Oups - Name.manager 2112 4713 1 Ce
Oups - Name.manager 2112 4713 1 Ce
Oups - Name.manager 2112 4713 1 Ce
Adelina Moura
Escola Secundária Carlos de Amarante
Braga PORTUGAL
Email: [email protected]
Resumo
Sendo o podcasting uma forma de publicação de programas de áudio, vídeo e imagens na Internet, está
a tornar-se numa tecnologia apetecível em toda a sociedade e, particularmente, na Educação. Foi do
reconhecimento da importância desta ferramenta, dentro da sala de aula, que realizámos um estudo
com alunos do ensino secundário portugueses e belgas, inserido num projecto eTwinning. Pretendíamos
conhecer as potencialidades da utilização do podcast no apoio ao processo de ensino-aprendizagem dos
conteúdos curriculares da disciplina de Francês. Este estudo decorreu em dois trimestres, inquirindo-se a
reacção dos alunos ao podcast através de um questionário. Os resultados apontam para uma atitude
favorável à sua utilização pedagógica em ambas as turmas.
1. Introdução
88
emissões de rádio previamente seleccionadas e de seguida transferi-
las para um leitor de ficheiros MP3 e serem ouvidas onde e quando o
utilizador pretender. De facto, o que faz do podcast uma ferramenta
atraente é a possibilidade que o ouvinte tem de subscrever os
podcasts que lhe interessam usando um agregador RSS (Real Simple
Syndication) que lhe garante automática a actualização dos podcasts
para o PC ou leitor portátil.
Isto faz com que se torne uma tecnologia apetecível em
diferentes domínios da sociedade inclusive na Educação. Sendo a
escola um local privilegiado para experiências e criação de ambientes
educativos inovadores, desenvolvemos um projecto pedagógico de
apoio ao processo de ensino aprendizagem da língua francesa, em
parceria com uma escola belga, através da criação de um podcast.
Descreveremos de seguida esta experiência realizada com esta
tecnologia, inserida no projecto “Correspondance Scolaire” entre
alunos de Portugal e da Bélgica, no âmbito do ensino da disciplina de
Francês Língua Estrangeira (FLE)
89
curso defrancês em podcast destinado a alunos anglófonos1. Outros
exemplos estão disponíveis no site Podomatic. Apresentamos como
exemplos o podcast: “FLE Audio – Enseignement”2, ou o podcast
“ESL=english”3 para os alunos de inglês língua segunda.
A utilização do podcast na aprendizagem de línguas
estrangeiras pode tornar-se num recurso com grandes
potencialidades, quer pedagógicas, quer motivacionais, visto ser uma
tecnologia que anda no bolso de um grande número de jovens.
Tirando partido desta tecnologia iniciamos uma experiência de
utilização do podcast nas aulas de francês, como forma de motivação
e elevação dos índices de sucesso educativo na disciplina.
1
The French Pod Class:
http://www.podcastalley.com/podcast_details.php?pod_id=6357#
2
http://fle.podomatic.com/
3
http://eslpage.podomatic.com/
4
http://www.correspondance.com.sapo.pt
90
Fig. 1 – Site do projecto “Correspondance Scolaire”
91
as TIC na sala de aula e tirar partido das suas potencialidades em
favor da promoção da aprendizagem e do sucesso educativo. No
ensino de uma língua estrangeira os domínios
linguísticos/comunicativos são essenciais, assim, através do podcast
foi possível levar os alunos a desenvolver e a aperfeiçoar a
competência linguístico/comunicativa a nível da compreensão e da
expressão escrita e oral, de modo a facilitar a comunicação em
qualquer situação. Esta iniciativa possibilitou, ainda, o encontro com
outra cultura e a sua compreensão.
Este projecto foi inscrito no portal eTwinning que é a principal
acção do programa eLearning da União Europeia. Assim, e dada a
variedade de ferramentas informáticas utilizadas e a sua integração
na componente lectiva das duas turmas foi escolhido para
representar os dois países na 1ª Conferência eTwinning Internacional
anual que teve lugar em Linz, Áustria, no passado mês de Janeiro,
onde as duas professoras se encontraram. No passado dia 10 de
Maio, este mesmo projecto recebeu o primeiro prémio no “Concours
eTwinning en Flandre”, na Bélgica.
5
http://echanges.podomatic.com/
92
Fig. 2 – Podcast de Francês – Correspondance Scolaire – Belgique/Portugal
93
do seu projecto futuro aos alunos portugueses. Para além do áudio foi
possível juntar texto e imagens o que ajudou a completar a
informação. Os alunos portugueses escreveram os textos que depois
de corrigidos serviram de guião para a gravação dos podcasts. Com a
ajuda da professora portuguesa, os alunos conseguiram gravar os
seus textos em áudio e disponibilizá-los para download no podcast do
projecto.
Este trabalho resultou bastante interessante na medida em que
os alunos deram sentido às aprendizagens, porque havia um motivo
concreto para o que estavam a realizar e conheciam o destino do seu
trabalho. A motivação, o empenho e o perfeccionismo foram
dimensões notórias desde o princípio ao fim das actividades.
Como alguns alunos possuíam leitor de MP3 possibilitou
descarregar de alguns ficheiros para poderem ser ouvidos quando e
onde o aluno desejasse. O facto dos alunos poderem ouvir as vezes
que entendessem os podcasts a partir do leitor de MP3, permitiu que
a aprendizagem da língua se prolongasse para além do espaço da
sala de aula. Através destas tecnologias, proporcionámos aos alunos
dos dois países ambientes de aprendizagem inovadores e
motivacionais, ao apelar à participação e interacção com os colegas
da turma e dos colegas estrangeiros, proporcionando uma
aprendizagem e comunicação contextualizadas.
3. O estudo
94
utilização e a frequência de uso destes equipamentos. Na parte 2
centramo-nos na utilização geral dos podcasts de francês pelos
alunos. Colocámos cinco perguntas para saber se o aluno
descarregou ou não algum podcast de francês da Web, saber onde o
aluno costumava ouvir os podcasts, se os podcasts de francês
motivaram à aprendizagem da língua e se ajudaram a melhorar a sua
aprendizagem. Por fim, quisemos saber se os alunos consideravam
ou não os podcasts de francês um recurso útil. Todas as perguntas
eram de resposta fechada (não/sim), sendo que nas questões 3, 4 e
5 foi também solicitada a justificação da opinião. Na parte 3 deste
questionário pretendemos conhecer as percepções dos alunos sobre
os podcasts de francês. Esta parte integrou 5 dimensões: valor
pedagógico do podcast, facilidade em usar o podcast, utilização dos
podcasts na aprendizagem, atitudes dos alunos e motivação face aos
podcasts, com um número variável de itens. Para os inquiridos
indicarem o seu grau de acordo ou desacordo usámos a escala de
Likert com 5 opções: Discordo Totalmente (DT), Discordo (D), Nem
Discordo Nem Concordo (ND/NC), Concordo (C) e Concordo
Totalmente (CT).
O instrumento de recolha de dados teve os seguintes
objectivos: (i) Identificar o perfil dos inquiridos, relativamente à
posse, local de utilização e frequência de utilização do computador,
do leitor de MP3 e do acesso à Internet; (ii) Conhecer a utilização
geral dos podcasts de Francês pelos alunos; (iii) Conhecer as
percepções dos alunos sobre os podcasts de Francês. Cada parte do
questionário reportava-se a cada um destes objectivos. Depois de
validado foi disponibilizado on-line6 para os alunos belgas da escola
de Sint-Janscollege, na Bélgica e para os alunos portugueses da
Escola Secundária Carlos Amarante, em Braga.
6
http://www.advancedsurvey.com/survey/header.asp
95
A amostra respondente integrou 25 indivíduos, 15 alunos
portugueses e 10 belgas, sendo 68% do sexo feminino e 32% do
sexo masculino.
Esta amostra era uma amostra reduzida, constituindo aquilo a
que Schumacher e McMillan (1993:160) chamam como amostra não
probabilística (nonprobability sampling) ou amostra disponível. A
investigação em educação, pela sua especificidade, socorre-se
frequentemente deste tipo de amostra, como referem estes dois
autores. Atendendo a este tipo de amostra levantam-se algumas
restrições a qualquer generalização dos resultados. Deste modo,
qualquer pretensão em considerar os alunos que participaram neste
estudo como representativos do universo dos alunos que frequentam
o ensino secundário é pura especulação, o que, aliás, não constituía o
objectivo deste estudo. O mais importante foi, sem dúvida, verificar a
diversidade ou concordância de opiniões dos dois grupos sobre o uso
dos podcasts na disciplina de francês.
96
Tabela 1 – Proveniência geográfica
Rural 5 33 8 56
Urbana 10 67 2 44
15-17 11 73 8 89
18-20 4 27 1 11
97
Tabela 3 – Posse de equipamentos
f % f % f % f %
Tem computador em 0 0 15 100 0 0 10 100
casa?
Tem ligação à 11 73 4 27 2 20 8 80
Internet em casa?
Tem leitor de MP3 7 53 8 47 5 50 5 50
98
Quando se pergunta aos alunos sobre a frequência de utilização
do leitor de MP3, do acesso aos podcasts de francês e à World Wide
Web nota-se alguma diferença nas respostas dos alunos das duas
turmas. Assim, 39% dos alunos portugueses diz nunca usar o leitor
MP3, 33% usa-o diariamente, 22% usa-o pelo menos duas a três
vezes por semana e 6% usa-o uma vez por semana. Em
contrapartida, metade dos alunos belgas diz usá-lo diariamente e a
outra metade diz nunca o usar, por não o possuírem.
No acesso aos podcasts de francês, a maioria dos alunos
portugueses (93%) diz aceder aos podcasts pelo menos uma vez por
semana. Esta situação ocorre porque estes alunos acedem aos
podcasts semanalmente na aula de francês. Os alunos belgas
dividem-se entre o uso quotidiano (40%), duas a três vezes por
semana (40%) e uma vez por semana (20%).
Quanto ao acesso à World Wide Web, a maioria dos alunos
portugueses (93%) diz aceder pelo menos uma vez por semana,
enquanto que a maioria dos alunos belgas (60%) diz aceder
diariamente. Esta situação está de acordo com a disparidade entre o
número de alunos das duas nacionalidades com ligação à Internet em
casa. Sendo que os alunos portugueses sem ligação à Internet em
casa, apenas acedem à Web na escola.
99
Os dados a seguir apresentados dizem respeito à parte 2 e
pretendem mostrar a opinião dos alunos sobre a utilização que foi
feita dos podcasts na sala de aula.
Quanto a saber se os alunos descarregaram algum podcast de
francês da Web, 60% (9) dos alunos portugueses reponde
negativamente e 40% (6) responde afirmativamente. Esta situação
inverte-se nos alunos belgas, 70% (7) a responderem
afirmativamente e apenas 30% (3) negativamente. Relativamente ao
local onde costumam ouvir mais os podcasts de francês, todos os
alunos portugueses referiram na escola, enquanto que 78% (8) dos
alunos belgas indicaram ser na escola e 22% (2) em casa.
Sobre se os podcasts de francês motivaram à aprendizagem da
língua e se os podcasts ajudaram a melhorar a aprendizagem da
língua, verificou-se que todos os alunos portugueses afirmaram que
sim, no entanto, 60% (6) dos alunos belgas diz não. É de destacar a
divergência de opiniões das duas turmas, apresentando os alunos
portugueses opinião mais favorável sobre estas duas questões.
Inquiriu-se se os alunos consideravam os podcasts de francês
um recurso pedagógico útil ou não. A opinião das duas turmas parece
bastante favorável, com a total concordância dos alunos portugueses
e 80% (8) dos alunos belgas.
Dado que o que mais nos interessou foi conhecer a opinião dos
alunos acerca do uso desta ferramenta na sala de aula,
transcrevemos no quadro 6 as justificações dadas às perguntas 3, 4 e
5 da parte 2 do questionário:
100
Tabela 6 – Opiniões dos alunos às perguntas 3, 4 e 5 da parte 2
101
A primeira dimensão incide sobre o valor pedagógico dos
podcasts, como se pode ver na tabela 7. Constata-se que a grande
maioria dos alunos portugueses tem uma opinião positiva sobre o
valor pedagógico dos podcasts, assim, concorda que os podcasts são
um complemento à aula (77%), que são outra maneira de aprender
francês (87%), que com os podcasts se desenvolve a oralidade
(86%) e que estimulam o trabalho colaborativo (74%).
Relativamente aos alunos belgas, metade revela ter também uma
opinião positiva sobre estas mesmas dimensões, mas não tão
acentuada como os alunos portugueses. Assim, metade dos alunos
belgas concordam que os podcasts são um complemento à aula, no
entanto, 20% discorda e outros 30% não têm uma opinião definida e
ainda que os podcasts são uma outra forma de aprender francês e
que estimulam o trabalho colaborativo. Finalmente a maioria (70%)
destes alunos concorda que com os podcasts se desenvolve a
oralidade.
102
podcasts, a mesma posição parecem ter os alunos belgas (60%).
Quanto à facilidade em usar os podcasts, a maioria dos alunos
portugueses (73%) discorda, sendo que metade dos alunos belgas
(50%) parece ter uma posição de concordância sobre este item.
103
Tabela 9 – Utilização dos podcasts na aprendizagem (N=25)
104
verificando, das tecnologias áudio pelos jovens. A maioria dos alunos
portugueses (80%) discorda em ter aulas sem usar as TIC, já a
maioria dos alunos belgas (60%) apresenta uma posição indefinida.
Estas duas posições poderão prender-se com o facto dos alunos
portugueses terem tido as aulas de francês na sala de informática ao
longo de todo o ano lectivo, enquanto que os alunos belgas não
tiveram este uso sistemático.
105
belgas diz gostar de ouvir música francesa nos podcasts. Quando se
pergunta se a inclusão de vídeos no podcast motiva mais, a maioria
dos alunos portugueses (74%) discorda, mas metade dos alunos
belgas apresenta uma posição de concordância. A maioria dos alunos
portugueses (65%) e belgas (60%) gostam dos podcasts porque lhes
permitiram ouvir os colegas.
106
com a tecnologia, já os alunos belgas parecem ter mais facilidade em
usar os podcasts. Os resultados obtidos nesta dimensão podem
querer dizer que é preciso continuar a insistir na familiarização dos
alunos com a tecnologia. De salientar ainda, a discrepância entre o
número de alunos belgas (80%) e alunos portugueses (27%) com
ligação à Internet em casa.
Quanto à utilização dos podcasts na aprendizagem, os alunos
portugueses parecem compreender melhor a utilidade dos podcasts
do que os colegas belgas, possivelmente pela forma continuada como
foram usados nas aulas de francês no nosso país. É interessante
notar a diferença de opinião entre as duas turmas quanto ao facto de
os podcasts ajudarem a memorizar as letras das canções, com os
alunos portugueses a concordar e os alunos belgas a discordar. Esta
divergência poderá ter a ver com o facto dos alunos portugueses
terem trabalhado as letras de músicas francesas por intermédio dos
podcasts várias vezes, como forma de motivação para a aula, criando
um início de aula descontraída, ao mesmo tempo que memorizavam
as letras. Ambas as turmas discordam sobre considerar os podcasts
uma perda de tempo.
Quanto à atitude dos alunos face aos podcasts, ambas as
turmas apresentam opinião favorável relativamente a terem gostado
de ter gravado os podcasts de apresentação uns aos outros. Este
resultado está em conformidade com os comportamentos
manifestados pelos alunos dos dois países durante as gravações na
sala de aula, se bem que os primeiros alunos a realizar esta
actividade manifestaram alguma timidez e inibição que se foi
dissipando à medida que iam ouvindo as gravações uns dos outros e
entendiam o objectivo da tarefa. Ainda nesta dimensão, ambas as
turmas apresentam posição favorável sobre a utilidade dos podcasts
e o seu uso na sala de aula e o facto de gostarem mais de ouvir os
conteúdos curriculares do que lê-los, o que vem de encontro aos
107
resultados de outros estudos (Moura & Carvalho, 2006:155). É de
realçar o facto dos alunos de ambas as turmas não considerarem que
as aulas com os podcasts sejam mais divertidas. Será por os
podcasts serem usados como mais um instrumentos de
aprendizagem e não apenas instrumento de lazer?
Quanto à motivação que os podcasts podem provocar na
aprendizagem, os alunos portugueses discordam que os alunos se
empenhem mais com os podcasts ou se motivem com a inclusão de
vídeos, já os alunos belgas parecem ter uma opinião mais favorável
sobre estes dois itens. Seria interessante no futuro um estudo mais
aprofundado sobre estas duas questões.
O facto dos alunos das duas turmas se terem apresentado uns
aos outros, não por escrito, mas através de uma gravação áudio
obteve um impacto favorável nas duas turmas, o que deixa
transparecer que a voz pode ser um veículo de comunicação e
conhecimento a desenvolver nas aulas de língua estrangeira.
5. Conclusão
108
Qualquer professor que não se incorpore na era digital, perderá
esta nova geração de nativos digitais. Assim, e conscientes destes
factos, interessou-nos conhecer as opiniões dos alunos face à
utilização do podcast na aula de francês.
No estudo realizado verificou-se que os alunos portugueses e
belgas, têm uma atitude favorável quanto à utilização do podcast e
ao seu valor pedagógico em contexto educativo. Pelos comentários de
alguns alunos das duas turmas infere-se uma opinião favorável
quanto à motivação que os podcasts podem trazer à aprendizagem
da língua e quanto a saber se eles ajudaram a melhorar a sua
aprendizagem. Ressalvamos o facto dos alunos belgas apresentarem
uma posição mais crítica que os alunos portugueses relativamente a
estas duas questões. No entanto, ambas as turmas consideram os
podcasts de francês um recurso pedagógico útil. A maioria dos alunos
das duas turmas gosta mais de usar os podcasts nas aulas e partilha
da opinião de gostar mais de ouvir do que de ler os conteúdos
curriculares.
Pelos resultados obtidos e, apesar de já termos tecido algumas
considerações, pensamos que este estudo revela uma tendência
positiva face à integração dos podcasts nas práticas educativas, em
especial no contexto de aprendizagem de uma língua estrangeira, e
que deverá ser tomada em consideração, no futuro próximo, por
parte dos intervenientes no sistema educativo.
109
Referências:
110