1 6 PB
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Herbert Barros
Secretário Nacional de Cidadania
Juciara Rodrigues
Diretora de Promoção e Educação em Direitos Humanos
M665r
Revista Científica de Direitos Humanos/Ministério dos Direitos Humanos.
Vol. 1, n. 1, novembro de 2018. Brasília: Ministério dos Direitos Humanos.
– Semestral
23 cm.
ISSN 2595-9093
1. Direitos Humanos. 2. Cidadania. 3. Igualdade Racial. 4. Pessoa com
Deficiência. 5. Criança e Adolescentes. 6. Pessoa Idosa. 7. Políticas Públicas.
8. Mulheres. I. Ministério dos Direitos Humanos. II. Título.
CDU 342.7
Equipe Técnica
Coordenação editorial
Juciara Rodrigues
Gestão de artigos
Jessica Paula de Melo
Thaís Soares Caramuru
Thaís Maria de Machado Lemos Ribeiro
Revisão de idiomas
Thaís Maria de Machado Lemos Ribeiro
Revisão geral
Juciara Rodrigues
Conselho Editorial
José Heder Benatti
Doutorado em ciência e desenvolvimento socioambiental pelo Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA). Membro do corpo docente per-
manente do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFPA. Consultor ad hoc do
CNPq e da CAPES. Pesquisador do CNPq, Professor Associado III da Universidade Fe-
deral do Pará e Diretor Geral do Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA.
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo analisar aspectos atuais no Brasil e no
mundo a respeito dos fluxos migratórios e do desenvolvimento de uma po-
lítica internacional de Direitos Humanos. Intenta-se, antes de tudo, resga-
tar a humanidade e, consequentemente, os direitos dos imigrantes, as ca-
racterísticas do atual e intenso fluxo migratório proveniente da Venezuela
para o Brasil e as estratégias que o governo brasileiro traçou para acolhê-lo.
Assim, este artigo trata, principalmente, das pessoas por trás dos números
e das porcentagens que aparecem em relatórios e jornais, ressaltando que
estas são titulares de Direitos Humanos Universais independentemente de
nacionalidade, cor, gênero ou religião.
Palavras-chave
Direitos Humanos. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Mi-
gração. Refugiados.
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ABSTRACT
This article analyses aspects of the migration flows and the development of
an international policy of Human Rights in contemporary times both in
Brazil and worldwide. First, there is an attempt to restore humanity and,
therefore, the migrants’ rights, the characteristics of the current and inten-
se migration flow from Venezuela to Brazil and the strategies that the Bra-
zilian Government has designed to welcome it. Thus, this article is main-
ly about the people hidden behind the numbers and stats that appear in
newspapers and reports, emphasizing that they are holders of the Universal
Human Rights regardless of their nationality, colour, gender or religion.
Keywords
Human Rights. Universal Declaration of Human Rights. Migration.
Refugees.
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Entre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os novos fluxos migratórios: um resgate da humanidade perdida
1 INTRODUÇÃO
No aniversário de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
manos, o presente artigo pretende fazer breves considerações acerca deste
importante instrumento jurídico internacional e tratar do atual e comple-
xo cenário migratório no Brasil e mundo.
Primeiramente, serão apresentadas breves considerações acerca da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 70 anos, a referida decla-
ração cumpriu importante papel na história da humanidade, fornecendo
uma base sólida para o desenvolvimento de uma política internacional de
Direitos Humanos e dotando todos os indivíduos, indistintamente, de di-
reitos tidos como fundamentais. Tendo em vista o contexto no qual esse
instrumento foi pensado, as questões relativas a fluxos migratórios eram,
de alguma maneira, por ele contempladas.
Em seguida, o presente texto analisará – a partir do art. 1º da De-
claração Universal de Direitos Humanos, que dispõe que todos são iguais
perante a lei, unicamente pelo fato de constituírem a espécie humana –
possíveis motivos pelos quais algumas categorias de indivíduos, dentre eles
os imigrantes, ficam à margem desses direitos, tidos como universais.
Finalmente, serão tecidas breves considerações acerca das migrações
no Brasil e no mundo, a fim de apresentar o contexto no qual se insere o
fluxo migratório venezuelano para o Brasil, os dados sobre a imigração
venezuelana e as estratégias utilizadas pelo governo brasileiro para tratar
dessa nova demanda.
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Entre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os novos fluxos migratórios: um resgate da humanidade perdida
ÇÕES UNIDAS, 1948). Para Arendt (2008), as pessoas não nascem iguais,
mas tornam-se iguais em direitos, visto que participam de uma coletivida-
de, a qual garante direitos iguais a todos. Assim, todos são plurais na esfera
privada e iguais na esfera pública. Segundo a autora, o primeiro direito, do
qual decorrem todos os outros, é a cidadania, por se constituir no direito
a ter direitos. Uma pessoa privada de cidadania não tem direitos e fica res-
trita à esfera do privado, não participando da vida política da comunidade
em que está inserida.
Na lógica arendtiana a existência de seres humanos sem lugar no
mundo contribui para que as pessoas sejam vistas como supérfluas, o que
justifica as cenas bárbaras e desumanas que diariamente ocorrem, mas
que, gradualmente, parecem não nos comover como antes – frutos, talvez,
de uma mídia e de uma opinião pública que apresentam sinais da “fadiga
da tragédia dos refugiados”(BAUMAN, 2017, p. 8). São embarcações nau-
fragadas, crianças afogadas, muros erguidos, inúmeras pessoas em centros
de detenções, crianças enjauladas e separadas de seus familiares, pessoas
exaustas e famintas que caminham por grandes extensões e entre cercas de
arame farpado, sob condições desumanas. Somente no ano de 2015 foram
registradas 4.913 mortes ocorridas na travessia do Mar Mediterrâneo (FA-
RAH, 2017).
Conforme clama o preâmbulo da Declaração Universal, cada um de
seus 30 artigos são ideais comuns a serem atingidos por todos os povos e
todas as nações. Essa tem por cerne “o reconhecimento da dignidade ine-
rente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família
humana” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). Isto é, ela
consagra direitos intrínsecos a todas as pessoas físicas pelo simples fato de
serem humanas.
Desta feita, a violação deliberada desses direitos, segundo Alves (2005),
frequentemente ocorre a partir de uma postura que denega a condição hu-
mana da vítima. Existiria, pois, uma “desqualificação, ostensiva ou velada,
de certas categorias de indivíduos como integrantes verdadeiros da espécie”
(ALVES, 2005, p. 3), em um processo de desumanização do humano.
No Direito Romano Arcaico havia um instituto capaz de expulsar
alguém da jurisdição humana, o Homo Sacer – indivíduo julgado por um
delito pelo qual não era lícito sacrificá-lo, contudo, quem o matasse não
seria punido por essa conduta. O Homo Sacer representava uma pessoa
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expulsa da jurisdição humana sem que fosse alçada à esfera divina. Trata-
va-se, em verdade, de uma dupla exclusão, tanto do ius humanum quanto
do ius divinum. Essa dupla exclusão e a violência à qual o indivíduo era
exposto definiam sua condição (AGAMBEN, 2010).
Em outras palavras, o Homo Sacer era incluído no ordenamento uni-
camente por meio de sua exclusão, o que em muito se aproxima da situação
dos imigrantes irregulares em diversos países, cuja simples existência den-
tro do território constitui uma distorção. Às margens da lei, a única manei-
ra de estabelecer um vínculo com o ordenamento jurídico é rompendo-o,
pois, embora este não reconheça a pessoa como cidadã, detentora de direi-
tos, permite a sua punição como a qualquer cidadão (AGAMBEN, 2010).
Para Bauman (2017, p. 20-21), os imigrantes são a versão atualiza-
da dos “homens-sanduíche”3 de 1920. Carregando anúncios de que “o fim
do mundo tal como o conhecemos está próximo”, transportam más notí-
cias e lembram a vulnerabilidade da condição humana e a fragilidade de
seu bem-estar. Embora o fim do mundo não seja trazido por seus próprios
mensageiros, estes frequentemente são culpados pelo conteúdo da mensa-
gem de que são portadores.
Assim, os inúmeros imigrantes, refugiados ou não, que escapam de
situações de extrema pobreza, guerras, catástrofes naturais e governos au-
toritários, não apenas anunciam a crise, mas se materializam nela. Tendo
em vista a dificuldade de lidar com temores difusos e desconhecidos, os
imigrantes são a corporificação necessária para que se tenha um adversá-
rio mais específico e tangível (BAUMAN, 2017).
Eles são o novo “bode expiatório”, estereótipos de perseguição que
surgem geralmente em época de crise, uma vez que se faz necessário en-
contrar uma causa acessível para uma crise. Isto é, uma vez que não é pos-
sível agir diretamente sobre as causas naturais da crise enchentes, epide-
mias, guerras ou desafios políticos, econômicos e sociais – a culpa desses
acontecimentos recai sobre um indivíduo ou uma classe, transformando-
-os em seres extremamente nocivos à sociedade (GIRARD, 2004). Foi o que
ocorreu com os judeus, no século XIV, acusados de terem disseminado a
peste negra, e com as bruxas, no século XVI.
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4 Todos os entrevistados eram maiores de 18 anos ou emancipados, de modo que os dados devem
ser analisados com este recorte específico.
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dos imigrantes que desejam continuar no Brasil, 78% desejam sair de Ro-
raima, a maioria para o Amazonas (59%) (BRASIL, 2018d). Essa estratégia
depende do interesse da cidade de destino e da disponibilidade de vagas
para os imigrantes em abrigos públicos ou da sociedade civil. São priori-
zados, neste processo, os imigrantes que residem nos abrigos de Roraima,
tendo em vista a vulnerabilidade que a eles geralmente está associada e
a possibilidade de abertura de novas vagas de abrigamento. O perfil dos
imigrantes selecionados é, ainda, determinado pelo público que o abrigo
de destino acolhe, sendo requerido que estejam documentados com o CPF
e a carteira de trabalho.
A estratégia de interiorização teve início em abril de 2018 e, até ju-
lho de 2018, foram realizadas cinco etapas. Assim, 820 pessoas saíram de
Boa Vista (RR) para São Paulo (SP), Cuiabá (MT), Manaus (AM), Igarassu
(PE), Jacumã (PB), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ). A principal razão
apontada pelos migrantes venezuelanos para desejarem se deslocar é a pos-
sibilidade de emprego (79,6%), seguida de ajuda econômica (11,2%) e ajuda
com moradia (5,2%). Aqueles que não gostariam de se deslocar para outros
estados (14,9% do total) apresentam como justificativa o fato de estar inte-
grados em Roraima (37,2%) e de preferir ficar próximos à fronteira (38,3%)
(SIMÕES, 2017).
6 CONCLUSÃO
Não obstante as inúmeras dificuldades, como o desabastecimento de
alimentos e remédios em seu país de origem, a caminhada cansativa até o
Brasil, o contato com a nova língua e os insultos e insatisfações de parte da
população brasileira, há, de outro lado, a mobilização de órgãos federais,
estaduais e municipais brasileiros, organizações internacionais, ONGs e
entidades que atuam juntos em um esforço coletivo para bem acolher. Há
também o descanso depois de dias de caminhada; a alimentação ofere-
cida depois de um jejum forçado; a documentação que vai possibilitar o
acesso a serviços básicos; a carteira de trabalho brasileira e a inserção no
mercado de trabalho; os novos brasileiros nascidos como frutos do deslo-
camento dos pais venezuelanos; e a expectativa de poder recomeçar a vida
em outro lugar.
A experiência brasileira com imigrações anteriores certamente ajuda
a lidar com esse novo e intenso fluxo de venezuelanos. O Brasil, tal como
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A CRISE NA SÍRIA, EXPLICADA. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 13
de abril de 2018. Disponível em: <https://internacional.estadao.com.br/
noticias/geral,a-crise-na-siria-explicada,70002266915>. Acesso em: 12
set. 2018.
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A EDUCAÇÃO DOMICILIAR
(HOMESCHOOLING) NO BANCO DOS
RÉUS: UMA BREVE ANÁLISE DO PRO-
CESSO E DO JULGAMENTO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO N. 888.815, SOB AS LU-
ZES DO DIREITO HUMANO FUNDAMEN-
TAL DA CRIANÇA À EDUCAÇÃO
RESUMO
Analisar, a partir da leitura das peças processuais e da oitiva dos votos
dos ministros do Supremo Tribunal Federal, por ocasião das sessões de
julgamento do feito, os principais fundamentos normativos e os mais rele-
vantes argumentos jurídicos, deduzidos pelas partes, magistrados e outros
atores processuais nos autos do Recurso Extraordinário n. 888.815, que
apreciou a questão da educação domiciliar (homeschooling), verificando se
essas manifestações estão em sintonia com o direito humano fundamental
da criança à educação.
Palavras-chave
Direitos Humanos Fundamentais. Direitos das Crianças. Educação Domi-
ciliar. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 888.815.
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ABSTRACT
Analyze, based on procedural parts and on the Federal Supreme Court
ministers’ votes during trial sessions, main normative grounds and
most relevant legal arguments deduced by parties, magistrates and other
procedural actors in the case of Extraordinary Appeal n. 888.815, which
appreciated homeschooling and verified if these manifestations are in line
with the human fundamental right of children to education.
Keywords
Fundamental Human Rights. Children’s rights. Homeschooling. Federal
Supreme Court. Extraordinary Appeal n. 888.815.
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A educação domiciliar (homeschooling) no banco dos réus: uma breve análise do processo e do julgamento do
Recurso Extraordinário n. 888.815, sob as luzes do direito humano fundamental da criança à educação
1 INTRODUÇÃO
O presente texto visa analisar os principais fundamentos normati-
vos e os mais relevantes argumentos jurídicos deduzidos por ocasião do
processo e do julgamento do Recurso Extraordinário n. 888.815 (BRASIL,
2018a) no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a educação
domiciliar (homeschooling) não está autorizada no Brasil.
Este artigo descansa sua justificativa no fato de que muitas famílias
brasileiras instruíam seus filhos fora do ambiente escolar, fortes na convicção
de que em casa a criança desenvolveria os seus potenciais intelectuais de
um modo mais apropriado do que na escola. Além desse aspecto fático, há
o conflito normativo, visto que as famílias entendem possuir a liberdade de
instruir os seus filhos fora da escola, enquanto que o Poder Público entende
que a criança deve ser educada na escola, seja a estatal ou a não-estatal.
A finalidade deste artigo consiste, no entanto, em apresentar os prin-
cipais fundamentos normativos, e os mais relevantes argumentos jurídi-
cos, deduzidos pelos atores processuais (partes e magistrados) no curso do
feito, levando em consideração as prescrições normativas, nacionais e in-
ternacionais, sobre os direitos humanos fundamentais das crianças, mor-
mente o de ser instruída e educada, a fim de verificar se as razões das partes
e dos magistrados são consistentes, convincentes e coerentes.
Para alcançar esse desiderato, o caminho a ser percorrido consiste
em analisar os autos do processo, lendo com atenção e rigor todos os expe-
dientes relevantes, escutar o áudio das sessões de julgamento do feito, dis-
ponibilizado em plataforma midiática, apreciar os textos normativos perti-
nentes e colher adequados subsídios no apropriado magistério doutrinário.
Nesse percurso, será visitado, inicialmente, o direito humano fundamental
da criança de ser educada. Depois, tratado o feito judicial.
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dos seus filhos são genuínas, pois nenhum pai ou mãe faz essa opção por
preguiça, visto que é mais difícil educar em casa do que encaminhar o filho
para a escola.
No decorrer de seu voto, o relator buscou as exitosas experiências
estrangeiras sobre o homeschooling, bem como de julgamentos de outras
cortes sobre o tema, e depois passou a enfrentar os argumentos contrários
a esse modelo educacional, basicamente para dizer que não há na Consti-
tuição preceito que vede a adoção dessa modalidade educacional, e que a
criança seria avaliada periodicamente para aferir o seu aprendizado. Ade-
mais, recordou pesquisas empíricas, demonstrando a inexistência de pro-
blemas de socialização de crianças que participam da educação domiciliar,
e recordou diretivas internacionais que autorizaram aos pais escolher o gê-
nero de educação dos filhos, inclusive em respeito à ampla livre iniciativa,
não apenas no aspecto econômico, mas, inclusive, no plano das liberdades
ideológicas, como as religiosas, de consciência e de convicções filosóficas
ou políticas. Na finalização de seu voto, o relator fixou as seguintes teses
para efeitos de repercussão geral:
a) É constitucional a prática de ensino domiciliar a crianças e
adolescentes em virtude da compatibilidade com finalidades
e os valores da educação infanto-juvenil, expressos na Cons-
tituição de 1988;
b) Para evitar eventuais ilegalidades e garantir o desenvolvi-
mento acadêmico das crianças e adolescentes, e avaliar quali-
dade do ensino até que seja editada lei específica sobre tema
com fundamento no artigo 209, os seguintes parâmetros de-
vem ser seguidos:
1 Os pais ou responsáveis devem notificar secretaria munici-
pal de educação a opção pela educação domiciliar de modo a
se manter cadastro e registros dessas famílias que adotaram
essa opção de ensino naquela localidade;
2 Educandos domésticos, mesmo que autorizados ao ensino
em casa, devem ser submetidos às mesmas avaliações peri-
ódicas a que se submetem os demais estudantes de escolas
públicas ou privadas;
3 As secretarias municipais de educação, a partir do cadastro,
devem indicar escola pública em que a criança irá realizar
avaliações periódicas com preferência em estabelecimento de
ensino mais próximo ao local de residência;
4 As secretarias municipais de educação podem comparti-
lhar informações do cadastro com demais autoridades, como
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4 CONCLUSÃO
A escola não deve substituir a família naquilo que é de competência
desta, nem a família deve substituir a escola no que é de competência da-
quela. A família educa e também ensina, e a escola ensina e também educa.
Ambas exercem de modo simbiótico uma relação cooperativa em favor da
criança. Nas hipóteses de famílias disfuncionais, a escola é um refúgio para
a criança e, na hipótese de escola disfuncional, a família é o esteio da crian-
ça. Daí que a decisão do STF foi adequada, visto que, enquanto não advier
lei regulando homeschooling, toda criança tem o direito de frequentar a
escola e é dever dos pais e do Estado garantirem o exercício desse direito.
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DAS POLÍTICAS ÀS AÇÕES: DIREITOS DA
PESSOA IDOSA NO BRASIL
SIMONE MARTINS
Mestre e Doutora em Administração. Professora do Departamento
de Administração e Contabilidade da Universidade Federal de
Viçosa (UFV). Coordenadora do grupo de trabalho do Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO). Líder do Grupo de
Pesquisa/CNPq em Espaços Deliberativos e Governança Pública.
RESUMO
As mudanças no perfil populacional sinalizam desafios e requerem ações
transformadoras para o combate à discriminação etária e para um enve-
lhecimento ativo, saudável, cidadão e sustentável. O objetivo do presente
artigo é realizar uma análise dos estudos sobre as temáticas “envelheci-
mento” e “Política do Idoso” no Brasil, a partir de levantamento bibliográ-
fico em periódicos nacionais, indexados no Portal Periódicos Capes nos
últimos cinco anos, e compreender como os resultados desses estudos dia-
logam com os marcos legais voltados à promoção e proteção dos direitos
das pessoas idosas no Brasil. Conclui-se que o tema envelhecimento requer
que se viabilize, nas agendas políticas, mecanismos e instrumentos para
que se efetivem as ações propostas pelo conjunto dos marcos legais. É ne-
cessário, ainda, criar condições para que a pessoa idosa seja protagonista
nas discussões e deliberações políticas de seu interesse.
Palavras-chave
Envelhecimento. Política do Idoso. Protagonismo. Direitos.
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ABSTRACT
The changes in population profile signal challenges and require transfor-
mative actions to combat age discrimination and active, healthy, citizen
and sustainable aging. In an exploratory and descriptive way, the objective
of this study is to conduct an analysis of the studies on the themes “aging”
and “Elderly Policy” in Brazil, based on a bibliographical survey in natio-
nal journals indexed in the Portal Periodical Capes, in last five years, and
to understand how the results of these studies dialogue with the main legal
frameworks aimed at promoting and protecting the rights of the elderly
in Brazil. The conclusion is that the issue of aging requires mechanisms
and instruments to take place in political agendas as to make the actions
proposed by all the legal frameworks effective. It is also necessary to create
conditions for the elderly to be protagonists in the discussions and political
deliberations of its interest.
Keywords
Aging. Elderly. Policy. Protagonism. Rights.
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
1 INTRODUÇÃO
As mudanças no perfil populacional sinalizam desafios e exigem
ações transformadoras para o combate à discriminação etária e para um
envelhecimento ativo, saudável, cidadão e sustentável (ORGANIZACIÓN
MUNDIAL DE LA SALUD, 2015; BRASIL, 2018b).
A proporção de pessoas idosas, em relação à população total, é cres-
cente em todo o mundo, aumentando de 8%, em 1950, para 12% em 2013,
e há projeções de 21%, em 2050. A população idosa mundial, que era de
962 milhões em 2017, deve chegar a mais de 2 bilhões em 2050 (UNITED
NATIONS, 2017).
Nos anos 1990 o Brasil ingressou em um processo de envelhecimento
demográfico, com particularidades, que o destacam na escala mundial. Em
1940, a proporção de pessoas idosas no Brasil era de 2,4%, correspondendo
a menos de um milhão (BRITO, 2007). No Censo de 2000, esse número
era de 14,5 milhões (8% da população total). Em 2010, a população idosa
correspondia a 10,8% dos brasileiros, chegando a 13,7% em 2014 (BRASIL,
2010), 14,6% em 2017 (BRASIL, 2018a) e com projeções de 30% para 2050
(UNITED NATIONS, 2017).
O Estado Brasileiro precisou de menos de 25 anos para que a propor-
ção de pessoas idosas duplicasse de 7% para 14%, ao passo que essa mesma
mudança ocorreu ao longo de 70 a 115 anos em países como França, Sué-
cia, Austrália e Estados Unidos (UNITED NATIONS, 2017).
Por um lado, o aumento da longevidade das populações pode ser
considerado como uma das maiores conquistas das sociedades mundiais, a
despeito das diferenças na magnitude do processo de envelhecimento entre
países e, ainda, entre regiões de um mesmo país. Isto porque o envelheci-
mento, como conquista, reflete a melhoria das condições de vida das popu-
lações, com ampliação do acesso a serviços médicos preventivos e curati-
vos, avanço da tecnologia médica, ampliação da cobertura de saneamento
básico, aumento da escolaridade e da renda, entre outros determinantes
(BRASIL, 2015). Por outro lado, se traduz em um grande desafio, na medi-
da em que viver mais não basta por si só; gera uma série de demandas para
uma longevidade com dignidade, autonomia e qualidade de vida (MEN-
DES; SOARES; MASSI, 2015).
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
3.1 CUIDADO/CUIDADOR
Na categoria cuidado/cuidador, os pesquisadores demonstram pre-
ocupação tanto na perspectiva da formação dos cuidadores e no preparo
para o exercício de sua função, quanto na perspectiva das pessoas idosas
que recebem os cuidados em seu ambiente familiar e em Instituições de
Longa Permanência para Idosos (ILPI).
Quando o assunto é o cuidador, a importância das habilidades sociais
é destacada no estudo de Pinto, Barham e Del Prette (2016) concluindo que
expressar sentimentos positivos, controlar a agressividade e conversar para
resolver problemas são habilidades importantes para realizar as tarefas e
amenizar os conflitos vivenciados pela pessoa idosa.
Quanto à domiciliar, Magalhães et al. (2015) alertam que os agen-
tes comunitários não recebem orientações para atuar junto às famílias das
pessoas idosas. Destacam que o foco da atenção permanece na doença e na
oferta de insumos e procedimentos e concluem que ainda não foi percebida
a reorientação do modelo assistencial, como previsto na Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI).
A mudança no modelo de atenção é destacada como necessária, tam-
bém, no estudo de Oliveira et al. (2016), devendo dar foco à saúde preventi-
va, com preocupação econômica, a fim de de evitar a sobrecarga do sistema
de saúde. Martins et al. (2014), em estudo realizado em Porto Alegre (RS),
ao confrontarem a prática do cuidado com a saúde de pessoas idosas, com
o que se instituiu como diretrizes no arcabouço teórico-legal, verificaram
um descompasso entre o esperado e o praticado, com exceção para a quali-
ficação dos profissionais que na avaliação dos autores tem melhorado.
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
3.3 SAÚDE
Os estudos identificados nesta categoria contemplam a preocupação
com a saúde das pessoas idosas sobre o acesso aos serviços de saúde e à
informação sobre saúde.
Cerqueira e Rodrigues (2016) ao entrevistarem idosos portadores do
vírus HIV identificam fatores associados à vulnerabilidade, como baixa
renda e baixa escolaridade, além da percepção de relações fundamenta-
das em assimetrias de poder entre gêneros e a falta de informações que
resultam na falta de proteção. Os resultados sinalizam para o problema
da invisibilidade sexual da população idosa e para a necessidade de ações
e informações com o intuito de que a vida sexual na velhice seja saudável.
Na utilização de serviços de saúde no nordeste brasileiro, Pedraza
et al. (2018) alertam para as barreiras que as pessoas idosas enfrentam em
termos de acessibilidade organizacional, destacando a quantidade de aten-
dimentos por dia e o recebimento de medicamentos.
Em determinada cidade do interior de São Paulo, idosos foram entre-
vistados com o objetivo de avaliar o seu conhecimento sobre os serviços de
geriatria. No estudo realizado por Souza, Campos e Panhoca (2016) obser-
vou-se que, embora conhecessem a especialidade, ainda assim não tiveram
a oportunidade de serem atendidos por consulta médica. Para eles faltam
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
3.4 PARTICIPAÇÃO
A participação social e política da população idosa são esperadas
como forma de integração para a construção de uma sociedade solidária.
Como benefícios, considerando o idealizado compartilhamento de poder,
Costa (2014) destaca a possibilidade de concretização de direitos, enquanto
que Groisman (2014) sinaliza para o desafio no cenário contemporâneo
em que se nota o retraimento de direitos e a crise das políticas de bem
estar social.
Segundo Groisman (2014) o momento requer o fortalecimento da
participação social das pessoas idosas, que pode ser institucionalizado e
viabilizado por meio de conselhos, comitês, fóruns ou outras formas de
participação para deliberações sobre a PNI. Apesar da existência e da im-
portância dos conselhos nacional, estaduais e municipais de direitos da
pessoa idosa, ainda se está muito longe do ideal de autonomia desses ór-
gãos de participação e controle social. Por um lado, o Poder Executivo,
via de regra, não concede autonomia a essas instâncias, não as dotando
de condições mínimas de funcionamento e não escutando e incorporando
suas deliberações na agenda de políticas públicas. Por outro, falta a consci-
ência cidadã para ocupar os espaços destinados ao exercício da cidadania
(MARTINS, 2015).
A participação que se observa ocorre no nível micro, nos ambientes
familiares ou em grupos sociais para a integração da população idosa, vol-
tados para o seu bem-estar. Ainda que o foco nesses ambientes não seja o
engajamento político, faz-se importante este tipo de participação para o
fortalecimento de vínculos e para a inserção social da pessoa idosa, o que
contribui para melhorar a percepção sobre a sua qualidade de vida.
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
3.5 FUNCIONALIDADE
Os estudos dessa categoria destacam que a prática de atividade física
é considerada importante para uma vida autônoma e vice-versa, e, conse-
quentemente, encontra-se relacionada positivamente à qualidade de vida
(GORDIA et al., 2007; GUIMARÃES et al., 2012). Santos e Griep (2013)
alertam que os grupos de maior risco para a incapacidade funcional são
as mulheres, os mais velhos e os de menor escolaridade. Tais achados si-
nalizam maior atenção a esses grupos na proposição de ações que visem
melhorar a qualidade de vida da população idosa.
Em consonância com a PNSI, em sua diretriz de promoção do en-
velhecimento ativo e saudável, iniciativas do Ministério da Saúde buscam
estimular a prática de atividades físicas e de lazer, assim como o acesso a
alimentos saudáveis e à redução do tabagismo, para melhorar a funcio-
nalidade. Tais iniciativas podem ser observadas no Programa Academia
da Saúde, de 2011, e no Programa Brasil Saudável e Sustentável, de 2016,
dentre outras ações. Nessas iniciativas, nota-se a preocupação com a so-
cialização do conhecimento, do convívio e da autonomia da pessoa idosa.
Esta última pode ser compreendida como “a habilidade de controlar, lidar
e tomar decisões pessoais, como se deve viver diariamente, de acordo com
as suas próprias regras e preferências” (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERI-
CANA DA SAÚDE, 2005).
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
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Das Políticas às Ações: Direitos da Pessoa Idosa no Brasil
4 CONCLUSÃO
A discussão sobre as políticas públicas - voltadas à pessoa idosa e ao
envelhecimento ativo, saudável, cidadão e sustentável no Brasil - indica um
momento de disruptura.
Temas importantes foram abordados pelos pesquisadores, que cha-
mam atenção para as questões da saúde, da qualidade de vida, da participa-
ção e dos desafios para a democratização da política. Ao contrário do que
se espera com os direcionamentos constantes no arcabouço legal que ins-
titui a PNI, os resultados desta pesquisa sinalizam para o retraimento dos
direitos e o desafio do exercício da cidadania por parte da população idosa.
A partir dos estudos aqui abordados é possível inferir que o foco dos
pesquisadores mantém-se na linha do cuidado, da assistência, da saúde e
da proteção dos direitos da pessoa idosa. Ainda que se julgue importante e
relevante os temas apresentados nesses estudos, seria igualmente esperada
a ênfase na mudança de paradigma que conecta a sociedade às inovações
na gestão da PNI e às soluções para lidar com as complexidades atreladas
ao processo de envelhecimento.
Assim, percebe-se a evidente necessidade de novos modelos de ges-
tão, pois os autores constatam a discrepância entre o idealizado - nas di-
mensões internacionalmente compartilhadas para um envelhecimento ati-
vo - com o que se observa nas ações efetivas ofertadas às pessoas idosas no
Brasil. Os autores alertam para a perpetuação de problemas antigos, que
dizem respeito a uma gestão desconectada e desconectante, na qual o ges-
tor demonstra não compreender o objeto de execução, neste caso, a PNI.
A julgar pela amostra de estudos avaliada, ainda não está incorpo-
rada às agendas dos pesquisadores brasileiros a problematização sobre os
desafios de se tornar a pessoa idosa protagonista nas discussões e delibera-
ções políticas de seu interesse.
Conclui-se que o tema envelhecimento exige uma urgente inclusão
nas agendas políticas e que o envelhecimento populacional é um fato que
requer ações urgentes para lidar com o bônus e o ônus da longevidade.
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Simone Martins - Andréia Queiroz Ribeiro
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, L. E. Um estudo dos aspectos distributivos da previdência
social no Brasil. 2003. 124p. Tese (Doutorado em Economia).
Universidade de São Paulo, Faculdade de Economia e Administração, São
Paulo, 2003.
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DIREITO À EDUCAÇÃO DE PESSOAS
LGBT: UMA TRANSFORMAÇÃO NA E A
PARTIR DA ESCOLA
ALEXANDRE BORTOLINI
Mestre em Educação pela PUC-Rio e doutorando pelo
Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP). Ativista LGBT e educador.
THAÍS PIMENTEL
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Pedagoga,
professora de educação básica e feminista negra.
RESUMO
Este artigo parte da problematização da narrativa hegemônica sobre a
construção dos direitos humanos, em especial o direito à educação, a qual
se contrapõe às críticas decolonial, racial, feminista, assim como àquelas
oriundas dos estudos gays e lésbicos e à teoria queer. Busca evidenciar o
quanto o sujeito desses direitos é generificado, racializado, sexualmente
regulado e etnicamente localizado. Parte-se dessa reflexão para pensar os
processos de escolarização e sua desigual distribuição, com foco na situação
de pessoas LGBT. Os avanços vividos com a formulação de um discurso
educacional, especificamente voltado à inclusão e valorização destes
sujeitos, além de se mostrarem precários, apontam para uma distribuição
desigual dos seus frutos. Define-se essa precariedade e desigualdade, com
ênfase em suas dimensões de gênero, raça e classe, em especial no que se
relacionam às lutas para a definição destes sujeitos como sujeitos de direito
em um contexto em que ganham força projetos políticos de desumanização.
Palavras-chave
Educação. LGBT. Direito. Gênero.
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ABSTRACT
This article presents a hegemonic narrative problematization about human
rights development, especially regarding the right to education, which
opposes decolonial, racial and feminist critics, as well as those from gay
and lesbian studies and queer theory. It attempts to demonstrate how much
the subjects of these rights are genderized, racialized, sexually regulated
and ethnically located. It starts from this reflection to think about the
schooling process and its unequal distribution, focusing on LGBT people
situation. Current advances in educational narrative formulation, which is
specifically directed towards inclusion and valorization of these subjects,
besides being precarious, points to an unequal distribution of its results.
Precariousness and inequality are defined with emphasis on gender, race
and class dimensions, especially in relation to the struggles towards these
subjects definition as rights holders in a context in which dehumanization
political projects gain strength.
Keywords
Keywords: Education. LGBT. Right. Gender.
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Alexandre Bortolini - Thaís Pimentel
1 INTRODUÇÃO
Diferentemente de uma historiografia corrente da educação, que
reconhece “escola” e “sistemas de ensino” como fenômenos históricos
muito distintos, o surgimento e o desenvolvimento da “forma” escolar, tal
qual a conhecemos hoje, é um fenômeno moderno. É o lugar estratégico
da escolarização na consolidação de uma nova ordem urbana e do Estado
nas emergentes sociedades capitalistas que torna a educação passível de ser
concebida como um direito de socialização (LAHIRE e VINCENT, 2001).
Não como o direito de um ser humano abstrato, essencial e eterno, sub-
traído do fluxo da história, mas como construção histórica, “produto não
da natureza, mas da civilização humana”, suscetível à transformação e à
ampliação (BOBBIO, 2004, p. 20).
Há uma narrativa que entende a construção dos direitos humanos,
dentre eles o direito à educação, como “um projeto moral, jurídico e polí-
tico criado na Modernidade Ocidental e que, depois de ter sido suficiente-
mente desenvolvido e amadurecido, foi exportado ou transplantado para
o resto do mundo” (BRAGATO, 2014, p. 205). Um processo histórico in-
tra-europeu, do Norte ou do Ocidente, fruto não só “das lutas políticas
inglesas, francesas e norte-americanas dos séculos XVII e XVIII”, mas da
“tradição teórica racionalista da modernidade”, cujas origens têm “pouco
ou nada a ver com a história e a racionalidade dos povos não ocidentais”
(BRAGATO, 2014, p. 206). Essa narrativa assume uma perspectiva que re-
conhece a Europa, o Norte global ou o Ocidente como território sobre o
qual se assentam sociedades mais “avançadas” cujos valores civilizatórios e
modelos de organização se propagariam às regiões “menos desenvolvidas”,
“primitivas” ou “periféricas” do mundo.
Essa narrativa, entretanto, não resiste a uma investigação crítica das
origens histórico-geográficas e do fundamento antropológico-filosófico
dos direitos humanos (BRAGATO, 2014). A esta perspectiva hegemônica é
possível contrapor uma crítica decolonial e racial a uma crítica feminista,
assim como aquela oriunda dos estudos gays e lésbicos e da teoria queer.
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Alexandre Bortolini - Thaís Pimentel
3 O uso da letra “e” no lugar das flexões com “a” e “o” é tanto uma forma de apresentar uma lingua-
gem neutra, não sexista e pronunciável na língua falada, quanto um modo de se referir a sujeitos.
Nesse caso, alunes refere-se a estudantes cuja identidade de gênero não se define no binário mascu-
lino/feminino.
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Direito à educação de pessoas LGBT: uma transformação na e a partir da escola
7 A interseccionalidade pode ser compreendida, além de uma crítica à noção tradicional de direitos
humanos, como uma teoria que reivindica a articulação das categorias de gênero e raça, simultane-
amente, nos debates sobre direitos humanos (CRENSHAW, 2012).
91
Alexandre Bortolini - Thaís Pimentel
tis (MOIRA, 2017), trans negres (PEÇANHA, 2016) e bichas pretas (COS-
TA, 2018) denunciam ao chamar a atenção para como as experiências trans
ou homossexuais são vivenciadas, significadas e percebidas distintamente,
a depender da posição social, do pertencimento racial e de classe, evocan-
do “existências que questionam de maneira recorrente tanto a branquida-
de quanto a cis-heteronormatividade hegemônicas” (OLIVEIRA, 2018, p.
171). Bichas pretas, lésbicas pobres e travestis da periferia estão mais vulne-
ráveis à violação de direitos, pela precariedade material e pela desvaloração
simbólica que sua condição racial e de classe impõe. Essas pessoas não são
percebidas como sujeitos de direito e têm menos recursos econômicos, so-
ciais e jurídicos para lidar com as violações. A pobreza gera situações de
maior exposição, pois falta acesso a recursos de proteção que, numa socie-
dade capitalista, são transformados em mercadoria e acessíveis somente a
quem por eles pode pagar. Têm de expor seus corpos e suas performances
disruptivas nos transportes públicos, viver em áreas precárias e violentas
da cidade, e estão de fora dos espaços seguros que o pink money8 pode
comprar. Dependem unicamente dos sistemas públicos de ensino. Simul-
taneamente, o machismo, o racismo e o “ódio ao pobre” (SOUZA, 2017)
autorizam que violência recaia sobre elas, inclusive a LGBTfóbica. Não são
dignas da presunção de inocência e são percebidas a partir de uma série de
estigmas, seja pela polícia ou por profissionais da educação.
A discriminação e a precariedade vivenciadas por pessoas LGBT nas
escolas,, não se restringem, de modo isolado, a “questões de gênero e sexu-
alidade”. Processos de exclusão, hierarquização e desumanização consti-
tuem a história da formação social brasileira que, de modo concomitante
e articulado, definem quais pessoas são detentoras do direito à educação
e como podem acessar um sistema de ensino diferenciado e estratificado,
que naturaliza a desigualdade, a precariedade e a ausência de direitos.
8 Pink money, do inglês, significa “dinheiro rosa” e refere-se ao poder de compra de parte da popu-
lação LGBT, alvo de interesse do mercado, e serve à crítica de processos em que o acesso a bens e
direitos se dá sob a lógica do consumo.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COSTA, Alan. Bichas pretas: entre o objeto, o abjeto – poucas vezes afeto.
Salvador, 2018. Disponível em: <http://correionago.com.br/portal/bichas-
pretas-entre-o-objeto-o-abjeto-poucas-vezes-afeto>. Acesso em: 02 ago.
2018.
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A POLÍTICA DE INCLUSÃO DA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA COMO QUESTÃO DE
DIREITOS HUMANOS
RESUMO
Apresenta-se a luta do movimento social das pessoas com deficiência por
seus direitos como parte do conjunto dos movimentos sociais e sua relação
com os direitos humanos. Analisa-se a nova conceituação de pessoa com
deficiência como parte da diversidade humana e sujeito de direitos. Enfa-
tiza-se o valor da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
cia, tratado da ONU, ratificado no Brasil como emenda constitucional em
2008. Avalia-se a inserção da política pública de inclusão da pessoa com
deficiência desde a criação da área de direitos humanos no governo federal.
Defende-se a educação em direitos humanos e a interseção entre os movi-
mentos sociais que atuam por dignidade e contra discriminação e violação
dos direitos. Com isso, pretende-se obter força política e defender priorida-
de para os direitos humanos, visando ultrapassar as desigualdades sociais.
Conclui-se que avanços para mais pessoas com deficiência dependem de
gestão responsável, orçamento e atuação da fiscalização e dos conselhos de
direitos da pessoa com deficiência,
Palavras-chave
Pessoas com deficiência. Direitos Humanos. Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência. Movimento social. Políticas públicas.
105
ABSTRACT
This paper presents the struggle of persons with disabilities for their rights,
as a part of the whole social movement and its relationship with the human
rights. We analyze the new concept of “person with disability” as part of
human diversity and as subject of rights. The value of the Convention on the
Rights of Persons with Disabilities, a UN treaty and ratified by Brazil as a
constitutional amendment in 2008, is emphasized. The effectiveness of the
public policies for the inclusion of persons with disabilities since the intro-
duction of the Human Rights area in the federal government is evaluated.
The importance of education on human rights and the interaction between
the social movements that strive for dignity and against discrimination
and violations is defended. In this fashion, one intends to attain political
power and impose priority for human rights, in order to overcome social
inequalities. The conclusion is that promotion for persons with disabilities
depends upon responsible management, funding, monitoring body and
action by the Councils for the Rights of Persons with Disabilities.
Keywords
Persons with disabilities. Human Rights. Convention on the Rights of
Persons with Disabilities. Social movement. Public policies.
106
A política de inclusão da pessoa com deficiência como questão de direitos humanos
1 INTRODUÇÃO
A conquista dos direitos pelas pessoas com deficiência no Brasil sur-
giu no século XX. Existiram duas fases distintas: o envolvimento e a con-
dução do processo, por famílias e profissionais dedicados ao atendimento
dos deficientes e, posteriormente, a participação direta das pessoas com
deficiência, apoiadas por familiares e técnicos, que compreenderam a nova
realidade. Em ambas, predominou a atuação das associações da sociedade
civil, as quais lutaram por espaço para as pessoas com deficiência na agen-
da pública. Da tutela à autonomia, o movimento social procurou vencer a
discriminação, a desvalorização e a falta de atenção por parte dos governos
(MAIOR, 2015b).
O enfrentamento do assistencialismo trouxe avanços e o Brasil tor-
nou-se reconhecido mundialmente por mudanças paradigmáticas relativas
às pessoas com deficiência. O cenário alterou-se a partir do protagonismo
do movimento político para a inserção de seus direitos básicos nos diver-
sos artigos da Constituição Federal de 1988. Como consequência, as leis
referentes às políticas setoriais como saúde, assistência social, educação e
trabalho contemplaram o tema e houve a criação de estruturas de gestão
de projetos à promoção e atenção aos direitos do segmento, favorecendo a
inclusão social.
Em 1995 foi criada a Secretaria dos Direitos de Cidadania, no âmbito
do Ministério da Justiça, após intensa negociação do movimento social e, in-
ternamente, nas instâncias governamentais, a Coordenadoria Nacional para
a Política de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde). Insti-
tuída em 1986 obteve novo lócus institucional, deixando a assistência social
para vincular-se aos direitos humanos (BRASIL, 2018). Desse novo momen-
to, enfatiza-se a aproximação do movimento das pessoas com deficiência aos
demais segmentos sociais, em busca de dignidade e direitos fundamentais.
Além das propostas específicas para a inclusão, o ideário da Decla-
ração Universal dos Direitos Humanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1948) ganhou destaque na agenda política adotada pelas lideran-
ças, visando às novas conquistas. Entretanto, mesmo com a afirmação da
universalidade dos direitos humanos, faltavam no mundo e no Brasil, leis
e normas técnicas que determinassem, por exemplo, a obrigatoriedade da
acessibilidade, elemento fundamental para a equiparação de oportunida-
des. A violação dos direitos humanos na vida das pessoas com deficiência
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7 CONCLUSÃO
O lema “igualdade e plena participação” do Ano Internacional da
Pessoa com Deficiência (BRASIL, 1981) continua como objetivo da luta
do movimento. As ferramentas disponíveis se aprimoraram: a conven-
ção, o tratado específico dos direitos humanos, a identidade de pertenci-
mento à diversidade humana, o princípio da autonomia, o direito à aces-
sibilidade, para assegurar a participação, o reconhecimento igual perante
a lei e a reafirmação de todos os direitos humanos, em bases iguais com
as demais pessoas.
Embora definidos na legislação, reconhece-se que os avanços ainda
não são suficientes e a maior parcela de brasileiros com deficiência enfrenta
a pobreza e não tem acesso aos serviços públicos. Persistem situações que
desrespeitam os direitos humanos, por dificuldades na implementação das
políticas públicas, na obtenção dos recursos orçamentários, no monitora-
mento e, especialmente, pela falta de prioridade que os gestores dão aos
direitos das pessoas com deficiência. Da mesma forma, o descumprimento
da lei decorre da ineficiente fiscalização das medidas sob a responsabilida-
de governamental.
A educação inclusiva é realidade. Embora controvérsias, houve
aumento da escolaridade, da inserção no mercado de trabalho, acesso às
tecnologias assistivas, que ainda têm alto custo. Existem lacunas sérias
nas políticas públicas, como a falta de resposta à institucionalização das
pessoas com deficiência que vivem sob formas inadequadas, em abrigos
que violam sua dignidade e seus direitos básicos. Considerável parcela de
pessoas com deficiência não tem liberdade de escolher onde residir, por
não contar com os apoios necessários para se manter com suas famílias ou
124
A política de inclusão da pessoa com deficiência como questão de direitos humanos
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERMAN-BIELER, Rosangela. Desenvolvimento inclusivo: uma
abordagem universal da deficiência. 2005. Disponível em: < http://www1.
uefs.br/disciplinas/exa519/Des_Inclusivo_Paper_Port_Final.pdf >. Acesso
em: 18 set. 2018.
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6
DO DIREITO DE IDENTIFICAÇÃO AO
DIREITO À IDENTIDADE
RESUMO
Nesse artigo são discutidos os rumos atuais da Política de Promoção do
Registro Civil de Nascimento e Acesso à Documentação Básica, direito
humano imprescindível ao exercício pleno da cidadania, habitualmente
comparado a uma porta de acesso, posto que condição necessária para a
satisfação de outros direitos e demandas. A problematização dos avanços
e limites dessa política enfatiza as dificuldades que se impõe à sua plena
efetivação, bem como inciativas bem-sucedidas desenvolvidas ao longo da
última década, em particular o Compromisso Nacional pela Erradicação
do Sub-registro Civil de Nascimento e Ampliação do Acesso à Documen-
tação Básica. Ressalta-se ainda, dentre outros fatores, a carência de recur-
sos, as desigualdades regionais, além da histórica discriminação e exclusão
social que recai sobre determinados povos e grupos populacionais – reco-
nhecimento que conduz à necessidade imperativa de priorizá-los nas ações
desenvolvidas pelo Estado, visando garantir meios e esforços compatíveis
com as necessidades e especificidades de cada território e população.
Palavras-chave
Direitos humanos. Registo civil de nascimento. Documentação básica.
Identidade. Grupos e populações prioritários.
132
ABSTRACT
This article discusses the current directions of the Policy for the Promotion
of the Civil Registry of Birth and Access to Basic Documentation, a human
right essential to the full exercise of citizenship, usually compared to an
access door, as a necessary condition for the satisfaction of other rights and
demands. The problematization of the advances and limits of this policy
emphasizes the difficulties that are imposed to its full realization, as well
as successful initiatives developed during the last decade, in particular the
National Commitment for the Eradication of Civil Birth Sub-Registration
and Expansion of Access to Basic Documentation. Among other factors, the
lack of resources, regional inequalities, and the historical discrimination
and social exclusion that falls on certain peoples and population groups
– recognition that leads to the imperative need to prioritize them in the
actions developed by the State, in order to guarantee means and efforts
compatible with the needs and specificities of each territory and population.
Keywords
Human rights. Birth registration. Basic documentation. Identity. Priority
groups and populations.
133
Sílvio Silva Brasil
1 INTRODUÇÃO
[...] a exclusão é processo complexo e multifacetado, uma
configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais
e subjetivas. É processo sutil e dialético, pois só existe em
relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma
coisa ou um estado, é processo que envolve o homem por
inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única
forma e não é uma falha do sistema, devendo ser combatida
como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ela é
produto do funcionamento do sistema (SAWAIA, 2011, p. 9).
2 Corresponde à meta 16.9, do Objetivo 16, que dispõe: “Promover sociedades pacíficas e inclusivas
para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir institui-
ções eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.” (BRASIL, 2016).
134
Do direito de identificação ao direito à identidade
3 Enquanto a primeira dimensão da igualdade remete à questão dos direitos e ao papel do Poder
Judiciário para garanti-los, a segunda remete à justiça social e a uma estrutura socioeconômica e
política que a promova (BÁRCENA; PRADO, 2010).
135
Sílvio Silva Brasil
4 Registro extemporâneo ou registro tardio é o registro de nascimento feito nos cartórios em anos
posteriores ao da sua ocorrência.
136
Do direito de identificação ao direito à identidade
5 O sistema cartorial nacional (ou seja, o sistema de registradores) divide-se em cartórios de registro
civil, de imóveis, de transações comerciais, entre outros. São entidades privadas com autorização/
obrigação constitucional para fazer os registros. O registro de uma criança é feito no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Naturais (WONG e TURRA, 2006).
137
Sílvio Silva Brasil
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Do direito de identificação ao direito à identidade
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Sílvio Silva Brasil
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Do direito de identificação ao direito à identidade
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Sílvio Silva Brasil
142
Do direito de identificação ao direito à identidade
143
Sílvio Silva Brasil
alterar seu nome e seu sexo no registro civil, sem a necessidade de laudos
ou quaisquer outros empecilhos se não a sua própria afirmação identitária
de gênero.
Longe de ser uma mera troca de palavras, essa nova perspectiva bus-
ca afirmar a garantia ao registro civil e à documentação como um direito
civil importantíssimo, posto que, precursor da cidadania é, acima de tudo
um direito humano, vinculado às lutas por afirmação de identidade, valo-
res, costumes e ancestralidades.
Não é à toa, portanto, que o ano de lançamento do Compromisso
Nacional pela Erradicação do Sub-registro Civil de Nascimento e Am-
pliação do Acesso à Documentação Básica coincide com a instituição da
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comuni-
dades Tradicionais7, que apresenta entre seus princípios norteadores: “o
reconhecimento e a consolidação dos direitos dos povos e comunidades
tradicionais”, por meio (dentre outros princípios) da “articulação com as
demais políticas públicas relacionadas aos direitos dos povos e comunida-
des tradicionais nas diferentes esferas de governo”. Com a referida política
almeja-se:
[...] a contribuição para a formação de uma sensibilização
coletiva por parte dos órgãos públicos sobre a importância
dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais, am-
bientais e do controle social para a garantia dos direitos dos
povos e comunidades tradicionais (BRASIL, 2007a).
144
Do direito de identificação ao direito à identidade
8 Integram a Agenda Social iniciativas para redução das desigualdades, como ampliação dos bene-
fícios do Programa Bolsa Família, geração de oportunidades às famílias pobres e ações para supera-
ção da pobreza rural. A agenda igualmente prioriza ações de inclusão social nas áreas de educação,
cultura, saúde e segurança pública, com iniciativas voltadas para juventude e para promoção dos
direitos da cidadania. (BRASIL, 2009a).
9 Lançada em dezembro de 2007, na ilha do Marajó (PA), essa agenda tinha como objetivo erradicar
o sub-registro civil de nascimento para garantir a todo cidadão brasileiro nome e sobrenome, além
de toda a documentação necessária para o pleno exercício da cidadania. Os esforços dessa agenda
foram intensificados nas regiões do Nordeste e da Amazônia Legal em 2009, quando foram lança-
dos, no Nordeste e na Amazônia Legal, os Compromissos “Mais Nordeste Pela Cidadania” e “Mais
Amazônia Pela Cidadania”, respectivamente, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais
no Brasil. (BRASIL, 2010b).
145
Sílvio Silva Brasil
10 Ambas as inciativas foram estabelecidas pelo Decreto n. 6.289, de 6 de dezembro de 2007 (BRA-
SIL, 2007b).
146
Do direito de identificação ao direito à identidade
4 CONCLUSÃO
Frente aos imensos desafios da gestão da política de promoção do
RCN e do acesso à documentação básica, ainda que o foco esteja razoa-
velmente delineado, afirma-se a necessidade de maior articulação com os
demais atores governamentais e da sociedade civil para a consecução das
ações que visam à erradicação do sub-registro e à universalização do aces-
so à documentação básica.
Dentre as ações que a CGPRCN ora desenvolve, uma medida que
busca transpor as dificuldades de localização e identificação do público
prioritário é a iniciativa de diálogo interinstitucional, que explora as pos-
sibilidades de cruzamento das informações oriundas das bases de dados
oficiais relativas aos municípios que apresentam elevados índices de sub-
-registro civil de nascimento, tanto em números proporcionais quanto ab-
solutos e às populações definidas como prioritárias, visando subsidiar as
ações de diferentes órgãos e instituições de governo e da sociedade. Bus-
ca-se, dessa maneira, responder à pergunta- chave para a consecução de
ações efetivas e eficazes: “quem são e onde estão os destinatários da política
de RCN e acesso à documentação básica?”.
11 Essa porcentagem varia notavelmente por região. Segundo dados do Censo Demográfico 2010,
a região Centro-Oeste era a que apresentava a menor proporção de população registrada (41%),
seguida pelas regiões Norte e Sul (63% em ambas). Finalmente, as regiões Sudeste e Nordeste apre-
sentavam taxas de registro de 89% e 92% respectivamente (BRASIL, 2012).
147
Sílvio Silva Brasil
148
Do direito de identificação ao direito à identidade
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Sílvio Silva Brasil
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Congresso Nacional. Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de
2007 (2007a). Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm>. Acesso em: 10 set. 2018.
150
Do direito de identificação ao direito à identidade
151
Sílvio Silva Brasil
em: <https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/2973/1/
LCG2432_pt.pdf>. Acesso em: 20 set. 2018.
152
7
PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA
AS MULHERES: UMA REVISÃO DAS
PRÁTICAS INTERNACIONAIS E A
URGÊNCIA DA ATUAÇÃO NO BRASIL
ROBERTA GREGOLI
Doutora em Comunicação Social pela Universidade de Oxford, mestra
(com louvor) pelo Programa Erasmus Mundus Crossways in Humanities
da União Europeia. Formada em Letras pela Universidade Estadual
de Campinas. Atuou na área de Direitos Humanos e enfrentamento à
violência contra as mulheres no Executivo federal, no Executivo distrital,
no Legislativo e em organismos internacionais. Atualmente é consultora
na área de políticas de gênero e violência contra as mulheres.
SOPE OTULANA
Consultora sênior na área de gênero, igualdade e desenvolvimento social
na Oxford Policy Management, onde lidera pesquisas qualitativas sobre
os impactos sociais e de gênero nas políticas de transferência de renda,
proteção de crianças e desinstitucionalização de crianças vulneráveis,
violência sexual e de gênero em contextos humanitários e pesquisa de
políticas globais de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas.
RESUMO
Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 2000, as políticas de en-
frentamento à violência contra as mulheres desenvolveram-se de maneira
exponencial. Essas políticas, entretanto, tiveram como foco a resposta à
violência, depois de sua ocorrência. Entendendo o enfrentamento à vio-
lência como um conjunto de ações envolvendo não somente a resposta,
mas também a prevenção, este artigo apresenta argumentos a favor da
prevenção como um eixo de atuação prioritário e urgente. A revisão de
intervenções internacionais na área de prevenção à violência contra mu-
lheres e meninas demonstra que abordagens participativas, que promovem
o questionamento e a mudança das normas sociais que geram a violência,
são consideradas as mais avançadas.
Palavras-chave
Mulheres. Gênero. Violência. Prevenção. Boas práticas. Lei Maria da Penha.
153
ABSTRACT
In the last decades, particularly since the 2000s, policies to eliminate vio-
lence against women have developed exponentially. These policies, howe-
ver, focused on response, i.e. actions after its occurrence. Understanding
that the elimination of violence involves a set of actions which involve not
only response but also prevention, this article argues in favour of preven-
tion as a priority matter. The review of international interventions in the
field of prevention of violence against women and girls demonstrates that
the most advanced approaches are participatory and challenge social nor-
ms that enable violence in order to promote change.
Keywords
Women. Gender. Violence. Prevention. Best practices. Maria da Penha Law.
154
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
1 INTRODUÇÃO
A partir dos anos 2000, as políticas de enfrentamento à violência
contra as mulheres desenvolveram-se de maneira exponencial. Entenden-
do-se o enfrentamento à violência como uma gama de ações envolvendo
a resposta à violência depois de ocorrido e a prevenção para evitar que ela
ocorra, este artigo argumenta em favor de uma priorização do eixo de pre-
venção como meio para uma transformação social profunda e duradoura.
Primeiramente, o artigo traz uma breve descrição dos ganhos no Brasil nas
últimas décadas e apresenta uma estrutura holística para o enfrentamento
à violência contra as mulheres. Em seguida, são realizados uma revisão da
bibliografia internacional e um levantamento de iniciativas internacionais
para demonstrar que as abordagens participativas que promovem o ques-
tionamento e a mudança das normas sociais causadoras da violência são
consideradas as mais avançadas.
2 OS AVANÇOS NO BRASIL
Nas últimas décadas, os avanços relacionados ao enfrentamento à
violência contra as mulheres no Brasil foram significativos, tanto em ter-
mos legislativos quanto de políticas e serviços. A Lei n. 11.340/2006, Lei
Maria da Penha, doravante LMP (BRASIL, 2006), por exemplo, é referên-
cia mundial como legislação de enfrentamento à violência contra as mu-
lheres. Para além do pioneirismo, uma das maiores qualidades da LMP é
sua popularidade: é conhecida por 100% das brasileiras, um êxito surpre-
endente para qualquer lei.
A Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), criada em 2003, fo-
mentou a criação de órgãos locais de políticas para mulheres, os chamados
Organismos de Políticas para Mulheres (OPMs). A descentralização da po-
lítica, essencial para um país diverso e de proporções continentais como o
Brasil, foi uma inovação em termos de políticas na área no mundo.1
O Brasil conta também com uma série de marcos normativos impor-
tantes para guiar e executar ações e serviços de enfrentamento à violência
contra as mulheres, nomeadamente os planos nacionais de políticas para
mulheres, frutos de processo de participação popular nas conferências na-
1Em levantamento de 2014, a SPM identificou 680 OPMs, sendo 24 estaduais e 656 municipais (co-
brindo 11,8% do total de municípios brasileiros). Mais informações em Brasil (2015).
155
Roberta Gregoli - Sope Otulana
3 A URGÊNCIA DA PREVENÇÃO
Mesmo com a popularidade da LMP, a maioria das pessoas a conhe-
ce apenas superficialmente,3 o que pode gerar a impressão que se trata de
uma lei de cunho exclusivamente punitivo. Porém, o primeiro capítulo é
inteiramente voltado às “medidas integradas de prevenção”, com o objetivo
de “coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...] por meio
de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e de ações não governamentais”. Para além da
2 Vale também citar o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, lançado
em 2007 (BRASIL, 2011b), o qual definiu as esferas e responsabilidades dos governos nos três níveis
para a implementação do plano nacional.
3 De acordo com pesquisa do DataSenado, 100% das pessoas “já ouviram falar” da LMP, porém 81%
declaram saber pouco ou nada sobre ela (BRASIL, 2017, p. 10).
156
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
157
Roberta Gregoli - Sope Otulana
Tem como foco a população Tem como foco os indivíduos e Tem como foco os grupos
como um todo e os ambientes grupos com alto risco de serem afetados pela violência na
em que as relações de gênero e vítimas ou perpetradores da construção de capacidade
comportamentos violentos são violência contra mulheres e os sistêmica, organizacional e da
moldadas, para abordar fatores fatores que contribuem para comunidade para responder a
que levam a ou protegem contra tal risco. esses fatores.
a violência às mulheres.
158
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
159
Roberta Gregoli - Sope Otulana
Local Zâmbia
Resumo Trabalho para a eliminação da violência contra mulheres e meninas por meio da trans-
formação de atitudes e crenças, e da mobilização de homens e meninos para a promo-
ção da não violência.
Abordagens para “Construção de um movimento” por meio de campanhas de mídia, marchas, etc. liga-
engajamento das a eventos internacionais (Dia Internacional das Mulheres, 16 dias de ativismo).
160
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
Parcerias YWCA
Nome do programa
Local Ruanda
Abordagens para Diálogo e sensibilização sobre violência contra as mulheres com membros da
engajamento Associação de Poupança e Crédito na Aldeia (Village Savings and Loans Association)
através de ‘educadores-pares’ eleitos dentro da Associação.
(continua)
161
Roberta Gregoli - Sope Otulana
Nome do programa
Local Ruanda
Resumo Educação não formal e advocacy comunitário para encorajar homens e casais a refletir
de maneira crítica sobre compartilhamento de decisões e dinâmicas de poder em seus
relacionamentos, com o objetivo de aumentar o impacto de programas de microcrédito
e transferência de renda sensíveis a gênero.
Abordagens para 17 atividades de grupo para homens, cujas parceiras participam do programa de
engajamento empoderamento econômico.
Promundo
Evidências Os achados demonstram que o envolvimento entre homens e suas parceiras nessas ati-
vidades comunitárias resultou em aumento de renda e na participação de homens nos
trabalhos de cuidado com os filhos, bem como na redução de conflitos entre os casais.
Nome do programa
(continua)
162
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
Mudança social mobilizada no Cabo Oriental e províncias do Estado Livre para atuar
na violência contra mulheres e crianças.
Programas de rádio.
Parcerias UNICEF
UNFPA
Evidências Programa de Ação Integrado sobre a Violência contra Mulheres e Crianças e Plano
Estratégico Nacional para a Eliminação da Violência contra Mulheres e Crianças pac-
tuados, adotados e em fase de implementação.
(continua)
163
Roberta Gregoli - Sope Otulana
Nome do programa
Abordagens para Campanhas lideradas por jovens encorajando grupos de apoio entre pares, o
engajamento engajamento de jovens e reforço de mudanças de normas sociais na comunidade.
Sessões de educação não formal com campanhas e ativismo lideradas por jovens para
transformar papeis estereotipados de gênero (ex. uso de contraceptivos e divisão de
tarefas domésticas).
Evidências Mudanças nos índices da Escala Gender Equitable Male (GEM), que mede as mudanças
em atitudes relacionadas a gênero, violência, sexualidade, masculinidade e saúde
reprodutiva.
Nome do programa
Resumo MenCare é uma campanha mundial com foco na paternidade, ativa em mais de 45 pa-
íses em 4 continentes. Sua missão é promover o envolvimento igualitários dos homens
como pais e cuidadores não violentos para fomentar o bem-estar da família, a igualda-
de de gênero e melhores condições de saúde para mães, pais e crianças.
(continua)
164
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
Aliança MenEngage
Nome do programa
Local Zâmbia
Abordagens para Centros de atendimento integrados fornecem uma gama de serviços de saúde, apoio
engajamento psicossocial, informações sobre HIV e teste, fornecimento de kits de profilaxia pós-
exposição e contraceptivo de emergência, atendimento jurídico a adultos e crianças;
treinamento da equipe do centro de atendimento integrado e agentes de serviços;
encaminhamento e trabalho em rede com os demais serviços (exemplo: saúde,
abrigamento, assistência financeira); atendimento móvel a comunidades rurais para
a promoção de sensibilização e serviços; avaliações organizacionais dos parceiros do
projeto e fortalecimento de capacidades.
Abordagem dos fatores de risco da violência contra as mulheres e mobilização das co-
munidades por meio de um programa holístico de comunicação.
165
Roberta Gregoli - Sope Otulana
WLSA
Evidências A avaliação da Teoria de Mudança mostrou que o programa provê um percurso claro
para a prestação de serviços e prevenção da violência contra as mulheres e casamento
infantil.
Nome do programa
Prevention+ (Promundo)
Abordagens para O programa promove ativamente o engajamento de homens jovens e adultos como
engajamento parceiros – junto com mulheres jovens e adultas – para desafiar e transformar normas
e práticas de gênero nocivas. Os grupos participam de programas extensivos de pre-
venção à violência contra mulheres e iniciativas de empoderamento econômico (infor-
madas em parte pelas abordagens e currículos dos programas MenCare+ e Journeys of
Transformation), oferecidas em parceria com serviços da comunidade.
Aliança MenEngage
166
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
5 DF, PA, PE, PI, para citar alguns. Sobre o programa do DF ”Maria da Penha vai à Escola” (DIS-
TRITO FEDERAL, 2015).
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Roberta Gregoli - Sope Otulana
6 DESAFIOS MAPEADOS
A mudança de práticas, comportamentos e atitudes é algo complexo
e que leva tempo, pois normas tradicionais sobre a violência contra mulhe-
res e meninas são formadas por uma vasta gama de processos sociais em
múltiplos níveis da ordem social (FLOOD; PEASE, 2009). Enquanto há
evidências que normas nocivas de gênero podem mudar, os mecanismos
exatos para essa mudança permanecem apenas parcialmente compreendi-
dos e com escassas evidências. Ainda que os mecanismos que relacionem
mudanças de atitudes à redução de comportamentos violentos não sejam
claros, existem evidências que sustentam que atitudes mais igualitárias,
por parte dos homens, estão associadas à menor chance de perpetração de
violência doméstica (LEVTOV et al., 2014). 8
Diversas revisões bibliográficas, como as de Ricardo, Eads e Barker
(2011), relatam a necessidade de avaliações mais rigorosas e pesquisas padro-
nizadas sobre o que efetivamente funciona para mudar normas e comporta-
mentos relacionados à violência contra mulheres e meninas. Uma revisão da
OMS de 2007 sobre 58 intervenções concluiu que 33% das intervenções não
podiam ser avaliadas devido à falta de dados, ou à existência de dados não
padronizados (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). Além disso, a
maioria dos programas que possui dados disponíveis não fez distinção entre
mudanças em normas sociais e mudanças nas atitudes dos indivíduos, o
que torna difícil discernir de que maneira as intervenções estão atingindo
os impactos observados (ALEXANDER-SCOTT; BELL; HOLDEN, 2016).
8 Ainda que este artigo argumente pelo desenvolvimento de ações para mudanças de normas sociais
relativas à violência contra as mulheres, não há uma relação de causalidade direta e imediata entre as
mudanças de normas sociais e a redução da violência. Por exemplo, em programas que visam mu-
dar normas sociais sobre empoderamento das mulheres, a vulnerabilidade de mulheres e meninas à
violência pode, às vezes, aumentar no curto prazo (BOTT; MORRISON; ELLSBERG, 2005). Essa
complexidade acerca das mudanças em normas e atitudes pode ser observada nos dados globais
sobre comportamento de homens e uma aparente ambivalência sobre mudanças. Mesmo quando
os homens têm atitudes razoavelmente positivas relacionadas a gênero e não enxergam a igualdade
como perda de direitos, podem sentir que já se avançou o suficiente. Também é possível que homens
apoiem leis que punem a violência contra as mulheres, ao mesmo tempo em que continuam a sentir
que o privilégio patriarcal é a “ordem correta das coisas”. Tal ambivalência é especialmente prevalen-
te em países de baixa renda (LEVTOV et al., 2014). Isso remete a um desafio mais amplo sobre as
normas e os comportamentos violentos, sustentados por posicionamentos complexos, inter-relacio-
nados e, muitas vezes, contraditórios, sugerindo que apenas mudar atitudes individuais ou promover
a conscientização sobre a violência contra as mulheres é necessário, porém por si só é insuficiente.
172
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil
7 CONCLUSÃO
A partir do panorama traçado neste artigo, percebe-se que mudar
atitudes, práticas e comportamentos nocivos exige a elaboração de políticas
de prevenção que envolvam pesquisa, planejamento e expertise da realidade
local. Não se trata de uma tarefa simples. Porém, é necessário e urgente o
empenho no sentido de criar e implementar ações e políticas de prevenção
estruturadas, particularmente tendo como público homens jovens e adultos.
Assim, será possível, de fato, construir, no médio e longo prazo, uma trans-
formação profunda e duradoura nas normas sociais e atitudes e comporta-
mentos individuais em favor de uma sociedade mais igualitária em termos
de gênero e, por consequência, livre de violência contra mulheres e meninas.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMSKY, T.; DEVRIES, K.; MICHAU, L.; NAKUTI, J.; MUSUYA,
T.; KISS, L.; KYEGOMBE, N.; WATTS, C. Ecological pathways to
prevention: how does the SASA! community mobilisation model work to
prevent physical intimate partner violence against women? BMC Public
Health, London, v. 16, n. 339, p. 1-21, 2016.
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QUEM AMA ABRAÇA. Uma história que ainda busca um final feliz.
2011. Disponível em: <www.quemamaabraca.org.br/2013/>. Acesso em:
20 set. 2018.
RICARDO, C.; EADS, M.; BARKER, G. Engaging boys and young men
in the prevention of sexual violence: a systematic and global review of
evaluated interventions. Washington: Sexual Violence Research Initiative,
2011. Disponível em: <https://reliefweb.int/sites/reliefweb.int/files/
resources/menandboys.pdf>. Acesso em: 20 set. 2018.
177
Roberta Gregoli - Sope Otulana
178
8
OS DIREITOS DOS POVOS DE TERREIROS
NA ENCRUZILHADA: O USO DO
ATABAQUE E O MEIO AMBIENTE
RESUMO
O presente artigo pretende analisar as violências e discriminações sofridas
pelos povos de terreiro, em especial, o “Quebra de Xangô” movimento de
perseguição religiosa, ocorrido em 1912 na cidade de Maceió, em conjunto
com os recentes casos de racismo religioso que vêm sofrendo as comunida-
des em todo o Brasil, impedidas de utilizar seus atabaques nos seus cultos
pela alegação de perturbação do sossego ou poluição sonora. A perspectiva
desse trabalho é avaliar como o histórico de negação dessas práticas tradi-
cionais religiosas ainda continua em tempos democráticos e busca apre-
sentar algumas possibilidades para que essas casas não sejam silenciadas e
tenha os seus direitos protegidos.
Palavras-chave
Povos de terreiros. Quebra de Xangô. Racismo religioso. Recomendação n.
01/2018. Ministério Público.
179
ABSTRACT
The present article intends to analyze the violence and discrimination su-
ffered by the people of the terreiro, especially the “Quebra de Xangô” mo-
vement of religious persecution occurred in 1912 in the city of Maceió, to-
gether with the recent cases of religious racism that has been suffering the
communities throughout Brazil, who are being prevented from using their
atabaques in their services for the claim of disturbance of the quiet or noise
pollution. The perspective of this work is to evaluate how the historical ne-
gation of these traditional religious practices still continues in democratic
times and seeks to present some possibilities so that these houses are not
silenced and have their rights protected.
Keywords
Terreiros peoples. Xangô break; Religious racismo. Recommendation n.
01/2018. Public Prosecutor’s Office.
180
Os direitos dos povos de terreiros na encruzilhada: o uso do atabaque e o meio ambiente
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história brasileira, os direitos dos povos de terreiro en-
contram-se na encruzilhada: estão sempre sendo colocados em xeque pelas
concepções hegemônicas da sociedade, que tentam impor a sua compre-
ensão de mundo como a única verdade. Por isso, o que parece “diferente”
sofre retaliações e, mesmo na égide do Estado democrático de direito, essas
comunidades têm seus direitos cotidianamente violados, tendo que lutar
por reconhecimento e visibilidade para que os seus conhecimentos ances-
trais não desapareçam.
Essa situação de luta contínua aparece na diáspora africana e
reverbera até os dias atuais (HALL, 2003). Nesse trabalho, escolhe-se
o “Quebra de Xangô”, como um caso, modelo de perseguição religiosa,
para avaliar, principalmente, suas consequências para as comunidades de
Alagoas, pois em função desse episódio instituiu-se o que ficou chamado de
“xangô rezado baixo”. O termo significa que as casas, que ainda “ousavam”
a permanecer na região, rezavam sem o uso dos atabaques – elemento
fundamental do culto – e faziam seus rituais ao som de palmas para que
não fossem descobertas.
Infelizmente, esse silenciamento encontra respaldo nos dias atuais,
com outra roupagem legal, em que o Estado e a sociedade apontam que os
povos de terreiro, com seus atabaques, causam “perturbação do sossego”
e “poluição sonora”. Sob essa alegação, várias casas do Brasil estão sendo
fechadas, ora porque são multadas em valores altíssimos, ora porque são
exigidas adaptações das casas, impossíveis para essas comunidades, como,
por exemplo, isolamento acústico. Essa nova vertente de perseguição e dis-
criminação negativa dos povos de terreiro está associada ao que se tem
identificado como racismo religioso. Conforme defende o Professor Wan-
derson Flor do Nascimento (UnB):
O que se ataca é precisamente a origem negra africana destas
religiões. Por isso, vejo uma estratégia racista em demonizar
as ‘religiões’ de matrizes africanas, fazendo com que elas apa-
reçam como o grande inimigo a ser combatido, não apenas
com o proselitismo nas palavras, mas também com ataques
aos templos e, mesmo, à integridade física e à vida dos parti-
cipantes destas ‘religiões’. Portanto, isso que visualizamos sob
a forma da intolerância religiosa nada mais é que uma faceta
do pensamento e prática racistas que podemos chamar de ra-
cismo religioso (NASCIMENTO, 2016, p. 168).
181
Andréa Letícia Carvalho Guimarães
2 O “QUEBRA DE XANGÔ”
Historicamente, os povos e as comunidades tradicionais de matriz
africana sofreram várias formas de discriminação e de perseguição, inclu-
sive - e especialmente - do Estado. É importante observar o passado, no
qual tais povos eram ora silenciados, ora perseguidos, porquanto identifi-
cados com atraso e desvio dos modelos civilizatórios europeus. O olhar de
forma retrospectiva destaca o quanto se progrediu e também orienta para
o quanto ainda se deve avançar, pois os discursos da intolerância religiosa,
como mencionado, alastram-se até hoje, embora em novas roupagens, com
os mesmos efeitos destrutivos. Por isso, a importância de compreender a
complexidade do passado para, através dele, compreender os paradoxos do
presente (SANTOS, 2007).
O “Quebra de Xangô” foi um movimento de perseguição religiosa,
ocorrido em Maceió, em 1912, pela Liga dos Combatentes Republicanos, que
queriam destruir qualquer resquício de bruxaria e magia que existisse no
182
Os direitos dos povos de terreiros na encruzilhada: o uso do atabaque e o meio ambiente
183
Andréa Letícia Carvalho Guimarães
184
Os direitos dos povos de terreiros na encruzilhada: o uso do atabaque e o meio ambiente
3 A CONTINUIDADE DA VIOLÊNCIA E
DISCRIMINAÇÃO AOS POVOS DE TERREIRO
O episódio do “Quebra de Xangô” continua ocorrendo, com outras
roupagens, mesmo pós CF, e de inúmeros instrumentos normativos1 que
garantem a proteção dos povos de terreiro, como o Estatuto da Igualdade
185
Andréa Letícia Carvalho Guimarães
186
Os direitos dos povos de terreiros na encruzilhada: o uso do atabaque e o meio ambiente
187
Andréa Letícia Carvalho Guimarães
Em razão dessa situação, a DPU ingressou com uma ação civil pú-
blica contra a União, o Estado de Santa Catarina, o Município de Floria-
nópolis, a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), a Fundação Municipal
de Meio Ambiente de Florianópolis (Floram) e o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com o intuito de salvaguardar as
casas violadas em seus direitos humanos fundamentais, pois há uma sé-
rie de exigências absurdas (BRASIL, 2017a). Quanto ao barulho (poluição
sonora), por exemplo, o isolamento acústico é totalmente impossível, pois
o som dos atabaques comunica-se com as entidades religiosas, impossibi-
litando o “abafamento do som”. Em outras palavras, isolar acusticamente
as casas é acabar com o próprio culto religioso, como também com o ritual
que faz parte da cultura e identidade nacional.
A referida ação pede, igualmente, a declaração de inconstitucionali-
dade da Lei Complementar n. 479/2013, a qual, de forma quase que surreal,
impõe limitação de horário de funcionamento aos ‘’[...] locais destinados
a manifestação da cultura religiosa afro-brasileira” (LEIS MUNICIPAIS,
2013). Por óbvio que o funcionamento dos templos religiosos não pode ser
limitado pelo legislador. Nos templos, há diversas atividades que não en-
volvem festividade e batuque, ocorrendo, às vezes, por dias ininterruptos e
que, por óbvio, não podem se sujeitar à regra municipal.
A interferência do Poder Público, principalmente da Polícia Militar
do Estado que, muitas vezes, atua para fazer cessar as cerimónias religio-
sas, é verdadeiro desrespeito ao direito fundamental de liberdade de cren-
ça. Como mencionado, o incorreto enquadramento dos templos como ‘’co-
mércio em geral” não permite que os cultos usufruam da especial previsão
do art. 8º, inc. VII, da Lei Complementar Municipal n. 003/1999 (SANTA
CATARINA, 1999), o qual prevê o volume de até 65 dB. A Floram admite
que lavra as multas sem medição dos decibéis, uma vez que os terreiros não
têm uma regulamentação acústica específica (DESACATO, 2018).
Entretanto, tal realidade não é exclusiva do município de Floria-
nópolis. Outro caso de repercussão nacional, conhecido como “Ilé Axé de
Xangô”, ocorreu há 13 anos, em Santa Luzia, município localizado em Mi-
nas Gerais. Um casal de vizinhos denunciou o terreiro, alegando “pertur-
bação do sossego”. Os reclamantes reuniram 53 assinaturas de moradores
da região e conseguiram a abertura de um inquérito civil, instaurado pelo
Ministério Público (MP), em 2015. Desde então, iniciou-se uma discussão
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cia aos direitos humanos. As leis não podem ser aplicadas sem considerar
as especificidades dessas comunidades. Como afirma Pereira (2207), a CF
reconhece a plurietnicidade do Estado Brasileiro e, portanto, os terreiros
devem ser reconhecidos como espaços da diferença, locus étnico e cultural
da formação e manutenção da ancestralidade africana no Brasil, devendo
suas práticas tradicionais serem consideradas e ponderadas na aplicação de
normas restritivas de direitos.
Em razão disso, há de se incentivar o reconhecimento e o respeito
mútuo entre as diversas culturas que coexistem em nossa sociedade. O di-
reito à própria identidade e ao acesso aos modos de viver, de se expressar e
de se portar diante do mundo, de acordo com essa identidade, devem con-
siderados pelo Estado, incumbido de zelar pela preservação das minorias e
de sua identidade cultural.
De acordo com a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultu-
ral Imaterial (BRASIL, 2006), os instrumentos e as expressões, assim como
as práticas, os objetos e os lugares a estes associados, integram o patrimô-
nio imaterial, o que demanda uma ação do Estado não apenas para prote-
gê-los, mas também para promover sua valorização e sua transmissão. As
minorias étnicas e religiosas têm o direito à preservação de sua herança
cultural, mediante a proteção de cada um dos aspectos que integram sua
identidade e sua memória ancestral.
A partir dessa perspectiva cabe, portanto, ao Estado brasileiro o de-
ver de preservar o patrimônio imaterial, inclusive em face de interferên-
cias, eventualmente, desmedidas. Além disso, a liberdade religiosa é um
“direito à busca da felicidade” ou um “direito à autoestima no mais alto
ponto da consciência humana”. É importante considerar o teor da declara-
ção sobre a eliminação de todas as formas de intolerância e discriminação
fundadas na religião ou nas convicções (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1981), para observar que toda pessoa tem o direito de manifestar
sua religião por meio dos cultos e do uso de objetos litúrgicos, sendo que
qualquer discriminação entre as pessoas, por motivo religioso, constitui
violação aos direitos humanos e às garantias fundamentais. Nesse sentido,
é fundamental o reconhecimento do direito de preservação dessas mani-
festações religiosas e culturais, a partir da continuidade de suas tradições e
de acordo com as visões de mundo, herdadas há séculos. É o que se deno-
mina de herança cultural.
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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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