Autenticidade Científica de Um Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/297754861

Autenticidade científica de um teste de agilidade para o voleibol sentado

Article  in  Motricidade · March 2016


DOI: 10.6063/motricidade.4061

CITATIONS READS

4 634

4 authors:

Elaine Souto Leonardo Oliveira


Universidade Federal da Paraíba FACENE/PB
15 PUBLICATIONS   20 CITATIONS    55 PUBLICATIONS   123 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Antônio Neto Márcia Greguol


Universidade Federal da Paraíba Universidade Estadual de Londrina
2 PUBLICATIONS   7 CITATIONS    69 PUBLICATIONS   549 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Elaine Souto on 21 March 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Motricidade © Edições Desafio Singular
2015, vol. 11, n. 4, pp. 82-91 http://dx.doi.org/10.6063/motricidade.4061

Autenticidade científica de um teste de agilidade para o voleibol


sentado
Scientific authenticity of an agility test for the sitting volleyball
Elaine Cappellazzo Souto1, Leonardo dos Santos Oliveira1*, Antônio Meira Neto1, Márcia
Greguol2
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

RESUMO
Este estudo investigou a confiabilidade teste e reteste, confiabilidade interavaliador e validade de conteúdo
de um Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado (TAVS). Oito atletas com deficiência motora (44 ± 12
anos) foram avaliados por 4 examinadores em 2 diferentes ocasiões, percorrendo um trajeto de 6 metros
em forma de “T”, na posição sentada e em máxima velocidade. A confiabilidade foi analisada por meio do
coeficiente de correlação intraclasse (CCI), do método de Bland-Altman e por testes de comparação não-
paramétricos, com 95% de confiança. Para a validação de conteúdo, cinco especialistas analisaram a clareza
da descrição e aplicabilidade do teste para a modalidade. Os tempos do teste foram similares entre as duas
ocasiões (p= 0.19). A confiabilidade do TAVS foi muito boa, com CCI > 0.90 e baixo erro. O TAVS
apresentou alta confiabilidade e a análise da clareza da descrição e aplicabilidade do teste pelos especialistas
demonstrou validade de conteúdo, indicando que a proposta é capaz de mensurar a agilidade mediante um
protocolo de campo, de baixo custo e de fácil aplicação nos contextos indoor para o voleibol sentado.
Palavras-chave: Desempenho Psicomotor, Desempenho Atlético, Avaliação da Deficiência.

ABSTRACT
This study investigated the test-retest reliability, inter-rater reliability and content validity of an Agility
Test for the Sitting Volleyball (ATSV). Eight athletes with physical disabilities (44 ± 12 years) were
evaluate by 4 examiners from 2 separate trials, covering a 6-meter T-shaped course in the sitting position
and at maximal speed. Reliability was analyzed using the intraclass correlation coefficient (ICC), Bland-
Altman method and nonparametric tests for comparisons, with 95% confidence. For content validity, five
specialists analyzed description clarity and test applicability. The test times were similar in both occasions
(p= 0.19). Reliability of ATSV was very good, with ICC> 0.90 and low bias. The ATSV showed high
reliability and expert analysis of description clarity and test applicability demonstrated content validity,
suggesting that the proposal is capable of measuring the agility through a low-cost and easy-to-apply field
protocol in indoors contexts of sitting volleyball.
Keywords: Psychomotor Performance, Athletic Performance, Disability Evaluation.

Artigo recebido a 16.07.2014; Aceite a 09.03.2015


1
Universidade Federal da Paraíba - UFPB, João Pessoa, Brasil
2
Universidade Estadual de Londrina - UEL, Brasil
* Autor correspondente: Leonardo dos Santos Oliveira. Laboratório de Cineantropometria - Centro de Ciências
da Saúde – Universidade Federal da Paraíba. Cidade Universitária – João Pessoa/PB – Brasil – CEP 58051900
E-mail: [email protected]
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 83

INTRODUÇÃO especificidades dos atletas em relação à idade,


Desde sua inserção nos Jogos Paralímpicos, aquisição da deficiência e tempo de treino (Protić
em 1980 na Holanda, o voleibol sentado tem se & Valkova, 2011). Na área do treino, foram
desenvolvido em todos os continentes, trazendo investigados os efeitos do treinamento
uma demanda substancial para uma análise do programado sobre as habilidades motoras de
desempenho atlético confiável, precisa, adequada atletas (Hasanbegović, Ahmetović, & Dautbasic,
e viável para os técnicos (Medeiros, Ribeiro, & 2011), a relação entre a habilidade cognitiva e a
De Oliveira, 2012). No desporto paralímpico, a motora específica (S̆os̆e, 2009), a avaliação da
quantidade de interferência da deficiência motora aptidão física e específica por meio de medidas
sobre a função específica em cada modalidade antropométricas e testes físicos e motores
define a classificação funcional do atleta (Tweedy (Molik, Kosmol, & Skucas, 2008) e a análise do
& Vanlandewijck, 2011). Todavia, poucos são os jogo em uma competição (Vute, 1999). Sabe-se
instrumentos de avaliação que levam em que os testes de campo são uma maneira viável
consideração a especificidade da deficiência para obter uma indicação do padrão de
(Brasile, 1986, 1990; Gorgatti & Böhme, 2003; desempenho. Entretanto, em relação à criação de
Yilla & Sherrill, 1998). um teste para avaliar as habilidades específicas
Sabe-se que a aplicação de testes específicos no voleibol sentado, encontrou-se somente um
para avaliar componentes da aptidão física estudo realizado em laboratório para verificar os
relacionada à performance é uma prática efeitos de duas posições das mãos para o
frequente para identificar o real estado de deslocamento (Singhal, 2013). Portanto, diante
treinamento do atleta, elaborar treinos da necessidade de instrumentos de avaliação que
adequados e identificar talentos desportivos. levem em conta a especificidade do voleibol
Além de outros componentes da aptidão física sentado, em condições de serem aplicadas em
relacionados à performance (força, potência, campo pelo treinador, a importância da agilidade
flexibilidade, velocidade), a agilidade é para a execução da modalidade e o incipiente
fundamental para o treinamento do voleibol estudo na área, este estudo teve como objetivo
sentado (Vute, 2009), sendo um componente investigar a confiabilidade teste e reteste,
essencial na maior parte dos desportos de campo confiabilidade interavaliador e validade de
e equipa (Sheppard, Young, Doyle, Sheppard, & conteúdo de um Teste de Agilidade para o
Newton, 2006). Embora pesquisadores na área Voleibol Sentado (TAVS).
do desporto não apresentem um consenso sobre
sua definição, a agilidade é, classicamente, MÉTODO
definida como a capacidade de mudar de direção Trata-se de um estudo de validação, de corte
rapidamente (Sheppard & Young, 2006). No transversal, com modelo de análise quantitativa
voleibol sentado, esta ação é desempenhada pelos (Thomas, Nelson, & Silverman, 2012). O
membros superiores dos atletas para deslocar seu procedimento de verificação da autenticidade
corpo no solo em resposta ao movimento da bola científica do TAVS foi composto pela
e dos outros jogadores, em uma quadra com 10x6 determinação da confiabilidade teste e reteste,
metros, o que é uma particularidade da confiabilidade entre avaliadores, bem como da
modalidade e merece a atenção especial dos validade de conteúdo. Inicialmente, a aplicação
treinadores. do Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado
Na literatura, trabalhos ainda escassos, em (TAVS) foi realizada em dois estágios. No
diferentes áreas, têm contribuído para o voleibol primeiro estágio, testou-se a confiabilidade do
sentado. Na psicologia do desporto, o nível de TAVS (teste e reteste), com 48 horas de
identidade atlética e satisfação com a vida foi intervalo. No segundo estágio, verificou-se a
comparado entre atletas do voleibol sentado e confiabilidade entre avaliadores do TAVS, com
convencional (Wiśniowska, Tasiemski, & aplicação do teste por quatro observadores
Bauerfeind, 2012); os fatores motivacionais distintos (A, B, C e D) (Figura 1). Os
foram analisados levando em consideração as observadores eram técnicos de equipes de
84 | EC Souto, LS Oliveira, AM Neto, M Greguol

voleibol sentado, com curso de especialização na lateral (para a direita ou esquerda) no início do
área, com no mínimo 1 ano de experiência com o teste.
voleibol sentado competitivo. Em adição, Posteriormente, realizou-se a validação de
analisou-se o desempenho do deslocamento conteúdo com especialistas da área da Atividade
Física Adaptada.

Figura 1. Desenho do estudo.

Participantes superiores. Os sujeitos do estudo foram


Foram selecionados, de forma não- recrutados no “Núcleo de Esporte de Alto
probabilística, oito participantes (n= 8), homens Rendimento para Pessoas com Deficiência”, com
adultos (44 ± 12 anos), com deficiência motora sede na Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
há, no mínimo, dois anos, verificando-se na que se voluntariaram para o estudo, assinando
amostra: amputação bilateral de membros um termo de consentimento esclarecido, após
inferiores (n= 2), amputação unilateral de serem informados dos objetivos e procedimentos
membro inferior (n= 3), paraplegia (n= 2) e pé desta pesquisa. Este estudo foi aprovado por um
torto congênito (n= 1). Todos os voluntários Comitê de Ética da UFPB.
eram atletas de voleibol sentado. Como critério
de inclusão, os atletas deveriam ter deficiência Procedimentos
motora nos membros inferiores, treinar voleibol O procedimento inicial, para a criação do
sentado no mínimo duas vezes por semana, Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado
durante duas horas cada dia, há mais de um ano. (TAVS), teve como base a análise das distâncias
Como critério de exclusão, estabeleceu-se a e velocidade de deslocamentos para a execução
presença de deficiência motora nos membros dos fundamentos do voleibol, durante o jogo
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 85

pelos atletas. Em seguida, buscas na literatura Telva, China). O trajeto foi medido por trena de
foram realizadas para identificar testes de fibra de vidro (Y1730CM, Lukfin, EUA) com
agilidade aplicados em diferentes tipos de precisão em milímetros, delimitado com fita
desporto. Posterior a esta fase, decidiu-se adaptar adesiva de 5 cm. Além disso, para que o
o teste “T” proposto por Semenick (1990). participante percorresse cada ponto do trajeto de
Os testes foram realizados em um ginásio forma completa, ultrapassando todo o quadril,
esportivo adequado para a prática da modalidade, delimitou-se, com uma fita adesiva de 2.5 cm um
sendo aplicados nos mesmos horários do dia. Os espaço de 30 cm2 em cada ponto do trajeto
tempos foram registrados, em milésimos de (Figura 2).
segundos, por cronômetros digitais (G-SW1b,

Figura 2. Layout do Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado (TAVS), com início para o lado esquerdo e
direito.

Cada atleta foi instruído uniformemente posição sentada. O sujeito inicia o exercício com
acerca do percurso do teste, inclusive todo o quadril atrás do ponto inicial A, desloca-
informando-os a realizar o teste em esforço se 1 metro em direção ao ponto B (deslocamento
máximo. Padronizou-se o texto: “Este teste frontal). Após isso, mais 1 metro para esquerda
pretende medir a sua agilidade. Você deve até ultrapassar o quadril da marca indicada no
realizar o teste na maior velocidade possível, de ponto C (deslocamento lateral). Em seguida, o
forma a completar o percurso passando pelo sujeito desloca-se 2 metros para a direita até o
ponto ao centro, nas extremidades ponto D (deslocamento lateral) e, então 1 metro
direita/esquerda, retornar ao centro e, por fim, para a esquerda, retornando ao ponto B
retornar para a posição inicial.” Antes de cada (deslocamento lateral), e retorna, 1 metro
procedimento, houve 5 minutos de aquecimento (deslocamento para trás), ao ponto de partida A.
moderado e, na sequência, cada participante O cronómetro deve ser acionado somente quando
realizou uma tentativa para familiarização do o indivíduo ultrapassa o ponto A e finalizado no
protocolo, a fim de reduzir o efeito do instante em que o indivíduo cruzou novamente
aprendizado motor. O teste foi iniciado após a este ponto, a fim de reduzir a influência do tempo
comunicação: “Quando quiser, pode começar”. de reação individual (Figura 2).
Foi realizado encorajamento verbal, igualmente O lado que o sujeito iniciou o deslocamento
para todos os participantes, durante a realização lateral (Ponto B) foi randomizado, depois que
do teste, repetidamente com as palavras: “Vai, cada indivíduo realizou duas tentativas para cada
vai, vai, mais rápido”. Os participantes usaram lado. O intervalo entre as tentativas foi de 3
roupas próprias para a prática do voleibol sentado minutos. Registrou-se o menor tempo tanto para
durante todas as ocasiões. as tentativas do lado esquerdo, quanto para o
lado direito. Se, porventura, ocorresse algum erro
Protocolo do Teste de Agilidade para o Voleibol de natureza técnica na execução das corridas,
Sentado (TAVS) inviabilizando-se o prosseguimento do teste, o
O TAVS consiste em percorrer um trajeto em mesmo era cancelado e refeito após intervalo de
formato de “T”, em um percurso total de 6 5 minutos.
metros, com mudanças de direção, na maior
velocidade possível, estando o indivíduo na
86 | EC Souto, LS Oliveira, AM Neto, M Greguol

Validação de conteúdo Cronbrach foram usados para determinar a


Partindo do pressuposto que a validade de confiabilidade entre participantes do TAVS. Os
conteúdo é “a evidência da veracidade de um limites de concordância e erro foram calculados a
teste, baseada na decisão lógica dos partir do método de Bland-Altman. Ainda, o
procedimentos e de sua execução” (Morrow, coeficiente de concordância foi empregado para
Jackson, Disch, & Mood, 2014), aplicou-se um avaliar a precisão e acurácia dos pares de
formulário adaptado de Gorgatti e Böhme (2003) observações (Lin, 2000). Para a validação de
a cinco especialistas da área da Atividade Física conteúdo, utilizou-se a frequência relativa (%)
Adaptada. Nesse formulário, foram analisadas as das respostas dos especialistas. A significância
opiniões dos especialistas quanto à clareza da estatística foi configurada para p< 0.05. Os dados
descrição do teste (se muito fácil/difícil de foram analisados pelo IBM® SPSS® 20.0 (IBM
entender), sua aplicabilidade (em termos de SPSS Inc., EUA) e pelo MedCalc 12.7.2.0
espaço, materiais e adequação à modalidade de (MedCalc Software, Belgium).
voleibol paralímpico, se muito viável ou inviável)
e se o teste media o que se propunha (se sim ou RESULTADOS
não). Inicialmente, são apresentados os resultados
relacionados à confiabilidade teste e reteste e à
Análise estatística confiabilidade interavaliador e, por fim, sobre a
Os escores de tempos foram reportados por validade de conteúdo. Os valores descritivos do
mediana e amplitude interquartil (AIQ), uma vez tempo (em segundos) tanto para o teste quanto
que os dados mostraram-se não normais (Teste para o reteste, para cada avaliador, podem ser
de Shapiro Wilk, p< 0.05), embora a observados na Tabela 1. Quanto à identificação
homogeneidade da variância não tivesse sido da dominância do lado direito ou esquerdo para
violada (Teste de Levene, p> 0.05). A fim de início do teste, não foram observadas diferenças
avaliar diferenças na dominância do lado direito significativas, nem no teste (Z= − 0.01; p=
ou esquerdo para início do TAVS, bem como 0.89), nem no reteste (Z= − 0.08; p= 0.39). Na
diferenças teste e reteste, aplicou-se o teste de análise da confiabilidade teste e reteste,
Wilcoxon. A diferença entre os quatro verificaram-se altos valores do coeficiente de
avaliadores foi verificada pelo teste de Kruskal- correlação intraclasse, para a média das medidas
Wallis. O coeficiente de correlação intraclasse para cada um dos quatro avaliadores (CCI ≥
(método teste e reteste) e o coeficiente Alpha de 0.98) (Tabela 2).

Tabela 1
Valores registrados do tempo (em segundos) por avaliador no teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Mediana (AIQ) Mediana (AIQ)
Avaliador Teste Reteste
Direita Esquerda Direita Esquerda
A 6.39(1.41) 6.43(1.40) 6.24(1.27) 6.26(1.32)
B 6.26(1.42) 6.22(1.36) 6.28(1.33) 6.32(1.39)
C 6.29(1.74) 6.26(1.36) 6.27(1.24) 6.30(1.31)
D 6.29(1.43) 6.34(1.45) 6.17(1.22) 6.23(1.33)
Todos 6.31(1.36) 6.31(1.32) 6.24(1.20) 6.28(1.27)
Nota: Dados expressos por mediana e amplitude interquartil (AIQ).

Tabela 2
Confiabilidade teste e reteste (repetibilidade) do teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Limites de concordância de 95%
Valor-p (Wilcoxon)
(Bland-Altman)
Avaliador CCI (IC95%)
Teste/reteste Teste/reteste Teste/reteste Teste/reteste
Direita Esquerda Direita Esquerda
A 0.992 (0.976-0.998) − 0.425 a 0.738 − 0.679 a 1.00 0.195 0.250
B 0.993 (0.978-0.998) − 0.676 a 0.636 − 0.811 a 0.623 0.844 0.742
C 0.989 (0.968-0.998) − 0.776 a 0.808 − 0.855 a 0.765 0.742 1.000
D 0.985 (0.955-0.997) − 0.743 a 0.985 − 0.985 a 1.21 0.641 0.297
Nota: CCI= Coeficiente de correlação intraclasse.
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 87

Em relação à confiabilidade interavaliador, medidas interavaliador, tanto para o teste (CCI≥


não foram verificadas diferenças significativas 0.99) quanto para o reteste (CCI≥ 0.98), cujo
entre avaliadores, para ambos os lados, tanto para erro padrão de medida foi baixo nas duas
o teste (p> 0.05), quanto para o reteste ( p> situações, independente do par de avaliador
0.05) (Tabela 3). Ainda conforme a Tabela 3, comparado.
verifica-se excelente reprodutibilidade das

Tabela 3
Confiabilidade interavaliador (reprodutibilidade) do teste de agilidade para o voleibol sentado (n= 8).
Bland-Altman Valor-p
CCI (IC95%)
Avaliador

Erro Limites de concordância (95%) (Kruskal-Wallis)


Teste Reteste
Teste Reteste Teste Reteste Teste Reteste
Direita Esquerda Direita Esquerda

0.995 0.990
AxB

0.168 0.048 − 0.230 a 0.566 − 0.397 a 0.300


(0.986-0.998) (0.970-0.996)

0.994 0.986
AxC

0.135 0.039 − 0.175 a 0.445 − 0.318 a 0.240


(0.982-0.998) (0.959-0.995)

0.996 0.982
AxD

0.096 0.052 − 0.150 a 0.343 − 0.226 a 0.331


(0.988-0.999) (0.949-0.994)
0.978 0.961 0.997 0.997
0.992 0.990
BxC

0.033 0.009 − 0.362 a 0.296 − 0.269 a 0.288


(0.978-0.997) (0.971-0.997)

0.994 0.987
BxD

0.072 0.101 − 0.447 a 0.304 − 0.311 a 0.513


(0.983-0.998) (0.963-0.995)

0.993 0.983
CxD

0.038 0.091 − 0.302 a 0.225 − 0.163 a 0.346


(0.979-0.997) (0.951-0.994)

Nota: CCI= Coeficiente de correlação intraclasse.

Figura 3. Gráfico de Bland-Altman para a concordância teste e reteste para todos os avaliadores, com medidas
do lado direito e esquerdo agrupadas.
88 | EC Souto, LS Oliveira, AM Neto, M Greguol

Os limites de concordância apontam que as É importante ressaltar que a análise confiável


diferenças entre medidas de teste e reteste foram destes testes consiste em uma necessidade, tanto
de 0.9 segundo, verificando-se tanto alta para técnicos, quanto para classificadores
concordância (0.94), quanto acurácia (0.99). (Medeiros et al., 2012; Tweedy & Vanlandewijck,
Salienta-se que apenas quatro medidas 2011; Vute, 2009). Os limites de concordância
apresentaram-se fora dos limites inferior e apontam que as diferenças entre medidas de teste
superior no método de Bland-Altman (Figura 3). e reteste parecem ser menores do que 1 segundo.
Quanto ao entendimento em relação a Algumas razões podem ter contribuído para a alta
descrição do teste (clareza), sua aplicabilidade e confiabilidade e acurácia teste e reteste
sobre o fato de o teste TAVS mensurar a encontrada neste estudo (McBride, 2005).
agilidade, os cinco especialistas (100.0%) foram Inicialmente, destaca-se que as sessões de teste e
unânimes em defini-lo como de entendimento reteste para a medida da agilidade foram
muito fácil, muito viável para a modalidade, e separadas por 48 horas. Este intervalo pode
capaz de medir a agilidade para a situação prevenir tanto os efeitos de aprendizado, quanto
específica da modalidade. Assim, os resultados da fadiga dos sujeitos sobre a reprodutibilidade
colaboram com a validação do conteúdo. destas medidas. Além disso, o uso objetivo do
protocolo, explicações, posicionamento e
DISCUSSÃO ambiente durante as duas sessões de testagem
O desenvolvimento de testes, voltados para a podem ter colaborado para a consistência das
medida dos componentes da aptidão física, tem medidas no TAVS. Pode-se verificar, ao preceder
surgido como uma ferramenta prática para a as sessões por uma tentativa de reconhecimento
avaliação e controle do treinamento em do percurso, mesmo que de forma lenta, a
diferentes populações. Entretanto, parece haver minimização do efeito do aprendizado.
uma escassez de estudos que empregam estas Percebe-se, contudo, que outros fatores estão
medidas para as modalidades paralímpicas associados à agilidade, sobretudo, referente ao
(Gorgatti & Böhme, 2003; Molik et al., 2008; voleibol sentado. O posicionamento das mãos,
Wiśniowska et al., 2012; Yilla & Sherrill, 1998). por exemplo, é essencial não somente para
Nesse sentido, este estudo investigou a melhorar a força de propulsão contra o solo e, por
confiabilidade teste e reteste, confiabilidade consequência, a velocidade do movimento, mas
interavaliador e validade de conteúdo de um para fazer com que os atletas tenham reações
Teste de Agilidade para o Voleibol Sentado mais rápidas e adequadas para coordenar as ações
(TAVS). Nossos resultados demonstraram que o na realização do contato na bola, de acordo com
TAVS aplicado por diferentes avaliadores, em a situação de jogo (Singhal, 2013; Zerger, 2008).
ocasiões distintas, apresentou altos valores de Em um estudo recente de Singhal (2013), a
confiabilidade, com baixo erro, indicando que o posição das mãos lateral ao corpo no solo
teste pode ser considerado uma alternativa viável permitiu que os atletas se movimentassem de
para mensurar a agilidade no voleibol sentado. maneira mais rápida, quando comparada com as
Em relação à validação de conteúdo, os mãos em outras direções. Desta forma, é provável
especialistas definiram o teste como viável e que atletas de elite consigam empregar melhor
capaz de medir a agilidade dos jogadores de suas mãos para empurrar o solo, com alguma
voleibol sentado. contribuição dos membros inferiores e tronco, a
Verificou-se, também, que o lado de início da fim de vencer a inércia (Zerger, 2008),
execução da tentativa (direito ou esquerdo) não melhorando assim o tempo dos deslocamentos.
influencia no escore do teste. Em adição, o fato Além disso, a habilidade de “ler o jogo” é
de existirem pequenas variações sistemáticas nos muito significativa para este desporto, uma vez
valores das tentativas entre avaliadores, nas duas que as decisões devem ser tomadas, muitas
ocasiões, sugere que o TAVS pode ser usado com vezes, a partir das ações do adversário. Assim,
grande confiança por um único avaliador. fatores relacionados à habilidade visual e à
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 89

destreza percetiva e cognitiva são fundamentais e no basquetebol em cadeira de rodas, com os


aos atletas desta modalidade (Piras, Lobietti, & estudos de validação de um teste específico de
Squatrito, 2010; Sibley & Etnier, 2004). Um agilidade para adultos (Gorgatti & Böhme, 2003)
estudo recente de Piras, Lobietti e Squarito e crianças (Pasetto et al., 2011), e a bateria de
(2014) demonstrou que atletas de voleibol habilidades em diferentes domínios de Groot et
sentado mais experientes têm maior capacidade al. (2011). Portanto, o TAVS parece ser uma
de codificar de forma eficiente a informação alternativa aos testes já existentes para monitorar
específica do domínio que é relevante para a a intervenção em programas dirigidos para
tarefa. Nesse sentido, especula-se que atletas de melhorar o desempenho de jogadores de voleibol
elite apresentem maior agilidade no TAVS, por sentado.
compreenderem a tarefa com melhor qualidade. Ao mesmo tempo em que o uso de
No voleibol sentado, são poucas as cronómetros manuais caracteriza o TAVS como
ferramentas desenvolvidas para análise de uma um teste de campo próximo da realidade da
habilidade específica para o jogo (Molik et al., maioria dos treinadores, trata-se de uma das
2008; Singhal, 2013). Na investigação de Molik limitações desta investigação. O uso de células
et al. (2008), testes de velocidade, potência e fotoelétricas, provavelmente, pode ser uma
agilidade foram aplicados, sugerindo uma bateria alternativa interessante para o registro do tempo,
simples para a modalidade. Entretanto, a reduzindo as pequenas diferenças intra-avaliador
distância sugerida para o teste de agilidade é e interavaliador, melhorando a precisão da
elevada, incompatível com as peculiaridades do medida. Em adição, a fim de melhorar aspetos
voleibol sentado, uma vez que os autores qualitativos do teste, sugere-se analisar o tempo
utilizaram uma metragem adaptada do não somente no percurso total, mas
basquetebol. Além disso, estes autores não considerando as parciais dos deslocamentos
analisaram características psicométricas dos laterais, muito relevantes para a modalidade. No
testes, limitando a discussão com o presente entanto, o fato de existirem poucos estudos
estudo. similares limita a discussão em relação aos
A validade de um teste é frequentemente escores do TAVS.
realizada pela comparação de medidas com testes Considerando-se que o voleibol sentado é
equivalentes a um “padrão ouro”. Contudo, não recente no Brasil e está em expansão de forma
se tem um teste desta natureza para os atletas de difusa em vários Estados, pesquisas com esta
voleibol sentado. Uma vez que testes de campo população têm limitações decorrentes da
respeitam a especificidade das exigências da dificuldade de contato com a amostra e da
modalidade, o TAVS pode ser considerado um maturação desportiva das equipas, as quais
instrumento de avaliação relevante por promover podem ser consideradas, em grande parte, como
informações consistentes sobre a atuação do iniciantes. Embora a classificação funcional não
atleta. Nos estudos de Gorgatti e Böhme (2003) seja o único fator que determina proficiência, o
e Pasetto et al. (2011), a validação por conteúdo fato de haver atletas em condições motoras
dos instrumentos foi realizado por comissões diferentes em nossa amostra, impossibilitou a
julgadoras formada por especialistas. Dessa criação de um modelo padrão de referência, uma
forma, a utilização desta estratégia e os vez que a perda funcional causada pela deficiência
resultados encontrados demonstram que os motora não foi controlada. Entretanto, na seleção
técnicos de voleibol sentado terão facilidade na amostral, a experiência dos voluntários foi um
aplicação do TAVS. critério uniforme.
Em outras modalidades paralímpicas, a Apesar disso, os dados aqui levantados
validação de instrumentos específicos já tem oferecem informações relevantes que podem
ocorrido na literatura, ainda de forma escassa, servir de subsídio para treinadores e comissão
como no caso do rugby em cadeiras de rodas, técnica na elaboração de suas atividades, de
através da bateria de Beck (Yilla & Sherrill, 1998) modo a controlar mais variáveis do treinamento
90 | EC Souto, LS Oliveira, AM Neto, M Greguol

e buscar desempenhos competitivos mais Adapted Physical Activity Quarterly, 3(1), 6-13.
elevados. Destaca-se que o TAVS é um protocolo doi: 10.1007/978-3-642-74873-8_12
de campo, de baixo custo e de fácil aplicabilidade Brasile, F. M. (1990). Performance evaluation of
wheelchair athletes: More than a disability
nos contextos indoor, uma vez que possibilita ao
classification level issue. Adapted Physical
técnico, sem o uso de alta tecnologia, a sua
Activity Quarterly, 7(4), 289-297.
execução. Da mesma forma, devido à sua Gorgatti, M. G., & Böhme, M. T. S. (2003).
especificidade, o TAVS apresenta grande relação Autenticidade científica de um teste de agilidade
com as habilidades técnicas desempenhadas no para indivíduos em cadeira de rodas. Revista
voleibol sentado, mas, seria pertinente uma Paulista de Educação Física, 17(1), 41-50.
avaliação dos jogadores por posição. Desta forma, Hasanbegović, S., Ahmetović, S., & Dautbasic, S.
especula-se, também, a possibilidade do uso (2011). Effects of programmed training on motor
conjunto do TAVS com habilidades técnicas abilities of persons with movement impairment
in sitting volleyball. Homo Sporticus, 13(1), 68-
relacionadas ao voleibolista com deficiência
71.
motora.
Lin, L. I. K. (2000). Correction: A Note on the
Concordance Correlation Coefficient. Biometrics,
CONCLUSÃO
56(1), 324-325. doi: 10.2307/2677159
Os achados do presente estudo sugerem que
McBride, G. B. (2005). A proposal for strength-of-
o TAVS é um teste confiável, com adequada agreement criteria for Lin's Concordance
validade de conteúdo, indicando uma proposta Correlation Coefficient. NIWA Client Report,
viável para mensurar a agilidade no voleibol HAM2005-062.
sentado. Devido à sua simplicidade e baixo custo, Medeiros, A., Ribeiro, A., & De Oliveira, R. G. (2012).
a aplicação do TAVS pode ser uma alternativa aos Voleibol sentado. In M. T. Mello & C. Wincleer
testes já existentes para monitorar a intervenção (Eds.), Esporte paralímpico (1ª ed., pp. 231-220).
São Paulo: Atheneu.
em programas dirigidos para melhorar o
Molik, B., Kosmol, A., & Skucas, K. (2008). Sport-
desempenho de jogadores de voleibol sentado.
specific and general sporting physical fitness of
Considerando-se o número limitado de sujeitos
sitting volleyball athletes. Physiotherapy, 16(4),
na amostra e, também, que aspetos cognitivos e 68-75 doi: 10.2478/v10109-009-0047-2.
percetivos contribuem para o desempenho da Morrow, J. R., Jackson, A. W., Disch, J. G., & Mood, D.
agilidade, estudos futuros devem ser conduzidos P. (2014). Medida e Avaliação do Desempenho
para confirmar os atuais resultados. Sugere-se, Humano (4ª ed.). Porto Alegre: Artmed.
em análises futuras, que os jogadores possam ser Pasetto, C. V. F., Barros, T., Mello, M. T. Orbetelli, R.,
comparados por especialidade de posição. Interdonato, G. C., & Greguol, M. (2011).
Validação do teste de agilidade em zigue-zague
para crianças com deficiência física. Revista da
Agradecimentos: Educação Física/UEM, 22(2), 169-176. doi:
Ministério do Esporte/Brasil
10.4025/reveducfis. v22i2. 9334
Piras, A., Lobietti, R., & Squatrito, S. (2010). A study
of saccadic eye movement dynamics in volleyball:
Conflito de Interesses: comparison between athletes and non-athletes.
Os autores Elaine Cappellazzo Souto e Leonardo dos The Journal of Sports Medicine and Physical
Santos Oliveira contribuíram igualmente para este Fitness, 50(1), 99-108.
manuscrito. Piras, A., Lobietti, R., & Squatrito, S. (2014).
Response time, visual search strategy, and
anticipatory skills in volleyball players. Journal of
Financiamento: Ophthalmology, 2014, 1-10. doi:
Nada a declarar 10.1155/2014/189268
Protić, M., & Valkova, H. (2011). Psychosocial aspects
of player's engagement to the sitting volleyball.
REFERÊNCIAS Acta Kinesiologica, 5(2), 12-16.
Brasile, F. M. (1986). Wheelchair basketball skills Semenick, D. (1990). The T-test. National Strength &
proficiencies versus disability classification. Conditioning Association Journal, 12, 36–37.
Teste de agilidade para o voleibol sentado | 91

Sheppard, J. M., & Young, W. B. (2006). Agility stand-background and scientific principles of
literature review: classifications, training and classification in Paralympic sport. British Journal
testing. Journal of Sports Science and Medicine, of Sports Medicine, 45(4), 259-269. doi:
24(9), 919-932. doi: 10.1136/bjsm.2009.065060.
10.1080/02640410500457109 Thomas, J. R., Nelson, J. K., & Silverman, S. J. (2012).
Sheppard, J. M., Young, W. B., Doyle, T. L., Sheppard, Métodos de pesquisa em atividade física (6ª ed.).
T. A., & Newton, R. U. (2006). An evaluation of Porto Alegre: Artmed.
a new test of reactive agility and its relationship Vute, R. (1999). Scoring skills performances of the top
to sprint speed and change of direction speed. international men's sitting volleyball teams.
Journal of Science and Medicine in Sport, 9(4), Gymnica, 29(2), 55-62.
342-349. doi: 10.1016/j.jsams.2006.05.019 Vute, R. (2009). Teaching and coaching volleyball for
Sibley, B. A., & Etnier, J. L. (2004). Time course of the disabled: foundation course handbook (2ª
attention and decision making during a volleyball ed.). Ljubljana: Faculty of Education.
set. Research Quarterly for Exercise & Sport, Wiśniowska, M., Tasiemski, T., & Bauerfeind, J.
75(1), 102-106. doi: (2012). Athletic Identity Assessment in Disabled
10.1080/02701367.2004.10609138 Sitting Volleyball Players.
Singhal, K. L. S., Hwang, G. Y., Davis, R., & Kwon, Y- Physiotherapy/Fizjoterapia, 20(1).
H. (2013). Effects of Two Starting Floor Hand Yilla, A. B., & Sherrill, C. (1998). Validating the Beck
Positions on Movement Patterns of Elite Sitting battery of quad rugby skill tests. Adapted
Volleyball Players. Palaestra, 27(2). Physical Activity Quarterly, 2(15), 155-167.
S̆os̆e, J. (2009). Canonical relations between cognitive Zerger, M. (2008). A study of movement in sitting-
abilities and specific motor abilities of sitting- volleyball. (Master in Kinesiology and Health
volleyball players. Homo Sporticus, 11(2), 6-9. Studies), University of Central Oklahoma,
Tweedy, S. M., & Vanlandewijck, Y. C. (2011). Okhlahoma.
International Paralympic Committee position

Todo o conteúdo da revista Motricidade está licenciado sob a Creative Commons, exceto
quando especificado em contrário e nos conteúdos retirados de outras fontes bibliográficas.

View publication stats

Você também pode gostar