Preço Único Colecção BIS
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I
HISTÓRIA DA CAROCHINHA
43
Passou um burro e disse: «Quero eu.» «Como é a tua
fala?» «Em ó… em ó…» «Nada, nada, não me serves, que
me acordas os meninos de noite.» Depois passou um
porco e a carochinha disse-lhe: «Deixa-me ouvir a tua
fala.» «On, on, on.» «Nada, nada, não me serves, que me
acordas os meninos de noite.» Passou um cão e a carochi-
nha disse-lhe: «Deixa-me ouvir a tua fala.» «Béu, béu.»
«Nada, nada, não me serves, que me acordas os meninos
de noite.» Passou um gato. «Como é a tua fala?» «Miau,
miau.» Nada, nada, não me serves, que me acordas os
meninos de noite.» Passou um ratinho e disse: «Quero
eu.» «Como é a tua fala?» «Chi, chi, chi.» «Tu sim, tu sim;
quero casar contigo», disse a carochinha. Então o ratinho
casou com a carochinha e ficou-se chamando o João Ratão.
Viveram alguns dias muito felizes, mas tendo chegado o
domingo, a carochinha disse ao João Ratão que ficasse ele
a tomar conta na panela que estava ao lume a cozer uns
feijões para o jantar. O João Ratão foi para junto do lume e
para ver se os feijões já estavam cozidos meteu a mão na
panela e a mão ficou-lhe lá; meteu a outra; também lá
ficou; meteu-lhe um pé; sucedeu-lhe o mesmo, e assim em
seguida foi caindo todo na panela e cozeu-se com os fei-
jões. Voltou a carochinha da missa e como não visse o João
Ratão, procurou-o por todos os buracos e não o encontrou
e disse para consigo: «Ele virá quando quiser e deixa-me ir
comer os meus feijões.» Mas ao deitar os feijões no prato
encontrou o João Ratão morto e cozido com eles. Então a
carochinha começou a chorar em altos gritos e uma tripeça
que ela tinha em casa perguntou-lhe:
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Que tens tu, tripeça,
Que estás a dançar?
Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
E eu que sou tripeça
Pus-me a dançar.
E eu que sou porta
Ponho-me a abrir e a fechar.
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Morreu o João Ratão,
Carochinha está a chorar,
A tripeça está a dançar,
A porta a abrir e a fechar,
A trave quebrou-se,
E eu arranquei-me.
E nós que somos passarinhos
Vamos tirar os nossos olhinhos.
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E foram os meninos para o palácio e a rainha per-
guntou-lhes:
E eu vou arrastar o c…
Pelas brasas.
(Coimbra)
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II
A FORMIGA E A NEVE
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Responde o pau: «Tão forte sou eu que o lume me
queima.»
«Ó lume, tu és tão forte que queimas o pau, que bate
no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a
parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu
pé prende!»
Responde o lume: «Tão forte sou eu que a água me
apaga.»
«Ó água, tu és tão forte que apagas o lume, que queima
o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o
rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a
neve que o meu pé prende!»
Responde a água: «Tão forte sou eu que o boi me
bebe.»
«Ó boi, tu és tão forte que bebes a água, que apaga o
lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o
gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o
Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!»
Responde o boi: «Tão forte sou eu que o carniceiro me
mata.»
«Ó carniceiro, tu és tão forte que matas o boi, que
bebe a água, que apaga o lume, que queima o pau, que
bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura
a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu
pé prende!»
Responde o carniceiro: «Tão forte sou eu que a morte
me leva.»
(Coimbra)
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III
O COELHINHO BRANCO
Responderam-lhe de dentro:
Eu sou o coelhinho
Que tinha ido à horta
E ia para casa
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Fazer o caldinho;
Mas quando lá cheguei
Encontrei a cabra cabrês
Que me salta em cima
E me faz em três.
Responde a formiga:
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Dito isto, a formiga entrou pelo buraco da fechadura,
matou a cabra cabrês, abriu a porta ao coelhinho, foram
fazer o caldinho e ficaram vivendo juntos, o coelhinho
branco e a formiga rabiga.
(Coimbra)
52
IV
A ROMÃZEIRA DO MACACO
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isso.» Foi ter com a água: «Ó água, apaga o lume para ele
queimar o pau, etc.» «Não estou para isso.» Foi ao boi:
«Ó boi, bebe a água para ela apagar o lume, etc.» «Não
estou para isso.» Foi ao carniceiro: «Carniceiro, mata o
boi para ele beber a água, etc.» Não estou para isso.» Foi
ter com a morte: «Ó morte, leva o carniceiro, para ele
matar o boi, etc.» A morte ia para levar o carniceiro e ele
disse-lhe: «Não me leves que eu mato o boi.» Disse o boi:
«Não me mates que eu bebo a água.» Disse a água: «Não
me bebas que eu apago o lume.» Disse o lume: «Não me
apagues que eu queimo o pau.» Disse o pau: «Não me
queimes que eu bato no cão.» Disse o cão: «Não me batas
que eu mato o gato.» Disse o gato: «Não me mordas que
eu como o rato.» Disse o rato: «Não me comas que eu roo
as fraldas à rainha.» Disse a rainha: «Não me roas as fral-
das que eu ponho-me de mal com o rei.» Disse o rei: «Não
te ponhas mal comigo que eu tiro a vara à justiça.» Disse a
justiça: «Rei, não me tires a vara que prendo o homem.»
Disse o homem: «Justiça, não me prendas que eu arranco
a oliveira.» E o homem arrancou a oliveira e o macaco
ficou com a sua romãzeira.
(Coimbra)
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