Execução Trabalhista Efetiva A Aplicabilidade Do CPC de 2015 Ao Cumprimento Da Sentença

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EXECUÇÃO TRABALHISTA EFETIVA: A APLICABILIDADE DO CPC DE


2015 AO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA*

EFFECTIVENESS OF IMPLEMENTATION IN BRAZILIAN LABOUR LAW:


THE APPLICABILITY OF THE 2015 CPC TO THE COMPLIANCE OF THE
JUDGMENT

Ben-Hur Silveira Claus**

Se não esperas o inesperado, não o encontrarás.


Heráclito

RESUMO

O presente artigo trata da aplicabilidade do CPC de 2015 ao


cumprimento da sentença trabalhista que condena ao pagamento de quantia
certa, explorando as potencialidades que o novo Código pode aportar à
efetividade da execução trabalhista, seja no que respeita à execução provisória,
seja no que respeita à execução definitiva.

Palavras-chave: Aplicação do CPC de 2015 ao processo do trabalho.


Aplicação subsidiária. Aplicação supletiva. Efetividade da execução. Execução
provisória. Execução trabalhista. Teoria do diálogo das fontes.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por finalidade refletir sobre a aplicabilidade do


CPC de 2015 ao processo do trabalho, especialmente no que respeita ao
cumprimento da sentença que condena ao pagamento de quantia certa. A
matéria foi proposta pela Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da
3ª Região - Minas Gerais - para ser objeto de estudo na Revista n. 93 desse
Regional, sob o tema “O novo Código de Processo Civil e o cumprimento
provisório e definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação
de pagar quantia certa: compatibilidade com o Direito Processual do Trabalho”.
Honrado pelo convite formulado pela Escola Judicial do TRT3, espero que o
leitor encontre no presente artigo alguma contribuição à análise de tema tão
importante para o Direito Processual do Trabalho e para a Jurisdição
Trabalhista.

* Artigo enviado em 2/2/2017 e aceito em 1º/3/2017.


** Mestre em Direito (UNISINOS). Professor da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho
da 4ª Região. Professor da Fundação Escola da Magistratura do Trabalho do RS
(FEMARGS). Juiz do Trabalho do TRT da 4ª Região (RS).

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Perguntar sobre a aplicabilidade do CPC de 2015 à execução trabalhista


é retornar ao rico debate travado na teoria jurídica trabalhista acerca da
aplicabilidade do direito processual comum ao processo do trabalho. Embora
o enfoque do tema apresente-se mais específico quando circunscrito à
execução, a pergunta demanda abordagem um pouco mais ampla por força
da natureza sistemática do ordenamento jurídico. Essa mesma natureza
sistemática do ordenamento jurídico impõe a necessidade de pensar o sistema
jurídico na perspectiva produtiva oferecida pela teoria do diálogo das fontes
enquanto concepção voltada à realização dos direitos fundamentais e à
efetividade da jurisdição.
O art. 15 do CPC (BRASIL, 2015) prevê que, “Na ausência de normas
que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as
disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.”
Entretanto, parece consenso que esse preceito de direito processual comum
não revogou os preceitos processuais especiais dos arts. 769 e 889 da CLT,
que exigem, para a integração entre os subsistemas jurídicos processuais, a
compatibilidade da norma de processo comum com os princípios do processo
do trabalho. O tema é complexo. Iniciemos pela investigação da relação
ontológica que se estabelece entre direito material e procedimento.

1 O DIREITO MATERIAL CONFORMA O PROCEDIMENTO

Há uma relação ontológica entre direito substancial e procedimento.


Essa relação ontológica entre direito substancial e procedimento é
compreendida como expressão do fenômeno do pertencimento que se
estabelece desde sempre entre objeto (direito material) e método
(procedimento). Daí a consideração de que direito substancial e procedimento
são categorias conceituais que operam numa espécie de círculo hermenêutico:
as respostas procedimentais nos remetem ao direito material a ser
concretizado. Em outras palavras: somos reconduzidos ao direito material
quando nos dirigimos às questões procedimentais. A circularidade entre
pergunta e resposta vem à teoria jurídica enquanto legado da filosofia
hermenêutica: o direito processual somente se deixa compreender no retorno
ao direito material em que reconhece sua própria identidade; numa metáfora,
o direito processual mira-se na superfície do lago do direito material em busca
de sua identidade.
No Direito Processual Civil brasileiro, uma das lições mais didáticas
acerca da relação entre direito substancial e procedimento é recolhida na
doutrina de Ada Pellegrini Grinover. A relação originária existente entre direito
material e procedimento é identificada pela jurista na instrumentalidade do
processo que, conquanto autônomo, está conexo à pretensão de direito material
e tem como escopo a atuação da norma objetiva e a viabilização da tutela do
direito violado ou ameaçado. Daí a conclusão de GRINOVER (1993, p. 87),

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no sentido de que “O processo, o procedimento e seus princípios tomam


feição distinta, conforme o direito material que se visa a proteger.”
No âmbito do subsistema jurídico trabalhista, a natureza especial desse
ramo do direito exerce uma influência ainda maior na conformação do vínculo
originário que se estabelece entre direito material e procedimento. Depois de
afirmar que o Direito Processual do Trabalho pretende ser um direito de
renovação, RUSSOMANO (1997, p. 21-22) sublinha o fato de que o
procedimento trabalhista “[...] é herança recebida do Direito do Trabalho, ao
qual o Direito Processual do Trabalho corresponde, como consequência
histórica.” Para o jurista, o caráter tutelar do direito material se projeta sobre
o procedimento. Para recuperar a expressão consagrada por BARBAGELATA
(2009, p. 39), é dizer: o particularismo do direito material do trabalho se
comunica ao procedimento laboral. Na feliz síntese formulada por GIGLIO
(2005, p. 83-84) acerca do estudo do tema, somos conduzidos à consideração
de que “[...] o caráter tutelar do Direito Material do Trabalho se transmite e
vigora também no Direito Processual do Trabalho.”
Com efeito, a existência de princípios próprios e a condição de subsistema
procedimental especial reconhecido como tal pela teoria jurídica brasileira
conferem ao Direito Processual do Trabalho a fisionomia própria sem a qual já
não se poderia compreender a Jurisdição Trabalhista brasileira na atualidade.1

2 A COMPATIBILIDADE COMO CRITÉRIO CIENTÍFICO À


APLICAÇÃO DO PROCESSO COMUM

No estudo da heterointegração do subsistema jurídico laboral prevista


nos arts. 769 e 889 da CLT, a teoria jurídica assentou o entendimento de que
a aplicação do processo comum ao processo do trabalho é realizada sob o
critério da compatibilidade previsto nesses preceitos consolidados. Vale dizer,
a compatibilidade prevista nos arts. 769 e 889 da CLT opera como critério
científico fundamental para “[...] calibrar a abertura ou o fechamento para o
processo comum”, na inspirada formulação adotada por SILVA (2015, p. 33)
no estudo do Direito Processual do Trabalho brasileiro.
A especialidade do subsistema jurídico trabalhista sobredetermina essa
compatibilidade, conferindo-lhe dúplice dimensão: compatibilidade axiológica
e compatibilidade teleológica. Essa dúplice dimensão da compatibilidade é
identificada por TOLEDO FILHO (2015, p. 330) sob a denominação de
compatibilidade sistêmica. Vale dizer, a compatibilidade é aferida tanto sob o
crivo dos valores do Direito Processual do Trabalho quanto sob o crivo da
finalidade do subsistema procedimental trabalhista, de modo que o subsistema

1
O tema foi por nós desenvolvido no artigo “O incidente de desconsideração da
personalidade jurídica previsto no CPC 2015 e o direito processual do trabalho”. Revista
LTr, n. 1, ano 80, p. 71, jan. 2016.

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esteja capacitado à realização do direito social para o qual foi concebido. O


critério científico da compatibilidade visa à própria preservação do subsistema
processual trabalhista.
Fixadas algumas balizas teóricas acerca da heterointegração do
subsistema processual trabalhista, cumpre agora enfrentar a questão da
subsistência do critério da compatibilidade diante do advento do CPC de 2015.

3 O CRITÉRIO CIENTÍFICO DA COMPATIBILIDADE SUBSISTE AO


ADVENTO DO NOVO CPC

Diante do fato de o art. 15 do CPC não fazer referência ao critério


científico da compatibilidade, surge a questão de saber se esse requisito
previsto nos arts. 769 e 889 da CLT teria subsistido ao advento do novo CPC
para efeito de aplicação subsidiária do processo comum ao processo do
trabalho. No âmbito da teoria do processo civil, a resposta de NERY JUNIOR
(2015, p. 232) é positiva. Depois de afirmar que o novo CPC aplica-se
subsidiariamente ao processo trabalhista na falta de regramento específico,
o jurista pondera que, “[...] de qualquer modo, a aplicação subsidiária do CPC
deve guardar compatibilidade com o processo em que se pretenda aplicá-lo
[...]”, acrescentando que a aplicação supletiva também deve levar em conta
esse princípio.
A resposta da teoria jurídica trabalhista também é positiva, porquanto
prevaleceu o entendimento de que o art. 15 do CPC de 2015 não revogou os
arts. 769 e 889 da CLT, preceitos nos quais está prevista a compatibilidade
como critério científico necessário à aplicação do processo comum. Essa é
a conclusão que tem prevalecido entre os teóricos do Direito Processual do
Trabalho com base nos seguintes fundamentos: a) não houve revogação
expressa do art. 769 da CLT pelo novo CPC (LINDB, art. 2º, § 1º); b) o art.
769 da CLT é norma especial, que, por isso, prevalece sobre a norma geral
do art. 15 do NCPC; c) o art. 769 da CLT é mais amplo do que o art. 15 do
NCPC, não tendo o art. 15 do NCPC regulado inteiramente a matéria do art.
769 da CLT (LINDB, art. 2º, §§ 1º e 2º), de modo que ambos os preceitos
harmonizam-se; d) o subsistema procedimental trabalhista é reconhecido
no sistema jurídico brasileiro como subsistema procedimental especial.
Nada obstante o art. 15 do novo CPC estabeleça a possibilidade de
aplicação subsidiária e supletiva do Código de Processo Civil de 2015 ao processo
do trabalho na ausência de normas processuais trabalhistas, tal aplicação só
ocorre quando está presente o pressuposto da compatibilidade previsto nos
arts. 769 e 889 da CLT. O exame da presença do pressuposto da compatibilidade
é realizado sob a óptica do Direito Processual do Trabalho, e não sob a óptica
do Direito Processual Comum. Isso porque a previsão legal dos arts. 769 e 889
da CLT estabelece que tal exigência de compatibilidade é dirigida à consideração
do juiz do trabalho, mas também porque se trata de uma contingência

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hermenêutica imposta à preservação da autonomia científica do Direito


Processual do Trabalho enquanto subsistema procedimental especial.
Portanto, o critério científico da compatibilidade subsiste ao advento
do novo CPC, permanecendo indispensável ao processo hermenêutico que a
aplicação do processo comum ao processo do trabalho impõe ao Direito
Processual do Trabalho e à Jurisdição Trabalhista. Os magistrados trabalhistas
são os condutores desse processo hermenêutico. Na execução, é intuitivo
que a integração pressuponha seja a norma de direito processual comum
fator agregador de maior eficácia para o subsistema processual laboral. Na
feliz síntese de Manoel Carlos Toledo Filho, os preceitos do novo CPC deverão
ser utilizados no âmbito do processo trabalhista quando tal utilização sirva
para agregar-lhe eficiência, para torná-lo mais efetivo ou eficaz.2

4 O NOVO PARADIGMA DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA NO


CPC DE 2015

O novo CPC dá à efetividade da execução por quantia certa uma


dimensão superior àquela que se caracterizava no CPC revogado,
representando um novo paradigma teórico. Esse novo paradigma é identificado
por Hermes Zaneti Jr. como a expressão de um novo modelo interpretado à
luz de vetor da efetividade. O novo modelo apresenta-se como uma combinação
de tipicidade flexível, adequação e generalização das astreintes, tendo na
efetividade o núcleo das preocupações com a atividade executiva.3
No advento de um novo Código de Processo Civil, a relação do fenômeno
jurídico com a História traz à memória a clássica observação de Alfredo Buzaid
na Exposição de Motivos do Código de Processo Civil de 1973:

Na execução, ao contrário, há desigualdade entre o exequente e o


executado. O exequente tem posição de preeminência; o executado, estado
de sujeição. Graças a essa situação de primado que a lei atribui ao
exequente, realizam-se atos de execução forçada contra o devedor, que
não pode impedi-los, nem subtrair-se a seus efeitos. A execução se presta,
contudo, a manobras protelatórias, que arrastam os processos por anos,
sem que o Poder Judiciário possa adimplir a prestação jurisdicional.4

2
TOLEDO FILHO, Manoel Carlos. Os poderes do juiz do trabalho face ao novo código de
processo civil. In: MIESSA, Élisson (Org.). Novo código de processo civil e seus reflexos
no processo do trabalho. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 331-332.
3
ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 129-130.
4
BUZAID, Alfredo. Exposição de motivos do código de processo civil de 1973, item 18.
Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/177828/
CodProcCivil%201974.pdf?sequence=4>. Acesso em: 19 jan. 2017.

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A clássica observação de Alfredo Buzaid vem à memória porque a


assimilação da lição de Liebman não se mostrou suficiente para alterar o
quadro - de falta de efetividade na execução - que o CPC de 1973 pretendeu
enfrentar. As manobras protelatórias continuaram arrastando os processos
por anos, em que pese o alento que as minirreformas do Código revogado
representaram. É comprida a estrada que vai da intenção à execução. Essa
assertiva do dramaturgo francês Molière ilustra o desafio que recai sobre o
novo CPC.
A alteração do paradigma normativo anterior está positivada
objetivamente no CPC de 2015. Entretanto, a percepção dessa alteração
paradigmática desafia os operadores jurídicos à subjetiva constatação de
que o modelo teórico anterior realmente sofreu uma mudança substancial.
No Direito, a mudança é sempre de uma cultura. Por se tratar de uma mudança
de concepção, o peso da cultura formada sob o Código revogado pode obnubilar
a percepção do novo paradigma proposto pelo CPC de 2015, nada obstante
os esforços da doutrina em sublinhar a superveniência de um novo modelo
teórico de efetividade da execução por quantia certa.5
A vocação do processo do trabalho para constituir-se como processo
de resultado opera como fator favorável à percepção, pelos seus operadores
jurídicos, da alteração de paradigma proposta no novo processo comum trazido
pelo CPC de 2015, potencializando a assimilação de conceitos, institutos e
técnicas processuais aptos a promover a efetividade da jurisdição. Mais do
que na Jurisdição Comum, é na Jurisdição Trabalhista que as potencialidades
do novo CPC para a fase de cumprimento da sentença poderão ser acolhidas
de forma mais generosa, exatamente porque a cultura da ciência processual
laboral predispõe o magistrado trabalhista à perspectiva de uma jurisdição
cada vez mais efetiva, sobretudo no contexto da constitucionalização dos
direitos sociais (CF, art. 7º).
O legislador preocupou-se em salientar que a prestação jurisdicional
inclui a satisfação da condenação. Para tanto, inseriu preceito específico
entre as normas fundamentais do processo comum. No art. 4º do CPC, o
legislador preceitua que: “As partes têm o direito de obter em prazo razoável
a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.” Poder-se-ia objetar
quanto à necessidade do preceito, na medida em que o legislador afirmou o
óbvio. É verdade. O direito da parte à prestação jurisdicional inclui a satisfação

5
Hermes Zaneti Jr. preceitua: “[...] o processo de execução deverá ser pensado, estruturado
e efetivado de maneira a garantir o direito à tutela do crédito adequada, tempestiva e
efetiva.” (ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao
925. São Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio
Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 41.)

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do julgado, e não se conceba que possa ser diferente.6 Entretanto, a


explicitação adotada pelo legislador guarda coerência com o compromisso
do novo Código em favor da efetividade da jurisdição7, além de demarcar uma
clara distinção com a imprecisão técnica em que incidiu o Código anterior no
particular.
O CPC revogado estabelecera, no seu art. 463, a previsão de que: “Ao
publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre e acaba o ofício jurisdicional
[...].” A leitura do preceito sugeria que o ofício jurisdicional findava com a
sentença, como se a execução do julgado não fosse ato do ofício jurisdicional.
A imprecisão técnica chegou a ser percebida como lapso significativo de um
ato falho representativo da vetusta concepção de que a execução constituiria
ato de administração e não de jurisdição. Passaram-se mais de trinta anos
até que a imprecisão técnica do art. 463 do CPC de 1973 fosse corrigida. No
ano de 2005, a Lei n. 11.232 alterou a redação do art. 463 do CPC, para
excluir a expressão de que o juiz, ao publicar a sentença, “acaba o ofício
jurisdicional”. Transformar mera imprecisão técnica de redação em ato falho
teórico é provavelmente tratar de forma muito rigorosa o lapso do legislador
de 1973.
Seja como for, a redação do art. 4º do novo CPC tem o mérito de
explicitar que o direito da parte à prestação jurisdicional inclui a satisfação do
credor, deixando implícita a assimilação da lição doutrinária segundo a qual a
garantia constitucional à prestação jurisdicional implica o reconhecimento da
existência de um direito fundamental à tutela executiva correspondente.8 Além
disso, esse preceito permite compreender mais adequadamente a concepção
de “processo sincrético” adotada pelo novo CPC, assim compreendido o
processo que se divide em fases sem solução de continuidade, articulando
6
No dizer de Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, “[...] interessa a realização do
direito da parte. Essa é a razão pela qual o legislador explicita que o direito à duração
razoável do processo necessariamente inclui a atividade executiva.” (MARINONI, Luiz
Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Comentários ao código de processo civil - artigos 1 a 69.
São Paulo: RT, 2016. vol. I. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 135.)
7
Hermes Zaneti Jr. alerta que “[...] o Código não pode ser lido com os olhos apenas
voltados para nossa experiência brasileira e passada, mas deve voltar os olhos para o
futuro, através de um direito processual que sirva às finalidades constitucionais que o
comandam.” (ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824
ao 925. São Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART,
Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p.
130.)
8
José Rogério Cruz e Tucci pondera “[...] que, apesar de intuitivo, a regra do art. 4º, para
não deixar margem a qualquer dúvida, estende-se, de forma expressa, à fase de
cumprimento de sentença e, por certo, também ao processo de execução, vale dizer, a
toda ‘atividade satisfativa’ em prol da parte vencedora.” (CRUZ E TUCCI, José Rogério.
Comentários ao código de processo civil - artigos 485-538. São Paulo: RT, 2016. vol. VIII.
In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.).
Comentários ao código de processo civil, p. 251.)

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atividades de cognição simultaneamente a atividades de execução.9 No


processo do trabalho, a norma de sobredireito do art. 765 da CLT sintetiza,
desde 1943, a opção do subsistema processual trabalhista pela completa
satisfação do julgado, ao incumbir o magistrado do dever de velar pela rápida
solução da causa, conforme preleciona José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva.10
Outra demonstração da alteração de paradigma teórico é identificada
no fato de que o CPC de 2015 estende à execução das obrigações por quantia
certa o exercício dos poderes gerais de efetivação conferidos ao magistrado
pelo novo sistema de processo comum. Tratava-se de histórica postulação
de segmento considerável da doutrina do processo civil à época das
minirreformas do CPC de 1973. O Código atual assimilou tal postulação,
contemplando a execução por quantia certa com os mecanismos de efetivação
que, no CPC de 1973, estavam circunscritos à execução de obrigação de
fazer e de não fazer.11 Tais mecanismos estão previstos no inciso IV do art.
139 do CPC, preceito que o art. 3º da Instrução Normativa n. 39 do TST
reputa aplicável ao processo do trabalho.12
Sede normativa do poder geral de efetivação do magistrado, o inciso IV
do art. 139 do CPC diz que incumbe ao juiz “determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham
por objeto prestação pecuniária.” Mais do que facultar ao magistrado a assim
agir, o preceito legal estimula o juiz à pró-atividade, na medida em que o
comando normativo diz incumbir ao magistrado determinar todas as medidas
necessárias ao cumprimento dos provimentos jurisdicionais.
É de se observar que o § 5º do art. 461 do CPC revogado limitava a adoção
das “medidas necessárias” ao cumprimento da sentença de obrigação de fazer
ou não fazer.13 A significativa introdução do vocábulo todas no inciso IV do art. 139

9
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 44.
10
SILVA, José Antônio Ribeiro de Oliveira (Coord.). DIAS, Carlos Eduardo Oliveira; FELICIANO,
Guilherme Guimarães; TOLEDO FILHO, Manoel Carlos. Comentários ao novo CPC e sua
aplicação ao processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2016. vol. 1, p. 24.
11
Hermes Zaneti Jr. preleciona: “O art. 139, IV, do CPC estabelece um novo modelo de
execução civil no Brasil. Ao prever a atipicidade dos meios executivos ligada ao controle da
adequada e efetiva tutela pelo juiz, o CPC migra de um modelo exclusivo de execução rígida,
de obrigações-tipo e execuções-tipo (germânico), para um modelo combinado de execuções
tipo flexíveis, tutela adequada (commom law) e generalização das astreintes (francês).”
(ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 113.)
12
A Instrução Normativa n. 39/2016 foi aprovada pela Resolução n. 203 do TST, de 15/3/2016.
13
Renato Beneduzi faz o registro histórico de que a atipicidade dos meios de execução
estava limitada no CPC revogado, tendo sido ampliada no CPC de 2015. Diz o jurista:
“Concebida na vigência do Código de Processo Civil de 1973 apenas para a execução
específica, a aplicação do princípio da atipicidade dos meios executivos veio a ser

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do novo CPC - todas as medidas necessárias - demarca a nova postura do


legislador em relação ao diploma processual anterior cuja ineficácia o CPC de
2015 quer superar.14 Além da significativa inclusão do vocábulo todas, o legislador
optou por explicitar de forma ampla as medidas legais necessárias ao cumprimento
dos provimentos jurisdicionais, relacionando praticamente todas as providências
possíveis, ao dizer que está compreendido no poder geral de efetivação do
magistrado determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais
ou sub-rogatórias necessárias. Por fim, o legislador faz referência expressa à
execução por quantia certa no inciso IV do art. 139 do CPC, assimilando a
crítica doutrinária que reivindicava estender a atipicidade dos meios executivos
também ao cumprimento de obrigação de prestação pecuniária.15
Complementando a diretriz geral de efetivação da jurisdição prevista
no inciso IV do art. 139 do CPC, o art. 297 do novo diploma processual prevê
que o juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para
efetivação da tutela provisória. Embora o preceito do art. 297 do CPC não
tenha reproduzido o vocábulo todas, a amplitude do poder geral de efetivação
do magistrado na tutela provisória é extraída da dicção da genérica locução
adotada pelo legislador - medidas que considerar adequadas. Ademais disso,
a interpretação sistemática recomenda compreender o comando específico
do art. 297 do CPC sob a inspiração da cláusula geral do inciso IV do art. 139
do mesmo diploma legal. A relação de complementaridade existente entre
tais preceitos inspirou Hermes Zaneti Jr. a extrair do art. 297 o alcance do art.
139, IV16: “Parafraseando o art. 297 do CPC, podemos dizer que: o juiz poderá
determinar as medidas que considerar adequadas para a efetivação da tutela
de crédito (poder geral de tutela efetiva).”
A locução todas as medidas necessárias expressa uma cláusula geral
dirigida ao exercício da jurisdição de forma plena, o que evoca a lição de
Edilton Meireles. Comentando o inciso IV do art. 139 do CPC, o jurista recorre

generalizada pelo novo CPC a todas as espécies de execução, inclusive à pecuniária.”


(BENEDUZI, Renato. Comentários ao código de processo civil - artigos 70 a 187. São
Paulo: RT, 2016. vol. II. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 282).
14
Como as “medidas necessárias” do CPC de 1973 não foram suficientes, o legislador do
CPC de 2015 viu-se na contingência de explicitar seu propósito de mais efetividade pela
opção da utilização da locução “todas as medidas necessárias”.
15
Daniel Amorim Assumpção Neves pondera que, com o advento do art. 139, IV, “[...] é
possível concluir que a resistência à aplicação das astreintes nas execuções de pagar
quantia certa perdeu sua fundamentação legal, afastando-se assim o principal entrave
para a aplicação dessa espécie de execução indireta em execuções dessa espécie de
obrigação.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado
artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 231.)
16
ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 113.

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ao vocábulo imaginação. É à imaginação que o magistrado deve recorrer


quando se tratar de fazer cumprir a decisão judicial. Diz o jurista: “O legislador,
todavia, não limita as medidas coercitivas àquelas mencionadas no Código
de Processo Civil. Logo, outras podem ser adotadas, a critério da imaginação
do juiz.”17 É certo, porém, que o amplo poder geral de efetivação do magistrado
está limitado pelo respeito devido aos direitos fundamentais do executado.
Exatamente em razão da amplitude do comando legal, o preceito do inciso IV
do art. 139 do CPC, na produtiva observação de Manoel Carlos Toledo Filho,

[...] pode ser considerado um adequado desdobramento supletivo e


subsidiário do comando contido no art. 765 da CLT, na medida em que
complementa e reforça a expressão “qualquer diligência” a que o
dispositivo consolidado faz menção.18

Tratando do tema do poder geral de efetivação previsto no inciso IV do


art. 139 do CPC, Edilton Meireles relaciona algumas medidas restritivas de
direito que podem ser determinadas pelo juiz para estimular o cumprimento
dos provimentos jurisdicionais:

a) proibição do devedor pessoa física poder exercer determinadas funções


em sociedades empresariais, em outras pessoas jurídicas ou na
Administração Pública; b) proibição de efetuar compra com uso de cartão
de crédito; c) suspensão de benefício fiscal; d) suspensão dos contratos,
ainda que privados, de acesso aos serviços de telefonia, Internet, televisão
a cabo etc., desde que não essenciais à sobrevivência (tais como os de
fornecimento de energia e água); e) proibição de frequentar determinados
locais ou estabelecimentos; f) apreensão de passaporte (se pode prender
em caso de prestações alimentares, pode o menos, isto é, restringir parte
do direito de ir e vir); g) apreensão temporária, com desapossamento, de
bens de uso (exemplo: veículos), desde que não essenciais (exemplo:
roupas ou equipamentos profissionais); h) suspensão da habilitação para
dirigir veículos; i) bloqueio da conta corrente bancária, com proibição de
sua movimentação; j) embargo da obra; k) fechamento do estabelecimento;
l) restrição ao horário de funcionamento da empresa etc.19

17
MEIRELES, Edilton. Medidas sub-rogatórias, coercitivas, mandamentais e indutivas no
código de processo civil de 2015. Revista de Processo. Vol. 247, ano 40, São Paulo: RT,
p. 237, set. 2015.
18
SILVA, José Antônio Ribeiro de Oliveira (Coord.). DIAS, Carlos Eduardo Oliveira; FELICIANO,
Guilherme Guimarães; TOLEDO FILHO, Manoel Carlos. Comentários ao novo CPC e sua
aplicação ao processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2016. vol. 1, p. 200.
19
MEIRELES, Edilton. Medidas sub-rogatórias, coercitivas, mandamentais e indutivas no
código de processo civil de 2015. Revista de Processo. Vol. 247, ano 40, São Paulo: RT,
p. 237, set. 2015.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
195

Outro aspecto a demarcar importante distinção hermenêutica com o


Código revogado radica na norma do parágrafo único do art. 805 do CPC de
2015.20 O art. 797 do CPC de 2015 corresponde ao art. 612 do CPC revogado
- sede normativa da regra geral de que a execução realiza-se no interesse do
exequente. O art. 805 do CPC de 2015 corresponde ao art. 620 do CPC
revogado - sede normativa da regra exceptiva da execução menos gravosa. O
que não existia no CPC anterior é a previsão saneadora do parágrafo único do
art. 805 do CPC de 2015, que exige que o executado indique meio executivo
mais eficaz quando alegar que a execução realiza-se por meio mais gravoso,
sob pena de manutenção da medida executiva adotada pelo juízo. Esse
aspecto será desenvolvido em item posterior do presente artigo.
O novo paradigma de efetividade da execução objetivado pelo novo
diploma legal também levou o CPC de 2015 a proteger a posição jurídica do
arrematante, em detrimento da posição jurídica do executado, numa clara
opção em favor de coerção contra o executado que resiste ao cumprimento
de suas obrigações, inclusive na execução provisória. Vale dizer, a arrematação
não é mais desfeita, ainda que venham a ser julgados procedentes os
embargos à execução. O arrematante arremata com eficácia jurídica plena.
O executado perde o bem em favor da efetividade da execução; seu direito
limitar-se-á à indenização, caso tenha êxito nos embargos opostos à
execução. É o que se recolhe tanto do art. 520, § 4º21 quanto do art. 903,
ambos do CPC22, matéria que merecerá abordagem mais ampla no tópico
posterior.
A perspectiva de aprofundamento da efetividade da execução buscada
pelo novo Código de Processo Civil também pode ser haurida em face da
opção de se estabelecer que, além de preferencial, a penhora em dinheiro
passa a ser prioritária, não se admitindo mais a alteração da ordem preferencial
de penhora quando a constrição recair sobre dinheiro.

20
“Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz
mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado.
Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe
indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos
executivos já determinados.”
21
“Art. 520. [...]
§ 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento
da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real
eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos
causados ao executado.”
22
“Art. 903. Qualquer que seja a modalidade de leilão, assinado o auto pelo juiz, pelo
arrematante e pelo leiloeiro, a arrematação será considerada perfeita, acabada e
irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado ou
a ação autônoma de que trata o § 4º deste artigo, assegurada a possibilidade de reparação
pelos prejuízos sofridos.”

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
196

A significativa novidade trazida pelo legislador foi positivada no § 1º do


art. 835 do CPC23, preceito legal que o Tribunal Superior do Trabalho considera
aplicável à execução trabalhista, conforme o inciso XVI do art. 3º da Instrução
Normativa n. 39/2016.24 Nas palavras de Guilherme Rizzo Amaral, “O atual
CPC dá uma guinada importante ao afirmar a prevalência da efetividade da
execução sobre o princípio da menor onerosidade.”25 A penhora em dinheiro,
além de continuar a ser preferencial, torna-se prioritária no CPC de 2015, o
que justifica a consideração doutrinária acima, na medida em que o novo
preceito projeta um horizonte de maior efetividade para a execução, sobretudo
considerando-se a possibilidade de se lançar mão - vale para a execução
definitiva, vale para a execução provisória - da medida legal de bloqueio
eletrônico de numerário expressamente prevista no art. 854 do CPC.26 No
inciso XIX do art. 3º da Instrução Normativa n. 39/2016, o TST reputa o art.
854 do CPC aplicável ao processo do trabalho. Foi o advento do § 1º do art.
835 do CPC que levou o TST a alterar a redação da Súmula n. 417 da SDI-I,
para passar a admitir penhora de dinheiro em execução provisória, aspecto
que será objeto de desenvolvimento em tópico posterior.
Além de conferir ao juiz todas as medidas necessárias para assegurar
o cumprimento da execução de obrigação por quantia certa na cláusula geral
de efetivação da jurisdição do inciso IV do art. 139 do CPC, a ênfase do novo
diploma legal na efetividade do cumprimento dessa espécie de obrigação é
percebida, outrossim, pela circunstância de que o legislador outorgou ao
exequente duas severas medidas de execução indireta para induzir o
executado ao cumprimento da obrigação pecuniária, quais sejam, o protesto
extrajudicial da sentença (CPC, art. 517) e a inclusão do nome do executado
em cadastros de inadimplentes (CPC, art. 782, §§ 3º e 5º). Essas medidas
também serão objeto de estudo em tópico posterior.

23
“Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
[...]
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a
ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.”
24
“Art. 3º. Sem prejuízo de outros, aplicam-se ao Processo do Trabalho, em face de omissão
e compatibilidade, os preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes
temas:
[...]
XVI - art. 835, incisos e §§ 1º e 2º (ordem preferencial de penhora).”
25
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: RT,
2015. p. 836.
26
Se, no processo civil, o bloqueio de numerário depende de requerimento do exequente
(CPC, art. 854), no processo do trabalho tal providência pode ser determinada de ofício
pelo juiz, a teor do art. 878 da CLT. Essa conclusão é reforçada pela previsão do art. 765
da CLT, verdadeira norma de sobredireito do subsistema processual trabalhista que
irradia efeitos a todas as etapas procedimentais. O art. 765 da CLT autoriza o magistrado
a adotar todas as diligências necessárias à rápida solução da causa.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
197

A determinação de alienação antecipada de veículos automotores é


mais um indicativo do novo perfil da execução por quantia certa. Prevista no
inciso I do art. 852 do CPC27, essa modalidade de alienação antecipada
representa um produtivo meio de coerção para a efetividade da execução, na
medida em que o executado tende ao pagamento na iminência da alienação
do bem penhorado. Recaindo a penhora sobre veículo automotor, a alienação
do bem penhorado deve ser determinada de imediato.28 Na sociedade de
consumo, esperar pelo trânsito em julgado de todos os incidentes da fase de
execução significa perder vários anos, com a progressiva depreciação
econômica do bem penhorado. Ao realizar a imediata alienação do veículo
automotor penhorado, o juiz antecipa a fase processual na qual o devedor
torna-se mais vulnerável e tendente ao pagamento. Além disso, é expressivo
o número de devedores que têm veículo automotor. Esse dado de economia
social também revela o acerto do legislador, ao positivar nesse pragmático
preceito uma espécie de presunção absoluta de depreciação econômica
sempre que a penhora recair sobre veículo automotor. Tratando-se de veículo
automotor, também operam em favor da efetividade da execução a pesquisa
prévia dos veículos disponíveis no sistema RenaJud, a prévia inserção de
restrição de circulação do veículo via sistema RenaJud e a remoção imediata
do bem penhorado.29 A alienação antecipada do veículo penhorado será o
desfecho de uma política judiciária de maior eficácia na execução, a ser
implementada pelo juiz, com fundamento na aplicação supletiva do inciso I
do art. 852 do CPC.
Ao estender para o coproprietário a previsão da penhora da totalidade
do bem, o novo CPC deu mais um passo em favor da efetividade da execução.
No Código revogado, a medida aplicava-se apenas ao cônjuge. O art. 655-B
do CPC de 1973 previa a penhora sobre a totalidade do bem do casal,
assegurando ao cônjuge não devedor o recebimento de sua meação em
dinheiro, após a alienação do bem. Prevista no art. 843 do novo CPC30, a
penhora da totalidade do bem foi estendida para a hipótese de condomínio
em geral.31 A experiência ordinária revela que a alienação do bem penhorado
não costuma ser necessária, pois os vínculos sociais existentes entre os

27
“Art. 852. O juiz determinará a alienação antecipada dos bens penhorados quando:
I - se tratar de veículos automotores, [...].”
28
O verbo é empregado no modo imperativo - “determinará”.
29
A imediata remoção do bem móvel penhorado é a regra geral tanto na Lei n. 6.830/80 (art.
11, § 3º) quanto no CPC (art. 840, II).
30
“Art. 843. Tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-parte do coproprietário
ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.”
31
Como esclarece Hermes Zaneti Jr.: “O coproprietário tem direito a sua quota-parte, mas
não pode evitar a alienação do bem por ser este indivisível.” (ZANETI JR., Hermes.
Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São Paulo: RT, 2016. vol.
XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.).ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.).
Comentários ao código de processo civil, p. 204.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
198

condôminos os induzem tanto à composição amigável da lide quanto à remição


da execução; os embargos de terceiro são raros.
Identificados os principais elementos caracterizadores do novo
paradigma da execução por quantia certa no CPC de 2015, cumpre enfrentar
o tema da regência legal da matéria.

5 A REGÊNCIA LEGAL DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA DE


OBRIGAÇÃO POR QUANTIA CERTA

A regência legal do cumprimento da sentença por quantia certa no CPC


de 2015 é semelhante à regência da matéria no CPC de 1973. Entretanto, algumas
diferenças devem ser destacadas, a fim de demonstrar a especial densidade
conferida pelo novo CPC à efetividade da execução de obrigação pecuniária.32
O percentual de penalização para a hipótese de não pagamento
voluntário da obrigação foi ampliado para 20%. À previsão de multa de 10% já
existente no CPC revogado (art. 475-J), o CPC de 2015 acrescentou o
percentual de mais 10% de honorários advocatícios. A previsão está expressa
no § 1º do art. 523 do CPC e aplica-se tanto à execução definitiva quanto à
execução provisória (CPC, art. 520, § 2º). Ao estender tal penalização à
execução provisória, o legislador inova e confere maior eficácia à sentença33
ainda não transitada em julgado34, estimulando o executado a depositar o
valor liquidado para evitar a oneração de 20%.35 No que respeita à execução
definitiva, o não pagamento voluntário autoriza o juiz do trabalho a adotar,

32
No dizer de Hermes Zaneti Jr.: “É justamente a efetividade o núcleo das preocupações com a
atividade executiva.” (ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos
824 ao 925. São Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART,
Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 130.)
33
Sobre a valorização das decisões de primeiro grau no âmbito recursal, remetemos o leitor
ao artigo “A função revisora dos tribunais - a questão da valorização das decisões de
primeiro grau - uma proposta de lege ferenda: a sentença como primeiro voto no colegiado”.
In: CLAUS, Ben-Hur Silveira (Coord.). A função revisora dos tribunais: por uma nova
racionalidade recursal. São Paulo: LTr, 2016. p. 95-104.
34
Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery anotam: “A execução provisória está,
agora, sujeita à multa, nos mesmos moldes do que ocorre com a execução definitiva, bem
como à incidência dos honorários advocatícios. Com isso, procurou-se conferir a mesma
efetividade e coercitividade da execução definitiva à execução provisória, de forma que
ela não se estenda até o julgamento final do recurso não dotado de efeito suspensivo.”
(NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao código de processo
civil - Novo CPC - Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 1.283.)
35
José Rogério Cruz e Tucci registra que “[...] o § 2º do art. 520, dirimindo qualquer dúvida,
dispõe que, no cumprimento provisório, incidem a multa de 10% e os honorários
advocatícios, também de 10%, sobre a soma devida, desde que o executado, depois de
devidamente intimado, deixe de pagar a dívida no prazo de 15 dias.” (CRUZ E TUCCI, José
Rogério. Comentários ao código de processo civil - artigos 485-538. São Paulo: RT, 2016.
vol. VIII. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel
(Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 283.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
199

além da oneração da dívida em 20%, duas medidas de coerção indireta: o


imediato protesto da sentença (CPC, art. 517) e a imediata inclusão do nome
do executado em cadastros de inadimplentes (CPC, art. 782, §§ 3º e 5º)36,
medidas legais que geram severas restrições de crédito ao executado.
No que respeita à aplicabilidade da multa de 10% e de mais 10% de
honorários advocatícios previstos no art. 523 do CPC de 2015 na hipótese de
não ocorrer o depósito voluntário do valor liquidado37, uma produtiva
interpretação do conceito de aplicação supletiva do art. 15 do novo Código
oportunizará ao TST reexaminar a posição que a Corte adotara na vigência do
CPC de 1973, então sob o fundamento de que a CLT não é omissa sobre o
modo de realização da execução, contando com regramento próprio que não
prevê cominação de multa. Sirva a essa reflexão a percuciente observação do
voto vencido do Min. Augusto César Leite de Carvalho no julgamento de recurso
de Embargos sobre o tema da aplicabilidade da multa do art. 475-J do CPC
revogado. Na ocasião, o Min. Augusto César Leite de Carvalho observou que
a CLT não trata de medidas coercitivas para estimular o cumprimento voluntário
da obrigação, limitando-se tão somente à previsão de meios sub-rogatórios
de execução.38 No particular, a razão parece estar com Célio Horst Waldraff,
quando observa que a posição firmada pelo TST sob a vigência do CPC de
1973 servia como norte antes do advento do CPC de 2015, para concluir que,
se a ideia do art. 15 do novo CPC, ao admitir a aplicação supletiva ao lado da
subsidiária, é reforçar o processo do trabalho, o sancionamento do devedor
inadimplente revela-se mais do que oportuno.39
Outro aspecto que evidencia a eficácia reconhecida pelo novo CPC à
sentença ainda não transitada em julgado é manutenção da possibilidade -
possibilidade já existente no CPC revogado - de a execução provisória ser
realizada de forma completa. Por execução provisória completa, a teoria jurídica
identifica a execução provisória que vai até o final, com a alienação do bem
penhorado e inclusive com a possibilidade de levantamento do depósito do
valor apurado na alienação judicial do bem. Essa possibilidade está prevista
na norma do inciso IV do art. 520 do CPC.40 Comentando esse preceito legal,
36
O cabimento da aplicação sobreposta e combinada dessas medidas legais - oneração de
20%, protesto e inclusão em cadastros de inadimplentes - é afirmada por Cassio Scarpinella
Bueno na obra Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 346.
37
Vale tanto para a execução definitiva quanto para a execução provisória (CPC, arts. 520 e 523).
38
TST-E-RR-54100-73.2006.5.10.0006, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho.
Julgamento: 5/9/2013, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais. Data de
Publicação: DEJT 13/9/2013.
39
WALDRAFF, Célio Horst. Os poderes mandamentais do juiz no novo CPC e a superação
da multa do art. 475-J do CPC/1973. Revista Eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho
da 9ª Região, n. 50. v. 5, p. 127, maio 2016.
40
Cassio Scarpinella Bueno anota: “Assim é que a ‘execução provisória completa’ - ou o
‘cumprimento provisório de sentença completo’ - é expressamente assegurada, ainda
que, em regra, mediante prestação de caução (inciso IV).” (BUENO, Cassio Scarpinella.
Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 348.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
200

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery assentam que “[...] hoje é
possível alcançar-se, na execução provisória, todos os efeitos práticos da
execução definitiva.”41
Se a possibilidade de execução completa já estava prevista na execução
provisória no CPC revogado (art. 475-O, III42), a verdadeira novidade trazida
pelo CPC em vigor está na opção do legislador de tutelar a posição jurídica do
arrematante em detrimento da tutela da posição jurídica do executado na
execução provisória. Ao estabelecer que, na execução provisória, “A restituição
ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da
transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real
eventualmente já realizada, […]” (CPC, art. 520, § 4º), o novo CPC pretendeu
estimular a participação de terceiro arrematante na hasta pública do bem do
executado e, por isso mesmo, induzir o executado ao cumprimento da
obrigação, para não perder o bem penhorado definitivamente.
A norma do art. 520, § 4º, é complementada pelo preceito do art. 903
do CPC. Enquanto o art. 520, § 4º, estabelece que a restituição ao estado
anterior a que se refere o inciso II do art. 520 não implica o desfazimento da
transferência da propriedade, o art. 903 confirma que, firmado o auto de
arrematação, a arrematação é considerada irretratável, ainda que venham a
ser julgados procedentes os embargos do executado ou a ação autônoma
respectiva. A doutrina confirma essa interpretação:

Observe-se que, ocorrendo a expropriação de bem penhorado em


execução forçada de decisão provisória - o que é perfeitamente possível,
art. 520, IV, CPC -, não tem o executado direito ao desfazimento da
arrematação. Vale dizer: o terceiro que arrematou o bem tem sua esfera
jurídica desde logo resguardada, não tendo o executado direito de reaver
o bem arrematado (art. 520, § 4º, CPC). O art. 903, CPC, a propósito,
abona esse raciocínio, ao afirmar que, “[...] assinado o auto pelo juiz, pelo
arrematante e pelo leiloeiro, a arrematação será considerada perfeita,
acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os
embargos do executado ou a ação autônoma […].”43

41
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao código de processo
civil - Novo CPC - Lei 13.105/2015. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 1.281.
42
“Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo
que a definitiva, observadas as seguintes normas:
[...]
III - o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de
propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução
suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.”
43
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de
processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 624.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
201

A mesma opinião recolhe-se dos comentários de Daniel Amorim


Assumpção Neves acerca do cumprimento provisório da sentença. O jurista
pondera que

[…] a expressa menção de retorno ao estado anterior das partes permite


que os atos de expropriação sejam realizados mesmo no cumprimento
provisório de sentença, protegendo-se o terceiro adquirente do bem
penhorado, que não retornará ao patrimônio do executado, entendendo-se
que o “estado anterior” diz respeito à situação patrimonial do executado
antes da execução provisória.44

Orienta-se na mesma perspectiva a doutrina de José Rogério Cruz e


Tucci:

[...] pode ter-se verificado inclusive a transferência de domínio, como


expressamente autorizam o inc. IV e o § 4º do art. 520. Neste caso, a
despeito de não ser mais viável a restituição ao estado anterior, só restará
ao executado ser reembolsado pelo dano experimentado.45

Enaltecendo a opção do legislador por privilegiar a posição jurídica do


arrematante em detrimento da posição jurídica do executado, Wolney de
Macedo Cordeiro afirma que o novo CPC adotou uma proposta extremamente
corajosa para a solução dos problemas decorrentes da consolidação da
arrematação. Comentando o art. 903 do CPC, o processualista registra que
os meios de defesa do executado não são dotados de efeito suspensivo e
conclui que

[...] é possível que a fase de expropriação seja sequenciada mesmo sem


o julgamento dos embargos do devedor. A eventual procedência desse
meio impugnativo, no entanto, não afeta a arrematação, mantendo-se
incólume a aquisição feita por terceiro e restando ao devedor prejudicado
obter a reparação perante o próprio credor.46

44
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado artigo por
artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 896-897.
45
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Comentários ao código de processo civil - artigos 485-538.
São Paulo: RT, 2016. vol. VIII. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio
Cruz; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 282. No
mesmo sentido, alinha-se a doutrina de Cassio Scarpinella Bueno: “O § 4º evidencia o
correto entendimento de que a alienação de domínio é preservada no caso de provimento
de apelo do executado. Ressalvando-se o direito do executado (quem sofre o cumprimento
provisória da sentença) pleitear a indenização cabível.” (Novo código de processo civil
anotado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 348.)
46
CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 344.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
202

A doutrina identifica na possibilidade de execução provisória completa


e no não-desfazimento da arrematação a opção do legislador de organizar o
processo “[...] de modo a concretizar de forma mais aguda o direito fundamental
à efetividade da tutela jurisdicional.”47 Essa forma mais aguda de concretizar
a tutela jurisdicional levou Hermes Zaneti Jr. à consideração de que as
premissas do novo CPC “[...] afastam a concepção fraca da atividade executiva
que estimula o comportamento irresponsável dos devedores e a corrupção do
sistema.”48 Para o referido jurista, a alteração paradigmática projetada pelo
novo CPC parte da premissa - acertada premissa, sublinhe-se - de que “[...]
não há direito fundamental de propriedade que dê suporte a um processo de
execução pensado para a tutela do devedor. O processo de execução deve
ser voltado para a tutela do crédito.”49
O novo CPC manteve a regra geral de que a impugnação não suspende
a execução. Essa regra geral estava prevista no art. 475-M do CPC revogado.
No CPC de 2015, essa regra geral está prevista no art. 525, § 6º, e constitui
evidência de que, ao organizar a execução forçada dessa maneira, o legislador
infraconstitucional pretendeu dar maior densidade ao direito fundamental à
tutela jurisdicional efetiva (CF, art. 5º, XXXV), priorizando a eficácia da sentença
condenatória ao pagamento de quantia.50 Aplicável à execução trabalhista por
força dos arts. 769 e 889 da CLT e do art. 15 do CPC, a regra da não suspensão
da execução incide tanto na execução definitiva quanto na execução provisória,
estimulando o executado ao cumprimento da obrigação.
Alguns aspectos particulares da execução por quantia certa merecem
desenvolvimento específico capaz de permitir explorar melhor determinadas
potencialidades trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015. É o que se
tenta enfrentar agora.

6 PROTESTO EXTRAJUDICIAL DA SENTENÇA E INCLUSÃO DO


DEVEDOR EM CADASTRO DE INADIMPLENTES - POR QUE FAZER
AMBOS

Na esteira da doutrina e da jurisprudência51 formadas na vigência do


CPC revogado, o art. 517 do novo CPC positivou o protesto extrajudicial da

47
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de
processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 625.
48
ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 41.
49
ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 130.
50
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de
processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 641.
51
STJ, 3ª Turma, REsp 750.805/RS, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 14/2/2008, DJe 16/6/2009.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
203

sentença transitada em julgado como medida de execução indireta mediante a


qual o legislador evidencia o deliberado propósito de conferir maior autoridade
às decisões judiciais. O art. 517 do CPC prevê que “A decisão judicial transitada
em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido
o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523.” A doutrina e a
jurisprudência já admitiam o protesto extrajudicial da sentença, com fundamento
no art. 1º da Lei n. 9.492/1997. Assim admitiam por reconhecer enquadrar-se a
sentença no tipo legal previsto no referido art. 1º da Lei n. 9.492/1997.
O art. 1º da Lei n. 9.492 prevê o protesto de “títulos e outros documentos
de dívida”. A sentença transitada em julgado é considerada pela doutrina e
pela jurisprudência, para efeito de protesto, título representativo de dívida. Daí
o entendimento de que a sentença transitada em julgado podia ser levada a
protesto ainda à época do CPC de 1973.52 Aliás, seria contraditório que se
pudesse protestar uma duplicata e não se pudesse protestar uma sentença.53
O novo CPC ampliou o cabimento do protesto, estendendo-o também à decisão
interlocutória transitada em julgado.54 Daí a possibilidade de protestar a decisão
parcial do mérito prevista no art. 356 do CPC55, o que pode aportar mais
efetividade à boa prática da antecipação de capítulo(s) da sentença. No art.
5º da Instrução Normativa n. 39/2016, o TST reputa aplicáveis ao processo do
trabalho as normas dos §§ 1º a 4º do art. 356 do CPC que regulam o julgamento
antecipado parcial do mérito, estabelecendo que da sentença parcial do mérito
cabe recurso ordinário de imediato.
Prevista nos §§ 3º e 5º do art. 782 do novo CPC, a inclusão do nome do
executado em cadastro de inadimplentes é mais uma importante medida de
execução indireta que denota a opção do legislador pela efetividade da
execução, uma vez que as restrições de crédito produzidas contra o devedor
judicial são bastante severas, à semelhança do que ocorre com o protesto
extrajudicial da sentença. Assim como o protesto, a inclusão do devedor em
cadastro de inadimplentes tem cabimento na execução definitiva. E ambas
as medidas podem ser determinadas imediatamente após o decurso do prazo
para pagamento do débito (CPC, arts. 517 e 872, § 4º).

52
Cf. CLAUS, Ben-Hur Silveira. Execução trabalhista em perguntas e respostas. Porto
Alegre: HS Editora, 2015. p. 91-92.
53
Enquanto a duplicata enseja contraditório apenas diferido, a sentença judicial é antecedida
de contraditório prévio, com garantia inclusive de acesso ao duplo grau de jurisdição.
Somente após o trânsito em julgado da sentença admite-se o protesto. Já a duplicata
vencida é apontada para imediato protesto por ato unilateral do credor e, não havendo o
pagamento, o protesto é lavrado, salvo se o devedor ajuizar ação de sustação do protesto,
tomando a iniciativa de propor o contraditório.
54
MIESSA, Élisson. Hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo CPC e seus
impactos no processo do trabalho. In: MIESSA, Élisson (Org.). Novo código de processo
civil e seus reflexos no processo do trabalho. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 480.
55
Cf. NEGRÃO, Theotonio et al. Novo código de processo civil e legislação processual em
vigor. 47. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 551, nota n. 517, 1a.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
204

A semelhança dos efeitos do protesto extrajudicial da sentença e da


inclusão do nome do executado em cadastro de inadimplentes têm levado os
operadores jurídicos a se perguntarem sobre a utilidade da adoção simultânea
de ambas as medidas. Isso porque o titular do Cartório de Títulos e
Documentos comunica aos órgãos de defesa do crédito quando lavra o protesto
extrajudicial da sentença. Essa comunicação aos órgãos de defesa de crédito
é dever legal imposto ao Cartório de Títulos e Documentos, previsto no art. 29
da Lei n. 9.492/1997. Já o convênio celebrado entre o CNJ e a Serasa Experian,
conhecido como SerasaJud, permite ao juízo operacionalizar a medida de
execução indireta prevista nos §§ 3º e 5º do art. 872 do CPC, incluindo o
devedor judicial no Cadastro de Inadimplentes da Serasa mediante simples
comando eletrônico.
A conveniência de realizar ambas as medidas simultaneamente pode
ser percebida quando se atenta para a diversa regência legal estabelecida
para o cancelamento dessas medidas. Enquanto basta a garantia do juízo
para o executado obter o cancelamento da inscrição de seu nome em cadastro
de inadimplentes (CPC, art. 782, § 4º), o cancelamento do protesto
extrajudicial exige do devedor “[...] a satisfação integral da obrigação.” (CPC,
art. 517, § 4º) Vale dizer, o protesto é mais eficaz do que a inclusão do nome
do devedor em cadastro de inadimplentes, na medida em que o devedor
precisará providenciar a satisfação integral da obrigação para fazer cancelar
o protesto extrajudicial da sentença.
A distinção estabelecida pelo legislador no tratamento dessas duas
medidas de execução indireta é objeto detalhado da doutrina de Cassio
Scarpinella Bueno. O jurista observa que há uma diferença importante entre
as duas medidas em cotejo, sublinhando que o cancelamento da inscrição
do devedor nos cadastros de inadimplentes ocorre mediante simples garantia
da execução, enquanto que a lei exige “a satisfação integral da obrigação”
para o cancelamento do protesto. Ao explicar o tratamento diverso com que o
legislador distinguiu essas medidas legais no pertinente ao respectivo
cancelamento, Cassio Scarpinella Bueno pondera que a diferença de regime
jurídico tem razão de ser, uma vez que a inscrição em cadastro de inadimplentes
é possível mesmo diante de título executivo extrajudicial, ao passo que o
protesto extrajudicial previsto no art. 517 do CPC pressupõe título executivo
judicial transitado em julgado. Daí a conclusão do jurista de que não basta a
garantia do juízo para o devedor obter o cancelamento do protesto.
Antecipando a solução do debate que surgirá no particular, Cassio
Scarpinella Bueno é categórico em afirmar que a regra do § 4º do art. 782 não
se aplica ao protesto extrajudicial da sentença previsto no art. 517 do CPC56,

56
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 481-482.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
205

ou seja, o executado não logra obter o cancelamento do protesto apenas


com a garantia do juízo mediante a oferta de bem à penhora. A distinção
estabelecida para o cancelamento da medida justifica-se em face do grau
de certeza do direito a ser tutelado pela medida de execução indireta.
Tratando-se de medida de execução indireta fundada em título judicial
transitado em julgado, é razoável que o protesto seja cancelado apenas
mediante “a satisfação integral da obrigação”, porquanto a existência do
crédito exequendo conta com a autoridade da coisa julgada. Sendo a inclusão
do nome do devedor em cadastro de inadimplentes viável na execução de
título executivo extrajudicial desde que decorrido o prazo para pagamento
espontâneo do débito (CPC, art. 782, § 4º), hipótese em que o contraditório
será desenvolvido de forma diferida, houve por bem o legislador estabelecer
hipótese de cancelamento da inscrição mediante mera garantia do juízo,
não lhe exigindo a satisfação integral da dívida, solução legislativa para a
qual certamente foi considerada a existência de um grau menor de certeza
quanto à existência do crédito exequendo.
Se ao protesto não se aplica a regra do § 4º do art. 782 do CPC sob o
fundamento de que a inclusão em cadastro de inadimplentes pode se fundar
em título executivo extrajudicial, cabe indagar se seria exigível a satisfação
integral da dívida quando a inscrição do devedor estiver fundada em título
executivo judicial transitado em julgado. Tratar-se-ia de conferir exegese
sistemática aos preceitos dos arts. 517, § 4º e 782, §§ 3º, 4º e 5º, do CPC,
mediante recurso ao método hermenêutico de proceder à interpretação jurídica
a contrário senso daquela que se recolhe na doutrina de Cassio Scarpinella
Bueno. Enquanto a doutrina e a jurisprudência elaboram esta última questão,
parece razoável afirmar que os juízos trabalhistas alcançarão maior efetividade
na execução na medida em que optem por realizar, simultaneamente, tanto o
protesto quanto a inclusão do nome do executado em cadastro de
inadimplentes.
No art. 17 da Instrução Normativa n. 39/2016, o Tribunal Superior do
Trabalho adotou a orientação de que essas medidas legais de execução indireta
são aplicáveis à execução trabalhista, consolidando a orientação da
jurisprudência mais avançada dos Tribunais Regionais do Trabalho
estabelecida na vigência do Código revogado acerca da matéria.
Embora a adoção dessas medidas legais esteja subordinada à iniciativa
do exequente no âmbito do Processo Civil (CPC, arts. 517, § 1º, e 782, § 3º),
assim não ocorre no âmbito do processo do trabalho em face da previsão do
art. 878 da CLT, preceito que singulariza o procedimento laboral e que atua
para conformar a autonomia científica do Direito Processual do Trabalho. A
iniciativa conferida ao magistrado trabalhista pelo art. 878 da CLT para
impulsionar a execução autoriza concluir que, no processo do trabalho, é
lícito ao juiz determinar de ofício a prática dessas medidas legais de execução
indireta. A doutrina justrabalhista é majoritária nesse sentido. Nada obstante

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
206

Manoel Antonio Teixeira Filho sustente que a inclusão do nome do executado


em cadastro de inadimplentes depende de requerimento do exequente em
face da respectiva previsão do CPC57, a licitude da adoção de ambas as
medidas de ofício pelo juiz do trabalho é reconhecida pela doutrina de Cleber
Lúcio de Almeida58, Edilton Meireles59, Mauro Schiavi60 e Élisson Miessa61,
entre outros.
Esta última posição é a mais consentânea com o processo do trabalho.
A assimetria da relação de emprego imprime ao processo do trabalho um
traço inquisitório bastante superior àquele reconhecido ao magistrado no
processo civil. A lição de José Augusto Rodrigues Pinto acerca da assimetria
da relação de emprego e de sua repercussão no processo do trabalho ilustra
a afirmação anterior. O jurista observa que o processo civil é um

[...] sistema processual que navega em águas de interesses processuais


caracteristicamente privados, porque oriundos de relação de direito
material subordinada à ideia da igualdade jurídica e da autonomia da
vontade. O sistema processual trabalhista flutua num universo dominado
pela prevalência da tutela do hipossuficiente econômico, que se apresenta
como credor da execução trabalhista.62

Se a iniciativa conferida ao juiz do trabalho pelo art. 878 da CLT


assegura-lhe determinar a prática de atos executivos de execução direta de
natureza sub-rogatória, inclusive a constrição e a alienação de bens do
executado63, não parece razoável negar-lhe a prática de atos de mera
execução indireta destinados a induzir o executado ao cumprimento da
obrigação. Aqui, a autonomia científica do Direito Processual do Trabalho
modela e adapta o ingresso do preceito de direito comum no processo do

57
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Comentários ao novo código de processo civil sob a
perspectiva do processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 869. No que diz
respeito ao protesto extrajudicial da sentença previsto no art. 517 do CPC, o autor afirma
que “[...] a norma é aplicável ao processo do trabalho, desde que tenha decorrido o prazo
para o pagamento da dívida [...]”, sem descer ao detalhe da possibilidade da iniciativa de
ofício do juiz, talvez no pressuposto de que a iniciativa da parte é exigida pelo CPC (obra
citada, p. 728).
58
ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 754.
59
MEIRELES, Edilton. Medidas sub-rogatórias, coercitivas, mandamentais e indutivas no
código de processo civil de 2015. Revista de Processo. Vol. 247, ano 40, São Paulo: RT,
p. 237, set. 2015.
60
SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 292.
61
MIESSA, Élisson. Hipoteca judiciária e protesto da decisão judicial no novo CPC e seus
impactos no processo do trabalho. In: MIESSA, Élisson (Org.). Novo código de processo
civil e seus reflexos no processo do trabalho. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 480.
62
PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução trabalhista. 11. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 213.
63
Constrição e alienação forçadas.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
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trabalho sob o comando normativo do art. 878 da CLT, na medida em que


exigir a iniciativa do exequente para a adoção dessas providências não se
afigura compatível com os princípios que governam o subsistema jurídico
processual do trabalho (CLT, arts. 765, 769 e 889).
Em reforço dessa argumentação, alinha-se a orientação do TST de
reconhecer licitude à iniciativa do juiz de conceder de ofício tutela de urgência
de natureza cautelar (CPC, art. 301) quando da instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresarial
executada, conforme previsto no § 2º do art. 6º da Instrução Normativa n.
39/2016. É interessante observar que a adoção de medidas cautelares de
ofício é admitida tanto no âmbito da teoria jurídica processual trabalhista
quanto no âmbito da teoria processual civil. É bem verdade que há distinção
entre medidas cautelares e medidas de execução indireta. Todavia, tal
distinção apenas reforça o argumento em favor da possibilidade de adoção
das referidas medidas de execução indireta de ofício no processo do trabalho,
uma vez que as medidas de execução indireta em questão - protesto
extrajudicial da sentença e inclusão do nome do executado em cadastros
de inadimplentes - têm oportunidade apenas após o trânsito em julgado da
sentença trabalhista, quando o grau de certeza acerca da existência do
direito exequendo é superior àquele necessário para a concessão de medida
cautelar, em que mera probabilidade do direito alegado satisfaz o pressuposto
jurídico necessário ao provimento. Daí a pertinência de recuperar as lições
que nos deixaram Alcione Niederauer Corrêa e Galeno Lacerda no tema.
O processualista trabalhista sustenta que, embora a concessão de
medida cautelar de urgência, ex officio, no processo civil ainda se constitua
exceção, o mesmo não deve ocorrer no processo do trabalho, argumentando
que o juiz trabalhista não apenas promove a execução de ofício,
independentemente de provocação da parte, complementando a satisfação
jurisdicional, como realiza um direito material de proteção do economicamente
fraco. Depois de registrar que a execução de ofício é uma regra representativa
da superioridade jurídica conferida ao empregado na relação processual,
Alcione Niederauer Corrêa postula seja admitida a concessão de medidas
cautelares de ofício também no processo de conhecimento, ponderando, para
tanto, que “[...] o processo do trabalho se caracteriza pela predominância do
inquisitório sobre o dispositivo, pela presença atuante do juiz na sua direção
e na busca de todos os elementos que possam influir na sua convicção.”64
O processualista civil conclui que o juízo trabalhista tem a faculdade
de decretar providências cautelares diretas de ofício. Galeno Lacerda
desenvolve seu raciocínio com o brilho habitual, ponderando que

64
CORRÊA, Alcione Niederauer. CLAUS, Ben-Hur Silveira (Org.). Das ações cautelares no
processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
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[...] alarga-se, portanto, no processo trabalhista pela própria natureza dos


valores que lhe integram o objeto, o poder judicial de iniciativa direta. Isto
significa que, ao ingressarem no direito processual do trabalho, como
subsidiárias, as normas do processo civil hão de sofrer, necessariamente,
a influência dos mesmos valores indisponíveis. Por isso, o teor do art. 797 -
“só em casos excepcionais, expressamente autorizados por lei, determinará
o juiz medidas cautelares sem a audiência das partes” - ao transmudar-se
subsidiariamente para o processo trabalhista, deverá ser interpretado de
modo extensivo e condizente com os princípios sociais que informam esse
direito, e com o consequente relevo e autonomia que nele adquirem os
poderes do juiz, consubstanciados, até, na execução de ofício.65

Quanto à operacionalização dessas medidas, o protesto extrajudicial


da sentença pode ser realizado mediante mandado-papel dirigido ao titular do
Cartório de Títulos e Documentos, acompanhado de certidão da dívida. Alguns
Cartórios admitem a utilização de ofício-papel, o que simplifica o procedimento,
pois libera o Oficial de Justiça de levar o mandado até o cartório, fazendo-se
a remessa pelos Correios. A certidão da dívida deve acompanhar o ofício-papel.
O ideal, entretanto, é o TRT celebrar o convênio necessário à realização
eletrônica do protesto.66 O convênio é celebrado entre o TRT e a entidade
representativa dos Cartórios de Protestos no âmbito da Região, o Instituto de
Estudos de Protesto de Títulos do Brasil.67 Alguns Tribunais Regionais já têm
o convênio e realizam com êxito o protesto extrajudicial da sentença de forma
eletrônica68, o que implica simplicidade e agilidade procedimental.
Já a inclusão do nome do executado no cadastro de inadimplentes da
Serasa pode ser realizada eletronicamente por meio do convênio SerasaJud,
o qual está acessível a todos os juízos trabalhistas do país, desde que o
respectivo Tribunal Regional tenha aderido ao convênio celebrado entre o CNJ
e a Serasa Experian. Para outros cadastros de inadimplentes69, a medida

65
LACERDA. Galeno. Comentários ao código de processo civil. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1990. vol. VIII, tomo I, p. 129-130.
66
Luciano Athayde Chaves pondera sobre a necessidade de utilizar e desenvolver ferramentas
eletrônicas na execução trabalhista, observando, com pertinência, que “[...] as práticas
forenses permaneceram tempo demais na obscuridade das rotinas tradicionais, fator de
grande relevo para explicar a baixa efetividade das tutelas jurisdicionais.” (CHAVES, Luciano
Athayde. Ferramentas eletrônicas na execução trabalhista. In: CHAVES, Luciano Athayde
(Org.). Curso de processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2009. p. 925-926.)
67
Cada Estado da Federação tem uma Seção estadual do Instituto.
68
É o caso do TRT do Amazonas e do TRT de Minas Gerais, por exemplo.
69
SPC - Serviço de Proteção ao Crédito (lojistas); Cedin - Cadastro de Entidades Devedoras
Inadimplentes, mantido pelo CNJ; Cadin - Cadastro de Inadimplentes, mantido pelo Banco
Central do Brasil (obrigações não pagas para com órgãos da Administração Pública
Federal); Sicaf - Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (regularidade
fiscal das empresas que contratam com a Administração Pública).

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
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pode ser realizada mediante a expedição de mandado-papel dirigido ao


cadastro de inadimplentes desejado, enquanto não celebrados os convênios
necessários à implementação da providência legal de forma eletrônica, o que
já é objeto da atenção dos Gestores Nacionais e Regionais da Execução e
das Corregedorias dos Tribunais Regionais.

7 A PENHORA DE DINHEIRO EM EXECUÇÃO PROVISÓRIA

O Tribunal Superior do Trabalho vem atualizando sua jurisprudência


ao novo CPC. No inciso XVI do art. 3º da Instrução Normativa n. 39, o TST
reputou o § 1º do art. 835 do CPC, de 2015, aplicável ao processo do trabalho.
No dia 19 de setembro de 2016, o TST atualizou sua jurisprudência ao
preceito do § 1º do art. 835 do CPC de 2015.70 Com a atualização de sua
jurisprudência, o TST passou a admitir o cabimento de penhora de dinheiro
na execução provisória, posicionamento que poderá descortinar um horizonte
de promissora efetividade para a Jurisdição Trabalhista.71
Na redação anterior, a Súmula n. 417 do TST não admitia a penhora
em dinheiro na execução provisória. Com efeito, o item III da referida Súmula
apresentava o seguinte enunciado:

III - Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do


impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados
outros bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se
processe da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620
do CPC.

Em razão da previsão do § 1º do art. 835 do novo CPC, o TST cancelou


o item III da Súmula n. 417 e alterou a redação do item I da Súmula n. 417,
passando a admitir a penhora de dinheiro também na execução provisória. O
preceito que fundamenta o novo posicionamento do TST estabelece que a
penhora em dinheiro, além de continuar sendo preferencial, é prioritária, o
que significa dizer que a ordem de penhora não pode mais ser alterada pelo
juiz quando a constrição recair sobre dinheiro.
A nova redação do item I da Súmula n. 417 do TST apresenta o seguinte
enunciado:

70
“Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
[...]
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a
ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.”
71
Cf. CLAUS, Ben-Hur Silveira. TST atualiza sua jurisprudência: penhora em dinheiro na
execução provisória. Suplemento Trabalhista n. 105/16. São Paulo: LTr, ano 52, p.
601-603, 2016.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
210

I - Não fere direito líquido e certo do impetrante o ato judicial que determina
penhora em dinheiro do executado para garantir crédito exequendo, pois
é prioritária e obedece à gradação prevista no art. 835 do CPC de 2015
(art. 655 do CPC de 1973).

Cancelado o item III e alterado o item I da Súmula n. 417 do TST, a


jurisprudência atual do TST não mais distingue, para efeito de considerar
prioritária a penhora em dinheiro, entre execução provisória e execução
definitiva. Em ambas as modalidades de execução, a execução realiza-se
prioritariamente mediante penhora de dinheiro, a teor do § 1º do art. 835 do
CPC de 2015. Vale dizer, mesmo na execução provisória, o exequente tem
direito subjetivo à penhora em dinheiro, ainda que o executado indique bens à
penhora, na acertada conclusão de Leonardo de Faria Beraldo.72
A lição de Daniel Amorim Assumpção Neves sintetiza a doutrina sobre
o alcance do preceito legal, no sentido de que “[...] a preferência pela penhora
do dinheiro é absoluta, prevalecendo em toda e qualquer execução,
independentemente das particularidades do caso concreto.”73 Sendo
preferencial e agora também prioritária a penhora em dinheiro (CPC, art. 835,
I, § 1º), o executado deve observá-la ao indicar bem à penhora, sob pena de
presunção relativa de ineficácia da indicação de outro tipo de bem à penhora
(CPC, art. 848, I). A formulação de Guilherme Rizzo Amaral ajuda a
compreender melhor o conteúdo do novo preceito legal, esclarecendo um
aspecto peculiar de seu alcance: “[...] o prejuízo ao exequente será presumido
sempre que dinheiro for preterido na indicação do devedor.”74
Compreender o itinerário da Súmula n. 417 do TST permite visualizar
melhor as perspectivas que se abrem à Jurisdição Trabalhista após a alteração
da redação da súmula. Na interpretação sobre a incidência do art. 655 do
CPC de 1973 na execução provisória, o TST firmara o entendimento de que a
ordem preferencial de penhora estabelecida no referido preceito legal não
impedia que, em favor da observância da regra da execução menos gravosa
para o devedor, pudesse ser afastada a penhora em dinheiro quando o
executado indicasse outro bem à penhora.75
72
Leonardo de Faria Beraldo é didático: “E, se o executado se antecipar e oferecer um bem
à penhora, mesmo que com ótima liquidez, é direito do exequente requerer a penhora on-
line, estando o juiz obrigado a deferir o pedido.” (BERALDO, Leonardo de Faria. Comentários
às inovações do código de processo civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2015. p. 318.)
73
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado artigo por
artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1.330.
74
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: RT,
2015. p. 836.
75
A posição do TST foi contestada por copiosa doutrina. Essa doutrina adotava o
entendimento de que a juridicidade da penhora em dinheiro na execução provisória podia
ser extraída da mera preferência atribuída ao dinheiro na ordem preferencial de bens
prevista no art. 655 do CPC de 1973 e também da previsão legal de que a execução
provisória realiza-se da mesma forma que a execução definitiva.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
211

Esse entendimento restou consagrado no item III da Súmula n. 417 do


TST:

III - Em se tratando de execução provisória, fere direito líquido e certo do


impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros
bens à penhora, pois o executado tem direito a que a execução se processe
da forma que lhe seja menos gravosa, nos termos do art. 620 do CPC.

Com o advento do CPC de 2015, sobreveio explicitação normativa


inexistente no CPC de 1973. Após consagrar a ordem preferencial de penhora
no caput do art. 835, à semelhança da disciplina existente no CPC revogado
(art. 655), o novo CPC acrescentou o § 1º ao dispositivo legal em questão. O
§ 1º do art. 835 do CPC tem a seguinte redação:

§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais


hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as
circunstâncias do caso concreto. (grifo acrescido)

Por meio do referido § 1º, o legislador explicitou ser prioritária a penhora


em dinheiro, facultando a alteração na ordem preferencial de penhora apenas
para os demais bens penhoráveis. E já não mais se cogita de execução
menos gravosa no particular: “[...] o princípio da efetividade da tutela executiva
se sobrepõe ao da menor onerosidade no caso de penhora em dinheiro.”76
Aplicável à execução trabalhista por força da previsão expressa do
art. 882 da CLT, o art. 655 do CPC de 1973 arrolava o dinheiro como primeira
modalidade de bem a ser penhorado. Como não havia a atual explicitação
normativa de que o dinheiro era a modalidade prioritária de bem a penhorar,
a jurisprudência do TST adotou uma interpretação mitigada da natureza
preferencial da penhora em dinheiro na execução provisória, admitindo que
a ordem preferencial de penhora pudesse ser relativizada quando se tratasse
de execução de título executivo não definitivo e desde que o executado
tivesse oferecido bens à penhora.
Essa relativização era feita sob inspiração da regra da execução menos
gravosa para o devedor, prevista no art. 620 do CPC de 1973, dispositivo legal
mencionado na parte final do item III da Súmula n. 417 do TST. Com a
explicitação normativa de que a penhora em dinheiro, além de preferencial,
tornou-se prioritária, o TST atualizou sua jurisprudência ao preceito do § 1º
do art. 835 do CPC, alterando a redação do item I e cancelando o item III da
Súmula n. 417, sem fazer referência à regra da execução menos gravosa.
Abandonando a distinção que fazia na antiga redação da Súmula n. 417,

76
A síntese de Élisson Miessa é perfeita. MIESSA, Élisson. Impactos do novo CPC nas
súmulas e orientações jurisprudenciais do TST. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 116.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
212

entre execução definitiva e execução provisória, o Tribunal Superior do Trabalho


assentou o entendimento de que a penhora em dinheiro é cabível, desde
logo, em ambas as modalidades de execução, o que significa dizer que a
nomeação de bens à penhora pelo executado não tem mais a eficácia jurídica
de impedir que a penhora recaia sobre dinheiro.
A nova orientação adotada pelo TST na Súmula n. 417 contribuirá para
a efetividade da execução, estimulando a adoção da boa prática da execução
provisória de ofício (CLT, art. 878). Estimulará a boa prática da sentença líquida.
Nos casos em que a completa liquidação da sentença for inviável diante da
complexidade dos cálculos, a boa prática da sentença líquida em parte (em
determinados capítulos) permitirá antecipar todos os atos de execução no
que respeita ao valor líquido apurado. É preciso ter em conta, nesse contexto,
o fato de que a execução provisória, no novo CPC, vai até a alienação do bem
penhorado e permite, inclusive, o levantamento de depósito em dinheiro (CPC,
art. 520, IV), independentemente de caução, quando se tratar de execução
de crédito de natureza alimentar (CPC, art. 521, I), preceitos que têm sido
considerados aplicáveis supletivamente à execução trabalhista pela doutrina
majoritária (CLT, arts. 769 e 889; CPC, art. 15). Por fim, a diretriz hermenêutica
adotada pelo TST na nova redação da Súmula n. 417 parece colocar no
horizonte da Jurisdição Trabalhista a perspectiva de uma produtiva assimilação
da aplicação supletiva do CPC de 2015 à execução trabalhista.

8 PENHORA DE SALÁRIO E DE DEPÓSITO EM CADERNETA DE


POUPANÇA

Outro fator de efetividade na execução de obrigação pecuniária está na


opção do novo CPC de tornar penhorável tanto a remuneração da pessoa
natural do executado quanto seus depósitos em caderneta de poupança
quando estiver em execução prestação alimentícia, independentemente de
sua origem (CPC, art. 833, § 2º). Trata-se de mais uma distinção em relação
ao Código revogado. No CPC de 1973, a remuneração do executado era
considerada absolutamente impenhorável (art. 649, IV). A única exceção era
o pagamento de prestação alimentícia stricto sensu (art. 649, § 2º). Idêntica
impenhorabilidade era conferida à caderneta de poupança, desde que o valor
depositado fosse inferior a 40 salários mínimos (art. 649, X).77
Aproveitando a oportunidade para aproximar-se da melhor experiência
do direito comparado78, o novo CPC tornou penhorável a remuneração da

77
A primeira observação é notar que desaparece, no novo CPC, o advérbio absolutamente
- absolutamente impenhoráveis - que estava presente no Código revogado (art. 649,
caput). O CPC de 2015 relativiza algumas hipóteses de impenhorabilidade, atendendo a
ponderações da doutrina em favor da efetividade da tutela executiva.
78
Cf. ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2016.
p. 809-810.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
213

pessoa natural do executado para pagamento de prestação alimentícia de


qualquer natureza, aspecto que foi saudado pela doutrina de Wolney de
Macedo Cordeiro como grande evolução da norma processual brasileira, que
há muito tempo se ressentia de uma ampliação das hipóteses de constrição
do salário do devedor. 79
A nova disciplina que o CPC de 2015 conferiu à penhora de salário
coloca em perspectiva a reavaliação da diretriz hermenêutica adotada pelo
TST na Orientação Jurisprudencial n. 153 da Seção de Dissídios Individuais
II.80 A jurisprudência uniformizada do TST firmou-se - na OJ 153 da SDI-II - no
sentido de distinguir, para efeito de penhorabilidade, entre o crédito de
alimentos do direito de família e o crédito alimentar trabalhista. A distinção
adotada pelo TST tinha fundamento no entendimento de que a possibilidade
de penhora estava limitada pelo § 2º do art. 649 do CPC de 1973 à hipótese
de execução de crédito de alimentos do direito de família, espécie de crédito
alimentar na qual não se podia entender compreendido o crédito trabalhista.
Isso porque o crédito trabalhista, embora integrasse o gênero crédito alimentar,
não se confundia com a estrita espécie de crédito alimentar prevista no § 2º
do art. 649 do CPC de 1973.
Ocorre que o novo CPC, ao disciplinar as hipóteses de impenhorabilidade
e respectivas relativizações, abarcou as diversas espécies de crédito alimentar
no gênero prestação alimentícia, independentemente de sua origem, conforme
se recolhe dos termos do § 2º do art. 833 do CPC. A adoção da genérica
locução prestação alimentícia, independentemente de sua origem81 no suporte
fático do preceito legal não mais permite distinguir entre as diversas espécies
de prestação alimentícia no tema da penhorabilidade. Noutras palavras, o
novo diploma geral superou a distinção que se fazia na vigência do Código
anterior, passando a compreender as diversas espécies de prestação
alimentícia no gênero adotado no novo suporte fático do preceito - prestação
alimentícia, independentemente de sua origem. O novo CPC veio para superar
a distinção que havia no CPC revogado, exatamente porque essa distinção
deixava os demais credores alimentares sem tutela jurídica efetiva.

79
Cf. CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 276.
80
OJ 153 da SDI-II do TST: “MANDADO DE SEGURANÇA. EXECUÇÃO. ORDEM DE PENHORA
SOBRE VALORES EXISTENTES EM CONTA SALÁRIO. ART. 649, IV, DO CPC. ILEGALIDADE.
Ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de numerário existente em
conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja limitado a determinado
percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou poupança,
visto que o art. 649, IV, do CPC contém norma imperativa que não admite interpretação
ampliativa, sendo a exceção prevista no art. 649, § 2º, do CPC espécie e não gênero de
crédito de natureza alimentícia, não englobando o crédito trabalhista.”
81
Wolney de Macedo Cordeiro adota a expressão prestação alimentícia de qualquer
natureza. (CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016. p. 298.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
214

O novo CPC estabelece que a caução pode ser dispensada na execução


provisória quando o crédito for de natureza alimentar, independentemente de
sua origem (CPC, art. 521, I). O novo CPC estabelece também a possibilidade
de penhora de salário e caderneta de poupança quando estiver em execução
prestação alimentícia, independentemente de sua origem (CPC, art. 833, §
2º). Ambos os preceitos têm redação semelhante e disciplinam tais matérias
sob a mesma orientação axiológica, conferindo posição jurídica de
preeminência aos credores alimentares. Trata-se de elemento hermenêutico
de extração sistemática que opera como reforço de argumentação. Note-se
que a expressão crédito alimentar e a expressão prestação alimentícia são
ambas seguidas da mesma locução - independentemente de sua origem. Os
preceitos dos arts. 521, I, e 833, § 2º, do CPC, compreendidos em harmonia
sistemática, na busca da otimização da eficácia da tutela executiva, permitem
extrair a interpretação extensiva de que basta que o crédito seja alimentar -
aqui incluído o crédito trabalhista - para que se considere lícita a penhora de
salário e de caderneta de poupança, ainda que não se trate de prestação
alimentícia continuada. A interpretação extensiva da norma do § 2º do art.
833 do CPC é encontrada na doutrina do processualista civil Daniel Amorim
Assumpção Neves. Diz o autor que “[...] essa exceção à impenhorabilidade
não depende da origem do direito de alimentos, aplicando-se àqueles derivados
da relação familiar, de casamento ou união estável, verbas trabalhistas lato
sensu e decorrentes de ato ilícito.”82
Precisamente em razão de tais fundamentos, Élisson Miessa vem
sustentando a necessidade de o TST reavaliar a diretriz hermenêutica da
Orientação Jurisprudencial n. 153 da SDI-II. Pondera o jurista que o § 2º do
art. 833 do novo CPC impõe que a expressão prestação alimentícia seja
interpretada em consonância com o § 1º do art. 100 da CF/88, o qual
estabelece que:

Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes


de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações,
benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil, […].

Daí a razão por que Élisson Miessa afirma que não mais se sustenta a
limitação imposta pelo TST na OJ 153 da SDI-II, no sentido de que a exceção
da impenhorabilidade da remuneração de devedor apenas diz respeito à ação
de alimentos. É o caso - sustenta o jurista - de cancelamento da referida
Orientação Jurisprudencial, devendo o TST aplicar o disposto no § 2º do art.
833 do CPC de 2015 para permitir penhora de salários, vencimentos e afins e

82
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado artigo por
artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1.316.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
215

da quantia depositada em caderneta de poupança, nas situações em que as


verbas decorrentes de sentenças trabalhistas ostentem caráter alimentar,
nos termos do § 1º do art. 100 da Constituição Federal.83
No mesmo sentido, orienta-se Wolney de Macedo Cordeiro, para quem
a norma do § 2º do art. 833 do novo CPC é mais ampla do que a norma do
inciso IV do § 2º do art. 649 do CPC revogado e elimina a possibilidade de
uma interpretação restritiva quanto à penhora de salário para a quitação de
execução decorrente de crédito alimentar. O processualista conclui que, “[...]
a partir da vigência do NCPC, podemos considerar plenamente possível a
penhora da remuneração do devedor, com a finalidade de garantir crédito
tipicamente trabalhista e, portanto, dotado de caráter alimentar.”84

9 A DISPENSA DE CAUÇÃO NA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA


SENTENÇA TRABALHISTA É A REGRA

Como se viu de forma sintética anteriormente, a execução provisória


no processo do trabalho, após o advento do CPC de 2015, abre uma promissora
perspectiva de efetividade à Jurisdição Trabalhista, na medida em que a
ordinária natureza alimentar do crédito trabalhista exequendo acaba por tornar
regra geral a possibilidade de dispensa de prestação de caução no
cumprimento provisório da sentença.
Para bem compreender a assertiva anterior, convém reafirmar que o
inciso I do art. 521 do CPC vigente dispensa a prestação de caução quando
a execução provisória tenha por objeto a realização de crédito de natureza
alimentar. O preceito tem inspiração na garantia constitucional de acesso à
prestação jurisdicional efetiva. Conforme prelecionam MARINONI, ARENHART
e MITIDIERO, a dispensa de caução está relacionada à necessidade do
exequente de fazer frente às suas necessidades básicas, sendo evidente a
textura constitucional da tutela assegurada pelo preceito legal em exame.85
Entretanto, a perspectiva de efetividade da Jurisdição Trabalhista
depende da iniciativa do magistrado em determinar a execução provisória de

83
MIESSA, Élisson. Impactos do novo CPC nas súmulas e orientações jurisprudenciais do
TST. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 123.
84
CORDEIRO, Wolney de Macedo. Causas de impenhorabilidade perante a execução
trabalhista e o novo código de processo civil. In: DALLEGRAVE NETO José Affonso;
GOULART, Rodrigo Fortunato (Coord.). Novo CPC e o processo do trabalho. São Paulo:
LTr, 2016. p. 298.)
85
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de
processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 626. No mesmo sentido orienta-se a
doutrina de Daniel Amorim Assumpção Neves. Para o jurista, “[...] nos termos do art. 521, I, do
Novo CPC, dispensa-se a caução independentemente da origem da dívida alimentar. Não
interessa, portanto, se o crédito decorre de relação de parentesco, matrimônio, remunerações
por trabalho ou de responsabilidade civil.” (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código
de processo civil comentado artigo por artigo. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 898.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
216

ofício, com fundamento no art. 878 da CLT. Se os magistrados do trabalho


não despertarem para a possibilidade de execução provisória de forma ordinária
na Justiça do Trabalho de ofício, essa potencialidade do novo CPC permanecerá
adormecida à espera de que se ouça o chamado de Heráclito: se não esperas
o inesperado, não o encontrarás. Se a falta de estrutura de pessoal e de
recursos materiais dificulta implementar a medida em todos os casos86, a
execução provisória de ofício pode ser adotada no caso de litigantes
recalcitrantes que se utilizam da jurisdição para ordinariamente retardar o
cumprimento das obrigações, nos casos em que há risco de dissipação de
bens ou necessidade de antecipar atos de constrição e nas demais situações
em que a experiência cotidiana recomende à deliberação do juiz promover a
execução provisória da sentença no interesse da efetividade da jurisdição.
Quanto à licitude de o magistrado do trabalho determinar a execução
provisória de ofício, há de acabar prevalecendo a resposta afirmativa,
basicamente orientada pela incidência do art. 878 da CLT e pela especialidade
do processo do trabalho, nada obstante a profunda divergência que caracteriza
a teoria processual trabalhista nesse tema. Em favor dessa resposta afirmativa
quanto à possibilidade de o juiz do trabalho determinar a execução provisória
de ofício, alinham os seguintes doutrinadores: Antônio Álvares da Silva87, Cleber
Lúcio de Almeida88, Marcos Neves Fava89, Luciano Athayde Chaves90, Júlio
César Bebber91, Wolney de Macedo Cordeiro92, Delaíde Alves Miranda Arantes
e Radson Rangel Ferreira Duarte93 e Amaury Haruo Mori94, entre outros.
Reporto-me, no particular, aos ensinamentos de Alcione Niederauer Corrêa
e Galeno Lacerda expostos no item 6 do presente artigo, ensinamentos
que podem ser aqui retomados em face da estreita relação existente
entre os temas examinados - medidas de execução indireta de ofício,
medidas cautelares de ofício, execução provisória de ofício. Em sentido
contrário à possibilidade de a execução provisória ser promovida de ofício,

86
Uma vez que os recursos trabalhistas têm efeito apenas devolutivo (CLT, art. 899), a
execução provisória pode ser adotada de forma generalizada no processo do trabalho.
87
SILVA, Antônio Álvares da. Execução provisória trabalhista depois da reforma do CPC.
São Paulo: LTr, 2007. p. 55.
88
ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo LTr, 2016. p. 792.
89
FAVA, Marcos Neves. Execução trabalhista efetiva. São Paulo: LTr, 2009. p. 197.
90
CHAVES, Luciano Athayde. Estudos de processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2009. p. 244.
91
BEBBER, Júlio César. Execução de título provisório: instrumento de efetividade e tempestividade
processuais. In: VELOSO, Gabriel; MARANHÃO, Ney (Org.) Contemporaneidade e trabalho:
aspectos materiais e processuais. São Paulo: LTr, 2010. p. 392.
92
CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 110.
93
ARANTES, Delaíde Alves Miranda; DUARTE, Radson Rangel Ferreira. Execução trabalhista
célere e efetiva: um sonho possível. São Paulo: LTr, 2002. p. 65 e 69.
94
MORI, Amaury Haruo. Execução provisória. In: SANTOS, José Aparecido dos (Coord.).
Execução trabalhista. 2. ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 824.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
217

manifestam-se ManoelAntonio Teixeira Filho95, Carlos Henrique Bezerra Leite96 e


Mauro Schiavi97, entre outros juristas, todos sob o argumento da responsabilidade
objetiva do credor no caso de prejuízo ao devedor. Eis uma questão que pode
melhorar a efetividade da execução trabalhista, a depender dos pendores da
jurisprudência que venha a se formar na matéria após o advento do CPC de 2015.

10 A NOVA PERSPECTIVA TRAZIDA PELO PARÁGRAFO ÚNICO


DO ART. 805 DO CPC

Para o objetivo do presente estudo, é preciso resgatar a consideração


básica de que o princípio da execução mais eficaz prevalece sobre a regra da
execução menos gravosa. Essa consideração decorre tanto de fundamento
lógico quanto de fundamento axiológico. O fundamento lógico radica na
circunstância de que a execução forçada impõe-se como sucedâneo do não
cumprimento espontâneo da sentença: a execução forçada somente se faz
necessária porque o executado não cumpre a obrigação espontaneamente;
citado para pagar, o executado omite-se. O fundamento axiológico radica no
fato de que o equilíbrio da ordem jurídica somente se restaura com a reparação
do direito violado mediante o cumprimento da obrigação estabelecida na
sentença; cumprimento coercitivo, regra geral.98
A superioridade hierárquica do princípio da execução mais eficaz
sobre a regra exceptiva da execução menos gravosa, além de decorrer
de fundamento lógico e axiológico, encontra confirmação na dimensão
tópico-sistemática do ordenamento jurídico, porquanto as fontes normativas
desses preceitos estão localizadas em dispositivos legais hierarquizados em
uma determinada estrutura normativo-sistemática, típica das codificações.
Nessa estrutura normativo-sistemática, a regra geral precede a exceção. Trata-
se de uma estrutura lógica, que organiza a codificação numa sistemática
perspectiva hierarquizada, do geral para o particular. Em outras palavras, a
regra geral traz a premissa básica antes; depois, vem a hipótese de exceção
à regra geral. Examinemos esse aspecto tópico-sistemático.
Enquanto o princípio da execução mais eficaz está implícito no preceito
do art. 797 do CPC de 2015, que fixa a diretriz hermenêutica básica de que
se realiza a execução no interesse do exequente, a regra exceptiva da
execução menos onerosa está prevista no art. 805 do CPC de 2015. Ambos

95
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. 9. ed. São Paulo:
LTr, 2005. p. 206-207.
96
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 14. ed. São
Paulo: LTr, 2016. p. 1.329.
97
SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 244.
98
O tema foi objeto de pesquisa por nós desenvolvida no artigo “A execução trabalhista não
se submete à regra exceptiva da execução menos gravosa - a efetividade da jurisdição
como horizonte hermenêutico”. Revista Síntese, São Paulo, n. 306, p. 9-24, dez./2014.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
218

os preceitos estão localizados no capítulo que trata das disposições gerais


sobre a execução. Porém, o art. 797 precede ao art. 805. Essa precedência
tópica expressa a preeminência que o sistema normativo outorga ao credor
na fase de cumprimento da sentença, ao estabelecer a diretriz básica de que
“[...] realiza-se a execução no interesse do exequente [...]” (CPC, art. 797).
Além disso, o art. 797 abre o respectivo capítulo do CPC de 2015, fixando a
regra geral da execução: a execução realiza-se no interesse do credor.99 Já o
art. 805 do CPC encerra o capítulo, estabelecendo uma exceção àquela regra
geral: a execução será feita pelo modo menos gravoso para o devedor, quando
por vários meios o credor puder promover a execução de modo igualmente
eficaz. Daí a conclusão de que parece mais correto identificar a execução
menos gravosa como regra exceptiva, o que implica recusar-lhe a condição
de princípio com a qual a regra é identificada algumas vezes na doutrina.
A natureza excepcional da regra do art. 805 do CPC torna-se ainda mais
evidente quando se atenta à diretriz hermenêutica de que o preceito exceptivo
deve ser compreendido à luz da regra geral. Em segundo lugar, o emprego do
advérbio de tempo quando - “Quando por vários meios o credor puder promover
a execução, [...]” - indica que a regra de exceção terá cabimento somente em
determinada situação específica (e sempre no caso concreto), o que exige
exame casuístico para se aferir a configuração da hipótese exceptiva. Faz-se
necessário que seja possível, no caso concreto, realizar a execução por vários
modos igualmente eficazes.100 E isso constitui exceção na prática, pois
geralmente a execução não pode ser realizada por vários modos, com a mesma
eficácia. Mas também é necessário que a execução seja igualmente eficaz
pelos diversos modos viáveis para a sua realização, a fim de que tenha incidência
o preceito excepcional do art. 805 do CPC.101 E isso também constitui exceção
na prática; é que a adoção de um determinado modo de execução costuma
tornar a execução mais eficaz, conforme revela a observação da experiência
ordinária a que o art. 375 do CPC remete o juiz.

99
É intuitivo que a regra geral de que a execução realiza-se no interesse do exequente
deve ganhar maior densidade em se tratando de execução de título executivo judicial.
100
A lição de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero é neste sentido:
“Observe-se que a aplicação do art. 805, CPC, pressupõe a existência de várias técnicas
processuais igualmente idôneas para a realização do direito do exequente. Obviamente, o juiz
não pode preferir técnica processual inidônea, ou menos idônea que outra também disponível,
para a realização do direito, a pretexto de aplicar o art. 805. A execução realiza-se no
interesse do exequente, que tem direito à tutela jurisdicional adequada e efetiva (arts. 5º,
XXXV, CF, e 797, CPC).” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO,
Daniel. Novo código de processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 877.)
101
Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero advertem: “Todavia, o art.
805, CPC, não se aplica na concorrência de técnicas processuais idôneas e inidôneas. A
aplicação do art. 805, CPC, neste último contexto, violaria os arts. 5º, XXXV, CF, e 797,
CPC.” (MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código
de processo civil comentado. 2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 877.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
219

O preceito do art. 797 do CPC induz a que o juiz já opte pelo meio
mais eficaz de concretizar a execução, pois somente assim a execução será
realmente realizada no interesse do exequente. Essa interpretação do art.
797 do CPC conforme a Constituição se impõe tanto em face da garantia
fundamental da efetividade da jurisdição (CF, art. 5º, XXXV) quanto em face da
garantia fundamental da razoável duração do processo (CF, art. 5º, LXXVIII).
No âmbito do processo do trabalho, a referida interpretação tem alento
hermenêutico na norma que atribui ao juiz a incumbência de velar pela rápida
solução da causa (CLT, art. 765102). Portanto, somente em situações
excepcionais caracterizar-se-á o suporte fático do art. 805 do CPC, porquanto
a regra é já se adotar o modo mais eficaz para realizar a execução no âmbito
da Jurisdição Trabalhista, o que implica descartar os modos menos eficazes
de realizar a execução.
A possibilidade de incidência da regra excepcional do art. 805 do CPC
tem por pressuposto já haver sido garantida a prévia observância do comando
normativo que estabelece que deva ser respeitada, no cumprimento da decisão
judicial, a regra geral da execução mais eficaz. Não se trata, portanto, de uma
norma para neutralizar a regra geral da execução mais eficaz: a exceção confirma
a regra, não podendo sobrepujá-la.103 Trata-se de uma regra exceptiva que
permite, desde que esteja assegurada a realização mais eficaz da execução,
que a execução seja feita por modo menos gravoso para o executado em
determinado caso concreto. De acordo com a doutrina de Francisco Antonio de
Oliveira, é necessário compreender que a execução trabalhista deve ser realizada
no interesse do credor e não no interesse do devedor. O jurista paulista explica:

Menos gravoso não significa que, se houver duas possibilidades de


cumprimento da obrigação que satisfaçam da mesma forma o credor,
escolher-se-á aquela mais benéfica ao devedor. Se existirem duas formas
de cumprimento, mas uma delas prejudica o credor, escolher-se-á aquela
que beneficia o credor.104

102
CLT: “Art. 765. Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do
processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer
diligência necessária ao esclarecimento delas.”
103
Não há contradição entre as normas dos arts. 797 e 805 do CPC, desde que sejam elas
hierarquizadas sob perspectiva valorativa. Isso porque, conforme pondera Manoel Antonio
Teixeira Filho, “[...] a preeminência axiológica é do art. 797; ao redigir o art. 805, o legislador
não teve a intenção de neutralizar o art. 797, senão que impor uma espécie de regra de
temperamento em sua aplicação prática. Destarte, sem que a execução deixe de
processar-se no interesse do credor, em algumas situações ela deverá ser realizada
pelo modo menos gravoso ao devedor.” (TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Comentários
ao novo código de processo civil sob a perspectiva do processo do trabalho. 2. ed. São
Paulo: LTr, 2016. p. 892.)
104
OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Execução na justiça do trabalho. 6. ed. São Paulo: RT,
2007. p. 93.

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
220

Se houver vários modos de promover a execução e todos forem eficazes


na mesma medida, então - e somente então - a execução deve ser realizada
pelo modo menos gravoso para o executado. Contudo, se a execução for
mais eficaz quando realizada pelo modo mais gravoso para o executado, tem
aplicação a regra geral do art. 797 do CPC: adota-se a execução desse modo;
não por ser o modo mais gravoso, mas por ser o modo mais eficaz no caso
concreto. Da mesma forma, adota-se o modo menos gravoso quando for ele o
modo mais eficaz para a execução; não por ser o modo menos gravoso, mas
por ser o modo mais eficaz no caso concreto.
Não se poderia encerrar este item do presente artigo sem fazer o registro
de que o legislador do CPC de 2015 resgatou o melhor conceito de execução
mais eficaz, de forma pragmática, como convém à efetividade da execução.
Eis a nova perspectiva trazida pelo atual CPC. Ao introduzir o parágrafo único
no art. 805 do CPC, preceito que o TST reputa aplicável ao processo do
trabalho no inciso XIV do art. 3º da Instrução Normativa n. 39/2016, o legislador
de 2015 equacionou de forma acertada a relação hierárquica existente entre
execução mais eficaz e execução menos onerosa. Numa metáfora, as coisas
foram recolocadas no seu devido lugar. A ausência de tal preceito no CPC de
1973 gerou as distorções hermenêuticas denunciadas por Cândido Rangel
Dinamarco105:

A triste realidade da execução burocrática e condescendente, que ao longo


dos tempos se apresenta como um verdadeiro paraíso dos maus
pagadores, impõe que o disposto no art. 620 do Código de Processo Civil
seja interpretado à luz da garantia do acesso à justiça, sob pena de fadar
o sistema à ineficiência e pôr em risco a efetividade dessa solene
promessa constitucional (CF, art. 5º, inciso XXXV).

Tais distorções - espera-se - poderão ser superadas diante da


pragmática regra do parágrafo único do art. 805 do CPC, assim redigido:

Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe


indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de
manutenção dos atos executivos já determinados.106

Além de inovadora, a saneadora previsão legal, na acertada

105
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009. v. 4, p. 63.
106
Para Cristiano Imhof e Bertha Stecker Rezende, “Este inédito parágrafo único determina
de forma expressa que é ônus e incumbência do executado que alegar ser a medida
executiva mais gravosa, indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena
de manutenção dos atos executivos já determinados.” (IMHOF, Cristiano; REZENDE, Bertha
Stecker. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo: RT, 2015. p. 836.)

Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 62, n. 93, p. 185-229, jan./jun. 2016
221

consideração de Cassio Scarpinella Bueno, “[...] evitará requerimentos


despidos de seriedade”107, requerimentos que se tornaram ordinários na
vigência do CPC revogado, atravancando a célere tramitação processual
prometida ao jurisdicionado pela garantia constitucional de duração razoável
do processo (CF, art. 5º, LXXVIII). Note-se que o preceito exige que o executado
indique um meio mais eficaz para a execução do que o meio adotado pelo
juízo.108 Já não basta mais que o executado indique um meio menos oneroso
para a realização da execução. Ao executado incumbe agora indicar um meio
que seja menos oneroso e, ao mesmo tempo, mais eficaz do que aquele
adotado pelo juízo da execução.109 Na vigência do CPC de 1973, certa
incompreensão acerca da relação hierárquica existente entre o princípio da
execução mais eficaz e a regra exceptiva da execução menos onerosa
acarretava a distorção de interpretar-se que ao executado bastava indicar
apenas um meio menos oneroso para realizar-se a execução, ainda que a
aplicação de tal meio implicasse uma execução menos eficaz. Na prática,
essa interpretação acarretava uma verdadeira subversão axiológica na
execução: a regra exceptiva anulava a regra geral.
Ao invés de prevalecer a regra geral da execução mais eficaz, imposta
pela posição de preeminência conferida ao exequente, acabava prevalecendo
a regra exceptiva da execução menos gravosa para o devedor, nada obstante

107
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São Paulo: Saraiva,
2015. p. 495.
108
Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero afirmam que a alegação
pode ser rejeitada se o executado não se desincumbir do encargo processual de indicar
outros meios tão eficazes quanto o meio executivo adotado pelo juízo: “Não havendo
essa demonstração, o juiz pode rejeitar de plano a alegação.” (MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil comentado.
2. ed. São Paulo: RT, 2016. p. 877.)
109
Leonardo de Faria Beraldo critica a redação do preceito. Pondera que o legislador deveria
ter utilizado o vocábulo “tão” eficazes ao invés do vocábulo “mais” eficazes, ao atribuir
ao executado o encargo processual de “indicar outros meios mais eficazes” quando
alegar que a execução realiza-se de modo mais gravoso para o executado. (BERALDO,
Leonardo de Faria. Comentários às inovações do código de processo civil. Belo Horizonte:
Del Rey, 2015. p. 309.) Parece, entretanto, que o legislador objetivou estreitar a
possibilidade de invocação do argumento da execução menos onerosa em face da histórica
experiência de ineficácia da execução judicial, experiência essa construída muitas vezes
sob alegações artificiosas de execução mais gravosa. Parece mais consentânea a
consideração doutrinária de Guilherme Rizzo Amaral: “O atual CPC dá uma guinada
importante ao afirmar a prevalência da efetividade da execução sobre o princípio da
menor onerosidade. Reflexo disso é a total superação da referida Súmula [417 do STJ],
com a instituição da prioridade da penhora em dinheiro (art. 835, I e § 1º), da qual não
pode abdicar em favor da penhora sobre outro bem, e também o parágrafo único do art.
805, segundo o qual passa a ser ônus do executado, ao ventilar a aplicação do princípio
da menor onerosidade, demonstrar existirem outros meios mais eficazes e menos onerosos
para a satisfação do crédito do exequente.” (AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários
às alterações do novo CPC. São Paulo: RT, 2015. p. 836.)

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222

a posição de sujeição atribuída ao executado pela ordem jurídica. O preceito


do parágrafo único do CPC de 2015 tem o claro propósito de corrigir tal
distorção, introduzindo um produtivo elemento hermenêutico no sistema
processual. Esse preceito foi concebido para remediar os abusos vividos na
vigência do CPC revogado no âmbito dessa matéria. Ao atribuir ao executado
o ônus processual de indicar meio executivo mais eficaz, o legislador visou a
esvaziar as conhecidas alegações infundadas de que a execução realiza-se
de modo mais gravoso.
O ônus processual da argumentação restou explicitamente atribuído
ao executado que alegar execução mais onerosa: “Se o executado não se
desincumbir desse encargo processual, a consequência será a manutenção
dos atos executivos já determinados pelo juiz”, conforme preleciona Manoel
Antonio Teixeira Filho na interpretação do preceito em estudo.110 Como é de
fácil intuição, será muito difícil para o executado desincumbir-se do encargo
processual de indicar um modo mais eficaz para realizar-se a execução do
que o modo de execução determinado pelo juízo. Com a saneadora norma
introduzida no parágrafo único do art. 805 do CPC, o legislador do CPC de
2015 enfrenta pragmaticamente um tema relevante para a efetividade da
execução e deixa patente sua opção pela densificação da tutela executiva de
crédito, fechando as portas a conhecidas manobras de resistência opostas à
execução sob o artificioso pretexto de execução menos gravosa.

CONCLUSÃO

Perguntar sobre a aplicabilidade do CPC de 2015 ao cumprimento da


sentença trabalhista é interrogar sobre a aplicação do Direito Processual Civil
ao Direito Processual do Trabalho na execução por quantia certa - seus limites
e suas potencialidades.
Se a tese da revogação do art. 769 da CLT pelo art. 15 do novo CPC
restou logo superada pela teoria jurídica, o alcance da aplicação do CPC de
2015 ao processo do trabalho continua a desafiar os juristas, sobretudo no
que respeita ao conteúdo do conceito de aplicação supletiva. É precisa a
percepção do processualista Wolney de Macedo Cordeiro diante do novo
Código: a grande novidade está na supletividade.111 Esse novo conceito confere
maior densidade hermenêutica ao requisito da compatibilidade, relativizando
o requisito da omissão, na medida em que simples omissão parcial enseja
colmatar lacunas do processo do trabalho com normas do Código de Processo
Civil de 2015.

110
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Comentários ao novo código de processo civil sob a
perspectiva do processo do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2016. p. 893.
111
CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 47.

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Na vigência do CPC/1973, a omissão ostentava maior expressão por


força de a regência da matéria apresentar-se subordinada exclusivamente
aos arts. 769 e 889 da CLT. Com a superveniência do art. 15 do CPC de 2015,
a previsão de aplicação supletiva desloca para o requisito da compatibilidade
uma maior densidade hermenêutica, configurando-se então uma equação mais
complexa à subministração do processo de integração dos subsistemas
processuais.
A nova equação que o advento do art. 15 do CPC de 2015 coloca à
teoria processual trabalhista continua, porém, subordinada às normas especiais
dos arts. 769 e 889 da CLT: é a compatibilidade da norma de processo civil
com os princípios do processo especial que segue comandando o suprimento
de omissão. Já era assim para a hipótese de omissão total no sistema
processual trabalhista à época do CPC de 1973; continuará sendo assim na
hipótese de omissão parcial, após o advento do CPC de 2015 - trata-se de
uma contingência teórica decorrente da autonomia científica do Direito
Processual do Trabalho.
A omissão parcial do sistema trabalhista permitirá aproveitar a norma
de processo civil sempre que esta última, agregada à norma trabalhista,
promover os princípios fundamentais do processo do trabalho - simplicidade,
celeridade e efetividade. É o que ocorre com os avançados preceitos do novo
CPC que disciplinam a execução por quantia certa, matéria sobre a qual a
regência da CLT apresenta-se incompleta quando cotejada com as novas
técnicas de execução previstas no CPC de 2015, técnicas recentemente
concebidas para promover a efetividade da tutela de crédito.
A linha de raciocínio desenvolvida no presente artigo já permitira ao
leitor concluir que é positiva nossa resposta quanto à aplicabilidade do CPC
de 2015 ao cumprimento da sentença trabalhista de obrigação pecuniária -
tanto no cumprimento provisório da sentença quanto no cumprimento definitivo
da sentença. Reputamos aplicáveis à execução trabalhista todos os
dispositivos do CPC de 2015 examinados no presente artigo, aplicação que
consideramos produtiva à efetividade da Jurisdição Trabalhista. Alguns desses
dispositivos do novo CPC, para ingressar no processo do trabalho, sofrem as
naturais adaptações impostas pela especialidade do subsistema jurídico
procedimental laboral, o que é inerente ao método de integração de normas
de direito processual comum em um subsistema de direito processual
especial.
Nossa resposta positiva decorre tanto da regência legal da matéria
quanto do aporte que a Teoria do Diálogo das Fontes traz ao tema da
integração dos subsistemas processual trabalhista e processual civil. A
regência legal é dada pela combinação dos preceitos dos arts. 769 e 889 da
CLT com o preceito do art. 15 do NCPC. Esses preceitos autorizam suprir
omissão da legislação trabalhista na fase de execução - seja omissão
completa, seja omissão parcial - mediante a aplicação de normas do novo

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224

CPC que, promovendo os princípios fundamentais da simplicidade, celeridade


e efetividade, revelem-se assim compatíveis com o Direito Processual do
Trabalho. Ou seja, a compatibilidade da norma de processo comum com os
princípios do processo do trabalho continua sendo o requisito normativo
substancial pelo qual o sistema processual trabalhista afere a viabilidade
da aplicação de uma norma do processo civil à execução trabalhista. Por
sua vez, a Teoria do Diálogo das Fontes, concebida por Claudia Lima Marques
como novo método da teoria geral do direito112, constitui um desenvolvimento
superior da interpretação sistemática que, informado por fundamentos
axiológicos113, opera como uma espécie de vetor de harmonização dos
diversos ramos do Direito, mas sempre na perspectiva humanista da
realização dos direitos fundamentais previstos na Constituição.114
De forma específica ao objeto do presente estudo, cumpre observar
que as três dimensões da Teoria do Diálogo das Fontes contribuem para
responder - positivamente - à pergunta sobre a aplicação do NCPC ao processo
do trabalho no cumprimento de obrigação pecuniária, porquanto a questão
colocada sob interrogação mantém interface tanto com o diálogo sistemático
de coerência quanto com o diálogo de complementaridade e subsidiariedade
e, ainda, com o diálogo de coordenação e adaptação sistemática.115 O diálogo
normativo entre diferentes fontes de direito tem em Karl Engisch um de seus
mais importantes defensores.116 O doutrinador liberta os juristas para uma
utilização mais ampla da analogia quando sustenta que

[…] toda a regra jurídica é susceptível de aplicação analógica - não só a lei


em sentido estrito, mas também qualquer espécie de estatuto e ainda a
norma de Direito Consuetudinário. As conclusões por analogia não têm
apenas cabimento dentro do mesmo ramo do Direito, nem tão-pouco

112
MARQUES, Claudia Lima. O “diálogo das fontes” como método da nova teoria geral do
direito: um tributo a Erik Jaime. In: MARQUES, Claudia Lima (Coord.). Diálogo das fontes:
do conflito à coordenação de normas do direito brasileiro. São Paulo: RT, 2012. p. 21.
113
MIRAGEM, Bruno. Eppur si mouve: diálogo das fontes como método de interpretação
sistemática no direito brasileiro. In: MARQUES, Claudia Lima (Coord.). Diálogo das fontes:
do conflito à coordenação de normas do direito brasileiro. São Paulo: RT, 2012. p. 78.
114
BENJAMIN, Antonio Herman. Prefácio. In: MARQUES, Claudia Lima (Coord.). Diálogo das
fontes: do conflito à coordenação de normas do direito brasileiro. São Paulo: RT, 2012. p. 6.
115
Luciano Athayde Chaves desenvolveu esse tema no artigo “O novo código de processo
civil e o processo do trabalho: uma análise sob a óptica do cumprimento da sentença e da
execução forçada”. O artigo é uma versão adaptada da exposição realizada no I Seminário
Nacional sobre a Efetividade da Execução Trabalhista, promovido pelo Conselho Superior
da Justiça do Trabalho (CSJT) e pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados do Trabalho (ENAMAT), no dia 7 de maio de 2015. mimeo.
116
Cf. CLAUS, Ben-Hur Silveira. Execução trabalhista: da desconsideração clássica à
desconsideração inversa da personalidade jurídica. Revista do Tribunal Regional do
Trabalho da 4ª Região, Porto Alegre, n. 42, p. 48-73, 2014.

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225

dentro de cada Código, mas verificam-se também de um para outro Código


e de um ramo do Direito para outro.117

Na doutrina de processo civil, pode-se citar a lição de Hermes Zaneti


Jr. acerca da comunicação do novo paradigma processual aos demais ramos
processuais. Diz o jurista que

[...] o art. 139, IV, CPC é aplicável a toda e qualquer atividade judicial prevista
no CPC e também para além dele, nos termos do art. 15, CPC, de forma
supletiva, subsidiária e residual, aos demais processos e procedimentos
especiais fora do Código.118

No âmbito da doutrina processual trabalhista, a compatibilidade da


aplicação de diversos preceitos do novo CPC à execução trabalhista por quantia
certa é percebida por um número crescente de juristas.119 São juristas que,
com os olhos postos na autonomia científica do Direito Processual do Trabalho,
pesquisam o conteúdo mais produtivo a atribuir ao conceito de aplicação
supletiva previsto no art. 15 do CPC. No campo da tutela executiva, como
preleciona Wolney de Macedo Cordeiro, a aplicação supletiva do direito
processual comum pode render excelentes frutos.120

ABSTRACT

This article deals with the applicability of the CPC of 2015 to compliance
with the labor judgment that condemns the payment of a certain amount,
exploring the potentialities that the new Code can bring to the effectiveness of
labor enforcement, be it with regard to provisional execution or with respect to
To final implementation.

Keywords: Application of the 2015 CPC to the labor process. Subsidiary


application. Supplementary application. Effectiveness of implementation.
Provisional execution. Labor execution. Theory of the dialogue of the sources.

117
ENGISCH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. 10. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2008. p. 293.
118
ZANETI JR., Hermes. Comentários ao código de processo civil - artigos 824 ao 925. São
Paulo: RT, 2016. vol. XIV. In: MARINONI, Luiz Guilherme (Dir.). ARENHART, Sérgio Cruz;
MITIDIERO, Daniel (Coord.). Comentários ao código de processo civil, p. 115.
119
A Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região aprovou o Enunciado n. 47
sobre a matéria: “ENUNCIADO 47. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA. CRÉDITO DE
NATUREZAALIMENTAR. COMPATIBILIDADE COM O PROCESSO DO TRABALHO. O regramento
do cumprimento provisório da sentença prevista nos artigos 520, 521 e 522 do CPC é compatível
com o processo do trabalho, considerada a natureza alimentar do crédito trabalhista.”
120
CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho. 2. ed. Salvador:
Juspodivm, 2016. p. 49.

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