Autenticidade Científica de Um Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado
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RESUMO
Este estudo investigou a confiabilidade teste e reteste, confiabilidade interavaliador e validade de conteúdo
de um Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado (TAVS). Oito atletas com deficiência motora (44 ± 12
anos) foram avaliados por 4 examinadores em 2 diferentes ocasiões, percorrendo um trajeto de 6 metros
em forma de “T”, na posição sentada e em máxima velocidade. A confiabilidade foi analisada por meio do
coeficiente de correlação intraclasse (CCI), do método de Bland-Altman e por testes de comparação não-
paramétricos, com 95% de confiança. Para a validação de conteúdo, cinco especialistas analisaram a clareza
da descrição e aplicabilidade do teste para a modalidade. Os tempos do teste foram similares entre as duas
ocasiões (p= 0.19). A confiabilidade do TAVS foi muito boa, com CCI > 0.90 e baixo erro. O TAVS
apresentou alta confiabilidade e a análise da clareza da descrição e aplicabilidade do teste pelos especialistas
demonstrou validade de conteúdo, indicando que a proposta é capaz de mensurar a agilidade mediante um
protocolo de campo, de baixo custo e de fácil aplicação nos contextos indoor para o voleibol sentado.
Palavras-chave: Desempenho Psicomotor, Desempenho Atlético, Avaliação da Deficiência.
ABSTRACT
This study investigated the test-retest reliability, inter-rater reliability and content validity of an Agility
Test for the Sitting Volleyball (ATSV). Eight athletes with physical disabilities (44 ± 12 years) were
evaluate by 4 examiners from 2 separate trials, covering a 6-meter T-shaped course in the sitting position
and at maximal speed. Reliability was analyzed using the intraclass correlation coefficient (ICC), Bland-
Altman method and nonparametric tests for comparisons, with 95% confidence. For content validity, five
specialists analyzed description clarity and test applicability. The test times were similar in both occasions
(p= 0.19). Reliability of ATSV was very good, with ICC> 0.90 and low bias. The ATSV showed high
reliability and expert analysis of description clarity and test applicability demonstrated content validity,
suggesting that the proposal is capable of measuring the agility through a low-cost and easy-to-apply field
protocol in indoors contexts of sitting volleyball.
Keywords: Psychomotor Performance, Athletic Performance, Disability Evaluation.
voleibol sentado, com curso de especialização na lateral (para a direita ou esquerda) no início do
área, com no mínimo 1 ano de experiência com o teste.
voleibol sentado competitivo. Em adição, Posteriormente, realizou-se a validação de
analisou-se o desempenho do deslocamento conteúdo com especialistas da área da Atividade
Física Adaptada.
pelos atletas. Em seguida, buscas na literatura Telva, China). O trajeto foi medido por trena de
foram realizadas para identificar testes de fibra de vidro (Y1730CM, Lukfin, EUA) com
agilidade aplicados em diferentes tipos de precisão em milímetros, delimitado com fita
desporto. Posterior a esta fase, decidiu-se adaptar adesiva de 5 cm. Além disso, para que o
o teste “T” proposto por Semenick (1990). participante percorresse cada ponto do trajeto de
Os testes foram realizados em um ginásio forma completa, ultrapassando todo o quadril,
esportivo adequado para a prática da modalidade, delimitou-se, com uma fita adesiva de 2.5 cm um
sendo aplicados nos mesmos horários do dia. Os espaço de 30 cm2 em cada ponto do trajeto
tempos foram registrados, em milésimos de (Figura 2).
segundos, por cronômetros digitais (G-SW1b,
Figura 2. Layout do Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado (TAVS), com início para o lado esquerdo e
direito.
Cada atleta foi instruído uniformemente posição sentada. O sujeito inicia o exercício com
acerca do percurso do teste, inclusive todo o quadril atrás do ponto inicial A, desloca-
informando-os a realizar o teste em esforço se 1 metro em direção ao ponto B (deslocamento
máximo. Padronizou-se o texto: “Este teste frontal). Após isso, mais 1 metro para esquerda
pretende medir a sua agilidade. Você deve até ultrapassar o quadril da marca indicada no
realizar o teste na maior velocidade possível, de ponto C (deslocamento lateral). Em seguida, o
forma a completar o percurso passando pelo sujeito desloca-se 2 metros para a direita até o
ponto ao centro, nas extremidades ponto D (deslocamento lateral) e, então 1 metro
direita/esquerda, retornar ao centro e, por fim, para a esquerda, retornando ao ponto B
retornar para a posição inicial.” Antes de cada (deslocamento lateral), e retorna, 1 metro
procedimento, houve 5 minutos de aquecimento (deslocamento para trás), ao ponto de partida A.
moderado e, na sequência, cada participante O cronómetro deve ser acionado somente quando
realizou uma tentativa para familiarização do o indivíduo ultrapassa o ponto A e finalizado no
protocolo, a fim de reduzir o efeito do instante em que o indivíduo cruzou novamente
aprendizado motor. O teste foi iniciado após a este ponto, a fim de reduzir a influência do tempo
comunicação: “Quando quiser, pode começar”. de reação individual (Figura 2).
Foi realizado encorajamento verbal, igualmente O lado que o sujeito iniciou o deslocamento
para todos os participantes, durante a realização lateral (Ponto B) foi randomizado, depois que
do teste, repetidamente com as palavras: “Vai, cada indivíduo realizou duas tentativas para cada
vai, vai, mais rápido”. Os participantes usaram lado. O intervalo entre as tentativas foi de 3
roupas próprias para a prática do voleibol sentado minutos. Registrou-se o menor tempo tanto para
durante todas as ocasiões. as tentativas do lado esquerdo, quanto para o
lado direito. Se, porventura, ocorresse algum erro
Protocolo do Teste de Agilidade para o Voleibol de natureza técnica na execução das corridas,
Sentado (TAVS) inviabilizando-se o prosseguimento do teste, o
O TAVS consiste em percorrer um trajeto em mesmo era cancelado e refeito após intervalo de
formato de “T”, em um percurso total de 6 5 minutos.
metros, com mudanças de direção, na maior
velocidade possível, estando o indivíduo na
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Tabela 1
Valores registrados do tempo (em segundos) por avaliador no teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Mediana (AIQ) Mediana (AIQ)
Avaliador Teste Reteste
Direita Esquerda Direita Esquerda
A 6.39(1.41) 6.43(1.40) 6.24(1.27) 6.26(1.32)
B 6.26(1.42) 6.22(1.36) 6.28(1.33) 6.32(1.39)
C 6.29(1.74) 6.26(1.36) 6.27(1.24) 6.30(1.31)
D 6.29(1.43) 6.34(1.45) 6.17(1.22) 6.23(1.33)
Todos 6.31(1.36) 6.31(1.32) 6.24(1.20) 6.28(1.27)
Nota: Dados expressos por mediana e amplitude interquartil (AIQ).
Tabela 2
Confiabilidade teste e reteste (repetibilidade) do teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Limites de concordância de 95%
Valor-p (Wilcoxon)
(Bland-Altman)
Avaliador CCI (IC95%)
Teste/reteste Teste/reteste Teste/reteste Teste/reteste
Direita Esquerda Direita Esquerda
A 0.992 (0.976-0.998) − 0.425 a 0.738 − 0.679 a 1.00 0.195 0.250
B 0.993 (0.978-0.998) − 0.676 a 0.636 − 0.811 a 0.623 0.844 0.742
C 0.989 (0.968-0.998) − 0.776 a 0.808 − 0.855 a 0.765 0.742 1.000
D 0.985 (0.955-0.997) − 0.743 a 0.985 − 0.985 a 1.21 0.641 0.297
Nota: CCI= Coeficiente de correlação intraclasse.
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 87
Tabela 3
Confiabilidade interavaliador (reprodutibilidade) do teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Bland-Altman Valor-p
CCI (IC95%)
Avaliador
0.995 0.990
AxB
0.994 0.986
AxC
0.996 0.982
AxD
0.994 0.987
BxD
0.993 0.983
CxD
Figura 3. Gráfico de Bland-Altman para a concordância teste e reteste para todos os avaliadores, com medidas
do lado direito e esquerdo agrupadas.
88 | EC Souto, LS Oliveira, AM Neto, M Greguol
e buscar desempenhos competitivos mais Adapted Physical Activity Quarterly, 3(1), 6-13.
elevados. Destaca-se que o TAVS é um protocolo doi: 10.1007/978-3-642-74873-8_12
de campo, de baixo custo e de fácil aplicabilidade Brasile, F. M. (1990). Performance evaluation of
wheelchair athletes: More than a disability
nos contextos indoor, uma vez que possibilita ao
classification level issue. Adapted Physical
técnico, sem o uso de alta tecnologia, a sua
Activity Quarterly, 7(4), 289-297.
execução. Da mesma forma, devido à sua Gorgatti, M. G., & Böhme, M. T. S. (2003).
especificidade, o TAVS apresenta grande relação Autenticidade científica de um teste de agilidade
com as habilidades técnicas desempenhadas no para indivíduos em cadeira de rodas. Revista
voleibol sentado, mas, seria pertinente uma Paulista de Educação Física, 17(1), 41-50.
avaliação dos jogadores por posição. Desta forma, Hasanbegović, S., Ahmetović, S., & Dautbasic, S.
especula-se, também, a possibilidade do uso (2011). Effects of programmed training on motor
conjunto do TAVS com habilidades técnicas abilities of persons with movement impairment
in sitting volleyball. Homo Sporticus, 13(1), 68-
relacionadas ao voleibolista com deficiência
71.
motora.
Lin, L. I. K. (2000). Correction: A Note on the
Concordance Correlation Coefficient. Biometrics,
CONCLUSÃO
56(1), 324-325. doi: 10.2307/2677159
Os achados do presente estudo sugerem que
McBride, G. B. (2005). A proposal for strength-of-
o TAVS é um teste confiável, com adequada agreement criteria for Lin's Concordance
validade de conteúdo, indicando uma proposta Correlation Coefficient. NIWA Client Report,
viável para mensurar a agilidade no voleibol HAM2005-062.
sentado. Devido à sua simplicidade e baixo custo, Medeiros, A., Ribeiro, A., & De Oliveira, R. G. (2012).
a aplicação do TAVS pode ser uma alternativa aos Voleibol sentado. In M. T. Mello & C. Wincleer
testes já existentes para monitorar a intervenção (Eds.), Esporte paralímpico (1ª ed., pp. 231-220).
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Considerando-se o número limitado de sujeitos
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na amostra e, também, que aspetos cognitivos e 68-75 doi: 10.2478/v10109-009-0047-2.
percetivos contribuem para o desempenho da Morrow, J. R., Jackson, A. W., Disch, J. G., & Mood, D.
agilidade, estudos futuros devem ser conduzidos P. (2014). Medida e Avaliação do Desempenho
para confirmar os atuais resultados. Sugere-se, Humano (4ª ed.). Porto Alegre: Artmed.
em análises futuras, que os jogadores possam ser Pasetto, C. V. F., Barros, T., Mello, M. T. Orbetelli, R.,
comparados por especialidade de posição. Interdonato, G. C., & Greguol, M. (2011).
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