As Origens Da Arqueologia Classica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

R ev. d o M u s e u d e A r q u e o lo g ia e E tn o lo g ia , S ã o P a u lo , 9: 9 5 -1 1 0 , 1999.

AS ORIGENS DA ARQUEOLOGIA CLÁSSICA

J o h n n iL a n g e r*

“Entre a A rqueologia e a H istória não existe fronteira


definida”
Charles Leonard Wooley, Digging up the past, 1954.

L A N G E R , J. A s o rig en s d a A rq u e o lo g ia C lássica. Rev. d o M u se u d e A rq u e o lo g ia e E tn o lo g ia , São


P a u lo , 9: 9 5 -1 1 0 , 1 999 .

R E S U M O : O p resen te trab a lh o p rete n d e rec u p e ra r asp ecto s h istó ric o s da


c iê n c ia arq u e o ló g ica , d e m o n stra n d o a in te rfe rê n c ia de elem e n to s c u ltu rais e
im aginários em sua constituição.

U N IT E R M O S : H istó ria d a A rq u e o lo g ia - A rq u e o lo g ia g re c o -ro m a n a -


E g ip to lo g ia - M ito s arqueológicos.

E m um a serena e quente manhã, sob a base do tendência disciplinar e m etodológica, inaugurada


monte Vesúvio, ecoam repetidos ruídos provocados ao final do setecentos: a A rq u eo lo g ia m oderna.
por insistentes instrumentos de escavação sobre o solo Suas raízes, enquanto form a de conhecim ento, são
árido da Itália setecentista. H á m uitas décadas, nesse m uito antigas. M uitos aspecto s criado s d esd e a
mesmo local, haviam sido descobertas várias relíquias Idade M édia ainda se faziam notar ideologicam en­
romanas, m otivo pelo qual o estudioso lograva ad­ te, assim com o diversos m itos propagados até re ­
quirir novas peças em sua atual pesquisa. Cuidado­ centem ente. O que diferenciou o arqueólogo após
so, observa m eticulosam ente todos os objetos vis­ 1770 de seus predecessores, foi a utilização de um
lumbrados à m edida que o nível da escavação au­ m éto d o de in vestigação, centralizado na o bserv a­
menta. Seu olhar tom a-se mais m inucioso à m edida ção sistem ática dos restos m ateriais d eixados so ­
que o tem po passa, e eis que um sorriso brota em seu b re o solo. A lguns aspectos d essa trajetória são
rosto quando descobre algo realm ente sensacional. im portantes p ara perceberm os com m aiores d eta­
Não são m oedas ou objetos de prata e bronze, que lhes a pró p ria A rq u eo lo g ia p raticada atualm ente.
teriam feito a alegria de caçadores de tesouros, ou
estatuetas e peças exóticas que teriam atraído a aten­ R u ín as g lo rio sa s e viajan tes:
ção dos antiquários. Tratava-se de objetos femininos a A rq u eo lo g ia C lássica
pessoais, espelhos e caixinhas para cosm éticos.
Indubitavelm ente, esse escavad o r faz parte de A p alav ra A rqu eo lo g ia nasceu, efetiv am en ­
um a nova geração d e acadêm icos, de um a nova te, co m a c u ltu ra g reg a c lássica . A e tim o lo g ia
ap on ta para o con h ecim ento do passad o h istó ri­
c o , m a s d e m a n e ir a m u ito v a g a : a p x a i o ç
(*) U n iv e rsid a d e F ed eral do P aran á. P ó s-G ra d u a ç ã o em ( a r c h a io s ) - a n tig o ; A ogoç ( lo g o s ) - tra ta d o
H istó ria. D o u to ram en to . ( D ic. Enc. H isp a n o -A m e ric a n o 1887: 671).

95
L A N G E R , J . As o rigens da A rqueologia Clássica. Rev. do M useu d e A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9 :9 5 -1 1 0 , 1999.

A utilização d a p alav ra pelos gregos era ap li­ m anistas ,' o colecionar de peças artísticas antigas,
ca d a a q u alq u er evento distante de sua época, e convivia com o estudo detalhado de certos vestí­
m esm o a instituições políticas e sociais m ais re­ g io s re la c io n a d o s co m e s se s o b je to s , c o m o a
m otas ( E n c ic lo p é d ia U n ive rsa l 1920). epigrafía e a num ism ática (M ousse 1978: 294).
A antigüidade sem pre m anifestou interesse por E ruditos interessados no restab elecim en to da
seu p a ssa d o m o n u m e n ta l. H isto ria d o re s co m o g ló ria clássica, os hum anistas to rn aram -se co le­
D ionisio (A n tig ü id a d es R o m a n a s 29 a.C .), F lávio cionadores e escavadores, tendo com o guia a lite­
Jo sefo ( A n tig u id a d es Ju d a ica s) e P ausânias (Iti­ ratura e a história. M oedas e lápides com inscri­
n erá rio da G récia séc. II d.C .) criaram obras que ções tiv e ram um in teresse esp ec ial, origin and o
p ro curaram resg atar os períodos longos de sua his­ estudos com parativos com textos antigos. D ante
tória clássica. M as a palavra arqueologia não tinha A lighieri (1265-1321) estudou caracteres de m a­
um sentido sistem ático, m as genérico: designava nuscritos antigos, pergam inhos e palim psestos; Pe­
um p eríodo m aterial de um a nação ou país. D io n i­ trarca (1304-1374) analisou com grande interesse
sio de A licam ássio , p or exem plo, em sua obra A r ­ m oedas greco-rom anas; M ichelangelo e Rafael exa­
queologia R om ana (20 - 5 a.C .) abrangia um vasto m inaram a arquitetura e a epigrafía das ruínas clás­
panoram a m onum ental d a história de R om a (D aux sicas. D esconheciam -se, no R enascim ento, m inú­
1948: 5). Q ualquer tratado acerca de monumentos cias lingüísticas e paleográficas. A língua grega era
e ruínas, desta m aneira, p ossuía o caráter de arq u e­ confundida com o rom ano e ignorava-se a etrusca:
ologia. V iajantes, historiadores e cronistas de R o ­ “para ellos A rqueología era el conocim iento de la
m a realizaram obras que registravam a cultura m a­ antigüedad , no de las a n tigüedades ” (Dic. H ispano
terial de u m a fo rm a curiosa e im itativa (principal­ A m eric a n o 1887: 674). A cerám ica pintada grega
m ente nos tem plos gregos): “A vant de devenir une era tom ada com o etrusca até o séc. X V m (Levi 1996:
Science, 1’archéologie est une attitude” (Daux 1948: 22). T am bém essa falta de conhecim ento e crítica,
18). im possibilitava a autenticidade de m uitos objetos ar­
D urante a Idade M édia, ocorreram da m esm a queológicos, principalm ente estátuas greco-romanas.
m an eira alguns fo rtu ito s estudos e registros ar­ Era com um o com plem ento físico de esculturas m u­
queológicos, geralm ente relacionados com assun­ tiladas, com o fim de usá-las com o objeto de adorno.
tos eclesiásticos. P or exem plo, o cardeal G iordano As fronteiras entre o apócrifo e o autêntico ainda eram
O rsini (1159-1181) iniciou um a coleção de objetos desconhecidas (Dic. H ispano A m ericano 1887:347).
rom anos e F ederico II di S vevia (1184-1250), o r­ Q uando os príncipes italianos com eçaram a
g anizou o púlpito do B atistério de P isa com o b ­ financiar as coleções da antigüidade, iniciaram -se
je to s clássico s ( E n ciclo p é d ia Ita lia n a 1949: 30). grande quantidade de escavações p o r toda a pe­
M as a falta de in teresse p or tem as da antigüidade nínsula. A esca va çã o 2 h um anista estav a m uito dis­
clássica, acabou d esfavo recen d o m aiores p reo c u ­ tante do que se realizaria no séc. X IX . P reocupava-
p aç õ es co m v estíg io s arq u e o ló g ico s, que eram se basicam ente em resgatar objetos antigos de urna
co n sid erad o s d esp erd ício s - não tin h am u tilid a­ m aneira aleatoria, sem grandes cuidados com re­
de nem significado entre os hom ens (Pom ian 1983: gistros ou qualquer vinculação do achado com um
76). contexto histórico. O objeto só p ossuía valor por
A arqueologia com o processo erudito de in­ sua própria e intrínseca im portância m aterial. M as
v estig ação com preende três períodos distintos: a
fase hum anista, dos antiquários e dos escavadores
m odernos. (1) N om e d ad o aos e ru d ito s e litera to s qu e, n os sé cu lo s
X V e X V I, re stab elec eram o p restíg io das ob ras d a A n ti­
gü id ad e clássica, trad u zin d o -as, e d ita n d o -a s e c o m e n ta n ­
1. O s h u m a n ista s (1300-1600) do -as ( G ra n d e L a ro u sse 1998: 3038).
(2) A té o séc. X V III, as esc a v a ç õ e s eram a leató rias; após
A m aioria dos especialistas considera o Renas­ esse p erio d o in iciaram -se d iv erso s m éto d o s: o d e se n te rra -
cim ento com o o período em que foram criadas as m ento d e estru tu ras am p las, a esca v a ç ã o e sta tig rá fic a (p o r
n íveis artificiais ou natu rais), p o r q u a d ríc u la s, trin c h e ira s
raízes m odernas do m étodo arqueológico. Isso se ex­
etc. (S o u z a 1997: 49). A e sc a v a ç ã o e s ta tig r á fic a im p lica
plica pelo interesse despertado pelos novos estudos qu e os estrato s d o sítio sejam retirad o s, se g u n d o su a c o lo ­
clássicos, principalm ente na Itália, o berço da civili­ cação e c o n fig u ra ç ã o o rig in a l, no se n tid o in v erso ao que
zação m editerrânea. U m a das características dos hu­ foram d ep o sita d o s (F u n a ri 1988: 80).

96
L A N G E R , J. As origens d a A rqueologia C lássica. Rev. d o M u s e u d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, São Paulo, 9: 95-110, 1999.

a escavação já era percebida enquanto evo ca çã o p a r a a r e p r e s e n ta ç ã o d o d e s c o n h e c i d o ”


d e um a ép o c a , o resgate atem poral de um a co n ti­ (G om brich 1995:72).
nuidade h istó rica (B ittencourt 1997: 10). O s o b je­ A principal m o tiv ação das ex p ediçõ es e d es­
tos encontrados apresentavam -se com o se tivessem crições era a form ação de coleções: m oedas, ar­
sido congelados no tem po, no qual o processo histó ­ m as, estatuetas, vasos e outros objetos antigos. O
rico teria sido paralisado - é obvio que a m ateria­ referencial hu m an ista de reto m ar os clássicos fa­
lidade intrínseca do objeto ainda é fundam ental, v orecia tam bém um a no va aproxim ação com os
mas p ercebem -se representações ex ternas a ele. aspectos m ateriais da h istó ria e, p or co n seq üên ­
O utro detalhe im portante do hum anism o foi cia, da p ró pria natureza física - a nascente ciên cia
criar a prim eira escola de A rqueologia. O po eta e m oderna tam bém reform ulou os referenciais m a­
m ecenas Lorenzo de M ediei (1449-1492) foi quem terialistas dos gregos, instituindo os p rim eiros es­
a instituiu em F lorença neste p eríodo (D ic . H is­ tudos de astronom ia e física m oderna (séc. X V II).
p a n o -A m erica n o 1887: 674). A A rq u eo lo g ia to r­ L o cais en ig m ático s são v isitad o s na Itália,
na-se, assim , instrum ento político de revitalização com o as ca ta cu m b a s 3 rom anas, que em 1568 fo­
das glórias do passado. O fam oso estad ista C ola ram catalog ad as p o r O no frio P an v inio (M ousse
Di R ienzo (1310-1354), com o objetivo de restau ­ 1978:294). O peculiar dessas ruínas é que ajudaram
rar a grandeza de R om a e u nificar a Itália, tam bém a in stitu ir os aspectos m iste rio so s da A rq u e o lo ­
dedicou g ran d e aten ção p ara a resta u raçã o dos gia, presentes no im aginário social, e que se fa­
edificios, esculturas e inscrições latinas (Daux 1^48: zem presentes até nossos dias, relacionados a o u ­
21). A Igreja tam bém iniciou diversos finan cia­ tras representações com o as cavernas, a selva e as
m entos de coleções, restaurações e aquisições de cidades perdidas.
valiosas peças. A s ru ín a s 4 são representações fundam entais
As viagens de exp loração arq u eo ló g ica to r­ presentes no im aginário social, vinculadas à A r­
naram -se com uns a partir do hum anism o. U m dos queologia. S igno criativo para as artes plásticas,
m ais fam osos exem plos, é com C yriaque D ’An- escultura e arquitetura desde o renascim ento, co ns­
cône (1391-1452). V iajou pela p enínsula itálica, tituem um “testem unho do poder destrutivo do tem ­
G récia, E gito e a T urquia, sem pre com referenciais po e do triunfo d a natureza sobre a cultura, as ru í­
de um a exó tica curiosidade, aliada a um m eticulo­ nas conferem todavia à paisagem um a m arca h u ­
so registro epigráfico (D aux 1948:21-22). A ncône m ana que as contém , abrindo-a para u m a dim en­
foi o prim eiro a revelar as riquezas arqueológicas são h istórica” (C arena 1983: 129). Os hum anistas
da G récia, m as as suas sistem atizações geo g ráfi­ concebiam as ruínas com o um a m aneira de evocar
cas a respeito de sítios gregos eram confusas. A os diversos aspectos da antigüidade. S om ente no
identificação de algum as ruínas foi feita de form a setecentos surgiram as sugestões m elancólicas e
errada (Levi 1996: 207). E m um a reprodução de d e c ad e n te s p ara tem as ru in ístic o s (B itte n c o u rt
relevo de dançarinas de pedra de S am otrácia (séc. 1997: 14). Os hum anistas concebiam as estruturas
IV a.C.), A ncône d em onstra um exem plo da répli­
ca arqueológica com a p erspectiva cultural do ar­
tista. O original apresenta sete m ulheres com lon­ (3) A s c a tacu m b as ( k a -ta -k o n -b e - g reg o , k a ta , em b aixo;
k u m b o s , c a v id a d e . L a r o u s s e 1871: 5 3 9 ) são c e m ité rio s
gos vestidos e em posições idênticas, todas o lh an ­
ro m an o s dos sé cu lo s I a IV , feitos em g alerias su b te rrân eas,
do para a m esm a direção. As m ãos posicionam -se às v ezes u tilizad o s p elo s c ristã o s p ara re u n iõ e s ou cu lto s.
para o chão e existe um a uniform idade nos gestos F o ra m d e s c o b e r to s no p e río d o r e n a s c e n tis ta ( G r a n d e
e na sua com postura. A s dançarinas reproduzidas L a ro u sse 1998: 1244).
por A ncône possuem guirlandas de flores n a ca ­ (4 ) L atin ru in a - d estru íd o . L es ru in es d o n t to u t l ’an cien
e t to u t le n o u v e a u m o n d e s o n t s e m é s p e u v e n t ê tr e
b e ç a e a lg u m a s p o rta m ta m b é m f ita s , to d a s
c o n sid é ré e s à deux points de vue, au point de vue de l ’ar­
in ex isten tes no o rig in a l. A s v e stim e n ta s fo ram c h é o lo g ie et au p o in t de vu e de la p h ilo so p h ie histo riq u e.
substituídas por vestidos europeus e cada um a re­ L es ru in es atte ste n t parto u t la p u issa n c e d e l ’h o m m e d an s
cebeu um nom e separadam ente. O olhar ren ascen­ sa lu tte co n tre la nature, qui rep re n d , a u ssiô t q u e l ’h o m m e
tista sem pre prevalecia: o ex plorador-artista, em re tire sa m a in , le d o m a in e q u ’il lui a v a it p é n ib le m e n t
um m undo pouco sistem atizado e conhecido, op­ a rra ch é; e lles a tte ste n t au ssi, p ar le u r n o m b re e t p a r le u r
a n tiq u é , la lo n g u e su ite d e ses e ffo rts, q u i o n t eu p o u r
tou por formas familiares ao seu con tex to p sic o ló ­
th éâtre p resq u e to u tes les p a rtie s d e l ’u n iv e rse ( L a ro u s se
gico: “O fam iliar será, sem pre, o ponto de partida 1871: 1513).

97
L A N G E R , J . A s o rigens da A rqueologia Clássica. Rev. d o M u seu de A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9: 95-110, 1999.

d a a n tig ü id a d e co m o su p o rte s de e v o c a ç ã o d a existentes em cada região. A mais antiga dessas agre­


é p o c a c lá ssic a , n ão im p o rta n d o ta n to suas c a ­ m iações, a S ociedade dos A ntiquários de Londres,
r a c te r ís tic a s m a te ria is - o d e s m a n te la m e n to , foi fundada inicialm ente em 1572. Sua principal
tran sp o rte e reap ro v e ita m en to d e inú m ero s ed i­ finalidade era a conservação dos m onum entos na­
fício s rom ano s d essa ép o ca são reflex o disso. cionais, m as não tinha caráter oficial. O rei Jacques
A p artir do final do séc. X V I, a palav ra arqu e­ I dissolveu-a em 1604. N o início do setecentos, foi
olog ia novam ente é resgatada no pensam ento eru ­ reconstituída diretam ente pela m onarquia, instala­
dito. O francês Jacques Spon utilizou os term os da em um palácio ( Larousse 1871:452). U m a das ra­
a rc h éo lo g ie e a rch éo g ra p h ie (1599); na Inglater­ zões do sucesso da sociedades de antiquários foi a
ra surge a exp ressão a rc h a eo lo g y (1607); Itália direta proteção dos nobres e m onarcas. Luis XIV
a rc h eo lo g ia (séc. X V II) e P ortugal arch eo lo g ia criou a Academ ia de Inscrições e Belas Letras (1633),
(1789) (D aux 1948: 5, S ilva 1789: 200). O caráter que além de reforçar a arte e cultura francesas no
m aterial dos estudos arqueológicos, desde então, período, incentivou o financiam ento dos sábios e
p assa a ser ressaltado freqüentem ente. No setecen- exploradores. N a Espanha, F elipe V, im itando o rei
tos, o filólogo A ntônio Silva definiu a ciência com o francês, fundou a A cadem ia de H istória e financiou
“tratado sobre as antigüidades, estudo dos m onu­ a exploração do m arquês de Valflores pelas antigüi­
m entos e costum es antigos” (Silva 1789: 200). dades de seu país (Dic. H isp a n o -A m erica n o 1887:
674). Esse financiam ento para as pesquisas dem ons­
tra as prim eiras form ulações d a idéia de nação com
2. Os an tiq u á rio s (1600-1730)
um passado arqueológico viável, isto é, pelo qual
os resquícios m ateriais p odem ser aplicados dire­
A s preocupações estéticas dos a n tiq u á rio s,5 tam ente em ideologias políticas, fom entando glo­
basicamente, eram as m esm as dos humanistas, com rificações geográficas ou correlacionando filiações
certas mudanças. Buscavam recuperar a tradição clás­ do p resente histórico com o passado esquecido.
sica, mas de um a maneira muito mais detalhista, com
N o aspecto geo-arqueológico, a península itá­
muito m aior devoção e cuidado que seus predeces-
lica deixa de ser o único grande alvo de interesses,
sores. As coleções receberam sistematização acurada,
passando agora as desconhecidas regiões da G récia,
beneficiadas pelo aumento dos estudos de Paleografía
Egito, Á sia e Á frica a receber expedições m ais por­
e Numism ática. E por outro lado, o desenvolvim en­
m enorizadas. A busca incessante pelo objeto, pelo
to do aspecto com ercial do antiquário, o coleciona­
docum ento m aterial to m a-se cada vez m ais supre­
dor especializado, a serviço dos nobres diletantes.
m a em relação ao docum ento escrito. As escava­
O s estudos paleográficos continuam a tradi­
ções tam bém tom am -se constantes em outras regi­
ção anterior dos hum anistas, sem pre buscando reu ­
ões da E uropa, com o os países nórdicos. O natura­
n ir a m aior quantidade possível de inscrições anti­
lista dinam arquês O laus W orm em preendeu estu­
gas, com o em Inscriptions antiquae totius orbius
dos nos m onum entos m egalíticos pré-históricos da
rom ani (1603), de G ruter. O utro filólogo holandês,
região e no alfabeto rúnico. A lém disso, foi o res­
Jacques G ronovius, com as m esm as intenções, p u ­
ponsável pela organização de um m useu-gabinete
blicou a grande enciclopédia T hesaurus antiquita-
de curiosidades (1655), repleto de artefa to s 6 anti-
tum graeca ru m (1702), vasta com pilação do m un­
do grego em treze volum es.
G rupos de antiquários são form ados po r toda
a E uropa, com o objetivo de divulgar as coleções (6) T o d o e q u alq u er o b jeto p ro d u zid o p elo hom em , in clu ­
ind o ferram en tas, uten sílio s, o bjeto s de a d o rn o etc. (S ou ­
za 1997: 20). T o d o p ro d u to do trab alh o hum ano. P ossui,
necessa riam en te, duas facetas in se p aráv e is: u m a m ateria­
(5) O a n tiq u ário é o “ sábio que se o cu p a dos m o n um ento s lid ad e física (do q u e é feito o artefa to ) e u m a ativ id ad e
e objetos antigos, no m esm o sentido em que se em prega, h u m an a d e tran sfo rm aç ão . P o dem se r d iv id id o s em artefa­
m o d ern am en te, a p a la v ra arq u eó lo g o . O léx ico distin g u e tos fix os ou m onu m en tos (m uros, co lu n as etc.) e artefato s
en tre o v alo r d as d u as palav ras, e o an tiq u ário , co m o te m ­ m óveis (vasos de cerâm ica, in stru m en to s de p e d ra etc.).
po, p asso u a se r co n sid erad o o am ado r, aq u ele qu e, sem C o n s titu e m , ju n ta m e n te c o m o s e c o f a to s ( e v id ê n c ia s
p o ssu ir estu d o s esp e c ia is, faz co leção de frag m en to s, de am b ientais) e bio fato s (v estíg io s de p la n ta s e anim ais), o
m e d a lh a s, de o b je to s an tig o s ou q u e eles v en d em com o ob jeto d e estu d o d ireto d a A rq u eo lo g ia (F u n a ri 1988: 78-
ta l” (C o sta 1936: 36). 79).

98
L A N G E R , J. As origens da A rqueologia Clássica. Rev. d o M u s e u d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, S ão Paulo, 9. 9 5 -1 1 0 ,1 9 9 9 .

gos, e um elaborado catálogo do m esm o (B itten­ ao q ual ele pertenceu. D este m odo, M o ntfaucon
court 1997: 4-6). Iniciava-se a relação da A rq u e­ rom peu com a tradição de sim ples curiosidade dos
o lo g ia co m o esp aç o m u seo ló g ic o , este ú ltim o m onum entos, realizando um a te ntativ a de rec o n s­
com m etodologia e sistem ática próprias, m as d e­ titu ir gen ericam ente o passado.
pendente m uitas vezes do acervo de escavações. D uran te o século X V III, as ruínas to m am -se
U m dos pioneiros franceses d a exploração ar­ o tem a fav o rito da sensibilidade artística, co in ci­
queológica, N icolas Peiresc, visitou grande q u an ­ dindo com o im enso interesse pela A rqueologia.
tidade de m onum entos d a Á sia M enor e Á frica. A Os próprios em ditos e arqueólogos realizavam ilus­
grande divulgação das antigüidades clássicas pela trações em seus estudos, integrando tam bém as ten­
F rança, no entanto, d ar-se-ia p ela obra de M ont- dências culturais de sua época. U m a das m ais fam o­
faucon e Caylus, dois dos m ais célebres arq u eó lo ­ sas m in as européias, o com plexo de S to n eh en g e
gos do séc. X V III. (Inglaterra), fo m eee um panoram a ím par das trans­
O estudo dos objetos j á é realizad o no seis- form ações que as im agens de rum as sofreram desde
centos por um referencial de seriação e classifica­ o hum anism o até o séc. XIX.
ção, o que leva o estudioso A lain S chnapp a co n ­
siderar a A rqueologia deste período com o: “une 3. A s ruínas de Ston eh en g e
science du disparate, de l ’accum ulation” (Schnapp
1982: 760). N ão se consid erav a suficiente apenas A s m ais an tig as rep rese n ta ç õ es d este sítio
observar e publicar, era n ecessário tam bém classi­ m egalítico surgiram durante o quatrocentos. A l­
ficar os vestígios encontrados dentro de d eterm i­ guns m anuscritos ingleses de C am bridge rep resen ­
nadas corpos de doutrinas e interpretações. A apro­ taram o local de m aneira errônea, com os m egálitos
xim ação com a A rqueologia m oderna já se efetua­ dispostos em um retângulo, sem os trilitos in te­
va em m uitos eruditos. U m deles é especialm ente riores. B aseada em u m a origem m ágica do sítio, a
apontado pelos especialistas com o um antecipador uniform idade do desenho garante características
dos princípios m odernos desta ciência: B ernard de divinas a S tonehenge. E m 1574, em um desenho
M o n tfa u c o n .7 S u a p rin c ip a l o b ra, L ’A n tiq u ité anônim o constante no m anuscrito Su m m a rize o f
expliquée et représentée en fig u r e s (1719) foi com ­ the events o f E n gland, o conjunto to m a-se m ais
posta de extensos 15 volumes. Procurava um a cor­ próxim o do real, com sua form a circular. U m ca­
respondência in trínseca en tre o texto e os objetos valeiro adentra o espaço interno em um cavalo, en ­
de investigação: “C es m onum ents se divisen en quanto um a p essoa toca um dos m egálitos. A aura
deux classes; celle des livres et celle des statues, bas- divina desaparece do local, abrindo espaço p ara a
reliefs, inscriptions et m édailles, deux classes, dis- hum anização dos vestígios d a antigüidade. A fa l­
je, qui se prêtent des secours m utuels” (a p u d Sch­ ta de detalhes e a inexatidão do volum e e altura
napp 1982: 761). S egundo A lain Schnapp, a obra das pedras é um a característica renascentista, va-
de M ontfaucon é em inentem ente reflexiva, sendo lorizando-se o resgate d a época do valor intrínseco
os objetos arqueológicos um m eio de ilustrar a his­ do objeto. E m outro desenho anônim o, de 1575, a
tória. A divisão estrutural da obra L ’a n tiq u ité ex­ busca pela antigüidade é ainda m ais acentuada. D i­
p liq u é e , b asea d a em d escriçõ es m on u m en tais e versos indivíduos escavam e m ovim entam -se ao
explicações de aspectos coletivos, conduz a um a red o r do local. U m castelo (im aginário) surge ao
definição de arqueologia desen vo lvid a p o r apro­ fundo do sítio, em um a elevação, sugerindo talvez
xim ações sucessivas (Schnapp 1982: 761), ou se­ um a continuidade do período histórico com o res­
ja, a relação que um objeto possui com o contexto gate prom ovido pelos escavadores. E m 1600, na
quinta edição da B ritanniae descriptio, de Cam den,
o local volta a ser retratado de m aneira m isteriosa.
(7) (B en ed itin o da c o n g re g a ç ã o de S ão M a u ro (C astelo de As pedras p arecem se contorcer, dando ao conjunto
S oulag e, D iocese de N arb o n n e, 1655 - P aris 1741). Foi um aspecto sim bólico de cham as, ao m esm o te m ­
um dos prim eiros eruditos que apoiou o estudo da h istó ria po que parecem retratar silhuetas hum anas. A p lan­
não ap en as no s tex to s, m as tam b ém no estu d o dos e d ifíc i­
ta possui m uitas in co erên cias estruturais, e a o r­
os e m o n u m e n to s re la c io n a d o s c o m a é p o c a fo c a liz a d a .
C om sua P a le o g ra p h ie g re c q u e (1 7 0 8 ) - foi q u em crio u a
dem g eral parece ser influ enciad a p o r antigas le n ­
p alav ra - , é c o n sid e ra d o o fu n d a d o r d e ssa c iê n c ia ( G r a n ­ das fo lcló ricas. N o m esm o lo cal on de a n te rio r­
d e L a ro u sse 1998: 4 0 7 0 ). m ente era retratad a u m a fo rtaleza (segundo p la­

99
L A N G E R , J. A s origens d a A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rqueologia e E tnologia, São P àulo, 9: 95-110, 1999.

no), surge um a g rande cidade. O frontispicio do gem oriental, com o a A stro log ia e A lquim ia. A
texto, abaixo d a ilustração de S tonehenge, é en ­ com plexidade deste ritual pagão revela toda a uni­
cim ado p o r um nobre, que aponta n a d ireção da dade dos antigos bárbaros, que deve ser refletida
cidade. U m a alego ria das ruínas in spirando o p re­ - para o artista - na conjuntura política da época
se n te, c ria n d o n o v as p e rsp e c tiv a s. p re se n te .
O prim eiro antiquário a ilu strar S tonehenge C om a A rq u eo lo g ia oitocentista, os m egáli­
foi Iñigo Jones, em 1621 (publicado em The m o st tos europeus são atribuídos a culturas m uito mais
n o ta b le a n tiq u ity o f G rea t B rita in vu lg a ry ca lled antigas que a dos bárbaros, as do neolítico pré-
Stone-H eng, 1655). Trata-se da m ais pura evocação histórico. A representação das ruínas sofre influ­
renascentista. O s m o n um entos são ilustrados to ­ ência do neoclassicism o e do rom antism o. Assim ,
talm ente restaurados, com regularidade no corte e p o r ex em p lo , a S to n e h e n g e d e Jo h n C o n stab le
com o plan o geral disposto sim etricam ente em or­ (1832) possui ao m esm o tem po conotações glori­
dem . Jones evoca claram ente um a origem rom ana osas e sinistras. O s dois visitantes retratados já não
ao local, sendo a principal inspiração as co nstru ­ contêm a vivacidade e curiosidade das antigas re­
ções clássica s d a Itália. O utro an tiq u ário , John p resentações, m as, antes, conservam -se um para­
A u b rey , re a liz o u a p rim e ira p la n ta do sítio, A do frente ao m egálito e outro sentado. M elancolia
iconografia de Stonehenge (1666). P ercebe-se um a e m editação, traços característicos d a ruín a rom ân­
m aior valorização da ordem exata do conjunto, pela tica, unidas a um a rein terp retação clássica: as ro­
u nidade geral das ruínas. M as na questão da o ri­ chas britânicas parecem ev o car as construções la­
g em de S tonehenge, A ubrey creditou aos druidas tinas, m as a solidão nórdica triunfa. O todo parece
a sua autoria, popularizando um m ito que sobrevi­ am eaçador e soturno, com u m a tem pestade ao fun­
ve até nossos dias. do. A s pedras são ainda m ais instigantes com for­
E m 1740, ou tro antiquário, W illiam Stukeley, tes detalhes de escuridão, parecendo em ergirem do
reforçou essa teoria em seu Stonehenge, a tem ple solo, num ám plo contraste do sentido religioso da
restored to the Bristish Druids. O arquiteto John W ood n atureza e da história.
realizou outra plan ta ( C h o ir G aur, 1747), ainda
m ais precisa, atribuindo Stonehenge a um tem plo 4. A s ruínas de P o m péia e H erculano
lunar dos antigos celtas. P or toda a E uropa sete-
centista, as ru ín as m egalíticas são con sid erad as A d esco b erta d e m aior im pacto cultural no
obras dos antigos bárbaros celtas, vinculadas ob­ século X V m , sem som bra de dúvida, foram as m i­
jetivam ente a m itos nacionalistas ingleses e fran ­ nas de H erculanum e P om péia. Influenciaram as
ceses (Demoulle 1982: 744). E m um a pintura de D. artes plásticas, a escultura, a Arquitetura, a Filosofia
Logan deste período, Stonehenge, o lugar é retratado e a sensibilidade. R ev ig orand o a m an eira de se
de m aneira exótica, sendo observado p or inúm e­ p ensar a antigüidade, instituíram o neo-classicism o
ros visitantes, cavaleiros, curiosos e até anim ais. e renovaram a A rqueologia.
C o m dois planos, face norte e sul do sítio, a im po­ A epopéia arqueológica das duas cidades ro­
nência é destacada pelo contraste de claro-escuro m anas in ic io u -se co m seus so te rra m en to s pelo
das pedras. E m am bos os desenhos, grossas e n e­ V esúvio em 79 d.C. M otivo d e algum auxílio logo
gras nuvens pairam acim a dos m egálitos, dando após o ocorrido, foram abandonadas sob o dom í­
um aspecto obviam ente glorioso e grandioso ao nio de T rajano e A driano. E m 196 d.C. o im pera­
p a ssa d o fra n c ê s, ta m b ém h e rd e iro dos an tig o s d or A lexandre S evero interessou-se pelo resgate
celtas. O auge do m ito celta pode ser vislum brado d a região, o que não ocorreu. O local de H ercu­
com a p intu ra de M eyrick e Sm ith, O fe s tiv a l dos lano, enterrado a 15m de profundidade, com eçou
b retõ es em Sto n eh en g e (1815). C entenas de p es­ lentam ente a ser repovoado p or um a aldeia acim a
soas reunem -se em frente ao im enso reduto pétreo, das m inas, denom inada de Resina. E m Pom péia,
n um am plo festival de cores e entusiasm o. N um a nunca houve repovoam ento efetivo. O nom e d es­
S tonehenge reco n stitu ída, su po stam en te em sua sas localidades tam bém foi perdido, sobrevivendo
é p o c a de uso, sacerd o tes dru id as reú nem -se no apenas em algum as cartas geográficas rom anas e
centro p ara celebrações rituais. E m volta, indiví­ m edievais (C orti 1958: 118-127).
duos assistem ao espetáculo sentados. S ím bolos ti­ D urante o R enascim ento, ocorreram algum as
picam ente celtas m isturam -se a tradições de ori­ r e fe rê n c ia s d isp e rs a s. N ic o lo P e ro tto (1 4 8 8 ),

100
L A N G E R , J. A s origens d a A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, S ão Paulo, 9 : 95-110, 1999.

Sannazaro (1502) e L eone (1513) m encionam as lo­ c o n c e p ç ã o d e a rq u e o lo g ia p ra tic a d a n as c id a d e s


calidades em seus trabalhos. Em 1607, o historiador p e rd id a s ro m a n a s. N o p rim e iro p la n o , d o is n o ­
Cappacio cita a existência de ruínas antigas na região b re s d is c u te m s o b re os o b je to s r e c u p e ra d o s ,
de Civita (amai Pompéia). O utro historiador italiano, a m o n to a d o s em p ro fu sã o . V asos, e s tá tu a s f ra g ­
Camillo Pellegrino (1688), faz a surpreendente reve­ m e n ta d a s, c â n ta ro s, b lo c o s e p ed a ç o s de p ain é is
lação que a co ntem po rânea R esina está construída e ca p ité is m istu ram -se in d ife re n tem en te . A id é ia
acim a de H erculanum . O perários em trabalho de es­ p rin c ip a l d a p in tu ra é d e um g ra n d e g a b in e te d e
cavação geológica descobriram fragmentos romanos, c u r io s id a d e s , u m m u se u ao ar liv re .9 N o p la n o
que foram interpretados pelo em dito Bianchini (1699) in term ed iá rio , d o ze pesso as o b se rv am com a te n ­
com o sendo d a cidade de Pom péia, em seu livro ção a im e n sa g aleria ab erta sobre o lo cal, de on d e
Storia U niversale (C orti 1958: 125-153). são retira d o s os v e stíg io s ro m an o s. A q u i, o te m a
A pesar de todas essas evidências, a conjuntura d a c u r io s id a d e e x ó tic a é c a p ita l, d e te rm in a v a ­
do período não creditava a d esco b erta de ru íças e lo re s e in stitu i m o d o s d e agir. A o la d o , um d e ta ­
fragmentos antigos com o sendo de um a antiga povo- lhe d e p ó rtic o , to ta lm e n te im e rso n a b ase d e um a
ação - no caso, das cid a d es p e rd id a s 8 de H ercula- m o n ta n h a e m al d istin g u id o do re sto d a p in tu ra
no e Pom péia. Os resquícios clássicos não proporci­ p e lo so m b re a m e n to , p re ssu p õ e o c a r á te r m is te ­
onavam a identificação, pelos pesquisadores, de uma rio s o e o c u lto d a A r q u e o lo g ia . Id e n tific a d o r de
asssociação histórica com sua origem . D esta m anei­ q ue o local é u m a ru ín a rom ana, tam bém fu n cion a
ra, H erculano foi escavada entre 1 7 1 0 a 1738, sem a co m o sím b o lo d a e n tra d a ao u n iv e rso m iste rio so
suspeita de que se tratava de um a urbe, apenas frag­ do p assad o . O p ó rtic o é um d os sím b o lo s p rin c i­
m entos isolados de tem plos ou pequenas vilas. Sob p a is d as c id a d e s p e rd id a s no im a g in á rio so c ia l
o financiam ento do príncipe d ’Elbeuf, diversas está­ (L a n g e r 1997b: 169). N o p la n o d e fu n d o , tr a ­
tuas e colunas foram resgatadas do local, até que, em b a lh ad o re s tra n sp o rta m os o b jeto s d a e sc a v aç ã o
1738, foi desco b erta um a inscrição que continha a em c a rrio la s, su b in d o u m a ra m p a até o c im o do
frase T heatrum H ercu la n en sem , o que possibilitou m o n te. N este lo cal, um g ru p o c o m a n d a a o p e ra ­
o reconhecim ento da cidade. E m P om péia, as esca­ ção. O resg a te do p assad o c lássico p erm ite a e le ­
vações iniciaram -se a partir de 1748, m as som ente v aç ão do e s p írito h u m a n o , a lc a n ç a n d o a p e rfe i­
em 1763 foi feita a identificação de origem , através ç ã o m oral.
de uma inscrição do tribuno Svedius Clem ens (Corti U m d o s m o tiv o s do g ran d e im p a c to c u ltu ra l
1958: 179). p ro m o v id o p elas cid a d e s ro m an a s so te rra d a s foi
A técnica das escavações das cidades rom anas o de p e rm itir a r e c o n s titu iç ã o c o tid ia n a d a H is ­
até 1770 consistia em recuperar jó ias, m oedas de tó ria . O q u e a n te s só se c o n h e c ia a tra v é s d a
ouro e prata e q u alqu er objeto valioso. A noção de lite ra tu ra e das ru ín as tra d ic io n a is, ag o ra e ra r e ­
tesouro m ovia os trabalhos de cam po: cada área da v e la d o p e la d e s c o b e rta d e o b je to s d o m é s tic o s
cidade escavada que não possuía objetivam ente al­ n o c o n te x to d a p ró p ria re s id ê n c ia a n tig a . P rin ­
guma riqueza, era abandonada. Fortuitam ente, recu­ cipalm en te em P o m p éia, dev ido às facilid ad es na
peravam -se esculturas soterradas, e, algum as vezes,
murais e inscrições. As etapas de escavação não se­
guiam estratigrafia e nem registros de níveis ou de
(9 ) A id é ia d e m u se u e x p o s to d e H e rc u la n o p o d e se r
localização p recisa dos objetos na área urbana. O c o n s t a t a d a m a is e x p l i c i t a m e n t e a i n d a n a e s t a m p a
principal diretor dos trabalhos de desenterram ento A n tiq u itie s o f H e r c u la n e u m , d e T. M a rtin e J. L e ttic e
em Herculano, Alcubierre, danificou diversos m onu­ (1 7 7 3 ). O q u a d ro p o s s u i se is q u a d ro s in te r c a la d o s na
m entos e registros (C orti 1958: 154-170). m e sm a fig u ra . A p rim e ira , e d e m a io r ta m a n h o , ilu stra
um im e n so p ó rtic o c o m u m le ã o e m b le m á tic o ao c e n ­
U m a p in tu ra a n ô n im a d e s ta é p o c a ( E s c a v a ­
tr o , e n c im a d o p o r u m a e x te n s a g u ir la n d a . A c im a d o
ç õ e s em H e r c u la n o , 1 7 4 0 -1 7 5 0 ), n o s m o stra a
p ó rtic o , u m a p e q u e n a p in tu ra p a is a g ís tic a re c o n stitu i o
co tid ia n o d a c id a d e , d u ra n te su a g lo rio s a e x is tê n c ia a n ­
tes da c a tá stro fe . A b aix o d a ilu stra ç ã o p rin c ip a l, q u a tro
d e ta lh e s a r tís tic o s c o m p le m e n ta m a c e n a . D u as
(8) As c id a d e s p e r d id a s sã o re p re se n ta ç õ e s em to m o de re c o n stitu iç õ e s d e a c ro té rio s c o m e s tá tu a s m ito ló g ic a s,
sítios a rq u e o ló g ic o s, re a is ou im a g in á rio s, d o s q u a is os e ao cen tro , d e ta lh e s d e p in tu ra s m u rais. A id é ia p rin c i­
refe ren ciais h istó rico s e g eo g ráfic o s fo ram e sq u e c id o s p ela p al d a e s ta m p a é e x p o r d e ta lh e s a rtís tic o s r e c u p e ra d o s
c iv iliz a ç ã o ocid en tal (L a n g e r 1997b: 76). d a c id a d e ro m a n a , em u m a e sp é c ie d e m o stru á rio .

101
L A N G E R , J. A s o rigens d a A rqueologia Clássica. Rev. d o M u seu d e A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9: 9 5 -1 1 0 ,1 9 9 9 .

e s c a v a ç ã o 10 e ao fato de não ex istirem so b rep o si­ m entos ruin ístico s ro m ano s, d em o n stran d o agora
ções de o u tra épocas, tudo ficou co m o estav a d e s­ in flu ê n c ia s do ro m an tism o . N o q u a d ro C o m e si
de 24 de agosto de 79 d.C.: “a m agia do quotidiano sc a v a v a a P o m p e i, p e rc e b e m -se as n o v as d ire ­
interrom pido no auge da felicidade” (C arena 1983: triz e s d as esc a v a çõ e s. A o c o n trá rio d a referid a
122 ). p in tu ra se tecen tista de H ercu lan o , oco rre um a o r­
A região de N ápoles tom ou-se concorrente da g an iz a ç ã o p la n e ja d a do resg ate, sem esp aço para
m etrópole cultural de Rom a, totalm ente absoluta no o ex o tism o e c u rio sid a d e d o s fra g m en to s. S ob o
classicism o desde a Renascença. E m Nápoles, o côn­ aten to o lh a r de um supervisor, a retirad a dos entu­
sul britânico Sir William Hamilton formou um a grande lhos pelos trab alh ad o res é feita sistem aticam ente,
coleção de vasos, que se tom ou referência para os ao final de um a grande av en id a calçada. C om o em
colecionadores (Jones 1985: 33). N o frontispício de grande p arte d a A rq u eo lo g ia C lássica efetuada du­
seu C atalogue o fth e collection (1790), percebem os ran te o o ito c en to s, o p ro ce d im e n to d a escav açã o
um a interessante alegoria arqueológica. N a base de se g u e a té c n ic a do d e s e n te r r a m e n to ,12 a sim ples
um penhasco, um a escavação revela um túmulo antigo, re tira d a dos e n tu lh o s ac im a d as e stru tu ra s so te r­
com posto por um esqueleto e diversos vasos cerâm i­ rad as. E m te rm o s d e o rg a n iz a ç ã o , o d e se n te rra ­
cos. U m casal de nobres visita a descoberta, fascina­ m ento atu a com um re sp o n sá v e l, o arq u eólo g o, e
do pelo exam e do vasilhame. N a base do túmulo, em a m ã o -d e -o b ra b ra ç a l (F u n a ri 1988: 4 9). E m p ri­
prim eiro plano ao lado da escavação, repousam um a m eiro plano, na extrem idade inferior direita, o qua­
picareta e um a pá, sím bolos da ciência material. P er­ dro de M azois osten ta u m a p á e u m a picareta, cru­
cebem os a total inclusão da A rqueologia na cultura za d as e ap o iad a s em um m uro. P rin c ip a is fe rra ­
erudita do período. H om ens de bom gosto, de boa m entas d a técn ica de d esenterram ento, as suas po­
tradição, visitavam e evocavam a antigüidade. Fazer sições na ilustração, assim com o no frontispício do
um a viagem de estudos a R om a tom a-se parte indis­ c a tá lo g o de H am ilto n (17 9 0 ), p e rm ite m su p o r o
pensável para a educação das pessoas bem nascidas. seu uso com o aleg o ria da A rq ueo lo gia, neste perí­
M ais que um a sim ples curiosidade turística, projeta a odo. T am bém u tiliza d a s fre q ü en te m e n te n a arte
idealização de um a sociedade, de um mundo onde os m a ç ô n ic a s e te c e n tista ,13 a p á e a en x a d a associ-
v alores clássico s são refletid o s com o reg ras de am -se a sím bolos de m o d ificação d a natureza. No
convivência moral. A corte européia, com isso, toma- q u ad ro d e M a zo is, p o ssu e m um se n tid o de p e s­
se a projeção das sociedades míticas grega e romana, q u isa , d a e n tra d a p a ra os m isté rio s do passado ,
através da pintura, dos detalhes arquitetônicos expos­ p erd id o nas p ro fu n d eza s d a terra.
tos em palácios, centros culturais (bibliotecas e m u­ E m outras ilustrações de Pom péia, M azois res­
seus), m oda e no com portam ento. É o auge do neo- sa lta u m fu n d am e n to da ru ín a ro m â n tic a , a m e­
classicismo europeu. lanco lia d a decadência. N a Villa d i D iom ede, For-
Se p o r um lad o, as c id ad e s so te rra d as pelo
V esúvio co n tin u a m d e sp erta n d o in te re sse e p e s­
q u isa s, ao n asce r do o ito c en to s o co rrem alg um as (12) “A s estra té g ia s téc n ic a s b ásicas d e desen terram en to
m u d a n ça s n a p e rc e p çã o d e sta s. O a rq u e ó lo g o são as trin c h eiras e as son d a g en s. A q u elas se destin a m a
F ra n ç o is M a z o is,11 em seu liv ro R u in e s d e P om - d e sc o b rir a o rien tação geral d as e stru tu ras fix as a serem
d e sen terrad as, facilita n d o , d ev id o à sim etria das plan tas, a
p é i (1813), realizo u d iversas ilu straçõ es dos frá g ­
sup o sição d a lo calizaçã o dos m uros e p rin cip ais estru tu ­
ras. E m caso de d ese n te rra m e n to lim ita d o , p o d em -se lo ­
c a liz a r os lug ares m ais in teressan tes (teso uro s, dep ósito s)
i l 0) A á re a de P o m p é ia foi so te rrad a p o r u m a g ran d e q u a n ­ a serem escav ad o s. A s so n d a g en s p erm ite m sab er a p ro ­
tid a d e d e la p illi (p ed ra s vulcân icas) que, m istu rad as a c in ­ fu n d id ad e do sítio ” (F u n a ri 1988: 50).
zas, fo rm aram u m a c am ad a m uito m acia e facilm en te re ­ (13) Isso p o d e ser co n sta ta d o no in trig a n te fro n tisp íc io da
m o v ív e l, n u m a p ro fu n d id a d e b e m m e n o r q u e a de F la u ta M á g ic a (1 7 9 1 ), d e M o z a rt. N o in te rio r d e um a
H ercu lan u m (C eram 1956: 20). ca ta c u m b a re p le ta de sím b o lo s eg íp cio s e o cu ltistas, o pri­
(11) A rq u eó lo g o e arq u iteto fran c ês (17 8 3 -1 8 2 6 ). O btev e m eiro plano, na extrem idade in ferior direita, é o cu pado por
o p riv ilé g io d e d e se n h a r os m o n u m en to s de P o m p éia, re ­ um a p á e u m a picareta - na m esm a posição q u e o fro n tisp íc io
se rv ad o a p en as aos a c ad ê m ico s de N áp o les, en tre 1809 e d e H am ilto n (1 7 9 0 ) e o d esen h o d e M a zo is (1 8 1 3 ). Ao
1811. O s re su lta d o s d os seus trab alh o s fo ram p u b licad o s lad o d os in stru m en to s, rep o u sam frag m en to s d e cap itéis,
em 1813, sob o títu lo de R u ín e s d e P o m p éi. O u tro s livros: u m a está tu a e u m a ánfora. M o z art ex p resso u suas id éias
P a la is d e S c a u ru s (1819); R u in e s d e P a estu m e T héàtre com - d a fra n c o -m a ç o n a ria , in flu e n c ia d o p e lo lib re tis ta
p le t d e s L a tin s (L a ro u sse 1871: 1392). S ch ik an ed er (B ain es & M álek 1996: 223).

102
L A N G E R , J. A s origens d a A rqueologia Clássica. Rev. d o M u seu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, São P aulo, 9: 9 5 -1 1 0 ,1 9 9 9 .

no e M u lin o e C a sa C h a m p io n n e t, su rg em p e s ­ b r a s to r n a m - s e m a is a c ir r a d a s , a la r g a d a s e
soas sen tad a s, em p o siç õ e s re fle x iv a s. N e ste ú l­ escu recid as. A s fig u ras hu m an as são p eq u e n in a s
tim o, em e sp e c ia l, o p o n to d e fu g a e x a to do q u a ­ frente à im p o nên cia dos restos d esm oronados. Em
dro, no p lano inferior, é ocup ad o p or um ca b isb a i­ su a o b ra m a is im p o rta n te , A n tic h ità R o m a n e
xo e oprim ido soldado, ju n to a colunas derruidas e (1756), v islu m b ram o s to d a a co n cep ção da fo rça
cobertas de m usgos. O s fragm entos ruinísticos são da antigüidade ressurgida nos tem pos modernos. Em
locais p ro p ício s p ara o cu lto do d esam p aro : “ Sua esp ecial, u m a g rav u ra d essa p u b licação , S tra d a
m elancolia reside no fato de ter-se ela to rnad o um F elice, conseguiu cap tar toda a estética e im ag iná­
m onum ento da significação perdida. S onhar nas ru­ rio setecentista acerca da A rqueologia. D uas estra­
ínas é sentir que n o ssa existên cia cessa de nos p er­ das são ladeadas por um a im ensa quantidade de m o­
te n c e r e j á se u n e ao im e n so e s q u e c im e n to ” num entos, em pilhados num a grande extravagância.
(S tarobinski 1994: 202). O s v estíg io s ad q u ire m o M ais que um m odism o, o resgate do rem o to arcai­
sentido d a m orte e d a vid a, m arcas d a tra g é d ia da co to rn o u -se o b se ssiv o , indo além dos lim ites do
n atu re za p e ra n te o cu rso d a h istó ria , re sg a sta d o s bom senso. M esm o a idéia do m ostruário de cu rio­
pela ciência. sidades ao ar livre, tran sfo rm a-se em um d elírio
Em o u tra inq u ie tan te rep rese n tação artística, m onum ental ao extrem o, pelo q ual o o lh a r dos d i­
M azois retrata o c a ráte r m isterio so das ruínas. II m inutos transeuntes tom a-se totalm ente perdido na
p o zzo a p erto su lla ca v ea d e i teatro rep rese n ta o esm agadora q uantidade de objetos. O m onum ento
d esen terram en to parcial de um teatro rom ano em transm uta-se, na obra de P iranesi, em sig n o de um
Pom péia. Em um am b iente escu ro e ten eb ro so - d estin o (S taro bin sk i 1994: 201), a su b m issão do
lem bra-nos as pin tu ras de catacum b as, cav ernas e presente (sim bolizado pelas figuras hum anas) pelo
cem itérios - os escav ad o res são dim in u íd o s p ela passado (as ruínas).
im ensidão do local. O gosto rom ântico pelo horror, A segunda m etade do séc. X V III foi caracte­
m anifestado pela literatura, tam bém é percebido na rizada pela grande quantidade de publicações ar­
Arqueologia. queológicas, sistem atizadoras e catalogadoras de
vestígios do m undo m ed iterrân eo ,15 todas dep en ­
5. A s ruínas de P ira n esi dentes da fórm ula erudita m áxim a da época: o b ­
servar, registrar e publicar. Influenciadas d ireta­
G iovanni B a ttista P iran esi foi o g rande c a ­ m ente pelas pesquisas em P om péia e H erculano,
talisador do n eo c la ssic ism o e d a A rq u eo lo g ia se- essas pu b licaçõ es já corresp o nd em a um a no v a
tecentista, no p lano artístico . A p esar de ser a rq u i­ m aneira de realizar interpretações d a antigüidade,
teto e engenheiro, a principal produção de P iranesi m as certam ente dois nom es canalizaram em suas
foi a criação de ved u te (vistas), g ravuras de p aisa­ obras este momento da Arqueologia: Conde de Caylus
gens urbanas clássicas. O estilo de Piranesi era muito e Winckelmann.
forte e denso, p o r vezes inseg u ro e p aran ó ico. O
fro n tis p ic io d e P r im a p a r te d i A r c h ite tu r e e
P ro sp e ctive (1 7 4 3 ), ro m p e com a trad ição das (15) E n tre as princip ais obras publicadas na seg und a m eta­
de do setecentos tem os: T ra ité d es p ie rre s g ra v ées, M ariette
vedute e pinturas de ruínas. A o con trário dos frag ­
(1750); The ru in s o f P a lm yra , R. W oo d (1753); L 'a n tic h ità
mentos ruinísticos de P annini,14com cores fortes em ro m a n a , P ira n ese (1 7 5 6 ); R e c u e il d e p e in tu r e s a n tiq u e s,
meio a cortejos e festas - um a visão hum anística da B artoli (1757); The ru in s o f B a a lb e k, S tuart e R evett (1757);
A rqueologia - , esse fronstispício já nos revela a sua D escrip tio n d e s p ie r re s g ra v é e s d u b a ro n d e S to ch , W in ­
interpretação de um p assad o com atm osfera fa n ­ ck elm an n (1760); L a sc ien ce d e s m éd a illes, Jo b e rt (1760);
A n tiq u ité s d ’A th è n e s, S tu a rt (1 7 6 1 ); R e c u e il d ’a n tiq u ité ,
tástica. N as T erm as d e C a ra co la (1748), as so m ­
C ond e de C aylu s (1767); The A n tiq u itie s o flo n ia , C h a ndler
(1769); A n tiq u itie s o f H e rcu la n u m , T . M artin e J. L ettice
(1773); D e sty lo in sc rip tio n u m la tin a ru m , M orelli (1780);
(1 4 ) U m d o s p in to re s d e ru ín a s p r e fe rid o s n a E u ro p a B a s-reliefs a n tiq u es d e R o m e, Z o ega (1783); L ex ic o n univer-
setecentista. Giovanni P aolo Pannini (P iacen zac. 1691 - R om a sa e rei n u m a ria e veteru m , T asch e (1785); C h o ix d e p ie r re s
1765), foi aluno dos B ibiena, tom ou-se, antes de Canalleto, g ra v ées du ca b in et im p éria l, E ckehl ( 1788); V oyage d u je u n e
o prim eiro dos grandes vedutisti, indo bem além da m inúcia A n a c h a r s is en G rè c e , B a rth é lé m y (1 7 8 8 ); A r c h a e o lo g ia
topográfica em suas vistas de R om a, suas com posições com littera ria , E m e sti (1790); V ases a n tiq u e s p e in ts d e la c o lle c ­
m inas im aginárias e suas representações de cortejos e festas tion d e W. H a m ilto n , T ischbein (1791); D o ctrin a n u m m o ru m
0G rande L arousse 1998: 4416). veteru m , E ckehl (1792).

103
LA N G E R , J . As o rigens da A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rqueologia e E tnologia, São Paulo, 9: 95-110, 1999.

6. Os sistem a tiza d o res (1760-1790) id e a liz a d a d a a n tig ü id ad e. A e s ta tu á ria g re g a to ­


m a d im e n sõ e s ap a ix o n a n tes e esp eta cu la re s com
N o plan o cien tífic o p ro p ria m e n te d ito , o e ru ­ W in ckelm an n , que n u n ca ch e g o u a v isita r a G ré­
dito C o n de de C a y lu s16 foi o p rim eiro a an tec ip ar cia, m as co n c e b e u as e s tá tu a s h e lé n ic a s com o o
um a n o v a d e fin iç ã o do m é to d o arq u e o ló g ic o . A e x e m p lo m á x im o do b e lo . A s is te m a tiz a ç ã o da
in o v a ç ã o c o n s is tia em u m a te o ria d a c la s s ific a ­ A rq u e o lo g ia o c o rre u em u m a c o n ju n tu ra to ta l­
ç ã o tip o ló g ic a ,17 p re se n te em seu liv ro R e c u e il m en te fav o ráv e l. O sé cu lo X V III b u sc a v a in c e s­
d ’A n tiq u ité s (1 76 7 ): “L es m o n u m e n ts p ré se n té s s a n te m e n te a o rd e n a ç ã o do m u n d o e do p e n s a ­
sous ce p o in t de vue se d istrib u e n t d ’eu x -m ê m es m e n to , e p o r c o n s e q ü ê n c ia , a c la s s ific a ç ã o dos
en q u e lq u e s c la sse s g én é rale s re la tiv e s aux pays se re s e d as fo rm a s. E m 1751, a p a re c e u a p r i­
qu i les o n t p ro d u its et d ans ch a q u e ils se ran g e n t m e ira e d iç ã o d a E n c y c lo p é d ie d e D id e ro t e
dans un ord re re la tif au tem ps qui les a vu n a ître ” D ’A lem bert, o p ro jeto m áxim o do século das L u­
(S c h n a p p 1982: 7 62 ). N o q u e p o d e se r c o n s id e ­ ze s, v is a n d o a c o m p ila ç ã o do c o n h e c im e n to .
rado o m om ento cu lm in a n te da trad ição dos anti- N este m o m en to, to d o e x p lo ra d o r do m u nd o b u s­
quários, o Conde de C aylus reuniu o conhecim ento c a v a a c la s s ific a ç ã o s is te m á tic a d o se u o b je to
e n c ic lo p é d ic o co m o e stu d o do o b je to . A s e v i­ d e estu d o , e a A rq u e o lo g ia ap e n a s a co m p a n h o u
d ê n c ia s a rq u e o ló g ic a s p a s sa m a ser c o n te x tu a - e ssa te n d ên c ia .
liz a d a s em urna p e rsp e c tiv a c ro n o ló g ica , e e s tu ­ C om relação ao m étodo de escavação, W in­
d ad a s atra v és de su as e stru tu ra s físic a s e m o rfo ­ ckelm ann já m anifestava um a visão crítica, ao visitar
lógicas. H erculanoem 1764:
E s s a n o v a c o n c e p ç ã o se ria s is te m a tiz a d a “A d ireç ã o do s tra b a lh o s fo i e n tre g u e a
pelo alem ão Jo h an n W in ck e lm a n n ,18 ain d a no se- um en g en h eiro espanhol, cham ado R oche Jo­
te c e n to s . A o d is tin g u ir d ife re n te s p e río d o s a r ­ a q u im A lc u n ie rre (...) E sse h o m em , qu e en ­
tís tic o s b a s e a n d o -se nas p a rtic u la rid a d e s do e s ­ tend ia tan to de antig ü idad es quanto a L ua en ­
tilo , c rio u a h is tó ria d a a rte c lá s s ic a . A d a p ta r, te n d e d e la g o sta s, d eu , p o r su a in é p c ia , e n ­
p o r su a v ez, o c o n te x to d o s a rte fa to s a um a n te ­ sejo a que se p erd e ssem m uitas antigüidades
c e d en te so c ial no m u n d o a n tig o , foi u m a c o n s e ­ (...) H av e n d o D on R och e, com o tem po, g a l­
q ü ê n c ia ló g ic a. M as qu e ta m b ém é u m a im ag em g ad o um p o sto su p erio r, a su p e rin te n d ê n c ia
e a d ireção das o bras m en cio n ad as foram co ­
m etidas a um o ficial suíço, cham ad o C harles
W eber, h o je m a jo r; e é ao seu b o m senso
(16) A nn e C lau d e P hilip p e d e T u b iè res G rim o ard - arq u eó ­ qu e dev em o s to d as as m ed id as ju d ic io sa s to ­
logo, co lecio n ad o r, g rav ad o r e e sc rito r fran c ês (P aris 1692
m ad as, a p a rtir d e en tão , no in tu ito de trazer
- id. 1765). V isito u a Itá lia (1714), a G récia, a H olanda, a
In g la te rra e, de v o lta a P aris, to rn o u -se am igo de W atteau
à luz esse te so u ro de an tig ü idad es. A prim ei­
e de P .-J. M ariette. P u b licou em esp ecial um im portante ra c o isa que ele fez foi tra ç a r um m ap a exato
R e c u e il d ’a ntiquite's é g yp tien n es, étru sq u es, g re cq u es, ro- e c o m p le to das g a le ria s s u b te rrâ n e a s e dos
m a in e s e t g a u lo ise s (1 7 5 2 -1 7 6 7 ) ( G ra n d e L a ro u sse 1998: e d ifíc io s a q u e ela s c o n d u z ia m . E h istó ric o
1270). de to d o o d e s c o b rim e n to (...) D e am bo s os
(17) A tip o lo g ia é to d a o rd en ação de um co n ju n to de a rte ­
lado s de um fo sso to rn o u o m ap a ain d a m ais
fatos b a se a d a na c o n fro n taç ão sistem ática d os seus a trib u ­
tos in trín se c o s (m atéria-p rim a , fo rm a etc.) e ex trín seco s in te lig ív el, a c re sc en ta n d o -lh e m in u cio so re ­
(co n tex to arq u eo ló g ico ), visa n d o à o b ten ção de in fo rm a ­ la to p rin c ip a l, c a v a d o em lin h a re ta , os tra ­
ções sob re a in ter-relação dos artefa to s no tem p o e no e s­ balh ad o res, altern adam ente, esvaziam câm a­
paço . A tip o lo g ia, en q u an to o p eração de c la ssificação p or ras, m ed em -lh es em p alm o s o co m p rim en to ,
se m elh an ças e diferen ç as, po de p a rtir de critério s fu n c io ­
a la rg u ra e a a ltu ra ; à m a n e ira q u e p ro s ­
nais (p elos u so s), m o rfo ló g ico s (p elas fo rm as) e assim p o r
seg u em , re tira m o en tu lh o d e c a d a u m a d e s­
d ia n te (F unari 1988: 81).
(18) H isto ria d o r d a arte e a rq u eó lo g o alem ão. E stev e em sas câ m a ra s e le v a m -n o p a ra a c â m a ra fro n ­
R om a, on d e fo i b ib lio tecário do V atican o e d ed ico u -se a teira, esv az ian d o p o r ú ltim o ” (W inckelm ann
um estu d o m etó d ico do s m o n u m en to s an tig os. D efen so r 1973: 58 -6 2 ).
in co n d icio n al d a arte grega, co n trib u iu com seus escrito s
p a ra o d esen v o lv im e n to s d a co rre n te n eo clássica, com em A p rim e ira e ó b v ia d ife re n ç a le v a n ta d a pelo
H istó r ia d a a rte na a n tig ü id a d e , 1764 ( G ra n d e L a ro u sse sábio alem ão , em rela çã o às a n tig a s e sca v açõ e s,
1998: 60 17). foi a q u estão do re g istro e sp a c ia l do sítio , se g u i­

104
L A N G E R , J. A s o rigens d a A rqueologia Clássica. Rev. d o M u seu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, São Paulo, 9: 95-110, 1999.

do do a c o m p a n h a m e n to de to d a s as d e s c o b e r­ 7. A A rq u eo lo g ia clá ssica
tas. A sim p le s b u sc a d e p re c io s id a d e s , os o b je ­ o ito cen tista (1 8 0 0 - 1835)
tos v isto s apen as p o r seu v alo r m a teria l, estav a m
com os d ia s c o n ta d o s. O c o n tro le d as in fo rm a ­ N o início do oitocentos, a quantidade de expe­
çõ es o b tid as na p e sq u isa de ca m p o , to rn a -se im ­ dições e escavações arqueológicas foi extrem am ente
p e ra tiv o , se ja a tra v é s d e d e s c riç õ e s te x tu a is ou numerosa. Se por um lado, essas pesquisas já perten­
com a u x ílio de ilu s tra ç õ e s. N a m a io ria d o s c a ­ cem a um a nova concepção metodológica, dita cientí­
sos, o co rreu u m a fu sã o d o s d o is p ro ce d im en to s, fica e moderna, estavam totalmente vinculadas aos prin­
sendo m u itas vezes o a rq u e ó lo g o ta m b ém um a r­ cípios expansionistas das grandes potências mundiais. E
tista. muito difícil separar a Arqueologia clássica deste período
A s obras de W incklem ann to rnaram -se m uito do colonialismo europeu: “as ruínas e as obras-primas
p opulares n a E uropa. F oi o p rim eiro a p u b lic ar as do passado constituem-se, paralelamente, em importan­
descobertas de H erculano de um a form a crítica, Von tes elementos ideológicos na manutenção das estruturas
d e n h e r c u la n is c h e n E n td e c k u n g e n (D re s d e n , de poder, legitimando regimes políticos dos mais varia­
1762). E ra tam bém a prim eira obra livre de nom en­ dos matizes” (Funari 1988:51).
claturas e term inologias totalm ente eruditas, escrita E m 1804, o oficial inglês W illiam L eake reali­
em linguagem popular, facilitan d o a com preensão zou um levantam ento com pleto das ruínas e sítios
das pesq u isas de cam po. E m 1764, v o lta à região gregos. Porém , o interesse central de suas incursões
d e N á p o le s e p u b lic a N a c h r ic h te n v o n d e n era o estudo geográfico grego, com finalidades m i­
neu esten h e rcu la n isch e n E n td e cku n g e n , basead o litares (Levi 1996: 25).
em suas visitas às cid ad es soterradas. O C on d e de Se nos séculos anteriores, a retirada por estran­
C a y lu s tra d u z iu e im p rim iu em fra n c ê s e s se geiros de objetos arqueológicos de sítios gregos e
memorial, popularizando ainda mais as pesquisas nas rom anos foi com um, agora incluía tam bém fragm en­
cortes européias. tos colossais. Entre 1803 e 1812, Lorde Elgin, m inis­
Em R o m a su rg iu o m ais in flu e n te e p o p u la r tro britânico na T urquia, retirou im ensa q u an tid a­
liv ro do e ru d ito g e rm â n ic o , M o n u m e n ti a n tic h i de de relíquias g reg as19 do P artenon para o M useu
in e d iti (1 7 6 7 , co m 2 6 8 p r a n c h a s de c o b re e B ritânico. N a próp ria Inglaterra E lgin foi sev era­
g rav u ras), b a lu a rte do n e o c la ssic ism o e p ro tó ti­ m ente criticado. D urante o m esm o período, outro
po da A rqueologia m oderna: “W inckelm ann trans­ britânico, E dw ard Clarke, transportou a gigantesca
cen d e l ’a rc h é o lo g ie n on s e u le m e n t p a r la p er- estátua de E lêusis para C am bridge. N os dois casos,
tinence de ses analy ses, m ais p ar la q u alité de son a população grega m ostrou-se severam ente co n trá­
style et l ’a m b itio n d e son e s th é tiq u e ” (S c h n a p p ria às remoções dessas antigüidades (Levi 1996:210).
1982: 7 6 2 ). Outros exem plos da retirada de preciosidades arque­
C o in c id in d o c o m a g r a n d e q u a n tid a d e de ológicas durante o oitocentos, foram o transporte da
p u b lic a ç õ e s d e a r q u e o lo g ia e c o m a su a s is te - cabeça de Ram sés II por Belzoni (do Egito para Lon­
m a tiz aç ã o , te m o s d u ra n te a se g u n d a m e ta d e do dres) e o tesouro descoberto por Schliem ann (da Tur­
s e te c e n to s a c r ia ç ã o d o s m u se u s m o d e rn o s : quia para Berlim).
M useu B ritâ n ic o (1 7 53 ), M u seu P io -C lem en tin o N o aspecto operativo, as escavações tom am -
(R o m a , 178 2 ) e M u se u N a c io n a l d a F ra n ç a se m ais coletivas, financiadas diretam ente por ó r­
(1 7 9 3 ). H e rd e iro s d o s g a b in e te s d e c u r io s id a ­ gão culturais ligados a instituições políticas. C ri­
de, co m o o b je tiv o de d iv u lg a r a c iê n c ia , e s ta s am -se organizações especializadas, com o o In sti­
in s titu iç õ e s a g o ra “ v o lta m -s e p a ra a g lo r if ic a ­ tuto do E gito (1798); M useu N acional de A n tig u i­
ção do E sta d o e d a H is tó ria ” (B itte n c o u rt 1997: dades de C openhage (1818); Instituto di C orrispon-
3 6). Im p o rta n te s e s p a ç o s d a c o n te m p la ç ã o f í ­ denza A rcheologica (1829); Instituto A rqueológico
s ic a d a n a ç ã o , o n d e o s te s o u ro s , r e líq u ia s e
m o n u m e n to s a r q u e o ló g ic o s s e rã o e x p o s to s ,
a u x ilia n d o n a in te r p re ta ç ã o p a ra o p ú b lic o do
( 1 9 ) 0 inven tário consistia de escu lturas o riginais atenienses,
p a s s a d o h is tó ric o d a c iv iliz a ç ã o o c id e n ta l. A
estátu as, altos e b aix os-relevo s, capitéis, co rn ijas, frisos e
p e rc e p ç ã o e s p a c ia l d a s f r o n te ir a s n a c io n a is , colunas. D o P artenon fo ram retirados um cap itel, b a se s da
m u it a s v e z e s ta m b é m s e r á e f e t u a d a c o m c o lu n a e acanaladuras, tríglifos, m útulo s d a co rn ija e telh as
re fe re n c ia is a rq u e o ló g ic o s . de m árm ore do am bu lató rio (M em o ránd um 1811: 46).

105
L A N G E R , J. A s o rigens da A rqueologia C lássica. Rev. do M u seu de Arqueologia e Etnologia, São P aulo, 9: 95-110, 1999.

de Berlim ; Sociedade de A rqueologia G rega (1835); q uadro C olonne de C leo p a tre , de G em elli Careri
E cole F rançaise D ’A rchéologie (1846). Surge outro (Voyage du to u r du m o n d e , 1729) é um exem plo.
m om ento da arqueologia, com método ainda mais or­ R e p re se n ta n d o o o b e lisc o d e S e só stris I, seus
denado e a estética da arte unida à expedições coleti­ hieróglifos são estilizados e caricaturados, semelhan­
vas, investigando as diversas partes do M editerrâneo tes aos desenhos alquim istas e m edievais. A paisa­
e do m undo. O s periódicos publicados pelos intitutos gem de fundo p arece ev ocar as antigas ruínas de
tom am -se comuns, atendendo aos mais diversos tipos Rom a. D a m esm a maneira, G. Z oega no O belisco de
de especialidades e temáticas da antiguidade material. P sa m é tic o II (D e o rig in e e t usu o b elisc o ru m ,
Em um a outra perspectiva, saindo dos dom ínios 1797), apresenta figuras mitológicas realizadas em um
turcos a partir de 1833, a G récia financia escavações estilo distante do egípcio. D esde a Idade M édia, os
procurando um resgate próprio, sem interferências escritos clássicos foram o grande referencial cultural
da Inglaterra ou Alem anha. M as ainda com o auxílio sobre o E gito. A té m esm o a confecção de m apas e
de especialistas estrangeiros. A ssim com o o M éxico plantas, até 1800, era realizada a partir de fontes gre­
na m esm a época, os nacionalistas gregos recorrem gas (B aines & M álek 1996: 22).
às pesquisas arqueológicas para reforçar a noção de O século X V m conheceu duas importantes obras
um a consciência nacional, resgatando as antigas gló­ sobre antigüidades egípcias, escritas por B em ard de
rias esquecidas. D esta m aneira, o m étodo científico M ontfaucon e pelo barão de C aylus. A m bos conce­
de investigar o passado tanto serve p ara legitim ar a beram um im portante espaço para a descrição dos
dom inação colonialista quanto para propagar a liber­ objetos e vestígios do Egito, abrindo cam inho para a
dade nacional. form ação de diversas coleções na Europa.
M as os estud o s m o dern os da eg ip to lo g ía, fo­
ram co n cebid os após a ex p edição de N apoleão ao
P irâ m id es, h ieróglifos e m istério: C airo, em 1798. A s m o d ificaçõ es que se prod u zi­
A E g ip to lo g ía (séc. X V II - 1822) ram no clim a intelectual da Europa, com seus resul­
tados em p íricos, afetaram o p ró p rio transcurso da
Se durante o setecentos, a erudição foi dom i­ A rqueologia. A cam panha francesa era, ao m esm o
nada pelo m undo clássico, advindo das descobertas tem po, um p ro jeto de co n q u ista m ilitar, som ada a
de Pom péia e H erculano, durante o séc. X IX as via­ intentos naturalistas: levantaram -se dados geológi­
gens de exploração e colonização do mundo am plia­ cos, astronôm icos, quím icos, botânicos, geográfi­
ram as fronteiras do conhecimento arqueológico. Ru­ cos, arqueológicos, entre outros. Sendo a com issão
ínas, cidades perdidas, vestígios de antigas civiliza­ co m p osta p o r 165 erud itos, tran sp o rtan d o inúm e­
ções são encontrados na Á sia, Á frica, P olinésia e ros aparelhos e instrum entos científicos. As investi­
América. M as certam ente um a das regiões onde hou­ gações arqueológicas praticam ente excluíram esca­
ve m aior interesse popular e erudito, acerca de te­ v a ç õ e s , c o n c e n tr a n d o - s e ep i r e p r o d u ç õ e s e
m as antigos, foi o Egito. Terra do m istério, suas ca­ m oldagens de estátuas, notas e desenhos de inscri­
racterísticas peculiares a transformaram num dos gran­ ções d e sarcófagos. U m a das peças recuperadas,
des marcos do im aginário oitocentista, influenciando um bloco de basalto com inscrição em três línguas,
a cultura, a ciência e a arte m oderna. foi c h am ad a P edra de R oseta, e co nstituiu a chave
O interesse pelo país dos faraós vinha já de m ui­ para solucionar a deciffação dos hieróglifos. O acha­
tos séculos. D urante o seiscentos, organizaram -se as do c a u so u g ra n d e im p a c to , n o tic ia d o p e lo Le
prim eiras expedições ao E gito, que levaram para a C o u rrie r de V E g yp te (1799). O s resu ltad o s das
E uropa preciosos m anuscritos em língua copta, pas­ pesquisas francesas no E gito foram publicados en ­
síveis de serem traduzidos. O prim eiro grande estu­ tre 1809-1822, na o b ra D e sc rip tio n de V E gypte
dioso do E gito, A thanasius K ircher (1602-1680), (10 volum es textuais e 12 de ilustrações), com d e­
u tilizou-se desses docum entos. K ircher, a exem plo senhos de D om inique V ivant D enon.20
de diversos outros hum anistas e antiquários, criou
m uitas fantasias interpretativas a respeito do passado
eg íp cio , devid o ao seu fra ca sso em trad u zir os
(20) G rav ad o r e arq u eó lo g o fran c ês (G iv ry 1747 Paris
hieróglifos. N a im possibilidade de com preenderem a 1825). N om ead o d ireto r-g eral d os M useus em 1802, foi o
cu ltu ra do E gito, tam bém os exploradores criaram p rim e iro o rg an izad o r do L o u vre ( G ra n d e L a ro u s se 1998:
reproduções carregadas de referenciais europeus. O 1818).

106
L A N G ER , J. As origens da A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, São P aulo, 9: 95-110, 1999.

D enon publicou seu próprio trabalho em 1802, (...) p a ra te r u m a id é ia a d e q u a d a d e ta n ta


Voyage dans la B ase et la H aute Egypte. Im presso m agnificência, cum pre que o leitor se im agine
em Paris, foi um estrondoso sucesso na Europa, tendo diante de um sonho, pois o próprio esp ec tad o r
40 edições consecutivas e traduzido para diversas ou­ não acredita no que vê (...) A en trad a d a aldeia
tras línguas. O grande êxito dessa obra assim com o a de L uxor exibe surpreendente m escla de indi-
D escription de / ’E gypte, deve-se em parte à inexis­ gência e m agnificência e me proporciona um a
tência de bibliografia disponível sobre o tema na Euro­ idéia terrível da gradação dos grandes períodos
pa. As livrarias européias, até 1810, praticam ente não no Egito. A figura-se-m e o grupo m ais pitoresco
tinham nenhum título a oferecer sobre tem as egípcios e a m ais pasm osa representação da história dos
(Ceram 1956: 85). As duas obras ofereciam basica­ tem pos: nunca se sentiram os m eus olhos e a
m ente descrições e desenhos reprodutivos, pois as minha imaginação tão vividamente impressiona­
interpretações de detalhes dos m onum entos e perío­ dos quanto à vista desse m onum ento. Eu vinha
dos históricos eram desconhecidas, basicamente, pela freqüentem ente a este lugar m editar: gozar do
ilegibilidade da escrita. passado e do presente, co rtejar as sucessivas
O livro de D enon reforçou a m oda da egipto- gerações de habitantes pelas respectivas obras,
mania, reinante entre os intelectuais, artistas e popu­ que se estendiam diante dos m eus olhos, e ar­
lares. A principal característica de suas ilustrações é m azenar no espírito volum es de m ateriais para
um encanto evocativo do Egito. Em O templo de Den- m editações futuras” (D enon 1973: 115-116).
derah, V ivant D enon caracterizou as ruínas sendo N esta descrição apaixonada das antigüidades
percorridas pelos militares e sábios franceses, em seu faraônicas, percebe-se o caráter m editativo das ruí­
topo, nas laterais, adentrando-as, m edindo e contem ­ nas, tipicam ente rom ântico. O avistam ento dos ves­
plando os monumentos. A idéia da cultura napoleónica tígios derruídos incita a um a reflexão poética, próxi­
dom inando o m undo antigo e o atual é em inente. No ma do onírico, com petindo com um a visão m etódica
quadro de H iera cô m p o lis, essa concepção é ainda da h istória. O u tro s ex p lo rad o re s e u ro p e u s m a­
mais enfatizada. As pequenas ruínas, ocupando o cen­ nifestaram essa im pressão perante a im ensidão m o­
tro, são esboçadas por um francês, de pé na extre­ numental do Egito, com o Giovanni Belzoni em 1820:
m idade esquerda d a estam pa. N o outro lado, sen­
tados, dois beduinos observam o trabalho. O contraste “Sentei-m e à som bra de um a das pedras do
entre a civilização erudita e a cultura prim itiva serve lado direito, que form am a parte do tem plo que
para ilustrar os propósitos da expedição francesa no se erguia diante da pirâm ide naquela direção. Os
Egito: levar as luzes do conhecim ento aos singelos m eus olhos fitaram -se na m assa enorm e, que,
povos orientais, descendentes inafortunados do glo­ durante séculos, desconcertaram as conjeturas
rioso passado arq u eo lóg ico. E m o u tra estam pa, de autores antigos e m odernos (...) A vista da
S phinx de G izeh, quatro eruditos m edem a cabeça obra m aravilhosa, que avultava à m inha frente,
da Esfinge, com o auxílio de um a escada. O curioso deixava-m e tão pasm ado quanto a total obscu­
é que, ao contrário de outras reproduções m onum en­ ridade em que nos acham os no que respeita à
tais egípcias que realizou, D enon criou um desenho sua origem , ao seu interior, à sua co nstrução ”
totalm ente caricatural. A boca da estátua possui de­ (Belzoni 1973: 118).
lineam ento, assim com o os olhos e a sobrancelha. O M esm o após a decifração dos hieróglifos, o ca­
ro sto foi a rre d o n d a d o , p ro d u z in d o u m e fe ito ráter m isterioso do país das pirâm ides ainda vai deli­
contrastante com os outros detalhes da escultura. O near o im aginário ocidental. Belzoni, ao com entar as
resultado final é a reprodução de um m am eluco-ára­ construções de G izé, não pôde deixar de m encionar
be. M ais um a vez, a oposição contrastante da o p e­ o total desconhecim ento acerca desses m onum entos,
ração francesa com os habitantes da região tom a-se tam bém belos e grandiosos. Do m esmo m odo Vivant
evidente. D enon percebeu o caráter enigm ático do E gito, em
C ontrastando com essa visão pitoresca e co ­ sua ilustração A gra n d e g a leria de K éops (1822).
lonialista da terra das pirâm ides, tam bém pode ser Portando archotes, sábios franceses e guias beduínos
percebido no texto de sua o b ra um a ad m iração penetram pelo corred o r estreito e escuro d a grande
grandiosa pela terra redescoberta: pirâm ide. Seus m ovim entos são controlados, com os
“Ao exam inar o conjunto das ruínas, a im a­ olhos visivelm ente atenuados, denotando um a p er­
ginação se cansa só de p en sar em descrevê-las ceptível sensação de m edo. U m oficial tem as duas

107
L A N G E R , J . As origens da A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rqueologia e E tnologia, São P aulo, 9: 95-110, 1999.

m ãos em posição de grande pavor. M ais um a vez, a referen cial civ ilizató rio , in dicad oras do sintom a
continuidade do caráter m isterioso da A rqueologia d a ev olu ção de um a so cied ad e no tem po.
prossegue no imaginário ocidental, característica pre­
sente desde o R enascim ento até a descoberta de ruí­
nas exóticas no oitocentos, cujo passado insiste em R efle x õ es fin a is
mostrar-se de m aneira oculta.
M as esse véu em parte seria desfeito, com a E m co n c lu sã o , ob serv am o s no artigo algu­
genialidade de F rançois C ham pollion.21 D om inan­ m as etap as p o r que o m étodo arq u eoló gico p as­
do um a vasta quantidade de línguas arcaicas aos sou d esd e a Id ad e M édia. A s in flu ências cu ltu ­
17 anos, o jov em sábio instalou-se em Paris no ano ra is d e c a d a p a ís e so c ie d a d e ,, a c re sc e n ta n d o
de 1821. T endo com o base a idéia de que os hieró­ n o v a s fo rm a s d e c o n c e p ç ã o do p a ssa d o . A s­
glifos seriam ao m esm o tem po ideogram áticos e sim com o a in te rferê n cia de elem en to s sim bóli­
fonéticos e, ainda, analisando a pedra de R oseta, co s e m ític o s no im a g in á rio , cu lm in a n d o com
as in scrições do obelisco de Philae, decifrou os c o n c e p ç õ e s n a c io n a lis ta s n o p e río d o m o d e r­
nom es de alguns soberanos. C onhecendo os carac­ no. A A rq u e o lo g ia fo i um im p o rta n te in stru ­
teres básicos do alfabeto, conseguiu chegar a d o ­ m e n to na c o n stru ç ã o id e a liz a d a d a H istó ria, e
m inar todo o idiom a. E m 1822, escreveu a fam osa até h o je é o p e ra c io n a liz a d a co m e ssas in te n ­
L ettre à M. D acier, revelando os segredos de sua ções: “a a rq u e o lo g ia não é um estu do p assivo
descoberta. O trabalho ganhou aos poucos o reco­ d as c u ltu ra s do p a s sa d o . A ssim , d ific ilm e n te
nhecim ento acadêm ico, sendo ele nom eado cu ra­ se rá n e u tra e au tô n o m a, p o is o p e ra d en tro de
d or das coleções egípcias do Louvre. um co ntex to só cio -cu ltu ral m ais am plo e desem ­
U m a das conseqüências im ediatas do sucesso p e n h a um p a p e l a tiv o n o s p ro c e s s o s de m u ­
de C ham pollion, além de reforçar a m oda da egip- d an ças so c ia is” (R o d rig u es 1991: 193). A brin­
tom ania, foi aum entar o interesse dos grandes m u­ do c lareira s no ig n o to h u m an o , a A rq u eolo gia
seus pelos objetos egípcios. Todos queriam conhe­ ta m b ém in stitu iu re p re s e n ta ç õ e s n as so c ie d a ­
cer as m aravilhas do m undo faraônico. D ezenas des, q ue a in d a se fa z e m p re se n te s até nossos
de expedições turísticas e de pesquisas foram rea­ dias, com o a im ag em do arqu eó log o no cinem a
lizadas p or esse período, assim com o viagens de e n a lite ra tu ra . O p ró p rio p ap e l do s cien tistas
aventureiros em busca de riquezas perdidas e o au ­ n e s te lo n g o p ro c e s s o , in ic ia d o c o m o s an ti-
m ento de falsificações. O utro im ediato efeito das q u á rio s re n a sc e n tista s, re m e te à in se rç ão des­
descobertas do sábio francês, foi a im portância que tes em seu tem po. P o rtan to , os lim ites entre a
os estudos paleográficos receberam na A rqueolo­ ciên c ia da cu ltu ra m aterial e a represen tação do
gia oitocentista. Form aram o interesse para o estu­ p a s s a d o s ã o m u ito tê n u e s : r e m e te m aos
do da escrita arcaica de outras civilizações (com o m e ca n ism o s sim b ó lic o s de p o d er nas so c ied a­
a dos b árb a ro s n ó rd ico s e os m e so p o tâ m ico s), des. A final, com o afirm ou L eo n ard W ooley, as
fornecendo elem entos p ara o im aginário: as in s­ fro nteiras en tre a A rq u eo lo g ia e a H istória não
c riç õ e s a n tig a s são u m a im p o rta n te m a rc a do são in d e fin id a s?

(21) Je an -F ran ço is C h a m p o llio n , o jo v e m arq u eó lo g o fra n ­


cês (F ig e ac 1790 P aris 1832), a p aix o n o u -se p elo estudo
das lín g u as orien tais con h ecid as. O exam e m in u cio so da
p ed ra de R o seta lhe fo rn ec eu , ao p e rm itir iso lar com se g u ­
ra n ç a os n om es p ró p rio s das perso n ag e n s, u m a base se g u ­
ra p ara p re p a ra r o d e c ifra m e n to dos hieró g lifo s. E m 1822
p u b lico u su a L e ttre à M r. D a c ie r re la tiv e à l ’a lp h a b e t d e s
h ié r o g ly p h e s p h o n é tiq u e s , c arta de fu n d ação d a le itu ra dos
h ie ró g lifo s, e, em 1824, seu P ré c is du sy stè m e h ié r o g ly p h i­
q u e. T o m o u -se c o n se rv a d o r do d e p artam en to eg íp cio do
L o u v re em 1826. E n tre suas o u tras ob ras citam -se: M o n u ­
m e n ts d e l ’E g y p te e t d e la N u b ie (1 8 3 5 -1 8 4 5 ), G ra m m a ire
é g y p tie n n e (1 8 3 5 -1 8 4 1 ) ( G ra n d e L a ro u sse 1998: 1328).

108
L A N G ER , J. A s o rigens da A rqueologia C lássica. Rev. do M u seu d e A rq u eo lo g ia e E tnologia, S ão Paulo, 9 :9 5 -1 1 0 ,1 9 9 9 .

L A N G E R , J. T h e orig in s o f C lassical A rchaeo logy . Rev. d o M u se u d e A rq u e o lo g ia e E tn o lo g ia , Sao


P a u lo , 9: 9 5 -1 1 0 , 1 9 99.

A BSTR A C T: T he p resen t w o rk intends to reco v er historical aspects o f the


archaeological science, dem onstrating the interference o f cultural and im aginary
elem ents in its constitution.

U N IT E R M S : H isto ry o f A rc h a e o lo g y - G ra e c o -ro m a n A rc h a e o lo g y -
E g iptology - A rchaeological m yths.

R eferên cia s b ib liográficas

1. Fontes impressas E N C IC L O PÉ D IA ITA L IA N A D E SC IEN Z E , L E T T E R E E D


ARTI
B E L Z O N I, G io v an n i B a ttista 1949 R om a: Institu to d e la E n ciclo p éd ia Italiana.
1973 N arrative o f operations and R ecent R esearches E N C IC L O PÉ D IA U N IV E R S A L IL U S T R A D A E U R O P E A -
in E gypt and N ubia, 1820. C .W .C eram (O rg.) O A M E R IC A N A
m un d o d a a rqueologia: os p io n eiro s contam sua 1920 M adrid: E sp asa-C alp e.
p ró p ria história. São Paulo: M elhoram entos. E N C Y C L O P A E D IA B R IT A N N IC A
C E R A M , C .W . (O rg.) 1964 L ondres: W illiam B entos
1973 O m undo da arqueologia: os p io n eiro s contam E N C Y C L O P E D IA A M E R IC A N A .
sua pró p ria história. São Paulo: M elhoram entos. 197 0 N ew Y ork: A m erican a C o rp o ratio n .
D E N O N , D o m in iq u e V iv an t G R A N D E E N C IC L O P É D IA L A R O U S S E C U L T U R A L
1973 V o ya g e d a n s la B a se e t la H a u te E g yp te, 1802. 1998 S ão P aulo: N o v a C u ltural.
C .W . C e ram (O rg.) O m u n d o da a rq u e o lo g ia : L A R O U S S E , P.
o s p io n e ir o s c o n ta m su a p ró p r ia h istó ria . São 1871 D ic tio n n a ire u n iv e rse l d u X IX siè c le . Paris.
P aulo: M e lh o ram en to s. M O USE, M.
M EM ORANDUM 1978 A rc h é o lo g ie . D ic tio n n a ir e e n c y c lo p é d iq u e
1811 on the subject o f the earl o f Elgin’s pursuits in Greece. d ’h isto ire. Paris: Jean P ierre.
W IN C K E L M A N N , Jo h a n n Jo a q u im S IL V A , A. de M.
1973 A critical acco u n t o f the situation and d estruc­ 1858 D ic c io n a r io d a lin g u a p o r tu g u e za , 1789. L is-
tio n o f H erculaneum and P om peii, 1771. C .W . boa: T y p o g ra fia A n to n io R ocha. 6‘. edição .
C eram (O rg.) O m u n d o d a a rq u eo lo g ia : o s p io ­ SO U Z A , A .M . de
n eiro s co n ta m su a p ro p ria h istó ria . S ão Paulo: 1997 Dicionário de arqueologia. Rio de Janeiro: Adesa.
M e lh o ram en to s.
3. Obras genéricas
2. Obras de referência
B A IN E S , J.; M Á L E K , J.
B E A U C H Ê N E , G. de 1996 O m u n d o egípcio. M adrid: E diciones del Prado.
1972 L a p réh isto ire. L A n th r o p o lo g ie - L es d ic tio n ­ BELL, M.
n a ire s d u sa v o ir m o d e rn e . Paris: C entre d ’E tu- 1959 D rú id a s, h e ró is e c e n ta u ro s. B elo H orizonte:
de et d e P ro m o tio n de le L ectu. Ita tia ia .
D E Z O B R Y , C h.; B A C H E L E T , T l. B IT T E N C O U R T , J.N .
1857 D ic tio n n a ire g é n é r a l d e b io g ra p h ie e t d ’h isto i­ 1997 T e rr itó rio la rg o e p r o fu n d o : o s a c e r v o s d o s
re d e m ythologie, d e g éo g ra p h ie an cien n e et m o ­ m u se u s d o R io d e J a n e ir o c o m o r e p r e s e n ta ­
d ern e . P aris: D e zo b ry É diteurs. ç ã o d o esta d o im p e ria l (1 8 0 8 -1 8 8 9 ). T e se de
D IC C IO N A R IO E N C IC L O P E D IC O H IS P A N O -A M E R I­ d o u to rad o - U F F , N iterói.
C A N O D E L IT E R A T U R A , C IE N C IA S Y A R T E S B R IS S A U D , J.-M .
1887 B arcelo na: M o n te n e r y S im on. 1978 O E g ito d o s F a ra ó s. R io d e Jan eiro : O tto P ierre
D U V A L , A. E d ito re s.
1972 L ’arch éo lo g ie. L ’A n th r o p o lo g ie - L es d ic tio n ­ C A R E N A , C.
n a ire s du sa v o ir m o d e rn e . Paris: C e n tre d ’É tu ­ 1983 R uínas/R estauro. R. R om ano (Dir.) E n ciclo p éd ia
de e t de P ro m o tio n d e le L ectu. E in a u d i (v o l.l). Lisboa: Im prensa N acional.

109
L A N G E R , J. A s origens d a A rqueologia C lássica. Rev. d o M u seu d e A rqueologia e Etnologia, S ão Paulo, 9: 95-110, 1999.

C E R A M , C .W . 1998 E nig m as arq u eo ló g ico s e civ iliz a ç õ e s p erdidas


1956 D eu ses, tú m u lo s e sá b io s. S ão P aulo: M e lh o ra ­ n o B rasil n o vecentista. A n o s 9 0 ( U F R G S), P o r­
m e n to s. to A legre, 9: 165-185.
C E R A M , C .W . (O rg.) LEAF, M.
1973 O m u n d o d a a rq u e o lo g ia : o s p io n e ir o s co n ta m 1981 U m a história da antropologia. São Paulo: Zahar.
su a p ró p r ia h istó ria . S ão P aulo: M e lh o ra m e n ­ L E G O F F , J.
tos. 198 3a D o c u m e n to /m o n u m e n to . R. R o m a n o (D ir.)
C O R N E L L , T .; M A T T H E W S , J. E n c ic lo p é d ia E in a u d i ( v o l.l). L isboa: Im pren ­
1996 R o m a : le g a d o d e u m im p ério . M adrid: E d ic io - sa N acional.
nes D el P rado. 1983b M em ória. R. R o m an o (D ir.) E n c ic lo p é d ia E i­
C O R T I, E .C .C . n a u d i ( v o l.l) . L isbo a: Im p ren sa N acional.
1958 Vida, m o rte e ressu reiçã o d e H ercu la n o e P om - L E V I, P.
p é ia . B elo H orizon te: Itatiaia. 1996 G récia : b erç o d o O cid en te. M adrid: E diciones
C O S T A , A. D el Prado.
1936 A rc h e o lo g ia g e ra l. S ão P aulo: E d ito ra N a c io ­ L IM A , T .A .
nal. 1988 P atrim ônio arqueológico, ideologia e poder. R e ­
C H IL D E , G. vista d e A rq u e o lo g ia , 5 (1): 19-28.
1976 P a ra um a re c u p e ra ç ã o d o p a ssa d o : a in te rp r e ­ M A IU R I, A.
ta ç ã o d o s d a d o s a r q u e o ló g ic o s . S ão P au lo: 1959 P o m p e i e d E rc o la n o . M ilano : s.ed.
D ifel. 1994 Pom peii. A n cien t Cities. Special issue o f Scienti-
D A U X , G. fic A m erican. N ew Y ork, 15 (1): 78-85.
1948 Les étapes d e L ’A rchéologie. Paris: Presses Uni- M O B E R G , C .-A .
v ersitaires de F rance. 1986 In tro d u ç ã o à a rq u e o lo g ia . L isboa: E d iç õ es 70.
D E M O U L L E , J.-P . N IE L , F.
1982 L a p réhisto ire et ses m ythes. Paris. A n n a le s, 37 s.d. S to n e h e n g e . S ão P aulo: H em us.
anée, n .5-6. Sep. p .7 40-759 . P O M IA N , K.
D E U E L , L. (O rg.) 1983 C olec ção . R. R o m an o (D ir.) E n c ic lo p é d ia Ei-
n a u ld i ( v o l.l). L isboa: Im p ren sa N acional.
1963 O s te so u ro s d o tem p o . B elo H orizon te: Itatiaia.
R E Y N O L D S , D.
F O W L E R , D .D .
1985 A a rte d o sé c u lo X IX . R io d e Janeiro: Z ahar.
1987 U ses o f the past: arch aeo lo g y in th e Service o f
R O D R IG U E S , D.
S tate. A m e ric a n A n tiq u ity, 52 (2): 229-248.
1991 R eflexõ es sobre a história d a arqu eolo gia (colo­
F R O S T , F.J.
n ialista e nacionalista) africana. R evista d o M u ­
1993 V o y ag ers o f the Im ag in atio n . A rc h a e o lo g y , 4 6
seu d e A rq u e o lo g ia e E tn o lo g ia . São Paulo, 1:
(2): 44-51.
191-194.
F U N A R I, P.P.A .
S A U N E R O N , S.
1988 A rq u e o lo g ia . S ão P aulo: Á tica.
1970 A eg ip to lo g ia . S ão P aulo: D ifel.
1995 A h e rm en êu tica das ciên cias hum an as: a h istó ­
S C H N A P P , A.
ria e a teoria e práxis arqueológicas. R evista da
1982 A rch éo lo g ie e t trad itio n acad é m iq u e en Europe
S o c ie d a d e B ra sile ir a d e P e sq u isa H istó ric a .
aux X V III et X IX siècles. P aris, A n n a le s, 37
C u ritiba, 10: 3-9.
anée, (5-6 ), sep.: 760-77 7.
G O M B R IC H , E.
S C H U C H H A R D T , W .-H .
1995 A r te e ilu sã o . São P aulo: M artin s F ontes.
1 972 A rq u e o lo g ia . L isboa: E d ito ra M erid ional.
JO N E S , S. S O U Z A , A .M . de
1985 A a rte d o sé c u lo X V III. R io d e Ja n eiro : Z ahar. 1991 H istó ria da a rq u eo lo g ia brasileira. P esq u isa s.
L A N G E R , J. In stitu to an ch ietan o d e P esq u isas, 4 6 .
199 6a M ito, h istó ria e literatura: as cid ad es perd id as S T A R O B IN S K I, J.
do Brasil. H istó ria e P ersp ectiva s ( U F U ), U ber­ 1994 A m e lan co lia das ruín as. A in v e n ç ã o da lib e r­
lândia, 14: 67-83. d a d e. S ão P aulo: U nesp.
19 9 6 b A E sfinge atlante do Paraná: o im aginário de um T R IG G E R , B.
m ito arq u eo ló g ico . H istó ria , q u e stõ e s e d e b a ­ 1984 A lte m a tiv e archaeologies: n atio n alist, colonia-
tes (U F P R ), C u ritib a, an o 13, 25: 148-163. list, im p eria list. M an, 19: 35 5-3 70.
1997a M itos a rq u eo ló g ico s e p oder. C lio - S é rie A r ­ V E R C O U T T E R , J.
q u e o ló g ic a (U F P E ). R e cife, 1 (12): 109-125. 1988 A redescoberta de um a civilização esquecida. O
19 9 7 b A s c id a d e s im a g in á ria s d o B ra sil. C uritiba: S e­ C orreio, R io de Janeiro, ano 16, (11), nov.: 811.
c re ta ria de C u ltu ra do P araná. Z A M O R A , O .M .F.
199 7 c O m ito do E ldorado. R evista d e H istó ria ( U SP). 1990 A arq u eo lo g ia co m o histó ria. D é d a lo . São P au­
S ão P aulo , 136: 25-40. lo, 28: 39-62.

R e c e b id o p a ra p u b lic a ç ã o em 2 5 d e m a rç o d e 1999.

110

Você também pode gostar