(SCHELLING, F. W. J.) Preleções Privadas de Stuttgart
(SCHELLING, F. W. J.) Preleções Privadas de Stuttgart
(SCHELLING, F. W. J.) Preleções Privadas de Stuttgart
F. W. J. SCHELLING
Preleções privadas de Stuttgart
T 651n
Schelling, Friedrich W. J. (1775-1854)
Preleções privadas de Stuttgart;
introdução, tradução e notas de Luis Fellipe Garcia.
— São Paulo: Editora Clandestina, 2020. p. 165.
ISBN 978-85-5666-013-8
1. Filosofia. 2. Idealismo alemão.
1. Título
CDD: 190
Sumário
Introdução histórico-sistemática 7
Léxico 159
Introdução
histórico-sistemática
7
8 Introdução
VI – Estrutura da obra
Preleções privadas de
Stuttgart (1810)33
I.
36 Wesen pode ser traduzido tanto por “ser” como por “essência”;
para evitar a confusão com Sein, que constitui um dos conceitos
fundamentais das Preleções, optamos pelo termo essência. Fa-
remos contudo uma exceção a essa opção para a fórmula freier
Wesen (SW, VII, pp. 461-462 / HKA, II, 8, pp. 146-148), cuja
tradução usual “ser livre” deixa a leitura mais fluida. (NT)
F.W.J. Schelling 45
37 Alusão a Ezequiel 47:9: “Ja, alles, was darin lebt und webt,
dahin diese Ströme kommen, das soll leben [E toda criatura vivente
que passar por onde quer que entrarem estes rios viverá]”. (NT)
F.W.J. Schelling 47
A B
A A
A=B A=B
Como em cada uma dessas formas encontra-se o
mesmo elo [Band ] que na forma absoluta, então cada
uma delas se dissolve de novo na essência da forma
absoluta, e através dela, na essência em si.
Encontramo-nos então de novo onde estávamos antes.
Mas agora, ao invés dos fatores simples A = B, temos
as duas unidades; i.e., temos apenas uma unidade mais
desenvolvida, mas nenhuma diferença.
Todavia essa transformação [Umwandlung] da forma
absoluta em duas formas subordinadas, ou, o que dá
no mesmo, essa uni-formação [Einbildung] completa de [82]
toda a proto-essência no real e no ideal é o caminho
necessário para a diferenciação finita e efetiva.
52 Preleções
A3
A2 = (A = B)
Ora, aqui é dado contudo mais do que uma mera
distinção de dignidade. A primeira potência deve por
sua própria natureza preceder [vorangehen] a segunda;
entre ambas potências há assim uma prioridade e uma
posterioridade; o real é naturâ prius, o ideal naturâ
posterius. O inferior é assim sem dúvida posto antes [84]
do superior, mas não segundo a sua dignidade, o que
conteria uma contradição, mas segundo a sua existência
[Existenz ].
Desse modo a prioridade da primeira potência aqui
desenvolvida é apenas uma prioridade ideal ou lógica
do real em relação ao ideal, e não ainda uma prioridade
efetiva. Nós apenas mostramos que e como uma dife- (428)
renciação é possível. Mas como alcançamos [gelangen] a
sua efetividade?
O fundamento dessa efetividade só pode repousar
na proto-essência ou em Deus mesmo. O meio porém já
54 Preleções
II.
O dualismo absoluto
de
Descartes:
A B
O espiritual, o simples, i.e., O Material ou corpóreo,
o não composto (conceito totalmente morto, meca-
totalmente insuficiente) nismo
e os animais.
Mas, como já o vimos, aqui neste todo se encontra
apenas a primeira potência A = B. E mesmo se o A2 é
extraído da própria natureza, ele se constitui somente
no limite da natureza, no homem. Assim, ainda que
toda a natureza = primeira potência, ela se desdobra
mesmo assim em três potências, através das quais nós a
observaremos brevemente.
(447) A primeira potência é a do ser dominador ou da
corporeidade dominadora – mas de tal modo que tam-
bém neste ponto mais extremo da série estão postos:
o espiritual, o corpóreo [Körperliches] e a unidade de
ambos. Como se sabe, a corporeidade baseia-se no ser-aí
das três dimensões. Essas três dimensões não são de
fato nada mais do que as três potências em uma única:
1) a dimensão egoísta, pela qual uma coisa se põe como
si mesma = comprimento, linha, ou, o que é o mesmo,
coesão[Cohärenz ]. Por meio apenas da coesão, cada
coisa progrediria ao infinito, se ela não fosse justamente
limitada por outra dimensão. Por isso 2) a dimensão
ideal (limitante da dimensão egoísta) = largura. 3)
Indiferença = terceira dimensão.
O dominante dessa potência em seu todo é B, i.e., A e
B são de novo postos conjuntamente sob B; este B, sob o
qual A e B são de novo conjuntamente postos, e que é por
F.W.J. Schelling 89
sempre a remeter.
(448) Em A = B, B é o elemento da terra – o verdadeiro
princípio da terra. Se o todo A = B é polarizado na
direção de B, então se constitui ali o reino do princípio
dominante da terra, o qual tem novamente dois lados
(metais e terras).
O elemento oposto à terra, ou A, é o ar, por assim
dizer o elemento espiritual, ideal. Fora da oposição de
A e B temos que considerar ainda uma outra oposição.
Trata-se da oposição entre o elo [Band ] e os ligados
[Verbundenen]. O elo se comporta como o producente,
os ligados como o produzido, assim também aqui se
encontra novamente um ativo e um passivo, um ideal e
um real.
Ora, o producente, ou o elo, quando ele está unido ao
produto, não é de fato nada mais do que o viver e mover-
se interior, a chama suave e abrandada da vida que
arde em cada ser, até mesmo nos aparentemente mortos
(como os clarividentes podem vê-lo): porém, [quando
o producente está] em oposição e contradição com o
produzido, ele se torna o fogo consumidor [verzehrende].
O elemento do fogo é hostil à individualidade [Ei-
genheit] ou ipseidade das coisas. Enquanto o produto
permanece como o não-ente em relação a ele, i.e., como
a base, como o subordinado, ele é pacífico. Contudo,
F.W.J. Schelling 91
III.
O ente por sua própria natureza é também o único
que é, em si mesmo ou segundo o seu conceito, livre.
Toda dependência vem apenas do ser. Mas o ente em si
mesmo e por força de sua própria natureza é aquele que
simplesmente não pode ser determinado por outro (pois
todo ser determinado é uma paixão, i.e., um não-ser).
Deus enquanto ente absoluto é por isso absolutamente
livre, o homem que foi elevado do não-ente ao ente
54 Esta tese remonta a Demócrito: ἐν τῶι ἀνθρώπωι μικρῶι
κόσμωι ὄντι [no homem que é um microcosmo], Fragmento B34
de acordo com a numeração canônica estabelecida por Hermann
Diels e Walther Kranz. (NT)
55 Weltkörper (lit. corpo-mundo) é um sinônimo de Him-
melskörper (lit. corpo celeste) usado com frequência nos séculos
XVIII e XIX. Schelling se vale aqui da estrutura semântica da
palavra – Welt e Körper – para fazer uma analogia com a noção
de microcosmos, associada tanto ao corpo do homem (na frase
anterior) como aos corpos celestes. (NT)
108 Preleções
que sua prova de fogo [ist wie durchs Feuer bewährt], [e]
deve haver nele algo como uma força divina.
Entretanto a maior prova dessa nova submersão do
homem na natureza e na primeira potência repousa no
seguinte.
O homem não está sozinho no mundo, há uma plu-
ralidade de homens, há um gênero humano, uma huma-
[144] nidade.
Do mesmo modo que a multiplicidade das coisas na
natureza aspira [strebt] a uma unidade na qual somente
ela se completa e, por assim dizer, sente-se feliz, o mesmo
se dá com a multiplicidade no mundo dos homens.
A verdadeira unidade da natureza teria sido contudo
o homem e por meio dele o divino e o eterno. A natureza
contudo perdeu essa terna unidade por culpa do homem;
agora ela deve buscar uma unidade própria. Como
porém a verdadeira unidade não pode repousar nela mas
apenas em Deus, então, precisamente em razão dessa
separação de Deus, ela está entregue a lutas constantes.
Ela busca a unidade e não a encontra. Se ela tivesse
alcançado o ponto de transfiguração e de unidade, então
ela seria toda orgânica, ela teria sido elevada ao nível
mais elevado do ente, e o espírito despertado no homem
teria se derramado sobre ela. Ora, ela não alcançou
essa unidade orgânica, e o anorgismo surgiu [erhob der
F.W.J. Schelling 113
então advém daí não uma boa ação isolada, mas a cons-
tituição moral da alma ou a virtude no sentido mais
elevado, a saber, como virtus, como pureza, excelên- (473)
cia e força do querer. – Deixa a alma agir em ti, ou
age absolutamente como um homem santo, eis segundo
penso o princípio mais elevado no qual se encontra o
que há de verdadeiro em diferentes sistemas morais, do
epicurismo ao estoicismo. Kant dispõe meramente da
expressão formal desse princípio. “Age de acordo com a
alma” significa o seguinte: age não como um ser pessoal,
mas antes como [um ser] impessoal, não obstrui em ti
mesmo pela tua personalidade a influência da alma. O
mais elevado em todas as obras, inclusive na arte e na
ciência, surge justamente do fato de que o impessoal age
nelas. Chama-se isso em uma obra de arte por exemplo
de objetividade, palavra pela qual designa-se apenas
a oposição à subjetividade. Se posso usar a expressão [168]
de meu irmão em um ensaio sobre a alma, essa obje-
tividade é alcançada “pelo verdadeiro artista em suas
obras, pelo verdadeiro herói em seus feitos, pelo filósofo
em suas ideias” 64 . Quando tal cume é alcançado, tudo
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160 Léxico