidos


na fase processual, leia-se, colhidos perante o magistrado, numa instrução
dialética, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, pois só então poderão embasaruma
sentença condenatória.

Existem PROVAS NÃO-REPETÍVEIS, também chamadas de não renováveis,


que devem ser realizadas imediatamente, pois caso contrário perecerão e não poderão
mais ser produzidas, de forma a prejudicar substancialmente a demonstração da verdade.
Como então equalizar tal situação?
Além de ser recomendável que a autoridade policial, em tais casos, autorize
fundamentadamente que o indiciado e/ou seu advogado acompanhe a produção da prova
não-repetível, a solução encontra guarida no incidente de produção antecipada de
prova, em que ainda durante o inquérito, instaura-se um procedimento, perante o
magistrado, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, com a participação das
futuras partes do processo, desde que determinada prova seja imprescindível para a
prolação de futura sentença, e hajam indícios a demonstrar que o perecimento da mesma
é provável.

Calha por fim destacar que as provas de caráter eminentemente técnico realizadas na
fase de inquérito, a exemplo das perícias, têm sido comumente utilizadas na fase processual
como prova de valor similar às colhidas em juízo, sobretudo pela isenção e profissionalismo
atribuídos aos peritos. Melhor seria, como já tem sido implementado, porém de forma
minoritária, que durante o inquérito fosse permitido ao defensor do indiciado, quando da
produção de exames periciais, formular quesitos aos peritos, no intuito da demonstração de
fatos relevantes à futura tese defensiva.

Da mesma forma, os documentos colhidos na fase preliminar, interceptações


telefônicas, objetos conseguidos mediante busca e apreensão, têm sido valorados na fase
processual, quando serão submetidos à manifestação da defesa, num contraditório diferido
ou postergado.

Por sua vez, a lei 11.690/08, dando nova redação ao art.155 do CPP, asseverou que:

O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em


contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
EXCLUSIVAMENTE nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas”.

As cautelares determinadas na fase inquisitorial e que permitem a produção


probatória, como a medida de busca e apreensão ou a interceptação telefônica, se justificam
por sua necessidade e urgência, para que os elementos não venham a se esvair.

Já as provas irrepetíveis, como aquelas obtidas através de exame pericial cujos


vestígios tendem a desaparecer, e por isso a impossibilidade do seu refazimento, também
serão aproveitadas na fase processual. Advirta-se, por oportuno, que tais elementos ganham
o status de prova a ser valorada na sentença após a submissão ao
contraditório e a manifestação da defesa, o que se dá, em regra, na fase processual
(contraditório diferido ou postergado).

Já o incidente de produção antecipada de prova, deve tramitar perante o magistrado,


com a presença das futuras partes, e, por conseguinte, assegura-se ao material colhido o
justo título de prova, a ser aproveitada na fase processual.

9- VÍCIOS
IMPORTANTE!!! Os vícios ocorridos no inquérito policial NÃO atingem a ação
penal.

Tem prevalecido tanto nos tribunais como na doutrina que, sendo o inquérito
dispensável, algo que não é essencial ao processo, não tem o condão de, uma vez viciado,
contaminar a ação penal. A irregularidade ocorrida durante o inquérito poderá gerar a
invalidade ou ineficácia do ato inquinado, todavia, sem levar à nulidade processual.

Ex. Havendo prisão em flagrante ilegal durante o inquérito, ela deve ser relaxada; todavia, este
fato não leva à nulidade do futuro processo contra o suposto autor do fato.

Não podemos deixar de destacar, contudo, apesar de posição francamente


minoritária, as lições de Aury Lopes Jr, reconhecendo a possibilidade de contaminação do
processo pelos vícios ocorridos no inquérito policial, principalmente pelo mau vez dealguns
magistrados em valorar os elementos colhidos no inquérito como prova em suas sentenças.
Exige-se do juiz uma diligência tal na condução do processo que o leve a verificar se, no curso
do IP, não foi cometida alguma nulidade absoluta ou relativa (quando alegada). Verificada, o
ato deverá ser repetido e excluída a respectiva peça que o materializa, sob pena de
contaminação dos atos que dele derivem. Caso o ato não seja repetido, ainda que por
impossibilidade, a sua valoração na sentença ensejará a nulidade do processo.

IMPORTANTE!!! A despeito desta divergência, podemos facilmente concluir que caso a


inicial acusatória esteja embasada tão somente em inquérito viciado, deverá ser rejeitada por
falta de justa causa, diga-se, pela ausência de lastro probatório mínimo e idôneo ao início do
processo, com fundamento no art. 395, III, do CPP. Já se durante o inquérito obtivermos, por
exemplo, uma confissão mediante tortura, e dela decorra todo o material probatório em
detrimento do suposto autor do fato, como uma busca e apreensão na residência do confitente,
apreendendo-se drogas, é de se reconhecer a aplicação da teoria dos frutos da árvore
envenenada ou da ilicitude por derivação, isto é, todas as provas obtidas em virtude da
ilicitude precedente deverão ser reputadas inválidas, havendo assim clara influência na fase
processual.

10- NOTITIA CRIMINIS (NOTÍCIA DO CRIME)


10.1 CONCEITO

É o conhecimento pela autoridade, espontâneo ou provocado, de um fato


aparentemente criminoso.
Normalmente é endereçada à autoridade policial, ao membro do MP ou ao magistrado.
Caberá ao delegado, diante do fato aparentemente típico que lhe é apresentado, iniciar as
investigações. O MP, diante de notícia crime que contenha em si elementos suficientes
revelando a autoria e a materialidade, dispensará a elaboração do inquérito, oferecendo de
pronto a denúncia. Já o magistrado, em face da notícia crime que lhe é apresentada, poderá
remetê-la ao MP, para providências cabíveis, ou requisitara instauração do inquérito policial.

10.2 ESPÉCIES

a) Espontânea (cognição imediata) – é o conhecimento direto dos fatos pelaautoridade


policial ou através de comunicação informal (pela imprensa, por exemplo).

IMPORTANTE!!! A chamada delação apócrifa ou notitia criminis inqualificada é o que


vulgarmente chamamos de denúncia anônima, PODE DAR ENSEJO À INSTAURAÇÃO
DO INQUÉRITO POLICIAL, devendo, contudo, a autoridade proceder com a cautela
devida para evitar eventual arbitrariedade. Certo é que a polícia deve acautelar-se diante
da notícia anônima, e proceder às investigações com cuidado redobrado, porém, não deixando
de atuar.

b) Provocada (cognição mediata) – é o conhecimento da infração pela autoridade e


diante provocação de terceiros.

São elas:

✓ Requisição do juiz ou do MP – neste caso, requisição é sinônimo de


imposição, devendo a autoridade dar início ao inquérito policial. Se o
procedimento instaurado é visivelmente arbitrário, a autoridade requisitante
deve ser indicada como coatora (juiz ou promotor), o que vai direcionar a
competência para apreciar eventual HC trancativo, é dizer, o TJ, se a autoridade
é estadual, ou o TRF, se é federal.

✓ Requerimento da vítima – a vítima da infração ou o seu representante legal


noticiam o fato a autoridade policial através de requerimento, devendo conter
a narração dos fatos e suas circunstâncias; a individualização do suposto autor
da infração, ou seus sinais característicos e razões de convicção de ser o mesmo
o sujeito ativo do delito; a nomeação de testemunhas, com indicação da
profissão e das respectivas residências.

Caso o delegado de polícia indefira o requerimento do ofendido para instauração do


inquérito policial, não há de ser falar de violação a direito líquido e certo da vítima a dar ensejo
à impetração de mandado de segurança, afinal, o enquadramento legal é feito pela autoridade
policial, e convencendo-se o delegado de que o fato é atípico, restaria ao eventual prejudicado
o manejo do recurso administrativo à instância superior da polícia. Neste sentido,
entendimento do STJ.

IMPORTANTE!!! Restaria ainda a provocação acerca da possibilidade ou não da autoridade


policial invocar o princípio da insignificância para deixar de instaurar o inquérito policial.
A posição francamente MAJORITÁRIA tem se inclinado pela
IMPOSSIBILIDADE do delegado de polícia invocar o princípio da insignificância para
deixar de atuar, pois estaria movido pelo princípio da obrigatoriedade. A análise crítica
quanto à insignificância da conduta caberia ao titular da ação penal, que na hipótese, com base
no inquérito elaborado, teria maiores elementos para promover o arquivamento, já que a
insignificância demonstrada é fator que leva a atipicidade da conduta. Assim, deve o delegado
instaurar o IP, concluí-lo e encaminhá-lo ao juízo, evitando, contudo, o indiciamento.

Nada impede, porém, que instaurado o inquérito policial, possa o suposto autor da
conduta insignificante, diante do constrangimento ilegal, impetrar habeas corpus para trancar
o procedimento investigatório iniciado.

✓ Delação – qualquer do povo, nos crimes de ação penal pública incondicionada,


pode, validamente, noticiar o fato delituoso à autoridade policial, dando ensejo
à instauração do inquérito, através da delação. Esta não tem cabimento nos
crimes de ação privada e pública condicionada, já que nestas hipóteses o
inquérito, para ser iniciado, pressupõe manifestação do legítimo interessado.

✓ Representação da vítima (delatio criminis postulatória) – nos crimes de


ação penal púbica condicionada à representação. A representação funciona
como verdadeira CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE, e sem ela, o
inquérito não poderá ser instaurado. E se for? A vítima poderá impetrar
mandado de segurança para trancá-lo, afinal é latente a violação de direito
líquido e certo do ofendido de não ver iniciada a investigação sem sua
autorização.

✓ Requisição do Ministro da Justiça – em alguns crimes, ditos de ação pública


condicionada, a persecução criminal está a depender deautorização do Ministro
da Justiça, também chamada de requisição.Esta, apresentada pelo Ministro da
Justiça, ao contrário da requisição emanada dos juízes e promotores, não é
sinônimo de ordem, e sim uma mera autorização para o início da persecução
criminal em algumas infrações que a exigem.

c) Notícia crime revestida de forma coercitiva – é aquela apresentada juntamente com o


infrator preso em flagrante.

11- PEÇAS INAUGURAIS DO INQUÉRITO POLICIAL


O auto de prisão em flagrante, as requisições e os requerimentos se materializam
na peça inaugural do inquérito policial. Nos demais casos, a autoridade policial baixa uma
portaria para o início do procedimento.

12- INCOMUNICABILIDADE
O art. 21 do CPP contempla a possibilidade de decretação da incomunicabilidade do
preso durante o IP, por conveniência da investigação ou quandoo interesse da sociedade o
exigisse, por deliberação judicial, mediante requerimento da autoridade policial ou do MP, e
por até 3 dias. Ocorre que, este dispositivo, em face
do disposto no art. 136, §3º, IV, da CF, que não admite a incomunicabilidade até mesmo
durante o Estado de Defesa, NÃO FOI RECEPCIONADO PELA CARTA MAGNA.
Ora, se em momentos de grave instabilidade institucional, ensejadores da decretação do
Estado de Defesa, não poderá ser determinada a incomunicabilidade, quiçá nos períodos de
normalidade (Tourinho).

O regime disciplinar diferenciado (RDD), dando tratamento carcerário mais áspero


a delinqüentes que incorram em uma das situações que autorizam a inserção de tal ordem de
exceção, não prevê a incomunicabilidade dos presos imersos em tal regime, apenas
consagrando que as visitas semanais serão de duas pessoas, sem contaras crianças, e por até
duas horas. Ademais, os Estados e o DF poderão regulamentar o RDD para “disciplinar o
cadastramento e agendamento prévio das entrevistas dos presos provisórios ou condenados
com seus advogados, regularmente constituídos nos autos da ação penal ou processo de
execução criminal, conforme o caso”. Agendamento e organização das visitas não significa
incomunicabilidade, e sim expediente administrativo para a boa condução carcerária.

13- PROVIDÊNCIAS
Dirigir-se ao local dos fatos, isolando a área para atuação dos peritos – só após a
liberação dos peritos, é que os objetos poderão ser apreendidos e a cena do crime poderá ser
alterada.

Apreender objetos – segundo o STJ, a autoridade policial poderá apreender os objetos


relacionados com a infração, mesmo antes da instauração do respectivo inquérito.

Colher todas as provas – como norma genérica, é recomendável que a autoridade


policial esteja atenta para que não venha a perecer os elementos necessáriosa elucidação dos
fatos.

Ouvir o ofendido – se o ofendido, devidamente notificado a comparecer para ser


ouvido, não o fizer, não justificando a ausência, poderá ser conduzido coercitivamente à
presença da autoridade (art. 201 parag. único, CPP). O ofendido não é compromissado a
dizer a verdade, afinal, não é testemunha. Caso o ofendido de instauração a investigação ou
processo a pessoa sabidamente inocente, ele poderá responder por denunciação caluniosa.

Ouvir o indiciado – a presença do advogado é facultativa, ficando a critérioda


autoridade policial oportunizar os esclarecimentos formulados ao seu constituinte. Poderá o
causídico orientar o seu assistido a acompanhá-lo durante todo o feito, inclusive o
aconselhando a ficar calado.

O termo de oitiva do indiciado será assinado por duas testemunhas que tenham ouvido
a sua leitura, na presença do indiciado, como forma de evitar distorções entre aquilo que foi
dito pelo suspeito e o que ficou registrado pelo escrivão. A omissão desta formalidade acarreta
mera irregularidade, não tendo o cunho de descredibilizar, por si só, a realização do ato.
Caso o indiciado não atenda à notificação para comparecer, nem justifique sua
ausência, poderá, em tese, ser conduzido coercitivamente à presença da autoridade,
independentemente de representação do delegado de polícia ao juiz, consoante posição
majoritária da jurisprudência.

Obs. Contudo, para o autor, melhor é que se entenda pela necessidade de autorização judicial
para a condução coercitiva.

IMPORTANTE!!! A condução coercitiva do indiciado é medida de duvidosa


constitucionalidade, mercê da previsão da garantia fundamental ao silêncio, que torna sem
propósito a condução daquele que não deseja participar do interrogatório, acrescidodo fato de
que este passou a ostentar prevalentemente caráter de meio de defesa, não se justificando a
condução coercitiva, ainda que autorizada pelo juiz.

Realização do exame de corpo de delito e outras perícias – a autoridade


policial NÃO poderá negar a realização do exame quando o crime deixe vestígios.

Ordenar a identificação datiloscópica do indiciado e fazer juntar sua folha de


antecedentes – com a atual CF, a identificação criminal é exceção, tendo cabimento nas
hipóteses expressamente autorizadas pela legislação.

Principais pontos da lei 12.037/09:

✓ O civilmente identificado, DE REGRA, não será identificado criminalmente;

✓ As hipóteses de admissibilidade, que podem dar margem à identificação criminal,


mesmo diante da apresentação de documentação civil (cuja cópia necessariamente
será anexada aos autos do procedimento), passam a ser as seguintes:

1. O documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;


2. O documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o
indiciado;
3. O indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações
conflitantes entre si;
4. A identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou
mediante representação da autoridade policial, do MP ou da defesa;
5. Constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes
qualificações;
6. O estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição
do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos
caracteres essenciais.

Obs. Perceba-se que NÃO SE FEZ A ESCOLHA CASUÍSTICA DE DELITOS que por
sua especial gravidade obrigariam a identificação criminal.

A seu turno, caso o indiciado ou o capturado em flagrante não esteja com o documento
de identificação civil em mãos, deve a autoridade conceder prazo razoável
para que o apresente, ou para que pessoa de sua confiança o traga, já que a imediata
identificação criminal seria precipitada. A lei 10.054/00 falava em 48 horas. Apesar de sua
revogação, entendem os autores que o prazo deve ser mantido.

✓ A determinação da identificação sem amparo legal caracteriza abuso de


autoridade.
✓ Como é presumivelmente inocente, a identificação não constará de certidões ou
atestados de antecedentes, enquanto não transitar em julgado a sentença
condenatória, ressalvadas as requisições emanadas das autoridades que integram a
persecução penal, como membros do MP, juízes e delegados. Sobrevindo
absolvição, arquivamento de IP ou rejeição da petição inicial, uma vez preclusa a
decisão judicial nesse sentido, o indiciado (ou réu)poderá requerer a retirada da
identificação fotográfica dos autos da persecução, como forma de preservação da
imagem, desde que apresente a competente identificação civil. Havendo
denegação, poderá ingressar com mandado de segurança.

Há ainda previsão de identificação criminal desconsiderando a existência da


identificação civil, no que se refere às pessoas envolvidas com a ação praticada por
organizações criminosas, que também é de duvidosa constitucionalidade.

Segundo o STF, a condução coercitiva para fins de identificação datiloscópica em


face de recusa imotivada do indiciado em se identificar não constitui constrangimento
ilegal. Em último caso, a condução coercitiva figuraria como ferramenta válida a trazer o
indiciado para identificação.

13.1 REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

O indiciado não está obrigado a participar desta, pois não pode ser compelido a auto
incriminar-se. Segundo Capez, obriga-se, contudo, mesmo não desejando participar, a
comparecer no dia e hora aprazados, em atenção à determinação da autoridade policial, sob
pena de condução coercitiva.

Não obstante, se não há obrigação de participar, também não há de estar presente. O


comparecimento poderia desaguar num constrangimento ilegal de caráter acusador. Neste
sentido, milita o STF.

13.2 INDICIAMENTO

Conceito – é a cientificação ao suspeito de que ele passa a ser o principalfoco


do inquérito. Saímos do juízo de possibilidade para o de probabilidade e as investigações são
centradas em pessoa determinada. Logo, só cabe falar em indiciamento se houver um lastro
mínimo de prova vinculando o suspeito à prática delitiva. Se feito sem lastro mínimo, é ilegal,
dando ensejo à impetração de HC para ilidi-lo ou até mesmo para trancar o inquérito policial
iniciado.

Não é adequado que o ato de indiciar seja requisitado pelo juiz ou pelo MP. Cabe
ao delegado o ato de indiciar.
Indiciado menor – com a revogação de dispositivo do CPP que preconizava a
necessidade de curador ao menor de 21 anos e maior de 18 para o ato de interrogatório perante
o juiz, uniformizou-se a doutrina, a jurisprudência e a legislação processual penal no sentido
de ser desnecessária a nomeação de curador ao indiciado menor de 21 anos.

Desindiciamento – nada impede que a autoridade policial, ao entender, no transcurso


das investigações, que a pessoa indiciada não está vinculada ao fato, promova o
desindiciamento, seja no transcurso do feito, ou no relatório de encerramentodo procedimento.
É possível também que o desindiciamento ocorra de forma coacta, pela procedência de HC
impetrado no objetivo de trancar o inquérito em relação a algum suspeito.

14- ENCERRAMENTO
O inquérito policial é encerrado com a produção de minucioso relatório que informa
tudo quanto apurado. É peça essencialmente descritiva, trazendo um esboço das principais
diligências realizadas na fase preliminar, e justificando eventualmente atémesmo aquelas que
não foram realizadas por algum motivo relevante.

IMPORTANTE!!! Não deve a autoridade policial esboçar juízo de valor no relatório,


afinal, a opinião delitiva cabe ao titular da ação penal, e não ao delegado de polícia,
ressalva feita à Lei de Tóxicos, onde na elaboração do relatório deve a autoridade policial
justificar as razões que a levaram à classificação do delito.

Os autos do inquérito, integrados com o relatório, serão remetidos ao Judiciário, para


que sejam acessados pelo titular da ação penal. Em alguns Estados da Federação, os autos
serão remetidos às centrais de inquérito, vinculadas ao MP, para que a distribuição seja
realizada diretamente ao promotor com atribuição para atuar no caso.

Sendo o fato de difícil elucidação e estando o indiciado solto, poderá o delegado


requerer à autoridade judicial a devolução dos autos para ulteriores diligências, que serão
utilizadas no prazo designado pelo magistrado.

Chegando ao juízo os autos do inquérito, teremos o seguinte:

➢ Crimes de AÇÃO PENAL PÚBLICA

1. Deverá o MP exercer a ação penal, oferecendo denúncia no intuito de que o processo


criminal se inicie.

2. Caso o inquérito não tenha apurado os elementos que o MP repute imprescindíveis


ao oferecimento da denúncia, abre-se a oportunidade da requisição de novas diligências, que
terão por finalidade complementar o material que já foi colhido. Essa requisição passa pelo
juiz, já que seguimos o sistema presidencialista, e deve ser remetida à autoridade policial
com prazo para cumprimento. Realizadas as diligências, retornam ao magistrado, que deverá
abrir vistas ao promotor.

IMPORTANTE!!! #Pode o magistrado indeferir as diligências requisitadas peloMP


por entender que as mesmas são protelatórias ou desnecessárias? A resposta
negativa se impõe, afinal, é o Ministério Público, por previsão constitucional (art.129,I), o
titular da ação penal, cabendo ao órgão ministerial o juízo quanto à necessidade ou não de
diligencia complementar. O magistrado que indefere o pleito ministerial está tumultuando
arbitrariamente o procedimento, dando ensejo ao cabimento do recurso de correição parcial.

IMPORTANTE!!! Vale destacar que as diligências complementares só poderão ser


requisitadas se o suspeito estiver solto. Caso o mesmo esteja preso, a sua colocação em
liberdade é de rigor, afinal, se ainda não existem elementos para a propositura da denúncia,
com muita razão não há lastro para a manutenção da prisão.

3. Já se entender que não é caso de oferecer a denúncia, pela absoluta ausência de


elementos mínimos a indicar a autoria ou a materialidade delitiva, ou até mesmo a
existência de alguma infração, deve promover o arquivamento, aguardando então o
surgimento de novos elementos a justificar a propositura da inicial acusatória.

#Quais são as hipóteses que autorizam o pedido de arquivamento?

São os casos de rejeição da denúncia. Ora, se é caso de rejeição da denúncia, o


promotor não deveria tê-la oferecido.

• Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;


• Faltar justa causa – é a necessidade de lastro probatório mínimo para o exercício
da ação. Sem os indícios de autoria e da materialidade, torna-se inviável qualquer
pretensão acusatória.

IMPORTANTE!!! Advirta-se, ainda que com a reforma do CPP passou-se a admitiro


JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE, nas hipóteses do art. 397, de forma que, se o
membro do parquet vislumbra, pela análise dos elementos que lhe são trazidospelo inquérito
ou por quaisquer outras peças de informação, que está demonstrada HIPÓTESE
AUTORIZADORA DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, não deve
promover a denúncia, sob a justificativa de que o processo deve ser deflagrado para que o réu
seja absolvido. Logo, para o autor as hipóteses que autorizam a absolvição sumária, se
cabalmente demonstradas ab initio, devem também ser invocadas para lastrear o pedido de
arquivamento. São elas:

• Existência manifesta de causa excludente de ilicitude;


• Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade, salvo a
inimputabilidade;
• Fato evidentemente não constitui crime;
• Existência de causa extintiva da punibilidade.

A título ilustrativo, se pelos elementos colhidos no inquérito, o promotor estiver


convencido de que o agente atuou amparado pela legítima defesa, deverá, ao invés de
denunciá-lo, requerer o arquivamento, afinal, a legítima defesa exclui a ilicitude e por
conseqüência, a própria infração penal.

Advirta-se que o entendimento aqui esposado é francamente MINORITÁRIO.


Tem prevalecido a tese de que a interpretação deve ser restrita às hipóteses de atipicidade.
Havendo excludente de ilicitude ou de culpabilidade, o
adequado seria o oferecimento da denúncia, para iniciado o processo, certificar-se o
direito com a sentença absolutória. É o posicionamento do STF.

Por sua vez, estando presente causa extintiva da punibilidade, não haveria razão
alguma para o exercício da ação penal, afinal o direito de punir não mais poderá ser efetivado.
Logo, propício o arquivamento, seja quando presente a prescrição, ou qualquer outra
causa semelhante. O mais adequado é que o magistrado, ao invés de simplesmente arquivar
o inquérito ou as peças de informação, declare expressamente a extinção da punibilidade.

IMPORTANTE!!! A homologação do arquivamento tem natureza administrativo-


judicial, já que emana do magistrado, contudo é proferida ainda na fase pré- processual, não
certificando o direito e por consequência não faz coisa julgada.

IMPORTANTE!!! Arquivado o IP ou as peças de informação, nada impede que em momento


posterior haja o oferecimento da denúncia acerca daquele mesmo fato desde que surjam novas
provas, ou seja, elementos até então desconhecidos que revelem a autoria ou a materialidade
da infração.

IMPORTANTÍSSIMO!!! É importante salientar que segundo o STF, se o arquivamento é


realizado com base na PROVA DA ATIPICIDADE DO FATO, estando o promotor
convencido de que existe lastro suficiente que faça concluir que o fato é atípico, e se o pedido
for homologado nestes exatos termos, a decisão, de forma excepcional, FAZ COISA
JULGADA MATERIAL. Neste raciocínio, não será admissível denúncia, nem mesmo se
surgissem novas provas por ofensa à coisa julgada material.

Obs. A decisão homologatória do pedido de arquivamento é irrecorrível, não havendo


contemplação legal de recurso para combatê-la. A exceção é tratada pelo art.7º da Lei 1521/51,
prevendo o recurso de ofício da decisão que arquivar o inquérito nos crimes contra a
economia popular e contra a saúde pública.

Há também a previsão do art. 6º da lei 1.508/51, contemplando o recurso em sentido


estrito para combater decisão de arquivamento da representação nas contravenções do jogo
do bicho e de aposta de corrida de cavalos fora do hipódromo. Para os autores, o referido
dispositivo não foi recepcionado pela CF, afinal, sendo a ação pública privativa do MP,
requerendo o promotor o arquivamento, não assistiria razão para que terceira pessoa
recorresse.

IMPORTANTE!!! Também não há de se falar em ação privada subsidiária dapública se


houve manifestação pelo arquivamento, afinal, ela só tem cabimento nas hipóteses de
INÉRCIA do MP, e se o promotor requereu o arquivamento, certamente não está sendo
desidioso.

Por sua vez, se o magistrado promove o arquivamento ex officio, sem requerimento


ministerial, estará tumultuando arbitrariamente o procedimento, em ato que desafia correição
parcial.

Ocorrendo divergência do magistrado quanto ao pedido de arquivamento –


incorporando a função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação
penal pública, deve o magistrado, invocando o artigo 28 do CPP, remeter os autos ao
PGJ, para que a deliberação final seja dada por órgão superior do próprio Ministério
Público. É a aplicação do princípio da devolução, onde o magistrado remete a solução da
divergência quanto à propositura da denúncia ou à efetivação do arquivamento a órgão do
próprio Ministério Público.

Poderá então o PGJ (ou a respectiva Câmara de Coordenação e Revisão, na esfera


federal), acatando as alegações do magistrado, determinar que outro promotor promova a
denúncia, respeitando assim a independência funcional do membro da instituição que requereu
o arquivamento. O outro órgão designado, contudo, estará obrigado a promover a denúncia,
afinal atua por delegação (longa manus) do Procurador Geral. Poderá diretamente, na
condição de PGJ, oferecer ele próprio a denúncia; ou ainda, acatando as alegações do promotor
de justiça, insistir no arquivamento, vinculando assim o magistrado à homologação do pedido.

Caso o magistrado não invoque o art. 28, e remeta os autos para que outro promotor
ofereça a denúncia, haverá frontal violação ao princípio do promotor natural e ao devido
processo legal, incorrendo o processo iniciado em nulidade manifesta.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Desarquivamento – O desarquivamento é ATO PRIVATIVO


DO MP, sem a necessidade de intervenção judicial, ocorrendo quando o promotor,
convencido da existência de novas provas (súmula 524 STF), oferece denúncia, exercendo a
ação penal. O ato jurídico do desarquivamento ocorreria com o oferecimento da
denúncia, que está condicionada ao surgimento de novas provas. Enquanto o IP estiver
arquivado, pode o delegado de policia validamente colher qualquer elemento que possa
simbolizar a existência de prova nova, remetendo-osrapidamente ao magistrado.

Arquivamento IMPLÍCITO – é o fenômeno de ordem processual decorrentedo


titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum fato investigado (arquivamento
implícito objetivo) ou algum dos indiciados (arquivamento implícito subjetivo), sem
expressa manifestação ou justificação deste procedimento. Este arquivamento se consuma
quando o juiz não se pronuncia na formado art. 28 com relação ao que foi omitido na peça
acusatória. Melhor seria dizer arquivamento tácito.

É nascido em razão da omissão ministerial que passa despercebida pelo


magistrado.

Destarte, quando em momento posterior o promotor deseje aditar a denúncia para


lançar o terceiro criminoso ou a infração não contemplada, exige-se a existência deprova nova.
Da mesma forma, percebendo o magistrado a omissão ministerial, remeterá os autos ao
Procurador Geral, invocando o art. 28.

Poderá ocorrer o arquivamento implícito ainda, quando o promotor requeira o


arquivamento expresso em razão de algumas infrações ou de alguns criminosos,
deixando de se manifestar em relação aos demais. Decorre nesta última hipótese, de um
arquivamento expresso falho, lacunoso.
IMPORTANTE!!! Cumpre destacar que, majoritariamente, O ARQUIVAMENTO
IMPLÍCITO NÃO TEM SIDO ACEITO, NEM PELA JURISPRUDÊNCIA, NEM
PELA DOUTRINA, justamente por ausência de disciplina legal. Neste sentido, o STJ
sustenta que o silêncio do parquet no que toca a acusados cujos nomes só aparecem em
momento subseqüente ao aditamento da denúncia não importa em arquivamento quanto a eles,
SÓ SE CONSIDERANDO ARQUIVADO O PROCESSO MEDIANTE DECISÃO DO
JUIZ.

Arquivamento INDIRETO – o que se tem chamado de arquivamento indireto


nada mais é do que a HIPÓTESE DO MP DEIXAR DE OFERECER DENÚNCIA POR
ENTENDER QUE O JUÍZO É INCOMPETENTE, requerendo a
remessa dos autos ao órgão competente. Caso o magistrado discorde do pleito ministerial,
como não há como obrigar o promotor a oferecer denúncia, restaria, por analogia, invocar o
art. 28, remetendo os autos ao Procurador Geral, para que este delibere a respeito.

Arquivamento ORIGINÁRIO – se o requerimento de arquivamento parte direto do


Procurador Geral, nas ações em que o mesmo atue originariamente, não há como o relator no
Tribunal invocar o art. 28 do CPP, afinal, o pedido já emana do próprio Procurador-Geral.
Subsiste, como via única, a homologação.

Restaria ao Colégio de Procuradores de Justiça, rever, mediante requerimento do


legítimo interessado, nos termos da Lei Orgânica, decisão de arquivamento de inquérito
policial ou peças de informação determinada pelo PGJ, nos casos de sua atribuição originária.
Caberá ao Colégio de Procuradores, provocado administrativamente, deliberar se designa
outro membro da instituição para oferecer denúncia, em substituição ao Procurador Geral, ou
se mantém o arquivamento.

Arquivamento PROVISÓRIO – é possível que o arquivamento se origine da


ausência de uma condição de procedibilidade, como no caso da vítima de crime de ação
pública condicionada à representação, que se retrata antes da denúncia ser oferecida.
Restaria ao MP promover o arquivamento, aguardando que eventualmente a vítima se
arrependa, e volte a representar. Se isso não ocorrer, a vítima decairá do direito de
representação, e a possibilidade da realização do desarquivamento irá desaparecer. O que era
provisório passará a ser então definitivo.

➢ Crimes de AÇÃO PENAL PRIVADA

Nos crimes de ação penal privada, encerrado o inquérito policial e remetido a juízo,
deve-se aguardar a iniciativa da vítima, através do seu advogado, para que acesse os autos
da investigação que estão disponíveis em cartório, no intuito de oferecimento da queixa-crime.
Nada impede que os autos do inquérito, por traslado, sejam entregues ao requerente.

IMPORTANTE!!! A pendência do inquérito policial NÃO prorroga o prazo que a vítima


dispõe para exercer a ação. Em situações drásticas, se o inquérito não estiver concluído, resta
à vítima, para evitar a decadência, oferecer a ação sem o inquérito, requerendo ao juízo que
seja ele lançado aos autos, assim que concluído.
Não há que se falar em arquivamento do inquérito nos crimes de iniciativa privada.
Se a vítima não deseja oferecer a ação, basta ficar inerte, e com isso, ultrapassado o prazo de
seis meses, opera-se a DECADÊNCIA. Caso a mesma, inadvertidamente, requeira o
arquivamento do inquérito, estará renunciando ao direito de ação, e por conseqüência dando
ensejo à extinção da punibilidade.

15- CONSIDERAÇÕES FINAIS

15.1 TERMO CIRCUNSTANCIADO

Nos crimes de menor potencial ofensivo, quais sejam, os crimes com pena máxima
não superior a dois anos e todas as contravenções penais comuns, tratados pela lei
9099/95, o legislador, visando imprimir celeridade, prevê, como regra, no art. 69, a
substituição do inquérito policial pela confecção do termo circunstanciado de ocorrência
(TCO), que é uma peça despida de rigor formal, contendo breve e sucinta narrativa que
descreve sumariamente os fatos e indica os envolvidos e eventuais testemunhas, devendo ser
remetido, incontinente, aos Juizados Especiais Criminais.

É mera irregularidade a realização de inquérito policial ao invés de termo


circunstanciado.

Obs. Por sua vez, a Lei de Tóxicos prevê a presidência da lavratura do TCO pelo magistrado,
nos delitos de porte para uso de substância entorpecente e cultivo ou semeio para consumo. Na
falta do magistrado, a lavratura será realizada pela autoridade policial. Na atual ordem
constitucional, não cabe ao magistrado esse papel, razão pela qual entendem os autores que a
previsão é flagrantemente inconstitucional.

15.2 CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL

Caberá ao MP exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei


complementar, de iniciativa dos respectivos Procuradores Gerais da União e dos Estados. Mas
IMPORTANTE ressaltar que esse controle nada tem a ver com subordinação
hierárquica. O controle da atividade policial judiciaria pelo MP prescinde de qualquer
vinculação administrativa ou hierárquica entre as duasinstituições.

SÚMULAS APLICÁVEIS
➢ STJ

234. A participação de membro do MP na fase investigatória criminal não acarreta seu


impedimento ou suspeição para o oferecimento de denúncia.

➢ STF
397. O poder de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de
crime cometido nas suas dependências, compreende, consoante o regimento, a
prisão em flagrante do acusado e a realização do inquérito.

524. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do


promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas.

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