URIAS SMITH - Daniel e Apocalipse I
URIAS SMITH - Daniel e Apocalipse I
URIAS SMITH - Daniel e Apocalipse I
VOL. 1 – DANIEL
URIAS SMITH
PUBLICACIONES INTERAMERICANAS
Pacific Press Publishing Association
Mountain View California
E.E. de N.A
Copyright © 1949, by
Pacific Press Publishing Association
Editado e impreso por
PUBLICACIONES INTERAMERICANAS
División hispana de la Pacific Press Publishing Association 1350 Villa
Street, Mountain View California,
EE.UU., de N. A.
Tradução: Carlos Biagini
Séptima edición
1979
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 2
PREFÁCIO
Ao publicar este livro, os editores crêem prestar um grande serviço a sus leitores.
A obra é dedicada em sua maioria a rastrear na história a maneira admirável como
Deus tratou no passado às nações e aos homens notáveis em cumprimento das grandes
profecias da Bíblia, especialmente nos acontecimentos atuais que tanto significam para
todo homem e mulher.
Ninguém pode viver num tempo como o nosso sem conhecer as questões vitais que
Deus teve por bem revelar a nosso entendimento nesta época de pressa. Estas questões
encerram conseqüências eternas para toda alma.
O autor deste livro, viveu e escreveu enquanto o cenário de ação era ocupado pela
geração que antecedeu à nossa, e seguiu o estilo literário e polêmico daqueles tempos.
Mas sua interpretação da profecia e as doutrinas de verdade que estabeleceu por um
intenso estudo das Escrituras, têm suportado a proba do tempo e do escrutínio diligente
dos estudantes da Bíblia. Em verdade, tem suportado tão eficazmente que foram
consideradas dignas de serem perpetuadas em una edição revisada, que, dentro do nova
moldura de nossa própria época, temos a grata satisfação oferecer aqui.
Os redatores não pouparam nenhum esforço para simplificar y esclarecer a
apresentação da verdade na límpida e convincente dicção do autor, para verificar todas as
fontes históricas e de exegese citada por ele, e em alguns casos notáveis reforçar seu
ensino com novas provas que o Sr. Smith não dispunha no momento de produzir sua obra
original. Procuram também dar à interpretação profética o peso adicional do significado
tão obviamente perceptível nos eventos políticos, sociais e religiosos que exigem nossa
atenção nestes momentos culminantes da era cristã. Convida-se ferventemente a todo
leitor sincero que preste una consideração reflexiva e imparcial a estes temas vitais.
OS EDITORES.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 3
As várias edições que tem tido em inglês a obra "Daniel e Apocalipse" de Urias
Smith, desde que aparecem a primeira vez en 1897 demonstram que a obra que
oferecemos hoje ao público de fala castelhana foi muito popular entre os leitores
interessados nas interpretações das profecias. A obra não foi traduzida antes para o
público hispano-americano não por falta de interesse, pois desde muitos anos, em
diferentes países da América Latina, vinham expressando o desejo de ter una versão
do livro. Por fim, chegou a oportunidade de realizar o trabalho, aqui é apresentado de
maneira modesta e tamanho pequeno, para manter o preço o mais acessível.
Para ganhar tempo e facilitar a aquisição da obra, esta sai em dois volumes. O
primeiro estuda o livro de Daniel; o segundo, o Apocalipse. A tradução, que visou
mais a fidelidade que as pompas literárias, baseia-se na edição de 1944, depois de ter
sido corrigida e atualizada por una comissão revisora, que fez seu trabalho com
esmero, mas respeitou, no ter geral do livro, as idéias e a linguagem do autor. A versão
das Escrituras usada é a de Cipriano de Valera, por ser a mais difundida na América
Espanhola, pois é encontrada em muitos lares. Nos casos em que, para esclarecer
alguma expressão, foi preciso recorrer à Versão Moderna, isso foi indicado pelas
iniciais V. M.
Que esta edição tenha, entre os leitores do mundo de fala castelhana, a acolhida
correspondente à importância que para nossa época têm os temas tratados, e que sua
leitura contribua para ganhar muitos súditos para o futuro reino de Deus que anuncia, é
o desejo sincero de
OS EDITORES.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 4
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Capítulo 1: Um Cativo na Corte Real de Babilônia . . . . . . . . . . . . 8
Capítulo 2: O Rei Sonha Acerca Dos Impérios Mundiais . . . . . . 15
Capítulo 3: A Integridade Provada Pelo Fogo . . . . . . . . . . . . . . . 49
Capítulo 4: O Altíssimo Reina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Capítulo 5: A Escritura na Parede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Capítulo 6: Daniel na Cova dos Leões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Capítulo 7: A Luta Pelo Domínio Mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Capítulo 8: O Mundo Diante do Tribunal Celestial . . . . . . . . . . 117
Capítulo 9: Uma Vara Profética Cruza os Séculos . . . . . . . . . . . 153
Capítulo 10: Deus Intervém nos Negócios do Mundo . . . . . . . . . 178
Capítulo 11: O Futuro Desdobrado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185
Capítulo 12: Aproxima-se o Momento Culminante da História ... 242
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 5
INTRODUÇÃO
Já não há razão para duvidar que o livro de Daniel foi escrito pela pessoa que tem
o nome no título. Ezequiel, um dos contemporâneos de Daniel, testemunha, pelo
espírito de profecia, de sua piedade e retidão, colocando-o ao nível de Noé e Jó: "Ou
se eu enviar a peste sobre essa terra e derramar o Meu furor sobre ela com sangue,
para eliminar dela homens e animais, tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus,
ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu filho
nem a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida" (Ezequiel 14:19,
20). Do que diz o mesmo autor se depreende que já nessa época era proverbial a
sabedoria de Daniel. O Senhor lhe ordenou dizer essas palavras ao rei de Tiro: "Sim,
és mais sábio que Daniel, não há segredo algum que se possa esconder de ti" (Ezequiel
28:3). Mas acima de tudo, o Senhor Jesus reconheceu Daniel como profeta de Deus, e
ordenou que Seus discípulos entendessem as predições feitas por meio dele para o
benefício de Sua igreja: "Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou
o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê, entenda), então, os que estiverem na Judéia
fujam para os montes" (Mateus 24:15, 16).
Muito embora tenhamos um relato mais detalhado da primeira parte da vida de
Daniel do que o registro de qualquer outro profeta, seu nascimento e sua linhagem são
completamente deixados em obscuridade; e só sabemos que ele era da linhagem real,
provavelmente da casa de Davi, que nesse tempo se tornara muito numerosa. Daniel se
apresenta a princípio de seu livro como um dos nobres cativos de Judá, levados a
Babilônia no início dos setenta anos do cativeiro, em 606 a. C. Ezequiel começou seu
ministério pouco depois e, um pouco mais tarde, Obadias; mas todos estes concluíram
sua obra anos antes da conclusão da longa e brilhante carreira de Daniel. Apenas três
profetas o sucederam: Ageu e Zacarias, que exerceram o ofício profético
contemporaneamente, por um breve período, de 520-518 a. C., e Malaquias, o último
dos profetas do Antigo Testamento, que floresceu brevemente, por volta de 397 a.C.
Durante os setenta anos de cativeiro dos judeus, de 606 a 536 a. C., predito por
Jeremias (Jeremias 25:11), Daniel residiu na corte de Babilônia, na maior parte do
tempo como primeiro-ministro daquela monarquia. Sua vida nos oferece a mais
impressionante lição da importância e vantagem de manter, logo desde o início da
juventude, estrita integridade para com Deus, e fornece notável exemplo de um
homem que manteve elevada piedade e cumpriu fielmente todos os deveres pertinentes
ao serviço de Deus, ocupando-se ao mesmo tempo nas mais agitadas atividades, e
desempenhando-se nos mais pesados encargos e responsabilidades que possam cair
sobre os homens nesta vida terrena.
Que repreensão sua conduta contém para muitos nos dias atuais, que não têm,
como Daniel, um centésimo dos encargos a lhes absorver o tempo e ocupar a atenção,
e entretanto procuram desculpar sua total negligência dos deveres cristãos, com a
declaração de não terem tempo para cumpri-los! Que dirá a tais pessoas o Deus de
Daniel, quando Ele vier recompensar Seus servos imparcialmente, de acordo com o
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 6
aproveitamento ou negligência, por parte deles, das oportunidades que lhes foram
oferecidas?
Mas o que perpetua a lembrança de Daniel e honra o seu nome, não é nem
principalmente sua ligação com a monarquia caldaica. Do alto de sua glória ele viu
aquele reino declinar e passar a outras mãos. Tão breve foi a supremacia de Babilônia
e transitória sua glória, que o período de maior prosperidade do reino esteve
compreendido nos limites do tempo de vida de um homem. Mas a Daniel foram
conferidas mais duradouras honrarias. Embora amado e honrado pelos príncipes e
potentados de Babilônia, desfrutou exaltação infinitamente mais elevada ao ser amado
e honrado por Deus e Seus santos anjos ao ser admitido a conhecer os conselhos do
Altíssimo.
Sua profecia é, em muitos aspectos, a mais notável de todas as profecias contida
no Livro Sagrado. É a mais abrangente. Foi a primeira profecia a dar uma história em
seqüência do mundo desde aquela época até o fim. Situou a maior parte de suas
predições dentro de períodos proféticos bem definidos, embora atingindo muitos
séculos no futuro. Daniel ofereceu a primeira profecia cronológica definida da vinda
do Messias. Tão precisamente assinalou a data desse evento, que os judeus chegaram a
proibir qualquer tentativa de interpretar-lhe os números, pois essa profecia lhes deixa
sem escusas ao rejeitarem a Cristo. De fato, as minuciosas e literais predições de
Daniel se haviam cumprido com tanta exatidão até a época de Porfírio, 250 d. C., que
este filósofo declarou que as predições não foram escritas na época de Babilônia, mas
após o transcurso dos acontecimentos. Esta foi a única saída que pôde conceber para
seu precipitado ceticismo. Porém este evasiva já não é possível; porque cada século
sucessivo tem trazido mais evidência de veracidade da profecia, e exatamente agora,
estamos nos aproximando do clímax de seu cumprimento.
A história pessoal de Daniel nos leva a uma data alguns anos posterior à
derrocada do reino de Babilônia pelos medos e persas. Supõe-se que Daniel tenha
morrido em Susã, capital da Pérsia, por volta do ano 530 a. C., na idade aproximada de
noventa e quatro anos; e sua idade foi provavelmente a razão de ele não ter voltado a
Jerusalém com outros cativos hebreus, na proclamação de Ciro (Esdras 1:1), em 536 a.
C., que marcou o fim do cativeiro de setenta anos.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 7
*
O amo 606 a.C. é a data apoiada por Ussher, Hales e outros autores de cronologias, mas as pesquisas mais recentes dos
arqueólogos favorecem a data 605 a.C. Esta data, aparentemente mais exata, não afeta absolutamente o cômputo dos
períodos proféticos apresentados pelo autor, porque se deve lembrar que os judeus e outros povos antigos levavam em
conta o primeiro e o último ano de um período. – Comissão revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 8
Deus permitiu que esses vasos fossem profanados da pior maneira e os deixou ir como
troféus ao templos pagãos no estrangeiro.
Cativos hebreus em Babilônia. Durante esses dias de angústia e aflição sobre
Jerusalém, Daniel e seus companheiros foram alimentados e instruídos no palácio do
rei de Babilônia. Embora fossem cativos em terra estranha, estavam, sob certos
aspectos, sem dúvida em melhor situação do que se tivessem ficado em seus país
natal.
Versículos 3-5: "Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse
alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres, jovens sem nenhum
defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no
conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei e lhes
ensinasse a cultura e a língua dos caldeus. Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas
iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três
anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei."
Versículos 6, 7: "Entre eles, se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael
e Azarias. O chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel, o de
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Novos nomes para Daniel e seus companheiros. Esta mudança de nomes se fez
provavelmente por causa do significado das palavras. Em hebraico Daniel significava
"Deus é o meu juiz"; Hananias, "dom do Senhor"; Misael, "que é o que Deus é"; e
Azarias, "a quem Deus ajuda". Uma vez que estes nomes se referiam ao Deus
verdadeiro e tinham certa relação com o Seu culto, foram trocados por nomes cuja
definição os vinculasse às divindades pagãs e ao culto dos caldeus. Assim Beltessazar,
o nome dado a Daniel, significa "príncipe de Bel"; Sadraque, "Servo de Sin" (deus da
lua); Mesaque, "quem é como Aku" (Aku era o equivalente sumério de Sin, isto é, era
outro nome do deus da lua); e Abede-Nego significava "servo de Nebo".
Por isso respeitosamente fez seu pedido ao funcionário adequado que, por escrúpulos
religiosos, o permitissem evitar contaminar-se.
O príncipe dos eunucos temia conceder o que Daniel pedia, pois o próprio rei
havia indicado qual deveria ser a comida de Daniel e seus companheiros. Isso
demonstra o interesse pessoal do rei por aqueles cativos. Parece que queria
sinceramente vê-los alcançar o máximo desenvolvimento físico e mental possível de
alcançarem. Quão longe estava do fanatismo e tirania que predominavam supremos no
coração dos que dos que estão revestidos de poder absoluto! No caráter de
Nabucodonosor achamos muitas coisas merecedoras de nossa mais alta admiração.
É interessante notar o que estava incluído no pedido de Daniel com respeito à sua
alimentação. A palavra hebraica zeroim, aqui traduzida por "legumes", é constituída
pela mesma raiz da palavra "semente" usada no relato da criação, onde se menciona
"toda erva que dá semente", e também o fruto da árvore que dá semente" (Gênesis
1:29). Isso indica claramente que o pedido de Daniel incluía cereais, legumes e frutas.
Ademais, se entendemos corretamente Gênesis 9:3, as "ervas" estavam incluídas na
alimentação solicitada. Em outras palavras, o menu que Daniel pediu e recebeu era
formado de cereais, legumes, frutas, nozes e verduras, quer dizer, uma dieta
vegetariana variada, acompanhada da bebida universal para o homem e os animais: a
água pura.
A Bíblia Anotada de Cambridge contém esta nota sobre zeroim: "Alimentação
vegetal em geral; não há razão para crer que a palavra hebraica usada se limita às
leguminosas como feijões e ervilhas, designadas apropriadamente por 'legumes'."
Gesênio dá esta definição: "Sementes, ervas, verduras, vegetais; quer dizer,
alimento vegetal como o que se consume se faz meio jejum, em oposição a carnes e
iguarias mais delicadas."
Tendo obtido resultado favorável à prova com essa alimentação, permitiu-se a
Daniel e seus companheiros seguir esse regime em todo o curso de seu preparo para os
deveres palacianos.
Depois de estudar três anos. Parece que só a Daniel foi confiado o entendimento
de visões e sonhos. Mas o modo como Deus tratou a Daniel neste particular não prova
que seus companheiros fossem menos apreciados que ele. Pela proteção que tiveram
na fornalha de fogo receberam uma prova igualmente boa do favor divino. Daniel
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 11
D aniel foi levado cativo no primeiro ano de Nabucodonosor. Esteve três anos
sob a tutela de instrutores, e naturalmente nesse tempo não foi contado entre
os sábios do reino nem tomou parte nos negócios públicos. Contudo, no segundo ano
de Nabucodonosor produziram-se as circunstâncias relatados neste capítulo. Como,
então, Daniel pôde ser levado a interpretar o sonho do rei no segundo ano? A
explicação consiste no fato de que Nabucodonosor foi co-regente com seu pai
Nabopolassar durante dois anos. Os judeus contavam o início do reinado no começo
desses dois anos, ao passo que os caldeus o contavam deste o momento em que
começou a reinar sozinho, quando da morte de seu pai. Daí ser o ano aqui mencionado
o segundo ano de seu reinado na contagem dos caldeus e o quarto na dos judeus1.
Parece, pois, que logo no ano seguinte após Daniel terminar sua preparação para tomar
parte nos negócios do império caldeu, a providência de Deus fez com que seu jovem
servo se notabilizasse repentinamente em todo o reino.
1
Veja Adão Clarke, "Commentary on the Old Testament", Vol. 4, págs. 564, 567, notas sobre Dan. 1:1; 2:1; Tomas
Newton, "Dissertations on the Prophecies", Vol. 1, pág, 231; Alberto Barnes, "Notes on Daniel", págs. 111, 112,
comentário sobre Daniel 2:1.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 13
Versículos 3, 4 – Disse lhes o rei: Tive um sonho; e para sabê-lo está perturbado o
meu espírito. Os caldeus disseram ao rei em aramaico: Ó rei, vive eternamente! Dize o
sonho a teus servos, e daremos a interpretação.
Qualquer que seja outra matéria em que os antigos magos e astrólogos tenham
sido eficientes, não há dúvida que dominavam a arte de extrair informações suficientes
para formar a base de hábeis cálculos ou de formular suas respostas com tal
ambigüidade que se aplicassem a qualquer rumo que tomassem os acontecimentos. No
caso em apreço, fiéis aos seus astutos instintos, pediram ao rei que lhes desse a
conhecer o sonho. Se pudessem obter plena informação sobre o sonho, não lhes seria
difícil concordar em alguma interpretação que não lhes pusesse em perigo a reputação.
Dirigiram-se ao rei em siríaco ou aramaico, dialeto caldeu que as classes educadas e
cultas usavam. Desse ponto até o fim do capítulo 7, o relato continua na língua
caldaica, falada pelo rei.
Versículos 5-13 – Respondeu o rei e disse aos caldeus: Uma cousa é certa. Se não
me fizerdes saber o sonho e a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas casas
serão feitas monturo, mas se me declarardes o sonho e a sua interpretação, recebereis de
mim dádivas, prêmios e grandes honras; portanto declarai-me o sonho e a sua
interpretação. Responderam segunda vez, e disseram: Diga o rei o sonho a seus servos, e
lhe daremos a interpretação. Tornou o rei, e disse: Bem percebo que quereis ganhar
tempo, porque vedes que o que eu disse está resolvido, isto é: Se não me fazeis saber o
sonho, uma só sentença será vossa, pois combinastes palavras mentirosas e perversas
para as proferirdes na minha presença, até que se mude a situação; portanto dizei-me o
sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a interpretação. Responderam os caldeus na
presença do rei e disseram: Não há mortal sobre a terra que possa revelar o que o rei
exige; pois jamais houve rei, por grande e poderoso que tivesse sido, que exigiu
semelhante cousa de algum mago, encantador ou caldeu. A cousa que o rei exige é difícil,
e ninguém há que a possa revelar diante do rei, senão os deuses, e estes não moram com
os homens. Então o rei muito se irou e enfureceu, e ordenou que matassem a todos os
sábios de Babilônia. Saiu o decreto, segundo o qual deviam ser mortos os sábios; e
buscaram a Daniel e aos seus companheiros, para que fossem mortos.
Viu que ele e todo o seu povo eram vítimas de engano constante. Embora não
possamos justificar as medidas extremas ao ponto de decretar sua morte e destruição
das casas, sentimos simpatia para com ele e a condenação que proferiu contra esse tipo
de impostores. O rei não podia tolerar a desfaçatez e o engano.
Daniel vai em seu auxílio. Nesta narração vemos a providência de Deus operando
em vários detalhes notáveis. Graças a ela, o sonho do rei lhe deixou tão poderosa
impressão na mente que o levou a tamanha ansiedade, e contudo, não pôde lembrar-se
do que havia sonhado. Isso desmascarou completamente o falso sistema dos magos e
outros mestres pagãos. Quando solicitados a tornarem conhecido o sonho, verificou-se
que não podiam fazer aquilo de que se declaravam plenamente capazes.
É notável que Daniel e seus companheiros, pouco antes declarados pelo rei dez
vezes melhores que todos os magos e astrólogos, não fossem consultados no caso. Mas
isso foi providencial. Assim como o rei esqueceu o sonho, viu-se inexplicavelmente
impedido de recorrer a Daniel para a solução do mistério. Se tivesse inicialmente
pedido a Daniel e este imediatamente desse a conhecer o assunto, os magos não teriam
sido provados. Mas Deus queria dar a primeira oportunidade aos sistemas pagãos dos
caldeus. Queria deixar que tentassem, falhassem vergonhosamente e confessassem sua
total incompetência, mesmo sob pena de morte, para que estivessem mais bem
preparados para reconhecer Sua intervenção quando Ele finalmente manifestasse o
poder em favor de Seus servos cativos, para honra de Seu nome.
Parece que Daniel obteve a primeira informação do assunto quando os algozes
chegaram para prendê-lo. Ao ver assim em perigo sua vida, sentiu-se induzido a
implorar de todo o coração que o Senhor operasse para livrar os Seus servos. Daniel
obteve o que pediu ao rei, a saber, tempo para considerar o assunto, privilégio que
provavelmente nenhum dos magos conseguiria, pois o rei já os havia acusado de
preparar palavras mentirosas e corruptas, e de procurarem ganhar tempo para este
objetivo. Daniel dirigiu-se imediatamente aos seus três companheiros e pediu-lhes que
se unissem a ele para rogarem misericórdia ao Deus do céu acerca desse segredo.
Poderia ter orado sozinho, e sem dúvida teria sido ouvido. Mas então, como agora, há
poder prevalecente na união do povo de Deus; e a dois ou três que se unem num
pedido, é feita a promessa de lhes ser concedido o que pediram. (Mateus 18:19, 20.)
Versículos 19-23 – Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel
bendisse o Deus do céu. Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 15
eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações,
remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos
inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele
mora a luz. A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te louvo, porque me deste
sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o que te pedimos, porque nos fizeste saber
este caso do rei.
Versículo 24 – Por isso Daniel foi ter com Arioque, ao qual o rei tinha constituído para
exterminar os sábios de Babilônia; entrou, e lhe disse: Não mates os sábios de Babilônia;
introduze-me na presença do rei, e revelarei ao rei a interpretação.
O que salva o mundo hoje? Por amor de quem ele ainda é poupado? Por amor dos
poucos justos que ainda restam. Se estes desaparecerem, por quanto tempo os ímpios
poderão prosseguir em sua carreira culpável? Não por prazo maior que o dos
antediluvianos, depois de Noé ter entrado na arca, ou dos sodomitas, depois de Ló se
ausentar de sua contaminadora presença. Se apenas dez pessoas justas pudessem ter
sido encontradas em Sodoma, por causa delas a multidão de seus ímpios habitantes
teria sido poupada. Mesmo assim os ímpios desprezam, ridicularizam e oprimem os
mesmos por cuja causa lhes é permitido continuar desfrutando a vida e todas as suas
bênçãos.
Versículos 26-28 – Respondeu o rei e disse a Daniel, cujo nome era Beltessazar:
Podes tu fazer-me saber o que vi no sonho e a sua interpretação? Respondeu Daniel na
presença do rei e disse: O mistério que o rei exige, nem encantadores, nem magos nem
astrólogos o podem revelar ao rei; mas há um Deus no céu, o qual revela os mistérios, pois
fez saber ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e as visões
da tua cabeça, quando estavas no teu leito, são estas:
Versículos 29, 30 – Estando tu, ó rei, no teu leito, surgiram-te pensamentos a respeito
do que há de ser depois disto. Aquele, pois, que revela mistérios te revelou o que há de
ser. E a mim me foi revelado este mistério, não porque haja em mim mais sabedoria do
que em todos os viventes, mas para que a interpretação se fizesse saber ao rei, e para que
entendesses as cogitações da tua mente.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 17
Versículos 31-35 – Tu, ó rei, estavas vendo, e eis aqui uma grande estátua; esta, que
era imensa e de extraordinário esplendor, estava em pé diante de ti; e a sua aparência era
terrível. A cabeça era de fino ouro, o peito e os braços, de prata, o ventre e os quadris, de
bronze; as pernas, de ferro, os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro. Quando
estavas olhando, uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de
ferro e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze,
a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio, e o vento os levou, e
deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra que feriu a estátua se tornou em grande
montanha, que encheu toda a terra.
impressivamente do que mediante uma imagem cuja cabeça era de ouro? Sob a cabeça
havia um corpo composto de metais inferiores que decrescia em valor até o mais
inferior materiais nos pés e seus dedos de ferro misturado com barro lamacento. O
conjunto foi afinal destruído e feito semelhante a palha vazia. Logo foi reduzida a pó
sem valor algum, mais leve que a vaidade e arrastada pelo vento para onde não se
pudesse encontrar, depois do que seria ocupado por algo durável e de valor celestial.
Com isso Deus quis mostrar aos filhos dos homens que os reinos terrestres
desaparecerão, e a grandeza e glória da Terra se desfarão como vistosa espuma. E no
lugar durante tanto tempo usurpado por esses impérios se estabelecerá o reino de
Deus, que não terá fim, e os que tiverem interesse nesse reino, para sempre repousarão
à sombra de suas pacíficas asas. Mas com isso já nos estamos antecipando em nosso
estudo.
Versículos 36-38 – Este é o sonho; e também a sua interpretação diremos ao rei. Tu,
ó rei, rei de i-eis, a quem o Deus do céu conferiu o reino, o poder, a força e a glória,- a
cujas mãos foram entregues os filhos dos homens, onde quer que eles habitem, e os
animais do campo e as aves dos céus, para que dominasse sobre todos eles, tu és a
cabeça de ouro.
2
The Cambridge Ancient History, vol. 3, pág. 212. Usado com permissão dos editores nos EUA, Macmillan Company.
3
Idem, pág. 217.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 20
maravilha do mundo, era ela mesma outra maravilha mais prodigiosa. Ali, com o
mundo inteiro prostrado a seus pés, como rainha de grandeza sem par, que recebeu da
própria pena inspirada este brilhante título: "a jóia dos reinos, glória e orgulho dos
caldeus", destacava-se esta capital condizente com o reino representado pela cabeça de
ouro dessa grande imagem histórica.
Tal era Babilônia, com Nabucodonosor na flor da idade, audaz, vigoroso e
realizado, sentado em seu trono, quando Daniel entrou por suas portas para servir
como cativo durante setenta anos em seus luxuosos palácios. Ali os filhos do Senhor,
oprimidos mais que alentados pela glória e prosperidade de sua terra de cativeiro,
penduravam suas harpas nos salgueiros às margens do Eufrates, e choravam ao se
lembrarem de Sião.
Ali começa o estado cativo da igreja num sentido mais amplo, pois desde aquele
tempo o povo de Deus tem estado submetido a potências terrenas e por elas oprimido
em maior ou menor medida. Assim continuará até que todas as potências terrenas
cedam finalmente Àquele que possui o direito de reinar. E eis que rapidamente se
apressa esse dia de libertação.
Em outra cidade, não só Daniel, mas todos os filhos de Deus, desde o menor até o
maior, do mais humilde ao mais elevado, vão logo entrar. É uma cidade que não tem
apenas 96 quilômetros de perímetro, mas 2.400; cidade cujos muros não são de tijolos
e betume, mas de pedras preciosas e jaspe; cujas ruas não são pavimentadas com
pedras como as de Babilônia, por belas e lisas que fossem, mas com ouro transparente;
cujo rio não é o Eufrates, mas o rio da vida; cuja música não são os suspiros e
lamentos de quebrantados cativos, mas emocionantes cantos de vitória sobre a morte e
a sepultura, que multidões de remidos entoarão; cuja luz não é a intermitente luz da
Terra, mas a incessante e inefável glória de Deus e do Cordeiro. Eles chegarão à
cidade não como cativos que entram num país estranho, mas como exilados que
retornam à casa paterna; não como a um lugar onde lhes venham a abater o ânimo
palavras não cordiais como "cativeiro", "servidão", e "opressão", mas onde as doces
palavras "lar", "liberdade", "paz", "pureza", "dita inefável" e "vida eterna" lhes
deleitarão a alma para todo o sempre. Sim, nossa boca se encherá de riso e nossa
língua de cântico, quando o Senhor restaurar a sorte de Sião (Salmos 126:1, 2;
Apocalipse 21:1-27).
"A prova dessa co-regência encontra-se nos cilindros de Nabonadio [Nabonido] que
foram achados em Mugheir, nos quais se pede a proteção dos deuses para Nabu-nadid e
seu filho Bel-shar-uzur, cujos nomes estão acoplados em uma maneira que implica a co-
regência do último. (British Museum Series, Vol. I, pl. 68, Nº. 1). A data em que Belsazar foi
co-regente com seu pai não pode ser posterior a 540 AC, o décimo quinto ano de
Nabonadio, visto que o terceiro ano de Belsazar é mencionado em Daniel 8:1. Se Belsazar
(como suponho) era filho de uma filha de Nabucodonosor que se casou com Nabonadio
depois que se tornou rei, não pode ter mais de quatorze anos no ano 15º de sei pai."4
A Queda de Babilônia. No primeiro ano de Neriglissar, apenas dois anos depois
da morte de Nabucodonosor, irrompeu entre os babilônios e os medos a guerra fatal
que resultou na queda do Império Babilônico. Ciáxares, rei dos medos, que é chamado
"Dario" em Daniel 5:31, chamou em seu auxílio seu sobrinho Ciro, da linhagem persa.
A guerra prosseguiu com êxito ininterrupto dos medos e dos persas, até que no ano 18
de Nabonido (o terceiro ano de seu filho Belsazar), Ciro sitiou Babilônia, a única
cidade de todo o Oriente que então lhe resistia. Os babilônios, encerrados entre suas
muralhas inexpugnáveis, com provisões para vinte anos e terra suficiente dentro dos
1imites de sua ampla cidade para fornecer alimentos seus habitantes e à guarnição por
um período indefinido. De suas altas muralhas zombavam de Ciro e ridicularizavam
seus esforços aparentemente inúteis para sujeitá-los. E segundo todo cálculo humano,
tinham bons motivos para se sentirem seguros. De acordo com as probabilidades
terrenas, a cidade nunca poderia ser tomada pelos meios de guerra então conhecidos.
Por isso dormiam tão livremente como se nenhum inimigo lhes estivesse procurando
destruir, espreitando ao redor de suas muralhas sitiadas. Contudo, Deus decretara que
a orgulhosa e ímpia cidade desceria de seu trono de glória. E quando Ele fala, que
braço mortal pode derrotar Sua palavra?
O perigo dos babilônios se baseava em seu próprio sentimento de segurança. Ciro
resolveu realizar por estratagema o que não podia executar pela força. Ao saber que se
aproximava uma festa anual em que a cidade inteira se entregaria às diversões e orgia,
fixou esse dia como a data para executar seu propósito.
Não havia meio de Ciro entrar naquela cidade a menos que o achasse onde o rio
Eufrates entrava e saía por baixo de suas muralhas. Resolveu fazer do leito do rio seu
caminho para a fortaleza do inimigo. Para isso, a água tinha que ser desviada de seu
leito que atravessava a cidade. De modo que, na véspera do dia festivo acima referido,
destacou três grupos de soldados: o primeiro que numa determinada hora desviasse o
rio para um lago artificial situado a curta distância acima da cidade; o segundo, para
tomar posição no lugar onde o rio entrava na cidade; o terceiro, para colocar-se 24
quilômetros abaixo, onde o rio saía da cidade. Estes dois últimos grupos foram
instruídos a entrar no leito do rio assim que o pudessem vadear. Nas trevas da noite
explorariam seu caminho sob as muralhas e avançariam até o palácio real, onde
deviam surpreender e matar os guardas e capturar ou matar o rei. Tendo sido desviada
4
Jorge Rawlinson, The Seven Great Monarchies of the Ancient Eastern World, vol. 2, pág. 610. Nota 202.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 22
a água para o lago, o rio logo se tornou possível de vadear e os soldados seguiram seu
leito até o coração da cidade de Babilônia.5
Tudo isso, porém, teria sido em vão, se a cidade toda, naquela noite fatídica, não
se houvesse entregado à negligência, imprudência e presunção, estado de coisas com
que Ciro muito contava para a realização de seu propósito. Em cada lado do rio a
cidade era atravessada por muralhas de grande altura e de espessura igual à dos muros
exteriores. Nessas muralhas havia enormes portas de bronze que, quando fechadas e
guardadas, impediam a entrada desde o leito do rio até qualquer das ruas que
atravessavam o rio. Se as portas estivessem fechadas nessa ocasião, os soldados de
Ciro poderiam ter penetrado na cidade pelo leito do rio e por ele novamente saído, sem
conseguirem subjugar a praça de guerra.
Mas na orgia e bebedeira daquela noite fatídica, as portas que davam para o rio
foram deixadas abertas, como fora predito, muito anos antes, pelo profeta Isaías:
"Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater
as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele
as portas, que não se fecharão" (Isaías 45:1). A entrada dos soldados persas não foi
percebida. Muitos rostos haveriam empalidecido de terror, caso se houvesse notado o
repentino baixar das águas do rio e se houvesse compreendido o terrível significado
desse fato. Muitas línguas teriam propagado vibrante alarma pela cidade se tivessem
sido vistas as sombras dos inimigos armados penetrar furtivamente na cidadela que os
babilônios supunham segura. Mas ninguém notou o súbito baixar das águas do rio;
ninguém viu a entrada dos guerreiros persas. Ninguém teve o cuidado de que as portas
que davam para o rio fossem fechadas e guardadas; ninguém tinha outra preocupação
senão de saber quão profunda e irresponsavelmente poderia mergulhar na desenfreada
orgia. Aquela noitada de dissipação custou aos babilônios o reino e a liberdade.
Entraram em sua embrutecedora bebedeira como súditos do rei de Babilônia; dela
despertaram como escravos do rei da Pérsia.
Os soldados de Ciro fizeram saber sua presença na cidade caindo sobre a guarda
real no vestíbulo do palácio do rei. Belsazar logo percebeu a causa do distúrbio, e
morreu pelejando. Este festim de Belsazar é descrito no quinto capítulo de Daniel, e o
relato é encerrado com as simples palavras: "Naquela mesma noite foi morto Belsazar,
rei dos caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do
reino."
O historiador Prideaux diz: "Dario, o medo, isto é, Ciáxares, o tio de Ciro, tomou
o reino porque Ciro lhe outorgou o título de todas as suas conquistas enquanto viveu."6
Assim o primeiro império, simbolizado pela cabeça de ouro da grande estátua,
acabou melancolicamente. Seria natural supor-se que o conquistador, ao tomar posse
de uma cidade tão nobre como Babilônia, que suplantava quanto houvesse no mundo,
a tivesse escolhido para sede do seu império e a houvesse conservado em seu
esplendor. Mas Deus havia dito que aquela cidade viria a ser um montão de ruínas e
5
Ver Heródoto, págs. 67-71; Jorge Rawlinson, The Seven Great Monarchies of the Ancient World, vol. 2, págs. 254-259;
Humphrey Prideaux, The Old and the New Testament C0nnected in the History of the Jews, vol. 1, págs. 136,137.
6
Humphrey Prideaux, The Old and the New Testament Connected in the History of the Jews, vol 1, pág. 137.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 23
habitação das feras do deserto; que suas casas se encheriam de corujas; que as hienas
uivariam nos seus castelos, e os chacais nos seus palácios luxuosos. (Isaías 13:19-22).
Primeiro ficaria deserta. Ciro mudou a sede imperial para Susã, célebre cidade da
província de Elão, a leste de Babilônia, às margens do rio Choaspes, afluente do Tigre.
Isso aconteceu provavelmente no primeiro ano em que Ciro reinou só.
Com o orgulho particularmente ferido por esse ato, os babilônios se rebelaram no
quinto ano de Dario Histaspes, em 517 a. C., e contra si novamente atraíram todas as
forças do império persa. Novamente a cidade foi tomada por estratagema. Zópiro, um
dos principais comandantes de Dario, tendo cortado o próprio nariz e as orelhas e
produzido vergões em todo o corpo com chicotadas, em tais condições debandou-se
para os sitiados aparentemente abrasado por desejo de ser vingado em Dario, por sua
grande crueldade de o mutilar dessa maneira. Conquistou assim a confiança dos
babilônios até que estes o tornaram comandante-chefe de suas forças, e com isso ele
entregou nas mãos de seu senhor a cidade. E para impedi-los de uma vez por todas de
se rebelarem, Dario empalou três mil dos que tinham sido mais ativos na revolta, tirou
as portas de bronze e rebaixou as muralhas de duzentos para cinqüenta côvados. Foi o
princípio da destruição da cidade. Este ato a deixou exposta às pilhagens de todos os
bandos hostis. Xerxes, ao voltar da Grécia, despojou o templo de Belo de sua imensa
riqueza e deixou em ruínas a soberba estrutura. Alexandre o Grande procurou
reconstruí-la, mas depois de empregar dez mil homens durante dois meses para
remover o entulho, morreu de excessiva embriaguez, e o trabalho foi suspenso. No ano
294 a. C., Seleuco Nicátor construiu uma nova Babilônia nas proximidades da cidade
velha e tomou muito material e muitos habitantes da velha cidade para edificar e
povoar a nova. Ficando assim quase esvaziada de habitantes, a negligência e a
decadência se fizeram sentir terrivelmente na antiga cidade. Sua ruína foi apressada
pela violência dos príncipes partos. Por volta do quarto século, foi usada pelos reis
persas como recinto de feras. No fim do século XII, segundo um célebre viajante, as
poucas ruínas que restavam do palácio de Nabucodonosor estavam tão cheias de
serpentes e répteis venenosos que não podiam, sem grande perigo, ser detidamente
examinadas. Hoje apenas restam ruínas suficientes para assinalar o lugar onde uma
vez esteve a maior, mais rica e mais orgulhosa cidade do mundo antigo.
Assim as ruínas da grande Babilônia nos mostram com que exatidão Deus
cumpre Sua palavra e tornam as dúvidas do ceticismo indícios de cegueira voluntária.
"Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu." O emprego da palavra
"reino" aqui, demonstra que as diferentes partes da imagem representavam reinos e
não reis em particular. Portanto, quando foi dito a Nabucodonosor: "Tu és a cabeça de
ouro", embora se tenha empregado o pronome pessoal, o designado era o reino e não o
rei.
O reino Medo-Persa. O reino sucessor de Babilônia, isto é Medo-Pérsia,
correspondia ao peito e aos braços de prata da grande estátua. Seria inferior ao reino
precedente. Em que aspecto? Não em poder, pois ele conquistou Babilônia. Não em
extensão, pois Ciro subjugou todo o Oriente, do mar Egeu ao rio Indo, e assim erigiu
um império mais extenso. Mas foi inferior em riqueza, luxo e magnificência.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 24
Versículo 40 – O quarto reino será forte como ferro; pois, o ferro a tudo quebra e
esmiúça, como o ferro quebra todas as cousas, assim ele fará em pedaços e esmiuçará.
A Férrea Monarquia de Roma. Até aqui existe acordo geral entre os expositores
das Escrituras sobre a aplicação desta profecia. Todos reconhecem que Babilônia,
Medo-Pérsia e Grécia estão respectivamente representados pela cabeça de ouro, o
peito e os braços de prata e o ventre de bronze. Entretanto, sem haver mais base para
opiniões diversas, existe diferença de interpretação quanto ao reino simbolizado pela
quarta divisão da grande estátua: as pernas de ferro. Neste ponto, basta perguntar: Que
reino sucedeu à Grécia no domínio do mundo, sendo que as pernas de ferro denotam o
quarto reino da série? O testemunho da história é amplo e explícito a este respeito. Um
reino cumpriu isso, e só um, e esse foi Roma. Conquistou a Grécia; subjugou todas as
coisas; como o ferro, fez em pedaços e esmiuçou.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 26
Disse o bispo Newton: "Os quatro diferentes metais devem significar quatro
diferentes nações; como o ouro representava os babilônios, a prata, os persas, e o
bronze os macedônios, o ferro não pode novamente significar os macedônios, antes
deve necessariamente representar outra nação; e ousamos dizer que não existe na terra
nenhuma nação a quem se aplique tal descrição senão os romanos."7
Gibbon, seguindo as imagens simbólicas de Daniel, assim descreve o império:
"As armas da República, às vezes vencidas na batalha, sempre vencedoras na
guerra, avançaram a passos rápidos até o Eufrates, o Danúbio, o Reno e o Oceano; e as
imagens de ouro, a prata ou o bronze, que podiam servir para representar as nações e
seus reis, foram sucessivamente quebrantadas pela férrea monarquia de Roma."8
Quando se iniciou a Era Cristã, este império abrangia todo o sul da Europa, a
França, a Inglaterra, a maior parte dos Países Baixos, a Suíça, o sul da Alemanha, a
Hungria, a Turquia e a Grécia, sem falar de suas possessões da Ásia e da África. Bem
pode, portanto, Gibson dizer:
"O império dos romanos encheu o mundo. E quando esse império caiu nas mãos de
uma única pessoa, o mundo tornou-se uma prisão segura e lúgubre para seus inimigos. ...
9
Resistir era fatal, e era impossível fugir."
Nota-se que a princípio o reino é descrito irrestritamente forte como o ferro. Este
foi o período de sua força, durante o qual foi comparado a um poderoso colosso que
cava1gava sobre as nações, a tudo vencia e dava leis no mundo. Mas isso não havia de
continuar.
Versículos 41, 42 – Quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de
oleiro e em parte de ferro, será isso um reino dividido; contudo haverá nele alguma cousa
da firmeza de ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. Como os dedos
dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será
forte, e por outra será frágil.
Roma Dividida. A fragilidade simbolizada pelo barro era tanto dos pés como dos
dedos dos pés. Roma, antes de sua divisão em dez reinos, perdeu aquele vigor férreo
que possuía em grau superlativo durante os primeiros séculos de sua carreira. O luxo,
que se acompanha de desfibramento e degeneração, o destruidor de nações tanto como
de indivíduos, começou a corroer e enfraquecer seus músculos de ferro, e assim
preparou o caminho para sua desintegração em dez reinos.
As pernas de ferro da estátua terminam nos pés e nos dedos dos pés. Para estes,
que naturalmente eram dez, nossa atenção é chamada pela menção explícita que deles
se faz na profecia. E o reino representado pela parte da imagem à qual pertenciam os
pés, foi finalmente dividido em dez partes. Portanto, surge naturalmente a pergunta:
Os dez dedos dos pés da imagem representam as dez divisões finais do império
romano? Respondemos que sim.
7
Tomas Newton, Dissertations on the Prophecies, vol. 1, pág. 240.
8
Edward Gibbon, The Decline and Fall of the Roman Empire, vol. 3, observações gerais que seguem o capítulo 38, pág.
614. A obra de Gibbon aparece em muitas edições além da usada na preparação deste livro. Para o estudante que possui
uma edição diferente, foi incluído o capítulo com todas as referências para facilitar a busca das citações.
9
Idem, vol. 1, págs. 99,100.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 27
*
O autor, em harmonia com sete comentadores principais, inclui os hunos como um dos dez reinos. Outros, porém, com
fundamentos históricos, colocam os alamanes em lugar dos hunos.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 28
esses povos e algumas das nações modernas da Europa podem ser vista nos nomes
com Inglaterra, Borgonha, Lombardia, França, etc.
Mas pode alguém perguntar: Por que não supor que as duas pernas denotam
divisão tanto como os dedos dos pés? Não seria tão incoerente dizer que os dedos dos
pés denotam divisão, e não as pernas, como dizer que as pernas denotam divisão, e os
dedos dos pés não? Respondemos que a própria profecia deve reger nossas conclusões
nesta matéria; e embora nada diga sobre divisão em relação às pernas, introduz o tema
da divisão quando chegamos aos pés e seus dedos. Diz a profecia: "Quanto ao que
viste dos pés e seus dedos, em parte de barro de oleiro e em parte de ferro, será isso
um reino dividido." Nenhuma divisão podia ocorrer, ou pelo menos nenhuma se diz
ter ocorrido, até se apresentar o elemento enfraquecedor que é o barro; e isso não
encontramos antes de chegarmos aos pés e seus dedos. Mas não devemos entender que
o barro denote uma divisão e o ferro a outra; porque depois de se quebrantar a unidade
do reino que por longo tempo existia, nenhum dos fragmentos foi tão forte como o
ferro original, mas todos ficam num estado de fraqueza denotado pela mistura de ferro
e barro.
Portanto, a conclusão inevitável é que o profeta apresentou aqui a causa do efeito.
A introdução da fragilidade do elemento barro, quando chegamos aos pés, resultou na
divisão do reino em dez partes, representada pelos dez dedos dos pés; e este resultado
ou divisão é mais do que indicado na repentina menção de uma pluralidade de reis
contemporâneos. Portanto, ao passo que não encontramos provas de que as pernas
signifiquem divisão, mas sim objeções graves contra essa opinião, achamos bons
motivos para admitir que os artelhos denotam divisão, como aqui se afirma.
Além disso, cada uma das quatro monarquias tinha seu território particular, que
era o do próprio reino, e ali devemos procurar os principais eventos de sua história que
o símbolo anunciava. Não devemos, pois, buscar as divisões do império romano no
território antes ocupado por Babilônia, Pérsia ou Grécia, mas no território do reino
romano, que finalmente se conheceu como o Império Ocidental. Roma conquistou o
mundo, mas o reino de Roma propriamente dito ficava a Oeste da Grécia. Este reino é
o representado pelas pernas de ferro. Portanto, ali buscamos os dez reinos e ali os
encontramos. Não estamos obrigados a mutilar ou deformar o símbolo para que
represente com exatidão os acontecimentos históricos.
Versículo 43 – Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-
ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se
mistura com o barro.
Roma é o Último Império Universal. Com Roma caiu o último dos impérios
universais. Até aqui os elementos sociais haviam possibilitando que uma nação,
tornando-se superior a seus vizinhos em proezas, bravura, e ciência da guerra, os
atrelasse um após outro, às rodas dos seus carros de guerra, até consolidar a todos num
único e vasto império. Quando Roma caiu, tais possibilidades cessaram para sempre.
O ferro ficou misturado com o barro, e perdeu a força de coesão. Nenhum homem ou
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 29
10
William Newton, Lectures on the First Two Visions of the Book of Daniel, págs. 34-36.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 30
Dos horrores desta luta titânica nasceu um ideal expresso pelo presidente
Woodrow Wilson, que exclamou: "O mundo ficou seguro para a democracia!" Na
convicção de que fora travada uma guerra que acabaria com as guerras, anunciavam-se
os direitos inerentes das minorias e os princípios da autodeterminação, garantidos pela
liga mundial das nações que poderia restringir os ditadores e castigar os agressores.
Contudo, à sombra do palácio da Liga das Nações levantaram-se caudilhos que
destruiriam a paz do mundo e o ideal de uma nação mundial, enquanto pregavam uma
nova revolução social. Prometeram em vão o triunfo da cultura e uma união baseada
na superioridade racial que assegurava "mil anos de tranqüilidade" às nações de uma
Europa "em parte ... forte, e em parte ... frágil".
Em meio à confusão, o naufrágio das nações, a destruição das instituições, o
sacrifício dos tesouros resultantes de séculos de frugalidade, através de olhos
marejados pelo pesar que lhes ocasionaram a perda da flor de sua juventude, o
envelhecimento de suas mulheres, a matança de seus filhos e anciãos, através das
nuvens que se erguiam sobre o sangue humano, um mundo angustiado busca
ansiosamente indícios de que poderá sobreviver. Será que a ilusão da paz baseada na
confiança de uma solidariedade européia, resultado das boas intenções irracionais,
teria levado os homens a esquecer a declaração da Palavra de Deus: "Não se ligarão
um ao outro!"?
Podem realizar-se alianças, e pode parecer que o ferro e o barro dos pés e dos
dedos da grande estátua vão finalmente fundir-se, mas Deus disse: "Não se ligarão."
Pode parecer que desapareceram as velhas animosidades e que os "dez reinos"
seguiram o caminho de toda a terra, mas, "a Escritura não pode falhar" (João 10:35).
Concluiremos com as palavras de William Newton: "E, contudo, se em resultado
destas alianças ou de outras causas esse número é por vezes alterado, isso não nos
deve surpreender. Na verdade, é justamente o que a profecia parece exigir. O ferro não
se misturava com o barro. Por certo tempo não se podia distingui-los na estátua. Mas
não permaneceriam assim. 'Não se ligarão um ao outro'. Por um lado, natureza das
substâncias as impede de fazê-lo; por outro, a palavra profética impede. Contudo,
haveria tentativa de misturá-los; até houve aparência de mistura em ambos os casos.
Mas seria infrutífera. E com que assinalada ênfase a história afirma esta declaração da
Palavra de Deus!" 11
Versículos 44, 45 – Mas nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que
não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo: esmiuçará e consumirá
todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi
cortada uma pedra, sela auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata
e o ouro. O Grande Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e
fiel a sua interpretação.
11
Idem, pág. 36.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 31
12
Hipólito, "Tratado Sobre Cristo e o Anticristo", Ante-Nicene Fathers, vol. 5, pág. 210, par. 28.
13
Idem, par. 32, 33.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 33
satisfeito de que seu reino fosse representado pelo ouro; mas não lhe agradava o fato
ser sucedido por outro reino. Por isso, em vez de decidir que sua imagem tivesse só a
cabeça de ouro, ele a fez toda de ouro, para indicar que seu reino não seria lugar a
outro reino, mas se perpetuaria.
Nego, caíram atados dentro da fornalha sobremaneira acesa. Então, o rei Nabucodonosor
se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus conselheiros: Não lançamos nós
três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. Tornou ele e
disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem
nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses.
Nabucodonosor não estava inteiramente isento das faltas e insensatez em que tão
facilmente incorre um monarca absoluto. Embriagado pelo poder ilimitado, não podia
suportar desobediência ou contradição. Mesmo que fosse por bons motivos, se alguém
lhe resistia à autoridade expressa, Nabucodonosor manifestava a fraqueza que em tais
circunstâncias é comum entre a humanidade caída, e se enfurecia. Embora dominasse
o mundo, o rei não sabia cumprir a tarefa ainda mais difícil de dominar seu próprio
espírito. Seu rosto ficou transtornado. Em vez do domínio próprio da aparência serena
e digna que devia ter conservado, deixou transparecer, na expressão e nos atos, que era
escravo de ingovernável paixão.
Lançados na fornalha de fogo. A fornalha foi aquecida sete vezes mais do que de
costume, ou seja, até o máximo. Nisto o rei anulava seu propósito; pois mesmo que o
fogo tivesse sobre as pessoas nele lançadas o efeito esperado, só as teria destruído
mais depressa. O rei nada ganharia com seu furor. Mas ao serem libertos desse efeito,
muito foi ganho para a causa de Deus e Sua verdade; pois quanto mais intenso o calor,
tanto maior e mais impressionante o milagre de os jovens serem livrados dele.
Cada circunstância revelou o direto poder de Deus. Os hebreus foram atados com
todas as suas vestes; mas saíram sem sequer passar sobre eles o cheiro do fogo. Os
homens mais fortes do exército foram escolhidos para os lançarem na fornalha; mas o
fogo matou aqueles homens antes de entrarem em contato com ele, ao passo que sobre
os hebreus não teve efeito, embora estivessem bem no meio das chamas. É evidente
que o fogo se achava sob o domínio de algum ser sobrenatural, pois embora tivesse
consumido as cordas com que eles foram atados, de modo que ficaram livres para
andar no meio do fogo, nem sequer lhes chamuscou as vestes. Não saltaram do fogo
assim que ficaram livres, mas nele continuaram; pois, em primeiro lugar, o rei os
mandara colocar ali, e competia-lhe convidá-los a sair. Além disso, havia uma quarta
pessoa com eles, e em Sua presença podiam estar tão contentes e alegres na fornalha
de fogo, como nas delícias e nos luxos do palácio. Oxalá que em todas as nossas
provas, aflições, perseguições e apertos tenhamos a companhia daquela Quarta Pessoa,
e nos será suficiente!
O Rei Adquire uma Nova Visão. O rei disse: "O aspecto do quarto é semelhante a
um filho dos deuses." Alguns pensam que esta linguagem se refere a Cristo. O
significado mais literal é que tinha aspecto de ser divino. Mas embora esta fosse a
maneira como Nabucodonosor tinha por hábito referir-se aos deuses que adorava (ver
os comentários sobre Daniel 4:18) isso não é base para crer que a expressão possa
referir-se a Cristo, porque a palavra elahin, aqui empregada em sua forma caldéia,
embora no plural, traduz-se por Deus em todo o Antigo Testamento.
Que contundente repreensão à insensatez e loucura do rei foi o livramento
daqueles nobres jovens da fornalha ardente! Um poder superior a qualquer outro da
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 37
O ALTÍSSIMO REINA
Daniel 4
Versículos 1-3 – O rei Nabucodonosor a todos os povos, nações e homens de todas
as línguas, que habitam em toda a terra. Paz vos seja multiplicada! Pareceu-me bem fazer
conhecidos os sinais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito para comigo. Quão
grandes são os sinais, e quão poderosas as Suas maravilhas. O Seu reino é reino
sempiterno, e o Seu domínio de geração em geração.
Este capítulo, diz Adam Clarke, "é um decreto regular, e um dos mais antigos
registrados. Não há dúvida de que foi copiado dos documentos oficiais de
Babilônia. Daniel o havia conservado no idioma original" 1
O Rei Exalta o Verdadeiro Deus. Esse decreto de Nabucodonosor foi promulgado
na forma usual. Queria tornar conhecida, não apenas a algumas pessoas, mas a todos
os povos, nações e línguas, a maneira maravilhosa com que Deus o tratou. As pessoas
estão sempre prontas a contar o que Deus fez por elas em termos de benefícios e
bênçãos. Devíamos igualmente estar dispostos a contar o que Deus tem feito por nós
tanto na humilhação como no castigo, Nabucodonosor nos deu um bom exemplo a
esse respeito, como veremos nas partes subseqüentes deste capítulo. Confessa
francamente a vaidade e o orgulho de seu coração e fala abertamente dos meios que
Deus empregou para humilhá-lo. Com sincero espírito de arrependimento e
humilhação achou por bem revelar estas coisas a fim de que a soberania de Deus fosse
exaltada e Seu nome adorado. Nabucodonosor já não pede imutabilidade para o seu
próprio reino, mas se entrega plenamente a Deus, reconhecendo que só o Seu reino é
eterno e Seu domínio de geração em geração.
Versículos 4-18 – Eu, Nabucodonosor, estava tranqüilo em minha casa e feliz no meu
palácio. Tive um sonho, que me espantou; e, quando estava no meu leito, os pensamentos
e as visões da minha cabeça me turbaram. Por isso, expedi um decreto, pelo qual fossem
introduzidos à minha presença todos os sábios da Babilônia, para que me fizessem saber
a interpretação do sonho. Então, entraram os magos, os encantadores, os caldeus e os
feiticeiros, e lhes contei o sonho; mas não me fizeram saber a sua interpretação. Por fim,
se me apresentou Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no
qual há o espírito dos deuses santos; e eu lhe contei o sonho, dizendo: Beltessazar, chefe
1
Adão Clarke, Commentary on the Old Testament, vol. 4, pág. 582, nota sobre Daniel 4:1.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 39
dos magos, eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum mistério te é difícil;
eis as visões do sonho que eu tive; dize-me a sua interpretação. Eram assim as visões da
minha cabeça quando eu estava no meu leito: eu estava olhando e vi uma árvore no meio
da terra, cuja altura era grande; crescia a árvore e se tornava forte, de maneira que a sua
altura chegava até ao céu; e era vista até aos confins da terra. A sua folhagem era
formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos; debaixo dela os
animais do campo achavam sombra, e as aves do céu faziam morada nos seus ramos, e
todos os seres viventes se mantinham dela. No meu sonho, quando eu estava no meu
leito, vi um vigilante, um santo, que descia do céu, clamando fortemente e dizendo:
Derribai a árvore, cortai-lhe os ramos, derriçai-lhe as folhas, espalhai o seu fruto;
afugentem-se os animais de debaixo dela e as aves, dos seus ramos. Mas a cepa, com as
raízes, deixai na terra, atada com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo. Seja ela
molhada do orvalho do céu, e a sua porção seja, com os animais, a erva da terra. Mude-
se-lhe o coração, para que não seja mais coração de homem, e lhe seja dado coração de
animal; e passem sobre ela sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigilantes, e
esta ordem, por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo
tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer e até ao mais humilde dos
homens constitui sobre eles. Isto vi eu, rei Nabucodonosor, em sonhos. Tu, pois, ó
Beltessazar, dize a interpretação, porquanto todos os sábios do meu reino não me
puderam fazer saber a interpretação, mas tu podes; pois há em ti o espírito dos deuses
santos.
Esta parte do relato inicia quando Nabucodonosor tinha vencido todos os seus
inimigos. Tivera êxito em seus empreendimentos militares. Subjugara a Síria, Fenícia,
Judéia, Egito e Arábia. Foram provavelmente estas grandes conquistas que o
induziram a confiar em si mesmo. Exatamente nesse tempo, quando se sentia mais
descansado e seguro, quando era mais improvável ocorrer algo que lhe perturbasse a
tranqüilidade, nesse mesmo tempo, Deus decidiu afligi-lo com temores e
pressentimentos.
O Rei Perturbado por Outro Sonho. Mas o que poderia infundir temor ao coração
de um rei como Nabucodonosor? Desde a juventude ele fora guerreiro.
Freqüentemente enfrentara os perigos dos combates, os terrores da matança e
permanecera incólume em meio a essas cenas. Que haveria de amedrontá-lo agora?
Nenhum inimigo o ameaçava, não se via nuvem hostil no horizonte. Seus próprios
pensamentos e visões foram utilizados para ensinar-lhe o que nenhuma outra coisa
podia ensinar-lhe: uma salutar lição de dependência e humildade. Ele, que havia
aterrorizado a outros, mas a quem nenhuma outra pessoa podia aterrorizar, foi feito
terror de si mesmo.
Humilhação ainda maior que a narrada no segundo capítulo foi infligida aos
magos. Naquela ocasião eles se jactavam de que se tão-somente conhecessem o sonho
poderiam revelar sua interpretação. Agora, Nabucodonosor lembra claramente o sonho
e o relatou, mas o aflige haverem seus servos voltado a falhar ignominiosamente. Não
puderam dar a interpretação e novamente o monarca recorreu ao profeta de Deus.
O reinado de Nabucodonosor é simbolizado por uma árvore que brotava no meio
da Terra. Babilônia, cidade onde Nabucodonosor reinou, estava aproximadamente no
centro do mundo então conhecido. A árvore chegava até ao céu e suas folhas eram
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 40
viçosas. Grandes eram sua glória externa e seu esplendor. Tinha excelências internas.
Seu fruto era abundante e proporcionava alimento a todos. Os animais do campo se
refugiavam à sua sombra, as aves do céu moravam em seus ramos. Que outra coisa
podia representar com mais clareza e força o fato de que Nabucodonosor regia seu
reino com tal eficiência que proporcionava a mais plena proteção, sustento e
prosperidade a todos os seus súditos? Ao ser dada a ordem para cortar a árvore,
ordenou-se também que o tronco fosse deixado na terra. Devia ser protegida com
cadeia de ferro e de bronze para que não se estragasse, mas subsistisse a fonte de
futuro crescimento e grandeza.
Aproxima-se o dia em que os ímpios serão cortados e não lhes restará esperança.
Não haverá misericórdia misturada com o seu castigo. Serão destruídos, raiz e ramo,
conforme expressa Malaquias.
"Passem sobre ele sete tempos", dizia o decreto. É evidente que esta simples
expressão deve ser entendida literalmente. Mas quanto abrange este período de "sete
tempos"? Pode-se determinar pelo tempo que Nabucodonosor, em cumprimento desta
predição, foi afastado para morar com os animais do campo. Isso, informa-nos Josefo,
durou sete anos.2 Portanto, aqui "um tempo" representa um ano.
Quanto interesse sentem anjos pelos assuntos humanos! Vêem, como jamais os
mortais podem ver, quão indecoroso é o orgulho no coração humano. Como ministros
de Deus executam alegremente os decretos Deus para corrigir o mal. O homem deve
saber que não é o arquiteto de seu próprio destino, porque há Um que predomina sobre
os reinos dos homens e eles devem humildemente colocar-se na dependência dEle.
Um homem pode ser um governante de êxito, mas não se deve orgulhar disso, pois se
o Senhor não o tivesse permitido, ele jamais teria alcançado essa posição de honra.
Nabucodonosor reconhece a supremacia do verdadeiro Deus sobre os oráculos
pagãos. Solicita a Daniel que resolva o mistério. "Tu podes" – disse ele "pois há em ti
o espírito dos deuses santos."
Conformou se observou ao tratar Daniel 3:25, Nabucodonosor volta agora à sua
maneira habitual de mencionar os deuses no plural, embora a Septuaginta traduz
assim: "O espírito do Deus santo está em ti."
Versículos 19-27 – Então, Daniel, cujo nome era Beltessazar, esteve atônito por
algum tempo, e os seus pensamentos o turbavam. Então, lhe falou o rei e disse:
Beltessazar, não te perturbe o sonho, nem a sua interpretação. Respondeu Beltessazar e
disse: Senhor meu, o sonho seja contra os que te têm ódio, e a sua interpretação, para os
teus inimigos. A árvore que viste, que cresceu e se tornou forte, cuja altura chegou até ao
céu, e que foi vista por toda a terra, cuja folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e
em que para todos havia sustento, debaixo da qual os animais do campo achavam
sombra, e em cujos ramos as aves do céu faziam morada, és tu, ó rei, que cresceste e
vieste a ser forte; a tua grandeza cresceu e chega até ao céu, e o teu domínio, até à
extremidade da terra. Quanto ao que viu o rei, um vigilante, um santo, que descia do céu e
que dizia: Cortai a árvore e destruí-a, mas a cepa com as raízes deixai na terra, atada com
cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; seja ela molhada do orvalho do céu, e a
2
Ver Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas, livro 10, cap. 10, seção 6.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 41
sua porção seja com os animais do campo, até que passem sobre ela sete tempos, esta é
a interpretação, ó rei, e este é o decreto do Altíssimo, que virá contra o rei, meu senhor:
serás expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e dar-
te-ão a comer ervas como aos bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão
sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino
dos homens e o dá a quem quer. Quanto ao que foi dito, que se deixasse a cepa da árvore
com as suas raízes, o teu reino tornará a ser teu, depois que tiveres conhecido que o céu
domina. Portanto, ó rei, aceita o meu conselho e põe termo, pela justiça, em teus pecados
e em tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres; e talvez se prolongue
a tua tranqüilidade.
domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. No mesmo instante, se cumpriu a
palavra sobre Nabucodonosor; e foi expulso de entre os homens e passou a comer erva
como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os
cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves.
Versículos 34-37 – Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos
ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao
que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração.
Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade,
ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a
mão, nem lhe dizer: Que fazes? Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a
dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor;
buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e
a mim se me ajuntou extraordinária grandeza. Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo,
exalto e glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os seus
caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba.
Nabucodonosor Exalta e Glorifica ao Rei do Céu. Ao fim dos sete anos a mão de
Deus deixou de afligir o rei e ele recuperou a razão e o entendimento. Seu primeiro ato
foi bendizer o Altíssimo. A esse respeito, Mathew Henry observa com muita
propriedade: "Com justiça podem ser considerados vazios de entendimento os que não
bendizem nem louvam a Deus; e enquanto não começam a ser religiosos jamais os
3
Sir Federico Kenyon, The Bible and Archaeology, pág. 126.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 43
homens usam corretamente sua razão, nem vivem como homens enquanto não vivem
para a glória de Deus."4
Foram-lhe restituídas a honra e a inteligência e ele foi restabelecido no reino. A
promessa era que seu reino lhe seria assegurado (Verso 26). Diz-se que durante a
insanidade de Nabucodonosor, seu filho Evil-Merodaque reinou em seu lugar. A
interpretação dada por Daniel ao sonho foi, sem dúvida, bem compreendida em todo o
palácio, e provavelmente foi tema de conversação. Daí que o regresso de
Nabucodonosor a seu reino deve ter sido esperado com interesse. Não se nos informa
por que lhe foi permitido viver em campo aberto e em tal condição de desamparo, em
vez de ser confortavelmente atendido pelos assistentes do palácio.
A aflição teve o efeito a que se destinava. O rei aprendeu a lição de humildade.
Não a esqueceu com a volta da prosperidade. Soube reconhecer que o Altíssimo tem
domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. Expediu a todo o reino uma
proclamação real consistente no reconhecimento do seu orgulho e num manifesto de
louvor e adoração ao Rei do Céu.
É a última menção de Nabucodonosor que encontramos na Escritura. Este
decreto, na versão autorizada, data de 563 a. C., ou seja, um ano antes da morte de
Nabucodonosor, segundo a cronologia aceita por Adam Clarke, embora alguns
atribuam ao decreto uma data que antecede em 17 anos a morte do rei. Nada indica
que o rei tenha voltado a cair em idolatria, e conclui-se que ele morreu crendo no Deus
de Israel.
Assim termina a vida desse homem notável. Em meio a todas as tentações que
acompanhavam seu elevado posto de rei, não podemos supor que Deus viu nele
sinceridade, integridade e pureza de propósito, que podia usar para a glória de Seu
nome? Daí seu maravilhoso procedimento para com ele, com o fim aparente de afastá-
lo de sua falsa religião e uni-lo ao serviço do Deus verdadeiro. Temos, primeiramente,
seu sonho da grande imagem, que contém valiosa lição para todas as gerações
vindouras. Depois, sua experiência com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego quando
recusaram adorar a imagem de ouro, quando foi novamente levado a reconhecer a
supremacia do verdadeiro Deus. Finalmente, temos os maravilhosos incidentes
registrados neste capítulo, mostrando os incessantes esforços do Senhor para levar
Nabucodonosor a reconhecer plenamente o Criador. E não podemos esperar que o rei
mais ilustre do primeiro reino profético, a cabeça de ouro, finalmente participe
daquele reino diante do qual todos os reinos serão como palha e cuja glória jamais se
obscurecerá?
4
Mathew Henry, Commentary, vol. 3, pág. 965, nota sobre Daniel 4:34-37.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 44
A ESCRITURA NA PAREDE
Daniel 5
Versículo 1 – O rei Belsazar deu um grande banquete a mil dos seus grandes, e
bebeu vinho na presença dos mil.
O fato de o rei, sob o efeito do vinho, mandar buscar os vasos sagrados tomados
de Jerusalém, pode indicar que o banquete se referia em certo sentido a vitórias
anteriores sobre os judeus. Era de esperar que o rei usasse aqueles vasos para celebrar
a vitória por meio da qual os babilônios os obtiveram. Provavelmente, nenhum outro
rei havia ido tão longe em sua impiedade. E enquanto bebiam vinho nos vasos
dedicados ao verdadeiro Deus, louvavam os seus deuses de ouro, prata, bronze, ferro,
madeira e pedra. Possivelmente, como notamos no comentário a Daniel 3:29,
celebravam a superioridade do poder de seus deuses perante o Deus dos judeus, de
cujos vasos agora bebiam em honra de suas divindades pagãs.
Versículos 10-16 – A rainha-mãe, por causa do que havia acontecido ao rei e aos
seus grandes, entrou na casa do banquete e disse: Ó rei, vive eternamente! Não te turbem
os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. Há no teu reino um homem que tem
o espírito dos deuses santos; nos dias de teu pai, se achou nele luz, e inteligência, e
sabedoria como a sabedoria dos deuses; teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei,
o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos feiticeiros, porquanto
espírito excelente, conhecimento e inteligência, interpretação de sonhos, declaração de
enigmas e solução de casos difíceis se acharam neste Daniel, a quem o rei pusera o nome
de Beltessazar; chame-se, pois, a Daniel, e ele dará a interpretação. Então, Daniel foi
introduzido à presença do rei. Falou o rei e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos
de Judá, que o rei, meu pai, trouxe de Judá? Tenho ouvido dizer a teu respeito que o
espírito dos deuses está em ti, e que em ti se acham luz, inteligência e excelente
sabedoria. Acabam de ser introduzidos à minha presença os sábios e os encantadores,
para lerem esta escritura e me fazerem saber a sua interpretação; mas não puderam dar a
interpretação destas palavras. Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar
interpretações e solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura e fazer-me
saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás cadeia de ouro ao pescoço e
serás o terceiro no meu reino.
mantinham em cativeiro fosse chamado a pronunciar o juízo que sua ímpia conduta
merecia.
Versículos 25-29 – Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e
PARSIM. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele.
TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. PERES: Dividido foi o teu reino e
dado aos medos e aos persas. Então, mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura,
e lhe pusessem cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro
no governo do seu reino.
Daniel Interpreta a Escritura. Nesta inscrição cada palavra representa uma frase
curta. MENE: "contado"; TEQUEL: "pesado"; PARSIM, do radical Peres: "dividido".
Deus, a Quem desafiaste, tem o teu reino em Suas mãos e cortou os teus dias e acabou
tua carreira precisamente no momento em que pensavas estar no apogeu de tua
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 47
prosperidade. Tu, que elevaste o teu coração com orgulho, como o maior da Terra,
foste pesado e achado mais leve que a vaidade. O teu reino, que em teu sonho
subsistiria para sempre, fica dividido entre os inimigos que já estão aguardando às tuas
portas.
Apesar desta terrível denúncia, Belsazar não se esqueceu de sua promessa e a
seguir investiu a Daniel do manto escarlate e da cadeia de ouro e o proclamou terceiro
no governo do reino. Daniel aceitou isso, provavelmente com o objetivo de ficar em
melhores condições de cuidar dos interesses de seu povo durante a transição do reino
ao sucessivo.
Versículos 30, 31 – Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E
Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino.
Versículos 1-5 – Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte
sátrapas, que estivessem por todo o reino; e sobre eles, três presidentes, dos quais Daniel
era um, aos quais estes sátrapas dessem conta, para que o rei não sofresse dano. Então,
o mesmo Daniel se distinguiu destes presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito
excelente; e o rei pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino. Então, os presidentes e os
sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam
achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem
culpa. Disseram, pois, estes homens: Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a
este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus.
Babilônia foi tomada pelos persas e Dario, o medo, subiu ao trono em 538 a.C.
Com a morte de Dario, dois anos mais tarde, 536 a. C., Ciro ocupou o trono. Em
algum momento entre estas duas datas ocorreu o evento narrado neste capítulo.
Daniel era ativo dirigente no reino de Babilônia, no apogeu da glória deste.
Continuou morando na capital quando os medo-persas ocuparam a sede do império
universal, e estava familiarizado com todos os assuntos do reino. No entanto, não
deixou relato consecutivo dos eventos ocorridos durante sua longa atuação nesses
reinos. Apenas refere aqui e ali algum acontecimento apto a inspirar fé, esperança e
coragem no coração dos filhos de Deus em todas as épocas e levá-los a ser firmes em
sua adesão ao que é reto. O acontecimento narrado neste capítulo é mencionado pelo
apóstolo Paulo em Hebreus 11, onde nos fala dos que pela fé "fecharam bocas de
leões".
Daniel, Primeiro-Ministro de Medo-Pérsia. Dario constituiu sobre o reino 120
príncipes, porque se supõe havia 120 províncias no império, cada uma com seu
príncipe ou governador. Com as vitórias de Cambises e de Dario Histaspes o império
foi ampliado e chegou a ter 127 províncias (Ester 1:1). Sobre esses príncipes foram
colocados três presidentes e destes Daniel era o principal. Daniel foi elevado a este
cargo pelo espírito excelente e fidelidade em sua obra.
Por ser um grande homem no império de Babilônia, Daniel poderia ser
considerado por Dario inimigo sido banido ou eliminado de qualquer outro modo. Ou,
como cativo de uma nação então em ruínas, poderia ser desprezado. Deve dizer-se, a
crédito de Dario, que Daniel foi preferido sobre todos os demais, porque o arguto rei
viu nele um espírito excelente e pensava estabelecê-lo sobre todo o reino.
Então se despertou contra ele a inveja dos outros príncipes e se puseram a buscar
sua destruição. Em tudo o que se referia ao reino a conduta de Daniel era perfeita. Ele
era fiel e verdadeiro. Não podiam achar motivo de queixa contra Daniel nesse
particular. Então disseram que não podiam achar ocasião de acusá-lo exceto no
concernente à lei do seu Deus. Oxalá seja assim conosco. Pessoa alguma pode obter
melhor recomendação,
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 49
Versículos 6-10 – Então, estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei e lhe
disseram: Ó rei Dario, vive eternamente! Todos os presidentes do reino, os prefeitos e
sátrapas, conselheiros e governadores concordaram em que o rei estabeleça um decreto e
faça firme o interdito que todo homem que, por espaço de trinta dias, fizer petição a
qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões.
Agora, pois, ó rei, sanciona o interdito e assina a escritura, para que não seja mudada,
segundo a lei dos medos e dos persas, que se não pode revogar. Por esta causa, o rei
Dario assinou a escritura e o interdito. Daniel, pois, quando soube que a escritura estava
assinada, entrou em sua casa e, em cima, no seu quarto, onde havia janelas abertas do
lado de Jerusalém, três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante
do seu Deus, como costumava fazer.
Versículos 11-17 – Então, aqueles homens foram juntos, e, tendo achado a Daniel a
orar e a suplicar, diante do seu Deus, se apresentaram ao rei, e, a respeito do interdito
real, lhe disseram: Não assinaste um interdito que, por espaço de trinta dias, todo homem
que fizesse petição a qualquer deus ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, fosse lançado
na cova dos leões? Respondeu o rei e disse: Esta palavra é certa, segundo a lei dos
medos e dos persas, que se não pode revogar. Então, responderam e disseram ao rei:
Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que
assinaste; antes, três vezes por dia, faz a sua oração. Tendo o rei ouvido estas coisas,
ficou muito penalizado e determinou consigo mesmo livrar a Daniel; e, até ao pôr-do-sol, se
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 50
empenhou por salvá-lo. Então, aqueles homens foram juntos ao rei e lhe disseram: Sabe, ó
rei, que é lei dos medos e dos persas que nenhum interdito ou decreto que o rei sancione
se pode mudar. Então, o rei ordenou que trouxessem a Daniel e o lançassem na cova dos
leões. Disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, que ele te livre.
Foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova; selou-a o rei com o seu próprio anel e
com o dos seus grandes, para que nada se mudasse a respeito de Daniel.
Daniel Lançado na Cova dos Leões. Feita a armadilha, só restava a esses homens
espreitar sua vítima para fazê-la cair. Assim, voltaram a reunir-se, desta vez na
residência de Daniel, como se algum negócio importante repentinamente os obrigasse
a consultar o principal dos presidentes e eis que o acharam orando ao seu Deus,
exatamente como pretendiam e esperavam encontrá-lo. Até aí tudo dera certo para
eles. Não tardaram, pois, a apresentar-se ao rei com a acusação.
Ao obterem do monarca a confirmação de que o decreto estava em vigor, se
acharam em condições de apresentar-lhe a informação contrária a Daniel. E a fim de
excitar os preconceitos do rei, disseram: "Esse Daniel, que é dos exilados de Judá, não
faz caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste." Sim, queixaram-se eles, esse
pobre cativo, que depende de ti em tudo o que desfruta, em vez de ser agradecido e
apreciar teus favores, não manifesto consideração para contigo, nem dá atenção a teu
decreto. Então o rei viu a cilada que haviam preparado tanto para ele como para
Daniel, e trabalhou até ao pôr-do-sol para livrá-lo, fazendo provavelmente esforços
pessoais junto aos conspiradores para induzi-los à indulgência, ou procurando, por
argumentos e esforços, a ab-rogação da lei. Mas a lei ficou de pé; e Daniel, o
venerável, o grave, o íntegro e ilibado servo do reino, foi lançado na cova dos leões.
Versículos 18-24 – Então, o rei se dirigiu para o seu palácio, passou a noite em jejum
e não deixou trazer à sua presença instrumentos de música; e fugiu dele o sono. Pela
manhã, ao romper do dia, levantou-se o rei e foi com pressa à cova dos leões. Chegando-
se ele à cova, chamou por Daniel com voz triste; disse o rei a Daniel: Daniel, servo do
Deus vivo! Dar-se-ia o caso que o teu Deus, a quem tu continuamente serves, tenha
podido livrar-te dos leões? Então, Daniel falou ao rei: Ó rei, vive eternamente! O meu Deus
enviou o seu anjo e fechou a boca aos leões, para que não me fizessem dano, porque foi
achada em mim inocência diante dele; também contra ti, ó rei, não cometi delito algum.
Então, o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado
Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus. Ordenou o rei, e
foram trazidos aqueles homens que tinham acusado a Daniel, e foram lançados na cova
dos leões, eles, seus filhos e suas mulheres; e ainda não tinham chegado ao fundo da
cova, e já os leões se apoderaram deles, e lhes esmigalharam todos os ossos.
Daniel Libertado. A conduta do rei, após Daniel ter sido lançado na cova dos
leões, atesta seu genuíno interesse pelo profeta, e a severa condenação que sentiu por
seu próprio procedimento. Ao amanhecer, o rei dirigiu-se à cova das feras famintas.
Daniel estava vivo, e em sua resposta à saudação do monarca não o repreendeu por
ceder aos seus maus conselheiros. Em tom respeitoso disse: "Ó rei, vive para sempre."
Lembra em seguida ao rei, de maneira que o deve ter deixado profundamente sentido,
mas sem ofendê-lo, que perante ele não havia praticado mal algum. Por ser inocente,
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 51
Deus, a quem ele continuamente servia, tinha mandado Seu anjo e fechado a boca dos
leões.
Ali estava, pois, Daniel, protegido por um Poder superior a qualquer poder da
Terra. Sua causa ficara vindicada e provada sua inocência. "E nenhum dano se achou
nele, porque crera no seu Deus". A fé o salvou. Operara-se um milagre. Por que,
então, os acusadores de Daniel foram trazidos e lançados na cova dos leões?
Provavelmente atribuíram a proteção de Daniel não a qualquer milagre em seu favor,
mas a que os leões não estavam com fome na ocasião. E o rei teria dito: Então também
não os atacarão e por isso vamos prová-lo lançando vocês no lugar de Daniel. Os leões
estavam com bastante fome quando não foram impedidos de agarrar os culpados e
estes homens foram despedaçados antes de chegarem ao solo. Assim foi Daniel
duplamente vindicado e surpreendentemente se cumpriram as palavras de Salomão:
"O justo é libertado da angústia, e o perverso a recebe em seu lugar." Provérbios 11:8.
Versículos 25-28 – Então, o rei Dario escreveu aos povos, nações e homens de todas
as línguas que habitam em toda a terra: Paz vos seja multiplicada! Faço um decreto pelo
qual, em todo o domínio do meu reino, os homens tremam e temam perante o Deus de
Daniel, porque ele é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será
destruído, e o seu domínio não terá fim. Ele livra, e salva, e faz sinais e maravilhas no céu
e na terra; foi ele quem livrou a Daniel do poder dos leões. Daniel, pois, prosperou no
reinado de Dario e no reinado de Ciro, o persa.
O Próprio Daniel Relata Sua Visão. A linguagem bíblica deve ser aceita
literalmente, a menos que exista boa razão para considerá-la figurada. Tudo o que é
figurado deve ser interpretado pelo que é literal. Que a linguagem aqui utilizada é
simbólica, depreende-se do verso 17, que diz: "Estes grandes animais, que são quatro,
são quatro reis, que se levantarão da Terra." E para mostrar que isso se refere a reinos
e não simplesmente a reis individuais, o anjo prossegue: "Mas os santos do Altíssimo
receberão o reino." Ao explicar o versículo 23, diz o anjo: "O quarto animal será um
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 53
quarto reino na Terra." Portanto, estes animais são símbolos de quatro grandes reinos.
As circunstâncias em que surgiram, segundo a profecia, também são descritas em
linguagem simbólica. Os símbolos introduzidos são os quatro ventos, o mar, quatro
grandes animais, dez chifres e outro chifre que tinha olhos e uma boca, e fez guerra
contra Deus e Seu povo. Temos agora que averiguar o que significam.
Ventos, em linguagem simbólica, representam lutas, comoções políticas e
guerras, como lemos em Jeremias: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis que o mal
passa de nação para nação, e grande tormenta se levanta dos confins da Terra. Os que
o Senhor entregar à morte naquele dia, se estenderão de uma a outra extremidade da
terra." (Jer. 25:32, 33) O profeta fala de uma controvérsia que o Senhor terá com todas
as nações. A luta e a comoção que produz toda esta destruição denominam-se “grande
tempestade” na versão católica A Bíblia de Jerusalém.
Que o vento denota luta e guerra é evidente pela própria visão. Como resultado
do soprar dos ventos, reinos surgem e caem por meio de luta política.
Mares ou águas, quando usados como símbolo bíblico, representam povos,
nações e línguas. Disse o anjo ao profeta João: "As águas que viste... são povos,
multidões, nações e línguas." (Apocalipse 17:15)
A definição do símbolo dos quatro animais é dada a Daniel antes do fim da visão:
"Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da Terra."
(versículo 17) Com esta explicação dos símbolos, abre-se definitivamente diante de
nós o campo da visão.
Visto que estes animais representam quatro reis, ou reinos, perguntamos: Por
onde começaremos e quais são os quatro impérios representados? Estes animais
consecutivamente, visto que são numeradas desde a primeira até a quarta. A última
subsiste quando todas as cenas terrenas cessam com o juízo final. Desde o tempo de
Daniel até o fim da história deste mundo, haveria apenas quatro reinos universais,
como aprendemos do sonho de Nabucodonosor sobre a grande imagem de Daniel 2,
interpretado pelo profeta 65 anos. Daniel vivia ainda sob o reino representado pela
cabeça de ouro.
O primeiro animal desta visão deve, portanto, representar o mesmo reino que a
cabeça de ouro da grande imagem, a saber, Babilônia. Os outros animais, sem dúvida,
representam os reinos sucessivos representados pela imagem. Mas se esta visão
abrange essencialmente o mesmo período que a imagem de Daniel 2, alguém pode
indagar: Por que foi dada? Não foi suficiente a primeira visão? Respondemos: A
história dos impérios mundiais é apresentada repetidas vezes para ressaltar certas
características, fatos e dados adicionais. É-nos dada, segundo as Escrituras, a lição:
"regra sobre regra." No capítulo dois, são apresentados apenas os aspectos políticos do
domínio mundial. No capítulo 7, os governos terrenos são-nos apresentados com
relação à verdade e ao povo de Deus. Seu verdadeiro caráter é revelado pelos símbolos
de animais ferozes.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 54
Versículo 4 – O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava,
foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra, e posto em dois pés como homem; e
lhe foi dada mente de homem.
O Leão. Na visão de Daniel 7, o primeiro animal visto pelo profeta foi um leão.
Sobre o uso do leão como símbolo ver Jeremias 4:7; 50:17,43,44. A princípio o leão
tinha asas de águia, o que denota a rapidez com que Babilônia estendeu suas
conquistas sob Nabucodonosor. Na visão que estudamos o leão aparece com asas de
águia. O uso simbólico das asas foi descrito de modo impressionante em Habacuque
1:6-8, onde lemos que os caldeus “voam como águia que se precipita a devorar”.
Podemos facilmente deduzir destes símbolos que Babilônia era um reino de
grande fortaleza, e que sob Nabucodonosor suas conquistas se estenderam com grande
rapidez. Mas veio o momento quando suas asas lhe foram arrancadas. O leão já não se
precipitava como águia sobre sua presa. Foram-se a audácia e o espírito de leão. Um
coração de homem, fraco, temeroso e desfalecente, substituiu a força do leão. Tal foi o
estado da nação durante os anos finais de sua história, quando se tornou fraca e
afeminada pela riqueza e luxo.
Versículo 7 – Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o
quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro;
ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos
os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres.
1
The Cambridge Ancient History, vol. 6, págs. 425,426. Por autorização dos editores dos Estados Unidos, Macmillan
Company.
2
Idem, págs. 461-504.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 56
Versículo 8 – Estando eu a observar os chifres, eis que entre eles subiu outro
pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre
havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência.
Um Chifre Pequeno Entre os Dez. Este chifre pequeno, como teremos mais tarde
ocasião de notar mais amplamente, foi o papado. Os três chifres arrancados diante dele
representavam os hérulos, os ostrogodos e os vândalos. A razão pela qual foram
arrancados foi sua oposição sos ensinos e pretensões da hierarquia papal.
"Neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com
insolência." Os olhos eram emblemas adequados de astúcia, da penetração, astúcia e
as arrogantes pretensões de uma organização religiosa apóstata.
Versículos 9, 10 - Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de
dias Se assentou,- Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça como a
pura lã; o Seu trono era chamas de fogo, cujas rodas eram fogo ardente. Um rio de fogo
manava e saía de diante dEle,- milhares de milhares O serviam, e miríade de miríade
estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 57
Versículos 11, 12 - Então estive olhando, por causa da voz das insolentes palavras
que o chifre proferia; estive olhando e vi que o anima1foi morto, e o seu corpo desfeito e
entregue para se queimado pelo fogo. Quanto aos outros animais, foi- lhes tirado o
domínio; todavia, foi- lhes dada prolongação de vida por um prazo e um tempo.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 58
Fim do Quarto Animal. Há os que crêem que haverá, antes da vinda do Senhor,
um milênio de triunfo evangélico e reinado de justiça em todo o mundo. Outros crêem
que haverá um tempo de graça depois que o Senhor vier, e que durante este prazo, os
justos imortais ainda proclamarão o evangelho aos pecadores mortais, e os levarão ao
caminho da salvação. Nem uma nem outra destas teorias encontra apoio na Bíblia,
segundo veremos.
O quarto animal terrível continua sem haver mudança em seu caráter, e o chifre
pequeno continua a proferir suas blasfêmias, encerrando seus milhões de adeptos nas
ataduras da cega superstição, até que a besta é entregue às chamas devoradoras. Isso
não representa sua conversão, mas sua destruição. (Veja-se 2 Tessalonicenses 2:8).
A vida do quarto animal não se prolonga depois de desaparecer seu domínio,
como ocorreu com a vida dos animais precedentes. Foi-lhe tirado o domínio, mas sua
vida se prolongou por um tempo. O território dos súditos do reino de Babilônia
continuava existindo, embora sujeito aos persas. Assim também sucedeu com o reino
persa com relação à Grécia, e a esta no tocante a Roma. Mas que sucede ao quarto
reino? O que o segue não é um governo ou estado em que tenham parte os mortais.
Sua carreira termina no lago de fogo, e não tem existência posterior. O leão foi
absorvido pelo urso; o urso pelo leopardo; o leopardo pelo quarto animal. Mas o
quarto animal não se fusiona com outro animal. Será lançado no lago de fogo.
Versículos 13, 14 - Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha
com as nuvens do céu um como o Filho do homem, e dirigiu-se ao Ancião de dias, e o
fizeram chegar até Ele. Foi-Lhe dado domínio e glória, e o reino, para que os povos,
nações e homens de todas as línguas O servissem; o Seu domínio é domínio eterno, que
não passará, e o Seu reino jamais será destruído.
O Filho do Homem Recebe o Reino. A cena aqui descrita não é a segundo vinda
de Cristo a esta Terra, porque o Ancião de dias não está nesta Terra; e a vinda da qual
aqui se fala é a do Ancião de dias. Ali, na presença do Pai, um reino, domínio e glória
são dados ao Filho do homem. Cristo recebe o reino antes de Sua volta a esta Terra.
(Ver Lucas 19:10-12). Portanto, esta é uma cena sucede no Céu, e está intimamente
relacionada com a apresentada nos versículos 9 e 10. Cristo recebe o reino no
encerramento de Sua obra sacerdotal no santuário. Os povos e nações que O servirão
são os redimidos (Apocalipse 21:24), não as nações ímpias da Terra, pois estas são
destruídas na segundo advento de Cristo e pelo resplendor de Sua vinda. (Sal. 2:9; 2
Tess. 2:8.) De todas as nações, tribos e povos da Terra sairão aqueles que servirão a
Deus, com júbilo e alegria. Herdarão o reino de nosso Senhor.
Versículos 15-18 – Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado dentro de mim,
e as visões da minha cabeça me perturbaram. Cheguei-me a um dos que estavam perto e
lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim, ele me disse e me fez saber a interpretação
das coisas: Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se levantarão da
terra. Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para todo o sempre, de
eternidade em eternidade.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 59
A Interpretação Dada a Daniel. Não devemos ser menos ansiosos do que Daniel
para compreender a verdade destas coisas. Temos certeza que quando indagarmos com
sinceridade de coração, encontraremos o Senhor não menos pronto agora do que nos
dias do profeta a levar-nos a um conhecimento correto destas importantes verdades.
Os animais e os reinos que eles representam já foram explicados. Temos seguido o
profeta em todo o curso dos acontecimentos, até a completa destruição do quarto e
último animal, a derribada final de todos os governos terrestres.
Logo a cena muda, porque lemos: “Os santos receberão o reino.” Os santos que
foram desprezados, cobertos de opróbrio, perseguidos, rejeitados, considerados dentre
todos os seres humanos os menos indicados para verem realizadas suas esperanças;
esses receberão o reino e o possuirão para sempre. A usurpação e os desmandos dos
ímpios findarão. A herança perdida será redimida. A paz e a justiça reinarão
eternamente em toda a formosa expansão da Terra renovada.
seguintes são dadas sobre o chifre pequeno, especificações que capacitam o estudante
da profecia a fazer aplicação deste símbolo sem perigo de engano.
Versículos 21, 22 – Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e
prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo;
e veio o tempo em que os santos possuíram o reino.
Versículos 23-26 – Então, ele disse: O quarto animal será um quarto reino na terra, o
qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará
em pedaços. Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo
reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 61
três reis. Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará
em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo,
dois tempos e metade de um tempo. Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o
domínio, para o destruir e o consumir até ao fim.
portanto era inferior ao Pai tanto em Sua natureza como em Sua dignidade." Esta
opinião foi condenada pelo concílio, o qual decretou que Cristo era de uma mesma
substância com o Pai. Com isso Ário foi desterrado para a Ilíria, e seus seguidores
foram obrigados a dar seu assentimento ao credo composto naquela ocasião.
(Mosheim, século 4, parte 2, cap. 4; Stanley, History of the Eastern Church [História
da Igreja Oriental], pág. 239).
Contudo, a própria controvérsia não seria suprimida desta maneira sumária, mas
continuaria por séculos a agitar o mundo cristão; e os arianos se fizeram, por toda
parte, acerbos inimigos do papa e da igreja Católica Romana. Estes fatos evidenciam
que a difusão do arianismo tolheria a influência do catolicismo, e que a posse de Roma
e da Itália por um povo ariano seria fatal para a supremacia de um bispo católico. Mas
a profecia declarara que este chifre chegaria ao poder supremo e que, para alcançar
esta situação, subjugaria três reis.
O Chifre Pequeno Derriba Três Potências Arianas. Tem havido certa
divergência de opinião quanto às potências que foram derribadas para a ascensão do
papado. Com relação a isso parecem bem pertinentes as seguintes observações de
Albert Barnes: "Na confusão que existiu ao se fragmentar o império romano, e pelos
relatos imperfeitos dos fatos ocorridos na ascensão do poder papal, não é de estranhar
a dificuldade de achar anais bem claros dos acontecimentos que haveriam de ser em
todos os aspectos um exato e absoluto cumprimento da visão. Entretanto, na história
do papado é possível discernir o cumprimento dela com um grau razoável de certeza."
José Mede supõe que os três reinos arrancados foram os gregos, os lombardos e
os francos; e Sir Isaac Newton supõe que foram o exarcado de Ravena, os lombardos,
o senado e o ducado de Roma. Tomás Newton (Dissertations on the Prophecies, págs.
217, 218) opõe sérias objeções a ambas as suposições. "Os francos não poderiam ser
um desses reinos, pois nunca foram desarraigados. Os lombardos não poderiam ser,
porque nunca foram submetidos pelos papas." Diz Albert Barnes: "Não acho, na
verdade, que o reino dos lombardos estivesse, como se declara comumente, entre o
número das soberanias temporais que foram submetidas à autoridade dos papas."
(Albert Barnes, Notes on Daniel, p. 327, sobre Dan. 7:25). O senado e o ducado de
Roma não puderam ser um desses chifres, pois nunca vieram a constituir um dos dez
reinos, três dos quais foram arrancados diante do chifre pequeno.
Percebemos, porém, que a principal dificuldade na aplicação que estes
comentadores fizeram da profecia consistia no fato de suporem que a profecia sobre a
exaltação do papado não se havia cumprido e não podia cumprir-se até o papa se
tornar príncipe temporal. Por isso, procuravam encontrar o cumprimento da profecia
nos acontecimentos que favoreceram a soberania temporal do papa. Mas
evidentemente a profecia dos versículos 24 e 25 se refere, não ao seu poder civil, mas
ao seu poder de dominar a mente e a consciência dos homens. O papa alcançou essa
posição em 538 d. C., como se verá mais tarde. A palavra “diante” usada nos
versículos 8 e 20 é a tradução do grego qadam, cujo radical significa “frente a”.
Combinada com min, que significa “de”, como se encontra nestes dois versículos,
Davidson a traduz “da presença de”, e Gesênio diz que equivale ao termo hebraico
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 63
lipna, que significa “na presença de”. Portanto corresponde a nosso advérbio de lugar
“diante de”, como sucede na mesma frase que se encontra no versículo 10, onde se
traduz de modo adequado “diante dele”. Temos, pois, no versículo 8 o quadro de um
chifre pequeno que vai subindo entre os dez e arranca pela força três chifres diante de
si. No versículo 20 é declarado que três chifres “caíram” diante dele, como se fossem
vencidos por ele. No versículo 24, lemos que outro rei, que representa o chifre
pequeno “abaterá a três reis [chifres]”, evidentemente por atos de força. Embora a
palavra qadam é usada também para denotar uma comparação de tempo, como no
versículo 7, onde é vertida pela palavra “antes”, não resta a menor dúvida de que se
usa como advérbio de lugar nos três versículos citados acima. Com esta interpretação
está de acordo Eduardo Elliot.
Positivamente afirmamos que as três potências ou chifres arrancados diante do
papado foram os hérulos, os vândalos e os ostrogodos, e esta posição se baseia em
dados históricos fidedignos. Odoacro, o chefe os hérulos, foi o primeiro dos bárbaros
que reinaram sobre os romanos. Subiu ao trono da Itália em 476, segundo Gibbon, que
diz, acerca de suas crenças religiosas: "Como o resto dos bárbaros, tinha sido instruído
na heresia ariana; mas reverenciava os caracteres monásticos e episcopais; e o silêncio
dos católicos atesta a tolerância que lhes concedeu" (Decline and Fall of the Roman
Empire, Vol III, cap. 36, págs. 510, 515, 516).
Diz o mesmo autor: "Os ostrogodos, os burgúndios, os suevos e os vândalos, que
haviam escutado a eloqüência do clero latino, preferiam as lições mais inteligíveis de
seus mestres domésticos; e o arianismo foi adotado como a fé nacional dos guerreiros
conversos que se haviam assentado sobre as ruínas do Império Ocidental. Essa
irreconciliável diferença de religião era fonte perene de ciúme e ódio; e a censura de
ser bárbaro era exacerbado pelo epíteto mais odioso de herético. Os heróis do norte,
que se haviam submetido com certa relutância a crer que todos os seus antepassados
estavam no inferno, ficaram assombrados e exasperados ao saberem que eles próprios
haviam apenas mudado o modo de sua condenação eterna." (Idem, cap. 37, p. 547)
A doutrina ariana teve uma influência notável sobre a igreja daquele tempo,
como demonstram os seguintes parágrafos:
continuou o rei – não tem ao seu redor ninguém que ouse dizer franca e abertamente o
que pensa, nem escutaria a quem o fizesse. Mas a grande veneração que ele professa por
vossa Sé não deixa dúvida de que ele vos ouviria. Portanto quero que vos dirijais
imediatamente a Constantinopla e lá protesteis, em meu nome e no vosso próprio, contra
as violentas medidas tomadas temerariamente por aquela corte. Está em vosso poder
dissuadir delas o imperador; e até que o tenhais feito, mais ainda, até que os católicos
[este nome Teodorico aplica aos arianos] sejam restaurados ao livre exercício de sua
religião e a todas as igrejas das quais foram expulsos, não deveis pensar em voltar à
Itália." – Bower, History of the Popes, Vol. 1, pág. 325.
O papa que recebeu do imperador a ordem tão peremptória de não pisar
novamente em solo italiano enquanto não houvesse cumprido a vontade do rei,
certamente não podia esperar muito progresso para nenhuma espécie de supremacia
enquanto esse poder não fosse afastado do caminho.
Os sentimentos que os partidários papais abrigavam para com Teodorico podem
ser avaliados com exatidão, a julgar por uma citação já feita, pela vingança que eles
fizeram contra sua memória. De sua tumba imponente em Ravena arrancaram a urna
de em que seus súditos arianos haviam guardado suas cinzas. Mas esses sentimentos
são expressos na linguagem de Barônio, que acusa "Teodorico de haver sido um
bárbaro cruel, um tirano bárbaro e um ímpio ariano." – Baronio's Annals, A. D. 526,
pág. 116; Bower, op, cit., vol. III, pág. 328.
Enquanto os católicos sentiam assim o restrito poder de um rei ariano na Itália,
sofriam violenta perseguição dos vândalos arianos na África. (Gibbon, op. cit., cap.
37, sec. 2). Elliot, em sua Horae Apocalypticae, vol. III, p. 152, nota 3, diz: "Os reis
vândalos não eram somente arianos, mas também perseguidores dos católicos, tanto na
Sardenha e na Córsega, sob o episcopado romano, como na África."
Tal era a situação quando, em 533, Justiniano iniciou suas guerras contra os
vândalos e os godos. Desejando contar com a influência do papa e o partido católico,
promulgou aquele memorável decreto que constituiria o papa o cabeça de todas as
igrejas, e de cuja execução, em 538, data o início da supremacia papal. E quem quer
que leia a história da campanha africana (533-534) e da campanha italiana (534-538)
notará que os católicos em toda parte saudaram como libertadores os soldados do
exército de Belisário, general de Justiniano.
Mas nenhum decreto como o referido podia entrarem em vigor enquanto não
fossem arrancados os chifres arianos que a ele se opunham. As coisas mudaram,
porém, pois nas campanhas militares da África e da Itália as legiões vitoriosas de
Belisário em 534 deram ao arianismo um golpe tão demolidor que foram vencidos
líderes.
Procópio relata que Justiniano empreendeu a guerra africana para aliviar os
cristãos (católicos) daquela região, e que quando expressou seu intento a esse respeito,
o prefeito do palácio quase o dissuadiu de seu propósito; mas teve um sonho no qual
se lhe ordenou "não se esquivar à execução de seu desígnio, porque ajudando aos
cristãos ele derribaria o poder dos vândalos." – Teodoreto e Evagrio, Ecclesiastical
History, Livro 4, capítulo 16, pág. 399.
Diz Mosheim:
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 66
"É verdade que os gregos que haviam recebido os decretos do concílio de Nicéia
[quer dizer, os católicos], perseguiam e oprimiam os arianos onde quer que sua influência
e autoridade podiam alcançar; mas por sua vez os partidários do concílio de Nicéia não
eram menos rigorosamente tratados por seus adversários [os arianos], particularmente na
África e na Itália, onde sentiam, de forma muito severa, o peso do poder dos arianos e a
amargura de seu hostil ressentimento. Os triunfos do arianismo foram, porém, transitórios;
e seus dias de prosperidade ficaram inteiramente eclipsados quando os vândalos foram
expulsos da África, e os godos da Itália, pelas armas de Justiniano." - Mosheim An
Ecclesiastical History Ancient and Modern, vol. 1, pp.. 142, 143.
Elliot, resume o assunto assim: "Poderia citar três membros da lista dada a
princípio que foram desarraigados de diante do papa, a saber, os hérulos, sob Odoacro,
os vândalos, e os ostrogodos.” – Horae Apocalypticae, vol. 3, pág. 139, nota 1.
Com base no testemunho histórico citado, cremos ter ficado claramente
estabelecido que os três chifres arrancados eram as potências mencionadas: os hérulos,
em 493, os vândalos, em 534, e os ostrogodos finalmente em 554, embora a oposição
efetiva desses últimos ao decreto de Justiniano cessou quando foram arrancados de
Roma por Belisário em 538 (Student’s Gibbon, págs. 309-319).
ser provado com muitos exemplos." (Juan Dowling, The History of Romanism, pág.
547).
Alfredo Baurillart, reitor do Instituto Católico de Paris, referindo-se à atitude
diante da heresia, observa:
“Quando está diante da heresia, não se contenta com a persuasão; parecem-lhe
insuficientes os argumentos de ordem intelectual e moral, e recorre à força, ao castigo
corporal e à tortura. Cria tribunais como os da Inquisição, invoca a ajuda das leis do
Estado; se necessário estimula uma cruzada, ou uma guerra religiosa, e na prática todo
seu ‘horror de sangue’ culmina em sua incitação do poder secular para derramá-lo,
procedimento que é quase mais odioso, porque é menos franco que o de derramá-lo ela
mesma.
“Operou assim especialmente no século XVI com relação aos protestantes. Não se
conformou em reformá-los moralmente, ensinar-lhes pelo exemplo, converter o povo
mediante missionários eloqüentes e santos, e acendeu na Itália, nos Países Baixos, e
sobretudo na Espanha, as fúnebres fogueiras da Inquisição. Na França sob Francisco I e
Henrique II, na Inglaterra sob Maria Tudor, torturou os hereges, enquanto que tanto na
França como na Alemanha, durante a segunda metade do século XVI, e a primeira metade
do XVII, se não as incitou em realidade, pelo menos estimulou e fomentou ativamente as
guerras religiosas.” (Alfredo Baurillart, The Catholic Church, the Renaissance, and
Protestantism, pp. 182, 183)
estendia sua jurisdição; mas os tempos e a lei aqui mencionados eram de tal natureza
que esta potência podia somente pensar em mudá-los, sem ter o poder de fazer
realmente a mudança. É a lei do mesmo Ser a quem pertencem os santos que são
quebrantados por esse poder, a saber, a lei do Altíssimo.
E o papado tentou fazer isso? Sim, até isso. Acrescentou o segundo mandamento
do decálogo ao primeiro, tornado-os um só, e dividiu o décimo em dois, fazendo que o
nono proíba cobiçar a esposa do próximo, e o décimo a propriedade do próximo, para
conservar o número completo de dez. Embora todas as palavras do segundo
mandamento se conservem na Bíblia católica e no catecismo romano autorizado pelo
Concílio de Trento, encontram-se em ambos os lugares esmeradas explicações no
sentido de que, exceto as do próprio Deus, sua confecção e emprego não ficam
proibidos pelo mandamento quando se empregam somente para venerar as virtudes
dos santos, e não para adorá-los como deuses, que é o que proíbe expressamente o
mandamento. Aplica-se também o mesmo princípio às cinzas, aos ossos e outras
relíquias dos santos, e as representações dos anjos.
Alguns autores católicos têm muito a dizer para justificar sua igreja no uso das
imagens em seu culto; e nos falam sobretudo da utilidade delas “para ensinar ao povo
as grandes verdades da religião”. Mas a realidade das coisas é que no culto católico o
papel que desempenham as imagens não se limita à fase didática. Tributa-lhes
veneração, e o povo se inclina a elas e as honra, coisas que são principalmente
vedadas, pois a proibição de fazer imagens se aplica quando destinadas a fins de culto,
e não, logicamente, quando só os têm de ensino.
DECÁLOGO ORIGINAL
Êxodo 20:1-17, Segundo A Bíblia de Jerusalém
I
Não terás outros deuses diante de mim.
II
Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos
céus, ou embaixo na terra, ou nas águas, que estão debaixo da terra. Não te prostrarás diante
desses deuses e não os servirás, porque eu, Yahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno
a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que
também ajo com amor até a milésima geração para aqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos.
III
Não pronunciarás o nome de Yahweh teu Deus, porque Yahweh não deixará impune aquele
que pronunciar em vão o seu nome.
IV
Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a
tua obra. O sétimo dia, porém, é o sábado de Yahweh teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem
tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua serva, nem teu animal, nem o estrangeiro
que está em tuas portas. Porque em seis dias Yahweh fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles
contêm, mas repousou no sétimo dia; por isso Yahweh abençoou o dia de sábado e o santificou.
V
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que Yahweh teu
Deus, te dá.
VI
Não matarás.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 71
VII
Não cometerás adultério.
VIII
Não roubarás.
XI
Não apresentarás um falso testemunho contra o teu próximo.
X
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a sua mulher, nem o seu escravo, nem a
sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença a teu próximo.
DECÁLOGO POPULAR
mudar o sétimo dia para o primeiro, mas sem citar nenhuma prova das Escrituras,
porque não há. Todas as razões nesta declaração para defender a mudança são pura e
simplesmente de invenção humana e eclesiástica.
O testemunho que antecede basta para demonstrar como o papado procurou
mudar os tempos e a lei. Os dados de como posteriores catecismos católicos romanos
para instrução “dos fiéis” declaram ousadamente que a igreja mudou o dia e até
desafiam os protestantes porque aceitam e observam a mudança, se encontrará em
nosso comentário referente à marca da besta, quando tratarmos Apoc. 13.
Antes de abandonar este tema da mudança do sábado, resultará iluminador
observar outros motivos que o papado aduz por ter mudado o dia de descanso, além da
declaração errônea de que a mudança foi feita pelos apóstolos. No mesmo catecismo
romano ao qual já nos referimos acima, encontra-se uma tentativa de explicar como o
mandamento do sábado difere dos demais do Decálogo.
“Pois a diferença certa é, que os demais preceitos do Decálogo são naturais,
perpétuos, e que de modo nenhum podem variar. Daí que se bem foi ab-rogada a lei de
Moisés, o povo cristão ainda guarda os mandamentos que estão nas duas tábuas. E isso é
feito não porque Moisés o mandou, mas porque convêm à natureza cuja força impele os
homens a guardá-los. Mas este mandamento do culto do sábado, se olhamos ao tempo
assinalado, não é fixo e constante, senão que pode mudar-se: porque não pertence aos
costumes e sim às cerimônias; nem tampouco é natural, porque não é ensinado nem
ditado pela natureza, que tributemos culto a Deus, nesse dia do que em qualquer outro, e
sim que o povo de Israel começou a guardar esse dia de sábado desde aquele tempo em
que foi libertado da escravidão de Faraó.
“O tempo, pois, em que seria tirado o culto do sábado era o mesmo em que se
deveriam antiquar-se os demais cultos e cerimônias hebraicas: a saber, na morte de
Cristo. Porque sendo aquelas cerimônias imagens em sombra da luz e da verdade, era
preciso que fossem afugentados com a vinda da luz e verdade, que é JESUS CRISTO.”
(Idem, pág. 257).
O leitor precisa apenas lembrar que a lei dos dez mandamentos foi escrita pelo
dedo de Deus sobre tábuas de pedra, enquanto que as leis cerimoniais foram escritas
por Moisés em um livro. Ademais, o Decálogo foi escrito antes que as cerimoniais
fossem dadas a Moisés. Creremos que Deus fosse capaz de misturar um mandamento
cerimonial com os nove da lei moral, e confiar a correção a um corpo eclesiástico
arrogante? Na verdade o motivo pelo qual se devia repousar no sétimo dia era,
segundo é indicado no próprio mandamento, porque o próprio Criador descansou
nesse dia, e o separou como monumento comemorativo de sua obra criadora, sem a
menor implicação de que pudesse ser “sombra das coisas vindouras” em Cristo, a
quem apontavam todos os ritos e ordenanças cerimoniais.
Mais uma citação do Catecismo Romano merece ser considerada, pois contém
sugestões que ainda hoje se repetem com freqüência:
“Por esta razão determinarão os apóstolos consagrar ao culto divino o primeiro
daqueles sete dias, e o chamarão Domingo. Do dia de Domingo faz menção João em seu
Apocalipse (a). E o apóstolo manda que se façam as coletas no primeiro dia da semana (b)
que é o Domingo: segundo o explica São João Crisóstomo (c). Para que entendamos que
já então era tido na Igreja o dia de Domingo como Santo.” (Idem, p. 258).
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 74
Daniel 4:23, é um ano; dois tempos, o mínimo que poderia ser denotado pelo plural,
dois anos; e a metade de um tempo é meio ano. Temos assim três anos e meio como
duração dessa potência. O vocábulo caldeu traduzido por "tempo" no texto que
consideramos é iddan, que Gesênio define como tempo e acrescenta: "Empregado em
linguagem profética para designar um ano. Daniel 7:25."
É preciso considerar que estamos estudando uma profecia simbólica, e por isso
esta medida de tempo não é literal, mas simbólica. Surge então a pergunta: Qual é a
duração do período denotado por três anos e meio de tempo profético? A norma dada
na Bíblia é que quando um dia se usa como símbolo, representa um ano. (Ezequiel 4:6;
Números 14:34). Quanto à palavra hebraica yom, que significa dia, Gesênio observa o
seguinte, referindo-se ao seu plural : "As vezes yamin denota um prazo definido de
tempo; por exemplo, um ano; como também em siríaco e caldeu, iddan, iddan
significa tanto tempo como ano.
Os estudantes da Bíblia têm reconhecido este princípio através dos séculos. As
seguintes citações revelam como concordam os diversos autores a respeito. Joaquim,
abade de Calábria, uma das grandes figuras eclesiásticas do século XII, aplicou este
princípio de dia-ano ao período de 1.260 anos. “A mulher, vestida de sol, que
representa a igreja, permaneceu no deserto oculta da vista da serpente, sendo aceito
indubitavelmente um dia por um ano e 1.260 dias pelo mesmo número de anos.”
(Joaquim de Flores, “Concordantia”, livro 2, cap. 16, p. 12b).
“Três tempos e meio, quer dizer, 1.260 anos solares, calculando um tempo como ano
calendário de 360 dias, e um dia como um ano solar. Depois do qual ‘assentar-se-á o juiz,
e lhe tirará o domínio’, não em seguida, senão por graus, para consumi-lo, e destruí-lo até
o fim.” (Sir Isaac Newton, Observations Upon the Prophecies of Daniel, págs. 127, 128).
O ano bíblico, que se deve empregar como base de cálculo, continha 360 dias.
(Ver comentários sobre Apoc. 11:3). Três anos e meio continham 1.260 dias. Como
cada dia representa um ano, temos que a duração da supremacia desse chifre é de
1.260 anos. Possuiu o papado domínio nesse período? A resposta é: Sim. O edito do
imperador Justiniano, datado de 533, fazia o bispo de Roma cabeça de todas as igrejas.
Mas esse edito não pôde entrar em vigor antes que os ostrogodos arianos, o último dos
três chifres que deveriam ser arrancados para dar lugar ao papado, fossem expulsos de
Roma; e isso não se realizou, como já foi mostrado, antes de 538. O edito não teria
tido efeito se este último acontecimento não tivesse ocorrido; por isso temos de contar
do ano 538, pois foi a partir deste ponto que em realidade os santos estiveram nas
mãos dessa potência. Mas, exerceu o papado a supremacia durante 1.260 anos a partir
daquela data? Exatamente. Porque 538+1260 = 1798; e no ano de 1798 o general
Berthier, comandando um exército francês, entrou em Roma, proclamou a República,
aprisionou o papa e infligiu uma ferida mortal ao papado. Embora desde então não
voltou a ter todos os privilégios e imunidades que antes possuía, estamos presenciando
atualmente a restauração gradual de seu poder anterior.
O Juiz Se assentou. Após a descrição da espantosa carreira do chifre pequeno e a
afirmação de que os santos serão entregues na sua mão por 1.260 anos, o que nos leva
até 1798, o versículo 26 declara: "Mas depois se assentará o tribunal para lhe tirar o
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 76
dos santos, quando receberão o reino, em possessão eterna, livres de todo poder
opressivo. Como poderiam os filhos de Deus manter-se alentados neste perverso
mundo atual, em meio aos desmandos e a opressão dos governos da Terra e às
abominações que nela se cometem, se não pudessem olhar à frente, para o reino de
Deus e a volta de seu Senhor, com plena certeza de que as promessas concernentes a
ambos se cumprirão, com segurança e rapidez?
Versículo 1 – No ano terceiro do reinado do rei Belsazar eu, Daniel, tive uma visão
depois daquela que eu tivera a princípio.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 78
Uma característica evidente dos escritos sagrados que deve protegê-los para
sempre da acusação de serem obras de ficção, é a franqueza e liberdade com que os
escritores apresentam todas as circunstâncias relacionadas com o que eles registram.
Este primeiro versículo indica o tempo em que a visão registrada neste capítulo foi
dada a Daniel. O primeiro ano de Belsazar era 540 a. C. Seu terceiro ano, em que foi
dada esta visão, tinha de ser, portanto, o ano 538 a. C., quando Daniel era de
aproximadamente 80 anos, visto que tinha provavelmente cerca de vinte anos quando
foi levado para Babilônia no primeiro ano de Nabucodonosor, em 606 a. C. A visão de
que ele fala como a que "tivera a princípio" é, sem dúvida, a visão do capítulo 7, que
ele teve no primeiro ano do reinado de Belsazar.
Como o versículo 1 indica o tempo em que foi dada a visão, o versículo 2 indica
o lugar onde o profeta recebeu a revelação. Susã era a metrópole da província de Elão,
nesse tempo em mãos dos babilônios, e o rei de Babilônia tinha ali um palácio real.
Como ministro de estado empregado nos negócios do rei, Daniel estava nesse lugar.
Abrádates, vice-rei de Susã, passou-se para o lado de Ciro e a província ficou unida
aos medos e persas, de sorte que, de acordo com a profecia de Isaías 21:2, Elão subiu
com os medos para sitiar Babilônia. Sob os medos e os persas Elão recuperou as
liberdades que os babilônios lhe haviam tirado, conforme a profecia de Jeremias
49:39.
Versículos 3, 4 – Então, levantei os olhos e vi, e eis que, diante do rio, estava um
carneiro, o qual tinha dois chifres, e os dois chifres eram altos, mas um, mais alto do que o
outro; e o mais alto subiu por último. Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e
para o norte, e para o sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir, nem havia quem
pudesse livrar-se do seu poder; ele, porém, fazia segundo a sua vontade e, assim, se
engrandecia.
Versículos 5-7 – Estando eu observando, eis que um bode vinha do ocidente sobre
toda a terra, mas sem tocar no chão; este bode tinha um chifre notável entre os olhos;
dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, o qual eu tinha visto diante do rio; e correu
contra ele com todo o seu furioso poder. Vi-o chegar perto do carneiro, e, enfurecido contra
ele, o feriu e lhe quebrou os dois chifres, pois não havia força no carneiro para lhe resistir;
e o bode o lançou por terra e o pisou aos pés, e não houve quem pudesse livrar o carneiro
do poder dele.
Issus na Cilícia e mais tarde o derrotou nas planícies de Arbelas, na Síria. Esta última
batalha ocorreu em 331 a. C. e assinalou a queda do império persa. Graças a ela,
Alexandre tornou-se completamente senhor do país.
Tomás Newton cita o versículo 6: "Dirigiu-se [o bode] ao carneiro que tinha os
dois chifres, ao qual eu tinha visto diante do rio; e correu para ele com todo o seu
furioso poder." E acrescenta: "Dificilmente alguém consegue ler estas palavras sem
formar certa imagem do exército de Dario de pé, guardando o rio Grânico, e de
Alexandre do outro lado com suas forças que se precipitam, cruzam a nado a corrente
e acometem o inimigo com todo o fogo e a fúria imagináveis." Idem, pág. 306.
Ptolomeu data o reinado de Alexandre de 332 a. C. Mas foi só na batalha de
Arbelas, no ano seguinte, que ele se tornou "senhor absoluto daquele império até a
máxima extensão jamais possuída pelos reis persas." (Humphrey Prodeaux, The Old
and New Testament Connected in the History of the Jews, vol. I, pág. 378)
Na véspera dessa batalha, Dario enviou a seus principais parentes em busca da
paz. Ao apresentarem suas condições a Alexandre, este replicou: "Dizei ao vosso
soberano... que o mundo não permitirá dois sóis nem dois soberanos!" (Guaterio Fogg,
One Thousand Sayings of History, pág. 210).
A linguagem do versículo 7 expõe a totalidade da sujeição da Medo-Pérsia a
Alexandre. Os dois chifres foram quebrados e o carneiro foi lançado ao chão e pisado.
A Pérsia foi subjugada, o país devastado, seus exércitos despedaçados e espalhados,
suas cidades pilhadas e a cidade real de Persépolis, a capital do império, foi saqueada e
queimada. Suas ruínas constituem ainda hoje uma das maravilhas do mundo. Assim o
carneiro não teve poder para resistir ao bode e ninguém houve que pudesse livrá-lo de
sua mão.
a aparência do Império Macedônico. Mas todas essas pessoas foram logo assassinadas
e extinguiu-se a família de Alexandre. Então os principais comandantes do exército,
que tinham ido a diferentes partes do império como governadores das províncias,
assumiram o título de reis. Começaram em seguida a fazer uniões e guerras um contra
o outro a tal ponto que, no curto espaço de quinze anos depois da morte de Alexandre,
o número foi reduzido a quatro, precisamente o número que a profecia tinha
especificado.
Quatro chifres notáveis haveriam de surgir em direção aos quatro cantos do céu
em lugar do chifre grande que foi quebrado. Esses foram: Cassandro, que ficou com a
Grécia e os países vizinhos; Lisímaco, a quem coube a Ásia Menor; Seleuco, que
recebeu a Síria e a Babilônia e de quem procede a linhagem de reis conhecida como os
selêucidas, tão famosos na história; e Ptolomeu, filho de Lagos, a quem coube o Egito,
e de quem surgiram os "lágidas". Estes reinaram nos quatro pontos cardeais.
Cassandro, na parte ocidental; Lisímaco, com a região setentrional; Seleuco dominou
os países orientais e Ptolomeu ficou com a parte meridional do império. Estes quatro
chifres podem, pois, ser denominados Macedônia, Trácia (que então incluía a Ásia
Menor e as partes que ficavam no Helesponto e no Bósforo), Síria e Egito.
Versículos 9-12 – De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte
para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a
alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao
príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado
abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e
deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou.
papal] foi tirado o contínuo [a forma pagã]." A Roma pagã se transformou na Roma
papal. E o lugar de seu santuário, ou culto, a cidade de Roma, "foi lançada por terra".
A sede do governo foi removida por Constantino para Constantinopla em 330 da nossa
era. A mesma remoção é apresentada em Apocalipse 13:2, onde é dito que o dragão,
ou Roma pagã, deu à besta, Roma papal, sua sede, a cidade de Roma.
“E o exército lhe foi entregue (ao chifre pequeno), com o sacrifício contínuo, por
causa das transgressões” Os bárbaros que subverteram o Império Romano durante as
mudanças, os atritos e as transformações daqueles tempos, converteram-se à fé
católica e se transformaram em instrumentos para destronar sua antiga religião.
Embora tivessem conquistado politicamente, foram vencidos religiosamente pela
teologia de Roma, e foram os perpetuadores do mesmo império em outra fase. Isto se
produziu em razão da "transgressão", ou seja, pela operação do mistério da iniqüidade.
O papado pode-se chamar o sistema de iniqüidade, porque praticou sua má obra,
fingindo ser uma religião pura e imaculada.
O chifre pequeno "lançou a verdade por terra, fez isso e prosperou." Isto
descreve, em poucas palavras, a obra e carreira do papado. A verdade é por ele
odiosamente distorcida, carregada de tradições, transformada em hipocrisia e
superstição, derribada e obscurecida.
Acerca desta potência eclesiástica se declara que “o que fez prosperou”, praticou
seus enganos ao povo, fez astutas maquinações para alcançar seus próprios fins e
engrandecer seu poder.
Fez isso e "prosperou". Fez guerra contra os santos e prevaleceu contra eles.
Percorreu a carreira que lhe foi designada e logo há de ser quebrantada sem
intervenção humana, para ser entregue à chama de fogo, que a fará perecer nas
consumidoras glórias do segundo advento de nosso Senhor.
Roma cumpre todas as especificações da profecia. Nenhum outro poder as
cumpre. Por isso Roma, e não outra potência, é a mencionada aqui. As descrições
dadas na Palavra de Deus coincidem plenamente com o caráter deste monstruoso
sistema. As profecias concernentes a sua funesta história se cumpriram da mais exata e
surpreendente forma.
Versículos 13, 14 – Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que
falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão
na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: Até
duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.
sempre pronto a antecipar-Se aos nossos desejos e por vezes a responder mesmo antes
de o expressarmos.
Dois seres celestiais conversam acerca do assunto. É um tema de tal importância
que a igreja deve compreender bem. Daniel ouviu um santo que falava, mas não
somos informados o que dizia. “Até quando durará a visão?” E tanto a pergunta como
a resposta ficam registradas, que é evidência primordial de que este é um assunto para
ser entendido pela igreja. Esta opinião é ainda confirmada pelo fato de que a resposta
foi dirigida a Daniel, como a pessoa a quem principalmente interessava e para cuja
informação ela foi dada.
Os 2.300 dias. "E ele me disse: "Até dois mil e trezentos dias; e o santuário será
purificado." Pode ser que alguém pergunte? Por que será que a edição Vaticana da
Septuaginta, ou tradução dos Setenta, diz neste versículo “dois mil e quatrocentos
dias”? Acerca deste ponto S. P. Tregelles escreve:
“Alguns escritores que tratam assuntos proféticos adotaram, em suas explicações ou
interpretações desta visão, as cifras ‘dois mil e quatro centos dias’; e para justificar,
referiram-se a exemplos impressos comuns da versão dos Setenta. Mas no que respeita a
este livro, há muito que a versão dos Setenta ficou substituída pela de Teodósio; e
ademais, embora se encontra ‘dois mil quatrocentos’ nos exemplares gregos impressos
comuns, é simplesmente um erro cometido ao imprimir-se a edição Vaticana de 1586, erro
que se perpetuou habitualmente. Eu examinei (em 1845) a passagem no manuscrito do
Vaticano, que as edições romanas professavam seguir, e diz exatamente o mesmo que o
texto hebraico [“dois mil e trezentos dias”]; e assim também diz a verdadeira Septuaginta
de Daniel. (Diz assim também a edição feita pelo Cardeal Mai do manuscrito do Vaticano,
edição de 1857).” (S. P. Tregelles, Remarks on the Prophetic Visions in the Book of Daniel,
nota ao pé da pág. 89).
E para confirmar ainda mais a veracidade do período de 2.300 dias, citamos o
seguinte:
“A edição da Bíblia grega que geralmente se usa, imprimiu-se, como será explicado
em Prideaux e Horne, não segundo a versão original dos Setenta, senão segundo a de
Teodósio que foi feita mais ou menos a fins do segundo século. Existem três edições
standard principais da Bíblia Septuaginta, que contêm a versão de Daniel de acordo com
Teodósio; a saber a Complutense, publicada em 1514, a Aldina, em 1518, e a Vaticana,
1587, das quais se tiraram grandemente as últimas edições inglesas dos Setenta.
Podemos a estas três acrescentar uma quarta, que é a do texto alexandrino, publicada em
1707 e 1720. Há, ainda, uma chamada Chisiana, 1772, que contém o texto grego tanto de
Teodósio como dos Setenta. De todas estas seis cópias, só a Vaticana diz ‘dois mil e
quatrocentos’, e todas as demais concordam com o hebraico e com nossas Bíblias
inglesas. Ademais, o próprio manuscrito, que se encontra no Vaticano, do qual se imprimiu
a edição, traz dois mil e trezentos e não dois mil e quatrocentos. De maneira que é
indiscutível que o número dois mil e quatrocentos não é senão um erro de imprensa.”
(Dialogues on Prophecy, vol. 1, pp. 326, 327).
os agentes ou acontecimentos a que se refere a visão ocupam uma longa série de anos.
A continuação do tempo é a idéia central. E todo tempo da visão é preenchido pelo
que aqui se chama o contínuo e a transgressão assoladora. Daí que o contínuo não
pode ser o sacrifício contínuo dos judeus, cuja remoção, quando chegou o tempo em
que devia ser tirado, esta ação ocupou só um instante, quando o véu do templo foi
rasgado, por ocasião da crucificação de Cristo. Deve denotar algo que ocupa um
período de anos.
A palavra aqui traduzida contínuo ocorre 102 vezes no Antigo Testamento,
segundo a Concordância Hebraica; e, na grande maioria dos casos traduz-se como
contínuo ou continuamente. A idéia de sacrifício não se liga absolutamente à palavra.
Não há tampouco no texto de Daniel 8:11, 13 palavra alguma que signifique sacrifício.
É uma palavra que foi acrescentada pelos tradutores, porque entendiam que o texto
exigia. Mas evidentemente tinham opinião errônea, pois ali não se alude a nenhum
sacrifício dos judeus. Parece mais de acordo com a construção e com o contexto supor
que a palavra contínuo se refere a um poder assolador, como a transgressão
assoladora com a qual aqui se relaciona. Então temos duas potências assoladoras que
durante um longo período oprimem ou assolam a igreja. Literalmente, pode traduzir-
se: "Até quando durará a visão [concernente] à assolação contínua e transgressão
assoladora?" Aqui se relaciona a assolação tanto com o caráter contínuo como com a
transgressão assoladora, como se a expressão fosse: "A continuação da assolação e da
transgressão assoladora."
Duas potências assoladoras. Pela "continuação da assolação" ou a assolação
contínua, entendemos que representa o paganismo durante toda a sua história. Ao
considerarmos os longos séculos através dos quais o paganismo foi o principal agente
da oposição de Satanás à obra de Deus na terra, fica aparente que a idoneidade do
termo assolação contínua ou perpétua a ele se aplica. De igual modo entendemos que a
"transgressão assoladora" representa o papado. A frase que descreve a última potência
é mais forte que a usada para descrever o paganismo. E a transgressão (ou rebelião)
assoladora, como se durante este período da história da igreja a potência assoladora se
houvesse rebelado contra toda restrição a ela imposta anteriormente.
De um ponto de vista religioso o mundo apresentou estas duas fases de oposição
à obra do Senhor na Terra. Daí que, embora três governos terrestres sejam
introduzidos na profecia como opressores da igreja, eles se colocam aqui sob dois
títulos: "a [assolação] contínua" e a "transgressão assoladora." A Medo-Pérsia era
pagã; a Grécia era pagã; Roma era pagã em sua primeira fase. Todas elas ficam
abrangidas pela expressão "o contínuo", ou "a assolação contínua". Logo vem a forma
papal, a "transgressão assoladora", uma maravilha de astúcia e encarnação da
crueldade. Não é de admirar que de século em século se tenha elevado dos mártires
sofredores o clamor: "Até quando, Senhor, até quando?". Não é estranho que o
Senhor, a fim de que a esperança não desvanecesse inteiramente do coração de Seu
povo oprimido que O aguardava, lhes haja revelado os futuros acontecimentos da
história do mundo. Todas estas potências perseguidoras sofrerão total e eterna
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 87
destruição. Os redimidos, depois dos sofrimentos e pesares desta vida atual, aguardam
glórias imarcescíveis.
O olhar do Senhor observa Seu povo. A fornalha não será aquecida mais do que
necessário para consumir a escória. Por meio de muita tribulação havemos de entrar
no reino. A palavra tribulação provém de tribulum, ou seja, o trilho, utensílio de
lavoura para debulhar cereais, provido de pedernais que se arrastava sobre os molhos
espalhados pela eira. Devemos receber golpe sobre golpe até que o trigo seja separado
da casca e estejamos prontos para o celeiro celestial. Mas não se perderá um só grão
de trigo.
Diz o Senhor ao Seu povo: "Vós sois a luz do mundo", "o sal da terra". Não há na
Terra outra coisa de valor ou importância. Daí haver feito a pergunta peculiar: "Até
quando durará a visão do contínuo, ... e da transgressão assoladora?" Acerca de que se
faz a pergunta? Acerca da glória dos reinos terrestres? Acerca da habilidade de
renomados guerreiros? Acerca de poderosos conquistadores? Acerca da grandeza dos
impérios humanos? Não; antes acerca do santuário, do exército, do povo e do culto do
Altíssimo. Até quando serão pisoteados? Isto é o que desperta o interesse e a simpatia
do Céu. O que toca no povo de Deus não toca em simples mortais, fracos e
impotentes, mas no Onipotente. Ele abre uma conta que deve ser saldada no juízo do
Céu. Logo se encerrarão todas estas contas e o férreo calcanhar da opressão será
esmagado. Será tirado da fornalha da aflição um povo preparado para resplandecer
como as estrelas sempre e eternamente. Cada filho de Deus é objeto do interesse dos
seres celestiais, é uma pessoa a quem Deus ama e para a qual está preparando uma
coroa de imortalidade. O caro leitor se encontra neste número?
Neste capítulo não há informação sobre os 2.300 dias, introduzidos pela primeira
vez no versículo quatorze. Portanto, é necessário deixar de lado este período por
agora. Mas o leitor pode estar seguro de que não fomos deixados em incerteza acerca
desses dias. A declaração referente a eles é parte de uma revelação que foi dada para
instrução do povo de Deus e, portanto, deve ser entendida. Os 2.300 dias são
mencionados no meio da profecia que o anjo Gabriel devia fazer Daniel entender. E
Gabriel cumpriu estas instruções, segundo se no capítulo seguinte.
Que é o santuário? Relacionado com os dois mil e trezentos dias há outro assunto
de igual importância, que agora se apresenta para ser considerado, a saber, o santuário.
A ele se relaciona o tema de sua purificação. Um exame deste assunto revelará a
importância de compreender o início e o término dos 2.300 dias, para sabermos
quando se realizará o grande acontecimento chamado a "purificação do santuário".
Com veremos oportunamente, todos os habitantes da Terra, têm interesse pessoal
nessa obra solene.
Tem havido várias opiniões sobre o que é o santuário aqui mencionado: Alguns
pensam que é a Terra; outros, a terra de Canaã; outros ainda, a igreja; e finalmente, há
os que crêem que se trata do santuário celestial, o "verdadeiro tabernáculo que o
Senhor fundou e não o homem", que está “no mesmo céu”, e do qual o tabernáculo
judaico era tipo, modelo ou figura. (Hebreus 8:1, 2; 9:23, 24). Pelas Escrituras se deve
decidir qual destas opiniões encontradas é a correta.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 88
Não pode ser a Terra. A palavra santuário ocorre 144 vezes no Antigo
Testamento e no Novo. Pelas definições dos lexicógrafos, e seu uso na Bíblia,
compreendemos que se emprega para significar um lugar santo e sagrado, uma morada
do Altíssimo. Se a Terra é o santuário, deve corresponder a esta definição. Mas que
simples característica desta Terra se conforma ao termo? A Terra não é lugar santo
nem sagrado nem é morada do Altíssimo. Não tem coisa alguma que a distinga dos
outros mundos, exceto que é um planeta rebelde, manchado pelo pecado, ferido e
murchado pela maldição da transgressão. Ademais, em nenhum lugar das Escrituras é
chamada santuário. Só um texto se pode apresentar em favor desta opinião e apenas
por aplicação de forma irrazoável: "A glória do Líbano virá a ti, o cipreste, o olmeiro e
o buxo conjuntamente, para adornar o lugar do meu santuário; e farei glorioso o lugar
dos Meus pés." (Isaías 60:13). Esta linguagem se refere indubitavelmente à Nova
Terra, mas nem mesmo esta é chamada o santuário, senão apenas o "lugar" do
santuário, assim como é chamada "o lugar" dos pés do Senhor. É uma expressão que
provavelmente denota a contínua presença de Deus com Seu povo como revelado a
João quando disse: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles
habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus."
Apocalipse 21:3. Tudo que se pode dizer da Terra, portanto, é que, quando renovada,
será o lugar onde estará situado o santuário de Deus. Não se pode pretender que seja
chamada atualmente o santuário e não pode ser o santuário da profecia de Daniel.
Não pode ser a terra de Canaã. Até onde podemos ser guiados pela definição da
palavra "Canaã", esta não pode ter mais direito a essa distinção do que a Terra.
Quando indagamos em que parte da Bíblia Canaã é chamada santuário, alguns nos
apresentam certos textos que parecem proporcionar o testemunho requerido. O
primeiro destes é Êxodo 15:17. Moisés, em seu cântico de triunfo e louvor a Deus
depois de atravessar o Mar Vermelho, exclamou: "Tu os introduzirás, e os plantarás no
monte da Tua herança, no lugar que Tu, ó Senhor, preparaste para a Tua habitação, no
santuário, ó Senhor, que as Tuas mãos estabeleceram." Moisés aqui fala
antecipadamente. Sua linguagem é uma predição do que Deus faria por Seu povo.
Vejamos agora como se cumpriu.
Volvamos a Davi, que relata como matéria histórica o que Moisés proferiu numa
profecia. Salmos 78:53, 54. O tema do salmista é a libertação de Israel da servidão
egípcia e seu estabelecimento na Terra Prometida. Diz ele: "E [Deus] os guiou com
segurança, e não temeram; mas o mar cobriu os seus inimigos. E conduziu-os até ao
limite do Seu santuário, até este monte que a Sua destra adquiriu." O "monte" aqui
mencionado por Davi é o mesmo que o "monte da Tua herança" de que Moisés falou e
em que Deus havia de estabelecer Seu povo. Este monte Davi não chama santuário,
mas apenas o limite do santuário. Que era pois o santuário? O versículo 69 do mesmo
salmo nos informa: "E edificou o Seu santuário como aos lugares elevados, como a
terra que fundou para sempre." A mesma distinção entre o santuário e a Terra é
indicada na oração do bom rei Josafá: "Porventura, ó Deus nosso, não lançaste Tu fora
os moradores desta terra, de diante do teu povo Israel, e não a deste à semente de
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 89
Abraão, Teu amigo, para sempre? E habitaram nela; e edificaram nela um santuário ao
Teu nome." 2 Crôn. 20:7, 8.
Tomada isoladamente, a passagem de Êxodo 15:17 tem sido empregada por
alguns para inferir que o monte era o santuário, mas quando a comparamos com o
relato de Davi de como se cumpriu a predição de Moisés, não se pode sustentar tal
idéia. Davi diz claramente que o monte era só o "limite" do santuário e que nesse
limite, ou seja a terra de Canaã, o santuário foi edificado como eminência ou alta
fortaleza, fazendo-se referência ao belo templo dos judeus, o centro e símbolo de toda
o seu culto. Mas quem quer que leia cuidadosamente Êxodo 15:17, verá que nem é
necessário inferir que Moisés, com a palavra santuário, quer dizer o monte da herança
e muito menos toda a Palestina. Na liberdade da licença poética, ele emprega
expressões elípticas e passa rapidamente de uma idéia ou matéria a outra. Em primeiro
lugar, a herança ocupa-lhe a atenção e ele fala dela; depois, o fato de que o Senhor
habitaria ali em seguida, o lugar que ele deveria providenciar para sua habitação ali, a
saber, o santuário que ele faria que fosse construído. Davi associa desta maneira o
monte Sião e Judá em Salmos 78:68, porque Sião estava localizado em Judá.
Os três textos, Êxodo 15:17; Salmos 78:54 e 69, são os únicos tomados como
base principal para provar que a terra de Canaã é o santuário, mas de maneira
singularmente suficiente os dois últimos, em linguagem simples, esclarecem a
ambigüidade do primeiro e totalmente desaprova a alegação que nele se baseia.
Acerca de nossa Terra ou país de Canaã como o santuário, apresentamos mais
uma consideração. Se qualquer um constitui o santuário, não somente deve ser
descrito como tal em algum lugar, mas a mesma idéia deve ser levada até ao fim e a
purificação da Terra ou da Palestina devia ser chamada a purificação do santuário. A
Terra está de fato contaminada e será purificada por fogo, mas o fogo, como veremos,
não é o agente usado na purificação do santuário. Esta purificação da Terra, ou de
qualquer parte dela, em nenhuma parte da Bíblia é chamada a purificação do santuário.
Não pode ser a igreja. O único texto aduzido em apoio da idéia de que a igreja é
o santuário é Salmos 114:1, 2: "Quando Israel saiu do Egito, e a casa de Jacó de um
povo bárbaro, Judá ficou sendo o santuário de Deus, e Israel o Seu domínio." Se
tomássemos esta passagem em seu sentido mais literal, ela provaria que o santuário se
limitava a uma das doze tribos. Isso significaria que somente uma parte da igreja, e
não toda ela, constitui o santuário. A razão por que Judá é chamado o santuário no
texto citado não precisa deixar-nos perplexos, quando recordamos que Deus escolheu
Jerusalém, que estava em Judá, como o lugar de Seu santuário. "Escolheu, antes, a
tribo de Judá, o monte Sião, que ele amava. E construiu o seu santuário durável como
os céus e firme como a terra que fundou para sempre." (Salmos 78:68, 69). Isto
demonstra claramente a relação que existia entre Judá e o santuário. Essa tribo mesma
não era o santuário, mas é assim chamada uma vez quando Israel saiu do Egito, porque
Deus queria que no meio do território dessa tribo se situasse Seu santuário.
Mas mesmo quando fosse possível demonstrar que a igreja em algum lugar se
chama o santuário, isso não teria importância para nosso propósito atual, que é
determinar o que constitui o santuário de Daniel 8:13, 14, porque aqui se fala da igreja
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 90
como de outra coisa diferente: "Para que seja entregue o santuário, e o exército, a fim
de serem pisados." Ninguém contestará que a palavra exército representa o povo de
Deus, a saber, a igreja. Portanto, o santuário é algo diferente da igreja.
O santuário é o templo do Céu. Resta agora somente examinarmos uma teoria, a
saber, que o santuário mencionado no texto é idêntico ao de Hebreus 8:1, 2, que é
chamado "verdadeiro tabernáculo, que o Senhor fundou, e não o homem", ao qual ele
dá expressamente o nome de "santuário" e que está situado "nos céus". Deste santuário
existiu, na antiga dispensação, um modelo, tipo ou figura, primeiro no tabernáculo
construído por Moisés e mais tarde no templo de Jerusalém.
Coloquemo-nos no lugar de Daniel, e consideremos o assunto do seu ponto de
vista. Que entenderia ele pelo termo santuário? Ao ouvir mencionar essa palavra, sua
atenção inevitavelmente se dirigiria ao santuário de seu povo; e sabia certamente onde
se encontrava. Sua atenção voltou-se para Jerusalém, a cidade de seus pais, que então
jazia em ruínas, “o nosso templo santo e glorioso”, que, como Isaías lamenta, foi
consumido pelo fogo (Isa. 64:11). Assim, como era seu costume, com o rosto voltado
para o lugar onde uma vez estava o venerado templo, Daniel orou a Deus para que
fizesse resplandecer o Seu rosto sobre o Seu santuário, que estava então assolado. Pela
palavra santuário Daniel evidentemente entendia o templo de Jerusalém.
Quanto a este ponto, a Escritura dá um testemunho bem explícito. "Ora, a
primeira aliança tinha ordenanças de cultos sagrados, e também o santuário terrestre."
Hebreus 9:1. Que era o santuário da primeira aliança? Segue a resposta: "Com efeito,
foi preparado o tabernáculo, cuja parte anterior, onde estavam o candeeiro, e a mesa, e
a exposição dos pães, se chama o Santo Lugar; por trás do segundo véu, se encontrava
o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos, ao qual pertencia um altar de ouro
para o incenso e a arca da aliança totalmente coberta de ouro, na qual estava uma urna
de ouro contendo o maná, o bordão de Arão, que floresceu, e as tábuas da aliança; e
sobre ela, os querubins de glória, que, com a sua sombra, cobriam o propiciatório.
Dessas coisas, todavia, não falaremos, agora, pormenorizadamente." Hebreus 9:2-5.
É impossível equivocar-se quanto ao aqui se descreve. É o tabernáculo erigido
por Moisés sob a direção do Senhor (e mais tarde substituído pelo templo de
Jerusalém), com um lugar santo e um lugar santíssimo, e diversos utensílios de culto.
Uma descrição completa deste edifício, com seus diversos utensílios e móveis
sagrados e seus usos, se achará em Êxodo 25 e capítulos seguintes. Se o leitor não
estiver familiarizado com este assunto, pede-se que leia a descrição desta construção.
Este, como Paulo claramente diz, era o santuário da primeira aliança, e desejamos que
o leitor cuidadosamente observe o valor lógico desta declaração. Ao dizer-nos o que
constituía o santuário, o livro de Hebreus nos coloca no rumo certo da investigação.
Dá-nos uma base sobre a qual trabalhar. Temos diante de nós um objeto distinto e
claramente definido, minuciosamente descrito por Moisés, chamado em Hebreus o
santuário da primeira aliança, que esteve em vigor até os dias de Cristo.
Mas a linguagem da epístola aos Hebreus tem ainda maior significação. Aniquila
as teorias segundo as quais a Terra, o país de Canaã ou a igreja seriam o santuário. Os
argumentos que poderiam provar ser qualquer destas coisas o santuário em algum
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 91
momento, demonstrariam que isso aconteceu sob o antigo Israel. Se Canaã foi em
algum tempo o santuário, foi quando Israel esteve estabelecido nesse país. Se a igreja
alguma vez foi o santuário, foi ao ser Israel tirado do Egito. Se a Terra alguma vez foi
o santuário, foi durante o mesmo período. Mas foram algumas destas coisas o
santuário durante esse tempo? A resposta deve ser negativa, porque os autores dos
livros de Êxodo e Hebreus nos dizem em detalhe que não era a Terra, nem Canaã, nem
a igreja, senão tabernáculo construído por Moisés, substituído mais tarde pelo templo,
o que constituía o santuário dos tempos do Antigo Testamento.
O santuário terrestre. Este edifício corresponde em todos os detalhes à definição
do termo, e ao uso a que estava destinado o santuário. Era a morada terrenal de Deus.
"E Me farão um santuário", disse o Senhor a Moisés, "e habitarei no meio deles."
Êxodo 25:8. Neste tabernáculo, que eles construíram de acordo com as instruções
divinas, Deus manifestou Sua presença. Era um lugar santo ou sagrado. "o santuário".
Levítico 16:33. Nos 130 exemplos em que a palavra é empregada no Antigo
Testamento, refere-se, em quase todos, a este edifício.
O tabernáculo foi a princípio construído de forma que se adaptasse às condições
em que viviam os filhos de Israel naquele tempo. Iniciavam sua peregrinação de
quarenta anos no deserto, quando este edifício foi erigido no meio deles como
habitação de Deus e centro de seu culto religioso. Era necessário viajar, e o
tabernáculo tinha de ser mudado de um lugar a outro. Era por isso formado de partes
móveis, sendo seus lados compostos de tábuas colocadas em posição vertical e o teto
compunha-se de cortinas de linho e peles tingidas. Portanto, era fácil desmontá-lo,
transportá-lo e erigi-lo em cada etapa sucessiva da viagem. Após Israel entrar na terra
prometida, esta estrutura provisória foi com o tempo substituída pelo magnífico
templo de Salomão. Nesta forma mais permanente o santuário existiu, exceto enquanto
esteve em ruínas no tempo de Daniel, até sua destruição final pelos romanos no ano 70
d. C.
Este é o único santuário relacionado com a Terra, acerca do qual a Bíblia nos deu
alguma instrução ou a história registrou detalhes. Mas não há outro em alguma outra
parte? Este era o santuário da primeira aliança e com essa aliança chegou ao fim. Não
há algum santuário que pertença à segunda ou nova aliança? Deve haver, do contrário
faltaria analogia entre essas duas alianças. Neste caso, a primeira aliança teria um
sistema de culto que, embora minuciosamente descrito, é ininteligível e a segunda
aliança teria um sistema indefinido e obscuro de culto. O autor da epístola aos Hebreus
virtualmente assevera que a nova aliança, em vigor desde a morte de Cristo, seu
Testador, tem um santuário; porque, quando contrasta as duas alianças, como o faz em
Hebreus 9:1, diz que “a primeira aliança também tinha preceitos de serviço sagrado e o
seu santuário terrestre." É o mesmo que dizer que a nova aliança tem igualmente seu
serviço e seu santuário. Além disso, no verso 8 deste capítulo se fala do santuário
terrestre como o primeiro tabernáculo. Se este era o primeiro, deve haver um segundo;
e como o primeiro tabernáculo existiu enquanto esteve em vigor a primeira aliança,
quando esta aliança chegou a seu fim, o segundo tabernáculo deve ter substituído o
primeiro, e deve ser o santuário da nova aliança. Esta conclusão é inescapável.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 92
se realizar com sangue, é que sem derramamento de sangue não há remissão nem
perdão de pecados.
É purificação de pecados. A obra que deve ser feita consiste na remissão dos
pecados e na eliminação deles. A purificação não é, pois, uma limpeza física, mas a
purificação do pecado. Mas, como os pecados chegaram a relacionar-se com o
santuário, seja terrestre ou celestial, para que seja necessário purificá-lo? A pergunta
encontra sua resposta no serviço relacionado com o tipo ou figura, a que agora nos
dirigimos.
Os capítulos finais de Êxodo nos relatam a construção do santuário terrestre e o
ordenamento dos serviços com ele relacionados. Levítico inicia com uma explicação
do ministério que se realizaria ali. Tudo o que queremos notar aqui é um pormenor do
serviço. A pessoa que tinha cometido o pecado trazia sua oferenda, um animal vivo, à
porta do tabernáculo. Sobre a cabeça desta vítima colocava a mão por um momento e,
como se pode razoavelmente deduzir, confessava seu pecado sobre ela. Por este ato
expressivo indicava que havia pecado e que merecia a morte, mas que em seu lugar
consagrava sua vítima e a ela transferia sua culpabilidade. Com sua própria mão (e
com que emoções o terá feito!) tirava logo a vida do animal. A lei exigia a vida do
transgressor por sua desobediência. A vida está no sangue. (Lev. 17:11, 14). Daí que
sem derramamento de sangue não há remissão de pecado. Mas com o derramamento
de sangue a remissão é possível, porque se satisfaz a lei que exige uma vida. O sangue
da vítima, que representava a vida perdida, era o veículo de sua culpa, era então
levado pelo sacerdote, para apresentá-lo perante o Senhor.
Por sua confissão, pela morte da vítima e pelo ministério do sacerdote o pecado
ficava assim transferido da pessoa pecadora para o santuário. O,povo oferecia assim
vítima após vítima. Dia após dia se realizava esta obra, e o santuário recebia os
pecados da congregação. Mas esta não era a disposição final desses pecados. A culpa
acumulada era removida por um serviço especial destinado a purificar o santuário.
Este serviço, no tipo, ocupava um dia do ano, o décimo dia do sétimo mês, que era
chamado o dia da expiação. Nesse dia, enquanto todo o Israel se abstinha de trabalho e
afligia a sua alma, o sumo sacerdote trazia dois bodes e os apresentava perante Jeová à
porta do tabernáculo. Sobre estes bodes ele lançava sortes, uma para Jeová e a outra
para o bode emissário. O bode sobre o qual caía a sorte de Jeová era logo morto e o
sumo sacerdote levava seu sangue ao lugar santíssimo do santuário, e o espargia sobre
o propiciatório. Este era o único dia em que se permitia ao sumo sacerdote entrar nessa
divisão do tabernáculo. Ao sair devia pôr “ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo
e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, todas as suas
transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode.” (Lev.
16:21). Devia enviar o bode acompanhado por um homem designado a uma terra
desabitada, uma terra de separação ou esquecimento, pois o bode não devia mais
voltar ao acampamento de Israel nem jamais deviam ser lembrados os pecados do
povo.
Este serviço era para purificar o povo de seus pecados, e também purificar o
santuário, seus móveis e seus vasos sagrados dos pecados do povo. (Levítico 16:30,
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 96
33). Por este processo o pecado era completamente removido. É claro, isto ocorria só
em figura, porque toda essa obra era simbólica.
O leitor, para quem estas explicações sejam novas, estará talvez pronto a
perguntar, com certo assombro: Que podia representar esta obra estranha e que está
destinada a prefigurar em nossa época? Respondemos: Uma obra semelhante à do
ministério de Cristo, como as Escrituras claramente ensinam. Após declarar-se, em
Hebreus 8:2, que Cristo é o Ministro do verdadeiro tabernáculo, o santuário celestial,
declara-se no versículo 5 que os sacerdotes terrenos serviam “em figura e sombra das
coisas celestes”. Em outras palavras, a obra dos sacerdotes terrenos era uma sombra ou
figura do ministério de Cristo no Céu.
O ministério em figura e na realidade. Estes sacerdotes ministravam em ambos
os compartimentos do tabernáculo terrestre, e Cristo ministra em ambos os
compartimentos do templo celestial. Este templo do Céu tem dois compartimentos ou,
ao contrário disto, não foi corretamente representado pelo santuário terrestre. Nosso
Senhor oficia em ambos os compartimentos, ou o serviço do sacerdote terreno não era
uma sombra correta de Sua obra. Indica-se claramente em Hebreus 9:21-24 que tanto
o tabernáculo como os vasos usados no ministério eram “figuras das coisas que se
acham nos céus”. Portanto, a obra executada por Cristo no templo celestial
corresponde à que os sacerdotes executavam em ambos os compartimentos do
santuário terrestre. Mas a obra que se realizava no segundo compartimento, ou lugar
santíssimo, era uma obra especial para encerrar o ciclo anual de serviço e purificar o
santuário. Daí que o ministério de Cristo no segundo compartimento do santuário
celestial tem de ser uma obra de igual natureza e constitui a conclusão de Sua obra
como nosso grande Sumo Sacerdote e a purificação daquele santuário.
Visto que mediante os antigos sacrifícios típicos os pecados do povo eram
transferidos em figura pelos sacerdotes ao santuário terrestre, onde aqueles sacerdotes
ministravam, assim, desde que Cristo ascendeu ao Céu para ser nosso Intercessor na
presença de Seu Pai, os pecados de todos os que sinceramente buscam perdão por
meio dEle, são transferidos de fato para o santuário celestial onde Ele ministra. Não
precisamos parar para inquirir se Cristo ministra em nosso favor nos santos lugares
celestiais com Seu próprio sangue literalmente, ou só em virtude de Seus méritos.
Basta dizer que Seu sangue foi derramado e por esse sangue é assegurada de fato a
remissão dos pecados, que era obtida apenas em figura mediante o sangue de novilhos
e bodes no ministério anterior. Mas aqueles sacrifícios típicos tinham real virtude
nesse aspecto: significavam a fé num sacrifício real futuro. Assim, os que os
empregavam, têm na obra de Cristo interesse igual aos daqueles que em nossa era a
Ele se chegam pela fé mediante os ritos do Evangelho.
A contínua transferência de pecados para o santuário celestial, torna necessária a
purificação na mesma base em que obra semelhante era requerida no santuário
terrestre. Deve-se notar aqui uma importante distinção entre os dois ministérios. No
tabernáculo terrestre realizava-se completo ciclo de serviço em cada ano. Cada dia do
ano, exceto um, o ministério prosseguia no primeiro compartimento. A obra de um dia
no santíssimo completava o ciclo anual. A obra recomeçava então no lugar santo, e
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 97
prosseguia até que outro dia da expiação completasse a obra anual. E assim
sucessivamente, ano após ano. Uma sucessão de sacerdotes executava esta série de
serviços no santuário terrestre. Mas nosso divino Senhor, que vive sempre para
interceder por nós. (Heb. 7:25). Daí que a obra do santuário celestial, em vez de ser
uma obra anual, realiza-se uma vez por todas. Em vez de ser repetida ano após ano,
forma um só grande ciclo em que se realiza e se conclui para sempre.
Um ciclo anual de serviços do santuário terrestre representava toda a obra do
santuário celestial. No tipo, a purificação do santuário era a breve obra final do serviço
anual. No antítipo, a purificação do santuário deve ser a obra final de Cristo, nosso
grande Sumo Sacerdote, no tabernáculo celestial. Na figura, para purificar o santuário,
o sumo sacerdote entrava no lugar santíssimo para ministrar na presença de Deus
diante da arca de Seu testamento. No antítipo, ao chegar o tempo da purificação do
santuário, nosso Sumo Sacerdote, de igual modo, entra no lugar santíssimo para
finalizar Sua obra intercessória em favor da humanidade.
Compreende agora o leitor a importância desse assunto? Começa a perceber que
o santuário de Deus é objeto de interesse para todo o mundo? Nota que a obra inteira
da salvação se centraliza nele, e que quando a obra terminar, terminará o tempo da
graça e os casos dos salvos e perdidos estarão eternamente decididos? Percebe que a
purificação do santuário é uma obra breve e especial que conclui para sempre o grande
plano da salvação? Compreende que, se puder tornar-se conhecido quando começa
esta obra de purificação, será isso um solene anúncio ao mundo, o mais solene da
palavra profética: “Temei a Deus e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo”
(Apoc. 14:7)? Isto é exatamente o que a profecia está destinada a mostrar; quer dizer,
tornar conhecido o início desta portentosa obra. "Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs; e o santuário será purificado." O santuário celestial é o lugar onde se
pronunciará a decisão sobre todos os casos. O desenrolar da obra que ali se realiza
deve preocupar de maneira especial a humanidade. Se seus membros compreendessem
a importância destes temas e a influência que exercem para seus interesses eternos, os
estudariam com maior cuidado e oração.
Versículos 15, 16 – Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la, e eis que
se me apresentou diante uma como aparência de homem. E ouvi uma voz de homem de
entre as margens do Ulai, a qual gritou e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão.
diante de Deus” (Luc. 1:19). Disto se deduz que Gabriel recebeu aqui a ordem de um
ser superior a ele, que tinha poder para lhe dar ordens e controlar sua obra. Tratava-se
provavelmente do Arcanjo Miguel ou Cristo.
Versículos 17-19 – Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei
amedrontado e prostrei-me com o rosto em terra; mas ele me disse: Entende, filho do
homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim. Falava ele comigo quando caí sem
sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me
achava; e disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira,
porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim.
Se Daniel caiu diante do anjo não foi com o propósito de adorá-lo, porque somos
proibidos de adorar os anjos. (Ver Apoc. 19:10; 22:8, 9). Daniel parece ter sido
completamente vencido pela majestade do mensageiro celestial. Ele se prostrou com o
rosto em terra. O anjo colocou a mão sobre ele para animá-lo (quantas vezes a seres
mortais tem sido ordenado, por seres celestiais que não temam!) e o levanta de sua
posição prostrada.
Após fazer uma abrangente declaração de que no tempo designado virá o fim e de
que lhe fará saber o que haverá no período final da ira, o anjo passa a interpretar a
visão. Deve-se entender que a ira abrange um período de tempo. Mas qual? Deus disse
ao Seu povo Israel que Ele derramaria sobre eles Sua indignação por sua iniqüidade e
assim lhes deu instruções acerca do "profano e ímpio príncipe de Israel." "Remove o
diadema, e tira a coroa... Ao revés, ao revés, ao revés o porei; também o que é não
continuará assim, até que venha aquele a quem pertence de direito; e lho darei a ele."
Ezequiel 21:25-27, 31.
Esse é o período da ira de Deus contra o povo da Sua aliança, o período durante o
qual o santuário e o exército hão de ser pisoteados. O diadema foi removido e tirada a
coroa, quando Israel ficou sob o domínio do rei de Babilônia. Foi posta ao revés pelos
medos e persas, e novamente pelos gregos, e outra vez pelos romanos, o que
corresponde às três vezes em que o profeta repete a palavra. Os judeus, tendo rejeitado
a Cristo, foram logo dispersos por toda a face da Terra. O Israel espiritual tomou o
lugar da descendência literal, mas está sujeito às potências terrenas, e assim continuará
até que seja restabelecido o trono de Davi, até que venha seu legítimo herdeiro, o
Messias, o Príncipe da paz. Então terá cessado a ira. O que acontecerá no final do
período o anjo vai agora fazer saber a Daniel.
Versículos 20-22 – Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os reis da Média
e da Pérsia; mas o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre grande entre os olhos é o
primeiro rei; o ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro
reinos se levantarão deste povo, mas não com força igual à que ele tinha.
Este poder sucede as quatro divisões do reino representado pelo bode durante o
último período de seu reino, ou seja, já chegando ao fim de sua carreira. É, sem
dúvida, o mesmo que o chifre pequeno do versículo 9 e seguintes. Aplicando-o a
Roma, como se expôs nas observações referentes ao versículo 9, tudo é harmônico e
claro.
"Um rei feroz de semblante". Moisés, ao predizer que sobreviria punição aos
judeus por esse mesmo poder, chama-o "uma nação feroz de rosto". Deut. 28:49, 50.
Nenhum povo apresentou mais formidável aparato em guerra que os romanos.
A expressão "especialista em intrigas" ou "mestre em astúcias" (NVI) é vertido
em outras versões como "entendido em frases obscuras". Moisés, na passagem acima
referida, diz: "cuja língua não entendereis." Isto não se podia dizer dos babilônios,
persas ou gregos, com relação aos judeus, pois a língua caldaica e a grega foram
usadas geralmente na Palestina. Tal não ocorreu, porém, com o latim.
"Quando os prevaricadores acabarem". Em todo o tempo é trazida à mente a
conexão entre o povo de Deus e seus opressores. O povo foi levado em cativeiro por
causa de suas transgressões. Ao continuar no pecado atraía sobre si castigo cada vez
mais severo. Em nenhum momento foram os judeus como nação mais corruptos do
que quando caíram sob a jurisdição do romanos.
Roma papal se fortalecerá “mas não por sua própria força”. O êxito dos
romanos se deveu em grande parte à ajuda de seus aliados e às divisões entre os seus
inimigos, das quais os romanos estiveram sempre prontos a tirar vantagem. Roma
papal também foi poderosa mediante os poderes seculares sobre os quais exercia
domínio espiritual.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 100
"E destruirá terrivelmente". O Senhor disse aos judeus por meio do profeta
Ezequiel que os entregaria a homens "mestres de destruição". (Ezeq. 21:31). Ao
tomarem Jerusalém, mataram 1.100.000 judeus e foi uma terrível confirmação das
palavras do profeta. Roma, em sua segunda fase, a papal, ocasionou a morte de
milhões de mártires.
“Por sua astúcia nos seus empreendimentos, fará prosperar o engano”. Roma
distinguiu-se acima de todas as demais potências por sua política astuta, com a qual
veio a conquistar as nações. Esta característica foi vista na Roma pagã e na papal. E o
que não puderam realizar pela força, conseguiram por artifício.
E Roma, finalmente, na pessoa de um de seus governadores, levantou-se contra o
Príncipe dos príncipes, lavrando sentença de morte contra Jesus Cristo. "Mas será
quebrado sem intervir mão de homem". Esta é uma passagem paralela ao da profecia
de Daniel 2:34, onde a pedra “cortada, sem auxílio de mãos” destrói todas as potências
terrestres.
Versículos 26, 27 – E a visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu,
porém, cerra a visão, porque só daqui a muitos dias se cumprirá. E eu, Daniel, enfraqueci e
estive enfermo alguns dias; então, levantei-me e tratei do negócio do rei; e espantei-me
acerca da visão, e não havia quem a entendesse.
Versículo 3 – E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração, e
rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza.
O ter Deus prometido algo não nos exime da responsabilidade de rogar-Lhe que
cumpra Sua palavra. Daniel poderia ter raciocinado assim: Deus prometeu libertar Seu
povo no fim dos setenta anos e cumprirá Sua promessa; não preciso me preocupar com
o assunto. Mas ele não raciocinou assim. Ao aproximar-se o tempo em que se havia de
cumprir a palavra do Senhor, buscou o Senhor com todo o seu coração.
E quão fervorosamente se empenhou na obra, mesmo com jejum, cilício e cinza!
Era provavelmente o ano em que Daniel foi lançado na cova dos leões. O leitor
lembrará que o decreto aprovado pelo rei tinha proibido sob pena de morte a todos os
súditos que não dirigissem petição alguma a outro deus exceto ao rei. Mas sem prestar
atenção ao decreto, Daniel elevou sua oração três vezes ao dia com as janelas abertas
frente a Jerusalém.
Versículo 4 – E orei ao SENHOR, meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus
grande e tremendo, que guardas o concerto e a misericórdia para com os que te amam e
guardam os teus mandamentos.
príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a
justiça, mas a nós, o corar de vergonha, como hoje se vê; aos homens de Judá, os
moradores de Jerusalém, todo o Israel, quer os de perto, quer os de longe, em todas as
terras por onde os tens lançado, por causa das suas transgressões que cometeram contra
ti. Ó SENHOR, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes
e aos nossos pais, porque temos pecado contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, pertence a
misericórdia e o perdão, pois nos temos rebelado contra ele e não obedecemos à voz do
SENHOR, nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu por intermédio de seus
servos, os profetas. Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não
obedecer à tua voz; por isso, a maldição e as imprecações que estão escritas na Lei de
Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra ti. Ele
confirmou a sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam,
e fez vir sobre nós grande mal, porquanto nunca, debaixo de todo o céu, aconteceu o que
se deu em Jerusalém. Como está escrito na Lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio;
apesar disso, não temos implorado o favor do SENHOR, nosso Deus, para nos
convertermos das nossas iniqüidades e nos aplicarmos à tua verdade. Por isso, o
SENHOR cuidou em trazer sobre nós o mal e o fez vir sobre nós; pois justo é o SENHOR,
nosso Deus, em todas as suas obras que faz, pois não obedecemos à sua voz.
Até este ponto a oração de Daniel se dedica a fazer plena confissão de pecado
com coração quebrantado. Reivindica plenamente a conduta do Senhor, reconhecendo
que os pecados de Seu povo foram a causa de todas as suas calamidades, tal como
Deus os havia ameaçado pelo profeta Moisés. Não faz discriminação alguma em seu
favor. Não aparece justiça própria em sua petição. Embora tenha sofrido muito tempo
por pecados alheios, suportando setenta anos de cativeiro pelos erros de seu povo, ele
mesmo tinha vivido uma vida piedosa e recebido assinaladas honras e bênçãos do
Senhor. Não faz acusação contra ninguém, não solicita simpatia para si mesmo como
vítima de erros alheios, mas se classifica com os demais, dizendo: Temos pecado e a
nós pertence o corar de vergonha. Reconhece que não haviam atendido as lições que
Deus pretendia ensinar-lhes por meio de suas aflições.
Versículos 15-19 – Na verdade, ó Senhor, nosso Deus, que tiraste o teu povo da terra
do Egito com mão poderosa, e a ti mesmo adquiriste renome, como hoje se vê, temos
pecado e procedido perversamente. Ó Senhor, segundo todas as tuas justiças, aparte-se a
tua ira e o teu furor da tua cidade de Jerusalém, do teu santo monte, porquanto, por causa
dos nossos pecados e por causa das iniqüidades de nossos pais, se tornaram Jerusalém e
o teu povo opróbrio para todos os que estão em redor de nós. Agora, pois, ó Deus nosso,
ouve a oração do teu servo e as suas súplicas e sobre o teu santuário assolado faze
resplandecer o rosto, por amor do Senhor. Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os
olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome,
porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças,
mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-
nos e age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o
teu povo são chamados pelo teu nome.
O profeta agora invoca a honra do nome de Jeová como razão pela qual deseja
que sua petição seja concedida. Refere-se à libertação de Israel do Egito e ao grande
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 103
renome que ao nome do Senhor haviam acrescido todas as Suas maravilhosas obras
realizadas entre eles. Tudo isso se perderia se Ele agora os deixasse perecer. Moisés
usou o mesmo argumento ao interceder por Israel (Números 14). Não que Deus atue
por motivos de ambição e vanglória, mas quando Seus filhos manifestam zelo pela
honra de Seu nome, quando revelam seu amor por Ele rogando-Lhe que opere, não
para seu benefício pessoal, mas para Sua própria glória, a fim de que Seu nome não
sofra opróbrio e blasfêmia entre os pagãos, isso Lhe é agradável. Daniel intercede
então pela cidade de Jerusalém, que leva o nome de Deus, e por Seu santo monte, que
Ele tanto amava, e Lhe roga que por Suas misericórdias desvie Sua ira. Finalmente,
concentra sua atenção no santuário sagrado, a própria morada de Deus na Terra, e
solicita a reparação de suas assolações.
Daniel entendia que os setenta anos de cativeiro estavam prestes a terminar. Por
sua alusão ao santuário, é evidente que até então não entendia a importante visão a ele
dada no capítulo 8, e parecia supor que os 2.300 dias findariam ao mesmo tempo que
os setenta anos. Este seu equívoco foi imediatamente corrigido quando o anjo veio
para dar-lhe mais instruções em resposta à sua oração.
que lhe foi dada, ou que aquela visão tenha sido alguma vez explicada. A instrução
que o anjo agora dá a Daniel, como veremos nos versículos seguintes, completa
exatamente o que estava faltando no capítulo 8. Estas considerações provam, de forma
indubitável, a relação que há entre Daniel 8 e 9, e esta conclusão se reforça mais ainda
quando são consideradas as instruções do anjo.
Versículos 22, 23 – Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí
para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim,
para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão.
Versículo 24 – Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua
santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a
iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo
dos Santos.
Setenta semanas. Tais são as primeiras palavras que o anjo dirige a Daniel ao
comunicar-lhe a instrução que lhe veio dar. Por que introduz assim abruptamente o
período de tempo? Devemos novamente referir-nos à visão de Daniel 8. Vimos que
Daniel, no fim desse capítulo, diz que não entendeu a visão. Certas partes daquela
visão lhe foram explicadas claramente naquela ocasião. Estas partes não podem ser as
que não entendeu. Averigüemos, portanto, o que Daniel não entendeu, ou, em outras
palavras, que parte da visão ficou sem explicação.
Naquela visão se apresentam quatro coisas destacadas: o carneiro; o bode; o
chifre pequeno; o período de 2.300 dias. Os símbolos do carneiro, do bode e do chifre
pequeno foram explicados, mas nada se disse do período de tempo. Este, pois, deve ter
sido o ponto que o profeta não compreendeu. De nada lhe valia compreender as outras
partes da visão, enquanto ficava em obscuridade sobre a aplicação deste período de
2.300 dias.
Diz o erudito Dr. Hales, ao comentar as setenta semanas: “Esta profecia
cronológica . . . estava destinada evidentemente a explicar a visão precedente,
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 106
especialmente sua parte cronológica dos 2.300 dias.” (Guilherme Hales, A New
Analyses of Chronology, vol. 2, pág. 517).
Se esta opinião é correta, podemos naturalmente esperar que o anjo tenha
começado sua explicação pelo ponto omitido antes, a saber, o referente ao tempo. E
assim verificamos ser, de fato. Depois de citar, da forma mais direta e enfática, a
atenção que Daniel havia prestado à visão anterior e depois de assegurar-lhe que tinha
vindo para lhe dar a entender o sentido, começa com o próprio ponto que fora omitido
e diz: "Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa
cidade."
Cortadas dos 2.300 dias. Mas como esta linguagem revela alguma relação com
os 2.300 dias, ou como lança luz sobre este período? Respondemos: a linguagem não
pode referir-se inteligentemente a outra coisa. O vocábulo aqui traduzido
“determinadas” significa “cortadas”, “separadas”, e na visão aqui referida não se
menciona outro período de que as setenta semanas poderiam ser cortadas, exceto os
2.300 dias. Quão direta e natural é, pois, a relação! “Setenta semanas estão cortadas.”
Mas cortadas de quê? Com certeza dos 2.300 dias.
A palavra “determinadas” que se acha nesta frase é uma tradução do hebraico
nechtak, que se baseia em um radical primitivo que Strong define como significando
“cortar, quer dizer figuradamente, decretar, determinar”. Este último significa por
implicação. A versão que seguimos emprega esta definição mais remota, por
implicação, e põe “determinadas” no texto que nos ocupa. Outras versões seguem a
segunda definição, e dizem: “Setenta semanas estão decretadas [quer dizer
concedidas] para o seu povo” (NVI) Tomando a definição básica e mais simples,
temos “setenta semanas estão cortadas para teu povo.” Se estão cortadas, deve ser de
um período maior; neste caso, dos 2.300 dias da profecia até aqui discutida. Pode-se
acrescentar que Gesênio, dá a mesma definição que Strong: “Cortar, . . . dividir, e
assim determinar, decretar.” Davidson dá exatamente a mesma definição, e se refere
igualmente a Daniel 9:24 como exemplo.
Pode perguntar-se então por que os tradutores traduziram a palavra por
“determinadas”, quando obviamente significa “cortadas”. A resposta é: sem dúvida
passaram por alto a relação que há entre o capítulo 8 e o 9 e, considerando impróprio
traduzi-la por “cortadas”, quando não viam nada de que poderiam cortar-se as setenta
semanas, deram à palavra seu sentido figurado em vez do literal. Mas, como já vimos,
a definição e o contexto exigem o sentido literal e tornam inadmissível qualquer outro.
Portanto, setenta semanas, ou 490 dos 2.300 dias, foram cortadas ou concedidas a
Jerusalém e aos judeus. Os eventos que iam consumar-se durante esse período logo se
apresentam. Se havia de “cessar a transgressão”, quer dizer, o povo judeu ia encher a
taça de sua iniqüidade, o que fizeram na rejeição e crucifixão de Cristo. Se haveria de
“dar fim aos pecados” ou as ofertas pelo pecado.* Isto ocorreu quando se fez a grande
*
O vocábulo hebraico “chattah”, que se traduz “pecado” em Daniel 9:24, denota o pecado ou a oferta pelo pecado. Em
Levítico 4:3 há um exemplo do emprego da mesma palavra em ambos sentidos no mesmo versículo: “oferecerá pelo
seu pecado um novilho . . . como oferta pelo pecado.” Usa-se a mesma palavra hebraica para ambas as expressões
“pecado” e “oferta pelo pecado”. Tal uso é comum em todo o Levítico, inclusive no capítulo 16 e outras partes do
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 107
Oferta no Calvário. Ia ser provida uma reconciliação para a iniqüidade. Seria pela
morte expiatória do Filho de Deus. Ia ser introduzida a justiça eterna, a que nosso
Senhor manifestou em Sua vida sem pecado. A visão e a profecia iam ser seladas, ou
asseguradas.
A profecia ia ser provada pelos eventos que iam ocorrer nas setenta semanas.
Com isto fica determinada a aplicação de toda a visão. Se os eventos deste período se
cumprem com exatidão, a profecia é de Deus e tudo se cumprirá. Se estas setenta
semanas se cumprem como semanas de anos, então os 2.300 dias, dos quais elas são
uma parte, são outros tantos anos.
Um dia em profecia significa um ano. Ao iniciar o estudo das setenta semanas ou
490 dias, será bom lembrar que na profecia bíblica um dia representa um ano. E na
pág. 113 apresentamos provas de que esta interpretação é um princípio aceito. Só
acrescentaremos mais duas citações:
“Assim foi revelado a Daniel de que modo o último aviltamento se produzirá depois
que o santuário for purificado e a visão for cumprida; e estes 2.300 dias desde a hora em
que saísse a ordem, . . . de acordo com o número predito resolvendo um dia por um ano,
segundo revelação feita a Ezequiel.” (Nicolau de Cusa, Conjectures of Cardinal von Cusa
Concerning the Last Days, pág. 934).
“É um fato singular que a grande maioria dos intérpretes do mundo inglês e
americano tem habitualmente, desde muitos anos, entendido que os dias mencionados em
Daniel e Apocalipse representam ou simbolizam anos. Foi-me difícil rastrear a origem
deste costume geral, e poderia dizer quase universal.” (Moisés Stuart, Hints on the
Interpretation of Prophecy, pág. 934).
Antigo Testamento. É claro, pois, que se pode usá-la em Dan. 9:24 como ofertas pelo pecado, porque certamente
concluíram as ofertas pelo pecado quando o grande sacrifício na cruz foi oferecido. – Comissão revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 108
profecia especifica um caso de unção. De acordo com os usos aplicados ao “Santo dos
santos” ou “santíssimo” que já se assinalaram, temos suficientes motivos para crer que
este versículo prediz a unção do tabernáculo celestial. Para o serviço típico, o
tabernáculo foi ungido; e é bem apropriado crer que, de acordo com isso, o santuário
celestial foi ungido para o serviço antitípico, ou real, quando nosso Sumo sacerdote
iniciou Sua obra misericordiosa de ministrar em benefício dos pecadores.
Versículos 25-27 – Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para
edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas;
as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das
sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe
que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim
haverá guerra; desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com muitos, por uma
semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a
asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se
derrame sobre ele.
As setenta semanas subdivididas. O anjo relata então a Daniel o evento que deve
assinalar o início das setenta semanas. Deviam partir da data em que se proclamara a
ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Não só se indica o acontecimento que
determina o momento do início deste período, mas também os eventos que de
sucederão no seu término. Desta forma se nos proporciona uma dupla maneira de
provar a aplicação da profecia. Mas, sobretudo, o período das setenta semanas se
divide em três grandes partes. Uma destas, por sua vez, se subdivide e se indicam os
eventos intermediários que haveriam de assinalar o término de cada uma destas
divisões. Se pudermos achar uma data que se harmonize com todos estes eventos,
teremos indubitavelmente a verdadeira aplicação, pois nenhuma data senão a correta
poderia satisfazer e cumprir tantas condições.
Procure agora o leitor abarcar com um olhar os pontos de harmonia que se
possam estabelecer, a fim de estar melhor preparado para prevenir-se contra qualquer
aplicação falsa. Devemos achar, no início do período, uma ordem para restaurar e
edificar Jerusalém. Sete semanas deviam ser dedicadas a esta obra de restauração.
Quando chegamos ao fim desta primeira divisão, as sete semanas do início, devemos
achar Jerusalém restaurada em seu aspecto material e completamente terminada a obra
de edificação da praça e do muro. Deste ponto se medem sessenta e duas semanas.
Quando chegamos ao fim desta divisão, sessenta e nove semanas do início, vemos a
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 109
*
Os anos do reinado de Artaxerxes estão entre as datas históricas que se estabelecem com mais facilidade. O Cânon de
Ptolomeu, com sua lista de reis e de observações astronômicas, as Olimpíadas dos gregos e as alusões aos assuntos
persas na história grega são coisas que se combinam para determinar de modo definitivo o sétimo ano de Artaxerxes.
Ver Sir Isaac Newton, Observations Upon the Prophecies of Daniel, págs. 154-157. – Comissão Revisora.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 110
7 semanas ou 62 semanas ou 1
semana 1810 anos
49 anos 434 anos
ou
*
Abundam as provas históricas que autorizam a adoção do ano 27 de nossa era como a data do batismo de Cristo. Ver S.
Bliss, Sacred Chronology, pág. 180; New International Encyclopedia, art. Jesus Christ; Karl Wieseler, A Chronology
Synopsis of the Four Gospels, págs. 164-247.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 112
Daniel, que haviam de estender-se até o Messias o Príncipe. O Messias já tinha vindo
e com Seus próprios lábios anunciava o término daquele período que havia de ser
assinalado por Sua manifestação.
Lucas declara que Jesus "começava a ser de quase trinta anos" por ocasião de seu batismo
(Lucas 3:23); e quase imediatamente depois, Ele iniciou Seu ministério. Como, então, pôde Seu
ministério começar no ano 27 a. D. e Ele ainda ser da idade mencionada por Lucas? A resposta a
esta pergunta se encontra no fato de que Cristo nasceu entre três e quatro anos antes do início da
era cristã, ou seja, antes do ano assinalado como o primeiro de tal era. O erro de datar o início da
era cristã, de mais de três anos depois de atraso, em vez de datá-la do ano de Seu nascimento,
surgiu desta maneira: Uma das eras antigas mais importantes era contada a partir da fundação da
cidade de Roma “ab urbe condita”, expressa pela abreviação A. U. C., ou mais ainda assim, U. C.
No ano 532 a. D., Dionísio Exíguo, cita de nascimento e abade romano, que viveu no reinado de
Justiniano, inventou a era cristã. De acordo com os melhores dados de que dispunha, colocou o
nascimento de Cristo em 753 U. C. Mas Cristo nasceu antes da morte de Herodes e a morte de
Moisés ocorreu em abril, 750 U. C. Deduzindo-se alguns meses para os eventos relatados na vida
de Cristo antes da morte de Herodes, a data do Seu nascimento é levada para a última parte de
749 U. C., ou seja um pouco mais de três anos antes do ano 1 a.C. Cristo, pois, tinha 30 anos de
idade no ano 27 a. C.
“A era vulgar [comum] começou a vigorar no ocidente pela época de Carlos Martel e do Papa
Gregório II, em 730 d. C.; mas não foi sancionada por quaisquer atos ou escritos públicos até o
primeiro Sínodo Germânico, no tempo de Carlomano, duque dos francos, sínodo que no prefácio
se declara congregado no ‘Anno ab Incarnatione Dom. 742, II Calendas Maii’. Mas essa era não foi
estabelecida antes do tempo do Papa Eugênio IV, em 1431, que ordenou fosse seguida nos
registros públicos, segundo Mariana e outros." Guilherme Hales, A New Analysis of Chronology,
vol. I, pág. 84. (Veja-se também Samuel J. Andrews, Life o four Lord Upon the Earth, págs. 29, 30).
Quando se descobriu o erro, a era cristã se tornara tão bem estabelecida que não se intentou
corrigi-la. Não faz diferença alguma, visto que não afeta o cálculo das datas. Se a era se iniciasse
com o ano exato do nascimento de Cristo, contaria com quatro anos menos e a anterior a Cristo,
com quatro anos mais. Ilustrando: Se um período de vinte anos abrange dez antes da era cristã e
dez nela, dizemos que começou no ano 10 a. C. e terminou no ano 10 da era cristã. Mas se
colocamos o ponto de partida da era realmente no nascimento de Cristo, não mudará o término do
período. Este começará no ano 6 a. C. e chegará até 14 da era cristã. Quer dizer que quatro anos
serão tirados da época anterior a Cristo e se acrescentarão quatro anos ao corrente, para dar-nos o
verdadeiro ano da era cristã. Assim seria se o cálculo partisse da data real do nascimento de
Cristo. Mas tal não é o caso, pois o ponto de partida se situa três ou quatro anos mais tarde. –
Comisión Revisora.
dirigirem aos gentios. E estes são exatamente os eventos que se poderia esperar
ocorressem quando expirasse o período especificamente reservado para os judeus.
Pelos fatos expostos vemos que, contando-se as setenta semanas a partir do
decreto dado a Esdras no ano sétimo de Artaxerxes, em 457 a. C., existe perfeita
harmonia em toda a linha. Os acontecimentos importantes e definidos da manifestação
do Messias em Seu batismo, o início de Seu ministério público, a crucifixão, a rejeição
dos judeus e a pregação do evangelho aos gentios, com a proclamação da nova
aliança; todas essas coisas caem em seu lugar exato, e selam a profecia.
Fim dos 2.300 dias. Terminamos as setenta semanas, mas resta um período mais
longo e outros importantes acontecimentos que se hão de considerar. As setenta
semanas não são mais que os primeiros 490 anos dos 2.300. Subtraindo-se 490 anos de
2.300, restam 1.810. Como já vimos, esses 490 anos terminaram no outono de 34 d. C.
Se a essa data acrescentarmos agora os restantes 1.810 anos, chegaremos ao término
de todo o período. Assim, se do outono de 34 d.C. contarmos 1.810 anos, chegaremos
ao outono de 1844. Vemos, pois, com que celeridade e segurança encontramos a
terminação dos 2.300 dias, uma vez que situamos as setenta semanas.
Por que em 1844? Pode ser que alguém pergunte como podem estender-se os
dias até o outono de 1844 se eles se iniciaram em 457 a.C., pois somente são
necessários 1843 anos além dos 457, para formar o total de 2.300. Se prestarmos
atenção a um fato, toda dificuldade se esclarecerá: São necessários 457 anos completos
antes de Cristo, e 1843 anos completos depois, para perfazer 2.300. Assim, se o
período tivesse começado já no primeiro dia de 457 a.C, não terminaria até o último
dia de 1843. É evidente a todos que se alguma parte do ano 457 houvesse transcorrido
antes de se iniciarem os 2.300 dias, essa mesma parte do ano de 1844 deve transcorrer
antes que termine. Então perguntamos: De que ponto do ano 457 devemos começar a
contar? Pelo fato de que os primeiros quarenta e nove anos foram dedicados à
construção da praça e do muro, deduzimos que esse período deve ser contado, não do
momento em que Esdras saiu de Babilônia, mas do momento em que a obra realmente
se iniciou em Jerusalém. Não há probabilidade de se haver iniciado antes do sétimo
mês (outono) de 457, visto que Esdras não chegou a Jerusalém até o quinto mês do
ano. (Esdras 7:9). Portanto, o todo o período se há de estender até o sétimo mês do
calendário judaico, ou seja, o outono de 1844.
A portentosa declaração do anjo a Daniel: "Até duas mil e trezentas tardes e
manhãs, e o santuário será purificado" agora fica explicada. Ao buscarmos o que
significava o santuário e sua purificação, como também a aplicação do período,
verificamos não só que esse assunto pode ser facilmente compreendido, mas que o
acontecimento está agora mesmo em pleno cumprimento. Aqui nos detemos por um
breve momento para refletir sobre a solene situação em que nos encontramos.
Vimos que o santuário da era cristã é o tabernáculo de Deus no Céu, a casa não
feita por mãos, onde o Senhor ministra em favor de pecadores penitentes, o lugar onde
entre o grande Deus e Seu Filho Jesus Cristo prevalece o "conselho de paz" na obra de
salvação dos homens que perecem. (Zac. 6:13; Sal. 85:10). Vimos que a purificação
do santuário consiste na remoção dos pecados ali anotados e é o ato final do ministério
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 115
que ali se realiza; que a obra de salvação se centraliza agora no santuário celestial; e
que quando o santuário estiver purificado, a obra terá terminado. Então terá chegado
ao seu fim o grande plano da salvação ideado quando o homem caiu. A misericórdia
não mais intercederá, e se ouvirá a grande voz do trono que está no templo do Céu e
que dirá: "Está feito." (Apocalipse 16:17). Que sucederá então? Todos os justos terão
o dom da vida eterna; todos os ímpios estarão condenados à morte eterna. Já nenhuma
decisão poderá ser mudada, nenhuma recompensa poderá perder-se e nenhum destino
de desespero poderá alterar-se.
A solene hora do juízo. Vimos (que é o que nos faz sentir a solenidade do juízo
que está às nossas portas) que esse longo período profético, que assinalaria o início
desta obra final no santuário celeste, terminou. Seus dias findaram em 1844. Desde
aquela data a obra final em prol da salvação do homem tem sido levada a cabo. Ela
inclui o exame do caráter de cada ser humano, pois consiste na remissão dos pecados
dos que forem achados dignos de obter-lhes a remissão e determina quem dentre os
mortos são dignos de ressuscitar. Também decide quem dentre os vivos serão
transformados quando ver o Senhor, e quais tanto dos vivos e dos mortos serão
deixado para participar nas terríveis cenas da segunda morte. Todos podem ver que tal
decisão deve ser tomada antes que o Senhor apareça.
O destino de cada um ficará determinado pelo que tiver feito no corpo, e cada um
será recompensado conforme suas obras. (2 Cor. 5:10; Apoc. 22:12). Nos livros de
registro dos escribas celestiais, encontram-se anotadas as ações de cada ser humano
(Apoc. 20:12). Na obra final do levada a cabo no santuário esses registros são
examinados e as decisões são tomadas de acordo com o que se encontra ali (Dan. 7:9,
10). É natural supor que o juízo começou com os primeiros membros da família
humana, que seus casos foram examinados primeiro e uma decisão tomada a esse
respeito, e assim sucessivamente com todos os mortos, geração após geração, em
sucessão cronológica, até chegarmos à última, a geração dos vivos, com cujos casos a
obra terminará.
Ninguém pode saber quanto tempo levará para examinar os casos de todos os
mortos, quão breve a obra chegará ao caso dos vivos. Esta obra solene está sendo
realizando desde 1844. As figuras e a própria natureza da obra nos permitem perceber
que não podem durar muito. João, em suas sublimes visões das cenas celestiais, viu
milhões de assistentes empenhados com nosso Senhor em Sua obra sacerdotal.
(Apocalipse 5). Assim prossegue o ministério. Não cessa nem demora e logo há de
terminar para sempre.
Aqui nos encontramos, pois, diante da última crise da história da família humana,
que é também a maior, a mais solene, e iminente. O plano da salvação está por
terminar. Os últimos preciosos anos de graça quase terminaram. O Senhor está para vir
salvar os que estiverem prontos, aguardando-O, e para exterminar os indiferentes e
incrédulos. Mas ai! que diremos do mundo? Seduzidos pelo erro, enlouquecidos pelos
cuidados de negócios, enlouquecidos pelos prazeres e paralisados pelos vícios, seus
habitantes não têm um momento para ouvir a solene verdade nem para pensar em seus
interesses eternos. Que os filhos de Deus, que pensam na eternidade, procurem com
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 116
Versículo 1 – No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, foi revelada uma palavra a Daniel, cujo
nome é Beltessazar; a palavra era verdadeira e envolvia grande conflito; ele entendeu a palavra e
teve a inteligência da visão.
Versículos 2, 3 – Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável
não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que
passaram as três semanas inteiras.
primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender." (v. 12). Havia, pois, ainda
alguma coisa que Daniel não entendia. Que era? Indubitavelmente alguma parte da
visão anterior, a de Daniel 9 e portanto de Daniel 8, já que o capítulo 9 é explicação
do anterior. Como resultado de sua súplica, recebe agora informação mais detalhada
acerca dos acontecimentos incluídos nos grandes esboços de suas visões anteriores.
A aflição do profeta acompanhava-se de jejum, que não era abstinência completa,
mas consistia em consumir só os alimentos mais simples. Não comeu “manjar
desejável”, nem finas iguarias; não comeu carne nem tomou vinho; não ungiu a
cabeça, o que para os judeus era sinal de jejum. Não sabemos quanto tempo ele teria
continuado jejuando se sua oração não tivesse recebido resposta; mas o fato de
continuar por três semanas inteiras nesse proceder demonstra que não era pessoa para
cessar suas súplicas antes de receber o que pedia.
Versículos 4-9 – No dia vinte e quatro do primeiro mês, estando eu à borda do grande rio
Tigre, levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos
de ouro puro de Ufaz; o seu corpo era como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus
olhos, como tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz
das suas palavras era como o estrondo de muita gente. Só eu, Daniel, tive aquela visão; os
homens que estavam comigo nada viram; não obstante, caiu sobre eles grande temor, e fugiram e
se esconderam. Fiquei, pois, eu só e contemplei esta grande visão, e não restou força em mim; o
meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma. Contudo, ouvi a voz das suas
palavras; e, ouvindo-a, caí sem sentidos, rosto em terra.
Versículos 10-12 – Eis que certa mão me tocou, sacudiu-me e me pôs sobre os meus
joelhos e as palmas das minhas mãos. Ele me disse: Daniel, homem muito amado, está
atento às palavras que te vou dizer; levanta-te sobre os pés, porque eis que te sou
enviado. Ao falar ele comigo esta palavra, eu me pus em pé, tremendo. Então, me disse:
Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a
compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por
causa das tuas palavras, é que eu vim.
Gabriel anima a Daniel. Tendo Daniel caído ante a majestosa aparição de Cristo,
o anjo Gabriel, que é obviamente de quem se fala nos vv. 11-13, colocou a mão sobre
ele para dar-lhe segurança e confiança. Disse a Daniel que este era homem muito
amado. Admirável declaração! Um membro da família humana, de nossa mesma raça,
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 118
amado, não simplesmente no sentido geral em que Deus amou o mundo inteiro quando
deu Seu Filho para morrer pela humanidade, mas amado como pessoa e amado de tão
grandiosa maneira! Tal declaração bem pôde infundir confiança ao profeta. Ademais,
o anjo lhe diz que veio com o propósito de conversar com ele, e deseja pôr-lhe o
ânimo em condições de entender suas palavras. Assim alentado, o santo e amado
profeta continuava a tremer diante do anjo.
"Não temas, Daniel", continua dizendo Gabriel. Não tinha motivo de temor
diante dele, embora um ser celestial, pois lhe fora enviado por ser ele muito amado e
em resposta à sua fervorosa oração. Nenhum dos filhos de Deus, qualquer que seja a
época que pertença, deve sentir temor servil de qualquer desses agentes enviados para
ajudá-lo a alcançar a salvação. Há, entretanto, muitas pessoas que tendem a considerar
Jesus e seus anjos como severos ministros de justiça, em vez de seres que trabalham
ardentemente por nossa salvação. A presença de um anjo, caso aparecesse
corporalmente a eles, lhes encheria de terror e o pensamento de que Cristo logo virá os
entristece e os alarma. Recomendamos a tais pessoas que tenham um pouco mais do
perfeito amor que lança fora todo temor.
Versículo 13 – Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém
Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.
Gabriel resistido pelo rei da Pérsia. Quantas vezes as orações dos filhos de Deus
são ouvidas embora não haja resposta aparente! Assim foi no caso de Daniel. O anjo
lhe diz que desde o primeiro dia em que ele aplicou seu coração a entender, suas
palavras foram ouvidas. Mas Daniel continuou afligindo sua alma com jejum e lutando
com Deus por três semanas, sem ter noção de que sua petição fora atendida. Mas qual
a razão da demora? O rei da Pérsia resistiu ao anjo. A resposta à oração de Daniel
envolvia certa ação da parte do rei. Ele devia ser influenciado a praticar tal ação. Sem
dúvida era a obra que ele devia fazer, e já tinha começado, em favor do templo de
Jerusalém e dos judeus, sendo seu decreto para a construção desse templo era o
primeiro de uma série que finalmente constituiu aquela ordem notável de restaurar e
reedificar Jerusalém, cuja expedição devia marcar o início do grande período profético
de 2.300 dias. O anjo foi enviado para influenciá-lo a prosseguir de acordo com a
vontade divina.
Quão pouco percebemos do que se passa no mundo invisível com relação aos
negócios humanos! Aqui a cortina é erguida por um momento e captamos um
vislumbre dos movimentos interiores. Daniel ora. O Criador do Universo ouve. Dá a
Gabriel a ordem para ir ajudá-lo. Mas o rei da Pérsia deve agir antes de a oração de
Daniel ser respondida e o anjo se apressa a ir ter com o rei da Pérsia. Indubitavelmente
Satanás reúne suas forças para se lhe opor. Eles se encontram no palácio real da
Pérsia. Todos os motivos de interesse egoísta e política mundana que Satanás pode
utilizar, sem dúvida ele emprega vantajosamente para influenciar o rei para não
cumprir a vontade de Deus, enquanto Gabriel exerce sua influência na direção oposta.
O rei luta entre emoções conflitantes. Vacila e demora. Passa dia após dia, e Daniel
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 119
Versículo 14 – Agora, vim para fazer-te entender o que há de suceder ao teu povo nos
últimos dias; porque a visão se refere a dias ainda distantes.
Versículos 15-17 – Ao falar ele comigo estas palavras, dirigi o olhar para a terra e
calei. E eis que uma como semelhança dos filhos dos homens me tocou os lábios; então,
passei a falar e disse àquele que estava diante de mim: meu senhor, por causa da visão
me sobrevieram dores, e não me ficou força alguma. Como, pois, pode o servo do meu
senhor falar com o meu senhor? Porque, quanto a mim, não me resta já força alguma, nem
fôlego ficou em mim.
Uma das mais notáveis características manifestadas por Daniel era a terna
solicitude que ele sentia por seu povo. Tendo agora chegado a compreender
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 120
O FUTURO DESDOBRADO
Daniel 11
Versículos 3, 4 – Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio e
fará o que lhe aprouver. Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos
do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque
o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes.
Xerxes foi o último rei da Pérsia que invadiu a Grécia; de modo que a profecia
passa por alto nove príncipes menores para introduzir o “rei poderoso”, Alexandre, o
Grande.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 122
Versículo 5 – O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este será mais
forte do que ele, e reinará, e será grande o seu domínio.
O rei do sul. No restante deste capítulo o rei do norte e o rei do sul são muitas
vezes mencionados. Portanto, é essencial identificar claramente estas potências para
poder compreender a profecia. Quando o império de Alexandre foi dividido, as
diferentes partes se estendiam para os quatro ventos do céu: ao norte, ao sul, a leste e a
oeste. Estas divisões tinham especialmente estas direções quando observadas da
Palestina, a parte central do império. A divisão ficava a oeste da Palestina constituiria
o reino do ocidente; a que ficava ao norte, o reino do norte; a que ficava a leste, o
reino do oriente; e a que ficava ao sul, o reino do sul.
Durante as guerras e revoluções que se sucederam através dos séculos, estes
limites geográficos foram freqüentemente apagados e se instituíram novos. Mas
quaisquer que fossem as mudanças efetuadas, estas primeiras divisões do império
devem determinar os nomes que desde então estas porções do território deveriam
sempre levar posteriormente, ou não teremos norma pela qual testar a aplicação da
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 123
profecia. Em outras palavras, qualquer que seja a potência que em qualquer tempo
ocupasse o território que a princípio constituía o reino do norte, essa potência, tão logo
ocupasse esse território, seria o rei do norte. Qualquer potência que ocupasse o que a
princípio constituía o reino do sul, essa potência seria enquanto isso o rei do sul.
Falamos só destes dois, porque são os únicos mencionados depois na profecia, e
porque, de fato, todo o império de Alexandre finalmente se resolveu nestas duas
divisões.
Os sucessores de Cassandro foram logo vencidos por Lisímaco; e seu reino, que
compreendia a Grécia e a Macedônia, ficou anexados à Trácia. Lisímaco foi, por sua
vez, vencido por Seleuco, e a Macedônia e a Trácia anexadas à Síria.
Estes fatos preparam o caminho para interpretar o texto que agora estudamos. O
rei do sul, o Egito, seria forte. Ptolomeu Sotero anexou Chipre, Fenícia, Caria, Cirene
e muitas ilhas e cidades ao Egito. Assim seu reino se tornou forte. Mas a expressão
"um de seus príncipes" introduz outro dos príncipes de Alexandre. Isto deve referir-se
a Seleuco Nicator, que, como já foi declarado, tendo anexado a Macedônia e a Trácia
à Síria, tornou-se possuidor três das quatro partes do domínio de Alexandre e
estabeleceu um reino mais poderoso que o do Egito.
Versículo 6 – Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do
Sul casará com o rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a
força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e
bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos.
trouxe", a saber, seu filho, que foi assassinado ao mesmo tempo por ordem de
Laodice. "E o que a fortalecia naqueles tempos" (Almeida RC), refere-se claramente a
seu esposo e aos que a defenderam.
Este reino saído da mesma linhagem com Berenice, foi seu irmão, Ptolomeu
Evergetes. Sucedeu seu pai no trono do Egito, e tão logo se instalou, ardendo de
vingança pela morte de sua irmã Berenice, reuniu um imenso exército e invadiu o
território do rei do norte, ou seja, de Seleuco Calínico que, com sua mãe, Laodice,
reinava na Síria. Prevaleceu contra ele aponto de conquistar a Síria, Cilícia, as regiões
mais além do Eufrates e para o leste até Babilônia. Mas ao saber que se levantou no
Egito uma sedição, exigindo sua volta, saqueou o reino de Seleuco, tomando 40.000
talentos de prata e 2.500 imagens dos deuses. Entre elas estavam as imagens que
Cambises havia anteriormente levado do Egito a Pérsia. Os egípcios, inteiramente
entregues à idolatria, concederam a Ptolomeu o título de Evergetes, ou o Benfeitor,
como agradecimento por ele ter devolvido seus deuses que estiveram tantos anos
cativos.
“Ainda temos escritos que confirmam vários desses detalhes – diz Tomás Newton. –
Apiano informa-nos que Laodice, tendo mandado matar Antíoco, e depois dele a Berenice
e seu filho, Ptolomeu, o filho de Filadelfo, para vingar esses homicídios, invadiu a Síria,
matou Laodice e prosseguiu até Babilônia. De Políbio sabemos que Ptolomeu, de
sobrenome Evergetes, enfurecido pelo tratamento recebido por sua irmã Berenice, entrou
na Síria com um exército e tomou a cidade de Selêucia, que foi mantida alguns anos pelas
guarnições dos reis do Egito. Assim ele entrou ‘nas fortalezas do rei do Norte’ [Dan. 11:7,
Almeida RC]. Poliênio afirma que Ptolomeu se fez dono de toda a região desde o Monte
Tauro até a Índia, sem guerra ou batalha, mas por engano ele atribui isso ao pai em vez de
ao filho. Justino afirma que se Ptolomeu não tivesse sido chamado de volta ao Egito por
uma sedição interna, teria possuído todo o reino de Seleuco. Assim o rei do sul entrou no
reino do norte e voltou à sua própria terra. E ele também continuou mais anos que o rei do
norte, pois Seleuco Calínico morreu no exílio, de uma queda de cavalo. Ptolomeu
Evergetes sobreviveu por quatro ou cinco anos.” (Tomás Newton, Dissertations on the
Prophecies, vol. 1, págs. 345, 346).
Versículo 10 – Os seus filhos farão guerra e reunirão numerosas forças; um deles virá
apressadamente, arrasará tudo e passará adiante; e, voltando à guerra, a levará até à fortaleza do
rei do Sul.
A primeira parte do versículo fala dos filhos, no plural; a última parte de um, no
singular. Os filhos de Seleuco Calínico foram Seleuco Cerauno e Antíoco Magno.
Ambos entraram com zelo na obra de vindicar e vingar a causa de seu pai e seu país. O
mais velho destes, Seleuco, ocupou primeiro o trono. Ele reuniu uma grande multidão
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 125
para recuperar os domínios de seu pai, mas foi envenenado por seus generais após um
curto e inglório reinado. Seu irmão, Antíoco Magno, mais capaz que ele, foi então
proclamado rei. Assumiu o encargo do exército, retomou a Selêucia e recuperou a
Síria, tornando-se senhor de alguns lugares por tratado e de outros pela força das
armas. Antíoco venceu na batalha a Nicolau, o general egípcio, e pensava invadir o
próprio Egito. Mas houve uma trégua durante a qual ambos os lados negociaram a paz,
embora preparando-se para a guerra. Trata-se certamente de um filho que cumpriu a
declaração: “arrasará tudo e passará adiante”.
Versículo 11 – Então, este se exasperará, sairá e pelejará contra ele, contra o rei do Norte;
este porá em campo grande multidão, mas a sua multidão será entregue nas mãos daquele.
Conflito entre o norte e o sul. Ptolomeu Filopater sucedeu seu pai Evergetes
como rei do Egito, e recebeu a coroa pouco depois que Antíoco Magno sucedera seu
irmão no governo da Síria. Foi um príncipe amante do luxo e do vício, mas finalmente
despertou ante a perspectiva de uma invasão do Egito por Antíoco. Enfureceu-se pelas
perdas que havia sofrido e o perigo que o ameaçava. Reuniu um exército numeroso
para impedir o avanço do rei sírio. O rei do norte também poria “em campo grande
multidão”. O exército de Antíoco, segundo Políbio, contava com 62.000 infantes,
6.000 ginetes e 102 elefantes. Neste conflito, a batalha de Ráfia, Antíoco foi
derrotado, com quase 14.000 soldados mortos e 4.000 feitos prisioneiros, e seu
exército foi entregue nas mãos do rei do sul, em cumprimento da profecia.
Versículo 12 – A multidão será levada, e o coração dele se exaltará; ele derribará miríades,
porém não prevalecerá.
Ptolomeu não soube aproveitar sua vitória. Tivesse ele prosseguido em seu êxito,
provavelmente se teria tornado senhor de todo o reino de Antíoco. Mas satisfeito por
fazer algumas ameaças, fez a paz para que pudesse entregar-se de novo à
descontrolada satisfação de suas paixões brutais. Assim, tendo vencido seus inimigos,
foi vencido por seus vícios e, esquecido do grande nome que poderia ter conseguido,
passou seu tempo em banquetes e sensualidade.
O coração de Ptolomeu se elevou por seu êxito, mas ele estava longe de ser
fortalecido por isso, pois o uso infame que fez da vitória deu motivo a uma rebelião de
seus próprios súditos contra ele. Mas a exaltação de seu coração manifestou-se
especialmente em seu trato com os judeus. Chegando a Jerusalém, ofereceu sacrifícios
e quis entrar no lugar santíssimo do templo, contrariando a lei e a religião dos judeus.
Ao ser contido, embora com grande dificuldade, abandonou o lugar ardendo em ira
contra toda a nação dos judeus e imediatamente começou contra eles uma perseguição
implacável. Em Alexandria, onde os judeus tinham residido desde os dias de
Alexandre e desfrutado privilégios dos mais favorecidos cidadãos, forma mortos
40.000 segundo Eusébio, ou 60.000 segundo Jerônimo. A rebelião dos egípcios e a
matança dos judeus certamente não o fortaleceram em seu trono, mas antes
contribuíram para arruiná-lo.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 126
Versículo 13 – Porque o rei do Norte tornará, e porá em campo multidão maior do que a
primeira, e, ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exército e abundantes
provisões.
Os eventos preditos neste versículo deviam ocorrer "ao cabo anos". A paz
concluída entre Ptolomeu Filopater e Antíoco Magno durou catorze anos. Enquanto
isso Ptolomeu morreu de intemperança e orgia, e o sucedeu seu filho, Ptolomeu
Epifanes, que tinha então cinco anos. Antíoco, durante esse tempo, suprimiu a rebelião
em seu reino e reduziu à obediência as províncias orientais. Ficou, pois, livre para
qualquer empresa, quando o jovem Epifanes subiu ao trono do Egito. Pensando que
esta oportunidade era demasiado para deixá-la escapar, formou um imenso exército
"maior que o primeiro" e se pôs em marcha contra o Egito, na esperança de alcançar
fácil vitória sobre o rei infante.
Versículo 14 – Naqueles tempos, se levantarão muitos contra o rei do Sul; também os dados
à violência dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a profecia, mas cairão.
Antíoco Magno não foi o único que se levantou contra o infante Ptolomeu.
Agatocles, seu primeiro ministro, que se havia apoderado da pessoa do rei e conduzia
os negócios do reino em seu lugar, foi tão dissoluto e orgulhoso no exercício do poder,
que as províncias antes sujeitas ao Egito rebelaram-se. O próprio Egito foi perturbado
por sedições, e os alexandrinos, levantando-se contra Agatocles, deram morte a ele,
sua irmã, sua mãe e associados. Ao mesmo tempo Filipe da Macedônia, entrou em
aliança com Antíoco para dividir os domínios de Ptolomeu entre eles, cada um
propondo-se a tomar as partes que estivessem mais próximas e lhes fossem mais
convenientes. Tudo isso constituía um levante contra o rei do sul suficiente para
cumprir a profecia, e teve como resultado, sem dúvida, os eventos precisos que a
profecia anunciava.
Mas um novo poder é agora introduzido: "os dados à violência dentre o teu
povo", literalmente, diz Tomás Newton, "os quebrantadores do teu povo".
(Dissertations on the Prophecies, vol. 1, pág. 352). Longe, às margens do Tibre, havia
um reino que vinha nutrindo ambiciosos projetos e obscuros desígnios. Pequeno e
fraco a princípio, cresceu com admirável rapidez em força e vigor, entendendo-se
cautelosamente aqui e ali para tentar sua proeza e testar o vigor de seu braço belicoso,
até que, consciente de seu poder, ergueu com audácia a cabeça entre as nações da
Terra, e com mão invencível tomou a direção dos negócios mundiais. Desde então o
nome de Roma se destaca nas páginas da história, pois está destinado a dominar o
mundo por longos anos e exercer poderosa influência entre as nações, mesmo até o
fim do tempo, de acordo com as profecias.
Roma falou, e a Síria e a Macedônia logo perceberam que seu sonho mudava de
aspecto. Os romanos interferiram em favor do jovem rei do Egito, determinados que
ele fosse protegido da ruína ideada por Antíoco e Filipe. Era o ano 200 a. C., e foi uma
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 127
das primeiras intervenções importantes dos romanos nos negócios da Síria e do Egito.
Rollin dá u seguinte relato sucinto desta questão:
"Antíoco, rei da Síria, e Filipe, rei da Macedônia, durante o reino de Ptolomeu
Filopater haviam mostrado o mais forte zelo pelos interesses daquele monarca e estavam
dispostos a ajudá-lo em todas as ocasiões. Mas, assim que ele morreu, deixando após si
um infante, que as leis de humanidade e justiça os comprometiam a não conturbar na
posse do reino de seu pai, imediatamente se uniram em aliança criminosa e se excitaram a
eliminar o herdeiro legal e dividir seus domínios. Filipe teria a Caria, a Líbia, a Cirenaica e
o Egito; Antíoco, todo o resto. Com isto em vista, o último entrou na Celesíria e Palestina, e
em menos de duas campanhas fez a conquista inteira dessas províncias, com todas as
suas cidades e dependências. A culpa de ambos, diz Políbio, não teria sido tão flagrante
se, como tiranos, tivessem se esforçado para cobrir seus crimes com alguma desculpa
capciosa. Mas, longe de fazer isso, sua injustiça e crueldade foram tão descaradas que a
ele se aplicam o que geralmente se diz dos peixes, que, embora da mesma espécie, o
maior engole o menor. Alguém seria tentado, prossegue o mesmo autor, ao ver as leis da
sociedade, tão abertamente violadas, a acusar abertamente a Providência de ser
indiferente e insensível aos crimes mais horrendos. Mas isso justificou plenamente sua
conduta ao punir dois reis como mereciam; e fez tal exemplo deles para impedir outros de
seguir tal exemplo em todos os séculos sucessivos. Porque enquanto pensavam no
despojo de um fraco e desamparado infante, fazendo seu reino aos pedaços, a
Providência suscitou os romanos contra eles, que subverteram os reinos de Filipe e
Antíoco e reduziram seus sucessores a quase tão grandes calamidades como as que
pretenderam esmagar o rei infante." (Carlos Rollin, Ancient History, vol. 5, págs. 305, 306).
A educação do jovem rei do Egito foi confiada pelo senado romano a Marcos
Emílio Lépido, que nomeou como seu tutor a Aristomenes, velho e experiente
ministro daquela corte. Seu primeiro ato foi tomar medidas contra a ameaça da
invasão dos dois reis confederados, Filipe e Antíoco.
Para este fim ele despachou Scopas, famoso general da Etólia, então a serviço
dos egípcios, a seu país natal para levantar reforços armados. Tendo equipado um
exército, marchou para a Palestina e Celesíria (pois Antíoco estava empenhado numa
guerra com Átalo na Ásia Menor) e submeteu toda a Judéia à autoridade do Egito.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 128
Versículo 16 – O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá
resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos.
Roma conquista a Síria e Palestina. Embora o Egito não pudesse resistir diante
de Antíoco Magno, o rei do norte, Antíoco Asiático não pôde resistir aos romanos, que
vieram contra ele. Nenhum reino podia resistir ao poder nascente. A Síria foi
conquistada e acrescentada ao império romano, quando Pompeu, em 65 a. C., privou
Antíoco Asiático de suas possessões e reduziu a Síria a uma província romana.
A mesma potência também se destacaria na Terra Santa e a consumiria. Os
romanos se relacionaram com o povo de Deus, os judeus, por aliança, em 161 a. C.
Desde então Roma ocupou lugar de realce no calendário profético. Contudo, não
adquiriu jurisdição sobre a Judéia por real conquista até o ano 63 a. C.
Na volta de Pompeu de sua expedição contra Mitrídates Eupator, rei do Ponto,
dois concorrentes, Hircano e Aristóbulo, lutavam pela coroa da Judéia. Sua causa foi
apresentada a Pompeu, que logo percebeu a injustiça das pretensões de Aristóbulo,
mas desejava protelar a decisão do assunto para depois de sua há muito desejada
expedição à Arábia. Prometeu então voltar e estabelecer seus negócios da maneira
mais justa e adequada. Aristóbulo, sondando os reais sentimentos de Pompeu, voltou
depressa à Galiléia, armou seus súditos e preparou-se para uma vigorosa defesa,
determinado a manter a coroa a qualquer custo, que ele previu seria adjudicada a
outro. Depois de sua campanha contra o rei Aretas, Pompeu soube dos preparativos
bélicos e marchou contra a Judéia. Quando ele se aproximou de Jerusalém, Aristóbulo
começou a arrepender-se de seu procedimento e procurou acomodar os negócios,
prometendo inteira submissão e grandes somas de dinheiro. Pompeu aceitou esta
oferta e mandou Gabino com um destacamento de soldados para receber o dinheiro.
Mas quando o lugar-tenente chegou a Jerusalém, encontrou as portas fechadas e foi-
lhe dito do alto das muralhas que a cidade não manteria o acordo.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 129
Pompeu, para não ser enganado assim com impunidade, aprisionou Aristóbulo e
imediatamente marchou contra Jerusalém com todo o seu exército. Os partidários de
Aristóbulo queriam defender o lugar; os de Hircano preferiam abrir as portas. Sendo
estes a maioria, prevaleceram, e a Pompeu foi dada livre entrada na cidade. Nisso os
adeptos de Aristóbulo retiraram-se para os montes do templo, tão plenamente
determinados a defender esse lugar que Pompeu se viu obrigado a sitiá-lo. Ao fim de
três meses foi feita no muro uma brecha suficiente para um assalto e o lugar foi
tomado ao fio da espada. Na terrível matança que se seguiu, 12.000 pessoas foram
mortas. Era um espetáculo impressionante, observa o historiador, ver os sacerdotes, na
ocasião empenhados no serviço divino, com mão calma e firme propósito de
prosseguir em sua obra costumeira, aparentemente inconscientes do selvagem tumulto,
embora seu próprio sangue estivesse sendo misturado com o dos sacrifícios que
ofereciam.
Tendo posto fim à guerra, Pompeu demoliu os muros de Jerusalém, transferiu
várias cidades da jurisdição da Judéia para a Síria e impôs tributo aos judeus. Assim,
pela primeira vez Jerusalém foi colocada mediante conquista nas mãos daquela
potência que havia de manter a "terra gloriosa" em suas garras de ferro até que a
houvesse consumido.
Versículo 17 – Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele, e
lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será
para a sua vantagem.
Cleópatra tornaram-se mutuamente hostis, visto que ela ficou privada de sua parte no
governo.
Crescendo diariamente as dificuldades, César achou sua pequena força
insuficiente para manter sua posição e, não podendo sair do Egito por causa do vento
norte que soprava naquela estação, mandou vir da Ásia todas as tropas que ele tinha
naquela região.
Júlio César decretou que Ptolomeu e Cleópatra desobrigassem seus exércitos,
comparecessem diante dele para liquidar suas diferenças e acatarem sua decisão!
Sendo o Egito um reino independente, este decreto foi considerado uma afronta à sua
dignidade real, e os egípcios enfurecidos, recorreram às armas. César respondeu que
agia autorizado pelo testamento do pai dos príncipes, Ptolomeu Auletes, que colocava
seus filhos sob a tutela do senado e povo de Roma.
A questão foi finalmente apresentada diante dele, e advogados foram nomeados
para defender a causa das respectivas partes. Cleópatra, conhecendo o ponto fraco do
grande general romano, decidiu comparecer perante ele em pessoa. Para chegar à
presença dele sem ser vista, ela recorreu à seguinte estratagema: Deitou-se de corpo
inteiro numa trouxa de roupas dentro da qual a embrulhou Apolodoro, seu servo
siciliano; e depois de atar o fardo com uma tenaz, ergueu-a em seus hercúleos ombros
e se dirigiu ao alojamento de César. Alegando ter um presente para o general romano,
foi admitido à presença de César e depositou o fardo a seus pés. Quando César desatou
essa trouxa animada, eis que a bela Cleópatra se pôs diante dele.
Quanto a este incidente, diz F. E. Adcock:
“Cleópatra tinha direito de ser ouvida se César fosse o juiz, e buscou chegar à cidade
e encontrar um barqueiro que a levasse até ele. Veio, viu e venceu. Às dificuldades
militares que havia para retirar-se ante o exército egípcio, acrescentou-se o fato de que
César já não queria ir. Tinha mais de 50 anos, mas conservava uma susceptibilidade
imperiosa que evocava a admiração de seus soldados. Cleópatra tinha 22 anos, era tão
ambiciosa e de tão elevada têmpera como o próprio César, e resultou ser uma mulher a
qual podia compreender, admirar e amar.” (The Cambridge Ancient History, vol. 9, pág.
670).
Uma batalha decisiva foi travada perto do Nilo, entre as frotas do Egito e de
Roma, resultando uma completa vitória de César. Ptolomeu, tentando escapar, se
afogou no rio. Alexandria e todo o Egito se submeteram ao vencedor. Roma tinha
entrado agora em todo o reino original de Alexandre e o havia absorvido.
A referência que em algumas versões faz aqui aos "justos", significa sem dúvida
os judeus, que deram a Júlio César a ajuda já mencionada. Sem isso ele teria
fracassado; graças a ela, subjugou completamente o Egito no ano 47 a. C.
"Uma filha das mulheres, para a corromper" (Almeida RC) foi Cleópatra, que
tinha sido a querida de César, e lhe dera um filho. O feitiço da rainha o manteve mais
tempo no Egito do que seus negócios requeriam. Passava noites inteiras em banquetes
e orgias com a rainha dissoluta. "Mas ela não subsistirá, nem será para ele" (Almeida
RC), dissera o profeta. Cleópatra uniu-se depois a Antônio, o inimigo de César
Augusto, e exerceu todo o seu poder contra Roma.
Versículo 18 – Depois, se voltará para as terras do mar e tomará muitas; mas um príncipe
fará cessar-lhe o opróbrio e ainda fará recair este opróbrio sobre aquele.
A guerra que sustentaria na Síria e Ásia Menor contra Farnaces, rei do Bósforo
Cimeriano, expulsou Júlio César do Egito. "Na sua chegada onde estava o inimigo",
diz Prideaux, "sem dar qualquer sossego a si mesmo ou a eles, imediatamente os
atacou e obteve absoluta vitória sobre eles. Por causa disso escreveu a um amigo
nestas três palavras: Veni, vidi, vici! (Vim, vi e venci".) – Humphrey Prideaux, The
Old Testament Connected in the History of the Jews, vol. 2, pág. 312.
A última parte deste versículo está envolta em certa obscuridade e há divergência
de opinião quanto à sua aplicação. Alguns a aplicam a um momento anterior da vida
de César, e pensam ver seu cumprimento em sua disputa com Pompeu. Mas outros
eventos anteriores e posteriores na profecia nos compelem a buscar o cumprimento
desta parte da predição entre a vitória sobre Farnaces e a morte de César em Roma,
como apresentada no versículo seguinte.
Versículo 19 – Então, voltará para as fortalezas da sua própria terra; mas tropeçará, e cairá, e
não será achado.
Versículo 20 – Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um que fará passar um exator pela terra
mais gloriosa do seu reino; mas, em poucos dias, será destruído, e isto sem ira nem batalha.
Aparece Augusto, o exator. Otávio sucedeu a seu tio Júlio que o havia adotado.
Anunciou publicamente esta adoção pelo tio e tomou seu nome. Uniu-se com Marco
Antônio e Lépido para vingar a morte de Júlio César. Os três organizaram uma forma
de governo chamado triunvirato. Ao Otávio ser estabelecido firmemente no império, o
senado conferiu-lhe o título de “Augusto”, e tendo agora morto os outros membros do
triunvirato, ele se tornou supremo governante.
Foi na verdade um exator. Lucas, falando do que aconteceu no tempo em que
Cristo nasceu, diz: "E sucedeu naqueles dias, que saiu um decreto da parte de César
Augusto ordenando que todo mundo se alistasse." Lucas 2:1. Era evidentemente para a
cobrança de impostos, como indicam certas versões. Durante o reinado de Augusto,
“impuseram-se novas contribuições; uma quarta parte da renda anual de todos os
cidadãos e um tributo capital de um oitavo de todos os livres.” (The Cambridge
Ancient History, vol. 9, pág. 738).
Estava "na glória do reino". Roma chegou ao pináculo de sua grandeza e poder
durante a era de Augusto. O império jamais viu uma era mais esplendorosa. Reinava a
paz, mantinha-se a justiça, freava-se o luxo, confirmava-se a disciplina e se
incentivava o ensino. Durante seu reino, o templo de Janus foi fechado três vezes,
significando que todo o mundo estava em paz. Desde a fundação do Império Romano
esse templo havia sido fechado só duas vezes antes. Nesse momento auspicioso nosso
Senhor nasceu em Belém de Judéia. Em pouco menos de dezoito anos depois de
apresentado o censo mencionado, quer dizer apenas "poucos dias" ao distante olhar do
profeta, Augusto morreu, não em ira nem em batalha, mas pacificamente em seu leito,
em Nola, aonde ele fora buscar repouso e saúde, em 14 d. C., aos 76 anos de idade.
Versículo 21 – Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a
dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas.
Dissimulação de sua parte, lisonja da parte do senado servil e uma posse do reino
sem oposição – tais foram as circunstâncias que acompanharam sua ascensão ao trono
e cumpriram a profecia.
O personagem apresentado no texto é chamado "um homem vil". Foi esse o
caráter de Tibério? Outro parágrafo da Enciclopédia responde:
"Tácito registra os eventos de seu reinado, inclusive a suspeita morte de Germânico,
a detestável administração de Sejano, o envenenamento de Druso, com toda a
extraordinária mistura de tirania com a sabedoria e bom senso que ocasionalmente
distinguiram a conduta de Tibério, até seu infame e dissoluto afastamento (26 d.C.) para a
ilha de Capri, na baía de Nápoles, para não mais voltar a Roma. . . . O restante do reinado
deste tirano é pouco mais que uma enfadonha narrativa de servilismo por um lado e de
despótica ferocidade por outro. Que ele mesmo suportou tanta miséria quanto infligiu a
outros, é evidente pelo seguinte início de uma de suas cartas ao senado: ‘O que vos
escreverei, pais conscritos, ou o que não escreverei, ou por que devia escrevê-lo, que os
deuses e as deusas me castiguem mais do que eu sinto diariamente que eles estão
fazendo, se posso dizer!’ ‘Que tortura mental’, observa Tácito, com referência a esta
passagem, ‘que pôde arrancar tal confissão!’ ” (Idem)
"Agindo como hipócrita até o fim, ele disfarçou sua crescente debilidade tanto quanto
pôde, fingindo até participar dos esportes e exercícios dos soldados de sua guarda.
Finalmente, deixando sua ilha favorita, cenário das mais desgastantes orgias, ele parou
numa casa de campo perto do promontório de Micenum, onde, em 16 de março de 37 d. C,
caiu numa letargia em que pareceu morto. Calígula se estava preparando com uma
numerosa escolta para tomar posse do império, quando seu súbito despertar deixou a
todos em consternação. Nesse instante crítico, Macro, o prefeito pretoriano o fez ser
sufocado com travesseiros. Assim expirou universalmente execrado o imperador Tibério
aos 68 anos de idade, no vigésimo terceiro de seu reinado." (American Encyclopedia, ed.
1849, vol. 12, págs. 251, 252, art. “Tibério”)
Versículo 23 – Apesar da aliança com ele, usará de engano; subirá e se tornará forte com
pouca gente.
Tendo nos levado através dos eventos da história secular do Império Romano até
o fim das setenta semanas de Daniel 9:24, o profeta leva-nos de volta ao tempo em que
os romanos se tornaram diretamente ligados ao povo de Deus, pela coligação com os
judeus, em 161 a. C. Desse ponto somos levados numa linha direta de eventos até o
triunfo final da igreja e o estabelecimento do reino eterno de Deus. Os judeus, sendo
gravemente oprimidos pelos reis sírios, enviaram um embaixador a Roma, para
solicitar o auxílio dos romanos e unir-se numa "liga de amizade e confederação com
eles." (Ver 1 Macabeus 8; Humphrey Prideaux, The Old and New Testament Connected
of the Jews, vol. II, 166). Os romanos atenderam o pedido dos judeus e lhes outorgaram
um decreto, nestas palavras:
“ ‘O decreto do senado acerca de uma liga de assistência e amizade com a nação
dos judeus. Não será legítimo a nenhum súdito dos romanos fazer guerra à nação dos
judeus, nem ajudar os que a fazem, seja pelo envio de trigo, navios ou dinheiro. Se algum
ataque se fizer aos judeus, os romanos os assistirão o quanto puderem; e também se
algum ataque for feito aos romanos, os judeus os ajudarão. E se os judeus pretenderem
acrescentar ou tirar alguma coisa desta liga de assistência, isso se fará com o consenso
dos romanos. E qualquer acréscimo assim feito vigorará.’ Este decreto foi escrito por
Eupolemus, o filho de João, e por Jason, o filho de Eleazar, quando Judas era sumo
sacerdote da nação e Simão, seu irmão, general do exército. Esta foi a primeira liga que os
romanos fizeram com os judeus e foi administrada desta maneira.” (Flávio Josefo,
Antiguidades Judaicas, livro 12, cap. 10, se. 6).
Nesse tempo os romanos eram um pequeno povo e começaram a agir
enganosamente, ou com astúcia, como a palavra significa. E deste esse tempo foram-
se elevando constante e rapidamente até chegar ao apogeu do poder.
Versículo 24 – Virá também caladamente aos lugares mais férteis da província e fará o que
nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais: repartirá entre eles a presa, os despojos e os
bens; e maquinará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo.
Versículo 25 – Suscitará a sua força e o seu ânimo contra o rei do Sul, à frente de grande
exército; o rei do Sul sairá à batalha com grande e mui poderoso exército, mas não prevalecerá,
porque maquinarão projetos contra ele.
Roma contende com o rei do sul. Os versículos 23 e 24 nos levam a desde a liga
entre os judeus e os romanos, em 161 a. C., até o tempo em que Roma adquiriu
domínio universal. O versículo agora em estudo nos apresenta uma vigorosa
campanha contra o rei do sul, o Egito, e uma grande batalha entre poderosos exércitos.
Ocorreram tais eventos na história de Roma por esse tempo? Sim. Houve uma guerra
entre o Egito e Roma e a batalha foi a de Actium. Consideremos brevemente as
circunstâncias que conduziram a este conflito.
Marco Antônio, César Augusto e Lépido constituíram o Triunvirato que jurara
vingar a morte de Júlio César. Antônio tornou-se cunhado de Augusto ao casar-se com
sua irmã Otávia. Foi enviado ao Egito em missão governamental, mas caiu vítima dos
encantos de Cleópatra, a dissoluta rainha. Tão avassaladora foi a paixão que por ela
concebeu que finalmente abraçou os interesses egípcios, repudiou sua esposa Otávia,
para agradar Cleópatra, e concedeu a esta uma província após outra. Celebrou um
triunfo em Alexandria em vez de em Roma e cometeu outras tanta afrontas contra o
povo romano, que Augusto não teve dificuldade em levar este povo a empreender
uma vigorosa guerra contra o Egito. A guerra era ostensivamente contra o Egito e
Cleópatra, mas era realmente contra Antônio, que estava agora à frente dos negócios
egípcios. A verdadeira causa de seu conflito era, diz Prideaux, que nenhum deles
podia contentar-se com apenas metade do império romano. Lépido tinha sido deposto
do Triunvirato, os dois se repartiam o governo do império. Cada qual, estando
determinado a possuir o todo, lançaram a sorte da guerra.
Antônio reuniu sua esquadra em Samos. Quinhentos navios de guerra, de
extraordinário tamanho e estrutura, tendo vários tombadilhos, um acima do outro, com
torres na proa e na popa, formavam um imponente e formidável aparato. Esses navios
transportavam 125.000 soldados. Os reis da Líbia, Cilícia, Capadócia, Papflagonia,
Comagena e Trácia estavam lá pessoalmente; e os do Ponto, da Judéia, Licaônia,
Galácia e Média, mandaram suas tropas. O mundo raramente vira mais esplêndido e
movimentado espetáculo militar que esta frota de navios de guerra, quando estendiam
suas velas e se moviam sobre o seio do mar. Superando a todos em magnificência
chegou a galera de Cleópatra, que flutuava como um palácio de ouro sob uma nuvem
de velas purpúreas. Suas bandeiras e bandeirolas ao vento, trombetas e outros
instrumentos de guerra, fizeram os céus ressoar com notas de alegria e triunfo.
António seguia logo atrás numa galera de quase igual magnificência.
Augusto, por outro lado, exibiu menos pompa, porém, mais utilidade. Ele tinha
apenas metade de navios em relação aos de Antônio e apenas 80.000 infantes. Mas
eram todos homens escolhidos e a bordo de sua frota só havia marinheiros experientes,
ao passo que Antônio, não encontrando marinheiros suficientes, tinha sido obrigado
manobrar seus navios com artesãos de toda classe, homens inexperientes e mais bem
adequados para atrapalhar do que para prestar real serviço em tempo de batalha. Como
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 137
Antônio foi abandonada por seus aliados e amigos, os que comiam seus manjares.
Cleópatra, como já foi descrito, subitamente se retirou da batalha, levando sessenta
navios de linha. O exército terrestre, desgostado com a enfatuação de Antônio, passou-
se para Augusto, que recebeu os soldados de braços abertos. Quando Antônio chegou
à Líbia achou que as forças que lá havia deixado sob Scarpus para guardar a fronteira,
se haviam debandado para César e no Egito suas forças se renderam. Em raiva e
desespero, tirou a própria vida.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 138
Versículo 27 – Também estes dois reis se empenharão em fazer o mal e a uma só mesa
falarão mentiras; porém isso não prosperará, porque o fim virá no tempo determinado.
Versículo 28 – Então, o homem vil tornará para a sua terra com grande riqueza, e o seu
coração será contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprouver e tornará para a sua terra.
esquecendo que era ele que os estava impelindo a tais extremos de loucura, Tito jurou
eterna extirpação da cidade maldita e seu povo.
Jerusalém caiu no ano 70 d. C. Em honra a si mesmo, o comandante romano
determinara salvar o templo, mas o Senhor dissera: “Não ficará aqui pedra sobre pedra
que não seja derribada.” (Mat. 24:2). Um soldado romano apanhou uma tocha acesa e,
subindo nos ombros de seus camaradas, atirou-a por uma das janelas ao interior da
linda estrutura. Esta não tardou em incendiar-se, e os esforços desesperados dos judeus
para apagar as chamas, embora secundados pelos do próprio Tito, tudo foi em vão.
Vendo que o templo iria perecer, Tito entrou e retirou o candelabro, a mesa dos pães
da proposição e o volume da lei, que era revestido de tecido de ouro. O candelabro foi
depois depositado no Templo da paz, de Vespasiano e copiado no arco triunfal de
Tito, onde ainda se vê sua mutilada imagem.
O cerco de Jerusalém durou cinco meses. Nele pereceram 1.100.000 judeus e
97.000 foram feitos prisioneiros. A cidade estava tão admiravelmente fortificada que
Tito exclamou, ao ver as ruínas: "Lutamos com a ajuda de Deus". Foi completamente
arrasada e os próprios fundamentos do templo foram arados por Tarentius Rufo. A
duração total da guerra foi de sete anos, e se diz que quase um milhão e meio de
pessoas foram vítimas de seus tremendos horrores.
Assim este poder realizou grandes façanhas e novamente voltou para a sua terra.
Versículo 29 – No tempo determinado, tornará a avançar contra o Sul; mas não será nesta
última vez como foi na primeira.
Versículo 30 – Porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; voltará, e
se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe aprouver; e, tendo voltado, atenderá aos que
tiverem desamparado a santa aliança.
“Desde a terra de Quitim lhes foi isto revelado.” (Almeida RC). Adão Clarke diz em
nota a respeito:
"Diz-se que as notícias da destruição de Tiro por Nabucodonosor, lhes foram levadas
de Quitim, as ilhas e costas do Mediterrâneo, ‘pois os Tírios’ – diz Jerônimo sobre o
versículo 6 – quando viram que não tinham outro meio de escape, fugiram em seus navios
e se refugiaram em Cartago e nas ilhas dos mares Jônio e Egeu.’ . . . Assim também Jarchi
no mesmo lugar." (Adão Clarke, Commentary on the Old Testament, vol. 4, págs. 109, 110,
nota sobre Isaías 23:1).
Travou-se alguma vez contra o Império Romano uma guerra naval que tendo
Cartago como base de operação? Lembremos os terríveis ataques dos vândalos contra
Roma sob o feroz Genserico, e responderemos afirmativamente. Cada primavera saía
do porto de Cartago à frente de suas numerosas e bem disciplinadas forças navais, para
espalhar consternação por todas as províncias marítimas do império. Tal é a obra
apresentada no versículo que estudamos; e isso fica melhor confirmado ao
considerarmos que a profecia nos levou exatamente a este tempo. No versículo 29
entendemos ser mencionado o traslado da sede para Constantinopla. A seguinte
revolução que se produz no curso do tempo é a que ocasionou as investidas dos
bárbaros do norte, entre as quais se destacavam os vândalos e a guerra que realizavam,
como já mencionado. A carreira de Genserico desenvolveu-se entre 428-468 d. C.
Os eventos "lhe causarão tristeza; e voltará". Isso pode referir-se aos esforços
desesperados que foram feitos para desalojar Genserico da soberania dos mares, o
primeiro por Majorian, e logo pelo papa Leão I, mas se demonstraram fracassos totais.
Roma foi obrigada a submeter-se à humilhação de ver suas províncias saqueadas e sua
"cidade eterna" pilhada pelo inimigo. (Ver comentário sobre Apocalipse 8:8).
"E se indignará contra a santa aliança". Isto se refere sem dúvida às tentativas de
destruir o povo de Deus pelos ataques dirigidos às Sagradas Escrituras, o livro da
aliança. Uma revolução desta natureza foi realizada em Roma. Os hérulos, godos e
vândalos, que conquistaram Roma, abraçaram a fé ariana e se tornaram inimigos da
Igreja Católica. Justiniano decretou que o Papa fosse a cabeça da Igreja e o corregedor
dos heréticos especialmente com o propósito de exterminar essa heresia. A Bíblia logo
passou a ser considerada um livro perigoso, que não devia ser lido pelo povo comum,
mas todas as questões em disputas deviam ser submetidas ao Papa. Assim se
desprezou a Palavra de Deus.
Diz um historiador, comentando a atitude da Igreja Católica com relação às
Escrituras:
“Alguém poderia pensar que a igreja de Roma tinha posto seus fiéis fora do alcance
das Escrituras. Ela tinha posto o abismo da tradição entre eles e as Palavra de Deus.
Afastou-os ainda mais da esfera do perigo ao prover um intérprete infalível cujo dever
consiste em cuidar de que a Bíblia não expresse um sentido hostil a Roma. Ma, se isso
não bastasse, trabalhou por todos os meios ao seu alcance para impedir as Escrituras
cheguem de qualquer maneira às mãos de seu povo. Antes da Reforma conservou a Bíblia
encerrada em uma língua morta, e se promulgaram leis severas contra sua leitura. A
Reforma libertou o precioso volume. Tyndale e Lutero, o primeiro desde seu retiro de
Vildorfe nos Países Baixos, enviaram a Bíblia aos que falavam o idioma popular na
Inglaterra e Alemanha.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 141
“Despertou-se assim uma sede pelas Escrituras, ao que a igreja de Roma pensou ser
imprudente opor-se abertamente. O Concílio de Trento promulgou sobre os livros
proibidos, dez regras que, embora aparentavam satisfazer o crescente anseio de ler a
Palavra de Deus, estavam insidiosamente redigidas para freá-lo. Na quarta regra, o
concílio proíbe a quem quer que leia a Bíblia sem permissão do bispo ou inquisidor,
permissão que estaria baseada num certificado de seu confessor de que não corre perigo
de ser prejudicado ao lê-la. O concílio acrescenta estas categóricas palavras: ‘Que se
alguém se atreve a ler ou a ter em sua posse esse livro, sem tal permissão, não receberá a
absolvição até que o tenha entregue.’ A estas regras segue a bula de Pio IV, na qual se
declara que os que as violem serão considerados culpados de pecado mortal. Assim a
igreja de Roma buscou regular o que lhe era impossível impedir. O fato não ser permitido a
nenhum seguidor do papa ler a Bíblia sem permissão não aparece nos catecismos e outros
livros de uso comum entre os católicos romanos deste país; mas é incontestável que forma
a lei daquela igreja. E, segundo ela, a prática uniforme dos sacerdotes de Roma, dos
papas para baixo, é impedir a circulação da Bíblia; impedi-la totalmente nos países onde,
como na Itália e Espanha, exerce todo o poder, e noutros países, como o nosso, até onde
seu poder permite. Seu sistema uniforme é desalentar a leitura das Escrituras por todos os
meios possíveis; e quando não acatam empregam a força para conseguir seus fins, não
tendo atenção em empregar o poder espiritual de sua igreja e declarar que os que
contrariarem a vontade de Roma nesta questão são culpados de pecado mortal.” (J.A.
Wylie, The Papacy, págs. 180, 181).
Versículo 31 – Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o
sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora.
do oriente, que tinha na maioria abraçado a doutrina monofisista, que Roma tinha por
heresia. O zelo dos partidários culminou num torvelinho de fanatismo e guerra civil,
que varreu Constantinopla com fogo e sangue. O resultado foi o extermínio de 65.000
hereges. Uma citação de Gibbon, tirada de seu relato dos eventos ocorridos entre 508 e
518, demonstrará a intensidade de tal guerra:
“Foram quebradas as estátuas do imperador, e este teve que esconder-se em pessoa
num subúrbio até que, no fim de três dias, atreveu-se a implorar a misericórdia de seus
súditos. Sem a diadema e na postura de um suplicante, Anastácio apresentou-se no trono
do circo. Os católicos cantaram em sua face o que lhes era o verdadeiro Trisságio e se
alegraram pelo oferenda (que ele proclamou pela voz de um arauto) de abdicar a púrpura.
Escutaram a advertência de que, visto que todos não podiam reinar, deviam estar
previamente de acordo na eleição de um soberano, e aceitaram o sangue de dois ministros
impopulares, os quais seu amo, sem vacilar, condenaram aos leões. Estas revoltas
furiosas mas passageiras eram estimuladas pelo êxito de Vitalino que, com um exército de
hunos e búlgaros, na maioria idólatras, declarou-se campeão da fé católica. Nesta piedosa
rebelião despovoou a Trácia, cercou Constantinopla, exterminou 65.000 cristãos até obter
o relevo dos bispos, a satisfação do papa, e o estabelecimento do concílio de Calcedônia,
um tratado ortodoxo, assinado de má vontade pelo moribundo Anastácio, e executado
mais fielmente pelo tio de Justiniano. Tal foi o desenrolar da primeira das guerras religiosas
que se travaram em nome e pelos discípulos do Deus da paz.” (Eduardo Gibbon, The
Decline and Fall of the Roman Empire, vol. 4, cap. 47, pág. 526).
Cremos ter deixado claro que o contínuo foi tirado em 508. Isso ocorreu como
preparatório para o estabelecimento do papado, que foi um evento separado e
subseqüente, do que a narrativa profética agora nos leva a falar.
O papado estabelece uma abominação. ". . . estabelecendo a abominação
desoladora". Tendo mostrado plenamente o que constituía a remoção do contínuo ou
paganismo, agora indagamos: Quando foi estabelecida a abominação desoladora, ou o
papado? O chifre pequeno que tinha olhos como os olhos de homem não tardou a ver
quando estava preparado o terreno para seu avanço e elevação. Desde o ano 508 seu
progresso para a supremacia universal foi sem paralelo.
Quando Justiniano estava para começar a guerra contra os vândalos, em 533,
empresa de não pequena magnitude e dificuldade, desejou assegurar a confiança do
bispo de Roma, que havia chegado a uma posição que em sua opinião tinha grande
peso em grande parte da cristandade. Justiniano, portanto, se encarregou de decidir a
contenda que havia muito existia entre as sedes de Roma e Constantinopla quanto a
qual deve ter a precedência. Deu a preferência a Roma em uma carta que dirigiu
oficialmente ao papa, declarando, nos termos mais plenos e inequívocos, que o bispo
daquela cidade seria a cabeça de todo o corpo eclesiástico do império.
A carta de Justiniano diz:
"Justiniano, vencedor, piedoso, afortunado, notável, triunfante, sempre Augusto, a
João, o santíssimo arcebispo e patriarca da nobre cidade de Roma. Prestando honra à
sede apostólica e a Vossa Santidade, como tem sido sempre e é nosso desejo, e honrando
Vossa Beatitude como pai, apressamo-nos a levar ao conhecimento de Vossa Santidade
todas as questões relativas ao estado das igrejas, visto que tem sido em todos os tempos
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 144
nosso grande desejo preservar a unidade de vossa Sede Apostólica e a posição das
santas igrejas, que agora prevalece e permanece segura sem distúrbio
"Portanto, temos exercito diligência em sujeitar e unir todos os sacerdotes de todo o
oriente à sede de Vossa Santidade. Quaisquer questões em disputa atualmente, temos
crido necessário pô-las em conhecimento de Vossa Santidade, por claras e indubitáveis
que sejam, mesmo quando firmemente sustentadas e ensinadas por todo o clero de
acordo com a doutrina da Vossa Sede Apostólica; mas não podemos admitir que coisa
alguma referente ao estado da Igreja, por mais manifesta e inquestionável, no que
concerne ao estado das igrejas, deixe de ser dado a conhecer a Vossa Santidade, como
cabeça de todas as igrejas. Porque, como já declaramos, ansiamos por aumentar a honra
e autoridade de vossa sede em todo respeito." – Codex Justiniani, lib. 1, tit. 1; tradução por
R.F. Littledale, em The Petrine Claims, pág. 293.
"A carta do Imperador deve ter sido enviada antes de 25 de março de 533, pois em
sua carta daquela data dirigida a Epifânio, fala ter sido ela já despachada e repete sua
decisão de que todos os assuntos tocantes à igreja sejam submetidos ao papa, 'cabeça de
todos os bispos e o verdadeiro e eficiente corregedor de heréticos." (Jorge Croly, The
Apocalypse of St. John, pág. 170.
“No mesmo mês do ano seguinte, 534, o Papa, em sua resposta, repete a linguagem
do imperador, aplaudindo sua homenagem à sede e adotando os títulos do mandato
imperial. Observa que, entre as virtudes de Justiniano, ‘uma brilha como estrela: sua
reverência pela cadeira apostólica, à qual se sujeitou e uniu todas as igrejas, sendo ela
verdadeiramente a cabeça de todas, como o atestam as regras dos Pais, as leis dos
Príncipes e as declarações da piedade do Imperador.
“A autenticidade do título recebe uma prova incontestável dos editos encontrados nas
‘Novellae’ do código de Justiniano. O preâmbulo da nona declara que ‘como a Roma mais
antiga foi a fundadora das leis, não se deve questionar que nela estava a supremacia do
pontificado.’ A 131ª, sobre os títulos e privilégios eclesiásticos, capítulo II, declara:
‘Decretamos, portanto, que o santíssimo Papa da Roma mais antiga é o primeiro de todo o
sacerdócio, e que o beatíssimo Arcebispo de Constantinopla, a nova Roma, ocupará o
segundo lugar após a santa sede apostólica da velha Roma.’ ” (Idem, págs. 170, 171).
Pelo fim do século VI, João de Constantinopla negou a supremacia romana, e
assumiu o título de bispo universal, ao que Gregório, o Grande, indignado com a
usurpação, denunciou João e declarou, sem compreender a verdade de sua declaração,
que aquele que assumisse o título de bispo universal era o Anticristo. Em 606, Focas
suprimiu a pretensão do Bispo de Constantinopla e justificou a do Bispo de Roma.
Mas Focas não foi o fundador da supremacia papal.
"Que Focas reprimiu a pretensão do Bispo de Constantinopla é fora de dúvida. Mas
as mais altas autoridades dos civis e analistas de Roma, rejeitam a idéia de que Focas foi
o fundador da supremacia de Roma. Remontam a Justiniano como a única fonte legítima,
e corretamente datam o título no memorável ano 533." (Idem, págs. 172, 173).
Jorge Croly declara ainda:
"Com referência a Barônio, a autoridade estabelecida entre os analistas católicos
romanos, encontrei que a questão a concessão de supremacia que Justiniano fez ao papa,
fixava-se formalmente nesse período. . . . A transação toda foi da espécie mais autêntica e
regular e concorda com a importância da transferência." (Idem, págs. 12, 13).
Versículo 32 – Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que
conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo.
Versículo 33 – Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo
fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo.
Versículo 34 – Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se
ajuntarão a eles com lisonjas.
Em Apocalipse 12, onde se fala desta mesma perseguição papal, lemos que a
Terra ajudou a mulher abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão lançou após ela.
A Reforma protestante de Martinho Lutero e seus colaboradores proporcionou o
auxílio aqui predito. Os estados alemães abraçaram a causa protestante, protegeram os
reformadores e refrearam as perseguições levada avante pela Igreja papal. Mas quando
os protestantes receberam ajudada e sua causa chegou a ser popular, muitos se
ajuntariam “a eles com lisonjas” ou abraçariam, ou seja abraçariam sua fé por motivos
insinceros.
Versículo 35 – Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos,
até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado.
Versículo 36 – Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre
todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a
indignação; porque aquilo que está determinado será feito.
Um rei se engrandece sobre todo deus. O rei aqui apresentado não pode
significar o mesmo poder que viemos observando, a saber, o poder papal, porque as
especificações não correspondem nem se aplicam a tal poder.
Tome-se, por exemplo, uma declaração no versículo seguinte: "Não terá respeito
aos deuses de seus pais . . . nem a qualquer deus." Isso nunca se aplicou ao papado.
Este sistema religioso nunca deixou de lado nem rejeitou a Deus e Cristo, embora
muitas vezes colocados numa falsa posição.
Três características devem notar-se na potência que cumpre esta profecia: Deve
assumir a caráter aqui delineado perto do início do tempo do fim, ao qual fomos
levados no versículo anterior. Deve ser um poder vitorioso. Deve ser um poder ateu.
Talvez poderíamos unir estas duas últimas especificações, dizendo-se que sua
voluntariedade seria na direção do ateísmo.
França cumpre a profecia. Uma revolução que corresponde exatamente a esta
descrição ocorreu na França no tempo indicado pela profecia. Os ateus semearam as
sementes que produziram abundantes frutos. Voltaire, em sua pomposa mas impotente
presunção, dissera: "Estou cansado de ouvir repetirem que doze homens fundaram a
religião cristã. Eu provarei que basta um homem para destruí-la." Associando-se a
homens como Rousseau, D'Alembert, Diderot e outros, ele empreendeu a realização
de sua ameaça. Semearam ventos e colheram tempestades. Ademais, a igreja católica
romana era notoriamente corrompida nessa época, e o povo anelava romper com o
jugo da opressão eclesiástica. Seus esforços culminaram no “reinado do terror” de
1793, durante a qual a França desprezou a Bíblia e negou a existência de Deus.
Um historiador moderno assim descreve esta grande mudança religiosa:
“Certos membros da Convenção tinham sido os primeiros que tentaram substituir nas
províncias o culto cristão por uma cerimônia cívica, no outono de 1793. Em Abbeville,
Dumont, tendo declarado ao populacho que os sacerdotes eram ‘arlequins e palhaços
vestidos de preto, que mostravam marionetes’, estabeleceu o Culto da Razão, e com uma
notável falta de espírito conseqüente, organizou por sua conta um ‘espetáculo de
marionetes’ dos mais imponentes, com bailes na catedral e festas cívicas em cuja
observância insistia muito. Fouché foi o próximo funcionário que aboliu o culto cristão. Ao
falar do púlpito da catedral de Nevers, apagou formalmente todo espiritualismo do
programa republicano, promulgou a famosa ordem que declarava ‘a morte do sono eterno’,
dando assim volta à chave para o céu e o inferno. . . . Em seu discurso de felicitações ao
ex-bispo, o presidente declarou que como o Ser Supremo ‘não desejava outro culto a não
ser o da Razão, este constituiria no futuro a religião nacional.’ ” (Luis Madelin, The French
Revolution, págs. 387, 388).
Versículo 37 – Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres, nem
a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá.
A palavra hebraica para mulher é também traduzida por esposa; e Tomás Newton
observa que esta passagem seria melhor traduzido como "o desejo das esposas".
(Dissertations of the Prophecies, vol. 1, págs. 388-390). Isto parecia indicar que este
governo, ao mesmo tempo que declarava que Deus não existia, pisava a pés a lei que
Deus dera para reger a instituição matrimonial. E encontramos que o historiador,
talvez inconscientemente, e nesse caso tanto mais significativo, uniu o ateísmo e a
licenciosidade desse governo na mesma ordem em que são apresentados na profecia.
Diz ele:
“A família tinha sido destruída. Sob o antigo regime, ela fora o próprio fundamento da
sociedade. . . . O decreto de 20 de setembro de 1792, estabelecendo o divórcio, foi levado
mais além pela Convenção em 1794, deu antes de quatro anos frutos que a própria
Legislatura não havia sequer sonhado: podia realizar-se um divórcio imediato por
incompatibilidade de gênio, para entrar em vigor num ano o mais tardar, se qualquer dos
membros do casal se negasse a separar-se do outro antes de vencido o prazo.
“Houve uma avalanche de divórcios: a fins de 1793, ou seja, quinze meses depois de
promulgado o decreto, tinham sido concedidos 5.994 divórcios em Paris. . . . Sob o
Diretório, vemos as mulheres passarem de uma para outra mão por processo legal. Qual a
sorte dos filhos que nasciam de tais uniões sucessivas? Alguns pais se livravam deles: o
número de menores abandonados achados em Paris no quinto ano elevou-se a 4.000 e a
44.000 nas outras províncias. Quando os pais retinham seus filhos o resultado era uma
confusão cômica. Um homem casava com várias irmãs, uma após a outra; um cidadão
pediu aos Quinhentos a permissão para casar com a mãe das duas esposas que já tivera .
. . . A família se desintegrava.” (Luis Madelin, The French Revolution, págs. 552, 553).
Foi dito que o temor de Deus distava tanto de ser o princípio da sabedoria que era
o começo da loucura. Todo culto foi proibido, exceto o da liberdade e da pátria. O
ouro e de prata das igrejas foram confiscados e profanados. As igrejas foram fechadas.
Os sinos foram quebrados e fundidos para fazer canhões. A Bíblia foi publicamente
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 149
queimada. Os vasos sacramentais foram exibidos pelas ruas sobre um burro, em sinal
de desprezo. Estabeleceu-se um ciclo de dez dias, em vez da semana e a morte foi
declarada, em letras garrafais, sobre as sepulturas, como um sono eterno. Mas a
blasfêmia culminante, se estas orgias infernais admitem graduação, foi a representação
do comediante Monvel, que, como sacerdote do Iluminismo, disse: "Deus, se existes,
vinga Teu injuriado nome. Eu Te desafio! Ficas silencioso. Não ousas lançar Teus
trovões! Quem, após isso, crerá em Tua existência?’ ” (Idem, pág. 24).
Eis o que é o homem quando entregue a si mesmo! Tal é a incredulidade quando
se livra das restrições da lei e ela exerce o poder! Pode-se duvidar de que estas cenas
são o que o Onisciente previu e anotou na página sagrada, quando indicou que um rei
surgiria que se exaltaria sobre todo deus, e desconsideraria todos eles?
Versículo 38 – Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que
seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas
agradáveis.
Encontramos uma aparente contradição neste versículo. Como pode uma nação
desconsiderar tudo o que é Deus e contudo honrar o deus das fortalezas? Não poderia
ao mesmo tempo manter ambas estas posições, mas poderia por um tempo
desconsiderar todos os deuses e então em seguida introduzir outro culto e considerar o
deus das forças. Ocorreu naquele tempo tal mudança na França? Certamente. A
tentativa de tornar a França uma nação sem Deus produziu tal anarquia que os
governantes temiam o poder lhes escapasse das mãos, e perceberam que era
politicamente necessário introduzir alguma espécie de culto. Mas não queriam
introduzir nenhum movimento que aumentasse a devoção ou desenvolvesse algum
caráter espiritual verdadeiro entre o povo, mas só o que os mantivesse no poder e lhes
desse controle das forças nacionais.
Alguns extratos da história mostrarão isso. A liberdade e a pátria foram a
princípio os objetos de adoração. "Liberdade, igualdade, virtude e moral idade",
precisamente o contrário de qualquer coisa que eles possuíam de fato ou exibiam na
prática, eram palavras que eles expunham como descrevendo a divindade da nação.
Em 1793 o culto à Deusa da Razão foi introduzido e assim é descrito por um
historiador:
"Uma das cerimônias desse tempo insensato é sem igual pelo absurdo combinado
com a impiedade. As portas da Convenção foram abertas a uma banda de música,
precedida pelo Corpo Municipal que entrou em solene procissão, cantando um hino em
louvor à liberdade e escoltando, como objeto de sua futura adoração, uma mulher com
véu, que eles chamavam a Deusa da Razão. Sendo introduzida no tribunal, foi-lhe tirado o
véu com toda formalidade, e foi colocada à direita do presidente, quando foi reconhecida
como dançarina da Ópera, com cujos encantos a maioria das pessoas presentes estava
familiarizada em virtude de seu aparecimento no palco . . . A essa pessoa, como a mais
apta representante daquela Razão que eles adoravam, a Convenção Nacional da França
prestou homenagem pública. Essa ímpia e ridícula encenação tinha certa moda e a
instalação da Deusa da Razão foi renovada e imitada em toda a nação, em lugares onde
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 150
os habitantes desejavam mostrar-se à altura da Revolução." (Sir Walter Scott, The Life of
Napoleon Buonaparte, vol. 1, págs. 239, 240).
"O confisco de dois terços das terras do reino, ordenado pelos decretos da
Convenção contra os emigrantes, o clero e as pessoas acusadas nos tribunais
revolucionários . . . pôs à disposição do governo fundos superiores a 700 milhões de libras
esterlinas." (Archibald Alison, History of Europe, Vol. 3, págs. 25, 26).
Versículo 40 – No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá
contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e
passará.
Novo conflito entre os reis do sul e do norte. Após longo intervalo o rei do sul e o
rei do norte voltam a aparecer no cenário da ação. Até aqui nada encontramos a
indicar que devamos procurar em outros territórios essas potências senão as que,
pouco depois da morte de Alexandre, constituíram respectivamente as divisões
setentrional e meridional de seu império. O rei do sul era nesse tempo o Egito e o rei
do norte era a Síria, incluindo a Trácia e a Ásia Menor. O Egito continuou regendo o
território designado como pertencente ao rei do sul; e Turquia durante mais de
quatrocentos anos governou o território que constituiu a princípio o domínio do reino
do norte.
Esta aplicação da profecia evoca um conflito entre o Egito e a França, e entre a
Turquia e a França, em 1798, ou seja, o ano que, como já vimos, assinalou o início do
tempo do fim. Se a história testifica que tal guerra triangular irrompeu naquele ano,
será prova conclusiva da correção da aplicação.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 152
total de pessoas à bordo era de umas 50.000; e já foi feito subir até 54.000.” (The
Cambridge Modern History, vol. 8, págs. 597, 598)
Em 2 de julho, a Alexandria foi tomada e imediatamente fortificada. No dia 21 se
travou a decisiva batalha das Pirâmides, em que os mamelucos defenderam o campo
com coragem e desespero, mas não foram páreo para as disciplinadas legiões dos
franceses. Murad Bey perdeu todos os seus canhões, 400 camelos e 3.000 homens. A
perda dos franceses foi comparativamente poucas. No dia 25, Bonaparte entrou no
Cairo, a capital do Egito, e só esperou baixarem as enchentes do Nilo para
perseguirem Murad Bey até o Alto Egito, para onde ele se retirara com sua cavalaria
dispersa; e assim conquistou todo o país. Na verdade, o rei do sul só pôde oferecer
uma fraca resistência.
Entretanto, a situação de Napoleão tornou-se precária. A frota francesa, que era
seu único meio de comunicação com a França, foi destruída pelos ingleses sob o
comando de Nelson em Abuquir. No dia 11 de setembro de 1798 o sultão da Turquia,
por sentimentos de ciúme contra a França, astuciosamente alimentado pelos
embaixadores ingleses em Constantinopla, e exasperado de que o Egito, por tanto
tempo em semi-dependência do Império Otomano, se transformasse em província
francesa, declarou guerra à França. Assim o rei do norte (Turquia) veio contra ele
(França) no mesmo ano que o rei do sul (Egito) avançou contra ele, e ambos "no
tempo do fim". Esta é outra prova conclusiva de que o ano 1798 é o que inicia esse
período, e tudo isso é uma demonstração de que esta aplicação da profecia é correta.
Seria impossível que ao mesmo tempo se realizassem tantos eventos que satisfazem
com precisão as especificações da profecia a não ser o seu cumprimento.
Foi a vinda do rei do norte, ou Turquia, como um furacão em comparação com a
resistência do Egito? Napoleão tinha esmagado os exércitos do Egito, e buscou fazer o
mesmo com os exércitos do sultão, que estavam ameaçando atacar desde a Ásia. Em
27 de fevereiro de 1799, com 18.000 homens, começou sua marcha do Cairo à Síria.
Primeiro tomou o forte de El-Arish, no deserto, depois Jaffa (a Jope da Bíblia), venceu
os habitantes de Naplous, em Zeta, e foi novamente vitorioso em Jafé. Enquanto isso
um exército de turcos se entrincheirou em São João de Acre, ao passo que enxames de
muçulmanos reuniam-se nas montanhas de Samaria, prontos para cair sobre os
franceses quando cercassem São João de Acre. Ao mesmo tempo Sir Sidney Smith
apareceu diante da cidade com dois navios ingleses, reforçou a guarnição turca
daquele lugar e capturou o aparato para o cerco, que Napoleão mandara de Alexandria
por mar. Logo surgiu no horizonte uma frota turca que, com os navios ingleses e
russos que cooperavam com eles, constituíram os "muitos navios" do rei do norte.
No dia 18 de março começou o cerco. Napoleão foi chamado duas vezes para
salvar algumas divisões francesas de cair em mão das hordas muçulmanas que
inundavam o país. Duas vezes também foi feita uma brecha no muro da cidade, mas os
sitiadores foram enfrentados com tal fúria pela guarnição que foram obrigados a
desistir da luta, apesar de seus melhores esforços. Após um prosseguimento de
sessenta dias, Napoleão levantou o cerco, fez soar, pela primeira vez em sua carreira, o
toque de retirada. Em 21 de maio de 1799, começou a voltar seus passos para o Egito.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 154
Turquia vem a ser o rei do norte. Acerca da aplicação desta parte da profecia a
Napoleão ou a França sob sua direção, o quanto sabemos de sua história, não
encontramos eventos que possamos apresentar com qualquer grau de certeza como
cumprimento da parte restante desse capítulo. Daí que não podemos ver como se possa
aplicar a ela. Deve, então, ser cumprida pela Turquia, a menos que se possa mostrar
que a expressão "rei do norte" não se aplica à Turquia, ou que há além da França ou do
rei do norte outra potência que cumpriu esta parte da predição. Mas se a Turquia,
agora ocupando o território que constituiu a divisão setentrional do império de
Alexandre, não é o rei do norte desta profecia, então ficamos sem qualquer princípio
para nos guiar na interpretação. Presumimos que todos concordarão que não há lugar
para introduzir outro poder aqui. A França e o rei do norte são os únicos a quem se
pode aplicar a predição. O cumprimento deve encontrar-se na história de uma ou outra
potência.
Algumas considerações certamente favorecem a idéia de que na última parte do
versículo 40 o objeto da profecia se transfere da potência francesa para o rei do norte.
Este acaba de ser introduzido, surgindo como um furacão, com carros, cavalos e
muitos navios. Já notamos a colisão entre este poder e a França. O rei do norte, com a
ajuda de seus aliados, ganhou a contenda; e os franceses, falhos em seus esforços,
foram repelidos para o Egito. O mais natural é aplicar a expressão "e as inundará, e
passará" à potência que saiu vencedora daquela luta, a saber a Turquia.
Versículo 41 – Entrará também na terra gloriosa, e muitos sucumbirão, mas do seu poder
escaparão estes: Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom.
e Arnom, situados fora dos limites da Palestina, ao sul e a leste do mar Morto e do
Jordão, ficaram fora da linha de marcha dos turcos da Síria ao Egito, e assim
escaparam dos saques dessa campanha.
Acerca desta passagem, Adão Clarke tem a seguinte nota: "Estes e outros árabes,
eles (os turcos) não puderam subjugar. Ainda ocupam os desertos e recebem uma
pensão anual de quarenta mil coroas de ouro dos imperadores otomanos para permitir
que as caravanas de peregrinos a Meca tenham passagem livre."
Verso 42 – Estenderá a mão também contra as terras, e a terra do Egito não escapará.
Na retirada dos franceses para o Egito urna frota turca desembarcou 18.000
homens em Abuquir. Napoleão imediatamente atacou o lugar, desalojando
completamente os turcos e restabeleceu sua autoridade no Egito. Mas nesse momento
severos revezes das armas francesas na Europa fizeram Napoleão voltar, para cuidar
os interesses do seu país. Deixou o general Kleber no comando das tropas no Egito.
Após um período de incansável atividade em favor do exército, foi assassinado por um
turco no Cairo, e Abdala Menou assumiu o comando; mas toda perda foi séria para um
exército que não podia receber reforços.
Enquanto isso, o governo inglês, como aliado natural dos turcos, tinha resolvido
tomar o Egito dos franceses. Em 13 de março de 1801, uma esquadra inglesa
desembarcou tropas em Abuquir. Os franceses batalharam no dia seguinte, mas foram
forçados a retirar-se. No dia 18 Abuquir rendeu-se. No dia 28, chegaram reforços
trazidos por uma frota turca e o grão-vizir aproximou-se desde a Síria com um grande
exército. No dia 19, Rosetta entregou-se às forças combinadas dos ingleses e turcos.
Em Ramanieh um corpo francês de 4.000 homens foi derrotado por 8.000 ingleses e
6.000 turcos. Em Elmenayer 5.000 franceses foram obrigados a retirar-se, no dia 16 de
maio, porque o vizir avançava para o Cairo com 20.000 homens. Todo o exército
francês ficou então encerrado no Cairo e em Alexandria. O Cairo capitulou em 27 de
junho e Alexandria em 2 de setembro. Quatro semanas depois, em 1º de outubro, as
preliminares da paz foram assinadas em Londres.
"A terra do Egito não escapará", eram as palavras da profecia. Esta linguagem
parece implicar que o Egito seria posto em sujeição a algum poder de cujo domínio
desejaria libertar-se. Qual era a preferência dos egípcios entre os franceses e os turcos?
Eles preferiram o governo francês. Na obra de R. R. Madden, sobre viagens pela
Turquia, Egito, Núbia, e Palestina nos anos de 1824 a 1827, afirma-se que os egípcios
consideravam os franceses como seus benfeitores; que, no curto período que passaram
no Egito, deixaram traços de melhoramento; e que, se pudessem ter estabelecido seu
domínio, o Egito agora seria comparativamente civilizado. (Ricardo Roberto Madden,
Travels in Turkey, Egypt, Nubia, and Palestine, vol. 1, pág. 231). Em vista deste
testemunho, é claro que a linguagem da Escritura não se aplica a França, pois os
egípcios não desejavam escapar-lhes das mãos, embora desejassem escapar das mãos
dos turcos, mas não puderam.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 156
Versículo 44 – Mas, pelos rumores do Oriente e do Norte, será perturbado e sairá com
grande furor, para destruir e exterminar a muitos.
O rei do norte em dificuldade. Sobre este versículo Adão Clarke tem uma nota
digna de menção. Diz ele: "Reconhece-se geralmente que esta parte da profecia ainda
não se cumpriu." Esta nota foi impressa em 1825. Em outra parte do seu comentário
ele diz: "Se for entendido que se trata da Turquia, como nos versículos anteriores,
pode significar que os persas no oriente, e os russos ao norte, porão naquele momento
o governo otomano em situação muito embaraçosa."
Entre esta conjectura de Adão Clarke, escrita em 1825, e a guerra da Criméia de
1853-1856, há certamente uma notável coincidência, ao porque os próprios poderes
que ele menciona, os persas no oriente e os russos ao norte, foram os que instigaram
esse conflito. As notícias que chegaram daquelas potências perturbaram a Turquia. A
atitude e os movimentos dela incitaram o sultão à ira e vingança. A Rússia, por ser a
parte mais agressiva, foi o objeto de ataque. A Turquia declarou guerra ao seu
poderoso vizinho do norte em 1853. O mundo viu com espanto como se precipitava
impetuosamente o conflito um governo que por muito tempo fora chamado "o Homem
Doente do Oriente", um governo cujo exército estava desmoralizado, cujos tesouraria
estava vazia, cujos dirigentes eram vis e imbecis e cujos súditos eram rebeldes e
ameaçavam separar-se. A profecia dizia que eles sairiam "com grande furor, para
destruir e exterminar a muitos". Quando os turcos saíram à guerra mencionada, foram
descritos por um escritor americano em linguagem profana, "lutando como demônios".
É certo que a Inglaterra e a França, foram em auxílio da Turquia, mas esta entrou na
guerra da maneira descrita e ganhou importantes vitórias antes de receber a assistência
das duas potências nomeadas.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 157
Versículo 45 – E armará as tendas do seu palácio entre o mar grande e o monte santo e
glorioso; mas virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra. (Almeida RC)
O rei do norte chega ao fim. Seguimos a profecia de Daniel 11 passo a passo até
este último versículo. Ao ver como as profecias divinas encontram seu cumprimento
na história, nossa fé se fortalece na realização final da palavra profética de Deus.
A profecia do verso 45 refere-se à potência chamada rei do norte. É a potência
que domina o território possuído originalmente pelo rei do norte. (Ver as págs. 188,
189).
Prediz-se aqui que o rei do norte "virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra."
Exatamente como, quando e onde virá ao seu fim, é algo que podemos observar com
solene interesse, certos de que a mão da Providência dirige o destino das nações.
Logo o tempo determinará este assunto. Quando ocorrer este evento o que se
seguirá? Porque virão acontecimentos de maior interesse para todos os habitantes do
mundo, como veremos no capítulo seguinte.
grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo", basta para identificar como o
salvador dos homens o personagem aqui mencionado. É o "Autor da vida" (Atos
3:15), e "Príncipe e Salvador" (Atos 5:31). Ele é o grande Príncipe.
"O defensor dos filhos do teu povo". Condescende em tomar os servos de Deus
em seu pobre estado mortal e remi-los para serem súditos de Seu reino futuro.
Levanta-Se a favor de nós, os que cremos. Seus filhos são essenciais aos Seus
propósitos futuros e parte inseparável da herança comprada. Hão de ser os principais
agentes daquela alegria que Cristo previu, e que o levou a suportar todos os sacrifícios
e sofrimentos que assinalaram Sua intervenção em favor da raça caída. Assombrosa
honra! Tributemos-Lhe eterna gratidão por Sua condescendência e misericórdia para
conosco! Sejam dEle o reino, o poder e a glória para todo o sempre!
Chegamos agora à segunda pergunta: Que significa o ato de Miguel levantar-Se?
A chave para interpretar esta expressão nos é fornecida nestas passagens: "Eis que
ainda três reis se levantarão na Pérsia", "Depois, se levantará um rei poderoso, que
reinará com grande domínio." (Dan. 11:2, 3) Não pode haver dúvida quanto ao
significado da expressão nestes casos. Significa assumir o reino, reinar. No versículo
que consideramos, esta expressão deve significar o mesmo. Naquele tempo Se
levantará Miguel, tomará o reino e começará a reinar.
Mas não está Cristo reinando agora? Sim, associado com Seu Pai no trono do
domínio universal. (Efés. 1:20-22; Apoc. 3:21). Mas Ele renuncia a esse trono, ou
reino ao voltar (1 Cor. 15:24). Então começa Seu reinado, apresentado no texto,
quando Se levanta, ou assume Seu próprio reino, o trono de há muito prometido a Seu
pai Davi, e estabelece um domínio que não terá fim. (Lucas 1: 32, 33).
Os reinos deste mundo passam a ser "de nosso Senhor e do Seu Cristo". Ele deixa
de lado Suas vestes sacerdotais e veste o manto real. Terá terminado a obra de
misericórdia e o tempo de graça concedido à família humana. Então o que estiver sujo
não mais terá esperança de ser purificado; o que estiver santo não mais terá perigo de
cair. Todos os casos estarão decididos para sempre. Daí em diante, até que Cristo
venha nas nuvens do céu, as nações serão quebrantadas como com vara de ferro e
despedaçadas como vaso de oleiro por um tempo de tribulação que nunca houve. Uma
série de castigos divinos cairá sobre os homens que rejeitaram a Deus. então aparecerá
no céu o Senhor Jesus Cristo "em chamas de fogo, para tomar vingança dos que não
conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho." (2 Tess. 1:8; ver Apoc. 11:15;
22:11, 12).
Portentosos são os acontecimentos introduzidos pelo ato de Miguel ao levantar-
Se. Ele Se levanta, ou assume o reino, assinalando a certo tempo antes de voltar
pessoalmente a esta Terra. Quão importante é, pois, que saibamos que posição Ele
ocupa, a fim de poder seguir o processo de Sua obra e reconhecer quando se aproxima
esse momento emocionante, em que acabará Sua intercessão em favor da humanidade
e o destino de todos se fixará para sempre!
Como podemos sabê-lo? Como havemos de determinar o que ocorre no santuário
celestial? A bondade de Deus é tão grande que nos pôs às mãos o meio de saber isso.
Ele nos disse que quando certos grandes acontecimentos ocorrem na Terra, decisões
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 159
importantes estarão sendo feitas no Céu que sincronizam com eles. Mediante as coisas
que se vêem somos instruídos acerca das coisas que não se vêem. Assim como
"através da natureza chegamos ver o Deus da natureza", mediante fenômenos e
acontecimentos terrestres seguimos os grandes movimentos que se realizam no reino
celestial. Quando o rei do norte plantar as tendas do seu palácio entre os mares no
monte glorioso e santo, então Miguel Se levantará ou receberá de Seu Pai o reino
como preparativo para voltar a esta Terra. Ou poderia expressar-se o assunto nestas
palavras: Então nosso Senhor cessa Sua obra como nosso grande Sumo Sacerdote e
termina o tempo de graça concedido ao mundo. A grande profecia dos 2.300 dias com
exatidão nos indica o início da etapa final da obra que Cristo há de realizar no
santuário celestial. O versículo que consideramos nos dá indicações pelas quais
podemos descobrir aproximadamente o tempo em que terminará.
O tempo de angústia. Em relação com o momento em que Se levantará Miguel,
ocorre um tempo de angústia qual nunca houve. Em Mateus 14:21 lemos acerca de um
período de tribulação qual nunca houve nem haverá depois. Esta tribulação, que se
cumpriu na opressão e perseguição da igreja pelo poder papal, já se acha no passado,
ao passo que o tempo de angústia de Daniel 12:1 ainda está no futuro, segundo a
opinião que expressamos.
Como pode haver dois tempos de tribulação, separados por muitos anos, sendo
ambos maiores do que qualquer que tenha existido antes ou haja de existir depois?
Para evitar qualquer dificuldade aqui, notemos cuidadosamente esta distinção: A
tribulação mencionada em Mateus é tribulação sobre a igreja. Cristo está falando ali a
Seus discípulos e deles em um tempo futuro. Eles iam ser os afetados e por sua causa
seriam abreviados os dias de tribulação. (Mateus 24:22). O tempo de angústia
mencionado em Daniel não é um tempo de perseguição religiosa, mas de calamidade
internacional. Nunca houve coisa semelhante desde que houve nação; não diz igreja. É
a última tribulação que sobrevirá ao mundo em sua condição atual. Em Mateus se faz
referência a um tempo que transcorrerá depois daquela tribulação, porque uma vez que
ela tenha passado, o povo de Deus não voltará a passar por outro período de
sofrimento semelhante. Mas aqui em Daniel não há referência a nenhum tempo futuro
depois da angústia mencionada, porque esta encerra a história deste mundo. Inclui as
sete últimas pragas de Apocalipse 16 e culmina no aparecimento do Senhor Jesus,
vindo em nuvens de fogo, para destruir os Seus inimigos. Mas desta tribulação será
livrado todo aquele cujo nome se achar escrito no livro da vida, "porque no monte
Sião ... estarão os que forem salvos assim como o Senhor prometeu, e entre os
sobreviventes aqueles que o Senhor chamar." Joel 2:32.
Versículo 2 – Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida
eterna, e outros para vergonha e horror eterno.
de Cristo? Ou há de ocorrer entre o momento em que Cristo recebe Seu reino e Sua
manifestação à Terra com toda a glória do Seu advento (Lucas 21:27), uma
ressurreição especial que corresponda à descrição aqui feita?
Porque não seria a primeira, ou seja, a ressurreição que ocorre ao se ouvir a
última trombeta? Porque somente os justos, com exclusão de todos os ímpios, terão
parte nessa ressurreição. Então os que dormem em Jesus sairão, mas os outros mortos
não reviverão durante mil anos (Apoc. 20:5). Portanto, a ressurreição geral de toda a
espécie humana fica dividida em dois grandes acontecimentos. Primeiro ressuscitam
exclusivamente os justos quando Jesus vier; e em segundo lugar ressuscitam
exclusivamente os ímpios, mil anos mais tarde. A ressurreição geral não é uma
ressurreição mista, dos justos e dos ímpios ao mesmo tempo. Cada uma destas duas
classes ressuscita em separado e o tempo que transcorre entre suas respectivas
ressurreições é de mil anos, segundo está claramente indicado.
Mas na ressurreição apresentada no versículo que estudamos, muitos, tanto dos
justos como dos ímpios, ressuscitam juntamente. Não pode, portanto, ser a primeira
ressurreição que inclui somente os justos, nem a segunda, que se limita distintamente
aos ímpios. Se o texto dissesse: Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão
para a vida eterna, então a palavra "muitos" poderia interpretar-se como incluindo a
todos os justos e esta ressurreição seria a dos justos, na segunda vinda de Cristo. Mas
o fato de que alguns dos muitos são ímpios e ressuscitam para vergonha e desprezo
eterno, impede tal explicação.
Ocorre, pois, uma ressurreição especial ou limitada? Indica-se, em alguma outra
parte, que haja de ocorrer tal acontecimento antes que o Senhor venha? A ressurreição
aqui predita ocorre quando o povo de Deus é liberto do grande tempo de angústia com
que termina a história deste mundo; e de Apocalipse 22:11 pareceria depreender-se
que esta libertação ocorre antes do aparecimento do Senhor. Chega o momento terrível
em que o sujo e injusto é declarado injusto ainda, e o santo ainda o que é justo e
santo. Quando for pronunciada esta sentença sobre os justos deve ser o seu livramento,
porque então estão fora do alcance do perigo e do temor do mal. Mas, naquele
momento, o Senhor ainda não veio, porque imediatamente acrescenta: “Eis que venho
sem demora.”
Quando se pronuncia esta declaração solene, ela sela o destino dos justos para a
vida eterna e o dos ímpios para a morte eterna. Sai uma voz vinda do trono de Deus,
dizendo: "Está feito." (Apoc. 16:17). Esta é, evidentemente, a voz de Deus, tão
freqüentemente aludida nas descrições das cenas relacionadas com o último dia. Joel
fala disso, dizendo: "O Senhor brama de Sião, e Se fará ouvir de Jerusalém, e os céus e
a terra tremerão; mas o Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de
Israel." Joel 3:16. Uma nota marginal de certas versões da Bíblia diz: "lugar de
refúgio, ou porto". Então, quando se ouve a voz de Deus que fala do céu, precisamente
antes da vinda do Filho do homem, Deus é um refúgio para Seu povo, ou, o que é o
mesmo, lhes provê livramento. A última cena estupenda está por manifestar-se a um
mundo condenado, Deus dá às nações assombradas outra prova e garantia do Seu
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 161
poder e ressuscita dentre os mortos uma multidão de seres que durante longo tempo
dormiam no pó da terra.
Assim vemos que há oportunidade e lugar para a ressurreição de Daniel 12:2. Um
versículo do livro de Apocalipse claramente indica que há de ocorrer uma ressurreição
desta classe. "Eis que vem com as nuvens [descreve-se indubitavelmente o segundo
advento], e todo olho O verá [das nações que então vivem na Terra], até quantos O
traspassaram [os que tomaram parte ativa na terrível obra de Sua crucifixão]. E todas
as tribos da Terra se lamentarão sobre Ele." (Apoc. 1:7). Se não fosse feita exceção
para o seu caso, os que crucificaram o Senhor permaneceriam em suas sepulturas até o
fim dos mil anos e ressuscitariam juntamente com os demais ímpios nessa ocasião.
Mas aqui se nos diz que eles contemplam o Senhor em Seu segundo advento. Portanto,
há de haver uma ressurreição especial para esse fim.
É certamente muito apropriado que alguns dos que se distinguiram por sua
santidade, que trabalharam e sofreram pela esperança que tinham na vinda do seu
Salvador, mas morreram sem O haver visto, ressuscitem um pouco antes, para
testemunharem as cenas que acompanham Sua gloriosa epifania; assim como saiu um
bom número do sepulcro para contemplar Sua gloriosa ressurreição e escoltá-Lo
(Mateus 27:52, 53) em triunfo até a destra do trono da Majestade nos céus (Efés. 4:8,
nota marginal). Também os que se distinguiram na maldade, os que mais fizeram para
vilipendiar o nome de Cristo e injuriar Sua causa, especialmente aqueles que Lhe
deram morte cruel na cruz e dEle zombaram e O ridicularizaram na agonia de Sua
morte, alguns destes ressuscitarão como parte de seu castigo judicial, para contemplar
Sua volta nas nuvens do céu, como vencedor celestial, com grande majestade que não
poderão suportar.
Alguns consideram que este versículo proporciona boas provas de que os ímpios
sofrem eternamente em forma consciente, porque os ímpios, aqui referidos, saem para
vergonha e desprezo eterno. Como podem sofrer para sempre vergonha e desprezo, a
não ser que estejam eternamente conscientes? Na verdade esta vergonha implica que
estão conscientes, mas note-se que isto não há de durar para sempre. Este qualificativo
só se aplica ao desprezo, emoção que os demais sentem para com os culpados, e não
torna necessário o estado consciente daqueles contra os quais se dirige. A vergonha de
sua impiedade e corrupção atormentará suas almas enquanto estiverem conscientes.
Quando pereçam, consumidos por suas iniqüidades, seu repugnante caráter e suas
obras culpáveis excitarão somente desprezo da parte dos justos enquanto os
recordarem. Portanto, o texto não proporciona prova alguma de que os ímpios tenham
de sofrer eternamente.
equivalente a 158 sóis como o nosso; Capela, 185 e assim sucessivamente, até que
chegamos à grande estrela Rigel, na constelação do Órion, que inunda os espaços
celestes com um fulgor 15.000 vezes maior que o do ponderado orbe que ilumina e
controla nosso sistema solar. (James H. Jeans, The Stars in Their Courses, pág. 165).
Por que não nos parece mais luminoso? Porque sua distância equivale a
33.000.000 de vezes a órbita da Terra, que é de 310.000.000 de quilômetros. As cifras
se tornam débeis para expressar tais distâncias. Basta dizer que sua luz deve atravessar
o espaço à velocidade de 310.000 quilômetros por segundo durante um prazo superior
a dez anos antes de alcançar nosso mundo. E há muitas outras estrelas que se
encontram a centenas de anos-luz de nosso sistema solar.
Alguns destes monarcas dos céus reinam sós como o nosso próprio Sol. Alguns
são duplos, isto é, o que nos parece ser uma única estrela compõe-se de duas estrelas,
ou seja, dois sóis com todo o seu séquito de planetas, girando um em redor do outro.
Outros são triplos, alguns quádruplos e pelo menos um é sêxtuplo.
Ademais, mostram todas as cores do arco-íris. Alguns sistemas são brancos,
outros azuis, outros vermelhos, outros amarelos, outros verdes. Em alguns, os
diferentes sóis que pertencem ao mesmo sistema são de cores diferentes. Diz o Dr.
Burr: "E, como para fazer do Cruzeiro do Sul o objeto mais belo de todos os céus,
encontramos nessa constelação um grupo de mais de cem astros diversamente
coloridos: sóis vermelhos, verdes, azuis e verde-azulados, tão estreitamente
acumulados que num poderoso telescópio se assemelham a um soberbo ramalhete ou
uma jóia fantástica." (Enoc Fitch Burr, Ecce Coelum, pág. 136).
Alguns anos se passam e todas as coisas terrenas adquirem o bolor da idade e o
odor da decadência. Mas as estrelas continuam brilhando em toda a sua glória como
no princípio. Séculos e idades se foram, reinos surgiram e desapareceram. Voltamo-
nos para trás, muito além do sombrio e obscuro horizonte da história, chegamo-nos ao
primeiro momento em que a ordem foi evocada do caos, quando "as estrelas da alva
juntas alegremente cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam" (Jó 38:7) e
encontramos então que as estrelas seguiam em sua soberba marcha. Não sabemos
desde quanto tempo o faziam. Os astrônomos nos falam de nebulosas que se
encontram nos mais longínquos limites da visão telescópico, cuja luz em seu vôo
incessante precisaria de cinco milhões de anos para chegar a este planeta. No entanto,
nem seu brilho nem sua força diminuem. Parecem sempre dotados do orvalho da
juventude. Não há neles fator algum de decadência, nem movimento vacilante que
revele decrepitude. Continuam a brilhar com glória inefável por toda a eternidade.
Assim os que a muitos ensinarem a justiça resplandecerão numa glória que
infundirá alegria no coração do Redentor. E assim transcorrerão seus anos para sempre
e eternamente.
Versículo 4 – Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do
fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 164
O livro de Daniel selado. As "palavras" e o "livro" dos quais se fala aqui, são
indubitavelmente as coisas que foram reveladas a Daniel nesta profecia. Estas coisas
haviam de permanecer encerradas e seladas até ao tempo do fim, quer dizer, não
deviam ser estudadas de modo especial, ou entendidas em sua maior parte, até aquele
tempo. O tempo do fim, como já foi demonstrado, começou em 1798. Como o livro
esteve fechado e selado até esse tempo, é claro que naquele tempo, ou a partir desse
ponto, o livro seria aberto. As pessoas poderiam compreendê-lo melhor e sua atenção
seria especialmente atraída para esta parte da Palavra inspirada. Não é preciso recordar
ao leitor o que desde aquele tempo se tem feito com referência à profecia. As
profecias, especialmente as de Daniel, têm sido examinadas por muitos estudantes
deste mundo onde quer que a civilização entendeu sua luz sobre a Terra. De modo
que o restante do versículo, sendo uma predição do que deve ocorrer após o início do
tempo do fim, diz: "Muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se
multiplicará." (Almeida RC). Quer este correr de uma parte para outra se refira ao
traslado de pessoas de um lugar a outro e aos grandes progressos nos meios de
transporte e de locomoção alcançados no século passado, quer signifique, como alguns
entendem, que percorreriam as profecias, ou seja, buscariam fervorosa e
diligentemente a verdade profética, o certo é que nossos olhos contemplam seu
cumprimento. Deve encontrar sua aplicação num destes dois modos. E em ambos os
aspectos nossa época notavelmente se destaca.
O aumento do conhecimento. "E o saber se multiplicará." Isto deve referir-se à
multiplicação do conhecimento em geral, o desenvolvimento das artes e ciências, ou a
um aumento do conhecimento referente às coisas reveladas a Daniel, que haviam de
ficar encerradas e seladas até o tempo do fim. Aqui novamente, qualquer que seja a
aplicação que dermos, o cumprimento é notável e completo. Consideremos as
admiráveis produções da mente e as formidáveis obras das mãos humanas, que
rivalizam com os mais ousados sonhos dos magos antigos, mas que se desenvolveram
nos últimos cem anos apenas. Nesse período se progrediu mais em todos os ramos
científicos, e mais progressos foram feitos nas comunidades humanas, na rápida
execução dos trabalhos, na transmissão dos pensamentos e palavras, nos meios de
viajar rapidamente de um lugar a outro e até de um continente a outro, que durante os
três mil anos anteriores.
Maquinaria agrícola. Comparem-se os métodos de colheita que são praticados
em nossa época com o antigo método de colher à mão feito nos dias de nossos avós.
Hoje uma só máquina corta, debulha e coleta em bolsas os cereais e os deixa prontos
para o mercado.
Navios modernos e guerra mecanizada. A guerra moderna usa navios poderosos
de superfície e submarinos, como também aviões de bombardeio e de caça que nem
sequer eram sonhados a meados do século passado. Os tanques e os caminhões, a
artilharia motorizada e outros implementos substituíram os animais e aríetes dos
antigos.
A estrada-de-ferro. A primeira locomotiva construída nos EUA foi fabricada na
fundição West Point, Nova York, e começou a funcionar em 1830. Atualmente houve
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 165
que se usam atualmente são máquinas que fundem seus próprios tipos, como a linotipo
inventada por Mergenthaler (1878), e a monotipo, inventada em Lanston em 1885.
A composição à distância. Mediante uma combinação de telégrafo e máquinas
fundidoras de linha, agora é possível que um operário situado numa estação central
componha material para a imprensa por telégrafo simultaneamente, a qualquer
distância e em tantos lugares quantos estejam vinculados à estação central. Isto
permite compor as notícias com uma economia de 50 a 100 por cento.
As pontes suspensas. A primeira ponte suspensa que mereça ser lembrada nos
EUA foi construída sobre o rio Niágara em 1855. A ponte da Porta de Ouro, que cruza
a entrada da baía de São Francisco, foi terminada em 1937 ao custo de 35.000.000 de
dólares, tem o maior arco do mundo, a saber 1.275 metros. Feitos semelhantes na
construção de pontes foram realizados em todos os países progressistas do mundo.
Eis uma lista parcial dos progressos feitos nos conhecimentos desde o tempo do
fim iniciado em 1798:
Iluminação a gás, 1798; penas de aço, 1803; fósforos, 1820; máquina de costura,
1841; anestesia por éter e clorofórmio, 1846; cabo submarino, 1858; a metralhadora
Gatling, 1861; navio de guerra blindado, 1862; freios automáticos nos trens, 1872;
sismógrafo, 1880; turbina a vapor, 1883; raios X, 1895; radium, 1898; telefone
transcontinental, 1915.
Que galáxia de maravilhas surgidas na mesma época! Quão admiráveis são as
proezas científicas de nossa era, sobre a qual todas estas descobertas e invenções
concentram sua luz! Chegamos realmente à era da multiplicação do saber.
Para honra do cristianismo, notemos em que países e por quem foram feitas estas
descobertas que tanto contribuíram para tornar a vida mais fácil e mais cômoda. Tem
sido em países cristãos e entre cristãos, desde a grande Reforma. Não podem ser estes
progressos creditados à Idade Média, que proporcionou só um disfarce do
cristianismo; nem aos pagãos, que em sua ignorância não conhecem a Deus, nem aos
habitantes das terras cristãs que negam a Deus. Na verdade, o espírito de igualdade e
liberdade individual estimulado pelo evangelho de Cristo, quando pregado em sua
pureza original, é o que liberta o corpo e o espírito dos seres humanos, convida-os ao
máximo uso de suas faculdades e torna possível uma era de liberdade de pensamento e
ação capaz de realizações tão admiráveis.
O aumento do conhecimento da Bíblia. Mas se assumirmos outro ponto de vista e
interpretarmos a multiplicação do saber como aumento do conhecimento da Bíblia,
apenas importa olharmos para a luz maravilhosa que nos resplandeceu sobre as
Escrituras durante o último século e meio. O cumprimento da profecia se tem revelado
na história. O emprego de um seguro princípio de interpretação levou à indiscutível
conclusão de que o fim de todas as coisas está próximo. Na verdade o selo do livro foi
tirado e aumentou admiravelmente o conhecimento acerca do que Deus revelou em
Sua Palavra. Cremos ser neste aspecto que a profecia mais especialmente se cumpre,
pois somente numa era sem paralelo como a atual poderia a profecia cumprir-se.
Que estamos no tempo do fim o demonstra Apoc. 10:2, onde se vê um poderoso
anjo descer do céu com um livrinho aberto na mão. Já não podia ficar selado o livro
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 167
dessa profecia, mas seria aberto e compreendido. Para achar a prova de que o livrinho
que ali é dito estar aberto é o livro aqui encerrado e selado quando Daniel o escreveu,
e de que o anjo entrega sua mensagem nesta geração, ver os comentários sobre
Apocalipse 10:2.
Versículos 5-7 – Então, eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em pé outros dois, um,
de um lado do rio, o outro, do outro lado. Um deles disse ao homem vestido de linho, que
estava sobre as águas do rio: Quando se cumprirão estas maravilhas? Ouvi o homem
vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão direita e a
esquerda ao céu e jurou, por aquele que vive eternamente, que isso seria depois de um
tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do
povo santo, estas coisas todas se cumprirão.
Versículos 8-10 – Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu senhor, qual será
o fim destas coisas? Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e
seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas
os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios
entenderão.
‘romanos’, ou em outras palavras os leigos que falavam latim. Clóvis, imediatamente após
o seu batismo, recebeu uma carta entusiasta de boas-vindas ao verdadeiro redil, escrita
por Avito, bispo de Viena, o eclesiástico mais eminente do reino burgúndio.” (Tomás
Hodgkin, Theodoric the Goth, págs. 190, 191).
“Formar tal confederação e vincular todas as antigas monarquias arianas contra este
estado católico ambicioso que ameaçava absorvê-las, foi o principal propósito de
Teodorico.” (Idem, pág. 194).
Fim da resistência ariana. Fora eliminado o reino visigodo, mas focava ainda a
aliança das potências arianas sob Teodorico. Alarico havia contado com a ajuda de
Teodorico, mas ela falhou. No ano seguinte, em 508, Teodorico dirigiu-se contra
Clóvis e ganhou a vitória, depois da qual inexplicavelmente fez a paz com ele, e
terminou a resistência das potências arianas.” (Tomás Hodgkin, Theodoric the Goth,
págs. 202, 203; Nugent Robinson, A History of the World, vol. 1, págs. 75-79, 81, 82).
unidade que Roma estabelecera, e enquanto essa unidade permaneceu como fato
definido, foram os francos que a mantiveram. . . . Sua carreira inicia apenas no fim do
século V, e então, como sucede amiúde em casos semelhantes, é o gênio de um
homem, um grande caudilho, o que cria a nação. . . . Clóvis . . . aparece como um dos
grandes espíritos criadores que dão uma nova direção ao curso da história. . . . O
terceiro passo de grande importância neste processo de união foi dado também por
Clóvis. Uma instituição produzida no mundo antigo antes dos germanos nele entrarem,
tinha nascido com vida forte e ampla influência, até mesmo com poder que crescia
lentamente, através de todas as mudanças deste período caótico. No futuro seria um
poder ainda maior e exercer uma influência ainda mais ampla e mais permanente que a
dos francos. . . . Era a igreja romana. Seria uma grande potência eclesiástica do
futuro. Portanto, era uma questão muito especial saber se os francos, que por sua vez
se desenvolveriam numa grande potência política do futuro, seriam aliados desta outra
potência ou opostos a ela . . .
“Esta questão foi decidia por Clóvis, não muito depois de começar sua carreira,
ao se converter ao cristianismo católico. . . . Nestas três maneiras, portanto, Clóvis
exerceu uma influência criadora sobre o futuro. Uniu os romanos e os germanos numa
base de igualdade, e ambos os povos conservaram a fonte de sua força para formar
uma nova civilização. Fundou uma potência política que em si seria quase todos o
continente, e acabar com o período das invasões. Estabeleceu a estreita aliança entre as
duas grandes forças controladoras do futuro, os dois impérios que continuaram a
unidade que Roma tinha criado, o império político e eclesiástico.” (Jorge Burton
Adams, Civilization During the Middle Ages, págs. 137-144).
Assim no ano 508 terminou a resistência unida que se opunha ao
desenvolvimento do papado. A questão da supremacia entre os francos e os godos,
entre a religião católica e a ariana, tinha ficado decidida a favor dos católicos.
Versículos 12, 13 – Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e
cinco dias. Tu, porém, segue o teu caminho até ao fim; pois descansarás e, ao fim dos
dias, te levantarás para receber a tua herança.
Os 1.335 dias proféticos. Introduz-se aqui ainda outro período profético, que
abrange 1.335 anos. Podemos dizer quando começa e termina? A única chave que
temos para solucionar a questão é o fato de que se fala dele em ligação imediata com
os 1.290 anos, que começaram em 508, como se demonstrou. A partir desse ponto, diz
o profeta, haverá 1290 anos. A frase seguinte diz: "Bem-aventurado o que espera até
1.335 dias." Mas, a partir de que ponto? Indubitavelmente, do mesmo ponto que o do
início dos 1.290 anos, a saber, 508. A menos que sejam contados desse ponto, é
impossível situá-los e devem ser excetuados da profecia de Daniel, quando lhes
aplicamos as palavras de Cristo: "Quem lê, entenda." Mateus 24:15. Deste ponto se
estenderiam até 1843, pois a soma de 508 com 1335 dá 1843. Começando na
primavera da primeira data, terminam na primavera da última.
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 174
Mas alguém perguntará: Como sabemos que já terminaram, se no fim desses dias
Daniel se levanta para receber sua herança, o que alguns entendem ser a ressurreição
dos mortos? Esta pergunta se baseia num duplo equívoco. Em primeiro lugar, afirma-
se que os dias no fim dos quais Daniel se levanta são os 1.335 dias; e em segundo
lugar, que o levantamento de Daniel é sua ressurreição, o que também não se pode
afirmar. A única coisa prometida para o fim dos 1.335 dias é uma bênção para os que
aguardam e chegam até esse tempo, isto é, aos que então estiveram vivos.
Que bem-aventurança é essa? Olhando para o ano 1843, quando esses anos
terminaram, que contemplamos? Vemos um notável cumprimento da profecia na
grande proclamação da segunda vinda de Cristo. Quarenta e cinco anos antes começou
o tempo do fim, o livro foi aberto e começou a aumentar a luz. Por volta de 1843
grandiosamente culminou toda a luz que fora derramada sobre os diversos assuntos
proféticos. A proclamação se realizou com grande poder. A nova e comovente
doutrina do estabelecimento do reino de Deus abalou o mundo. Nova vida foi
comunicada aos verdadeiros discípulos de Cristo. Os incrédulos ficaram condenados,
as igrejas eram provadas e se despertou um reavivamento sem igual desde esse tempo.
Foi esta a bênção? Escutemos as palavras do Salvador: "Bem-aventurados os
vossos olhos”, disse aos Seus discípulos, “porque vêem; e vossos ouvidos, porque
ouvem."(Mat. 13:16) Também disse a Seus discípulos que profetas e reis desejaram
ver as coisas que eles viam e não as viram. Mas lhes disse: "Bem-aventurados os olhos
que vêem as coisas que vós vedes." Se uma nova e gloriosa verdade era nos dias de
Cristo uma bênção para os que a recebiam, por que não o seria igualmente em 1843?
Pode-se objetar que os participantes desse movimento ficaram desapontados em
sua expectativa. O mesmo aconteceu com os discípulos de Cristo por ocasião de Sua
primeira vinda. Eles O aclamaram em Sua entrada triunfal em Jerusalém, esperando
que tomasse o reino. Mas o único trono ao qual Ele subiu foi a cruz e em vez de ser
admitido como rei num palácio, Seu corpo inerte foi deixado no sepulcro novo de
José. Contudo, foram "bem-aventurados" por haverem recebido as verdades que
tinham ouvido.
Pode-se também objetar que essa não foi uma bem-aventurança suficiente para
ser assinalada por um período profético. Por que não, já que o período em que há de
ocorrer, o tempo do fim, é introduzido por um período profético; já que nosso Senhor,
no versículo 14 de Sua grande profecia de Mateus 24, anuncia este movimento de
forma especial; e já que também é apresentado em Apocalipse 14:6, 7, sob o símbolo
de um anjo voando pelo meio do céu com um anúncio especial do Evangelho eterno
aos habitantes da Terra? Por certo a Bíblia dá muita importância a este movimento.
Mais duas questões devem notar-se brevemente: A que dias se refere o versículo
13? Que significa, segundo outra versão, estar Daniel em sua sorte? Os que afirmam
que os dias são os 1.335 anos são levados a essa aplicação porque não olham atrás,
além do versículo anterior, onde os 1.335 dias são mencionados. Ao passo que para
interpretarem esses dias tão indefinidamente introduzidos, deve certamente considerar-
se todo o alcance da profecia desde o capítulo 8 de Daniel. Os capítulos 9, 10, 11 e 12
são claramente uma continuação e explicação da visão de Daniel 8. Daí podermos
Daniel e Apocalipse – Vol. 1 – Daniel 175