Me ST Helena Vieira Expos I Coes 000085019

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Relatório de Estágio para a obtenção do grau de Mestre em:

História e Património – Variante Mediação Cultural

Helena Isabel Almeida Vieira

Orientadora: Professora Doutora Alice Lucas Semedo

Porto, Julho de 2009

i
ii
RESUMO

As exposições são excelentes meios de comunicação e educação em museus.


O presente relatório de estágio, elaborado no âmbito do Mestrado em História e
Património, pretende mostrar a realidades das exposições em contexto museológico.
Partindo de uma contextualização teórica sobre as exposições como meios de
mediação cultural, avançou-se para um exemplo prático referente ao planeamento,
desenvolvimento e concepção da exposição “1969: 21 de Julho – Evocações portuenses
a propósito da chegada do Homem à Lua”.
Neste contexto são apresentadas também um conjunto de propostas de valorização
para esta exposição, de acordo com os diversos públicos-alvo da mesma, culminando
com uma reflexão sobre a importância e as implicações da avaliação neste tipo de
eventos culturais.

Palavras-chave: Exposições; Comunicação em Museus; Educação em Museus;


Avaliação de exposições

ABSTRACT

Exhibits are excellent media and educational means in museums.


This report training, developed under the Master in History and Heritage, aims to
show the realities of museum exhibitions.
From a theoretical contextualization of the exhibitions as a means of cultural
mediation, we went to a practical example concerning to the planning, development and
design of the exhibition “1969: 21 de Julho – Evocações portuenses a propósito da
chegada do Homem à Lua”.
In this context are also presented a set of proposals for value this exhibition,
according to its target audiences, leading to a reflection on the importance and
implications of the assessment in this type of cultural events.

Keywords: Exhibitions; Museum Communication, Museum Education,


Exhibitions Assessment

iii
iv
AGRADECIMENTOS

Desenvolver um estágio nunca é um esforço nem uma tarefa solitária e, como sempre,
há muitas pessoas a quem devo agradecer por ter tido a energia e a capacidade para
completar esta fase do meu percurso académico.
No topo da lista está, é claro, a minha orientadora de Mestrado, a Professora Doutora
Alice Semedo. Mais que qualquer outra pessoa, manteve-me sempre atenta e
concentrada em todos os aspectos realmente importantes a desenvolver neste trabalho.
Muito obrigado pela disponibilidade que demonstrou para me orientar, pela atenção
com que sempre ouviu as minhas preocupações, pela confiança que me revelou e
transmitiu e, acima de tudo, pela forma subtil como estimulou o meu interesse pela
museologia.
Tenho ainda de agradecer à Dra. Daniela Ferreira pelo apoio e pela sua preocupação
constante para que nada me faltasse durante o estágio. A liberdade de acção que ela me
concedeu foi decisiva para que este trabalho contribuísse para o meu desenvolvimento
pessoal e profissional.
Devo ainda muitos agradecimentos a todos os funcionários do Serviço Educativo da
Casa do Infante pela forma como me acolheram e me fizeram sentir parte da sua
“família”, por todo o seu carinho e cuidado, que tornaram a minha experiência nesta
instituição muito gratificante, interessante e extremamente agradável.
Aos meus amigos fico eternamente grata pelo apoio e incentivo constante.
Finalmente, e porque os últimos são sempre os primeiros, tenho de lembrar os meus
pais, não só pelo apoio incondicional mas, acima de tudo, por nunca me terem deixado
desistir do meu futuro académico.
Existem, é evidente, inúmeras formas de agradecer a todas estas pessoas. Neste
espaço reservo apenas uma simples palavra que, apesar de pequena, exprime de forma
verdadeira e completa o que me vai na alma. A todas elas…

Obrigrado!

v
vi
-ÍNDICE GERAL

RESUMO........................................................................................................................... i
RESUMO.........................................................................................................................iii
AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... v
-ÍNDICE GERAL ...........................................................................................................vii
- Índice de Abreviaturas ............................................................................................... ix
- Índice de Quadros ...................................................................................................... ix
- Índice de Ilustrações ................................................................................................... x
I. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
II. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA: AS EXPOSIÇÕES COMO FORMA DE
MEDIAÇÃO CULTURAL............................................................................................... 5
1. Exposições: Conceito, Objectivos e Tipologias........................................................ 5
2. O Processo de Desenvolvimento de Exposições....................................................... 7
3. As Exposições como Meios de Comunicação .......................................................... 9
3.1 Tipos de Comunicação em Museus ..................................................................... 9
3.2 Modelos de Comunicação em Museus .............................................................. 11
4. As Exposições como meio Educativo ..................................................................... 14
4.1 Educação e aprendizagem nos Museus ............................................................. 14
5. A Avaliação das Exposições ................................................................................... 18
III. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO ..................................................... 21
1. A Casa do Infante – Evolução Histórica e Funcional ............................................. 21
2. A Estrutura orgânica da Instituição......................................................................... 23
3. O Sector de Extensão Cultural e Educativa ............................................................ 26
IV. ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ÂMBITO DO ESTÁGIO..................... 29
1. A Integração no Local de Estágio ........................................................................... 30
2. Metodologias e Organização da Pesquisa Documental .......................................... 31
3. O Conceito e os Objectivos da Exposição .............................................................. 36
4. O Regresso à Pesquisa Documental ........................................................................ 37
5. A Estrutura da Exposição e o Plano Interpretativo ................................................. 41
6. A Disposição da Exposição..................................................................................... 44
7. Difusão da Informação: Materiais complementares da Exposição ......................... 46
8. Identificação dos Públicos-Alvo ............................................................................. 50

vii
9. Construção de Instrumentos de Avaliação .............................................................. 52
V. PROPOSTA DE UM GUIÃO PARA A EXPOSIÇÃO ............................................ 53
1. As Questões de Partida............................................................................................ 53
2. A Corrida Espacial e a Chegada do Homem à Lua................................................. 54
2.1 O Sonho da Chegada à Lua ............................................................................... 54
2.2 A Corrida Espacial............................................................................................. 55
2.3 O conhecimento portuense da exploração espacial e da chegada à Lua ........... 57
2.4 A chegada à Lua na imprensa e nos anúncios publicitários .............................. 58
3. O Porto quando o Homem chega à Lua .................................................................. 62
3.1 A realidade política d’A Primavera Marcelista ................................................. 62
3.2 O Porto em 1969................................................................................................ 65
3.3 O Porto em 1969: acontecimentos marcantes ................................................... 66
3.3 O Porto em 1969: uma radiografia da cidade .................................................... 67
3.4 O Porto em 1969: uma cidade com problemas, em renovação e a despertar para
o futuro .................................................................................................................... 71
3.5 O Porto em 1969: uma cidade em transformação cultural ................................ 75
3.6 O Porto em 1969: uma cidade com tradição ..................................................... 76
3.7 Porto: Uma cidade contestatária ........................................................................ 76
4. 21 de Julho na História Portuense ........................................................................... 79
VII. BALANÇO DA EXPOSIÇÃO ............................................................................... 81
1. Propostas de Valorização para diferentes públicos-alvo......................................... 83
1.1 Proposta de valorização para Público Escolar................................................... 83
1.2 Proposta de valorização para Público Sénior .................................................... 88
1.3 Proposta de valorização para Público Estrangeiro ............................................ 89
2.Proposta de Valorização: Promoção e Marketing .................................................... 89
3. Proposta de valorização: parcerias e alargamento................................................... 90
VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 93
IX. FONTES E BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS .................................................... 95
X. ANEXOS ................................................................................................................... 99

viii
- Índice de Abreviaturas
AHMP – Arquivo Histórico Municipal do Porto
ATL – Actividades de Tempos Livres
CMP – Câmara Municipal do Porto
CP – Caminhos-de-ferro Portugueses
DGEM - Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
DMA – Departamento Municipal de Arquivos
DMC – Departamento Municipal da Cultura
BPMP – Biblioteca Pública Municipal do Porto
GHC – Gabinete de História da Cidade
JN – Jornal de Notícias
SECE – Sector de Extensão Cultural e Educativa
SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade
UCD – Unidade Central de Digitalização

- Índice de Quadros
Quadro 1 - Fases e áreas de desenvolvimento de uma exposição. Adaptado a partir de
David Dean (1994)............................................................................................................ 8
Quadro 2 - Contactos e horário de funcionamento da Casa do Infante ………………..23
Quadro 3 - Actividades desenvolvidas no Estágio …………………………………….29
Quadro 4 - Especificação das actividades a desenvolver no ponto E ………………….29
Quadro 5 - Acontecimentos de destaque no Porto em 1969........................................... 34
Quadro 6 - Acontecimentos de destaque no Porto em 1969........................................... 35
Quadro 7 - Organização temática das fotografias de 1969 exixtentes no AHMP .......... 36
Quadro 8 Plano interpretativo para a exposição ............................................................. 43
Quadro 9 - Textos sugeridos para o roteiro da exposição............................................... 47
Quadro 10 - Textos sugeridos para os diferentes painéis da exposição.......................... 49
Quadro 11 Números e proveniência dos públicos que visitaram a Casa do Infante entre
2006 e 2008..................................................................................................................... 50
Quadro 12 - Títulos das crónicas "Radiografia da Cidade" ............................................ 52
Quadro 13 - Conteúdos disciplinares (1º, 2º e 3º Ciclo) relacionados com a temática da
exposição ........................................................................................................................ 67

ix
Quadro 14 - Proposta de rentabilização para visita à exposição direccionada para
diversos segmentos do público escolar ........................................................................... 84
Quadro 15 - Proposta de Rentabilização para uma oficina de exploração da exposição
direccionada para diversos segmentos do público escolar.............................................. 86
Quadro 16 - Proposta de Rentabilização para uma oficina de exploração da exposição
direccionada para diversos segmentos do público escolar ………………………...…..87

- Índice de Ilustrações
Ilustração 1 – Modelo de Projecto de uma Exposição. Adaptado a partir de David Dean
(1994)…………………………………………………………………………………….7
Ilustração 2 – Processo de Comunicação. Adaptado a partir de Heath e Bryant
(1994)…………………………………………………………………………………...10
Ilustração 3 – Modelo de comunicação. Adaptado a partir de Cameron (1968) ……....11
Ilustração 4 – Modelo Comunicacional adaptado de Shannon e Weaver (1989)……....12
Ilustração 5 – Modelo Comunicacional. Adaptado de Eilean Hooper-Greenhill
(1994)…………………………………………………………………………………...13
Ilustração 6 – Estrutura esquemática da Exposição………………………………….…42
Ilustração 7 – Planta da sala de exposições com identificação dos painéis e circuito….44
Ilustração 8 – Fotografias da exposição localizadas numa planta da sala exposições….45
Ilustração 9 – Anúncio de relógio Ómega, in JN, Julho de 1969………………………59
Ilustração 10 – Anúncio Mabor General, in JN Julho de 1969………………………...59
Ilustração 11 – Anúncio do Banco Espírito Santo, in JN, Novembro de 1969………...60
Ilustração 12 – Anúncio da companhia de seguros Tranquilidade, in JN Julho 1969….60
Ilustração 13 – Anúncio do espectáculo “Ri-te Ri-te na Lua”, in JN, Dezembro 1969..61
Ilustração 14 – Anúncio do Livro Apolo 11, in JN, Novembro de 1969………………61
Ilustração 15 – Excerto do Comunicado dos Organismos Associativos da Universidade
do Porto………………………………………………………………………………....77
Ilustração 16 – Excerto do Comunicado dos Organismos Associativos da Universidade
do Porto………………………………………………………………………………....78

x
I. INTRODUÇÃO

As exposições são um meio privilegiado de mediação cultural e um elemento


constante de qualquer museu. Nela intervêm diversos agentes desde os vários técnicos
dos museus aos públicos que as visitam. Na medida em que elas transmitem ideias e
criam um espaço de partilha de conhecimentos e interpretações, as exposições são
meios de comunicação e de aprendizagem por excelência.
Conjugando os vários sentidos: visão, audição, olfacto, tacto e por vezes até mesmo
o paladar, as exposições proporcionam novas experiências e, de forma informal,
permitem a desmontagem de alguns factos, o contacto com novas interpretações, a
construção de novos conhecimentos, a estruturação de novas representações e o
desenvolvimento de valores e atitudes ao mesmo tempo que se apresentam como locais
de lazer capazes de criar momentos de evasão para os seus visitantes.
Entendendo as exposições como importantes meios de comunicação, aprendizagem e
de mediação cultural, é de salientar a exigência e a consciência que a sua preparação e o
seu desenvolvimento exigem.
David Dean compara as exposições a icebergs, uma vez que o público só consegue
ver uma ínfima parte de todo o processo que conduziu à sua realização. A maior parte
do trabalho que uma exposição exige fica escondida sem que os visitantes se apercebam
dela.
No âmbito do Mestrado em História e Património, na variante de Mediação Cultural,
realizou-se um estágio de quatrocentas horas no SECE, do AHMP, sob a orientação
interna da Dra. Daniela Ferreira e sob a orientação externa da Professora Doutora Alice
Semedo. Foi intuito deste estágio compreender e explorar, na prática, algumas
estratégias que os museus utilizam para intervir culturalmente junto das comunidades
envolventes.
A escolha deste local de estágio prendeu-se com o estudo que foi feito sobre esta
instituição ao longo do primeiro ano de estágio. Em vários trabalhos, realizados para
várias disciplinas, procedeu-se ao estudo e análise de exposições realizadas, em meados
do século XX, na Casa do Infante.
Um outro motivo que despertou o interesse desta instituição para acolher o estágio
foi a existência de um bom serviço educativo que permitiria conhecer melhor a

1
realidade interna deste sector dos museus e as actividades que este desenvolve no
sentido de comunicar com os públicos e educá-los.
O estágio desenvolveu-se em volta da grande parte submersa da preparação da
exposição: “1969: 21 de Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do
Homem à Lua”. A escolha desta exposição em particular prendeu-se com questões
internas do funcionamento da instituição de acolhimento do estágio. No seguimento da
escolha do local de estágio, procurou-se integrar uma actividade que já estivesse
programada e que coincidisse com o período da realização do estágio.
A selecção desta exposição para projecto de estágio relacionou-se ainda com o
à-vontade relativamente a temas do século XX uma vez que já desde os finais da
licenciatura e no primeiro ano do mestrado se tinham abordado diferentes questões e
perspectivas sobre o Estado Novo, período histórico central da exposição “1969: 21 de
Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua”.
Para além de várias tarefas relacionadas com o trabalho desenvolvido no SECE, tais
como planear actividades, preparar materiais para oficinas e apoiar na recepção e
orientação de visitas e oficinas, um dos principais objectivos do estágio foi a preparação
e o desenvolvimento de uma exposição.
Uma vez que o processo de desenvolvimento de uma exposição exige o contributo de
diversos técnicos especializados, desenvolveram-se actividades relacionadas com a
pesquisa documental e com a sua comunicação através da selecção de informação a
constar na exposição e na redacção dos textos informativos que a iriam acompanhar. Foi
ainda objectivo deste estágio desenvolver programas educativos para diferentes públicos
e identificar algumas formas de alargar o âmbito da exposição para que esta tivesse
maior visibilidade e impacte junto das comunidades envolventes.
No sentido de consolidar os conhecimentos sobre o desenvolvimento de exposições
procedeu-se a uma primeira contextualização teórica sobre o conceito de exposição, os
seus objectivos e tipologias, assim como as várias fases que devem orientar o seu
desenvolvimento.
Contudo, não seria possível compreender a realidade das exposições se não se tivesse
em consideração que estas são essencialmente meios de comunicação que tem como
grande objectivo potenciar novas aprendizagens nos visitantes. Neste sentido,
aprofundou-se um pouco a temática da comunicação e da aprendizagem nos museus.

2
Para complementar esta contextualização teórica, exploraram-se, ainda, algumas
questões sobre a avaliação das exposições nas vertentes diagnóstica, formativa e
sumativa.
Em termos metodológicos, após a contextualização teórica que permitiu o aprofundar
dos conhecimentos sobre o desenvolvimento de exposições no contexto da museologia,
o trabalho orientou-se, essencialmente, pelo projecto de estágio que se encontra em
anexo. Os vários momentos que encaminharam os trabalhos, assim como as actividades
desenvolvidas, foram essencialmente os que se encontram referenciados no cronograma
de estágio, que segue, igualmente, em anexo.
De forma a estruturar melhor as ideias e o guião da exposição construíram-se alguns
mapas conceptuais que, ao organizar pensamentos e representações mentais, permitiram
consolidar o conceito da exposição, criar um fio condutor para a mesma, elaborar um
plano interpretativo, desenhar o storyline da exposição e, até mesmo, criar algumas
actividades, como oficinas, e formas de comunicação complementares, como o roteiro e
o catálogo da exposição.
O presente relatório é a síntese final de um percurso desenvolvido ao longo dos
últimos meses e, para além do primeiro capítulo, dedicado a uma contextualização
teórica, é constituído por uma apresentação do local de estágio, pela descrição das
várias actividades realizadas e pela proposta de um guião para a exposição. Nos
capítulos VII e VIII são apresentados alguns balanços quer sobre o desenvolvimento da
exposição“1969: 21 de Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do
Homem à Lua”, quer sobre o desenvolvimento do estágio em si.

3
4
II. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA: AS
EXPOSIÇÕES COMO FORMA DE MEDIAÇÃO
CULTURAL

1. Exposições: Conceito, Objectivos e Tipologias

O desenvolvimento e a preparação de uma exposição são tarefas complexas e


exigentes1. As exposições envolvem diversas disciplinas específicas que, em conjunto,
dominam competências de investigação, de estética, de escrita e de interpretação. Desta
forma, comunicam ideias e interpretações aos diversos públicos que as visitam
contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal e para a sua aprendizagem. Por esta
razão, o desenvolvimento e a preparação de uma exposição não deve ser um trabalho
individual, mas antes um trabalho de equipa, capaz de envolver investigadores e os
vários técnicos do museu. Porém, esta premissa exige a definição de uma linha de
orientação coerente capaz de guiar os intervenientes e de acompanhar as várias fases do
processo da realização de uma exposição.
Contudo, para entender a organização de uma exposição é necessário compreender,
antes de mais, o que ela é. De acordo com David Dean, uma exposição é um grupo
polivalente de elementos que, de forma completa, apresenta ao público uma colecção
ao mesmo tempo que disponibiliza um conjunto de informação no sentido de permitir a
sua acepção pelo público2. Numa perspectiva complementar, Jan Vehaar e Han Meeter
definem exposição como “um meio de comunicação dirigido a um público alargado e
que tem como fim transmitir informação, ideias e emoções relativas às evidências
materiais do Homem e dos seus meios circundantes, com o auxílio de métodos visuais e
multidimensionais3”.
Todavia, não se pode esquecer que independentemente do significado e da
interpretação que cada um possa fazer sobre o que é uma exposição, existem, também,
diversos tipos de exposição que condicionam a sua noção e se definem a si próprias. As
exposições comerciais têm como objectivo vender produtos e serviços com o intuito de
obter algum benefício financeiro; as exposições industriais procuram apresentar

1
DEAN, David – Museum Exhibition : Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.1.
2
DEAN, David – Museum Exhibition : Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.161.
3
VERHAAR, Jan ; MEETER, Han– Project Model Exhibitions. Holland: Reinwardt Academie, 1989, p.26.

5
novidades e inovações técnicas relacionadas com a indústria; as grandes exposições
nacionais e internacionais desejam informar o público e alterar comportamentos e
atitudes; as exposições museológicas têm como missão providenciar espaços de
educação e reflexão. Este trabalho centra-se, exclusivamente, neste último tipo de
exposição.
A realização de uma exposição tem sempre subjacente a si um conjunto de objectivos,
vastos e diversificados, tais como: promover a instituição que organiza a exposição,
alargar os conhecimentos dos visitantes, fornecer os objectos e a informação necessários
para que ocorram novas aprendizagens, activar a curiosidade e a imaginação no sentido
de estimular o desejo de aprender; fomentar o interesse das comunidades envolventes
através da oferta de momentos de lazer, alterar comportamentos e, por vezes até, obter
lucro, embora este não seja um motivo por si só específico para a realização de uma
exposição.
Tendo como fim a exposição de uma colecção, o esclarecimento do público e a
promoção de experiências educativas e de lazer, as exposições procuram, igualmente,
fortalecer a confiança dos visitantes em relação ao museu4.
As exposições podem, igualmente, ser caracterizadas consoante as suas características
e a sua duração. Michael Belcher refere a existência de dois grandes tipos de
exposições: as exposições permanentes e as exposições temporárias.
As exposições permanentes são pensadas com a intenção de durar. Para uma
exposição de assumir como permanente deve ter uma vida prevista no mínimo de dez
anos5 e exige a utilização de materiais que se preservam facilmente e que sejam de um
valor económico que permita a sua substituição regular.
Por outro lado, as exposições temporárias têm uma duração definida e limitada.
Consoante a sua duração podem distinguir-se três géneros de exposições temporárias.
As exposições temporárias de curto prazo, que apresentam uma duração apenas de
alguns dias ou semanas; as exposições temporárias de médio prazo, que se apresentam
com uma duração de entre três a seis meses e, finalmente, as exposições temporárias de
longo prazo que se destinam a ocupar um espaço do museu à espera de ser preenchido
com uma exposição permanente, não tendo por isso um tempo de duração especificado.

4
DEAN, David – Museum Exhibition: Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.3.
5
BELCHER, Michael – Exhibitions in Museums. Leicester: Leicester University Press, 1991, p.47.

6
2. O Processo de Desenvolvimento de Exposições

Uma exposição, para ser bem conseguida, requer um planeamento cuidado e rigoroso,
ao mesmo tempo que exige a necessidade de uma direcção permanente capaz de a
orientar para uma eficaz e correcta execução do produto final.
A experiência desenvolvida ao longo dos tempos na concepção de exposições foi
delineando um conjunto de fases que se constituíram como um modelo para projectar
exposições. Esse modelo é sequencial e apresenta características comuns a qualquer
projecto de planeamento. O traçado inicial do projecto, o desenvolvimento e a sua
execução são limitados no tempo e cíclicos6, uma vez que tem o seu início em ideias
geradas no final de projectos anteriores.
De acordo com David Dean, e como se pode observar na Ilustração 17, as exposições
podem ser projectadas em quatro fases sequenciais: a fase conceptual, em que se
procede à recolha de ideias; a fase de desenvolvimento, que engloba as etapas de
planificação e produção da exposição; a fase funcional, que engloba as etapas
operacionais, de montagem e instalação da exposição e, finalmente, a fase de avaliação
que não só avalia o que correu bem e o que foi menos positivo numa exposição, mas
também permite a recolha de ideias para a realização de futuras exposições.
Planeamento

Operacional
Recolha de

Recolha de
Instalação

Avaliação
Produção
Fase de

Fase de
Fase de

Ideias
ideias

Fase

Fase Fase de Fase Fase de


Conceptual Desenvolvimento Funcional Avaliação

Ilustração 1 - Modelo de Projecto de uma Exposição. Adaptado a partir de David Dean (1994)

Cada uma das fases anteriormente referidas tem três áreas de desenvolvimento: as
actividades orientadas para o produto, que consistem num conjunto de esforços para
reunir objectos e interpretá-los; actividades orientadas para a gestão, que consistem em
tarefas cuja principal finalidade é providenciar os recursos materiais e humanos
necessários para a concretização do projecto; e, finalmente, actividades de coordenação
que procuram manter as duas actividades anteriormente referidas em consonância e a
trabalharem para o mesmo objectivo.

6
DEAN, David – Museum Exhibition: Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.8.
7
DEAN, David – Museum Exhibition: Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.9.

7
No quadro que se segue8, encontram-se as várias actividades que se podem inserir em
cada uma das fases de desenvolvimento do projecto e das suas respectivas áreas de
desenvolvimento.

Fases Actividades Resultados


- Recolher ideias;
- Criação de um
Actividades - Comparar essas ideias com as
orçamento para a
orientadas para necessidades do público e com a
exposição
o Produto missão do museu
Fase Conceptual - Identificação do
- Seleccionar projectos a desenvolver
potencial da
Actividades
- Estabelecer recursos disponíveis para exposição e os
orientadas para
o projecto recursos disponíveis
a Gestão
- Definir os objectivos da exposição
Actividades - Redigir o Storyline - Estabelecimento do
orientadas para - Conceber a estrutura da exposição plano da exposição
Fase de
o Produto - Delinear um plano educativo - Estabelecimento do
desenvolvimento:
- Procurar estratégias promocionais plano educativo
Etapas de
- Estimar custos - Estabelecimento do
Planificação Actividades
- Recolher fundos ou apoios plano promocional
orientadas para
- Procurar orçamentos
a Gestão
- Definir tarefas
- Preparar as componentes da
exposição
Actividades
- Instalar os objectos - Apresentação da
orientadas para
Fase de - Desenvolver o programa educativo exposição ao público
o Produto
Desenvolvimento: - Implementar o programa de - Realização dos
Etapa de promoção da exposição programas educativos
Produção - Supervisionar a disponibilidade e a conjuntamente com a
Actividades
utilização dos recursos exposição
orientadas para
- Coordenar as actividades de
a Gestão
monitorizar os progresso
- Preservar a exposição para o público
Actividades - Implementar os programas educativos - Prevenção da
Fase Funcional: orientadas para - Realizar visitas guiadas deterioração das
Etapa o Produto - Manter a organização da exposição colecções
Operacional - Garantir a segurança da exposição - Atingir dos
Actividades objectivos da
- Atingir os objectivos traçados
orientadas para exposição
- Administração de pessoas e serviços
a Gestão
- Desmontar a exposição
Actividades - Fim da exposição
- Devolver os objectos aos seus locais
orientadas para - Devolução dos
de origem
Fase Funcional: o Produto objectos
- Recolher a documentação
Etapa Final - Limpeza e reparação
Actividades
do espaço da
orientadas para - Fazer o balanço das contas
exposição
a Gestão
Actividades - Avaliar a exposição - Produção de um
orientadas para - Avaliar o desenvolvimento do relatório de avaliação
o Produto processo - Sugestões de
Fase de Avaliação
Actividades melhorias para o
orientadas para - Criar um relatório de avaliação produto e para o
a Gestão processo
Quadro 1 - Fases e áreas de desenvolvimento de uma exposição. Adaptado a partir de David Dean (1994)

8
Quadro adaptado. DEAN, David – Museum Exhibition: Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.10-11.

8
3. As Exposições como Meios de Comunicação

De acordo com Eilean Hooper-Greenhill, os museus são meios de comunicação por


excelência. De entre as várias funções do museu, esta autora salienta a importância do
museu na transmissão de ideias, conhecimentos e valores através de dois mecanismos
essenciais: as exposições e os programas educativos que podem ser entendidos como
tipos específicos de comunicação.9

3.1 Tipos de Comunicação em Museus

Dentro dos museus, Eilean Hooper-Greenhill distingue dois tipos de comunicação: a


comunicação interpessoal e a comunicação de massas. A primeira é directa e
desenvolve-se entre os técnicos do museu e os visitantes enquanto a segunda é indirecta,
destinada a um grande número de pessoas e, geralmente, é desenvolvida através de
exposições e publicações que funcionam como meios de comunicação.10
Estes dois tipos de comunicação apresentam características específicas e podemos
distingui-los segundo os públicos a que se destinam e os processos que empregam.11 A
comunicação interpessoal destina-se a um público reduzido e diferenciado, exige um
conhecimento de cada um dos intervenientes e é marcada por uma grande
interactividade entre os seus intervenientes. Este tipo de comunicação é facilmente
observável nas visitas guiadas, em oficinas pedagógicas ou em outras actividades
desenvolvidas pelos museus em que existe um contacto directo entre um pequeno grupo
de visitantes e os funcionários do museu.
Por outro lado, a comunicação de massas destina-se a um público alargado e
indiferenciado, em que não existe um conhecimento específico sobre quem é o visitante.
Por esse motivo, este tipo de comunicação é mais passivo e feito de forma
unidireccional. Existe um emissor que elabora uma mensagem e que a transmite, de
forma indirecta, ao receptor por meio de uma exposição, de uma publicação ou de
algum meio interactivo.
Apesar de distintos, estes dois tipos de comunicação estão sempre presentes nos
museus e completam-se, na medida em que permitem atingir públicos diferenciados e

9
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London: Routledge,1994, p. 2.
10
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London: Routledge,1994, p. 2-3.
11
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London: Routledge,1994, p. 2-3.

9
com diversas preferências. Graças a estas duas formas de comunicação, o museu pode
prestar a devida atenção aos seus públicos com o intuito de obter informação específica
e especializada sobre um determinado tema. Através da comunicação, pode-se também
responder aos desejos do público que vai ao museu para nele encontrar um momento de
evasão que permita, de forma simples, ou até mesmo imperceptível, adquirir novos
conhecimentos.
Simultaneamente, com o aumento dos estudos sobre públicos constatou-se que a
comunicação de massas tem vindo a desfragmentar-se. Mesmo o grande público que
visita um museu ou uma exposição, tem características próprias capazes de o
segmentrar segundo alguns interesses. Eilean Hooper-Greenhill considera a
12
“desmassificação ” do público como um conceito a ter em atenção no desenvolvimento
de uma teoria sobre comunicação em museus.
De acordo com Heath e Bryant, a comunicação é um processo em que são formuladas
mensagens que, posteriormente, são transformadas e interpretadas, conforme se pode
observar na ilustração 213.

Formulação da
Mensagem

Interpretação da
Mensagem

Trocas de
Mensagem

Ilustração 2 – Processo de Comunicação. Adaptado a partir de Heath e


Bryant(1994)

Nesta perspectiva, a comunicação deixa de ser linear e unidireccional para se tornar


num processo transmissão de ideias e conhecimentos, de transacção e negociação de
significados. Esta perspectiva vem reforçar a complementaridade das duas formas de
comunicação identificadas por Eilean Hooper-Greenhill. Ao conceber que na
comunicação de massas existe não um grupo único e indistinto mas antes um grande
grupo com características particulares, que a mensagem não é unidireccional e que, ao

12
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London: Routledge,1994, p. 4.
13
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London: Routledge,1994, p. 5.

10
introduzir conceitos como transacção e negociação, as duas formas de comunicação
inicialmente distintas aproximam-se.

3.2 Modelos de Comunicação em Museus

Com o intuito de compreender o processo de comunicação, ao longo dos tempos,


vários autores foram definindo alguns modelos de comunicação.
Em 1968, Duncan Cameron desenhou um modelo de comunicação, distinto do
tradicional entendimento de comunicação da sua época. Ao modelo simples, centrado
num emissor, num meio de transmissão e num receptor, este autor acrescentou o
feedback, defendendo que este era a base que permitia um exame crítico efectivo acerca
de uma exposição14, informando o emissor se os visitantes do museu compreenderam
correctamente a mensagem transmitida.

Emissor Meio Receptor


(Expositor) (Objectos reais) (Visitante)

Feedback

Ilustração 3 - Modelo de comunicação. Adaptado a partir de Cameron (1968)

Numa altura em que o visitante começa a ser entendido com um elemento especial no
sistema de comunicação, já que ele é o receptor das mensagens produzidas pelos
técnicos do museu, é necessário saber se ele recebeu correctamente e compreendeu a
mensagem transmitida. O feedback, cuja principal função é avaliar a eficácia da
comunicação, surgiu então como elemento complementar no processo de comunicação
que permitiu conhecer a resposta do visitante.
Em 1989, Shannon e Weaver apresentaram outro modelo de comunicação. Para estes
autores, existem fontes de informação que são exploradas por um emissor. Este, por
meio de um canal transmite um sinal que é recebido pelo receptor que lhe dá um

14
CAMERON, Duncan – A viewpoint: The museum as a comunications system and inplications for museum educations, 1968.
Citado por HOPPER-GREENHILL, Eilean – A new communication model for museums, in “ The Educational Role of the
Museum”. London: Routledge,1994, p.22

11
destino. Durante o percurso da informação, no canal de comunicação, entre o emissor e
o receptor, é, ainda, incorporado um outro elemento, o ruído. Este consiste em tudo
aquilo que possa distorcer ou interferir na mensagem enviada.
informação

informação
Destino da
Fontes de

Envio de Sinal

Receptor
Emissor
Sinal Recebido

Ruído

Ilustração 4 - Modelo Comunicacional adaptado de Shannon e Weaver (1989)

Apesar de ser um modelo mais estruturado, este continuava a ser muito semelhante ao
modelo comunicacional de Duncan Camerom pois mantinha uma perspectiva linear.
Relativamente a estes modelos, MacQuail apresenta vários problemas tais como: a sua
linearidade, os pressupostos que a comunicação inicia-se no emissor e que o receptor é
cognitivamente passivo e, finalmente, que é a intenção do comunicador que define o
significado do evento comunicativo15.
Os problemas levantados por MacQuail são reais e devem ser evitados no processo de
comunicação nos museus. Este, tal como qualquer forma de comunicação, não pode ser
entendido de forma linear e unidireccional, mas sim como um conjunto de trocas e
transmissões sequenciais entre o emissor e o receptor e entre o receptor e o emissor. Só
desta forma se desenvolve uma permuta eficaz de ideias.
O expositor transmite uma mensagem que pode ter várias interpretações, conforme a
estrutura sociocultural e cognitiva de cada um dos visitantes do museu. As diversas
interpretações dos visitantes podem constituir-se como visões diferentes mas, também,
complementares, na medida em que são as diferentes perspectivas que permitem ter
uma visão conjunta e alargada de um tema. O diálogo entre os expositores e os
visitantes permite não só alargar o conhecimento dos indivíduos mas também estreitar

15
MACQUAIL, D – Communication. London: Longman,1985, p. 1-3.

12
as ligações entre eles, criando, igualmente, uma estreita relação de fidelidade e de
permanente contacto.
Baseada nos princípios da semiótica, Eilean Hopper-Greenhill desenhou um novo
modelo comunicacional para os museus. O tradicional emissor foi substituído por uma
equipa de comunicadores, que inclui o curador, designers, conservadores e até mesmo
os públicos.

Equipa de Significados
Receptor activo construtor
Comunicadores Meios
de significados
Significados

Ilustração 5 - Modelo Comunicacional. Adaptado de Eilean Hooper-Greenhill (1994)

O receptor deixa de ser visto como uma figura passiva que apenas recebe informação e
passa a ser entendido como um elemento activo e capaz de interpretar a informação
disponibilizada para construir os seus significados.
Simultaneamente, no centro do processo comunicativo surge um novo espaço central,
que se encontra em permanente alteração, onde convergem os significados que são
constantemente feitos e refeitos quer por comunicadores quer por intérpretes que trazem
consigo novas interpretações16.
Para além dos vários significados, neste ponto central da comunicação podemos
incluir, ainda, todos os meios de comunicação disponíveis no museu tais como o próprio
edifício do museu, os seus funcionários, as exposições e as colecções. Na perspectiva de
Eilean Hopper-Greenhill o sentido do museu não se limita simplesmente à interpretação
das exposições e das exibições mas antes às experiências que cada visitante tem no
museu17.

16
HOPPER-GREENHILL, Eilean – A new communication model for museums, in “The Educational Role of the Museum”. London:
Routledge, 1994, p.24.
17
HOPPER-GREENHILL, Eilean – A new communication model for museums, in “The Educational Role of the Museum”. London:
Routledge, 1994, p.24.

13
4. As Exposições como meio Educativo

As exposições, enquanto locais que disponibilizam ao público colecções e informação,


para além de meios de comunicação são meios educativos por excelência.
Para compreender de que forma uma exposição se torna um meio educativo, convém
entender como é percepcionada a educação nos museus e de que forma se processa a
aprendizagem nos espaços museológicos. Contudo, é necessário ter como premissa
inicial que, quando falamos de educação em museus, esta não se restringe a jovens nem
apenas ao público escolar pois ela afecta todos os públicos, desde os mais jovens aos
adultos. Num contexto museológico a educação entende-se como algo que se
desenvolve ao longo da vida.

4.1 Educação e aprendizagem nos Museus

Ao longo das últimas décadas, os museus reequacionaram a sua relação com os


visitantes. A primazia do objecto e das colecções começou a ser posta em causa e
elevaram-se questões relacionadas com a importância do museu enquanto local de
aprendizagem. Porém, ao mesmo tempo, muitos autores começaram, também, a
questionar se todas as experiências vividas nos museus seriam, ou não, aprendizagens.
Para Dewey, “uma experiência educativa tem que desafiar e estimular os seus
participantes, não bastando apenas ser interessante”18. Ela tem que ser organizada e
reflectida de modo a alterar as estruturas cognitivas do sujeito e criar novas
representações.
De entre as suas várias funções, para além de coleccionar peças, cuidar das suas
colecções, conservá-las, investigar e interpretá-las, os museus têm, ainda, como
finalidade expor objectos para os tornar acessíveis ao público. Mas a sua finalidade não
se esgota aí. Os museus devem tornar o seu património inteligível.
Neste contexto, as exposições têm um papel relevante pois apresentam aos visitantes
um conjunto de objectos acompanhados de textos interpretativos que, ao procurarem
passar uma mensagem, tornam os objectos compreensíveis.
Na década de 60 do século XX, os museus começaram a rever-se como espaços de
educação para a cidadania, relacionando o ensino com os indivíduos e com a sua

18
DEWEY, citado por HEIN, George – Learning in the Museum. Londres: Routledge, 2000, p.2.

14
experiência pessoal. Desta forma, os museus compreenderam a educação como um
processo activo e começaram a ensinar de forma interdisciplinar recorrendo, cada vez
mais, a crescentes formas de lazer. 19
Nas décadas seguintes, iniciaram-se esforços para avaliar o sentido educacional das
exposições. Promoveram-se novas formas de expor as colecções e assinalou-se a
não-valorização da componente educacional na concepção das exposições20. Na opinião
de Roger Miles, os expositores dos museus interessavam-se mais numa minoria de
estudiosos que já conheciam o tema mas o significado da exposição perdia-se para os
visitantes não-informados. 21
Numa perspectiva mais actual, os museus são entendidos como lugares de
aprendizagem, de inclusão social e de formação qualificada. A educação tornou-se uma
componente fundamental das políticas museológicas e, em alguns casos, tornou-se
mesmo um “argumento essencial para a justificação de um museu aos olhos do público
em geral”22.
A educação nos museus tem sido entendida como um mecanismo de transmissão, que
se processa via aprendizagem, de informações e conhecimentos. Contudo, mais
recentemente, tem-se registado uma mudança neste entendimento de educação. Esta
deixou de ser entendida apenas como a transmissão de conhecimentos e de informação e
passou a ser vista como a criação de estímulos para “a criatividade e a capacidade
inovadora na resolução de problemas novos” e o “encorajar a curiosidade”23.
A concepção dos museus como locais de educação e de aprendizagem exigiu uma
alteração das práticas museológicas. Impôs aos seus profissionais uma selecção de
conteúdos a comunicar e a reorganizaram-nos segundo uma estrutura e finalidade
próprias de acordo com os intervenientes e os contextos em que se realizam.
Por outro lado, está cada vez mais instalada no meio museológico a ideia que a
educação é um processo activo determinado pela prática. Tal como Carla Padró
relembra, o sujeito “só aprende a partir da prática e que a experiência, como vivência,
é a única forma de construir o discurso educativo”.24

19
Harrison, 1991 citado por HOOPER-GREENHILL, Eilean – Museum and Gallery Education. Leicester: Leicester Museum
Studies, 1991, p.52.
20
MILES, Roger – The Design of Educational Exhibits, Londres: Allen & Unwin, 1982, p.3.
21
MILES, Roger – The Design of Educational Exhibits, Londres: Allen & Unwin, 1982, p.3.
22
CAIADO, José Pedro – Formação, p.35 in MINEIRO, Clara (coord.) – Actas do Encontro Museus e Educação, 10/11 Setembro
2001. Lisboa: Instituto Português de Museus, Setembro 2002, pp. 35-40.
23
QUINTANILHA, Alexandre – Aprender para lá do que nos ensinaram, p. 23-24, in CONFERÊNCIA INTERNACIONAL,
Cruzamento de Saberes, Aprendizagens Sustentáveis. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
24
PADRÓ, Carla – Educación en museus: representaciones y discursos, p. 50, in SEMEDO, Alice & LOPES, J. Teixeira (coord.) –
Museus, discursos e representações. Porto: Edições Afrontamento, 2006.

15
Uma vez mais, neste sentido, as exposições tem um papel fundamental e
determinante. Ao proporcionarem novas experiencias e apelando a todos os sentidos
para comunicar uma mensagem, as exposições surgem como locais capazes de
proporcionar diversos elementos e meios que facilitam a aprendizagem. Por outro lado,
as exposições permitem uma aprendizagem activa e autónoma por parte do visitante,
permitindo-lhe fazer as suas próprias interpretações.
As exposições podem ser locais excepcionais de ensino-aprendizagem, dos mais
variados temas, desde que tenham uma estrutura bem definida, uma implantação e uma
adequação perceptíveis.
Os objectos autênticos disponibilizados nas exposições são alguns dos principais
veículos de aprendizagem e, quando apresentados de forma interdisciplinar, permitem
uma exploração prática e uma compreensão mais profunda das experiências.
Simultaneamente, os museus são, cada vez mais, entendidos como “locais
empenhados no processo de construção do conhecimento e na sua compreensão”.25
Através de diferentes exposições, os museus procuram apresentar e atribuir diferentes
interpretações e significados aos objectos. Para tal, ordenam os seus recursos para
colocar os objectos ao dispor dos visitantes.
Paulatinamente, numa altura em que o conceito de aprendizagem está a alargar-se
devido à expansão da ideia de aprendizagem ao longo da vida, os museus devem ser
vistos como meios pelos quais o público pode aceder a uma educação própria e
individual. Os museus, enquanto centros activos de aprendizagem pública podem
oferecer locais especializados de aprendizagem ao mesmo tempo que fornecem
materiais e informação apropriada.
Porém, é necessário ter em atenção que quando se fala de educação e aprendizagem
em museus, estas não são iguais àquelas que se processam nas escolas. Enquanto na
escola desenvolvem-se aprendizagens formais, nos museus desenvolvem-se
aprendizagens informais. A aprendizagem formal é obrigatória e curricular, baseada em
níveis de aprendizagem e escalas de valores quantitativos e qualitativos com fins
certificativos enquanto a aprendizagem informal, não tem currículo obrigatório, não
avalia nem certifica as aprendizagens.
A aprendizagem nos museus é dotada de várias vantagens e desvantagens. Os museus
têm, desde logo, grandes vantagens: são uma motivação para novas aprendizagens uma
vez que não acarretam os factores de obrigatoriedade e de avaliação que, por vezes,
25
GOODACRE, Beth e BALDWIN, Gavin – Living the Past. Middlesex: Middlesex University Press, 2002, p.33.

16
desmotivam as aprendizagens formais. Outra vantagem da aprendizagem nos museus é
a sua capacidade de proporcionar ao visitante uma multiplicidade de experiências que
apelam aos sentidos, ao mesmo tempo que permitem consolidar aprendizagens
concretas e abstractas. Por outro lado, os museus criam experiências sociais e mostram
aos seus visitantes diferentes contextos problematizados, proporcionando-lhes novos
desafios e novas experiências. Nos museus os visitantes também têm a oportunidade de
aprender activamente e de passar algum tempo de lazer de forma confortável e
agradável.
No entanto, a grande variedade de conteúdos que podem ser desenvolvidos
conjuntamente e o reduzido tempo que o visitante despende no museu, podem dispersar
as aprendizagens. Uma outra desvantagem das aprendizagens efectuadas nos museus
prende-se com a falta de mediação na maior parte das visitas individuais. Desta forma
muitas das potencialidades de aprendizagem nos museus podem não ser aproveitadas da
melhor forma.
A aprendizagem nos museus pode ser entendida sob dois pontos de vista: um em que
a interacção com os objectos facilita e proporciona diversas experiências e outro que dá
ênfase ao local como forma de estruturar a experiência e avaliar o conhecimento
adquirido. No entanto, o principal problema na reflexão sobre a aprendizagem nos
museus é o facto de muitos profissionais partirem do pressuposto que os visitantes são
passivos e meros receptores de mensagens26.
Falk e Dierking mostram-nos que os visitantes são activos na construção das suas
interpretações e significados através daquilo que escolhem assistir e observar. Estes
autores são os responsáveis pelo desenvolvimento do Modelo Contextual de
Aprendizagem nos Museus, um modelo interactivo que nos remete para três contextos
que influenciam directamente a aprendizagem e as experiências vividas em museus: o
contexto pessoal, que incorpora uma série de conhecimentos e experiências anteriores
que condiciona as estruturas mentais, os interesses, as motivações e as preocupações do
visitante que condiciona o seu comportamento e as suas aprendizagens; o contexto
físico, composto pela arquitectura do edifício, a qualidade das instalações, o design e os
objectos que contêm, condiciona a predisposição e o comportamento dos visitantes; e o
contexto social, que condiciona a perspectiva do visitante.27 Embora nem todos os
contextos tenham a mesma importância e o mesmo peso no modo como influenciam os
26
GOODACRE, Beth e BALDWIN, Gavin – Living the Past. Middlesex: Middlesex University Press, 2002, p.44.
27
DIERKING, Lynn – The role of context in children´s learning from objects and experience, p. 8-10, in PARIS, Scott G. –
Perspective on Object-Centered Learning in Museums. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates, 2002.

17
visitantes, “cada contexto é continuamente construído pelo visitante e é a sua
interacção que cria a experiência”.28
Faz parte do senso comum, e muitos autores afirmam-no, que os visitantes dos
museus preferem experiências activas onde possam interagir com os objectos em
detrimento das tradicionais exposições de objectos encerrados em vitrinas. A questão
que está intimamente relacionada com este ponto de discussão é se nestas exposições e
experiências os visitantes limitam-se à distracção ou se aprendem efectivamente algo.
Qualquer experiência que traga novas informações ou conhecimentos, que permitam o
desenvolvimento de capacidades psico-motoras e que favoreçam o desenvolvimento de
competências científicas e sociais é uma experiência de aprendizagem.
Se um visitante vai a um museu e se depara com conhecimentos e informações
especializadas, se pode percorrer diferentes espaços e interagir com os objectos da
colecção e se melhora a sua capacidade de observação, ou de outro sentido sensorial,
desenvolvendo competências de análise e de critica, então ele está a vivenciar uma
experiência de aprendizagem. Se durante o espaço de tempo que permanece no museu,
o visitante vive momentos de lazer e descontracção, então tanto melhor. A dimensão
lúdica e de prazer dos museus são duas mais-valias que se acrescem à função educativa
dos museus.

5. A Avaliação das Exposições

A avaliação das exposições é uma temática que tem adquirido uma grande importância
nas últimas décadas, existindo, cada vez mais, literatura recente relacionada com este
tema.29 Esta consiste em questionar a sua eficácia e aprender a partir dos seus sucessos e
fracassos, pois só um processo contínuo de avaliação permite aprender e crescer.
Contrariamente ao que se possa penar, a avaliação de uma exposição não é um
momento realizado exclusivamente no final da mesma. Pelo contrário, é contínua,
acompanhando todas as fases do seu processo de planeamento e organização, desde a
recolha de ideias até a abertura e ao encerramento da exposição.
As exposições podem, e devem, ser avaliadas em três momentos, correspondentes a
três tipos de avaliação complementares. A primeira é diagnóstica, feita antes do início
do planeamento da exposição com o objectivo detectar antecipadamente mais-valias que

28
FALK, John H. & DIERKING, Lynn D. – The Museum Experience. Washinton D.C.: Whalesback Books, 1997, p.3.
29
DEAN, David – Museum Exhibition: Teorie and Practice. London: Routledge, 1994, p.91.

18
poderão valorizar a exposição e promover a identificação de indicadores que permitam
avaliar, posteriormente, impactes sociais, culturais e educacionais; a segunda é a
avaliação formativa, realizada durante a fase do planeamento e produção da exposição
com o objectivo de dar a conhecer o ponto da situação da exposição, os seus avanços ou
atrasos, permitindo corrigir atempadamente os erros detectados; finalmente, a terceira é
a avaliação sumativa, levada a cabo na fase final da exposição, quando esta é aberta ao
público, com o intuito de verificar se a planificação foi bem sucedida e se as metas
foram atingidas. Não descorando o carácter indispensável dos dois últimos tipos de
avaliação, crê-se, no entanto, que é a primeira que deve ser, cada vez mais, privilegiada,
uma vez que é ela que permite construir programas adaptados à realidade de cada museu
e definir indicadores de avaliação.
Contudo numa correcta avaliação das exposições, para além de instrumentos
adequados e rigorosos, é também necessário definir, muito especificamente, as metas
que se pretendem atingir e os objectivos que conduzem ao alcance das mesmas. Não se
deve ignorar que a avaliação continua a ser, essencialmente, um processo utilizado para
testar e determinar se as metas e os objectivos estão a ser atingidos conforme o
planeado30.
Para isso, os objectivos de uma exposição dever ser mensuráveis e, sempre que
possível, quantitativos, no sentido de evitar a subjectividade e permitir a sua correcta
avaliação.
Neste sentido, Screven aponta três questões essenciais em torno das quais se devem
determinar os objectivos a avaliar numa exposição: saber qual o impacto que a
exposição deverá ter no visitante; como serão atingidos os objectivos e saber se as metas
e os objectivos traçados tem o impacto desejado junto do público31. Porém, a visão que
Screven tem de avaliação exige, antes de mais, um profundo conhecimento dos públicos
que visitam o museu.
A avaliação das exposições deve ter em atenção três áreas chave: o processo de
desenvolvimento, a eficácia e o público. De acordo com Ross Loomis, a avaliação não
deve centrar-se apenas nos aspectos do planeamento e desenvolvimento da exposição,

30
LOOMIS, Ross J.- Museum visitor evaluation: New tool for Manegement. Nashville:American Association for Stat and Local
History, 1987, p.203.
31
SCREVEN, C. G. – Some thoughts on evaluation, in “The Visitor and The Museum”. Washinton: American Association of
Museums, 1977, p. 31.

19
na comunicação e nos conteúdos educativos. Mais importante que isso, são os diferentes
públicos e as suas expectativas32.
Quando se pensa na avaliação de uma exposição, a primeira preocupação deverá ser a
reacção dos públicos. Dever-se-á ter em consideração se a exposição foi capaz de atrair
a atenção dos visitantes e, se o fez, se eles aprenderam algo; se a exposição
correspondeu às suas necessidades, se lhes forneceu repostas; se foi ao encontro dos
suas expectativas; se lhes proporcionou experiencias estimulantes e interessantes e,
finalmente, se lhes incutiu o desejo de regressar.
Não obstante, os diversos modos de avaliação exigem, por si só, um conjunto de meios
que permitam observar os processos e tirar conclusões. Alguns destes meios podem ser
escritos ou não escritos. Os tradicionais meios de avaliação são os inquéritos de
opiniões. São estes que fornecem uma reacção directa daquilo que se pretende avaliar.
Contudo, a construção destes inquéritos tem de ser precisa e simultaneamente
abrangente, de modo a não limitar as respostas dos inquiridos.
Mais recentemente, Paul Alter e Rita Ward defenderam o “modelo da mente”33, uma
nova forma de avaliação que privilegia os factores humanos como elementos de
reflexão atenta nas reacções e nos instintos dos visitantes para compreender se estes
estão a compreender correctamente a mensagem transmitida e se a exposição está, ou
não, a proporcionar-lhes uma boa experiencia.

32
LOOMIS, Ross J.- Museum visitor evaluation: New tool for Manegement. Nashville:American Association for Stat and Local
History, 1987, p.202.
33
ALTER, Paul; WARD, Rita Exhibits evaluation: taking account of humam factors, in “ The Educational Role of the Museum”.
London: Routledge,1994, p.229.

20
III. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO

1. A Casa do Infante – Evolução Histórica e Funcional

A Casa do Infante, considerada Monumento Nacional desde 1924, ocupa uma


extensa área da zona ribeirinha da cidade e os seus espaços edificados constituem a
“memória do antigo centro de serviços da coroa”34 na cidade do Porto. Para além do
que representa em si, este conjunto edificado é testemunho da arquitectura civil do
velho burgo e resulta em grande parte da “circunstância de a tradição reconhecer
também o local como berço do Infante D. Henrique, o grande impulsionador dos
descobrimentos portugueses durante o século XV.”35
A sua origem remonta aos tempos medievais quando, em 1325, D. Afonso IV
mandou construir um “almazém”36 régio contra a vontade do Bispo do Porto, o então
senhor da cidade. Nascia a Alfândega do Porto, local para onde eram encaminhadas
todas as mercadorias que chegavam à cidade com o objectivo de recolher os devidos
impostos. A estrutura primitiva da alfândega medieval era composta por um pátio
central e por duas altas torres. Os pisos mais altos da torre Norte funcionavam como
habitação.
Com o avançar dos tempos a cidade do Porto, graças à actuação de uma influente e
importante burguesia, enriqueceu e tornou-se num importante centro de comércio. A
afluência de riquezas à cidade contribuiu largamente para a “monumentalização do
edifício alfandegário”37. No século XV, D. João I mandou acrescentar-lhe um corpo
avançado, cujo pórtico rematava por um lintel com uma inscrição e um nicho onde
deveria estar a imagem da Virgem protectora das Alfândegas.
Nos inícios da época moderna, verificou-se a concentração, no edifício e nas suas
imediações, de outros importantes serviços da coroa tais como a Casa da Moeda, a
Contadoria da Fazenda e o Paço dos Tabeliães.
Porém, o AHMP encontra-se indissociavelmente ligado à figura do Infante
D. Henrique e à tradição, de que este terá nascido neste local, em 1394. Esta teoria,
embora não seja totalmente consensual, é conhecida pelo cronista Fernão Lopes e

34
REAL, Manuel Luís - Henrique, O Navegador. Porto: Inova, 1994, p.137.
35
REAL, Manuel Luís – A Casa do Infante, in “Como se vivia no tempo do Infante D. Henrique”. Suplemento do Jornal de
Noticias. 4 de Março de 1994, p.20.
36
REAL, Manuel Luís - Henrique, O Navegador. Porto: Inova, 1994, p.140.
37
Casa do Infante. CMP, Direcção Municipal de Cultura, Departamento de Arquivos, 2005.

21
sustentada em documentação existente no arquivo referente às despesas efectuadas pela
cidade na altura do baptizado do infante, em 1394. Simultaneamente, o facto da torre
Norte do edifício ser destinada, na altura, à habitação do almoxarife do rei contribui
para a credibilidade da teoria, uma vez que estes locais eram destinados ao acolhimento
da Corte quando esta circulava pelo país.
No período moderno, todo o conjunto da Alfândega e da Casa da Moeda sofreu
profundas alterações. A fachada avançou sobre a rua, até ao limite actual e foi demolida
a parte superior das torres. Na porta que liga o pátio central ao sector Leste do edifício
existe uma inscrição de 1677 que assinala essa obra. Ainda neste conjunto de
transformações do edifício, a casa da moeda medieval foi parcialmente demolida, muito
embora tenha reiniciado o seu funcionamento em 1688.
Os serviços alfandegários funcionaram no edifício até ao século XIX, altura em que
foram transferidos para o edifício de Miragaia. Depois disso, o edifício passou a ser
utilizada por particulares como armazém.
No século XX, em 1924, a Casa do Infante foi classificada como Monumento
Nacional e mais tarde, já nos anos 50, foi alvo de um grande restauro dirigido pela
DGEM. Nessa altura foi entregue à cidade e ocupada pelo GHC, organismo cultural que
nela desenvolveu vários eventos culturais.
Em 1980, com a extinção do GHC, foi criado o AHMP, com atribuições técnicas
mais explícitas38 e com o objectivo de guardar a documentação camarária desde o
período medieval. As necessidades deste novo serviço exigiram novas remodelações na
estrutura da Casa. Nessa altura, procedeu-se a uma grande intervenção arqueológica
com o objectivo de conhecer melhor a história do edifício. Às escavações arqueológicas
juntaram-se estudos documentais e arquitectónicos que permitiram um conhecimento
pormenorizado do local.
Os vestígios encontrados nas escavações foram, posteriormente, musealizados e
constituem um elemento essencial do projecto que deu origem à criação de um circuito
de visita museológico que ilustra o local desde o período romano, com recurso a
aplicações multimédia e a uma maqueta interactiva do Porto medieval.
Durante estas remodelações, dirigidas pelo arquitecto Nuno Tasso de Sousa,
aumentaram-se as áreas de depósito, aperfeiçoaram-se as condições de preservação dos
documentos, criaram-se laboratórios especializados, surgiram amplas salas de leitura e

38
REAL, Manuel Luís; MEIRELES, Maria Adelaide e RIBEIRO, Fernanda – Arquivística e Documentação de História Local in
“Actas do I Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas”, vol. II. Porto: APBAD, 1986.

22
nasceu uma boa área de extensão cultural. O seu objectivo era criar polivalências para o
edifício: monumento, arquivo, museu e espaço de fruição cultural com espaços de
exposição.
No seguimento das escavações arqueológicas, e após o estudo pormenorizado da
evolução do edifício, encontrou-se a justificação para a necessidade da criação de um
núcleo museológico no local, que se desenvolveu ao longo de duas fases. A primeira,
que decorreu entre 1991 e 2001, tratou essencialmente a memória da alfândega régia e
do nascimento do Infante D. Henrique, no contexto do Porto medieval. Entre 2001 e
2005 desenvolveu-se a segunda fase do projecto onde se explorou a informação
conhecida sobre a ocupação romana do espaço e sobre a casa da moeda, que funcionou
no mesmo local, e a intensificação do comércio na cidade na época moderna.
Inicialmente, a gestão do núcleo museológico estava sob a responsabilidade do
Departamento de Museus da CMP mas, desde Maio de 2005, passou para o DMA. É de
destacar que este foi o primeiro museu a ser certificado no âmbito da Norma NP EN
ISO 9001:2000, após a implementação do SGQ que abrangeu todo o DMA em 2006.

HORÁRIOS

Núcleo museológico
Terça a Sábado 10h00 às 12h30 (última admissão 12h00)
14h00 às 17h30 (última admissão 17h00)
Domingo 14h00 às 17h30 (última admissão 17h00)
Encerra às Segundas e feriados.

Arquivo Histórico e Biblioteca de Assuntos Portuenses


Segunda a Sexta 08h30 às 17h00 (última admissão 16h30)
CONTACTOS:
Rua da Alfândega, 10 Exposições Temporárias
4050 – 029 Porto Segunda a Sexta 10h00 às 12h00 / 14h00 às 17h00
Telefone: 222060400
Fax: 222060401 Sábado e Domingo 14h00 às 17h00 (abertura
E-mail: [email protected] condicionada)

Quadro 2 - Contactos e horário de funcionamento da Casa do Infante

2. A Estrutura orgânica da Instituição

O AHMP, mais vulgarmente conhecido como “Casa do Infante”, ocupa um lugar de


destaque no imaginário da cidade39 e é, actualmente, considerado um dos melhores
arquivos nacionais e até mesmo da Europa. Esta instituição, está inserida no DMA da
39
REAL, Manuel Luís – Intervenção Arqueológica na Casa do Infante, in “Actas do 1º Congresso de
Arqueologia Peninsular”. Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1995, p.505.

23
CMP, criado em 1996 e dirigida pelo Dr. Manuel Luís Real. A sua missão é promover a
organização, o acesso e a difusão da informação produzida ou recebida pelo Município
no exercício da sua actividade e materializada em documentos, conservados a título
temporário ou definitivo, em razão da sua natureza administrativa e do respectivo
interesse histórico-cultural.
Por razões de natureza institucional, os fundos do DMA distribuem-se e são geridos
em locais distintos: os chamados Arquivos Administrativos, o Arquivo Geral e Arquivo
Histórico.40 No anexo 1 encontram-se organigramas reflectem a estrutura e as
articulações que se estabelecem entre o DMA e o Arquivo Histórico do Porto.
Para obter um funcionamento organizado e coerente, o AHMP está dividido em
vários espaços e sectores. A Sala Memória é um espaço que se destina a evocar as
grandes figuras que estiveram ligadas às instituições que antecederam o Arquivo
Histórico como o Cartório da Cidade e, mais tarde, o GHC, tais como:. João Pedro
Ribeiro, Artur de Magalhães Basto, J. A. Pinto Ferreira e António Cruz, entre muitos
outros (desde logo o seu “sucessor”: Dr. Manuel Luís Real). Esta é também considerada
a “grande sala de visitas do Arquivo”, onde são recebidas entidades convidadas e altas
dignidades, como líderes políticos locais, centrais ou Chefes de Estado que visitam a
cidade e passam pelo Núcleo Museológico.
A Sala de Leitura é o espaço onde são recebidos os leitores que requisitam, e
consultam, a documentação existente nos depósitos da instituição. Para tal, esta sala
possui mobiliário adequado à circunstância, tal como mesas, cadeira computadores,
entre outros, e reúne os principais instrumentos de descrição dos fundos documentais do
arquivo, em formato papel ou em suporte informático, que permitem ao leitor aceder à
informação desejada. Para que este espaço funcione constantemente, estão escalados
permanentemente dois técnicos que deverão responder a todas as dúvidas e solicitações
dos seus utilizadores.
A Biblioteca de Assuntos Portuenses foi criada para dar apoio aos utilizadores e
investigadores do Arquivo, no sentido de promover os estudos sobre a história da cidade
do Porto e funciona em regime de livre acesso, com consulta presencial. Está
actualmente instalada no piso superior à Sala de Leitura e nela encontram-se obras que
abrangem, sobretudo, a História da Cidade do Porto, a sua configuração espacial, obras
de referência no domínio da Arquivística, Enciclopédias, obras de referência geral, entre

40
REAL, Manuel Luís – Arquivos Municipais em Portugal: Porto O sistema de arquivos da Câmara Municipal do Porto, in
“Separata de Arquivística”. Braga: Arquivo distrital de Braga, 1996, p. 11.

24
outras. Esta biblioteca possui, também, uma base de dados bibliográfica, a PORBASE, e
outras bases secundárias, como os índices da Revista “O Tripeiro”.O acompanhamento
aos leitores, tal como na sala de leitura, é feito por um técnico com formação superior.
O Serviço de Reprodução é responsável pela reprodução de documentos em diversos
formatos, microfilme, digitalização ou fotocópia, em função das necessidades dos
utilizadores. Este serviço está directamente articulado com a sala de leitura, onde o
utilizador preenche a requisição de reprodução.
No Sector de Documentos Especiais são tratados documentos que, pela sua natureza
tipológica, dimensão ou suporte exigem um “tratamento especial” da parte dos técnicos.
Este tratamento pressupõe a classificação, ordenação, descrição e acondicionamento de
documentos. É aqui que são tratados, por exemplo, registos de plantas de casas, mapas
de arruamentos, processos de obras.
No Sector de Arquivos e Colecções procede-se ao tratamento técnico de arquivos de
natureza pública e privada, bem como de colecções que exigem, pela sua natureza e
conteúdo, um cuidado diferente. Uma das operações mais usuais neste sector é a
descrição documental e à consequente produção de registos de autoridade arquivística.
O Sector de Gestão e Depósitos dedica-se ao controlo da instalação física dos
documentos, através do seu acondicionamento, da colocação de cotas e do
acautelamento das condições necessárias à sua conservação e preservação. Outra
vertente deste sector é a movimentação da documentação, quer para a sala de leitura,
quer para tratamento técnico pelos profissionais do arquivo.
O Sector de Conservação e Restauro possui um conjunto de equipamentos
disponíveis para a conservação preventiva da documentação, tais como: bancas de
lavagem e utensílios para agir sobre os pontos mais críticos dos documentos. Este sector
possui, também, uma sala de expurgo, onde se procede a tratamentos de documentos por
anóxia.
Finalmente, o Sector Cultural e Educativo é responsável pelo acompanhamento de
visitas ao Núcleo Museológico da Casa do Infante e pela realização de actividades de
extensão cultural e educativa junto de públicos diversos. As suas principais actividades
pedagógicas e didácticas, junto de públicos escolares, são oficinas, visitas e exposições
temporárias.

25
3. O Sector de Extensão Cultural e Educativa

O estágio realizado no AHMP desenvolveu-se no SECE, dirigido e coordenado pela


Dra. Daniela Ferreira. Consciente da necessidade de reequacionar a relação que
estabeleciam com os seus visitantes, o SECE criou, especificamente, um serviço
educativo dentro da orgânica do DMA. Este tem como principais objectivos atrair novos
públicos à instituição; dinamizar os vários serviços do AHMP, valorizar a relação entre
o edifício histórico, em que se encontra instalado, e a cidade; contribuir para a formação
ética, estética e cultural da comunidade envolvente; desenvolver o espírito de cidadania
de crianças e jovens e estabelecer parcerias com as associações culturais, recreativas e
sociais da área circundante.
De forma a incrementar os seus fins, o serviço educativo cria e implementa diversas
iniciativas que pretendem explorar temas relacionados com o património documental do
seu arquivo, com a Casa do Infante e o seu núcleo museológico e com a História,
vivências e características únicas da cidade do Porto.
Das várias actividades desenvolvidas pelo SECE destaca-se a realização de oficinas
pedagógicas, cujo objectivo é facilitar a compreensão da informação transmitida ao
mesmo tempo que se estimula a criatividade dos participantes.
Alguns exemplos de oficinas disponibilizadas pelo serviço educativo são: a Oficina
do Escrivão, a Oficina de Encadernação; Qual é a mensagem?; Fantasmas de papel;
Os Cerra-livros; e Arquivar é preciso. Estas oficinas foram pensadas e elaboradas no
sentido de desenvolver junto dos jovem o interesse pelos documentos e pela
arquivística, ao mesmo tempo que procura despertar neles a vontade de guardar e
conservar os registos da nossa história.
Não obstante, o serviço educativo disponibiliza outras oficinas mais relacionadas
com o núcleo museológico da casa do infante tais como: Fantoches e Companhia;
Brasões, Escudos e Emblemas; Os arquitectos somos nós; Safari na Casa do Infante e
Parabéns Infante!. Estas oficinas são já mais direccionadas para a exploração do
complexo edificado da Cada do Infante e para uma melhor compreensão da obra e da
vida do Infante D. Henrique.
Por outro lado, o SECE dinamiza, também, visitas orientadas à Casa do Infante que
visam apresentar aos visitantes diversas perspectivas de análise sobre a importância e
evolução do edifício e da estreita relação que este estabeleceu com a cidade ao longo

26
dos tempos; exposições temporárias, que procuram mostrar aos seus visitantes
diferentes áreas de construção do conhecimento interligadas com a cidade e com as suas
vivências e disponibiliza, ainda, sempre que pedido, um conjunto de exposições
itinerantes.
Finalmente, o SECE é, ainda, responsável por outras actividades como “Terça às
Três”, em que se realiza uma visita guiada à Casa do Infante que inclui o núcleo
museológico e a exposição temporária que estiver em apresentação, e “O Documento do
mês” que tem por objectivo apresentar à comunidade um ou mais documentos do acervo
documental do AHMP, relacionados com a história do arquivo ou da cidade do Porto.
Até ao momento, o serviço educativo tem desenvolvido actividades, sobretudo, com
o público pré-escolar, a partir dos três anos, com o público escolar do ensino básico,
embora pretenda cativar outros públicos, desenvolvendo projectos de continuidade com
outros grupos minoritários.

27
28
IV. ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS NO
ÂMBITO DO ESTÁGIO

As actividades desenvolvidas no âmbito do estágio, que tiveram início a 1 de


Outubro e se prolongaram até 31 de Maio, foram inicialmente acordadas entre a
orientadora de estágio, a Dra. Daniela Ferreira e a orientadora da Faculdade, a
Professora Doutora Alice Semedo. Após esta concordância, elaborou-se um projecto de
estágio que se encontra no anexo 3 deste relatório.
Nos quadros 3 e 4, encontram-se as principais directrizes e objectivos, inicialmente
definidos, que orientaram o estágio.

A- Apoiar no planeamento das actividades do SECE para 2009;


B- Apoiar na preparação de materiais para as oficinas programadas;
C- Apoiar na recepção e atendimento de grupos;
D- Apoiar e orientar visitas e oficinas pedagógicas;
E- Planificar a exposição comemorativa do 40º aniversário da
chegada do Homem à Lua: Pesquisas; Concepção; Divulgação e
Marketing; Serviço Educativo
F- Elaborar uma proposta de valorização do património da Casa do
Infante, de acordo com os diferentes públicos e faixas etárias
recebidos pelo SECE, com base nas pesquisas efectuadas durante
o tempo de permanência na instituição.

Quadro 3 Actividades a desenvolver no estágio

E - Planificar a exposição comemorativa do 40º aniversário da chegada


do Homem à Lua:
E1 – Pesquisas
E1.1 – Pesquisas bibliográficas
E 1.2 – Pesquisas em periódicos
E 1.3 – Pesquisas em fontes primárias da CMP
E2 - Concepção;
E2.1 – Definição do Conceito da Exposição
E2.2 – Definição das principais áreas temáticas da exposição
E2.3 – Identificação de Objectivos
E2.4 – Planeamento da exposição
E3 - Divulgação e Marketing;
E3.1 – Identificação dos principais públicos alvo
E3.2 – Identificação de instituições “chave” a contactar
E3.3 – Elaboração de proposta de comunicação
E4 - Serviço Educativo
E4.1 – Identificação dos principais públicos alvo
E4.2 – Elaboração de actividades para diferentes públicos
Quadro 4 - Especificação das actividades a desenvolver no ponto E

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1. A Integração no Local de Estágio

As várias actividades desenvolvidas no AHMP tiveram como objectivo a integração


num contexto laboral relacionado com a valorização do património existente na
instituição, planificar e conceber formas de mediação cultural.
Inicialmente, foi feita uma visita a todos os sectores do AHMP, no sentido de
compreender o trabalho que se efectua e os contributos de cada um para o cumprimento
dos objectivos e da missão da instituição. Na sequência desta visita, foram apresentados
alguns processos e instruções de trabalho que reguem o seu dia-a-dia e a estrutura
orgânica da instituição.
No sentido de compreender melhor o funcionamento do DMA, foi realizada, no mês
de Abril, uma visita ao Arquivo Geral da CMP e à UCD, onde foi apresentada a
documentação existente no arquivo, a sua organização e condições de consulta. Outros
aspectos que orientaram a visita foram a chamada de atenção para a necessidade de
desmaterializar o arquivo e os novos procedimentos de digitalização da documentação.
Para além destas visitas, na segunda semana de estágio, participou-se na acção de
formação “Alterações nas Normas ISO 9001 e 9004”. Integrada no SGQ, a Casa do
Infante mantém os seus funcionários actualizados nas normas da qualidade.
No decorrer das primeiras semanas de estágio, acompanhou-se a montagem da
exposição “Foi há 100 anos: o Tripeiro”, na qual o Dr. Manuel Real transmitiu um
conjunto de cuidados a ter com a montagem de uma exposição e alguns aspectos para
realçar peças e documentos expostos.
Ao longo do estágio, participou-se, ainda, em várias actividades do SECE da Casa do
Infante tais como: visitas orientadas ao núcleo museológico, exposições temporárias e
oficinas, todas elas enquadradas nos pontos B, C e D do projecto de estágio. Estas
desenrolaram-se mais intensivamente na semana anterior à Páscoa, altura em que se
desenvolveram várias oficinas integradas nesta época festiva. Neste contexto,
participou-se na dinamização das oficinas de Fantoches e de Papel Reciclado, assim
como no paddy papper “Conhecer o porto do Porto”. Estas oficinas foram sempre
precedidas de uma visita ao núcleo museológico ou à exposição temporária “Um Porto
Genuíno”, que continha um conjunto de fotografias da cidade de António Cossa.

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2. Metodologias e Organização da Pesquisa Documental

A maior parte do estágio centrou-se, no entanto, na planificação da exposição


comemorativa do 40º aniversário da chegada do Homem à Lua – “1969 – 21 de Julho -
Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua”. Esta estava inserida
no Plano Anual de Actividades do SECE e integrou-se nos pontos A, B e E do plano de
estágio.
Neste contexto, contribuiu-se para a planificação da exposição e auxiliou-se na
preparação dos materiais para a oficina que lhe está associada. No entanto, as
actividades desenvolvidas centraram-se, essencialmente, no ponto E do plano de estágio
que está relacionado com a planificação da exposição.
No ponto E1 do plano de estágio, relativo às pesquisas de informação,
consultaram-se diversas fontes primárias e secundárias com o objectivo de criar uma
contextualização em torno do período em estudo e de pontos essenciais, tais como: a
transição do poder de Salazar para Marcelo Caetano, assim como da chamada
Primavera Marcelista; a situação política e cultural do Porto nessa época e uma breve
contextualização da corrida espacial na década de sessenta que culminou em 1969 com
a chegada do Homem à Lua. Para este último aspecto, consultou-se bibliografia geral.
Dada a reduzida informação recolhida na bibliografia, as pesquisas sobre este tema
centraram-se, essencialmente, em sites da internet. Porém, é de ressalvar que na
consulta de todos os sites atendeu-se a critérios de selecção, procurando apenas
informação credível e segura, uma vez que no mundo da internet existem inúmeros sites
de opinião pessoal sem critérios de rigor científico. Privilegiaram-se, para este ponto os
sites da NASA, que se apresentam como os mais credíveis no estudo desta temática.
Numa primeira fase realizou-se uma pesquisa de informação bibliográfica no sentido
de elaborar uma primeira abordagem ao tema em estudo e para facilitar a subsequente
procura de fontes capazes de aprofundar a investigação científica sobre o tema.
Consultaram-se obras de carácter geral como Histórias de Portugal, Dicionários de
História e, em particular, o Dicionário de História do Estado Novo.
Na sequência destas pesquisas iniciais identificaram-se as questões e problemas que
guiaram as pesquisas subsequentes, assim como fontes capazes de responder a essas
mesmas questões.

31
Desde logo elegeu-se uma fonte de excelência: a imprensa da época. Estas fontes são
privilegiadas para conhecer o quotidiano de uma localidade pois revelam diariamente,
os principais acontecimentos e as suas vivências. De igual forma, esta fonte permite
também descortinar as reacções das populações a acontecimentos de destaque. Contudo,
é necessário ressalvar que os jornais, tal como todas as publicações da época, eram
visados pela censura que “cortava” tudo o que se considerava contra o regime e que o
pudesse ameaçar.
Após o levantamento das várias questões de partida e de uma primeira exploração de
fontes periódicas, constatou-se a insuficiência de dados para a realização de uma
abordagem exclusiva à chegada do Homem à Lua e à caracterização do Porto no mês de
Julho. Neste sentido, optou-se por alargar as pesquisas e caracterizar a cidade no ano de
1969. Esta alteração determinou o alargamento do próprio conceito da exposição. Se
inicialmente se pensou numa exposição em torno do dia 21 de Julho e da chegada do
Homem à Lua, após as primeiras pesquisas, o conceito da exposição estendeu-se às
vivências do Porto em todo o ano de 1969.
Na sequência desta mudança, foi necessário repensar as questões de partida e as
fontes a consultar. Conclui-se que não seria necessário colocar de lado as questões
inicialmente levantadas, mas antes explorar mais aprofundadamente a caracterização da
cidade nesse ano. As novas questões levantadas relacionavam-se com a identificação de
características sociais, culturais e urbanísticas que permitissem criar uma imagem da
cidade. De igual forma identificaram-se outros tipos de fontes capazes de caracterizar a
cidade, tais como relatórios de contas, projectos urbanísticos, mapas, fotografias, entre
outros. Nesta mesma fase identificou-se uma instituição produtora de informação a
privilegiar: a CMP.
A fase das pesquisas de informação desenvolveu-se em três momentos. O primeiro
centrou-se na pesquisa de informação bibliográfica, como já foi referido, o segundo em
pesquisas de periódicos e o último em pesquisas de fontes primárias da responsabilidade
da CMP.
No que se refere às pesquisas em periódicos, que se desenvolveram entre os meses de
Outubro e Março, podem destacar-se, ainda, as pesquisas realizadas na BPMP. Dada a
imensidão de jornais periódicos editados na época, centramos a nossa pesquisa em três
publicações diárias da época: O Comércio do Porto, o JN e o Diário do Norte. A opção
por estes três periódicos pautou-se pela sua origem de produção. Todos eles são jornais
do norte que destacam diária e preferencialmente os acontecimentos desta região do país

32
e em particular da cidade do Porto. Numa fase inicial consultou-se apenas o mês de
Julho, prestando particular atenção aos dias que antecederam e que se seguiram à
chegada do Homem à Lua. No entanto, posteriormente, estas consultas alargaram-se a
todo o ano de 1969.
Relativamente às pesquisas feitas em periódicos, é de destacar, ainda, a análise da
crónica “Radiografia da Cidade”, publicada no JN, que foi de extrema importância para
a caracterização da cidade nesse ano.
Na BPMP, também se consultou a revista FLAMA. Esta revista semanal de
actualidades era dirigida por António Reis a partir de Lisboa. Apesar de não ser uma
revista local do Porto, é, no entanto, um importante meio para compreender como foi
vista a exploração espacial no ano de 1969. Neste sentido, consultaram-se todas as
revistas desse ano, prestando-se especial atenção às notícias relativas à temática em
estudo.
Outro periódico consultado para pesquisa de informação sobre este tema foi a revista
O Tripeiro. Contudo, após várias pesquisas feitas nos índices da mesma e a consulta de
várias publicações de 1969 e de anos posteriores, não surgiu nenhuma referência ao
tema em estudo.
Na sequência das pesquisas em periódicos, partiu-se para a exploração de diversas
fontes primárias da autoria e responsabilidade da CMP tais como o Boletim Municipal,
que apresentava pequenos resumos das actas da câmara; o Boletim Cultural, que
compreendia vários artigos de interesse para a história da cidade; o orçamento para o
ano de 1969, e o relatório de contas do mesmo ano.
Destas quatro fontes, apenas a última revelou aspectos importantes e de destaque que
se realizaram no ano em que o Homem chega à Lua. O relatório de contas, para além de
apresentar os gastos da CMP, faz também uma breve contextualização inicial do que
mais importante se viveu nesse ano, assim como os principais acontecimentos que
marcaram a vida da cidade.
Um dos primeiros objectivos traçados para a compreensão da vida da cidade foi
identificar os acontecimentos que marcaram a cidade no ano em que o Homem chegou à
Lua. Os acontecimentos referenciados no Relatório de Contas de 1969 foram um
excelente ponto de partida e serviram para a elaboração de um quadro síntese dos
mesmos. Este completou-se, posteriormente, com acontecimentos recolhidos nos
“Recortes de Noticias da CMP”. Esta última fonte, tal como o nome indica, apresenta

33
recortes de notícias, de vários jornais, que estevam relacionados com a CMP e com a
cidade.
Nos quadros 5 e 6, construídos neste contexto, destacam-se os acontecimentos
recolhidos nas diversas fontes e que se relacionam com a exploração espacial, a vida
política da cidade, inaugurações, exposições, entregas de medalhas de honra da cidade,
acontecimentos gerais e aniversários comemorados em 1969.

Exposições e
Espaço Política Inaugurações
Consertos
- Recenseamento para as - Centro de - XVII exposição
eleições da Assembleia Formação canina
Janeiro Nacional; Acelerada do - IV Serie Internacional
- Visita do Presidente da Cerco do Porto; de Consertos
República; Sinfónicos;
Projecção dos
Filmes
Fevereiro “Projecto
Apolo” e
“Apolo 8”
- Piscinas do
- Morte do presidente da
Fluvial;
CMP (Pinheiro Torres)
Março - Primeiros
- Eleições para procurador
comboios
do Conselho do Porto;
eléctricos;
- Auto de posse do novo
- Exposição de arte
Governador Civil do Porto; - Jardim-escola
infantil;
- Posse do novo Presidente João de Deus;
- Exposição - O Porto
Abril da CMP (Nuno - Estádio Salazar
visto pelas crianças;
Vasconcelos Porto) (FNAT-
- Exposição de Filatelia
- Visita do Presidente da Ramalde);
Republica;
- Visita de Marcelo - Exposição de
Maio
Caetano Etnografrafia
- Exposição de
antiquárias
- Exposição de trajes e
Junho
costumes populares
- Exposição de
litografias
- Regresso do Bispo do
Julho
Porto
Agosto
Setembro - Metalo Mecânica
- Visita Presidente da
Republica
Outubro Porto Leixões
- Eleições para a
Assembleia Nacional
Novembro - Valores culturais
Filme
comentado
Dezembro - Pedro Alvares Cabral
sobre o Apolo
XI
Quadro 5 - Acontecimentos de destaque no Porto em 1969

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Medalhas Aniversários Comemorados
Acontecimentos
de Honra 100º 50º Outros
- Fundação da
- Festival dedicado às
Sociedade
Janeiro mães portuguesas;
Portuguesa de
- Mau tempo;
Antropologia
59º aniversário
O Primeiro O Primeiro
Fevereiro do Orfeão do
de Janeiro de Janeiro
Porto
Março - Cheias do Douro
51º aniversário
Jorge da
Abril - Dia do Turista da batalha de La
Fonseca
Lys
Maria José
Novais e - Feira do Livro 58º aniversário
Maio
Marcelo - Feira do Porto; da GNR
Caetano
- Festa da Primavera
- Festas São-Joaninas
Junho
- Concurso de
Cascatas
Julho
Ateneu
Agosto Comercial
do Porto
Setembro
- Tomada de Posse
Nascimento
do reitor e vice-reitor
Outubro de Marques
da Universidade do
da Silva
Porto
51º aniversário
Novembro do Armistício I
guerra mundial
Morte de
Fundação 1ª
Dezembro Arnaldo
Faculdade Letras
Gama
Quadro 6 - Acontecimentos de destaque no Porto em 1969

Outras fontes de extrema importância que se consultaram para a concepção de uma


exposição, foram as fotografias da CMP que se encontram no AHMP. Inicialmente,
elaboram-se pesquisas numa base de dados da instituição, organizando-se as fotografias
de 1969 por ordem temática. O quadro 7 apresenta a organização e divisão das fotos
identificadas nas bases de dados da instituição. Para a organização desta fonte,
criaram-se temas e subtemas que poderiam ser interessantes para ilustrar o quotidiano
da cidade, a evolução da mesma e os principais acontecimentos do ano de 1969.
Inicialmente, organizaram-se as fotografias em três grandes áreas temáticas: a
cidade, a vida cultural e a vida política. Porém, pela grande quantidade de fotografias
criaram-se mais três grupos. A visita de Marcelo Caetano, a morte do presidente da
CMP, Pinheiro Torres, e o Dia do Turista. Estes aspectos, apesar de se relacionarem

35
com a vida política da cidade, mereceram um grande destaque na época. Por essa razão
considerou-se que seria relevante destacá-los isoladamente.
O Dia do Turista foi, largamente, fotografado nesse ano pois era muito festejado e
tinha um grande impacto junto das populações. Por este motivo, também se destacou
separadamente da vida cultural

Temas Destaques
Bairros, Casas, Escolas, Ruas, Demolições,
Cidade
Construções, Vistas da cidade
Cultura Congressos, Cerimónias, Conferencias, Exposições
Tomadas de Posse, Entregas de medalhas,
Politica
Visitas à cidade, Sessões da CMP,
Visita de Marcelo Caetano ao Porto
Carro acidentado e funeral do Presidente da CMP Pinheiro Torres
Dia do Turista
Quadro 7 - Organização temática das fotografias de 1969 exixtentes no AHMP

Depois desta primeira recolha de informação sobre o tema, definiu-se mais


concretamente o conceito da exposição, embora este tenha variado ao longo dos
primeiros meses de estágio. Inicialmente, o ponto principal da exposição seria a chegada
do Homem à Lua e os acontecimentos de destaque na cidade no mês de Julho de 1969.
Contudo, uma vez que existia muito pouca informação relativa a este tema e neste
período de tempo, concluiu-se que seria mais pertinente alargar o período temporal para
todo o ano de 1969.

3. O Conceito e os Objectivos da Exposição

A definição do conceito de uma exposição deve estar intimamente ligada com os


objectivos da mesma e com os objectivos da própria instituição. Neste sentido, partiu-se
de uma efeméride para revelar o quotidiano da cidade do Porto no ano de 1969, ao
mesmo tempo que se procurou dar visibilidade a documentação relativa ao tema que se
encontra guardada no Arquivo Histórico.
A exposição “1969 – 21 de Julho - Evocações portuenses a propósito da chegada do
Homem à Lua” tem uma vertente, essencialmente documental. Partindo da
comemoração do 40º aniversário da chegada do Homem à Lua, pretendeu-se recuar no
tempo e revelar os vários aspectos da cidade do Porto e do seu quotidiano na altura em
que a Humanidade realizou uma das mais espantosas façanhas do século XX.

36
Para além de dar a conhecer algumas reacções da cidade à chegada do Homem à Lua
e de revelar a vida e as características da cidade em 1969, esta exposição tem ainda
como objectivos:
- Valorizar o património documental existente no AHMP;
- Dinamizar o espaço de exposições do AHMP;
- Atrair novos públicos à instituição;
- Desenvolver actividades junto dos públicos para despertar a sua consciência cívica;
- Incutir junto dos vários públicos a necessidade de preservar os vários tipos de
património da cidade, assim como as memórias das suas vivências.

4. O Regresso à Pesquisa Documental

No final de Novembro de 2008, realizou-se uma primeira reunião com o Dr. Manuel
Real, com a Dra. Helena Gil e com a Dra. Daniela Ferreira para fazer um ponto da
situação do estágio e das novas linhas a seguir na exposição.
Esta reunião foi importante pois delinearam-se e definiram-se os temas principais a
abordar na exposição e que orientaram as pesquisas. No final desta reunião concluiu-se
que as pesquisas realizadas foram pertinentes mas privilegiaram-se apenas alguns
aspectos gerais e que não foi prestada muita atenção a outros que são de grande
interesse, como a questão do quotidiano na cidade. É de ressalvar, no entanto, que a
informação que não mereceu destaque na primeira selecção estava contemplada nas
sínteses elaboradas.
Definiu-se nesta reunião que a exposição teria três áreas essenciais: uma primeira
sobre a chegada do Homem à Lua e sobre a corrida espacial; uma segunda sobre
vivências na cidade do Porto no ano de 1969 e uma última sobre os acontecimentos
importantes que ocorreram a 21 de Julho ao longo dos anos na História da cidade do
Porto.
Já no mês de Dezembro, e seguindo as orientações do Dr. Manuel Real,
consultaram-se novas fontes primárias existentes na Casa do Infante como o Estudo de
Renovação Urbana do Barredo, de 1969, da autoria do Arquitecto Távora; o Anuário do
Porto de Santos Viseu de 1969 e o Plano Director da Cidade do Porto de 1962.
As informações recolhidas nestas novas fontes compararam-se com as informações
já recolhidas e procedeu-se à definição mais concreta do conceito da exposição.

37
Com o avançar das pesquisas, a área que apresentou mais dificuldades foi a terceira
que pretendia encontrar acontecimentos importantes que tivesse ocorrido a 21 de Julho,
no Porto, ao longo da História.
Para esta temática pesquisaram-se acontecimentos nas crónicas “Aconteceu à 50
anos” e “Efemérides Portuenses” da revista O Tripeiro. Por orientação da instituição,
consultaram-se, também, licenças de obras concedidas a 21 de Julho desde o início do
século XX. Porém, os aspectos encontrados nesta fonte não se mostraram relevantes
para a exposição apesar de alguns apresentarem-se com qualidade estética. Folheram-se,
também, algumas cronologias gerais e a Cronologia do Turismo Português do Século
XX, mas não se encontraram acontecimentos históricos nesta data. Ainda neste sentido,
consultaram-se as actas de vereação existentes no AHMP e encontraram-se duas actas
com esta data.
Após estas pesquisas, elaborou-se o mapa conceptual que se segue, que permitiu
definir uma primeira linha de orientação para o desenho da exposição.
TV 1as Páginas
Guerra Fria

Imprensa Anúncios
Conquista Espacial Divulgação

Notícias

Conferências
Chegada à
Lua
Espectáculos Exposições

“1969:21 de Julho
Evocações portuenses a propósito da
chegada do Homem à Lua”
Cultura

S. João
Iluminações
Tradição de Natal
Porto Dia do Turista
1969

Cheias
Problemas Trânsito
Radiografia Anuário
Habitação
Renovação
Ribeira

Avanços Bairros
Porto
21/07

Comboios Porto de Vias de


Eléctricos Leixões Comunicação

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No inicio do mês de Abril voltou-se a fazer uma nova reunião com o Dr. Manuel
Real, a Dra. Helena Gil e a Dra. Daniela Ferreira para fazer um ponto de situação da
investigação já elaborada até ao momento e para se definirem as partes que
constituiriam a exposição e os títulos dos vários painéis.
Estabeleceu-se que a primeira parte da exposição contemplaria informação sobre a
corrida espacial e a chegada do Homem à Lua e que seria exposta sob a forma de uma
apresentação multimédia e por um painel informativo sobre a conquista do espaço até à
chegada do Homem à Lua, no ano de 1969. Propôs-se, também, a possibilidade de
adquirir o Telejornal do dia 21 de Julho de 1969 da RTP, que seria uma grande mais-
valia para a compreensão da percepção do acontecimento na época, mas tal hipótese foi
colocada de lado, dados os gastos financeiros que esta opção exigia. Abordou-se,
igualmente, a questão da possibilidade da utilização de vídeos e imagens existentes na
internet. Esta hipótese mostrou-se viável desde que se respeitassem os direitos de autor.
Ainda nesta parte da exposição estariam presentes painéis sobre a vivência desse
acontecimento no Porto reproduzindo-se páginas de jornal, notícias de eventos
relacionados com o tema e anúncios inspirados na chegada do Homem à Lua.
A segunda parte da exposição destinaria-se à caracterização da cidade do Porto no
ano de 1969 e seria feita através de vários painéis temáticos e sucessivos. Nesta reunião
estabeleceram-se logo os títulos para esses mesmos painéis, que seriam:

1 – O Porto em 1969 – Um anuário da cidade


2 – O Porto em 1969 – Imagens da CMP
3 – O Porto em 1969 – Uma Radiografia
4 – Porto: uma cidade com problemas;
5 – Porto: uma cidade em renovação
6 – Porto: uma cidade a despertar para o futuro
7 – Porto: uma cidade com tradições
8 – Porto: uma cidade em transformação cultural
9 – Porto: uma cidade contestatária
10 – Três acontecimentos marcantes: A morte do presidente Pinheiro Torres, a
visita do presidente do conselho Marcelo Caetano e o Regresso do Bispo do Porto.

Nesta reunião concluiu-se que as pesquisas realizadas para as duas primeiras partes
da exposição foram pertinentes, embora se pudessem alargar com a exploração dos

39
fundos do Teatro Experimental do Porto, do Cineclube, do Teatro Rivoli e em panfletos
da contestação estudantil de Maio de 1969 na BPMP.
Nesta reunião voltou-se a insistir na necessidade de uma pesquisa mais exaustiva em
busca de acontecimentos ou factos importantes para a História do Porto ocorridos a 21
de Julho. Neste sentido, o Dr. Manuel Real sugeriu como pistas de pesquisas:

- Consultar o Catálogo de Plantas da cidade existentes no AHMP no sentido de


encontrar alguma publicada a 21 de Julho;
- Consultar as licenças de obras existentes no AHMP no sentido de identificar
autorizações concedidas a 21 de Julho;
- Consultar as actas de vereação, desde o século XIII até ao século XX e tomar
conhecimento das decisões tomadas a 21 de Julho;
- Consultar catálogos de várias exposições comemorativas para identificar
acontecimentos e documentação que contenha a data 21 de Julho;
- Consultar os vários índices, cronológicos e temáticos, existentes no AHMP e
identificar documentação que tenha sido redigida a 21 de Julho.

Outras questões que se levantaram nesta reunião foram a criação de parcerias para
alargar o âmbito da exposição e a construção de um catálogo da exposição. A primeira
ficou de ser estuda mas não avançou. A segunda, dada a falta de financiamento para o
efeito, foi rejeitada. Garantiu-se apenas a publicação de um pequeno roteiro da
exposição. Perante isto, levantou-se a hipótese de pedir patrocínios para a publicação do
catálogo, que foi aceite desde que existisse um modelo do catálogo completo até ao
final do mês de Abril. Dado o atraso da investigação relativamente ao último ponto da
exposição referente à data 21 de Julho ao longo da História, não foi possível optar por
esta solução.
Com o intuito de se construir um catálogo da exposição e de se reduzir ao máximo os
gastos da instituição com o mesmo, propôs-se a elaboração de um catálogo digital que
seria produzido na própria instituição à medida das necessidades e mediante as vendas
efectuadas ao longo da exposição. Esta proposta foi aceite e catálogo digital concebeu-
se conjuntamente com outros técnicos da instituição ligados à área da informática.

40
5. A Estrutura da Exposição e o Plano Interpretativo

Uma exposição deve ter sempre um a linha lógica e coerente capaz de transmitir
correctamente a sua mensagem.
Como já foi anteriormente referido, o tema central de exposição “1969: 21 de Julho
– Evocações Portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua” é a comemoração
do quadragésimo aniversário deste grande feito da Humanidade. Contudo, este tema
central teve de ser adequado aos objectivos quer da exposição quer da instituição.
Para conseguir aliar estes dois aspectos, explorou-se a data 21 de Julho de 1969.
Partindo do ano em que o Homem chega à Lua, 1969, explorou-se o quotidiano
portuense e caracterizou-se a cidade. Por outro lado, explorou-se a data 21 de Julho no
sentido de se seleccionar documentos do AHMP que fossem capazes de revelar
episódios da história portuense e que, por coincidência, também ocorreram nesta data.
Para estruturar a exposição definiram-se três áreas temáticas, antecedidas de uma
primeira introdução, cujo objectivo é enquadrar os visitantes no contexto da conquista
espacial e da rivalidade entre EUA e URSS, no âmbito da guerra fria, para compreender
os sucessivos avanços que permitiram a chegada do Homem à Lua. Por isso, para além
de um primeiro painel referente à guerra fria, optou-se pela construção de uma pequena
apresentação multimédia relativa à evolução da conquista espacial até à grande façanha
americana. Esta opção prendeu-se não só com questões de animação, e de criar uma
maior interacção com o público, mas também com uma questão logística. A referência
de todos os avanços da conquista do espaço em painéis exigiria um grande espaço na
sala e iria passar a ideia que esse era o grande foco de exposição.
A primeira parte da exposição procura, ainda, dar a conhecer como este grande
acontecimento foi conhecido na cidade, como foi percepcionado pelos habitantes e de
que forma se manifestou no seu quotidiano.
Para transmitir a forma como o Porto vivenciou e percepcionou a chegada do
Homem à Lua, recorreu-se a fontes impressas periódicas. Em três painéis apresentam-se
fotografias captadas na Lua que surgiram em edições especiais, as primeiras páginas de
alguns jornais diários e alguns anúncios contendo publicidade associada ao grande
avanço tecnológico conseguido pelos americanos.
A segunda parte da exposição tem como objectivo caracterizar a vida do Porto nesse
ano. Para tal, reproduziram-se alguns números da crónica “Radiografia da Cidade” que,

41
tal como o próprio nome indica, apresenta uma visão alargada da cidade, dos seus
problemas, da sua renovação e dos seus avanços para o futuro.
A caracterização da cidade prossegue-se com a presentação da cidade como um local
em transformação cultural mas que mantém as suas tradições, assim como um local
onde os estudantes universitários começam a rebelar-se contra as injustiças e a falta de
liberdade de expressão, impostas pelo Estado Novo.
Finalmente, a terceira, e última parte da exposição, já mais documental apresenta um
conjunto de documentos datados de 21 de Julho.
O esquema que se segue apresenta de forma sumária a estrutura da exposição.

Título: 1969 – 21 de Julho


Evocações portuenses a propósito da
chegada do Homem à Lua

Introdução/Entrada

A Guerra Fria: Rivalidade entre EUA e URSS

Apresentação Multimédia sobre a Corrida


Espacial e a chegada do Homem à Lua

Reacção do Porto à Porto em 1969 21 de Julho na História


chegada do Homem à Portuense
Lua - um Anuário da Cidade
- três acontecimentos marcantes - documentos manuscritos
- imagens da chegada à Lua - uma radiografia da Cidade - documentos iconográficos
- páginas de jornais que - uma Cidade com problemas - cartazes
anuncia a chegada - uma Cidade em renovação
- anúncios alusivos à Lua - uma Cidade a despertar para o
futuro
- uma Cidade em transformação
cultural
- uma Cidade com tradição
- uma Cidade contestatária

Experiências a proporcionar

Observação de Observação Ser um Recordar e


apresentação multimédia de Painéis astronauta registar memórias

Ilustração 6 - Estrutura esquemática da Exposição

42
No entanto, não é possível estruturar-se uma exposição sem definir as mensagens que
se pretendem transmitir. Não se pode esquecer que estas têm como função comunicar
ideias, conteúdos e valores ao mesmo tempo que proporcionam novas experiências.
Para desenvolver-se uma comunicação eficaz é necessário estabelecer conteúdos a
transmitir recursos para o fazer. Neste sentido, após a definição dos principais temas e
subtemas da exposição criou-se um plano interpretativo que define os objectivos
comunicacionais e os recursos mais apropriados para o fazer.

Objectivos comunicacionais/
Tema Subtema Recursos
Conteúdos
Enquadrar a corrida espacial no Painel com texto informativo e
Guerra Fria
contexto da Guerra Fria com uma caricatura
Apresentação multimédia com
Identificar diversas fases e momentos
sobre o imaginário e factos que
A corrida espacial da conquista do Espaço que conduziram
conduziram à conquista espacial
Chegada do o Homem à Lua
e à chegada à Lua
Homem à
Forma como a Reconhecer jornais e revistas como Painel com texto informativo e
Lua
notícia chega ao meios de informação que permitiram o com reproduções de primeiras
Porto conhecimento da chegada à Lua páginas jornais
Reconhecer nos anúncios o entusiasmo
Painel com anúncios
Reacção da cidade e o interesse da cidade no grande passo
publicitários da época
da Humanidade
Um Anuário da Identificar estruturas culturais e Painel com texto informativo e
Cidade administrativas da Cidade reproduções de Anuários
Identificar o regresso do Bispo do
Três Porto, a visita de Marcelo Caetano e a
Painel informativo com
acontecimentos morte do Presidente da Câmara
fotografias relativas ao tema
marcantes Pinheiro Torres como os
acontecimentos marcantes de 1969
Reconhecer as cheias, o mau tempo, a
Uma Cidade com falta de estacionamento e os acidentes Painel com texto informativo e
problemas automobilísticos como problemas que com fotografias da época
afectavam a cidade
Reconhecer a construção de parques de
estacionamento, de estradas, de
Uma. Cidade em Painel com texto informativo e
O Porto em paragens de autocarros cobertas e de
renovação com fotografias da época
novos bairros como forma de
1969
ultrapassar os problemas da cidade
Reconhecer a chegada dos comboios
Uma Cidade a eléctricos, a construção do terminal de
Painel com texto informativo e
despertar para o Leixões e a projecção de uma nova
com fotografias da época
futuro ponte sobre o Rio Douro como factores
de avanço da cidade
Uma Cidade em
Identificar teatros, espectáculos e filmes Painel com texto informativo e
transformação
que animavam a cidade com fotografias da época
cultural
Identificar as festas são-joaninas, o dia
Uma Cidade com Painel com texto informativo e
do turista e as iluminações de natal
tradição com fotografias da época
como tradições da Cidade
Reconhecer a crise académica de 1969 Painéis com texto informativo e
Uma Cidade
como um momento de contestação à comunicados da Associação
contestatária
Ditadura Académica Do Porto
Exposição de vários documentos
21 de Julho manuscritos, licenças de obras e
Documentação de Identificar documentação existente no
na História projectos arquitectónicos,
21 de Julho AHMP
Portuense cartazes e outros documentos
efémeros.
Quadro 8 Plano interpretativo para a exposição

43
6. A Disposição da Exposição

Após a definição dos conteúdos centrais, dos principais títulos e do plano


interpretativo, desenhou-se a estrutura da exposição tendo em conta o espaço
disponível. Ao mesmo tempo estabeleceu-se o circuito a percorrer.
Na ilustração 7 encontra-se a planta da sala de exposições temporárias da Casa do
Infante. Nela pode observar-se os painéis disponíveis e os utilizados, que se encontram
legendados, assim como o circuito estabelecido para a exposição “1969: 21 de Julho –
Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua”. Na ilustração 8 são
apresentadas algumas fotografias da exposição.

3
4 5 6
2
1
7

21 20 8
19
18
17
9

16

12 11 10
15 14 13

Painéis Suspensos

Circuito da Exposição

Legenda:
1 - Introdução 9 – Uma radiografia da cidade 15 – Uma cidade contestatária
2 – Rivalidade EUA/URSS 10 – Uma cidade com problemas 16 – Astronautas
3 – Apresentação multimédia 11 – Uma cidade em renovação 17 – Registo de memórias
4 – Imagens na Lua 12 – Uma cidade a despertar para o 18 – 21 de Julho
5 – Notícias da chegada à Lua futuro 19 – Vitrinas com documentos
6 – A Lua nos Anúncios 13 – Uma cidade em transformação 20 – Vitrinas com documentos
7 – Um anuário da cidade cultural 21 – Ficha técnica
8 – 3 Acontecimentos marcantes 14 – Uma cidade com tradição

Ilustração 7 - Planta da sala de exposições com identificação dos painéis e do circuito

44
Ilustração 8 - Fotografias da exposição localizadas numa planta da sala de exposições

45
7. Difusão da Informação: Materiais complementares da Exposição

Após a estruturação da exposição e a construção do plano interpretativo, procedeu-se


à redacção de textos para várias formas de comunicação e difusão da informação.
Em primeiro lugar, redigiu-se um pequeno texto de apresentação da exposição para a
sua divulgação junto dos diversos públicos. Procurou-se redigir um texto curto
atractivo, capaz de despertar o interesse dos públicos. O texto que se segue foi difundido
na revista IPorto assim como noutras revistas nacionais.

A propósito da comemoração do 40.º aniversário da chegada


do Homem à Lua, o Departamento de Arquivos da CMP parte à
descoberta do Porto de 1969. As várias facetas da cidade são
exploradas nesta exposição, para revelar o quotidiano da Invicta
na altura em que a Humanidade realiza uma das mais espantosas
façanhas do século XX.

No decorrer do estágio procedeu-se, também, à redacção de textos informativos para


os painéis que compõe a exposição. Procurou-se escrever textos curtos e simples,
através dos quais tentou-se colmatar a falta de documentos iconográficos capazes de
ilustrar alguns conteúdos importantes.
A concepção dos painéis constantes na exposição “1969: 21 de Julho – Evocações
Portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua” foi um trabalho de equipa entre
vários elementos da instituição. Nesta fase, identificaram-se títulos e subtítulo,
redigiram-se textos informativos e seleccionaram-se documentos a inserir nos painéis.
Estas informações foram transmitidas a designers que desenharam os painéis.
Para além da selecção de informação a ser incluída nos painéis, procedeu-se,
também, à concepção de outros meios de comunicação de informação. Um deles foi a
criação de uma apresentação multimédia.
Com este fim, desenhou-se um storybord que compreendia a sequência da
apresentação, textos, imagens e filmes a incluir. Mais uma vez, desenvolveu-se um
trabalho de equipa pois, na sequência da concepção do storybord, a apresentação foi
construída por um técnico de informática.
Esta cooperação com técnicos de informática foi igualmente relevante na construção
do catálogo digital da exposição. Elaborou-se um novo storybord com a estrutura do
catálogo e as hiperligações desejadas. Conjuntamente, entregaram-se os textos de

46
desenvolvimento, as imagens e o jogo a inserir no CD-ROM. Os textos contemplados
no catálogo são muito semelhantes aos textos do guião da exposição.
Para tornar o catálogo mais atractivo, propôs-se a inserção de uma visita virtual da
exposição com a apresentação dos diversos painéis da exposição e criaram-se dois jogos
para os mais jovens: um de associações e um de escolha múltipla. Por falta de tempo,
apenas se inseriu no catálogo metade do primeiro jogo.
Finalmente, redigiram-se os textos para o roteiro da exposição. Nele explica-se o
conceito da exposição e descreve-se sumariamente cada uma das três partes que
constituem a exposição.
Nos quadros que se seguem apresentam-se os textos que constituem o catálogo e o
roteiro da exposição, elaborados no decorrer do estágio.

Títulos Textos
A chegada do Homem à Lua constituiu um momento marcante na História do
mundo ocidental. No ano em que se comemora o 40º aniversário deste acontecimento,
a Casa do Infante decidiu comemorar esta efeméride com a realização de uma
exposição que pretende recuar no tempo e revelar os vários aspectos da cidade do
1969:21 de
Porto e do seu quotidiano na altura em que a Humanidade realiza uma das mais
Julho –
espantosas façanhas do século XX.
Evocações
O percurso da exposição desenrola-se em volta de três áreas temáticas: A chegada
Portuenses sobre
do Homem à Lua; O Porto no ano em que o Homem chega à Lua e 21 de Julho na
a chegada do
História Portuense.
Homem à Lua
Esta exposição visa proporcionar diversas experiências visuais e interactivas ao
mesmo tempo que permite explorar, conhecer ou recordar o Porto e o grande passo da
Humanidade. No final da exposição os visitantes podem ainda tornar-se nos
astronautas do Apolo XI ou expor as suas memórias deste acontecimento Histórico.
A abrir a exposição, o visitante poderá visualizar uma pequena apresentação
A Chegada do
multimédia sobre a corrida e a conquista espacial. Junto a esta, encontrará um
Homem à Lua
conjunto de imagens da época e primeiras páginas de jornais que ilustram a
receptividade do acontecimento no Porto. No final, verá um conjunto de anúncios
publicitários que aproveitaram o grande passo da humanidade para cativar as pessoas.
Na segunda parte da exposição, o visitante poderá observar uma série de painéis
O Porto no ano informativos com recortes de notícias da época e que ilustram a cidade. Começando
em que o Homem com um anuário da cidade, seguido de três acontecimentos marcantes para a cidade e
Chega à Lua culminando numa radiografia da cidade. Em continuação são apresentados os
problemas da cidade, a renovação e o despertar para o futuro da mesma. Ainda nesta
parte da exposição, encontrará uma cidade de tradição, em renovação cultural e como
sempre contestatária.
21 de Julho na Ao longo desta última parte da exposição, o visitante poderá observar uma série de
História documentos e descobrir um conjunto de factos ocorridos no Porto a 21 de Julho ao
Portuense longo da sua História. Coincidências históricas que o levarão a descobrir episódios
curiosos e até mesmo marcantes para a cidade.
Quadro 9 - Textos sugeridos para o roteiro da exposição

47
Tema Título Textos
Há 40 anos o Homem chegou à Lua
1969 – A preparação de um grande feito...
Introdução
21 de Julho - “Um pequeno passo para o homem, um gigantesco passo para a
Humanidade” - Neil Armstrong
No final da década de 50 do século XX, a Guerra Fria, período de grande tenção
Chegada do Homem à Lua

militar entre EUA e URSS, dois blocos ideológicos distintos, despoletou não só a
corrida aos armamentos mas também a corrida e conquista espacial.
Rivalidade
EUA/URSS
A rivalidade entre os EUA e a URSS abriu o caminho para a Lua.
“Acredito que esta nação [EUA] devia comprometer-se a atingir o objectivo de
colocar um homem na lua e faze-lo regressar em segurança à Terra entes do final desta
década” Presidente Kennedy, 1962
No Porto, a chegada do Homem à Lua foi vista pela televisão e acompanhada na
Notícias da imprensa diária. As várias etapas da missão Apolo 11, desde o seu lançamento até ao
chegada à Lua regresso dos astronautas, foram relatadas nas primeiras páginas dos jornais.
As edições especiais esgotaram-se.
Embora efémero, o fenómeno da chegada à Lua cativou os portugueses e até os
Anúncio sobre
publicitários da época. Grandes empresas associam os seus produtos e serviços à
a Lua
chegada à lua graças à popularidade deste feito histórico.
Reunindo diversas informações gerais, os anuários permitiam conhecer a cidade e
eram instrumentos úteis e de grande auxilio no dia-a-dia dos portuenses. Identificavam
Um Anuário da
Cidade
os principais serviços públicos, da assistência à justiça e das comunicações à cultura,
assim como compilavam todos os estabelecimentos comerciais e industriais da cidade
e do concelho do Porto.
No panorama de 1969, a cidade do Porto é marcada por três acontecimentos de
destaque.
O primeiro foi trágico e deixou a cidade de luto. Num terrível acidente de automóvel,
morreu o presidente da CMP, o Dr. Pinheiro Torres e o seu motorista.
Três O segundo deixou a cidade em polvorosa. A visita de Marcelo Caetano ao Porto
acontecimentos entusiasmou a cidade que acorreu à Avenida dos Aliados para saudar o novo
marcantes Presidente do Conselho.
O terceiro foi o regresso do Bispo do Porto que se encontrava exilado desde 1958 por
discordâncias com o regime de Salazar. Este último ocorria no contexto da primavera
marcelista, que parecia demonstrar uma abertura política que iludia os portugueses e
que iria terminar em breve.
A Radiografia da Cidade foi uma crónica publicada no Jornal de Notícias no inicio do
Uma ano de 1969. Tendo por base o plano Director da Cidade, e tal como o próprio nome
O Porto em 1969

Radiografia da indica, esta crónica fez uma caracterização exaustiva e pormenorizada da cidade,
Cidade apresentando as suas maiores valências e os aspectos que necessitavam uma atenção
mais urgente.
No ano em que o Homem chega à Lua, o Porto continua a enfrentar problemas
naturais. O mau tempo causava quedas de árvores que perturbavam o quotidiano das
pessoas e as águas do rio continuavam a invadir as margens portuenses.
Outro problema enfrentado pela cidade era a questão da habitação e da insalubridade
Uma Cidade no centro da cidade. O crescimento desenfreado continuava a reflectir-se na
com problemas proliferação das tradicionais ilhas, fileiras de pequenas casas das classes mais
desfavorecidas, situadas nas traseiras dos edifícios das classes médias.
Contudo o grande problema da cidade no final da década de sessenta era o transito e o
excesso de carros no centro da cidade que gerava acidentes diariamente e que
dificultada a circulação das pessoas.
No sentido de melhorar o dia-a-dia dos portuenses que se deslocavam de transportes
públicos, e para os proteger das condições atmosféricas, começaram a difundir-se pela
cidade os primeiros abrigos nas paragens dos autocarros.
Para tentar solucionar o problema do excesso de carros no interior da cidade,
Uma. Cidade começam a construir-se passagens subterrâneas junto da estação de São bento e
em renovação começam-se a construir os primeiros parques de estacionamento em altura, como o
Silo Auto que continua, ainda hoje, a ser um dos elementos de referência da cidade.
Já no sentido de resolver os problemas de habitação, começam a construir-se os novos
bairros habitacionais de S. João de deus e da Pasteleira. Ao mesmo tempo, os novos
edifícios começam a crescer em direcção aos céus.

48
Não obstante todos os problemas que afectavam o quotidiano da cidade, a cidade
continuava a evoluir e, com pequenos passos, avançava para o futuro. Em 1969, os
Uma Cidade a primeiros comboios eléctricos chegavam à cidade, estabelecendo a ligação entre
despertar para S.Bento e Campanhã.
o futuro A inauguração de um novo terminal no porto de Leixões anunciava também o desejo
de evoluir para o futuro, assim como a idealização de uma nova ponte sobre o rio
douro, muito embora esta nunca tenha chegado a sair do papel.
Em 1969, o Porto é uma cidade atenta à cultura, dispondo de vários locais para a
realização de espectáculos.
Apresentando um vasto programa cultural, destacavam-se eventos como a IV Serie
Internacional de Concertos, temporadas populares de ópera, e exposições científicas,
tecnológicas e de arte.
Uma Cidade A exploração espacial e a chegada do Homem à Lua também não passou despercebida
em no pano cultural portuense. Na BPMP e no Ateneu Comercial do Porto, que
transformação comemorava o seu centésimo aniversário nesse ano, projectaram-se vários filmes
cultural sobre a exploração espacial tais como “Projecto Apolo” e “Apolo 8 – Journey arrond
the moon”, assim como o documentário “Apolo XI” sobre a primeira exploração
Lunar.
No teatro Sá da Bandeira, passava a revista Ri-te-Ri-te na Lua, alusiva à chegada do
Homem à lua e no Rivoli, no dia em que se dava um dos grandes feitos da
Humanidade projectava-se o filme “Viúvo mas Alegre”.
No ano em que o Homem chega à lua, o Porto é uma cidade com tradições.
Para além das tradicionais festas da Primavera que incluíam as marchas são joaninas
e o concurso de cascatas, o Porto festejava, anualmente, a 19 de Abril, o dia do turista,
uma festa que incluía um desfile de trajes regionais do Minho à Bairrada e que coloria
Uma Cidade
com tradição
a cidade atraindo visitantes de todas as regiões do país.
Uma outra tradição portuense nos finais da década de sessenta emergia já perto do
final do ano. Com 150 mil lâmpadas e 60 km de cabo, em 11 artérias da cidade
surgiam as iluminações de Natal, que davam um brilho especial às noites da cidade
neste período festivo.
Embora aparentemente invisível, uma vez que não apareceu em nenhum outro
meio de comunicação devido à actuação da censura, a contestação estudantil de 1969
espalhou-se de Coimbra para Lisboa e para o Porto.
Os estudantes contestavam a falta de expressão, as constantes repressões e as
Uma Cidade prisões sem motivo de alguns estudantes universitários. Como forma de protesto, os
contestatária estudantes de Coimbra decretaram luto académico e fazem greve às aulas.
Assim, ao longo de 1969, circularam secretamente pela cidade do Porto um
conjunto de notas e noticias sobre os acontecimentos vividos em Coimbra e mostram o
seu apoio aos colegas iniciando também uma contestação ao regime fazendo greve aos
exames.
A 21 de Julho de 1969, o Homem chegou à Lua. Esta data de grande importância
21 de Julho na História

na História da Humanidade também é a data de importantes acontecimentos ocorridos


no Porto. Possuidor de um grande património documental, o Arquivo Histórico
Portuense

Municipal do Porto encontrou no seu espólio um conjunto de documentos com esta


data.
De actas de vereação a licenças de obras e de recibos de despesas a registos de
entradas de navios na barra do Douro, encontram-se expostos vários documentos
originais que expõem a vida da cidade ao longo dos tempos com a curiosidade de
terem ocorrido a 21 de Julho.
Quadro 10 - Textos sugeridos para os diferentes painéis da exposição

49
8. Identificação dos Públicos-Alvo

No sentido de identificar os principais públicos-alvo para a exposição “1969:21 de


Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua” realizou-se,
com base nos Relatórios Anuais do SECE de 2006 a 2008, um breve estudo preliminar
dos públicos que frequentaram a instituição nos meses de Junho e Setembro, período
referente aos meses em que a exposição vai estar aberta.

2006 2007 2008


Junho Julho Agosto Setembro Junho Julho Agosto Setembro Junho Julho Agosto Setembro
Grupos 29 27 20 10 55 51 15 17 27 28 12 4
Participantes
Participantes 819 1023 1082 1197 1909 2500 459 552 1181 971 342 472
JI 9 1 6 5 1 1 5
EB1 3 15 9 1 1 9 8 1
EB 2,3 10 6 5 21 5 1 5 10 1
ES 1 1 3 4 1 4
E. Prof. 2 1 2
E. Sup 1 1 3 2
upos
C. Dia 3 7 1 4
Adultos 4 5 5 2 13 6 3 5 9 4
ATL 7 24 8 4 1 6 2
Nec. Esp. 1 1 1 1
Univ. Sen. 1 1 1
Outros 2
Pagos 138 229 334 160 83 245 239 187
Individual 817 1141 1579 1250 687 1262 1698 1157
Visitantes
núcleo <=14 1 4 51 14
>=65 7 4 29 38
Porto card 15 6 37 27 15 29 41 52
Porto 32 43 12 13 10 9 3 3
A.M. Porto 10 5 1 17 13 5
Proveniência
Norte 12 2
geográfica
dos grupos Centro 1 2
Sul 1 1
Estrangeiro 2 4 3 4
Portugal 432 522 518 642 458 747 766 595 295 562 747 687
Proveniência Espanha 124 170 190 132 68 144 392 237 100 246 355 244
geográfica
de visitantes França 62 65 92 79 130 74 122 56 63 136 148 76
individuais
Inglaterra 55 64 66 103 82 81 67 142 73 112 116 104
Outros 146 202 216 241 229 330 603 407 262 488 692 337
Quadro 11 Números e proveniência dos públicos que visitaram a Casa do Infante entre 2006 e 2008

50
A partir da análise do quadro 11 conclui-se que entre Junho e Setembro, os grupos
que maioritariamente frequentaram a instituição foram provenientes de ATLs. Embora
não seja visível em 2006, nem em 2008, a partir dos dados de 2007, observa-se que
também há um número considerável de grupos oriundos de Centros de Dia a visitar a
instituição. Simultaneamente, depreende-se que na sua maioria estes grupos são
oriundos do Porto e da sua área metropolitana.
Por outro lado, no que se refere a visitantes individuais, no período em estudo,
destaca-se o público estrangeiro que visita a instituição em número superior ao público
nacional. Mais importante, conclui-se que este público tem vindo a crescer
substancialmente nos últimos anos. Com base no quadro 11 verifica-se ainda que a
presença do público estrangeiro incide mais nos meses de férias de Agosto e Setembro.
Dentro dos subgrupos de visitantes espanhóis, franceses e ingleses, observa-se que, em
conjunto, estes são superiores aos outros visitantes estrangeiros e que se verifica,
sistematicamente, um maior número de visitantes espanhóis do que de franceses ou
ingleses. Não obstante, convém não esquecer os visitantes individuais nacionais que
também aproveitam os meses de Verão e as suas férias para visitar os museus da cidade.
A partir desta breve reflexão retiram-se já algumas informações sobre possíveis
públicos que virão visitar a exposição e alguns aspectos que deverão ser levados em
atenção na elaboração, promoção e rentabilização da exposição.
No que concerne ao público estrangeiro, dada a sua grande presença nos meses de
verão, verifica-se, desde logo, a necessidade de elaborar legendas de peças e painéis,
bem como a concepção de roteiros nas línguas espanhola, francesa, inglese e italiana.
Segundo informações recolhidas junto dos funcionários do SECE, em 2008, devido à
criação de uma ligação low cost entre Porto e Milão, verificou-se uma grande afluência
de visitantes italianos à instituição. Neste sentido será conveniente pensar também em
traduções em italiano.
Outros públicos que necessitarão de uma atenção particular na exposição serão o
chamado público sénior e o público escolar. O primeiro, oriundo de centros de dia, é um
tipo de público que costuma ter uma grande presença na instituição nos meses de verão.
Relativamente ao público escolar é de ressalvar que, embora sendo os meses de verão
uma época de férias escolares, este público mantém uma grande presença no museu, não
através das escolas, mas por intermédio dos ATL’s.

51
9. Construção de Instrumentos de Avaliação

Na recta final da organização da exposição, construíram-se questionários para a


avaliação sumativa da exposição, tendo já em vista questionar elementos que
permitissem, ao mesmo tempo, recolher informações para futuras avaliações
diagnósticas.
Neste sentido elaboraram-se duas propostas de inquéritos: uma para ser preenchida
pelos visitantes que fizerem uma visita orientada à exposição e outra para ser
preenchida pelos visitantes que fizerem uma visita sem orientação. Estes instrumentos
de avaliação deveriam ser utilizados durante o período da exposição e deveriam ser
analisados depois do encerramento da exposição. Esta sugestão de utilização de dois
questionários prendeu-se com o interesse de conhecer a influência que o técnico do
museu tem junto dos visitantes na compreensão da exposição e de que forma este pode
mediar a experiencia dos visitantes. Por este motivo, nos inquéritos propostos não são
feitas questões relacionados com os conteúdos da exposição mas antes com as
motivações que levaram à visita, a forma como a ela foi comunicada, o seu interesse e a
satisfação do visitante relativamente aos vários aspectos da sua organização.
O quadro que se segue identifica os tipos de avaliação utilizados, itens a avaliar e a
questionar, remetendo-os para a sua localização nos inquéritos que se encontram no
anexo 8.

Tipo de Localização
Itens a avaliar Itens a questionar
Avaliação no Inquérito
Conhecimento da - Meios de comunicação difusores de
Questão 2
exposição informação
Motivações para a - Influências para a visita Questões
visita exposição - Razões para uma visita 3e4
- Finalidade da visita Questões
Contexto da visita
Sumativa e - Individual/grupo 4e5
Diagnóstica - Interesse do tema da exposição
Questões
A Exposição - Organização da exposição
6, 7 e 8
- Apreciação global
Expectativas em
- Cumprimento de expectativas Questão 9
relação à visita
Experiência vivida - Qualidade da experiencia vivida Questão 10
Sugestões para - Temas para exposições Questões
Diagnóstica
actividades futuras - Outras sugestões 11 e 12

Quadro 12 - Itens a avaliar na exposição

52
V. PROPOSTA DE UM GUIÃO PARA A
EXPOSIÇÃO

Este capítulo apresenta as principais conclusões retiradas da investigação científica


sobre chegada do Homem à Lua e a realidade do Porto no ano em que a Humanidade
leva a cabo um dos maiores feitos científicos e tecnológicos de sempre.
Após a pesquisa documental, elaborou-se guião da exposição que permitiu consolidar
a estrutura e a dinâmica da exposição. Este guião foi de grande utilidade para
seleccionar peças, para conceber a apresentação multimédia e para construir os vários
painéis que compões a exposição, assim como para estruturar e redigir os textos do
catálogo e do roteiro da exposição.

1. As Questões de Partida

Quando se pensa em fazer uma abordagem local a um grande acontecimento no


sentido de encontrar a forma como ele foi vivenciado por um determinado conjunto de
pessoas, são várias as questões que se levantam.
No âmbito da exposição “1969:21 de Julho – Evocações portuenses a propósito da
chegada do Homem à Lua”, as primeiras interrogações levantadas foram: Qual foi a
reacção da cidade do Porto à chegada do Homem à Lua? De que forma as pessoas da
cidade vivenciaram esse acontecimento? Como tiveram conhecimento dele?
Contudo, estas interrogações não obteriam resposta se não houvesse uma
contextualização mais profunda da época em estudo. Por isso, levantaram-se novas
questões complementares. Como era o Porto em 1969? Quais foram os principais
acontecimentos que marcaram a vida da cidade nesse ano? Quais eram as vivências da
cidade? Quais eram os seus hábitos e costumes? Como era o quotidiano dos portuenses?
Para esta investigação, definiram-se três áreas de estudo. Na primeira parte pensou-se
numa breve alusão à corrida espacial, ao longo dos anos sessenta, e à rivalidade entre as
duas superpotências da época - EUA e URSS – a qual culminou com a chegada do
Homem à Lua a 21 de Julho de 1969. Na segunda parte elaborou-se uma aproximação
ao quotidiano portuense nesse ano, a fim de descortinar a sua realidade, os problemas
que afectavam a cidade, os avanços que esta fazia em direcção ao futuro, as suas

53
tradições, a sua cultura e as reacções ao regime do Estado Novo. Finalmente, na terceira
parte, identificou-se, através de documentos originais existentes no AHMP, alguns
episódios ocorridos a 21 de Julho, ao longo da História portuense.

2. A Corrida Espacial e a Chegada do Homem à Lua

2.1 O Sonho da Chegada à Lua


Desde sempre o Homem observou com interesse o espaço celeste, os planetas e o
sol. Porém, de todos os astros do universo, talvez pela sua proximidade, a Lua sempre
teve um fascínio especial.
Na realidade, a Lua não fica muito longe da Terra. Seriam apenas necessárias duas
horas de viagem de automóvel se os veículos pudessem deslocar-se na vertical41. Mas
não é assim tão fácil de atingir como parece, devido à força da gravidade da massa
terrestre que nos puxa sempre de volta.
O caminho para a Lua começou a desbravar-se a 13 de Setembro de 1959, quando a
sonda soviética não tripulada, Luna 2, foi enviada para o espaço. Contudo, esta
desvaneceu o sonho inicial ao despenhar-se na superfície lunar. Não obstante, dois anos
depois, o presidente americano John Kennedy garantia: “Acredito que esta Nação devia
comprometer-se a atingir o objectivo de colocar um homem na Lua e fazê-lo regressar
em segurança à Terra, antes de terminar esta década. Neste período, mais nenhum
projecto espacial será tão impressionante para a Humanidade, ou mais importante no
longo caminho da exploração do espaço.” Tal convicção cumpriu-se a 21 de Julho de
1969, às 3h52, quando os norte-americanos Neil Armestrong e Edwin Aldrin sairam do
engenho que, horas antes, o depositara no “mar de tranquilidade”42.
A primeira missão tripulada para a Lua, a Apollo 11 - que exigiu um estudo
complexo da nave espacial e das órbitas da própria Lua - foi alcançada com sucesso no
momento em que, muito lentamente, Armstrong desceu os degraus da escada do veículo
lunar, pousou o pé esquerdo no solo e declarou a célebre frase “é um pequeno passo
para o Homem, mas um passo gigante para a Humanidade”.
A realidade veio assim juntar-se à imaginação de Júlio Verne e da banda desenhada
de Hergé. O primeiro, escritor do século XIX, imaginou, em 1865, a viagem “Da Terra

41
COUPER, Heather e HENBEST, Níger – Atlas do Universo. Milão, New Interlitho, 1993, p.4-6.
42
LANEYRIE-DAGEN, Dir Nadeije - O Homem à conquista do espaço: o passeio na Lua. In “Memórias do Mundo das origens ao
ano 2000”. Mem-Martins: Circulo de Leitores, 2000, p.630.

54
à Lua” e, curiosamente, cem anos antes da verdadeira chegada do Homem à Lua, em
1869, escreveu a obra “À volta da Lua”. Já o segundo, foi o criador de Tintin, figura
desenhada que pisou a Lua, por duas vezes em 1953 e 1954 nas aventuras “Objectivo
Lua” e “Explorando a Lua”. Porém, a compreensão dos efeitos da chegada à Lua exigiu
o recuo de doze anos e o entendimento do contexto político de então, o chamado
período da Guerra Fria.
Em 1957, a URSS enviou para o espaço o primeiro satélite artificial da terra,
acontecimento que inquietou os EUA. A honra nacional americana estava em jogo, tal
como o equilíbrio das forças43. Um foguetão capaz de lançar um satélite para o espaço
podia, facilmente, atingir qualquer ponto do globo. A distância já não protegia os EUA
das bombas soviéticas. Neste sentido, em Novembro de 1957, o presidente americano
Eisenhower considerou necessário declarar que os EUA eram capazes de repelir
qualquer ataque russo e anunciou a centralização e aceleração do programa espacial
americano.
Desta forma, o lançamento russo da Sputnik 1, em 1957, inaugurou a corrida
espacial com os EUA e as diferenças ideológicas dos dois blocos acentuaram a
competição e incentivavam as duas potencias a ir mais longe.

2.2 A Corrida Espacial


O antigo sonho de alcançar a Lua abandonou o campo poético e tornou-se realidade,
na segunda metade do século XX, quando o alemão Wernher von Braun desenhou e
construiu os foguetes V-1 e V-2, as celebres bombas voadoras que Hitler lançou sobre
Londres no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Estes foguetes foram os principais
percursores directos dos grandes desenvolvimentos da astronáutica e abriram a
possibilidade real de se poder sair da atmosfera terrestre. Mais tarde, nos EUA, foram
desenhados os foguetes WAC-Caporal que anteviram a possibilidade de conseguir
atingir a velocidade necessária para vencer a gravidade terrestre. Desta forma, a
astronáutica apresentava um “duplo aspecto de interesse”44: científico e tecnológico.
Em Abril de 1959, Carl Grimberg, publicou o vigésimo volume da História
Universal, dedicado ao Mundo Contemporâneo. Já nessa altura dedicou um capítulo
especial à conquista do espaço. Para este historiador, a possibilidade do Homem chegar

43
LANEYRIE-DAGEN, Dir Nadeije - O Homem à conquista do espaço: o passeio na Lua. In “Memórias do Mundo das origens ao
ano 2000”. Mem-Martins: Circulo de Leitores, 2000, p.631.
44
SALA, Maria Soler – A corrida ao espaço, um duelo nas alturas, in NAVARRO, Francesc (dir) – “História Universal – As
Guerras Mundiais”,vol.19 [S.L]:Salvat, 2005, p.498.

55
à Lua era algo próximo e que “o homem comum espera pela conquista da Lua”.
Contudo, ciente do seu contexto e da sua época, Carl Grimberg continuou afirmando
mesmo que “esta conquista arrisca-se bastante a ser mais espectacular que útil. Tudo
leva a crer que o Homem não pode viver no espaço, nem na Lua. O contributo essencial
da exploração espacial é mais de ordem científica e militar”45.
Não obstante, a navegação espacial continuou durante a década de sessenta,
apresentando-se como uma corrida soviético-americana. Inicialmente, a URSS
acumulou sucessos. Em 4 de Novembro de 1957, lançou o Sptnik 1, o primeiro satélite
artificial; em 3 de Novembro do mesmo ano, a cadela Laika foi o primeiro animal em
órbita; a Lunik 2 atingiu a Lua em 13 de Setembro de 1959 e a 6 de Outubro a Lunik 3
fotografou a face oculta da Lua. A 12 de Abril de 1961, a bordo da Vostok 1, Yuri
Gagarine foi o primeiro Homem no espaço; a 16 de Junho de 1963, Valentina
Terechkova foi a primeira mulher a atingir o mesmo feito e, em 18 de Março de 1965,
Alexei Leonov foi o primeiro homem a permanecer fora da sua cápsula espacial e a
permanecer suspenso no espaço sideral, por 10 minutos.
Os EUA, por seu lado, lançaram o Explorer 1, a 1 de Fevereiro de 1958, e o seu
primeiro cosmonauta, John Glenn, a 20 de Fevereiro de 1962. Estes começaram a
ganhar vantagem com o primeiro acoplamento, entre a Agena e a Gemini 8, em 18 de
Março de 1966. A 2 de Junho de 1966, a Surveyor 1 pousou suavemente na Lua.
Mesmo assim, a URSS liderava a corrida pois colocou a Luna 10 em órbita à volta da
Lua, a 3 de Abril de 1966, e fez regressar a Zond 5 em 21 de Setembro de 1968.
Contudo, com os voos tripulados Apollo, a superioridade americana impôs-se e
consagrou-se a 21 de Julho de 1969, com a chegada do homem à Lua.
A primeira alunagem da História da exploração espacial foi presenciada pela
televisão por cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. O presidente Richard
Nixon pôs-se em contacto com os astronautas Edwin Aldrin, Neil Armestrong e
Michael Collins, na sua nave Apollo XI, naquela que foi a “chamada telefónica mais
histórica de todos os tempos”46.
Durante a sua estadia na Lua, os astronautas tiveram de cumprir um exaustivo
programa de trabalho para proporcionarem aos cientistas da NASA uma vasta gama de
dados para posteriores investigações. Por exemplo, Aldrin instalou uma lâmina de
alumínio para captar partículas solares e, por intermédio de vento solar, analisaram-se as

45
GRIMBERG, Carl – História Universal – O Mundo Contemporâneo, vol.20. Lisboa: Publicações Europa-America, 1969, p. 217.
46
In História do Século XX: Década a Década:1960-1969, vol.7, Dir. António Reis. Laveiras, Visão, 2004, p.168.

56
nuvens de gás emitidas pelo sol. Mais tarde, com a ajuda de um reflector de raios lazer,
colocado sobre a superfície lunar, os cientistas mediram a distância exacta entre a Terra
e a Lua e um sismógrafo proporcionou informações sobre a existência de sismos
lunares. Após uma permanência de 21 horas e 37 minutos na Lua, os astronautas
iniciaram o regresso à Terra, transportando consigo cerca de 20 kg de material lunar, em
especial pedras e areia, que recolheram directamente da superfície do nosso satélite
natural.
Como testemunho da viagem, ficou na Lua a secção de aterragem do módulo lunar
Eagle, com uma pequena placa de metal onde podia ler-se: “Viemos em sinal de paz, em
representação de toda a Humanidade”.
No dia 24 de Julho os pioneiros do espaço regressaram na cápsula espacial
Columbia, que desceu nas águas do oceano Pacífico. Mas os heróis da Apollo 11 não
desfrutaram de imediato da entusiástica recepção do povo norte-americano pois tiveram
de passar algumas semanas de quarentena numa estação isolada, a fim de se
submeterem a numerosos exames, antes de serem aclamados por todo o país, numa
digressão festiva que durou vários meses.

2.3 O conhecimento portuense da exploração espacial e da chegada à Lua


No final da década de sessenta, a exploração espacial foi uma constante e despertou o
interesse da comunidade científica e da população portuense. A demonstrar este
aspecto, podem citar-se algumas conferências e ciclos de cinema que abordaram este
tema e, em particular, a chegada à Lua.
Uma instituição portuense que deu algum destaque e importância a estas questões foi
o Ateneu Comercial do Porto, que curiosamente comemorava o seu centenário nesse
mesmo ano de 1969. Da mesma forma que a Humanidade deu um grande passo no
progresso cientifico e tecnológico, também esta colectividade deu um grande avanço na
sua organização, uma vez que em 1969 abriu, pela primeira vez, os seus quadros
associativos às mulheres.
Apesar de não se realizarem grandes comemorações devido a “dificuldades
financeiras e ao envelhecimento da sua massa associativa”47, esta associação
desenvolveu várias actividades culturais ao longo do ano de 1969 destacando não só o
passado, mas também a actualidade científica e o futuro. Neste contexto,

47
Álbum de Memórias do Ateneu Comercial do Porto. Porto: Ateneu Comercial, 1995, p. 175

57
apresentaram-se vários documentários relacionados com a conquista espacial. O
documentário “Project Apolo 8 – Journey arround the moon”, apresentado e comentado
pelo embaixador americano em Portugal, contou com “uma assistência numerosa e
altamente interessada”48. “A descrição do projecto Apolo com apresentação do modelo
do foguete Saturno V e da nave lunar Apolo” , “Missão Apolo; Apolo XI – um salto
gigantesco para a Humanidade” e “Apolo 12- preparativos para a segunda viagem à
Lua” foram outros documentários exibidos pelo Ateneu Comercial do Porto e
comentados por Manuel Gonçalves de Barros e José Pereira Osório, da Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto, e que mostram o esforço desta colectividade para
acompanhar os tempos modernos.
Um outro evento que marcou o estudo e discussão do tema da chegada à Lua
decorreu na BPMP. Aqui decorreu a projecção dos documentários “Missão Apolo 11” e
“A Chegada do Homem à Lua”. Esta iniciativa foi promovida pela CMP, em
colaboração com o consulado dos EUA, e teve os comentários de Eurico Fonseca.

2.4 A chegada à Lua na imprensa e nos anúncios publicitários


Tal como em outros locais do país e do mundo, também o Porto viveu a chegada à
Lua através das notícias da comunicação social. Pela imprensa, pela rádio ou pela
televisão a maioria da população teve conhecimento deste grande feito da Humanidade.
Na sequência da consulta de várias publicações diárias, como o JN, o Comércio do
Porto e o Diário do Norte, verificou-se que houve um destaque crescente das notícias
relativas à missão da Apolo 11, ao longo do mês de Julho de 1969. As primeiras
notícias apareceram por volta do dia 10 de Julho, referenciando apenas os horários e
intenções da mesma. Os destaques começaram a ser mais alargados a partir de do dia 15
de Julho, quando os astronautas partiram para o espaço. As notícias de primeira página
começaram a surgir a partir de dia 18 de Julho, com um destaque variado, de pequenas
referências ou de meia página. No entanto, o grande destaque do acontecimento deu-se
no dia 21 de Julho. Foi-lhe dada uma importância tão grande que o JN chegou mesmo a
lançar uma edição especial de grande tiragem que se esgotou em pouco tempo.49 As
notícias de primeira página, embora em menor dimensão, mantivera-se até ao regresso
dos astronautas, mas desapareceram totalmente a partir do final do mês.

48
in Comercio do Porto, 8 de Fevereiro de 1969.
49
A referência a este aspecto surge na edição deste jornal do dia seguinte, embora não identifique o número da “grande tiragem”. in
JN, ano 82, nº 50, 22 de Julho de 1969, p. 6.

58
Esta evolução de notícias pode induzir em erro
que a chegada do Homem à Lua foi um
acontecimento efémero que se viveu apenas nos dias
que antecederam e que se seguiram. No entanto,
existem outros aspectos que levam a crer que este
acontecimento foi motivo do interesse da população e
que dão a conhecer como foi vivenciada a chegada
do Homem à Lua na cidade.
A sustentar esta ideia, apontam-se vários anúncios
publicitários relacionados com a chegada à Lua, que
se repetiram e redesenharam ao longo do mês de
Julho de 1969, em diversos jornais diários da cidade,
tais como os anúncios dos relógios Omega, da
Ilustração 9 - Anúncio de relógio Ómega,
companhia de seguros Tranquilidade, dos pneus in JN, Julho de 1969

Mabor e até dos televisores Philips.


A publicidade é uma área que privilegia e acentua
os interesses do público, explorando-os para
benefício do seu produto. Neste sentido, os
publicitários da época exploraram a chegada do
Homem à Lua, para despertar na população o desejo
de obter produtos que tivessem proporcionado ou
estado presentes nesse grande acontecimento.
Um dos primeiros anúncios relacionados com esta
temática foi precisamente o das televisões Philips,
que surgiu ainda antes da chegada do Homem à Lua
e apresentou o seguinte texto:

“Objectivo: Lua.
Dentro de dias a Apolo 11 colocará o Homem na superfície
da Lua. Você não pode perder a etapa culminante da fabulosa
escala do nosso satélite natural. Assista à fantástica odisseia
através de um tele-receptor PHILIPS.
PHILIPS dá-lhe a imagem e o som da realidade”50
Ilustração 10 - Anúncio Mabor General, in
JN Julho de 1969
50
in Comércio do Porto, 18 de Julho de 1969, página 7.

59
Este anúncio demonstra não só o interesse dos
publicitários na utilização deste acontecimento para
cativar os seus possíveis clientes mas também a
forma como ele foi visto pelos portuenses. Embora
no final da década de sessenta a televisão não fosse
um bem de uso generalizado, como é nos nossos
dias, grande parte da população portuense reuniu-se
em torno deste aparelho para poder ver em primeira
mão o inusitado acontecimento histórico.
Note-se, também, o caso do anúncio do relógio
Omega Sepeedmaster, em que os publicitários
afirmaram ser o primeiro relógio usado na Lua. Este
anúncio mostra que a Ourivesaria do Norte, situada
Ilustração 11 - Anúncio da companhia de
em Cedofeita, adquiriu este modelo de relógios seguros Tranquilidade, in JN Julho de 1969

ciente, que seria vendido como algo


simultaneamente comemorativo e “na moda”. O
anúncio destaca, ainda, a importância e o valor deste
relógio uma vez que a NASA o “emprega para
todas as missões dos astronautas” desde 1965.
Outros exemplos são os anúncios dos pneus
Mabor, que exploraram o facto de terem auxiliado
na construção do veículo lunar; ou da companhia de
seguros Tranquilidade, que associou o seu nome ao
“mar da tranquilidade”, local onde o Homem
aterrou na Lua.
Deve referir-se, ainda, que esta “vaga” de
anúncios relacionados com a exploração da Lua
Ilustração 12 - Anúncio do Banco Espírito
voltou a emergir em Dezembro, aquando da segunda Santo, in JN, Novembro de 1969

ida à Lua e da missão Apolo 12. Isto demonstra que a conquista do espaço foi um tema
que captou a atenção das pessoas nos momentos em que se davam grandes marcos na
corrida espacial.
Outro anúncio, que se pode destacar é o do Banco Espírito Santo, onde esta
instituição confessava ter ficado para trás por não se encontrar ainda a operar na Lua.

60
A partir da imprensa local pode-se encontrar
ainda um outro facto relevante, que confirma o
interesse perante o mesmo tema. O
espectáculo “Ri-te-ri-te na Lua”, apresentado
no Teatro Sá da Bandeira, mostra claramente
que este assunto era discutido na cidade e
despertava o interesse na população. A partir
do Boletim da União de Grémios dos
Espectáculos, verifica-se que este espectáculo
percorreu todo país, demonstrando que um
Ilustração 13 – Anúncio do espectáculo “Ri-te Ri-te na
acontecimento científico e tecnológico de Lua”, in JN, Dezembro de 1969

ponta foi ponto de partida para um espectáculo


de sucesso.
Um outro anúncio do JN, que comprova o
interesse pela chegada do Homem à Lua, é o
do livro Apolo 11.51
Outra publicação periódica que se
consultou, para a compreensão desta temática,
foi a revista FLAMA. Após uma breve análise
estatística de todos os artigos relacionados Ilustração 14 - Anúncio do Livro Apolo 11, in JN,
Novembro de 1969.
com a ida à lua nesta publicação, concluiu-se
que este tema é abordado ao longo de todo o ano de 1969. Mais de 40% das publicações
tem artigos relacionados com o tema, embora apenas dois dos números estejam
directamente relacionadas com a chegada do Homem à Lua: revista número 1117, de 1
de Agosto, e a revista número 1120, de 22 de Agosto. A primeira destacou os primeiros
passos do Homem na Lua e a segunda, uma edição especial, com dezasseis páginas a
cores, exclusivas, com fotografias feitas na Lua, foi considerada um número histórico
pela própria revista. A partir desta análise depreendeu-se, ainda, que os temas da
exploração espacial e da chegada do homem à Lua eram do interesse do público
português, dado o grande destaque que lhes foi dado. Este tema era de tal ordem
importante que esta revista adquiriu reportagens exclusivas com astronautas
americanos. A 24 de Janeiro de 1969, esta revista publicara já o primeiro exclusivo

51
Após várias pesquisas, não foi possível encontrar esta obra que teria um grande interesse para este trabalho.

61
mundial com os astronautas da Apollo 8, apresentando igualmente as fotografias que
estes capturaram no espaço.

3. O Porto quando o Homem chega à Lua

3.1 A realidade política d’A Primavera Marcelista


Quando em 1968 Salazar sofreu um acidente que o deixou incapacitado de governar,
foi nomeado primeiro-ministro Marcelo Caetano. A substituição ocorreu sem que o
anterior chefe de governo tomasse conhecimento do sucedido. Aliás, os próprios
ministros continuaram a reunir-se no quarto de Salazar, que mantinha a convicção de
ser, ainda, o Presidente do Concelho52.
Iniciou-se, então, o chamado período marcelista, designação atribuída ao final do
regime do Estado Novo, marcado pela acção de Marcelo Caetano como chefe do
Governo e que se caracterizou por uma tentativa falhada de auto-reforma do regime.
Neste período, distinguem-se duas fases: uma primeira até finais de 1970, de relativa
abertura política e criação de expectativas liberalizantes; e uma segunda, até à revolta do
25 de Abril de 1974, de crescente crispação repressiva e de radicalização das oposições
em consequência do impasse colonial53.
Marcelo Caetano tornou-se o novo Presidente do Conselho e procurou estabelecer
uma solução de compromisso entre a ala mais conservadora do salazarismo e os liberais.
Ele teve também a concordância dos grupos económicos mais influentes, já que sempre
defendera uma opção modernizadora e desenvolvimentista para o país, muito embora,
alguns autores, como José Brandão de Brito, considerem que o marcelismo foi “uma
oportunidade perdida de modernização europeizante da direita portuguesa”54.
O novo chefe do governo começou por anunciar uma renovação na continuidade que
gerou, por um lado, grandes expectativas em alguns sectores da oposição democrática e,
por outro, desconfiança das forças ortodoxas do regime, enquanto a esquerda se
distanciava das propostas de liberalização política e de orientação neocapitalista.
A autorização do regresso de Mário Soares e do Bispo do Porto55 e o consentimento

52
Apesar de acamado, Salazar manteve-se em S. Bento, na residência oficial do chefe de governo, até à sua morte em 1970.
53
REIS, António – Marcelismo, in “Dicionário de História do Estado Novo”, vol.I, p. 546-548.
54
BRITO, José Brandão de – Do Marcelismo ao fim do Império, vol. I. Lisboa: Editorial Noticias, 1991, p.117.
55
O Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, na sequência de uma carta que escreveu a Salazar, em Julho de 1958, condenando
vários aspectos da vida política, social, cultural e religiosa do país, foi proibido de entrar em Portugal quando regressava de uma
viagem a Roma, em Abril de 1959, sendo forçado ao exílio até Julho de 1969.

62
Para a realização do 2º Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, foram algumas
medidas liberais que o marcelismo iniciou, sem lhes dar continuidade.
A par destas, em Dezembro de 1968 surgiu a nova lei eleitoral que atribuía idênticos
direitos a homens e mulheres, ao mesmo tempo que extinguiu o voto censitário. Em
Fevereiro de 1969, Marcelo Caetano limitou a intervenção policial nas greves, em Junho
do mesmo ano, as direcções sindicais eleitas foram dispensadas de promulgação
ministerial e, em Agosto, foi imposto ao patronato a obrigatoriedade de negociação de
contractos colectivos com os sindicatos. Finalmente, em Novembro de 1969, Marcelo
Caetano e o seu governo diminuíram o prazo de detenção sem culpa formada por ordem
policial, de seis para três meses. Estas medidas foram considerados sinais de abertura56.
As políticas inovadoras que trouxeram alterações significativas para o país
limitaram-se, contudo, à reforma da educação, levada a cabo por Veiga Simão, que
aumentou o número de escolas e estudantes nos vários graus de ensino, e à integração
dos trabalhadores rurais na Caixa de Previdência.
Por outro lado, o regime procurou dar um ar de mudança, utilizando roupagens
novas para situações velhas. Foi o que aconteceu com a extinção da PIDE e a sua
substituição pela DGS, a mudança de nome do partido do poder de União Nacional para
Acção Nacional Popular, o fim da censura e o aparecimento do Exame Prévio.
Depressa, a Primavera Marcelista, expressão atribuída ao período inicial do governo
de Marcelo Caetano, mostrou apostar mais na continuidade do que na renovação. À
agitação estudantil de 1969, que culminou com a greve académica de Coimbra, o
governo respondeu com a habitual repressão policial e prisão de vários estudantes, entre
os quais o presidente da Associação Académica, Alberto Martins. O então ministro da
Educação Nacional, José Hermano Saraiva, chegou mesmo a mandar encerrar,
temporariamente, aquela universidade.
A campanha eleitoral de 1969 e as eleições desse mesmo ano realizaram-se sem um
controlo eficaz por parte da oposição, o que criou algum descontentamento junto dos
opositores do regime. Não obstante, entre os deputados eleitos estavam membros da
chamada Ala Liberal. Esta foi uma expressão, criada por alguns jornalistas da época,
atribuída aos deputados que foram eleitos em 1969 pelas listas da União Nacional e que
demonstraram, ao longo da legislatura, o desejo de ver instaurado “um regime político
de liberdade, em que fosse possível discutir, controlar os actos do governo e escolher

56
ROSAS, Fernando (coord.) – A Transição Falhada :O Marcelismo e o fim do Estado Novo :1968-1974. Lisboa: Editorial
Noticias, 2004, p. 36.

63
os representantes da nação”57. De entre os deputados da Ala Liberal destacaram-se
Pinto Leite, Pinto Balsemão, Magalhães Mota e o portuense Francisco Sá Carneiro que
defenderam uma abertura política e uma autonomia progressiva para as colónias. Sem
êxito, estes deputados procuraram introduzir alterações na área das liberdades, direitos e
garantias.
A constatação da impossibilidade de mudar o regime por dentro provocou o
abandono da Assembleia Nacional Popular por parte de alguns elementos da Ala Liberal
e a formação, juntamente com católicos progressistas, socialistas e republicanos, da
Sociedade de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social. Entretanto,
multiplicavam-se os partidos de esquerda radical, que tinham muita aceitação sobretudo
entre os estudantes.
A reeleição de Presidente da Republica em 1972, com a conivência de Marcelo
Caetano, mostrou o fim das veleidades de liberalização anunciadas em 1969. O
marcelismo foi, por isso, considerado uma “oportunidade perdida de modernização58”
do país. O chefe do governo mostrava-se, cada vez mais, refém da ala ortodoxa do
regime, organizada em torno de Américo Tomás, após a morte de Salazar. O desalento
era irreversível para aqueles que haviam acreditado numa renovação política com
Marcelo Caetano. As diversas propostas da ala liberal na Assembleia Nacional eram
liminarmente reprovadas pela larga maioria afecta ao Governo. Assim aconteceu com os
projectos-lei de amnistia e de liberdade de associação, apresentados por Sá Carneiro, a
proposta de eleição directa para Presidente da República ou a defesa das liberdades
fundamentais e dos direitos dos arguidos presos. Perante a contestação da imobilidade
do regime, os deputados liberais abandonaram a Assembleia Nacional, em Janeiro de
1973, e fundaram o “Expresso”. Este novo semanário, dirigido por Pinto Balsemão, foi
um importante instrumento de denúncia das arbitrariedades da ditadura portuguesa.
O 3º Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro, em 1973, foi mais
uma ocasião para unir os vários sectores hostis ao regime e preparar uma coligação para
participar nas eleições legislativas desse ano. As teses apresentadas, muitas delas
colectivas, versavam questões ligadas ao mundo do trabalho, da juventude, da mulher,
das liberdades democráticas, da guerra colonial, do ensino e da cultura. Apesar das
dificuldades postas à sua divulgação e propaganda, bem como à sua preparação e
organização, o congresso conseguiu mobilizar uma franja importante da sociedade

57
MOTA, Joaquim Magalhães - Ala Liberal, in “Dicionário de História do Estado Novo”, p. 32.
58
BRITO, José Maria Brandão de – Do marcelismo ao fim do império. Lisboa, Edições Notícias, 1991, p. 117.

64
portuguesa, para além de juntar um grande número de militantes antifascistas de vários
quadrantes políticos. No entanto, a intimidação perpetrada pela ditadura e a
impossibilidade de garantir um processo eleitoral sem fraudes levaram à desistência da
candidatura, em listas conjuntas socialistas e comunistas. As diferenças ideológicas
entre as duas primeiras correntes da oposição traduziam-se, já nesta altura, no
aparecimento da divisão entre a CDE e a CEUD.
Entretanto, a crise económica internacional, provocada pelo aumento do preço do
petróleo, reflectiu-se em Portugal, gerando um aumento da inflação e do desemprego e
um desequilíbrio na balança comercial. Esta conjectura era propícia à agitação social,
intensificada pela contestação à guerra colonial e pelo crescente isolamento externo.

3.2 O Porto em 1969


Em 1969 o Porto era uma cidade de contrastes. Era uma cidade em renovação e que
olhava de alguma forma para o futuro mas era, igualmente, uma cidade que continuava
atrasada, com graves problemas de habitação, trânsito e salubridade.
Considerada a segunda cidade do país, o Porto contava com 303.424 habitantes59 e
estava dividido em dois bairros administrativos: o Oriental e o Ocidental.
Algumas das principais estruturas da cidade eram a Câmara Municipal, o Tribunal, a
Cadeia civil, a Alfândega e as estações dos Correios e Telégrafos, uma vez que as
comunicações dentro e para fora da cidade ainda eram feitas a partir de telegramas,
cartas, bilhetes-postais, cecogramas e fonopostais. A cidade contava, ainda, com
quarenta asilos e recolhimentos, uma biblioteca municipal e quatro bibliotecas
populares, seis creches, oito dispensários, um estabelecimento oficial de ensino artístico,
quatro liceus, oito escolas técnicas e cinco estabelecimentos de ensino universitário e
um aquário ou estação de zoologia marítima.
De entre o vasto património arquitectónico e cultural da cidade, destacavam-se
catorze imóveis classificados como monumentos nacionais60: a Capela de Nossa
Senhora de Agosto; a Casa da rua da Alfandega, mais conhecida como a Casa do
Infante; o Chafariz das Virtudes; o Fontenário do largo da Sé; o Hospital de Santo
António; a Igreja de Santa Clara; a Igreja de S. Francisco; a Igreja de S. Martinho de
Cedofeita; a Sé Catedral; a Igreja e Torre dos Clérigos; as muralhas de D. Fernando e o
respectivo miradouro; o Paço Episcopal; o Palácio do Freixo e a Torre do Palácio dos

59
In Anuário do Porto : 1969. Porto: Tipografia Sequeira, 1970, p.3.
60
Anuário do Porto : 1969. Porto: Tipografia Sequeira, 1970, p.66.

65
Terenas. Para além destes, a cidade era, igualmente, detentora de treze monumentos de
interesse público: o Castelo do Queijo; o Chafariz da Colher em Miragaia; o Chafariz do
jardim de S. Lázaro; o Chafariz da rua Escura; o Chafariz da rua das Taipas; o lago,
fontes e escadarias que restavam da Quinta da Prelada; a Igreja de S. Pedro de Miragaia;
os Obeliscos do Passeio Alegre, provenientes da Quinta da Prelada; o Palácio dos
Carrancas; o prédio da rua de S. Miguel; o Recolhimento das Órfãs e a Torre-capela e
Ermida de S Miguel o Anjo .

3.3 O Porto em 1969: acontecimentos marcantes


No panorama político, de acordo com o Relatório de Contas da CMP, destacaram-se
dois acontecimentos em 1969: a morte do Presidente da Câmara, Dr. Nuno Pinheiro
Torres, e do seu motorista, num terrível acidente de viação que vestiu a cidade de luto, e
a visita do Presidente do Conselho, Dr. Marcelo Caetano, a 21 de Maio de 1969.
Durante a sua visita, recebeu as delegações de vários municípios e foi “acompanhado
apoteoticamente pela população nortenha, onde largamente se destacavam os
portuenses, gente que, embora avessa a exteriorizações eufóricas, despiu por completo
este seu aspecto tradicional, e se manifestou da maneira indescritível que
presenciamos”61.
Por outro lado, 1969 foi o ano em que Marcelo Caetano seduziu as populações com
propósitos de uma aparente abertura política. Realizaram-se, neste ano, as primeiras
eleições depois da morte de Salazar; foi criada a Ala Liberal, onde se destaca o
portuense Francisco Sá Carneiro e deu-se a luta estudantil que, inevitavelmente, marcou
a cidade, mas da qual não há grande evidência nas fontes consultadas, devido à acção da
censura. Em termos políticos, destacou-se ainda o regresso do bispo do Porto,
D. António Ferreira Gomes, em Julho de 1969. Onze anos antes, em Julho de 1958, este
escreveu uma carta a Salazar, onde punha em causa as bases do regime do Estado
Novo,62 condenando vários aspectos da vida política, social, cultural e religiosa do país.
Numa altura em que o regime não aceitava críticas, esta atitude foi considerada uma
afronta ao próprio chefe do governo e D. António Ferreira Gomes foi proibido de entrar
em Portugal quando regressava de uma viagem a Roma, em Abril de 1959, sendo
forçado ao exílio durante dez anos até Marcelo Caetano permitir o seu regresso. Este
gesto foi visto como um momento de abertura e o Bispo foi bem recebido pelos
61
Relatório de Contas de Gerência referentes a 1969. Porto: CMP, 1970, p.4.
62
AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Provas. A Outra face da situação e dos factos do caso do Bispo do Porto. Porto: Fundação
SPES, 2008, p.5.

66
governantes e habitantes da cidade. Restabeleceram-se, então, as sãs relações entre a
CMP e o bispado. A 19 de Julho o próprio Bispo dirigiu-se à CMP para retribuir os
cumprimentos que lhe haviam sido prestados aquando do seu regresso.

3.3 O Porto em 1969: uma radiografia da cidade


A “Radiografia da Cidade” foi uma crónica da autoria de Eduardo Soares que o JN
publicou entre os meses de Fevereiro e Março de 1969. Em traços gerais, nela fez-se
uma descrição da cidade nos aspectos económico, social, cultural e demográfico.

Número Data Título


1 7-02-69 A população e as previsões demográficas
2 10-02-69 Porto: centro administrativo – núcleo terciário poderoso
3 11-02-69 Porto: centro de negócios, financeiro e industrial
4 14-02-69 Porto: centro intelectual e artístico
5 16-02-69 Porto: Turismo, festas e desporto
6 17-02-69 Porto: centro de comunicações
7 20-02-69 Porto: vida e morte do seu centro tradicional
8 22-02-69 Praça do município e palácio da justiça na zona da Arrábida e da Boavista
9 25-02-69 Capital de uma região de cerca de 1 milhão de habitantes
10 26-02-69 Defender e valorizar o Porto Antigo com amor e muito carinho
11 28-02-69 O plano director foi elaborado com elasticidade suficiente
12 3-03-69 Núcleo de instalações móveis virão a ser adoptadas no futuro
13 4-04-69 O plano director sofre de condicionamentos graves
14 5-04-69 Há uma separação muito grande entre administração e administrados
15 6-04-69 O Porto tem de evoluir mas há evolução e evolução
16 9-04-69 Destacado o papel de imprensa pelo Engenheiro Antão de Almeida Garrett
Quadro 13 - Títulos das crónicas "Radiografia da Cidade"

Tal como o próprio nome indica, esta crónica permite-nos entrever a cidade de então,
em algumas das suas facetas estruturantes. Esta rubrica teve 16 capítulos, que se
encontram identificados no quadro 13, e permite-nos ter uma imagem do que seria a
cidade do Porto no ano em que o Homem chegou à Lua.
A “Radiografia da Cidade” dividiu-se em duas partes: uma primeira, que englobou
os seis primeiros números, onde se faz uma análise sobre alguns tópicos de referência,
constantes no plano director da cidade, e uma segunda que contou com várias
entrevistas aos arquitectos Arménio Losa, Luís Cunha e Fernando Távora, assim como
ao engenheiro Antão Almeida Garrett.
A partir do primeiro número desta série de artigos constata-se que, na década de
sessenta, a taxa de natalidade no Porto estava a aumentar e era nitidamente superior à de
Lisboa. Paralelamente, a taxa de mortalidade registava uma clara descida, ao longo da
mesma década, o que reflectia as melhores condições de vida na cidade. Contudo,

67
convém referir que, embora em queda, a taxa de mortalidade continuava a ser superior à
média geral do país.
De uma madeira geral, a partir da síntese demográfica apresentada na crónica,
observa-se que a população portuense duplicou num espaço de 60 anos. Porém, se se
atentar mais demoradamente na evolução apresentada, conclui-se que nas freguesias que
formavam a zona central da cidade o desenvolvimento da população teve apenas ligeiras
alterações. Este aspecto demonstra que existia já uma saturação do centro da cidade e
que as freguesias da periferia aumentavam constantemente, sobretudo depois do
surgimento dos bairros de Campanhã e Paranhos, na parte Oriental da Cidade, e dos
bairros de Aldoar, Lordelo do Ouro e Ramalde na parte Ocidental.
No ano de 1969, estava ainda em vigor o primeiro Plano Director da Cidade, que,
face ao crescendo populacional que então se registava, propunha já algumas linhas
orientadoras para um melhor aproveitamento do espaço, dos quais se destacam:
1. Não desperdiçar terreno disponível
2. Preservar os locais com boas condições naturais ou motivos de interesse urbano
para conservar o poder atractivo do aglomerado
3. Conceber uma urbanização de qualidade susceptível de convir a uma clientela
difícil
4. Regular de uma forma radical, em toda a parte em que seja economicamente
possível, a diferenciação entre o trânsito de peões e de veículos, de modo a que a cidade
se adapte perfeitamente às necessidades contemporâneas
Os limites das freguesias e das paróquias da cidade foram analisadas no segundo
número da crónica, concluindo que o crescimento populacional declinava nos bairros
antigos, em estado de saturação, e que exceptuando alguns casos, como Nevogilde e Foz
do Douro, “não há correspondência nos limites das freguesias e das paróquias, o que
conduz a que haja paróquias com o seu território distribuído por duas ou três
freguesias e vice-versa com todos os inconvenientes que daí advém para a
administração civil e religiosa”63 No sentido de atenuar o problema, propôs-se uma
readaptação dos limites internos da cidade, propondo uma nova divisão administrativa e
religiosa que tivesse em conta vias importantes ou obstáculos naturais, com o objectivo
de melhorar o dimensionamento geográfico e demográfico da cidade.

63
in Radiografia da Cidade - Porto: centro administrativo – núcleo terciário poderoso, in “Jornal de Noticias”, 10 de Fevereiro de
1969.

68
Por outro lado, nesta crónica, o Porto foi apresentado como um centro administrativo
com um importante sector terciário. Com a dispersão do porto marítimo, dos grandes
armazéns e da própria indústria, no final da década de sessenta restava ao aglomerado
urbano um conjunto de actividades especificamente administrativas, culturais e
recreativas.
Neste contexto, a cidade foi, igualmente, entendida como um centro de negócios
financeiros, comerciais e industriais. O crescimento das actividades bancárias era visível
na “ampliação das sedes das respectivas instituições pela aquisição de imóveis e de
casas comerciais”64, que era acompanhada de um importante trabalho de reconstrução
dos edifícios e de beneficiação dos seus interiores, permitindo um melhor
aproveitamento do património edificado da cidade.
A grande procura de escritórios para instalação de sedes e escritórios para empresas
industriais e comerciais era de tal ordem importante que o Plano Director considerava
prejudicial construir novos edifícios habitacionais, na zona central, reforçando assim a
ideia que a cidade devia apostar no sector terciário.
No que diz respeito às actividades comerciais, destacaram-se três especialidades: o
comércio diário, ligado essencialmente a venda de mercearias, que se centrava no início
da rua da Madeira e na rua do Souto; o comércio ocasional, dedicado principalmente à
papelaria e às ferragens, que era nítido nos alinhamentos da rua do Almada; e o
comércio excepcional e de luxo, como a ourivesaria. Contudo, registavam-se, ainda,
grandes vazios comerciais na cidade. O Plano Director procurava colmatar este
problema com a criação de centros localizados de comércio, nomeadamente, no Campo
Alegre, Pasteleira, Nevogilde, Aldoar, Ramalde, Viso, Ameal, Antas e Cerco do Porto.
No entendimento da cidade como um centro fabril, registava-se a dificuldade de
encontrar novos espaços para a indústria. Este aspecto crítico, que conduziu à dispersão
industrial pelos concelhos limítrofes, deveria ser ultrapassado, de acordo com o Plano
Director, com o favorecimento do sector terciário.
Não obstante, a cidade beneficiava igualmente de um privilégio particular, mas que
não era convenientemente explorado no final da década de sessenta – o vinho do Porto.
Considerava-se já importante que “a clientela internacional abastada se familiarizasse
com este produto e o prove no local, nas caves”65. Assim, apostava-se na área do
turismo que começava a constituir uma base interessante de difusão e para a qual

64
in Radiografia da Cidade - Porto: centro de negócios, financeiro e industrial, in “Jornal de Noticias”, 11 de Fevereiro de 1969.
65
in Radiografia da Cidade - Porto: centro de negócios, financeiro e industrial, in “Jornal de Notícias”, 11 de Fevereiro de 1969

69
poderia ser desenvolvida uma “acção mais sistemática no campo da propaganda e de
atracção de visitantes estrangeiros se a cidade tivesse, por exemplo, um palácio de
congressos”66 devidamente equipado para o efeito.
A cidade era igualmente vista como um centro intelectual e artístico, que estava
desperto para a importância do ensino como forma de valorizar a sua população.
Aquando dos primeiros estudos realizados para o Plano Director, sobre as zonas de
residência dos alunos e dos estabelecimentos de ensino que estes frequentavam,
concluiu-se que grande parte dos estudantes percorria distâncias exageradas para
frequentar a escola. Por esse motivo, o Plano Director tinha como prioridade criar novas
escolas primárias: 45 mistas, 5 masculinas e 5 femininas, com um total de 454 novas
salas de aula. Porém, havia já a consciência que o número de escolas não era suficiente
para caracterizar uma cidade como centro intelectual. Assim, a crónica destacava,
também, o ensino técnico e secundário.
O ensino técnico, que vira duplicar o número de alunos na última década, era
entendido como essencial para o progresso da cidade qualificando “uma mão-de-obra
absolutamente indispensável ao desenvolvimento industrial”67. Previa-se então a criação
de quatro novas unidades para o efeito, distribuídas pela zona periférica da cidade, e
reservavam-se terrenos para a criação do Instituto Industrial e Comercial e para a Escola
Comercial Oliveira Martins.
No que se refere ao ensino secundário, constatava-se que o panorama da cidade não
era lisonjeador. Embora o número de alunos a frequentar este nível de ensino também
tivesse duplicado sensivelmente, verificava-se ainda uma falta de escolas secundárias,
referindo-se a necessidade de construção de quatro novos liceus.
Contudo, o que definia a cidade como centro intelectual era a Universidade,
conjuntamente com os clubes, sociedades musicais e institutos estrangeiros de cultura e
difusão. Não obstante, lamentava-se a inexistência de uma sala de concertos apropriada
e a ausência de espectáculos e de companhias de teatro. Mas o que se destacava
verdadeiramente no plano cultural, segundo Eduardo Soares, o autor da crónica, eram as
bibliotecas e os museus, locais de permanente actividade. Neste contexto é salientado o
caso da BPMP que, embora necessitando de ampliação e reorganização, foi frequentada,
em 1968, por 290.620 leitores, número comparado com os 297.167 leitores da

66
in Radiografia da Cidade - Porto: centro de negócios, financeiro e industrial, in “Jornal de Notícias”, 11 de Fevereiro de 1969
67
in Radiografia da Cidade - Porto: centro intelectual e artístico,in “Jornal de Notícias”, 14 de Fevereiro de 1969

70
Biblioteca Pública de Lisboa, numa altura em que a população da capital era três vezes
superior à do Porto.
No último capítulo relativo à análise do Plano Director, dedicado às comunicações,
são destacadas algumas medidas para melhorar a mobilidade dos portuenses, na cidade
e para os concelhos limítrofes. Neste ponto, é destacado o plano de reforma dos STCP
para a substituição dos eléctricos pelos troleicarros e autocarros, que, segundo o JN,
estava em “franca execução68”. Simultaneamente, destacam-se os caminhos-de-ferro e a
electrificação das linhas que chegavam à estação de S. Bento, assim como a
transferência, para Campanhã, do término dos comboios de longo curso. Esta última
medida exigiu a criação de uma nova estação central e elevou a necessidade de
assegurar a essa zona ligações rodoviárias para os arredores da cidade. Finalmente, para
melhorar as comunicações rodoviárias começavam a surgir novas gares rodoviárias.

3.4 O Porto em 1969: uma cidade com problemas, em renovação e a


despertar para o futuro
A descoberta do Porto de 1969 não pode relegar os principais problemas que
condicionavam o seu dia-a-dia.
Uma das maiores dificuldades que a população portuense enfrentava nesse ano e que
concentrava parte da atenção da CMP era a questão da habitação. A reflexão sobre esta
matéria está claramente visível quando Nuno Vasconcelos Porto - Presidente que
substitui Pinheiro Torres depois da sua inesperada morte - se interroga se “será
problema estritamente municipal proporcionar habitação condigna e economicamente
compatível a toda a população que vive em condições de precariedade lamentável
dentro da área da cidade”, remetendo o problema da habitação para um círculo vicioso:
o êxodo rural. O mesmo afirma que “se a CMP promove a construção de casas para
satisfazer as justas aspirações dos seus munícipes mal alojados, atrai com este
procedimento uma imigração nacional, campo-cidade, cujo limite é impossível de
vislumbrar”69.
Porém, o problema da habitação no Porto, nos finais da década de sessenta, não se
explica apenas pela constante afluência de pessoas do interior, em busca de melhores
condições de vida e emprego. No Porto, o problema da habitação era antigo e

68
in Radiografia da Cidade - Porto: centro de comunicações,in “Jornal de Notícias”, 17 de Fevereiro de 2009.
69
Relatório de Contas de Gerência referentes a 1969. Porto: CMP, 1970, p.6.

71
persistente70, desde a segunda metade do século XIX, em consequência do aumento
populacional associado ao processo de industrialização. A população operária, vinda do
campo, alojou-se no núcleo histórico, mais concretamente na Sé e na Ribeira, onde as
elevadas densidades de ocupação do espaço provocaram a sua rápida saturação, bem
visível em 1969. Neste contexto, surgiram nas traseiras dos edifícios da classe média, as
fileiras de pequenas casas, as chamadas ilhas, que chegaram até aos nossos dias.
Nos inícios do século XX, 30% da população vivia em ilhas e 20% dela em péssimas
condições de higiene, salubridade e conforto.71 Esta foi, também, a altura em que o
problema começa a merecer atenção acrescida, por parte das autoridades sanitárias e dos
responsáveis políticos que costruiram os primeiros bairros sociais para a população
operária.
Enquadrado nos planos de melhoramento para a cidade do, o plano de salubrização
das ilhas do Porto previa a construção de milhares de fogos, formando as primeiras
periferias da cidade72. Esta ideia continuava presente no Plano Director da Cidade que
defendia uma política activa de construções no sentido de “fazer desaparecer as
tristemente célebres ilhas do Porto”73.
Todavia, no final da década de sessenta, o problema mantinha-se porque, embora a
erradicação das ilhas fosse uma intenção expressa, nunca foi concretizada pelos
responsáveis políticos.
Porém, as ilhas não eram o único problema habitacional da cidade, no ano em que o
Homem chega à Lua. A problemática da habitação continuava a ser uma realidade do
Porto de 1969, e bem visível no Estudo de Renovação Urbana do Barredo, da autoria
do arquitecto Fernando Távora. Este plano pretendia “através do estudo de um caso
típico e concreto e utilizando a experiencia adquirida, definir as bases em que a acção
municipal poderá exercer-se mais amplamente e não apenas nos sectores das ilhas, mas
em todos os outros sectores da cidade que apresentam condições deficientes de
habitação – tantas vezes mais graves do que as das ilhas”74. Por toda a cidade
vislumbravam-se edifícios em péssimo estado de conservação, sem esgotos ou
abastecimento de água e luz, degradados pela vetustez, pelos desgastados materiais de

70
PIMENTA, Manuel e FERREIRA, José António (coord.) - As ilhas do Porto: Estudo Socioeconómico. Porto: Artes gráficas,
2001, p.5.
71
PIMENTA, Manuel e FERREIRA, José António (coord.) - As ilhas do Porto: Estudo Socioeconómico. Porto: Artes gráficas,
2001, p.18.
72
FERREIRA, Manuel Correia – As ilhas do Porto e os novos bairros, in“Ilhas”, WELLEMKAMP, Margarida; PISCO, Luís
(coord.). Porto: Panmixia, 2004, p.29.
73
Porto. Câmara Municipal do Porto. Plano Director da Cidade, vol.I. Porto: CMP, 1962, p.7.
74
TÁVORA – Estudo de Renovação Urbana do Barredo. Porto: CMP, Maio de 1969, p. 1.

72
construção, pelas condições climatéricas da cidade, pelas cheias do Douro e pela alta
densidade de ocupação humana, problemas ainda agravados pela ausência de
fiscalização sanitária.75
Em 1969, a CMP demonstrou uma grande preocupação com a problemática da
salubridade, higiene e saúde públicas. Desenvolveram-se esforços para cuidar da
limpeza urbana, como a remoção de lixo e entulho das ruas e, neste sentido,
intensificou-se o serviço de esvaziamento de fossas76. Ao mesmo tempo,
intensificaram-se as inspecções sanitárias e investiu-se na profilaxia da raiva e na
prevenção da tuberculose. Surgiu, neste contexto, o primeiro número do Boletim da
Associação contra a Tuberculose do Porto.
Outro grave problema que condicionava a cidade era o trânsito. O desenvolvimento
explosivo dos meios mecânicos de locomoção introduziu na vida da cidade uma
profunda modificação nos ambientes e na maneira de viver das pessoas. As distâncias
foram diminuídas, a comunicação passou a ser mais fácil e as pessoas encontraram
forma de se conhecer melhor. Mas a sociedade, ao colher os benefícios desse
melhoramento, não conseguiu libertar-se dos consequentes impactos que aquela nova
forma de movimento acarretou para a vida urbana.
“As cidades que o Homem edificou para viver foram feitas à escala humana, mas as
ruas por onde circulava eram suficientes para a população que nelas habitava. À
medida que a cidade crescia, a área das ruas era sempre superior ao incremento dos
habitantes e não existiam problemas para circular”77.
Os veículos automóveis vieram impor uma nova escala no traçado dos espaços
evolventes da habitação e dos negócios, fazendo surgir o problema do trânsito. Para
além do elevado número de veículos no interior da cidade, emergiam, no Porto, outras
questões como o aspecto físico do território, o traçado das vias existentes e até o próprio
comportamento da população. “A forma indisciplinada como se comportam os utentes
da via pública acelerou o agravamento do problema”78. Faltando espaço para os peões,
estes transbordam para a faixa dos veículos e multiplicavam-se, assim, os pontos de
conflito e de perigo no trânsito da cidade. À luz desta realidade não admira que
diariamente aparecessem crónicas nos principais jornais periódicos sobre acidentes
automóveis e atropelamentos.

75
TÁVORA – Estudo de Renovação Urbana do Barredo. Porto: CMP, Maio de 1969, p. 9.
76
Porto: Câmara Municipal do Porto. Relatório de Contas de Gerência referentes a 1969. Porto: CMP, 1970, pp.17-18.
77
CARDOSO, José dos Santos Guedes - O trânsito no Porto e os seus problemas. Porto: CMP, 1969, p.1.
78
CARDOSO, José dos Santos Guedes - O trânsito no Porto e os seus problemas. Porto: CMP, 1969, p.5.

73
Pela mesma razão, outro grande problema passou a ser o do estacionamento. Como
já foi anteriormente referido, o transito na cidade era um flagelo do quotidiano
portuense, numa altura em que se verificava o acréscimo acentuado do número de
veículos, calculados em cerca de “mil por ano, sem tendência para baixar79. Surgia,
assim, o problema da falta de espaço no centro da cidade para a construção de parques
de estacionamento. Este obstáculo, juntamente com a necessidade urgente de libertar os
arruamentos do centro da cidade, fez emergir uma nova solução: o parque de
estacionamento construído em altura. No ano de 1969, estava em fase final a edificação
do emblemático Silo Auto.
No relatório que elaborou para a CMP, José dos Santos Cardoso apresentava várias
soluções para melhorar o trânsito da cidade. Separar os peões dos veículos era uma
delas, pois resolvia satisfatoriamente o problema. Para tal, sugeriram-se as passagens de
peões aéreas e subterrâneas. As segundas, embora geralmente mais dispendiosas, eram
consideradas de mais fácil integração pois não feriam a paisagem. Além disso, sentia-se
que era igualmente necessário fomentar e desenvolver os centros de comércio, não
permitindo a circulação de veículos nesses espaços.
Entretanto, existia já a vontade e um esforço de renovação no sentido de resolver os
problemas e renovar a cidade. Como se verifica no estudo do arquitecto Távora sobre a
renovação urbana da Ribeira que, para além de identificar os vários problemas de
habitação e salubridade da zona, apresenta propostas para melhorar o centro histórico.
Simultaneamente, a CMP apostou na construção de novos bairros por toda a cidade,
com o intuito de melhorar as condições de habitabilidade, e na construção de novas vias
de comunicação para melhorar o fluxo do trânsito.
A cidade tentava progredir e ultrapassar os seus problemas. Por isso, a CMP apostou
na construção de novas vias de comunicação, pensou em vias rápidas e projectos para a
construção da nova ponte sobre o rio Douro80, ao mesmo tempo que proporcionou
condições mais atractivas para o uso de transportes públicos. Surgiram, nesse ano, os
primeiros abrigos das paragens dos STCP, na praça D. João I, para evitar esperas à
chuva e ao frio. Por outro lado, deu-se a electrificação da rede ferroviária com a
chegada ao Porto dos primeiros comboios eléctricos em Março desse ano.
Em termos comerciais, a cidade continuava a apresentar alguns aspectos marcantes
do seu atraso. Exemplo disso era a rua escura. Diariamente, em improvisadas barracas
79
CARDOSO, José dos Santos Guedes - O trânsito no Porto e os seus problemas. Porto: CMP, 1969, p.7.
80
Vejam-se, por exemplo, os anteprojectos de Edgar Cardoso para a construção de uma ponte estrada de cantaria ou de betão
armado sobre o rio Douro.

74
cobertas com plástico transparente, funcionava, sem condições, um mercado a que
muita gente humilde, sobretudo do populoso bairro da Sé, dava preferência. “Peixe,
produtos hortícolas, artigos de vestuário, miudezas, quinquilharias, brinquedos e um
nunca mais acabar de objectos de uso doméstico era vendido a gente de poucas posses
e onde as pessoas, de manha à noite, emprestam cor e animação extraordinárias ao
local”.81

3.5 O Porto em 1969: uma cidade em transformação cultural


No que se refere a espaços de lazer e entretenimento, o Porto dispunha de infra-
estruturas como o Coliseu, o cineteatro Sá da Bandeira e os cinemas do Terço, da
Batalha e da Trindade, entre outros, assim como vários jardins que animavam a cidade.
Neste período o Porto estava bastante desperto para as questões culturais, não só para
usufruto das elites mas também para as camadas mais baixas da sociedade, destacando-
se eventos como a IV Série Instrumental de Concertos Sinfónicos, palestras e
exposições organizadas pelo GHC e vários congressos internacionais de várias
especialidades.
O alargamento do número de espectáculos culturais exigiu um reforço das suas
normas. O Governo Civil do Porto sentiu necessidade de “providenciar contra a
frequente atitude de certo público que nos espectáculos de divertimento usa de
almofadas e outros móveis como objectos de arremesso”, assim como considerou
necessário “regulamentar as actividades das agências de venda de bilhetes de estrada
nos vários recintos de espectáculos públicos do distrito do Porto”82. Neste sentido foi
reeditado, em 1969, o Regulamento nº 81, de 3 de Julho de 1952 relativo à venda de
bilhetes para espectáculos, agências e postos de venda, uso de almofadas e outros
objectos de arremesso.
Com o intuito de manter a ordem e o bom funcionamento dos espectáculos da cidade,
relembrava-se que a venda de bilhetes só poderia ser feita pelos organizadores ou
exploradores dos espectáculos e pelos proprietários de agências e postos de venda de
bilhetes previamente licenciados pelo governo civil, instalados na Praça dos Aliados, na
Batalha ou na Praça D. João I. De forma a evitar as enchentes e as sobrelotações das
salas, o regulamento recordava que os organizadores não podiam vender mais bilhetes
dos que os estabelecidos, nem fora dos balcões autorizados. Proíbia, também, a

81
Comércio do Porto, 6 de Janeiro de 1969.
82
Porto. Governo Civil do Porto – Regulamento nº 81 3 de Julho de 1952. Porto: Livraria Simões, 1969, p.3.

75
cobrança de quantias superiores à do custo dos bilhetes, a recusa de venda e a falta de
delicadeza para com quem os comprava83, sendo as transgressões punidas com a
aplicação de multas. Finalmente, o regulamento referia que, por ocasião de qualquer
espectáculo, era proibido ao público usar almofadas e outros objectos de arremesso
contra pessoas, ou como forma de manifestação de protesto ou de regozijo.

3.6 O Porto em 1969: uma cidade com tradição


Em 1969, a CMP realizou grandes festejos populares em torno do Dia do Turista, das
tradicionais festas de S. João e das iluminações de Natal.
A 19 de Abril, a cidade comemorava o dia do turista, uma festa que incluía um desfile
de trajes regionais do Minho à Bairrada e que coloria a cidade, atraindo visitantes de
todas as regiões do país. Este dia era um evento que procurava exaltar os valores da
ruralidade e do folclore.
Cerca de um mês antes do Homem chegar à Lua, o Porto comemorou as festas do seu
santo padroeiro. Fizeram-se as tradicionais marchas populares, que foram transmitidas
pela televisão para todo o país, e realizou-se o igualmente tradicional concurso de
cascatas, que se espalhavam por toda a cidade. Ainda no mês de Junho,
comemoravam-se as Festas da Primavera, que incluíam vários concertos e
espectáculos.
Uma outra tradição portuense dos finais da década de sessenta era a decoração da
cidade com as iluminações de Natal. Em meados de Novembro começavam a surgir nas
principais ruas da cidade iluminações decorativas que anunciavam a proximidades das
festas natalícias. Neste sentido, a CMP empenhou-se em dar um brilho especial às
noites deste período. Para este efeito, em 1969, gastaram-se 150 mil lâmpadas e 60 km
de cabo.

3.7 Porto: Uma cidade contestatária


No panorama académico, o ano de 1969 foi marcado por um grande movimento de
contestação estudantil contra o Estado Novo. Iniciada em Coimbra, esta estendeu-se
rapidamente a Lisboa e ao Porto.
Embora não sejam muitas as evidências desta crise na imprensa da época, uma vez
que a censura não o permitia, foram circulando múltiplos documentos estudantis, em

83
Porto. Governo Civil do Porto – Regulamento nº 81 3 de Julho de 1952. Porto: Livraria Simões, 1969, p.6.

76
protesto contra a falta de liberdade de expressão e contra a violação dos direitos
individuais. Contudo, apesar da aparente invisibilidade que este assunto teve em
Portugal, a revolta de Coimbra foi acompanhada pela imprensa internacional que, livre
da censura, publicou diversas notícias.
Contudo, a crise agudizou-se quando a Direcção-Geral da Associação Académica de
Coimbra exigiu o direito de expressar a sua opinião durante a inauguração do novo
edifício de Matemática. Esta pretensão, rejeitada pelo reitor da Universidade de
Coimbra, foi a gota de água que levou ao desentendimento recíproco entre docentes e
discentes84 e, aos poucos, os protestos sentiram-se cada vez mais.
Neste contexto, a repressão fez-se sentir. O presidente da Associação Académica de
Coimbra foi preso e interrogado, sem qualquer tipo de acusação, e os companheiros que
o aguardavam, no momento da sua libertação, foram atacados. Os proprietários dos
bares frequentados pelos estudantes começaram também a ser visitados pelos agentes da
PIDE.
O agravar da crise determinou a proibição de frequência das aulas a alguns alunos,
assim como a perda de outros direitos dentro da universidade. De entre estes alunos,
destacavam-se vários membros da Associação Académica de Coimbra. Na sequência
destes acontecimentos, a Assembleia Magna da Universidade de Coimbra decretou luto
académico e greve às aulas, exigindo que estas se transformassem em debates sobre “o
levantamento imediato das suspensões”85 e o fim dos processos disciplinares.
Estas notícias circulavam, semi-clandestinamente, pela academia portuense através
de panfletos dos organismos associativos que, desta forma informavam os
universitários sobre as pressões exercidas sobre os colegas em Coimbra, ao mesmo
tempo que os incentivava a juntarem-se à sua causa.

Ilustração 15 - Excerto do Comunicado dos Organismos


Associativos da Universidade do Porto

84
in Comunicado dos Organismos Associativos da Universidade do Porto, 24 de Abril de 1969.
85
in comunicado dos Organismos Associativos da Universidade do Porto, 24 de Abril de 1969.

77
Em Julho de 1969, no Porto, os estudantes universitários apelaram aos seus
companheiros para acompanharem o luto de Coimbra, no sentido de pôr fim às
injustiças da ditadura, e para divulgarem o que a censura escondia da população.
O maior sinal do descontentamento estudantil foi a greve aos exames. Em 1969, as
taxas de ausências às avaliações finais foram muito elevadas, havendo mesmo cursos
com 100% de faltas. Esta situação despertou a criatividade dos estudantes do Porto, que
nos seus comunicados caricaturavam a conjuntura, como se pode ver num documento
de 4 de Junho de 1969, em que uma jovem estudante é presa por se recusar a fazer um
exame.

Ilustração 16 – Excerto do Comunicado dos Organismos Associativos da


Universidade do Porto

78
4. 21 de Julho na História Portuense

4.1 Um dia a relembrar, na documentação do Arquivo Municipal

A última parte a investigação, centrou-se na procura de vários acontecimentos


ocorridos no Porto a 21 de Julho. Através de vários episódios encontrados em vários
documentos, descortinou-se diversos aspectos do quotidiano citadino em tempos
remotos, ao mesmo tempo que se invocam determinados acontecimentos com
significado na História nacional e europeia.
Um dos mais interessantes documentos datados de 21 de Julho, é um pergaminho de
1385. Trata-se de um recibo relativo ao dinheiro da talha, que foi lançada para os
ingleses, passado pelo procurador do Concelho ao mercador Rui Tomé Denis e feito por
intermédio de Fernão Eanes, filho do então Bispo do Porto. O dinheiro da talha era um
imposto extraordinário, lançado em épocas de crise. Não nos podemos esquecer que se
vivia a crise de 1383-1385, a qual determinou o fim da primeira dinastia e o início da
dinastia de Avis. Para além da sua importância histórica, este documento destaca-se,
ainda, pelo seu valor estético e pelo bom estado de conservação.
Destacou-se, igualmente, a acta de vereação do dia 21 de Julho de 1390, onde é
apresentada a preocupação da cidade com o “negócio do interdito”86. O interdito da
cidade surgiu no contexto das contendas entre o Concelho e o Bispo do Porto por causa
da eleição dos juízes da cidade. Durante o período em que vigorava o interdito, as portas
das igrejas eram encerradas e não havia serviço religioso, ficando os cidadãos privados,
inclusivamente, da assistência eclesiástica em caso de morte. Esta acta refere-se ao mais
demorado dos interditos que pesaram sobre o Porto entre os séculos XIII e XV, durante
a luta do Concelho pela sua emancipação do domínio episcopal.
Ainda no que se refere a actas de vereação merece uma atenção especial a de 21 de
Julho de 1431. Neste documento alude-se à intercedência do Infante D. Henrique para
que a Cidade desse “pousadas e roupas a huum cavaleiro[…] do duc de Bergonha”87.
Embora, à primeira vista, este acontecimento possa parecer insignificante, ele adquire
uma grande relevância se atendermos ao facto de que o duque da Borgonha estava a
procurar apoio nos estaleiros do Porto, para preparar homens que construíssem na

86
in Documentos e Memorias para a História do Porto - Vereaçoens 1390-1395.
87
in Documentos e Memórias para a História do Porto, vol XLIV, Vereaçoens 1431-1432.

79
Flandres uma armada para a expedição que pensava organizar, para a conquista a
Inglaterra.
Seleccionaram-se, também, registos datados de 21 de Julho relativos aos livros de
Visitas de Saúde às embarcações entradas na barra do Douro durante os séculos XVI e
XVIII. Esta documentação foi redigida pelos guardas-menores da saúde da cidade, que
inspeccionavam todas as embarcações que pretendiam entrar na barra do Douro, com o
objectivo de evitar a entrada de navios contaminados por doenças contagiosas e, desta
forma, defender a saúde dos habitantes da cidade e do seu termo. Este aspecto é
relevante pois ilustra, não só o risco epidemiológico do país e da Europa, mas também,
o medo das populações e as medidas que estas tomavam para se proteger do flagelo da
peste. Por outro lado, estes documentos são uma excelente fonte para o estudo da vida
económica do Porto durante o mesmo período, na medida em que apresentam as
embarcações, a sua proveniência e os produtos que transaccionam.
Finalmente, destaca-se um documento de 21 de Julho de 1832, retirado do livro de
Vereações, e que é uma referência ao trabalho de impressão de bilhetes de aboletamento
para oficiais durante o Cerco do Porto, passado pela viúva Alvares Ribeiro &Fº. Tais
bilhetes diziam respeito às despesas gastas com a cama e a alimentação dos soldados.
No AHMP encontra-se também outro tipo de documentação com inúmeros registos
datados de 21 de Julho. Uma das séries que se destaca é a das Licenças de Obras
Particulares, onde se podem encontrar projectos de construção ou remodelação de
edifícios desde o século XVIII à actualidade. Na Casa do Infante existe ainda uma
valiosa biblioteca de apoio, com livros e revistas sobre temas portuenses. Na colecção
da revista “O Tripeiro” podemos ainda encontrar múltiplas referências a eventos
ocorridos a 21 de Julho, nas suas várias crónicas de efemérides.

80
VII. BALANÇO DA EXPOSIÇÃO

A exposição “1969: 21 de Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do


Homem à Lua” é uma exposição temporária de médio prazo que partiu da comemoração
de um grande acontecimento da História da Humanidade. No final do projecto, pode
concluir-se que a pesquisa documental permitiu a elaboração de um guião que abrangeu
as várias vertentes solicitadas, desde a exploração espacial à exploração da data da
chegada à lua. Partindo do ano de 1969, descreveu-se a cidade do Porto e o seu
quotidiano e a partir de 21 de Julho desvendaram-se alguns acontecimentos e alguns
documentos históricos que contém esta data.
Tendo sempre em consideração os objectivos da exposição e os conteúdos
seleccionados para a mesma, construi-se uma estrutura lógica e coerente, com uma linha
orientadora que partiu do geral para o particular. Desta forma conseguiu-se, de forma
harmoniosa, aliar diferentes conteúdos que à primeira vista poderiam parecer
incongruentes. Crê-se que no final de uma visita à exposição “1969: 21 de Julho –
Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua” o visitante é capaz de
compreender a relação que se estabeleceu entre a chegada do Homem à Lua e os
objectivos da Casa do Infante no sentido de caracterizar a cidade do Porto num período
tão particular.
A pesquisa documental, que conduziu à elaboração do guião da exposição, foi
também essencial para a estruturação da estratégia de comunicação da exposição. Esta,
conjuntamente com o plano interpretativo, permitiu o desenho do storyline, a definição
de textos sugestivos e orientadores e a redacção de textos informativos específicos e
complementares da informação iconográfica.
Por outro lado, refere-se que esta exposição não foi um trabalho isolado e que os
resultados obtidos foram fruto de um trabalho de equipa entre a equipa entre
investigadores, designers e informáticos sempre coordenada pelo Dr. Manuel Real.
Um outro aspecto que é necessário ter em consideração no balanço final desta
exposição é a sua avaliação. Para este ponto, elaboraram-se dois inquéritos para avaliar
a influência dos técnicos do museu no processo de mediação cultural e para identificar
as motivações que levam os visitantes ao museu.
Contudo, analisando estes inquéritos verifica-se que embora estas questões sejam
importantes, não são as mais essenciais quando se fala na avaliação de uma exposição.

81
Quando se pensou nos itens a avaliar, deveria ter-se pensado antes em indicadores para
avaliar os impactes que a exposição poderia ter junto dos vários públicos. Esta lacuna
deveu-se em parte à inexistência de uma avaliação diagnóstica consistente no inicio da
exposição. Teve-se em consideração os objectivos a atingir do ponto de vista da
instituição e atendeu-se às expectativas dos vários públicos-alvo mas não se
identificaram os impactes que se pretendiam alcançar. Disto conclui-se que a avaliação
das exposições é um ponto complexo e que quanto mais se sabe ao seu respeito mais
difícil ele se torna.
Finalmente, convém salientar que existem alguns aspectos que poderiam ter sido
desenvolvidos para valorizar esta exposição. Feito um estudo de públicos, que permitiu
identificar alguns segmentos particulares e merecedores de atenção por parte da
instituição, estruturou-se um conjunto de propostas com o intuito de desenvolver
estratégias, não só para atrair os diferentes públicos mas, essencialmente, para os
fidelizar.
No sentido de consolidar o objectivo anterior e divulgar a exposição, propôs-se
algumas estratégias para consolidar a comunicação do museu com o exterior. Tendo em
vista um maior envolvimento da cidade na exposição, seria proveitoso criar parcerias
para largar o âmbito da exposição, ao mesmo tempo que se projectava a instituição num
maior raio de acção.
Estes foram alguns aspectos que mereceram especial atenção ao longo do estágio
mas que por falta de tempo e de condições financeiras não foram possíveis concretizar a
tempo da inauguração da exposição. De seguida são apresentadas algumas propostas de
valorização, que poderiam expandir a exposição e melhorar a sua capacidade de
medição cultural.

82
1. Propostas de Valorização para diferentes públicos-alvo

1.1 Proposta de valorização para Público Escolar


Quando se pensa numa estratégia para cativar o público escolar, é imprescindível
fazer um trabalho diagnóstico com professores e alunos para se conhecer as suas
necessidades e expectativas. Desta forma será possível criar um conjunto de indicadores
que permitirão avaliar, de forma mais concreta, os impactes comunicacionais,
educacionais e de aprendizagem.
Para atrair o público escolar à instituição e, em particular, à exposição “1969: 21 de
Julho – Evocações portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua”, propôs-se
uma oficina para rentabilizar a mesma.
Para a sua construção, exploraram-se os currículos do ensino básico no sentido de
identificar os conteúdos abordados pelos alunos e de que forma eles podem ser
explorados e aprofundados na exposição. A partir deles identificaram-se alguns
conteúdos e competências essenciais e especificas do ensino básico relacionadas com a
temática em exploração, que estão sintetizadas no quadro 13.
A partir da selecção dos conteúdos leccionados no ensino básico foi possível
determinar os conhecimentos que os possíveis visitantes do público escolar adquiriram e
que poderão ser rentabilizados e utilizados no decorrer da oficina. Ao mesmo tempo,
estes transformam-se em ponto de partida para a aquisição de novos conhecimentos.
Não obstante, um objectivo incontornável das oficinas é proporcionar aos seus
participantes novas experiências que, simultaneamente, de forma educativa e lúdica,
desenvolvam e acrescentem valores e competências aos simples conhecimentos factuais.

83
Ensino
Disciplinas Conteúdos/Competências
Básico
OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (2º ano)
- Reconhecer tipos de comunicação social (jornais, rádio, televisão…).
OS ASTROS(3º ano)
- Reconhecer o Sol como fonte de luz e calor.
-Distinguir estrelas de planetas (Sol-estrela; Lua-planeta).
Estudo do
Meio REALIZAR EXPERIÊNCIAS COM A LUZ(3º ano)
Observar a intersecção da luz pelos objectos opacos — sombras.
1º Realizar jogos de luz e sombra
Ciclo OS ASTROS(4º ano)
- Constatar a forma da Terra através de fotografias, ilustrações…
- Observar e representar os aspectos da Lua nas diversas fases.
- Observar num modelo o sistema solar.
Objectivos Gerais
1. Exprimir-se oralmente, com progressiva autonomia e clareza, em função de
Língua objectivos diversificados.
Portuguesa 2. Comunicar oralmente tendo em conta a oportunidade e a situação.
BLOCO 1 — COMUNICAÇÃO ORAL(1º ano)
Descrever fotografias
COMPETENCIAS ESPECIFICAS
História e - Situa-se no país em que vive, aplicando noção de tempo e de espaço;
Geografia de - Valoriza elementos do património local e nacional;
Portugal - Utiliza técnicas de investigação: observa e descreve aspectos da realidade física e
2º social;
Ciclo -Interpreta fontes históricas (escritas, iconográficas, gráficas, cartográficas)
UNIDADE: TERRA NO ESPAÇO
Ciências - Compreensão da constituição e caracterização do universo, sistema solar e da
Naturais posição que a terra ocupa nesses sistemas;
- Reconhecer fenómenos que ocorram na terra resultantes da interacção terra-sol e
terra-Lua
COMPETÊNCIAS ESPECíFICAS
- Interpreta e valoriza elementos do património local e nacional no quadro do
património mundial;
História - Distingue e interpreta fontes históricas
CONTEÚDOS
3º Unidade K – Do segundo após-guerra aos desafios do nosso tempo
Ciclo K1 – O Mundo saído da Guerra (Rivalidade EUA/URSS; conceito de Guerra Fria)
UNIDADE: TERRA NO ESPAÇO
Ciências - Utilização de escalas adequadas à representação do sistema solar;
Físico- - Identificar causas e consequências dos movimentos dos corpos celestes;
Químicas - Discussão sobre a importância do avanço do conhecimento científico e
tecnológico no conhecimento sobre o universo, sistema solar e terra
Quadro 14 - Conteúdos disciplinares (1º, 2º e 3º Ciclo) relacionados com a temática da exposição

84
Na sequência da análise dos públicos que visitaram a instituição entre os meses de
Junho e Setembro dos últimos três anos88, concluiu-se que a maior parte dos visitantes
que frequentam oficinas e visitas de grupo não estão enquadrados num contexto escolar
mas antes num contexto de ocupação de tempos livres. Neste sentido, a preocupação da
oficina não deverá prender-se tanto com a aquisição de conteúdos e saberes científicos
mas antes com o desenvolvimento de valores e competências. Assim sendo, os
conteúdos abordados na exposição deverão ser um ponto de partida para novas
experiencia e não um fim em si mesmo.
Por outro lado, é necessário ter em atenção que os jovens que participariam nesta
oficina, provavelmente não estarão todos na mesma faixa etária nem terão o mesmo
nível cognitivo. Este aspecto deve ser levado em conta na preparação da oficina para
que ela não se torne demasiado difícil, que impeça a conclusão com sucesso da
actividade, nem demasiado fácil, ao ponto de desmotivar aqueles que rapidamente a
concluem.
Tendo em consideração os aspectos anteriormente referidos, propõe-se que a oficina
contemple diversas actividades que serão escolhidas e adaptadas mediante o grupo que a
frequente. Para tal, criaram-se três vertentes para a mesma oficina. Uma primeira em
que o grupo contemple exclusivamente jovens entre os 5 e os 10 anos; uma segunda em
que o grupo contemple exclusivamente jovens entre os 11 e os 15 anos; e, finalmente,
uma última em que o grupo seja constituído por jovens dos 5 aos 15 anos.
Nos quadros 14 e 15 são discriminadas as várias vertentes, os conteúdos a ter em
atenção e os valores e as competências a desenvolver nas novas experiências, quer na
visita à exposição, quer na oficina proposta.

88
Este estudo já foi referido no ponto 8 capítulo IV deste trabalho

85
Visita à Exposição
Vertentes Actividades Conteúdos Valores Competências
- Localizar temporalmente a
- Distinguir
chegada do Homem à Lua
fontes de
Visualizar e
- Identificar os astronautas que informação;
explorar os - Importância da Vida
diferentes fizeram parte da missão Apolo 11
- Ler títulos de
painéis e peças - Identificar diferentes meios de notícias
expostas comunicação que divulgaram a - Consciência da
chegada do Homem à Lua necessidade de
1º Ciclo - Observar
Tirar fotografias conhecer o mundo
(5-10 - Distinguir Terra (planeta); Lua atentamente
com corpo de que nos rodeia
anos) (satélite) e Sol (estrela) imagens;
astronautas
- Constatar a forma da Terra e da - Descrever
Visualizar uma Lua através de fotografias, - Valorização da
fotografias
apresentação em ilustrações História local
(desenvolviment
Power Point
o da
- Referir acontecimentos
comunicação
importantes da vida da cidade do
oral)
Porto no final da década de sessenta
- Importância da Vida - Situar-se no
Visualizar e - Chegada do Homem à Lua e - Pertinência da tempo e no
explorar os exploração espacial exploração espacial e espaço
diferentes cooperação entre - Análise de
- Constituição e caracterização do
painéis e peças nações (remetendo diferentes fontes
sistema solar
expostas para a actualidade) históricas
2º e - Escalas do sistemas solar e
- Valorização da - Descrição de
3º Ciclo Exploração de localização da Terra e da Lua
liberdade de imagens
(11-15 jornais e
- Meios de comunicação social e expressão (desenvolviment
anos) anúncios
falta de liberdade de expressão no o da
- Necessidade de
Visualizar uma Regime do Estado Novo comunicação
salvaguardar o
apresentação em - Características urbanísticas e património oral)
Power Point socioculturais do Porto em 1969. documental - Análise crítica
- Valorização da de notícias e
História local publicidade
- Chegada do Homem à Lua e - Distinguir
exploração espacial fontes de
Visualizar e informação;
- Identificar os astronautas que
explorar os
fizeram parte da missão Apolo 11 - Ler títulos de
diferentes
painéis e peças - Identificar diferentes meios de - Importância da Vida notícias
expostas comunicação que divulgaram a - Observar
chegada do Homem à Lua e o seu - Consciência da atentamente
Tirar fotografias necessidade de
Mista funcionamento condicionado imagens;
com corpo de conhecer o mundo
(5-15 astronautas - Conhecer o sistema solar e que nos rodeia - Descrever
anos) distinguir Terra (planeta); Lua
Visualizar uma fotografias
(satélite) e Sol (estrela) - Valorização da (desenvolviment
apresentação em
Power Point - Constatar a forma da Terra e da História local o da
Lua através de fotografias, comunicação
Exploração de oral)
ilustrações
jornais e
anúncios - Referir acontecimentos - Caracterizar a
importantes da vida da cidade do vida da cidade
Porto no final da década de sessenta em 1969
Quadro 15 - Proposta de rentabilização para visita à exposição direccionada para diversos segmentos do público escolar

86
Oficina “O Infante vai à Lua”
Vertentes Actividades Conteúdos Competências
Colorir um astronauta, uma nave espacial, a terra e a
Lua para criação de fantoches - Localizar
temporalmente a chegada
Apresentação da Terra e da Lua e recriação da do Homem à Lua -Compreender
chegada do Homem à Lua em teatro de sobras. jogos de luz e
1º Ciclo Descrição: As crianças deverão pintar moldes pré- - Identificar os sombras
(5-10 elaborados que depois servirão para apresentar, sob a astronautas que fizeram
anos) forma de um breve teatro de sombras, o que parte da missão Apolo 11 - Capacidade
aprenderam na exposição. de expressão
- Distinguir Terra oral
Materiais necessários: Papel, lápis de cor ou de cera (planeta); Lua (satélite) e
para colorir, tesouras, fita-cola, pauzinhos para os Sol (estrela)
bonecos, um lençol branco, um candeeiro.
- Chegada do Homem à
Lua e exploração
espacial
- Constituição e
Construção de um jogo com perguntas e respostas caracterização do sistema
sobre os conteúdos da exposição solar
Realização do Jogo - Escalas do sistemas - Integração e
2º e
Descrição: Os jovens constroem a base do jogo, os solar e localização da aplicação de
3º Ciclo
peões, os dados e recortam os cartões de questões. Terra e da Lua conhecimentos
(11-15
Depois seguem o jogo de acordo com as regras do adquiridos
anos) - Meios de comunicação
mesmo. social e falta de liberdade
Materiais necessários: Papel, lápis de cor, tesouras, de expressão no Regime
fita-cola, impressões da base do jogo do Estado Novo
- Características
urbanísticas e
socioculturais do Porto
em 1969.
Colorir um astronauta, uma nave espacial, a terra e a
Lua para criação de fantoches
Apresentação da Terra e da Lua e recriação da - Localizar
chegada do Homem à Lua em teatro de sobras. temporalmente a chegada
do Homem à Lua
Criar anúncios publicitários e noticias para anunciar a
chegada do Homem à Lua (em suporte escrito ou em - Identificar os -Compreender
versão telejornal) astronautas que fizeram jogos de luz e
parte da missão Apolo 11 sombras
Mista Descrição: As crianças deverão pintar moldes pré-
(5-15 elaborados que depois servirão para apresentar, sob a - Distinguir Terra
(planeta); Lua (satélite) e - Capacidade
anos) forma de um breve teatro de sombras, o que
Sol (estrela) de expressão
aprenderam na exposição. oral
Os jovens de faixas etárias mais avançadas desenham - Redigir notícias e
um anúncio ou elaboram uma noticia introdutória e anúncios relacionados
de conclusão ao teatro de sombras com a chegada do
Materiais necessários: Papel, lápis de cor ou de cera Homem à Lua e da sua
para colorir, tesouras, fita-cola, pauzinhos para os importância na época
bonecos, um lençol branco, um candeeiro, papel de
desenho, impressões de imagens do Homem na Lua
Quadro 16 - Proposta de Rentabilização para uma oficina de exploração da exposição direccionada para diversos segmentos do
público escolar

87
1.2 Proposta de valorização para Público Sénior
Um outro público-alvo a atingir com esta exposição será o público sénior. Para este
público específico sugere-se uma visita guiada à exposição. Durante a visita deverão ser
exploradas as recordações dos visitantes, relativas à chegada do Homem à Lua. Para
esse efeito, a exposição contempla um quadro aberto, com pequenos cartões onde os
visitantes poderão deixar escrito onde estavam quando se deu esse grande
acontecimento, como o vivenciaram e como o entenderam.
Por outro lado, de forma a criar uma visita aberta e construtiva, poderá apelar-se
constantemente ao diálogo comparativo entre as lembranças da cidade do final da
década de sessenta e a realidade da cidade actual.
Neste sentido, se se achasse relevante, poder-se-ia conceber-se uma actividade
quinzenal, ou mensal, onde se desenvolvesse uma espécie de reunião, em que, a
propósito da chegada do homem à Lua e da exposição “1969 – 21 de Julho : Evocações
portuenses a propósito da chegada do Homem à Lua”, os visitantes pudessem relembrar
as suas vivências na época final do salazarismo e da primavera marcelista. Para tal,
durante a exposição, dever-se-iam apresentar, essencialmente, aspectos do quotidiano da
cidade, relacionando-os com o presente, de forma a despertar nos visitantes a sensação
de mudança. Seria esse sentimento que despertaria, posteriormente, os relatos a discutir
no diálogo conjunto.
Esses relatos poderiam depois ser compilados, juntamente com os registos do quadro
aberto, para fazer um estudo de memória pessoal sobre as vivências na cidade em 1969.
Este aspecto poderia, igualmente, ajudar a superar a lacuna que se verificou nas
pesquisas bibliográficas relativamente à reacção dos habitantes portuenses à chegada do
Homem à Lua.
As visitas guiadas e o diálogo das “lembranças” da época, deverão ser realizadas em
grupo e com marcação prévia de forma a organizar cada actividade de acordo com os
visitantes.
O público sénior poderá ser mais segmentado se distinguirmos visitantes organizados
por centros de dia, centros de convívio ou por universidades seniores. Os primeiros
relembrarão apenas vivências, enquanto o último aproveitará essas lembranças para a
construção e para o aprofundar de conhecimentos.

88
1.3 Proposta de valorização para Público Estrangeiro
No seguimento dos estudos feitos anteriormente sobre os públicos que visitaram a
Casa do Infante nos meses de Junho a Setembro dos últimos anos, foi possível concluir
que o público estrangeiro é um segmento que se deve ter em grande consideração.
Neste sentido, e dado que é extremamente difícil conseguir recursos humanos para
fazer visitas guiadas nas diversas línguas, considerar-se-ia de grande utilidade, e
atractivo para este público, a criação de pequenos roteiros em Francês, Inglês, Espanhol
e Italiano. Este roteiro poderia ser vendido a um preço simbólico, uma vez que este é
um tipo de público interessado que aprecia sempre este género de informação. Este
deveria conter uma pequena contextualização da exposição e das diversas áreas que a
compõe. Poderia ser impresso a cores ou, de forma a evitar grandes despesas, poderia
ser impresso em folhas A4 coloridas, sob a forma de desdobráveis. Para evitar
impressões desnecessárias, este roteiro poderia ser impresso conforme as necessidades.
Se fosse possível, seria, ainda, uma mais-valia para a exposição, a tradução das
legendas e dos textos da exposição para inglês e espanhol. Estas legendas, para além de
permitirem uma visita mais autónoma deste público, facilitavam a compreensão da
exposição seriam um factor atractivo e motivador para futuras visitas.

2.Proposta de Valorização: Promoção e Marketing

Para cativar os públicos-alvo anteriormente identificados, dever-se-á pensar numa


estratégia de marketing e comunicação eficaz, capaz de os alcançar de forma estratégica
e diferenciada.
Neste sentido, pensou-se em algumas vias de comunicação que informassem todos os
públicos alvo em simultâneo e outras que direccionassem convites específicos para cada
um dos públicos.
De uma forma geral, a exposição e as actividades que lhe estão associadas poderão
ser comunicadas através de diversos meios:
- Brochuras (da CMP, da Casa do Infante e do Serviço Educativo)
- Mupis (grandes cartazes afixados nas ruas da cidade)
- Painéis electrónicos (existentes em vários pontos da cidade)
- Agenda Cultural da CMP – “Iporto”
- News letter do DMC

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- Site da CMP (na área de noticias e destaques)
- Press realise (informação à comunicação social)
De uma forma mais específica e direccionada poder-se á comunicar a exposição e as
actividades que lhe possam estar associadas através do envio, via e-mail, fax ou via
correio, de convites específicos para algumas instituições, com a apresentação e
informações gerais sobre a exposição.

3. Proposta de valorização: parcerias e alargamento

Uma forma de valorizar a exposição seria alargar o seu âmbito a outros espaços para
além do AHMP. Aproveitando alguns aspectos importantes que marcaram o ano de
1969, poderiam construir-se painéis informativos que divulgassem a exposição e a
instituição. Por outro lado, estas parcerias informativas poderiam ter sido um ponto de
partida para conseguir alguns patrocínios e publicidade para a exposição.
Duas hipóteses que permitiriam estabelecer parcerias e alargar a exposição seriam:

1) Parceria com a CP
Tendo em conta que em 1969 chegaram, ao Porto, os primeiros comboios eléctricos,
seria interessante construir um painel informativo sobre este acontecimento e outro
alusivo à chegada do Homem à Lua, que seriam colocados na Estação de S. Bento, uma
vez que esta é simultaneamente uma das estações mais centrais da cidade e a que está
geograficamente mais próxima da Casa do Inafante.
Estes painéis teriam um convite aos clientes da CP para visitar a exposição e, em
contrapartida, a CP poderia divulgar a mesma nos seus comboios, alargando a área de
promoção da exposição.

2) Parceria com o JN
Tendo em consideração que o JN foi uma importante fonte para o conhecimento da
vida na cidade em 1969 e para a compreensão da receptividade e divulgação da chegada
do Homem à Lua no Porto, seria interessante desenvolver um conjunto de painéis
informativos sobre a crónica “Radiografia da Cidade”. Estes permitiriam uma visão da
cidade na altura em se deu este grande acontecimento, e fazer reproduções da primeira

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página do jornal de 21 de Julho de 1969, assim como da edição especial que foi
publicada no mesmo dia.
Estes painéis poderiam ser expostos nas galerias do JN e neles poderia ser novamente
reforçado o convite para a exposição em mostra na Casa do Infante. Em contrapartida,
seria proporcionada uma comunicação, e publicidade, acrescida à exposição. De forma a
aliciar ainda mais esta instituição, poderia ser cedido a este jornal um artigo sobre a
cidade no ano em que o Homem chega à Lua, que poderia ser publicado no dia 21 de
Julho de 2009 em algum espaço em que este faça alusão à comemoração do 40º
aniversário da chegada do Homem à Lua.

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VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na recta final deste relatório de estágio, convém fazer-se um balanço do trabalho


desenvolvido ao longo dos vários meses de formação e aprendizagem passados no
SECE do AHMP.
Em primeiro lugar, salienta-se que a recepção nesta instituição foi óptima, o que
facilitou em muito a adaptação a um novo ambiente profissional. As actividades
desenvolvidas foram variadas e de uma grande abrangência, o que permitiu conhecer
mais aprofundadamente as valências de um serviço educativo e os seus procedimentos.
Por outro lado, esta experiência profissional especializou-se no desenvolvimento da
exposição “1969 – 21 de Julho: Evocações portuenses a propósito da chegada do
Homem à Lua”.
Este foi o ponto principal das actividades desenvolvidas e permitiu percorrer todas
as fases do processo de desenvolvimento de uma exposição. Ao longo do estágio
participou-se na preparação da exposição, na definição do conceito e dos objectivos, na
pesquisa documental e na construção do guião da exposição.
Na fase de concepção da exposição, desenhou-se o storyline da exposição,
seleccionaram-se documentos e peças, redigiram-se os textos para os painéis,
seleccionaram-se os conteúdos e elaborou-se o storyboard da apresentação multimédia.
Já no momento da difusão da informação concebeu-se um texto de divulgação da
exposição, estruturou-se e redigiram-se os textos do roteiro e do catálogo da exposição.
No entanto, ficou por abordar a etapa da avaliação, apesar de se ter proposto um
inquérito de avaliação. A avaliação desta exposição seria de grande importância para
conhecer o feedback do público em relação ao trabalho realizado. Permitiria saber se os
objectivos foram alcançados e recolher informações importantes para a realização de
futuras exposições.
Finalmente, considera-se que os objectivos traçados no projecto de estágio foram
cumpridos e que esta experiência profissional foi muito proveitosa e de grande
relevância. Numa altura em que a experiência é um factor de valorização pessoal e
profissional, crê-se que o estágio desenvolvido no AHMP foi de grande importância e
constituiu-se como uma mais-valia para o futuro.

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IX. FONTES E BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS

Capítulo II – Contextualização Teórica:


As Exposições como forma de Mediação Cultural

AMBROSE, Thimothy – Forward planning a handbook of business, corporate and


development planning for museums and galleries. London: Museums & Galleries,
1991.
AMERICAN ASSOCIATION MUSEUMS – Standard Manual for Signs and Labels.
Washington: Metropolitan Museum of Art, 1995.
BELCHER, Michael – Exhibitions in Museums. Leicester: Leicester University Press,
1991.
CAIADO, José Pedro – Formação in MINEIRO, Clara (coord.) – “Actas do Encontro
Museus e Educação”, 10/11 Setembro 2001. Lisboa: Instituto Português de Museus,
Setembro 2002, pp. 35-40.
CAULTON, Tim – Hands-On Exibitions. Londres: Routledge, 1998.
DEAN, David – Museum Exhibition : Teorie and Practice. London: Routledge, 1994.
DIERKING, Lynn – The role of context in children´s learning from objects and
experience, in PARIS, Scott G. – “Perspective on Object-Centered Learning in
Museums”. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates, 2002.
FALK, John H. & DIERKING, Lynn D. – The Museum Experience. Washinton D.C.:
Whalesback Books, 1997
FINN, Bernard – Exposing electronics. Amsterdam: Harwood Academic, 2000.
FREEMAN, Ruth – The evolution of an exhibit: community museums and travelling
exhibits. Toronto: Onatario Museum of Association, 2001.
GARCIA, Nuno Guina – O Museu entre a cultura e o Mercado: um equilíbrio instável.
Coimbra: Instituto Politécnico de Coimbra, 2004.
HOOPER-GREENHILL, Eilean – The Educational Role of the Museums. London:
Routledge,1994.
JEUDY, Henri-Pierre – Exposer, exiber. SL: Èditions de la Villet, 1995.
KARP, Ivan – Exhibiting Cultures: the poetics and politics of museum display.
Washington: Smithsonian Institution Press, 1991.

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LOOMIS, Ross J.- Museum visitor evaluation: New tool for Manegement.
Nashville:American Association for Stat and Local History, 1987.
LORD, Bary – The Manual of Museum Exhibitions. Creek: The Stationery Office
Books, 2002.
MACDONALD, Sharon – Exhibition experiments. Oxford: Blackwell Publishing, 2007.
MILES, Roger – The Design of Educational Exhibits, Londres: Allen & Unwin, 1982.
NOLAN, Gail – Designing Exhibitions to include people with disabilities: a practical
guide. Edinburg: national Museum of Scotland, 1997.
QUINTANILHA, Alexandre – Aprender para lá do que nos ensinaram, in
“Conferencia Internacional, Cruzamento de Saberes, Aprendizagens Sustentáveis”.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, , p. 23-24
SCREVEN, C. G. – Some thoughts on evaluation, in “The Visitor and The Museum”.
Washinton: American Association of Museums, 1977
VERHAAR, Jan ; MEETER, Han– Project Model Exhibitions. Holland: Reinwardt
Academie, 1989.

Capítulo III – Apresentação do Local de Estágio

Casa do Infante. CMP, Direcção Municipal de Cultura, Departamento de Arquivos,


2005.
REAL, Manuel Luís – A Casa do Infante, in “Como se vivia no tempo do Infante D.
Henrique”. Suplemento do Jornal de Noticias. 4 de Março de 1994.
REAL, Manuel Luís – Arquivos Municipais em Portugal: Porto O sistema de arquivos
da Câmara Municipal do Porto, in “Separata de Arquivística”. Braga: Arquivo
distrital de Braga, 1996.
REAL, Manuel Luís - Henrique, O Navegador. Porto: Inova, 1994.
REAL, Manuel Luís – Intervenção Arqueológica na Casa do Infante, in “Actas do 1º
Congresso de Arqueologia Peninsular”. Porto: Sociedade Portuguesa de
Antropologia e Etnologia, 1995.
REAL, Manuel Luís; MEIRELES, Maria Adelaide e RIBEIRO, Fernanda –Arquivística
e Documentação de História Local in “Actas do I Congresso Nacional de
Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas”, vol.II. Porto: APBAD, 1986.

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Capitulo V – Proposta de um Guião para a Exposição

Álbum de Memórias do Ateneu Comercial do Porto (1869-1994)


Anuário do Porto – 1969. Dir. Inácio dos Santos Viseu Junior. Porto: Tipografia
Sequeira, 1969.
AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Provas. A Outra face da situação e dos factos do caso
do Bispo do Porto. Porto: Fundação SPES, 2008.
Boletim da Associação Portuguesa contra tuberculose – 1ª edição, 1969.
Boletim da União de Grémios dos Espetáculos, nº 162, 1969.
BRITO, José Maria Brandão de – Do marcelismo ao fim do império. Lisboa, Edições
Notícias, 1991.
CARDOSO, José dos Santos Guedes - O trânsito no Porto e os seus problemas. Porto:
CMP, 1969.
CARDOSO, Edgar – Ante-projecto duma ponte estrada de betão armado sobre o rio
Douro. Porto: CMP, 1969.
CARDOSO, Edgar – Ante-projecto duma ponte estrada de cantaria sobre o rio Douro.
Porto, CMP, 1969.
CMP - Acta de Reunião Extraordinária de homenagem à memoria do presidente da
câmara exmo sr. Nuno pinheiro Torres, realizada no dia 13 de Março de 1969. Porto:
CMP, 1969.
CMP - Homenagem a Cupertino de Miranda. Porto: CMP, 1969.
COUPER, Heather e HENBEST, Níger – Atlas do Universo. Milão, New Interlitho,
1993.
FERREIRA, Manuel Correia – As ilhas do Porto e os novos bairros, in
WELLEMKAMP, Margarida e PISCO, Luís (coord.) – “Ilhas”. Porto: Panmixia,
2004.
Governo Civil do Porto – Regulamento nº 81 3 de Julho de 1952. Porto: Livraria
Simões, 1969.
GRIMBERG, Carl – História Universal – O Mundo Contemporâneo, vol.20. Lisboa:
Publicações Europa-América, 1969.
LANEYRIE-DAGEN, Dir Nadeije (dir) – Memórias do Mundo das origens ao ano
2000. Mem-Martins: Circulo de Leitores, 2000.
LAVEIRAS, António Reis (dir.)- História do século XX - Década a Década – 1960-
1969, vol.7, SL, Visão, 2004.

97
MALAM, John e Halry Malam – 21 de Julho de 1969: o Homem chega à Lua. Rio de
Mouro: Everest Editora, 2002.
MOTA, Joaquim Magalhães - Ala Liberal, in Dicionário de História do Estado Novo.
PIMENTA, Manuel e FERREIRA, José António (coord.) - As ilhas do Porto: Estudo
Socioeconómico. Porto: Artes gráficas, 2001.
Plano Director da Cidade, vol.I. Porto: CMP, 1962.
Recortes de Jornais - Primeiro quadrimestre Porto: CMP, 1969.
Recortes de Jornais - Segundo quadrimestre Porto: CMP, 1969.
Recortes de Jornais – Setembro e Outubro. Porto: CMP, 1969.
Recortes de Jornais – Novembro e Dezembro Porto: CMP, 1969.
REIS, António – Marcelismo, in “Dicionário de História do Estado Novo”, vol.I.
Relatório de Contas de Gerência referentes a 1969. Porto: CMP, 1970.
Rosas, Fernando (coord.) – A Transição Falhada – O Marcelismo e o fim do Estado
Novo (1968-1974). Lisboa: Editorial Noticias, 2004
SALA, Maria Soler – A corrida ao espaço, um duelo nas alturas, in NAVARRO,
Francesc (dir) – “História Universal – As Guerras Mundiais”,vol.19. S.L.:Salvat,
2005.
TÁVORA – Estudo de Renovação Urbana do Barredo. Porto: CMP, Maio de 1969.

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X. ANEXOS

Os anexos deste relatório encontram-se em suporte digital no DVD-ROM que o


acompanha. De seguida segue-se a listagem dos anexos.

Anexo 1 – Organigramas da Instituição


Anexo 2 – Missão do DMA
Anexo 3 – Projecto de estágio
Anexo 4 – Painéis da exposição
Anexo 5 – Apresentação multimédia sobre a Corrida Espacial
Anexo 6 – Registo Fotográfico da Exposição
Anexo 7 – Catálogo da Exposição
Anexo 8 – Inquéritos de avaliação da exposição

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