Artigo Artrópodes
Artigo Artrópodes
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Porto Alegre
2016
RAMOIM BELEDELLI PASE
Porto Alegre
2016
AGRADECIMENTOS
Sou muito grato pelo caminho que me foi permitido escolher e seguir.
Sou infinitamente grato à minha mãe Senira e a meu pai Valmor pelo dom da vida, por
me fazerem começar esse caminho e por me acompanharem nos passos que trilhei.
Sou grato a todos os meus amigos e companheiros por terem compartilhado seus
passos comigo e por termos construído nossas trilhas todos juntos.
Sou grato a todos os mestres que tive, sempre será uma honra ter aprendido com todos.
Sou grato ao Prof. Dr. Luiz Alexandre Campos pela orientação nesse difícil desafio.
Sou grato à Prof.a Dr.a Heloisa Junqueira por aceitar compor a banca, pelos conselhos,
ensinamentos e pela amizade desde a bela e intensa experiência de estágio em Ciências, que
foram insubstituíveis para minha formação.
Sou grato à Prof.a Dr.a Eunice Aita Isaia Kindel por aceitar compor a banca e por
mostrar a urgência de como professores irmos além das limitações tradicionais que permeiam
o ensino.
Sou grato às escolas que me acolheram incondicionalmente na realização desse
trabalho.
E por fim, sou muito grato à Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a todos os
seus professores por em seu curso de Ciências Biológicas me tornar aberto a ver os infinitos
caminhos que os seres vivos trilham e pela serenidade que essa abertura representa.
RESUMO
Artrópodes são um dos grupos mais representativos e necessários para o ambiente em que
vivem. Estão associados a diversas conceituações construídas por variadas fontes que
fundamentam práticas com consequências positivas e negativas. Esse universo de
conceituações e práticas e precisa ser levado em conta pela escola, é importante entende-lo
para melhorar o processo pedagógico. Para isso houve um levantamento dessas informações
através de questionário com perguntas abertas e uma de múltipla escolha com justificativa.
Esses resultados foram discutidos em abordagem qualitativa e quantitativa à luz de
bibliografia científica e legislações. Os resultados indicam pouco significado da escola nessas
conceituações e práticas apesar da sua produção ser mais correta quando de fonte escolar do
que quando de fonte cotidiana. Ela parece não desmistificar muito a visão pejorativa sobre
artrópodes e, além disso, parece reproduzir classificação correta, mas mal fundamentada dos
mesmos.
______________________________________________________________________
PASE, Ramoim Beledelli. ARTRÓPODES: conceituações, mitos e práticas presentes no
processo de ensino-aprendizagem escolar e suas relações com o cotidiano. Porto Alegre.
2016. 72 f. Trabalho de Conclusão de Curso. Licenciatura em Ciências Biológicas. Instituto
de Biociências. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 3
3 DELINEAMENTO METODOLÓGICO..................................................... 8
3.2 O QUESTIONÁRIO......................................................................................... 9
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 55
APÊNDICE II – Questionário.......................................................................... 60
1
equívocos na classificação e identificação dos artrópodes. Por fim são trazidas conclusões
acerca da eficiência da mesma na reprodução de conceituações e práticas corretas ou
desconstrução de conceituações e práticas equivocadas ou inadequadas.
2
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Artrópodes (Filo Arthropoda) incluem alguns dos animais mais comuns presentes em
diferentes ambientes, como aranhas, insetos, centopeias, caranguejos e camarões. Sua enorme
diversidade adaptativa conferiu a eles possibilidade de colonizar praticamente todos os
ambientes conhecidos, sendo que os insetos sozinhos correspondem a 80% de todas as
espécies animais conhecidas. São caracteres compartilhados por todos os artrópodes a
presença de apêndices pares articulados, segmentados em módulos seriados semelhantes, um
exoesqueleto quitinoso seco que os protege de traumas mecânicos, patógenos e desidratação
associado à necessidade de ecdise para permitir seu crescimento e desenvolvimento.
(RUPPERT; BARNES, 2005)
Insetos (Classe Insecta) possuem corpo dividido em três tagmas (cabeça, tórax e
abdômen), três pares de apêndices locomotores no tórax, e aparelho bucal altamente
diversificado composto de peças visíveis externamente na cabeça. O grupo das aranhas
(Ordem Araneae), frequentemente confundido com insetos no conhecimento popular,
possuem dois tagmas (cefalotórax e abdome) e quatro pares de apêndices locomotores no
cefalotórax, além de peças bucais distintas daquelas dos insetos. Insetos e aranhas apresentam
grande abundância e exercem papéis ecológicos muito importantes, as aranhas como grandes
predadoras e os insetos nas mais variadas funções como herbívoros, galhadores, minadores,
polinizadores, decompositores, entre outras (RUPPERT; BARNES, 2005).
Determinadas espécies de insetos e aranhas, devido à capacidade de inocular ou aspergir
toxinas, podem causar acidentes com humanos, o que ajuda a explicar a visão negativa
associada a esses grupos de animais e sua categorização como repulsivos feita por muitas
pessoas. Aranhas possuem poucos grupos causadores de acidentes graves no Brasil, limitados
a espécies dos gêneros Loxosceles, Phoneutria e Latrodectus. Insetos tem variados grupos
causadores de acidentes, mas himenópteros (principalmente adultos de vespas e abelhas,
Ordem Hymenoptera) e lepidópteros (larvas - lagartas, Ordem Lepidoptera) estão bastante
presentes entre os casos da literatura médica, inclusive podendo provocar mortes
(MS/FUNASA, 2001).
3
2.2 A ETNOENTOMOLOGIA E O CONTEXTO DO ENSINO
4
culturalmente, de acordo com sentimentos ambíguos, negativos e positivos que permeiam as
percepções acerca de artrópodes em geral, podendo gerar práticas negativas (destrutivas) ou
positivas (conservadoras) para os organismos.
Cajaíba e Silva (2015) afirmam que o ensino de ciências de qualidade não se faz
apenas através de livro didático, ou apostila. Nesse sentido, o trabalho de De Almeida et al.
(2008) analisa a qualidade dos livros de ciências e conclui que o educador deve usá-los
sempre de modo crítico e racional, visto que nas últimas décadas sua construção além de
privilegiar qualidade de imagens em detrimento de conteúdos ainda permanece uma visão
antropocêntrica utilitarista (GRÜN, 2009) desses. Esses autores ressaltam que por mais que
tenham reduzido o enfoque em riscos à saúde humana, os livros analisados ainda permitem
apenas discussões acerca de aspectos econômicos da biologia. Não permitindo dessa forma a
construção de uma ética sustentável a partir deles. Junqueira e Kindel (2009) corroboram com
essas conclusões em um trabalho que revisa as origens do pensamento científico e o contido
nos livros didáticos ressaltando a anacronicidade, a estagnação histórica entre esses livros e a
produção científica de fato. Demonstram também sua falta de pluralidade conceitual, de
5
visibilidade para outros pensamentos, que impede as reflexões, articulações e discussões, que
são base do pensamento científico crítico que deveria ser ensinado na escola.
Da mesma forma Machado (2015) em sua avaliação da qualidade de vários materiais
didáticos recomenda o uso deles com cautela pelo ensino, chamando atenção à sua escassez
de informações ecológicas e, além disso, compara essa baixa qualidade às confusões dos
alunos ao posicionar o grupo Insecta junto a outros organismos. Sendo assim, a importância
ecológica dos animais, pouco explorada nos materiais deve ser melhor explicada pelos
professores para que os alunos entendam minimamente a enorme importância dos insetos para
o ambiente e assim se cumpra o papel da escola em formar cidadãos mais conscientes.
6
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”
O artigo em si aborda mais o aspecto utilitarista dos ecossistemas brasileiros como um todo,
mas nos incisos de seu primeiro parágrafo são protegidos pelo Estado de agressões os processos
ecológicos, a diversidade como um todo, seja ela vegetal, animal ou do meio abiótico de nosso
território.
Seu quinto princípio, idêntico ao Art. 225 é uma convocação de responsabilidade para
a sociedade como um todo e estando de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) deve ser levado em conta para uma formação cidadã dentro da escola.
7
3 DELINEAMENTO METODOLÓGICO
O estudo acerca das conceituações relativas a Insetos foi realizado em três turmas de
Oitavo Ano do Ensino Fundamental no município de Porto Alegre (RS), escolhidas por terem
desenvolvida previamente a temática Seres Vivos, e por consequência a de insetos, como
referenciado para o terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental, nos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o ensino de Ciências Naturais e, portanto, para os anos finais do
ensino fundamental.
As turmas estudadas foram uma de cada de três instituições: Escola Estadual de
Ensino Fundamental Padre Balduíno Rambo (EBR), localizada no bairro Partenon; Escola
Estadual de Ensino Fundamental Cândido Portinari (ECP), localizada no bairro Menino Deus;
e Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot (CCM), localizado no bairro Azenha.
O acesso do pesquisador e a aplicação do questionário, bem como o uso dos dados e
dos nomes das escolas só foram permitidos mediante visita em que a carta de apresentação
(Anexo I) era mostrada pessoalmente pelo pesquisador junto de uma cópia do questionário
(Anexo II) à direção das instituições. Em seguida era marcada conversa presencial (EBR e
ECP) ou por telefone (CCM) com os professores de ciências responsáveis pelas turmas para
que estes conhecessem o questionário e o entrevistador. Somente então eram marcadas as
aplicações dos questionários. Foram contatadas cinco escolas ao total, não foram aplicados
questionários em duas delas por que não dispunham de horários possíveis para o pesquisador
visitar as aulas de ciências. Esse critério foi adotado por que ficara implícito no diálogo com
as escolas a importância do acompanhamento de professor qualificado para avaliar o conteúdo
8
do questionário, bem como de que a aplicação fosse feita em tempo/espaço coerentes com a
temática do próprio questionário.
A turma de oitavo ano da EBR foi visitada no dia 28/09/2016, onde os nove alunos
presentes responderam o questionário. A turma de oitavo ano da ECP foi visitada no dia
29/09/2016, quando dezesseis dos dezessete alunos presentes responderam o questionário. A
turma de oitavo ano do CCM foi visitada no dia 4/10/2016, quando os vinte e dois alunos
presentes responderam ao questionário.
3.2 O QUESTIONÁRIO
A elaboração das perguntas principais do questionário foi feita tendo como objetivos
levantar o máximo possível de conceituações e práticas acerca dos insetos entre alunos que a
princípio já tiveram essa temática trabalhada, classificá-las como adequadas ou não à
realidade e ao conhecimento científico e verificar de onde elas surgem, seja do cotidiano fora
da escola ou do ensino escolar propriamente dito. A última questão apresentada foi elaborada
na tentativa de identificar uma origem ou padrão mais específico que esclareça a confusão
mais comum na classificação de artrópodes que é a entre aracnídeos e insetos (COSTA-
NETO; PACHECO, 2004).
O questionário formulado continha quatro imagens fotográficas de artrópodes e quatro
perguntas referentes a cada uma das imagens. As imagens eram em preto e branco em cada
questionário, mas estava disponível para as turmas uma folha com suas versões coloridas.
Cada página do questionário era referente a um artrópode e as perguntas eram iguais para
cada página, com exceção da quarta que continha também a última questão. A primeira
página do questionário (Anexo II) continha um cabeçalho, seguida de lacuna para
preenchimento do nome do participante. O cabeçalho resumia em linguagem simples os
objetivos do estudo, reforçando o caráter voluntário da participação do aluno e a garantia de
seu anonimato.
Logo abaixo da lacuna para o nome do participante estava o enunciado geral das
questões: "Observe as imagens com atenção e responda sobre cada uma delas as seguintes
perguntas:" seguida de foto de um inseto nas páginas 1 a 3, ou de uma aranha na página 4.
9
Foram apresentadas da página 1 à página 4 fotos (Anexo III) respectivamente representando
um imaturo da borboleta adulta Heliconius erato phylis (A1), uma abelha africana adulta Apis
mellifera (A2), uma borboleta Heliconius erato phylis (A3), uma aranha lobo adulta Hogna
lenta (A4) Após cada foto estavam as quatro perguntas principais do estudo com lacunas de
tamanho exclusivo para cada resposta, cuja escolha foi arbitrada para indicar a simplicidade
ou complexidade da resposta esperada:
1) O que você pensa quando vê o animal da foto? O que você sabe dele?
2) Onde e com quem você aprendeu sobre esse animal?
3) O que você faz se achar um animal da foto perto de você?
4) Onde e com quem você aprendeu o que fazer com ele?
Na quarta e última página, além das perguntas principais seguiu uma última questão:
"Qual dos animais representados nos números 'I II III e IV' não é um inseto? Explique
por quê."
No fim da última página estava a mensagem de agradecimento ao participante: "Muito
grato pela atenção e pelas respostas!".
A ordem das imagens que serviram como base das perguntas no questionário foi
deliberada de forma a não deixar adjacentes as sessões referentes ao imaturo (A1) e o adulto
(A3) de Heliconius erato phylis. Foi arbitrária a escolha dessas duas fases de vida de
Lepidoptera para que surgissem no estudo conceituações acerca do ciclo de vida dos insetos.
O posicionamento dos objetos foi pensado para impedir viés por associação espacial, entre
uma fase do ciclo e a outra, testando assim se era possível para os alunos ligá-las por conta
própria. Este cuidado parte de recomendações de Chagas (2000) para questionários.
A abelha africana (A2) foi incluída no estudo com a intenção de testar se quando
trabalhado a temática dos Seres Vivos na escola seria estudada a diversidade com importância
no cotidiano dos alunos, como pautado nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
de Ciências Naturais. Apis mellifera foi escolhida então justamente por ser muito conhecida e
por pertencer a um grupo de grande importância econômica (RUPPERT; BARNES, 2005).
1) O que você pensa quando vê o animal da foto? O que você sabe dele?
Para levantar conceituações propriamente ditas, o que é feito na primeira pergunta do
questionário, foi necessário verificar a capacidade dos participantes de classificar
10
minimamente os insetos dentro de critérios do senso comum (lagarta, borboleta, aranha) que
muitas vezes correspondem com a classificação científica em Ordens animais (com exceção
de Apis mellifera, que é popularmente identificada a nível de espécie) sendo justamente este o
nível básico de discernimento escolhido. Sendo assim, foram apresentadas imagens de
artrópodes de grupos comuns em ambientes terrestres na região do estudo, que muito
dificilmente os alunos não teriam tido contato prévio real ou por outros meios. É esperado que
o participante observe a imagem A1 e o identifique seja como lagarta, manduruvá, bicho
cabeludo ou demais nomes populares para imaturos de Lepidoptera, que ele faça o mesmo
com a imagem A2 e o identifique como abelha. Que faça o mesmo com a imagem A3 e o
identifique como um adulto de Lepidoptera, seja ele borboleta ou mariposa e com a imagem
A4 identificando-a como uma aranha.
Outro passo para o levantamento das conceituações foi questionar o aluno sobre o que
ele conhece acerca do animal após sua identificação dentro de categorias gerais do senso
comum, para que assim seja expresso o que vem mais imediatamente à mente sobre aquele
objeto num primeiro momento ("O que você pensa quando vê o animal da foto?"). Sendo
intenção facilitar para que em um segundo momento ("O que você sabe dele?") se apresentem
da memória do participante conceituações referentes ao hábito, ciclo de vida, alimentação,
mecanismos de defesa e diversidade do animal, permitindo também que surjam observações
relacionadas a outras espécies do grupo em questão e não necessariamente apenas ao
indivíduo representado na imagem.
11
3) O que você faz se achar um animal da foto perto de você?
A terceira pergunta tem como objetivo levantar o máximo possível de práticas dos
alunos em relação aos insetos. Para isso o questionário sugere um encontro fictício do
participante com o animal em questão para fazer surgir relatos de comportamentos autênticos
em resposta à presença do indivíduo propriamente dito, de representantes de seu grupo, de
populações ou conjuntos desses animais, conforme a interpretação do participante.
“Última questão: Qual dos animais representados nos números 'I II III e IV' não é um
inseto? Explique por quê."
É muito comum entre a população atribuir o nome inseto a animais que não se
encaixam na Classe Insecta, como aranhas, centopéias, piolhos-de-cobra, crustáceos e até
mesmo cobras e ratos em alguns casos (MODRO et al., 2009; COSTA-NETO; PACHECO,
2004). Tendo a ordem Araneae os organismos mais tradicionalmente confundidos com insetos
pela população (COSTA-NETO; PACHECO, 2004) elas foram utilizadas no questionário
para tentar levantar algum critério de classificação ou outro mito, conceituação que explique
esse fenômeno. Também é objetivo da questão perceber se essa confusão é de origem
cotidiana ou escolar e se ela/ele continua após o desenvolvimento da temática dos Insetos nas
turmas. Essa percepção é possível com a comparação entre essa e as respostas para a segunda
pergunta do questionário (fonte do aprendizado), relativas à imagem A4 do questionário.
12
A aplicação do questionário foi feita posteriormente à leitura conjunta dele pelo
pesquisador e a turma em que ele seria aplicado. Foi explicado brevemente também o que
seria um trabalho de conclusão de curso, a importância das respostas dos alunos para o
trabalho, respostas essas que deveriam ser coerentes com o conhecimento do aluno e de
formulação individual. Principalmente foi ressaltado o caráter não avaliativo da atividade em
mais de uma oportunidade durante as aplicações, para que na medida do possível se subtraísse
a pressão pela "resposta certa de prova" que enviesaria a análise no sentido de impedir o
levantamento apropriado das conceituações subjetivas em relação ao objeto de estudo.
Este pesquisador procura não comportar-se autoritariamente com os alunos que visita.
Houve conversa em sala durante todas as aplicações e possível supressão de conceituações
subjetivas por conta de trocas entre os alunos. Mesmo assim qualquer regra definida para a
participação deles, como por exemplo, responder individualmente, assim como a própria
decisão do aluno em participar do estudo não teve policiamento nem cobrança direta pelo
aplicador, sendo no máximo lembrado por ele em alguns momentos a importância da
individualidade das respostas dos participantes. A responsabilidade de manter um
comportamento adequado em sala de aula foi dos professores que estiveram em sala durante a
aplicação nas turmas do CCM e do EBR. No ECP o aplicador esteve sozinho e não precisou
fazer interferências, a não ser lembrar a importância da individualidade das respostas poucas
vezes.
13
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO QUALITATIVA
Tabela 2 – conceituações e práticas obtidas para cada animal, média por participante e desvio
padrão
14
Foram contabilizadas como conceituações válidas para o estudo apenas afirmações
escritas pelo participante que contivessem informações indicativas dos saberes prévios
relacionados à biologia do animal da questão. Não foram contabilizadas observações
possivelmente originadas da simples visualização do objeto e julgamentos estéticos simples
como, por exemplo, "peludo, nojento, bonito, colorido". Os julgamentos de cunho moral e
ético foram contabilizados "é mau, faz mal, é bom para a natureza", os julgamentos que
consideraram a valoração intrínseca ou utilitária (CALLICOTT, 2006) do animal foram
também levados em conta "não devemos matar porque ele é muito bonito, não devemos matar
porque ele é vivo como eu". Foram validadas para análise quase todas as respostas relativas à
praticas, até mesmo não fazer nada em relação ao animal em questão.
As conceituações obtidas sobre os animais foram classificadas como corretas ou mitos
de acordo com validação perante referencial científico. A análise para classificação leva em
conta quando a afirmação é em relação ao animal da imagem ou ao grupo que o animal
pertence, visto que as perguntas permitem essa liberdade de interpretação para a resposta do
participante. Além disso, foram classificadas como escolares ou cotidianas quanto à fonte do
conhecimento como explicado na seção de metodologia.
As práticas obtidas são classificadas como adequadas ou inadequadas de acordo com
validação perante referencial científico e à legislação vigente, surgindo ela ou não de uma
interpretação equivocada da biologia do animal. Essa análise para classificação também leva
em conta se a afirmação é em relação ao animal da imagem propriamente dito ou ao grupo a
que ele pertence, além disso, também são considerados os riscos da prática à saúde humana e
o quanto é uma atitude válida ou não do ponto de vista conservativo. As práticas também
foram classificadas como escolares ou cotidianas quanto à fonte do conhecimento como
explicado na seção de metodologia deste trabalho.
As respostas para a Última Questão foram contabilizadas também como escolares ou
cotidianas, mas de acordo com a fonte das conceituações relativas ao animal escolhido como
não pertencente a Insecta e de acordo com a fonte das conceituações relativas ao animal IV
(A4), visto que ele seria a resposta correta. A explicação da escolha também foi discutida com
base na literatura.
15
“O grupo do Animal I alimenta-se de folhas (n=2).”
O hábito alimentar principal do estágio larval de Lepidoptera é tecido vegetal foliar
vivo, sendo inclusive considerados uma das mais importantes pragas agrícolas atuais.
Lepidoptera é um dos maiores taxa a sobreviver e se alimentar apenas dependendo de tecido
vegetal. (RUPPERT; BARNES, 2005).
“O grupo do Animal I pode causar doenças (n=1), o grupo pode causar ferimentos
sérios (n=1).”
Acidentes causados por contato com lagartas são denominados erucismo (erucae =
larva) sendo representantes das famílias Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae os
responsáveis pelo maior número de casos. Normalmente lagartas desses grupos apresentam
cerdas ramificadas ou não com espículas cobrindo o corpo em cujas extremidades estão
glândulas secretoras de diversas substâncias de funcionalidade defensiva contra predadores.
Acidentes que resultam em quadro de dermatite urticante são extremamente comuns
em todo o Brasil. Geradas imediatamente por reações de origem histamínica no local de
contato da vítima com as cerdas, podem causar dor intensa local, vermelhidão, coceira,
inflamação, enfartamento ganglionar regional e sem tratamento adequado pode evoluir para
bolhas e necrose. O tratamento se dá com lavagem e anestesia local, anti-histamínicos e
corticoides.
Acidentes que resultam em quadro de síndrome hemorrágica são comuns,
principalmente na região Sul do país. Causados por lagartas de Lonomia spp., em especial
Lonomia obliqua, por reações locais de origem histamínica e generalizadas que prejudicam
principalmente a função do fibrinogênio e da fibrina no sangue humano. O quadro imediato
pós-contato da vítima com as cerdas do animal é de dermatite urticante, seguida
inespecificamente de cefaléia holocraniana, mal-estar geral, náuseas e vômitos, ansiedade,
dores musculares, dores abdominais, hipotermia e hipotensão. Sintomas hemorrágicos
variados como sangramentos de mucosas, cicatrizes, hemorragia interna e hematomas
espontâneos surgem de oito a 72 horas após o acidente, sendo o quadro mais preocupante o de
insuficiência renal que surge em 5% dos casos.
O tratamento do quadro de dermatite urticante se dá com lavagem e anestesia local,
anti-histamínicos e corticoides. O quadro de síndrome hemorrágica é tratado com repouso,
administração de soro antilonômico e de agentes antifibrinolíticos. (MS/FUNASA, 2001)
16
4.2.2 Conceituações corretas de fonte cotidiana
17
4.2.4 Mitos de fonte cotidiana
18
O contexto dessas respostas dadas pelos participantes permite verificar que eles se
referiam especificamente à lagarta de Heliconius erato phylis como sendo muito perigosa para
a saúde humana. O estudo não encontrou acidentes com a lagarta. Não há como discernir se
nesse caso os participantes tenham confundido a lagarta de Heliconius erato phylis de alguma
forma com Lonomia spp. ou acreditem que todas as lagartas são perigosas.
19
científica atual visto que Heliconius erato phylis não parece possuir qualquer veneno
(Kaminski et al. 2002) e casos de erucismo se assemelham em sintomas com queimaduras de
origem térmica ou química. (MS/FUNASA, 2001)
20
O contexto das respostas dadas pelo participante permite verificar que ele se referia
especificamente à lagarta de Heliconius erato phylis como predador de insetos, o estudo não
encontrou casos relacionados. Não é possível verificar se o participante simplesmente
confundiu o hábito alimentar do animal em questão ou se confundiu o mesmo como
pertencente de um grupo de animais com representantes predadores. (RUPPERT; BARNES,
2005)
21
“Manter distância do Animal I ou de algum de seu grupo (n=2).”
O contexto das respostas dadas pelos participantes permite verificar que eles se
afastariam em caso de encontro com algum animal da imagem ou de seu grupo. Essa ação
pode ser encarada em maior parte como adequada por que evita qualquer risco de contato que
possa ferir o animal e o ser humano. Por outro lado não parece diminuir o risco de encontro
posterior do animal em questão com outra pessoa ou animal doméstico.
22
qualquer contato direto com o animal. Qualquer ação seria feita com alguma proteção ou não
aconteceria o que é também uma prática acertada.
Não foram encontradas práticas inadequadas que o contexto das respostas pudesse
atribuir fonte a aulas, livros textos e trocas entre colegas.
23
“Capturar o animal (n=1).”
24
“Atear fogo ao animal I (n=1).”
No contexto da resposta em específico o participante identificou o animal da imagem
como sendo diferente daquele que seu pai tinha ateado fogo, mas que na dúvida atearia fogo a
ele mesmo assim. A prática além de desnecessária, por tratar-se de uma inofensiva lagarta de
Heliconius erato phylis, é proibida pela Lei Federal n° 5.197, de 3 de janeiro 1967 em seu
Artigo 1o, contraria seus princípios e orientações acerca da procura por órgãos competentes
para o manejo de quaisquer pragas. A prática também pode vir a causar incêndios.
25
repassa boca a boca, de abelha para abelha este néctar até que seu conteúdo de água reduza de
70% para aproximadamente 20%. Adicionalmente ele irá conter enzimas e outras substâncias
características do processamento pelas abelhas. (Wilson, T.V. 2016. How bees Work.
Disponível em: <http://animals.howstuffworks.com/insects/bee6.htm> Acesso em 14
Novembro 2016)
26
As respostas dos participantes e seus contextos atribuíam especificamente ao animal II
morte em consequência do uso do próprio ferrão.
O ferrão das operárias Apis mellifera é um aparelho composto basicamente de um saco
de veneno acoplado a um ferrão injetor dentado que fica preso ao tecido alvo. Quando a
abelha operária se movimenta após picar, esse aparelho é arrancado de seu abdome e continua
a injetar veneno no tecido alvo da picada, porém o dano causado a si mesma é irrecuperável e
ela morre. O aparelho do ferrão é o ovopositor modificado das fêmeas de himenópteros, sendo
assim, apenas elas podem ferroar. Abelhas rainhas possuem ferrões lisos que permitem seu
uso mais de uma vez sem o risco de auto amputação.
(Wilson, T.V. 2016. How bees Work. Disponível em:
<http://animals.howstuffworks.com/insects/bee2.htm> Acesso em 14 Novembro 2016)
27
4.3.2 Conceituações corretas de fonte cotidiana
28
As respostas dos participantes e seus contextos consideravam o animal II inofensivo.
O que é um equívoco, visto que ele possui ferrão venenoso e eventual comportamento
agressivo ligado a acidentes letais (MS/FUNASA, 2001). Talvez a confusão tenha sido na
intenção de dizer que o animal não representava tanto perigo para a saúde humana.
“O animal II foi confundido com uma mosca (n=3) O animal II é coprófago (n=1) O
animal II deixa larvas na comida (n=1) O animal II traz doenças (n=1).”
A respostas dos participantes e seus contextos demonstram que o animal II foi
confundido com uma mosca sendo atribuído a ele, hábito coprófago, ovoposição e eclosão de
suas larvas em alimentos tornando-os impróprios para consumo e a disseminação de doenças.
Todas são conceituações corretas acerca de muitas espécies de Diptera. (RUPPERT;
BARNES, 2005).
No entanto lhes foi fornecido pelo pesquisador material colorido que diminui as
semelhanças entre a mosca e a abelha e facilita sua identificação. Talvez essa conceituação,
mesmo sendo de baixa frequência (6,38% das respostas) tenha surgido justamente da
dificuldade de acesso às imagens coloridas ao responder o questionário.
“Sentir medo provoca a ferroada do animal II (n=2)”
As respostas dos participantes e seu contexto dão a entender que o animal II ataca
quem estiver amedrontado simplesmente por estar com medo, o que não parece verossímil,
29
conforme discutido. Em específico os relatos são de que algum adulto aconselhou aos
participantes não ficar com medo próximo de abelhas, talvez na intenção de prevenir
comportamentos ou movimentos bruscos que venham a provoca-las. No entanto a origem
dessa confusão pode ser porque os participantes parecem ter entendido que as abelhas são
capazes de perceber o medo em seres humanos.
(Wilson, T.V. 2016. How bees Work. Disponível em:
<http://animals.howstuffworks.com/insects/bee7.htm> Acesso em 14 Novembro 2016)
30
4.3.6 Práticas adequadas de origem cotidiana
31
“Correr do animal II quando ele é avistado (n=2)”
Levando em conta que abelhas solitárias parecem ferroar apenas quando agredidas
mecanicamente e sentinelas só parecem atacar quando há barulho ou movimentos bruscos
próximos à colmeia, correr para evitar picadas não faz muito sentido. No primeiro caso
porque é desnecessário e no segundo porque tem grande risco de provocar o efeito contrário
ao desejado.
32
“O Animal é inofensivo (n=4)”
As respostas e seus contextos atribuem ao animal III e seu grupo, em específico
borboletas, como conhecidas popularmente, a incapacidade de atacar humanos. Há o
O estudo não encontrou registros de casos relacionados a comportamentos ativos
propriamente ditos causadores de danos à saúde humana. O que valida a afirmação em serem
inofensivos.
33
4.4.3 Mitos de fonte escolar
“O pó das asas do animal III causa irritação nos olhos (n=2), causa cegueira (n=1)”
As respostas e seus contextos atribuem propriedades urticantes às escamas liberadas
do animal III em especial nos olhos humanos, sendo que uma delas atribui risco de cegueira
quando há esse contato.
As diferentes cores, disposições e composições das escamas de asas dos Lepidoptera
conferem os padrões e desenhos característicos do grupo e se desprendem facilmente por
abrasão em textura semelhante a pó (Costa Lima 1962). Meu estudo não encontrou registros
para urticância ou cegueira em especifico como descrito nas respostas em relação a qualquer
Lepidoptera.
Nesse sentido, o contexto das respostas demonstra que os participantes parecem ter
confundido a borboleta Heliconius erato phylis com uma mariposa ou bruxa, provavelmente
por apresentarem coloração não muito vistosa. Dessa forma, o contexto das respostas indica
que este mito deve ter surgido ao confundir a característica de lepidoptera em geral liberarem
facilmente suas escamas ficando muitas vezes semelhantes a pó com o fato de fêmeas de
mariposas do gênero Hylesia (Lepidóptera: Hemileucidae) liberarem espículas urticantes
presentes em seu abdome, o que de fato causa reações urticantes em qualquer tecido em que
entrarem em contato. Doença descrita em casos estudados, por exemplo no trabalho de Paniz-
Mondolfi et al. (2011).
“O animal III não deve morrer pois tem valor utilitário estético (n=2)”
Os participantes nessas respostas dizem que o animal III não deve ser morto porque é
lindo. Ou seja, parecem atribuem valor a ele segundo critérios antropocêntricos utilitaristas e
isso parece definir se ele merece a morte ou não.
34
Nesse sentido, o Decreto Nº 4339/2002, que Institui princípios e diretrizes para a
implementação da Política Nacional da Biodiversidade diz em seu primeiro princípio que: “A
diversidade biológica tem valor intrínseco, merecendo respeito independentemente de seu
valor para o homem ou potencial para uso humano”. Dessa forma, a presença dessas respostas
sugere que a discussão acerca do valor intrínseco da vida se faz necessária na escola para a
formação cidadã. No sentido de que para tornar-se um cidadão pleno, na interpretação dos
Parâmetros Curriculares Nacionais, o aluno a princípio precisaria compreender os valores
básicos que sustentam as leis que regem sua vida em sociedade para que possa ser ativo nela e
da forma que conseguir faça valer o Art. 225 da Constituição Federal: “Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
35
HowStuffWorks.com. "Why are moths attracted to light?". 9 July 2001.
<http://animals.howstuffworks.com/insects/question675.htm> 15 November 2016
36
O participante em sua resposta confundiu o adulto de Heliconius erato phylis com uma
mariposa, apesar de motivada pelo mito de que mariposas são atraídas pela luz, esta prática
pode ser encarada como acertada visto que após um tempo com a luz apagada a mariposa iria
recobrar-se da cegueira momentânea, o que aumentaria suas chances de retomar seu caminho.
"Why are moths attracted to light?" 9 July 2001.
HowStuffWorks.com. <http://animals.howstuffworks.com/insects/question675.htm> 22
November 2016
“Levá-lo para lugar seguro (n=2) Procurar ativamente tocar no animal III por
curiosidade (n=1)”
No contexto dessas respostas os participantes procuram ativamente o contato com o
animal III. O que é desaconselhável para sua integridade por tratar-se de um organismo
sensível mecanicamente (RUPPERT; BARNES, 2005). Adicionalmente, tentativas de
salvamento são desnecessárias, tendo em vista a plena capacidade de deslocamento de
borboletas saudáveis quando ameaçadas.
37
4.5 DISCUSSÃO QUALITATIVA ANIMAL IV
“O grupo animal da imagem IV possui veneno (n=9), sua picada causa danos/inchaço
(n=1).”
As respostas em seu contexto atribuem ao grupo do animal da imagem III serem
venenosos ou possuir algum tipo de picada venenosa, sendo que em uma delas o participante
afirma que o veneno tem propriedades inflamatórias.
Todas as aranhas são peçonhentas, mas não venenosas. Suas quelíceras são
articulações com um aguilhão na ponta e estão equipadas internamente de glândulas de
veneno. O veneno da maioria das aranhas não apresenta risco para a saúde humana e alguns
deles realmente possuem sintomas inflamatórios. (RUPPERT; BARNES, 2005)
“O grupo do animal IV captura insetos com sua teia (n=2), fabrica teia (n=2)”
Em suas repostas os participantes atribuem ao grupo do animal IV a produção de teias
e seu uso para captura de insetos para alimentação.
Aranhas são dotadas de quatro ou cinco fiandeiras semelhantes a cones articulados no
fim de seu abdome, que são ligadas à glândulas de seda do interior do mesmo, cuja seda sai
por orifícios em fúsulas para formar um fio. As formas de uso da seda para captura de presas é
muito diversa e grande parte das presas das aranhas são realmente insetos. (RUPPERT;
BARNES, 2005)
38
Uma das características comuns a todos os aracnídeos, além de possuírem quelíceras e
pedipalpos é a presença de quatro pares de apêndices locomotores, ou pernas (RUPPERT;
BARNES, 2005).
39
“O grupo do animal IV tem oito olhos (n=1)”
Aranhas em sua maioria possuem oito olhos, e sua disposição no cefalotórax tem
importância taxonômica. (RUPPERT; BARNES, 2005)
“O animal IV ou seu grupo produz teias (n=2), produz teia pela parte traseira (n=1)”
Já discutido.
40
O estudo não encontrou dados para esse comportamento.
O participante disse em suas respostas ter aprendido muito sobre aranhas no desenho
animado do Homem Aranha, personagem criado por Stan Lee. Em que um jovem recebe
poderes especiais ao ser picado por uma aranha radioativa e torna-se um super herói. Um de
seus métodos na série é imobilizar criminosos em sua teia, deixando-os para as autoridades
locais. Talvez o mito seja originado ao atribuir esse método do herói ao comportamento das
aranhas.
“O animal IV ajuda pessoas (n=1), receia, toma cuidado para não matar outro animal
(n=1)”
O estudo não encontrou dados para esse comportamento.
O participante disse em suas respostas ter aprendido muito sobre aranhas no desenho
animado do Homem Aranha, personagem criado por Stan Lee. Em que um jovem recebe
poderes especiais ao ser picado por uma aranha radioativa e torna-se um super-herói. Nesse
caso o participante deve estar atribuindo o comportamento altruísta do super-herói à aranha.
41
“A urina, ou secreção do animal IV provoca bolhas (n=1), provoca alergias (n=1).”
Não foram encontrados dados para o comportamento de alguma secreção
propriamente dita de aranhas provocar esse tipo de reação. Porém esses sintomas parecem
característicos de picadas de várias espécies, notavelmente do gênero Loxosceles em estágio
inicial que não é dolorosa, o que dificulta sua detecção, mas que sem tratamento podem
evoluir entre 24 e 72 horas à necrose grave do local e inflamações da região próxima.
(MS/FUNASA, 2001)
Talvez o mito da urina de aranhas provocar os sintomas de sua mordida seja uma
confusão com outro mito acerca de um comportamento defensivo que apresentam os anuros.
Anuros quando ameaçados liberam um jato de urina inofensivo que serviria para afugentar
predadores. O conhecimento popular atribui a esse jato possibilidade de provocar bolhas e
alergias. (COLOMBO; ZANK, 2008)
Sendo poucos casos em que a aranha procure ativamente atacar pessoas, manter-se
afastado dela quando avistada é uma prática acertada, que evita riscos para o humano e a
aranha. Apesar de não eliminar a chance de um acidente posterior também com humanos e
animais domésticos que não a perceberem.
42
O contexto das respostas dadas pelos participantes permite verificar que eles não
matariam o animal IV ou um de seu grupo por conta própria e chamariam um adulto para isso.
De qualquer forma matar animais é proibido por lei. No entanto essa ação pode ser encarada
como adequada por que não expõe o jovem a qualquer risco de envenenamento ou ferimento,
mas talvez possa aumentar as chances do animal sobreviver ao permitir que o adulto o
identifique não vendo necessidade de sua morte busque outra solução para o problema, como
realocar a aranha para algum lugar de menor risco.
43
Não foram encontradas práticas inadequadas de origem escolar para o animal IV.
44
aracnídeo no sentido que a observação sobre a lagarta poderia fazer parte da explicação. Foi o
único caso de argumentação com validade em relação à escolha correta do animal.
“Animal IV, por que é aracnídeo. fonte cotidiana (n=14), fonte escolar (n=9)”
Os participantes responderam a última questão dizendo que o animal IV não é um
inseto por que é um aracnídeo. Ou seja, não apresentaram argumento que explique o porquê
classificar a aranha como aracnídeo, diferenciando-o dos insetos.
O fato de saberem que o animal IV trata-se de um aracnídeo já é algo importante, mas
o fato de tantos não saberem explicar o motivo levanta a suspeita de que haja uma valorização
da memorização das classificações, quando ensinadas, acima da compreensão básica do
animal. Mas também, como comentado na seção de metodologia, houve intercâmbio de
informações entre os participantes do questionário e talvez a frequência alta de afirmações
sem explicação seja evidência dessa contaminação amostral onde talvez se reproduza entre os
alunos uma classificação muito abstrata ao conhecimento dos mesmos.
É intrigante que a resposta de maior frequência no estudo não tenha argumentação
válida, seja de origem escolar ou cotidiana. Ainda mais por ser relacionada à confusão
aparentemente mais comum acerca de artrópodes. Talvez não haver argumentação seja um
problema com a elaboração do questionário, apesar do fato de até mesmo as respostas que
escolheram o animal incorreto argumentarem apropriadamente evidencie o contrário.
Algumas possíveis argumentações válidas esperadas na resposta seriam: por possuir
oito pernas ou quatro pares de pernas, oito olhos, corpo dividido em duas partes (cefalotórax e
abdômen), não voa (caso reconheça lagartas como Lepidoptera imaturos) (RUPPERT;
BARNES, 2005).
“Animal IV, explicações redundantes ou sem explicação. Fonte cotidiana (n=7).”
Os participantes responderam a última questão dizendo que o animal IV não é um
inseto, mas não explicaram o porquê, foram explicações redundantes como “por que é uma
aranha”, ou desconexas e incompreensíveis para o pesquisador. Algumas vezes talvez
provocadas pela mesma supervalorização de memorizar classificação em relação à
compreensão do animal sugerida no grupo de respostas anterior. Mas também, como
comentado na seção de metodologia, houve intercâmbio de informações entre os participantes
do questionário e talvez a frequência alta de afirmações sem explicação seja evidência dessa
45
contaminação amostral onde talvez tenha se reproduzido entre os alunos uma classificação
muito abstrata ao conhecimento dos mesmos.
“Animal II, porque não caça e se alimenta somente de mel, origem cotidiana (n=2).”
Os participantes identificaram o animal II como abelha, mas por algum motivo
incompreensível para o pesquisador a partir de suas respostas associaram a todos os insetos
comportamento predatório como característica para classificação. O que não é válido, visto
que os hábitos alimentares de insetos são muitíssimo diversos dentro do espectro não
predatório, como em galhadores, minadores, sugadores de néctar entre outros (RUPPERT;
BARNES, 2005). Contudo, a justificativa da resposta teve base em afirmação coerente com a
biologia do animal, o que a torna válida.
46
informações entre os participantes do questionário e talvez a frequência alta de afirmações
sem explicação seja evidência dessa contaminação amostral onde talvez tenha se reproduzido
entre os alunos uma classificação muito abstrata ao conhecimento dos mesmos.
47
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO QUANTITATIVA
Resumo da Tabela 3:
Conceituações escolares corretas n=71; Conceituações cotidianas corretas n=76; Mitos
escolares n=20; Mitos cotidianos n=69.
Levando em conta que todas as turmas já tiveram a temática dos Seres Vivos
trabalhada em sala de aula, ou seja, ao observarmos um panorama final do processo de
escolarização relativo a essa temática, a comparação desses resultados sugere que o mesmo
tem mais eficiência em reproduzir acertos nas conceituações atribuídas a ele (88%) do que os
demais processos cotidianos (52%).
Em relação ao número de conceituações levantadas propriamente dito, as de fonte
cotidiana representam 61,4% da amostra, ou seja, superam o número de conceituações
atribuídas às fontes curriculares de informação. Ou seja, a maioria das conceituações em
relação aos artrópodes parece ser aprendida no cotidiano e parece permanecer após o
desenvolvimento das temáticas. Pode-se dizer de outra maneira que a escola parece ter menor
penetrância na construção de conceituações referentes a artrópodes que fazem parte do
48
cotidiano dos alunos. Mas esta penetrância é maior do que nas práticas, como será visto
adiante.
De modo geral a observação desses resultados indica que a escola apresenta resultados
efetivos na reprodução de conhecimentos cientificamente acertados, ou seja, de conceituações
corretas relativas a alguns dos artrópodes possivelmente mais presentes no dia a dia dos
alunos. No entanto, as explicações cotidianas se fazem muito presentes. Ou as conceituações
que os alunos identificam como cotidianas se fazem mais presentes talvez por não serem
recordadas como escolares. Diferenciação que não foi possível de ser verificada plenamente
pelo pesquisador no contexto das respostas dos participantes.
Dos 115 registros de práticas corretas para todos os quatro animais do estudo, apenas
13, ou seja, 11,3% podem ter sido obtidos de fontes curriculares formais em sala de aula,
segundo a atribuição que as respostas dos participantes permitem fazer. Os demais registros
são de fonte cotidiana obtida de diversas fontes como programas de televisão, internet,
ensinamentos familiares e de amigos. Já em relação a práticas consideradas inadequadas no
contexto do estudo, das 49 registradas, apenas duas, ou seja, 4,1% delas são atribuídos ao
aprendizado curricular. (Tabela 4)
Resumo da Tabela 4:
49
Práticas escolares corretas n=13; Práticas cotidianas corretas n=102; Práticas escolares
inadequadas n=2; Práticas cotidianas inadequadas n=47.
Levando em conta que todas as turmas já tiveram a temática dos Seres Vivos
trabalhada em sala de aula, ou seja, ao observarmos um panorama final do processo de
escolarização relativo a essa temática, a comparação desses resultados sugere que o mesmo
tem mais eficiência em reproduzir acertos também nas práticas atribuídas a ele (86,6%) do
que os demais processos cotidianos (68,5%).
De modo geral a observação desses resultados indica que a escola apresenta resultados
efetivos na reprodução de práticas cientificamente corretas, ou seja, de práticas corretas
relativas a alguns dos artrópodes possivelmente mais presentes no dia a dia dos alunos. No
entanto, as práticas cotidianas se fazem muito mais presentes. Ou as práticas que os alunos
identificam como cotidianas se fazem muito mais presentes talvez por não serem recordadas
como escolares. Diferença essa que não foi possível verificar inteiramente pelo pesquisador
no contexto das respostas dos participantes.
Em relação ao número levantado de práticas propriamente dito (n=164), as de fonte
cotidiana representam 90,8% da amostra, ou seja, a ampla maioria das práticas em relação aos
artrópodes parece ser aprendida no cotidiano e parece permanecer após desenvolvimento das
temáticas de artrópodes. Pode-se dizer de outra maneira que a escola parece ter baixíssima
penetrância na construção de práticas referentes a artrópodes que fazem parte do cotidiano dos
alunos.
50
apresentaram argumentos redundantes para tal ou sequer argumentaram, sendo consideradas
inválidas por inteiro. (Tabela 5)
A última questão de fato era de elevada dificuldade para sua realização. Sendo
necessário além da capacidade de análise apropriada das imagens, também recordar e aplicar
conhecimentos morfológicos e comportamentais acerca dos seres contidos nelas.
Por mais básicos e referentes a grupos animais presentes no cotidiano da população
brasileira (COSTA-NETO; PACHECO, 2004) que fossem os conhecimentos necessários para
responder corretamente a questão, estes não são inteiramente obrigatórios no currículo do
ensino fundamental (parâmetros). E quando fossem aprendidos no cotidiano seriam de fontes
muito diversas, como evidenciadas no contexto das demais respostas do questionário. Essa
heterogeneidade então poderia ser a justificativa para o aparecimento de apenas uma resposta
inteiramente válida na amostragem.
De qualquer modo, o objetivo da questão foi tentar identificar alguma pista sobre a
confusão em incluir aranhas no grupo dos insetos, se essa confusão se dá por alguma
conceituação em específico ou mais de uma. No entanto a maioria das respostas classificou
corretamente a aranha em seu grupo. E as que não classificaram corretamente não parecem
obedecer algum padrão que ofereça muitos esclarecimentos nesse sentido. Contudo, o fato da
principal resposta ser “Animal IV por que é um aracnídeo” (n=23) sugere que há ampla
aceitação dessa classificação entre os alunos, mesmo que eles não saibam explica-la. E por ela
vir tanto da fonte escolar (n=14) quanto da cotidiana (n=9) sem argumentação válida talvez
nas escolas haja uma supervalorização em fazer saber que a aranha é um aracnídeo sem saber
51
explicar o porquê. Também há possibilidade que essa conceituação seja a reprodução
irrefletida através da conversa durante a realização do questionário de uma classificação
muito abstrata, conforme já discutido nos resultados qualitativos para a pergunta.
52
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
53
morfológicas entre os artrópodes. A maioria dos alunos (65%) sabe que aranha é aracnídeo e
não inseto, mas não sabe dizer o porquê.
Por fim a importância que tem os artrópodes e principalmente os insetos para a vida na
terra (RUPPERT; BARNES, 2005) não parece proporcional, pelo menos no universo
amostral, à importância curricular dada a este grupo. Talvez porque para compreendê-los seja
necessária uma grande mudança na escala do foco do observador e para isso, se faz necessário
o uso no ambiente escolar de variados recursos pedagógicos que infelizmente não parecem
muito disponíveis em nossa cultura escolar (CAJAÍBA; SILVA, 2015).
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERENBAUM, M. R. Behavior. In:______. (Org.). Bugs in the System: Insects and Their
Impact on Human Affairs. New York: Basic Books, p. 38-58, 1996
BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 de abr. 1999.
CAJAÍBA, Reinaldo Lucas; SILVA, Wully Barreto. Percepção dos alunos do ensino
fundamental sobre os insetos antes e após aulas práticas: um caso de estudo no município de
Uruará-pará. Revista Lugares de Educação, v. 5, n. 11, p. 118-132, 2015.
CALLICOTT, J. B.. Conservation Values and Ethics. In: Groom M.J. (Org.). Principles of
conservation biology. Sunderland: Sinauer Associates, p. 111-135, 2006.
55
COLOMBO, P.; ZANK, C. 2008. p. 104-111. In: BOND-BUCKUP, G. (Org.) Biodiversidade
dos Campos de Cima da Serra. 1. ed. Porto Alegre: Libretos, v. 1., 196 p., 2008.
COSTA-NETO, Eraldo M.; CARVALHO, Paula D. Percepção dos insetos pelos graduandos
da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil. Acta Scientiarum, 22, 2, 423-
428, 2000.
56
JUNQUEIRA, Heloisa; KINDEL, Eunice A. I. Leitura e escrita no ensino em ciências e
biologia: a visão antropocêntrica. Cadernos do aplicação, Porto Alegre, v. 22, n. 1. 2009.
Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/CadernosdoAplicacao/issue/archive>. Acesso
em 15 dez. 2016.
MACHADO, Rita de Cássia de Melo. De que forma os livros didáticos de ciências tratam
a classe Insecta?. Porto Alegre: UFRGS, 2005. 52 f. Monografia. Curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
MODRO, Anna Frida Hatsue et al. Percepção entomológica por docentes e discentes do
município de Santa Cruz do Xingu, Mato Grosso, Brasil. Biotemas, v. 22, n. 2, p. 153-159,
2009.
NOOLAN, Justin M.; ROBBINS, M. C. Emotional meaning and the cognitive organization of
ethnozoological domains. In: Annual Congress of the Society of Ethnobiology, 22, Oaxaca.
Abstracts... Oaxaca: Centro Cultural Santo Domingo, 1999.
57
RUPPERT, Edward E.; FOX, Richard; BARNES, Robert D. Zoologia dos Invertebrados. 7a
ed. São Paulo: Roca, 2005. P. 644-877.
World Spider Catalog (2016). World Spider Catalog. Natural History Museum Bern,
disponível em: <http://wsc.nmbe.ch>, versão n 17.5, Acesso em: 15 Novembro 2016.
58
APÊNDICE I – Carta de apresentação.
59
APÊNDICE – Questionário.
Continua...
60
ANEXO II –... continuação
Continua...
61
ANEXO II –... continuação
Continua...
62
ANEXO II –... continuação
63
ANEXO III – Imagens Auxiliares.
64