Desenvolvimento Economico Social No Brasil - Guimaraes (2016)
Desenvolvimento Economico Social No Brasil - Guimaraes (2016)
Desenvolvimento Economico Social No Brasil - Guimaraes (2016)
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Desenvolvimento econômico-social e
instituições no Brasil
Economic development and institutions in Brazil
Sônia Karam Guimarães*
Abstract: The article aims at discussing the idea of “good society”, based on Douglass
North’s concepts of “limited access order” and “open access order”. It is argued that
the political, economic and social difficulties experienced by the Brazilian society
result, in great part, from a dysfunctional institutional matrix. The debate is based on
the examining of two industrial policies: a) the credit policy carried on by the Brazilian
Development Bank (BNDES), in effect since 2008, and b) the so-called “industrial
policy of the 21th century”, based on incentives for the development of education,
science, technology and innovation. We conclude that the Brazilian institutional
architecture suffers from serious institutional distortions that impact negatively the
transition for an “open access order”, as well as, the consolidation of a sustainable
social economic development.
Keywords: Sustainable development. Institutions. Brazil.
* Doutora em Sociologia pela London School of Economics and Political Science da Universidade
de Londres (LSE, Londres, Grã-Bretanha), professora convidada do PPG em Sociologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, RS, Brasil, pesquisadora 1B do
CNPq; fez estágio pós-doutoral na Sloan School of Management, MIT, em Cambridge (MA),
Estados Unidos <[email protected]>. A autora agradece aos bolsistas Thiago Oliveira (AT/CNPq)
e Thiago E. Madeira (IC/CNPq) pelo auxílio na coleta de dados. Agradece também aos dois
pareceristas anônimos que contribuíram com sugestões relevantes para a versão final do artigo.
Introdução
p. 27).
4 North et al. (2007) distinguem três diferentes níveis de “ordem de acesso limitado” (frágeis,
básicas e maduras) que se caracterizam por graus distintos de abertura de acesso e de sofisticação
institucional e organizacional. A diferenciação por níveis de evolução não se traduz em uma
visão teleológica de desenvolvimento, visto que os autores consideram que regressões de níveis
podem ocorrer. As sociedades latino-americanas, África do Sul e Índia foram incluídas pelos
autores como pertencendo à “ordem de acesso limitado”, de nível maduro.
S. K. Guimarães – Desenvolvimento econômico-social e instituições no Brasil 263
7 Esta seção, dedicada ao exame do BNDES, apoiou-se no livro de Musacchio e Lazzarini (2015),
em especial, nos capítulos 9 e 10. O livro apresenta um excelente estudo sobre o capitalismo de
estado no Brasil.
8 Exemplos de política industrial desse tipo seria o caso da Internet, cujo desenvolvimento
e retribuição na forma de doações a campanhas políticas. Dentre outros, ver Dinç (2005),
Claessens et al. 2008), Harber (2002), Ades e Di Tella (1997); todas as referências apud
Musacchio e Lazzarini (2015).
10 O termo “social” foi acrescentado em 1982, inicialmente chamava-se Banco de Desenvolvimento
Econômico (BNDE).
S. K. Guimarães – Desenvolvimento econômico-social e instituições no Brasil 269
16
O percentual de acréscimo de renda varia de acordo com o nível de escolaridade da população
analisada, das condições do mercado de trabalho, da qualidade da educação e de outras variáveis
sociais.
17 Investimento direto considera apenas dispêndios com educação pública e com gastos na
atividade fim, educação. <http://portal.inep.gov.br/estatisticas-gastoseducacao-indicadores_
financeirosp.i.p._natureza_despesa.htm> (10 fev. 2016).
18 O Pisa busca realizar uma avaliação internacional comparada acerca de conhecimentos em
atual: “There are lots of different ways to structure the game, to provide the
correct incentives (that is what institutions are, incentive structures) to do the
right thing [...]” (North et al., 2007, p. 19).
O número de diplomados em cursos das áreas de Ciências e Engenharia,
áreas cruciais para enfrentar os desafios do desenvolvimento atual, tem
aumentado significativamente no mundo: em 2012, o total foi de 6.400.000.
China e Índia foram responsáveis por quase metade do total dos concluintes;
os Estados Unidos e a União Europeia diplomaram, na área, 21%; enquanto o
Brasil diplomou menos de 2%19 (National Science Board, 2016).
EU 11,50%
Brazil 1,9%
India 23,0%
China 23,4%
EU 13,7%
Brazil 5,4%
China 11,3%
Japan, South
Korea, Taiwan 4,4%
India 29,3%
Russian Federation
7,9%
Fontes: Organisation for Economic Co-operation and Development, Education Online database,
<http://www.oecd.org/education>; national statistical offices. Science and Engineering Indicators 2016
(over view).
19
21 Apesar da boa classificação geral, o impacto internacional da produção brasileira (0,67) está
bem abaixo de índices de países como o Reino Unido (1,88), Canadá (1,81), Estados Unidos
(1,80), China (1,36), Coreia do Sul (1,31), Argentina (1,40) e México (1,39) (National Science
Board, 2016).
278 Civitas, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 259-284, abr.-jun. 2016
22 O programa Ciência sem fronteiras foi criado em 2011 visando à “consolidação, expansão e
internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por
meio do intercâmbio e da mobilidade internacional” (MCTI. Ciência sem Fronteiras <www.
cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa> (10 abr. 16).
S. K. Guimarães – Desenvolvimento econômico-social e instituições no Brasil 279
23 TCU e Ipea apontam desvio de foco dos recursos de fundos para ciência, tecnologia e inovação.
(Jornal da Ciência, n. 5404, 27 abr. 2016 <www.jornaldaciencia.org.br/edicoes/?url=http://
jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/1-tcu-e-ipea-apontam-desvio-de-foco-dos-recursos-de-
fundos-para-ciencia-tecnologia-e-inovacao/>.
280 Civitas, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 259-284, abr.-jun. 2016
Considerações finais
A questão inicialmente proposta neste artigo foi de que a boa sociedade,
no mundo atual, tem como objetivo tornar acessível à maior parte da
população, níveis econômicos, sociais, políticos e culturais mais elevados e
menos desiguais. Partiu-se do pressuposto de que para tanto impõe-se a criação
de riqueza, voltada à promoção do desenvolvimento social e econômico de
longo prazo. Para o sucesso desse projeto é indispensável a consolidação de
uma arquitetura institucional capaz de sustentar uma “ordem social de acesso
aberto”. Argumentou-se que, no caso do Brasil, o arcabouço institucional em
vigência está ainda distante de cumprir de forma efetiva, os requisitos da
ordem de acesso aberto, nos moldes apregoados por North. Há, no Brasil,
a crença de que a boa sociedade se cria com a maior intervenção do estado.
Diferente do que foi no passado, a apregoada solução intervencionista deve
ser, hoje, melhor discutida e compreendida, em suas consequências.
Os dados apresentados neste artigo sobre a política industrial que
fundamentou a atuação do Banco de Desenvolvimento (BNDES), no Brasil,
em anos recentes, evidencia os resultados nefastos trazidos à economia do
país em decorrência de decisões não transparentes e que infringiram normas
previstas. A ineficiência de outras áreas ligadas à intervenção estatal, no
Brasil, tende a reforçar a tese de que a construção de uma ordem social de
acesso aberto exigiria que o estado perdesse o monopólio da distribuição de
recursos. Esta deve organizar-se, em torno do processo de livre competição,
baseado em regras pautadas pelo mérito e pela capacidade de produzir retornos
sociais eficientes. É fundamental limitar a possibilidade de utilização, pelo
estado, de mecanismos de manipulação de recursos em favor de interesses
políticos particulares. Não se trata de retornar ao dilema simplificador de opor
estado em relação ao mercado. Estado e mercado não são instituições que se
excluam; ao contrário, são complementaridades institucionais. A concepção de
complementaridades institucionais é relevante visto que supõe que a presença
S. K. Guimarães – Desenvolvimento econômico-social e instituições no Brasil 281
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282 Civitas, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 259-284, abr.-jun. 2016
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Autora correspondente:
Sônia K. Guimarães
Rua Eng. Teixeira Soares, 66 ap. 802
90440-140 Porto Alegre, RS, Brasil