O Terno Na Contemporaneidade
O Terno Na Contemporaneidade
O Terno Na Contemporaneidade
O TERNO NA CONTEMPORANEIDADE:
ENTRE A TRADIÇÃO E O DESIGN DE MODA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
O TERNO NA CONTEMPORANEIDADE:
ENTRE A TRADIÇÃO E O DESIGN DE MODA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
O TERNO NA CONTEMPORANEIDADE:
ENTRE A TRADIÇÃO E O DESIGN DE MODA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O TERNO NA CONTEMPORANEIDADE:
ENTRE A TRADIÇÃO E O DESIGN DE MODA
Examinador Interno
Prof. Dra. Rosane Preciosa
Universidade Anhembi Morumbi
Examinador externo
Prof. Dra. Carla Mendonça
Universidade Federal de Minas Gerais
CDD 741.6
5
Dedicatória
6
“Sou contra a moda que não dure. É o meu lado masculino. Não consigo imaginar
que se jogue uma roupa fora, só porque é primavera.” Coco Chanel
7
Resumo
Esta pesquisa aborda o terno como um artigo do vestuário que acompanha as exigências
do mercado de moda, sem perder sua original conexão com a tradição e com a alfaiataria clássica
e investiga o traje sob diferentes perspectivas. A fim de compreender melhor sua origem, o texto
apresenta uma averiguação histórica, contextualizando o terno ao longo do tempo, apontando
conexões com o campo do design de moda, realçando seus atributos simbólicos e enfatizando alguns
dos paradoxos que o caracterizam. Após este trajeto, nosso objeto de estudo é abordado sob o ponto
de vista dos estilos de vida e dos usos individuais, de modo a enfocar o traje no contemporâneo. Por
fim, o terno é pensado a partir do trabalho do alfaiate e artista plástico mineiro Marcelo Blade, o
que aponta reflexões no âmbito da experiência estética.
Abstract
This research adresses the suit as a piece of clothing that follows the fashion business’ demands
but maintains it’s original conection with the tradition and classic tailoring. It also investigates the
suit under various perspectives. To better understand the origins of the suit, the text presents a
historical research contextualizing the suit over time , pointing out the connections with the fashion
design field, enhancing it’s simbolic atributes and emphasizing some of it’s caracterization paradoxes.
After this journey, our research object is adressed by individual points of view and different lifestyles
in order to foccus in the suit of the modern days. At last, the suit is analized throught the work of
Marcelo Blade, an artist and professional tailor from Minas Gerais, that approaches the suit within
his aesthetic experiment.
8
Sumário
Introdução 13
9
Lista de Figuras
10
Lista de Figuras
11
Lista de Figuras
12
INTRODUÇÃO
Introdução
13
O presente trabalho visa investigar o terno como um artigo do
vestuário que se mantém em uso há cerca de dois séculos, conservando
seu caráter tradicional e, concomitantemente, dialogando com o
design de moda contemporâneo. Acompanhar as exigências do
mercado do vestuário sem perder sua conexão original com a tradição
e com a cultura da alfaiataria clássica, nos possibilita uma abordagem
que enfatiza o terno como meio para enfocar alguns dos paradoxos do
sistema da moda.
Esta pesquisa pretende abordá-lo em sua origem e história, bem
como a partir de alguns aspectos relevantes de sua presença no cenário
da moda contemporânea. Nosso principal objetivo é explorar alguns
dos atributos, características e usos que perpassam o universo do traje,
desde a tradição da alfaiataria, até criações no campo do design de
moda. Nosso trajeto abrange algumas das maneiras como esse artigo do
vestuário é usado e transformado por seus usuários, como também uma
manifestação ligada ao campo da arte. Dessa forma, nosso estudo se
fará a partir de uma compreensão de sua origem tradicional, percorrerá
adaptações e reinvenções ocorridas no campo do design de moda e será
concluída com a investigação sobre criações que deslocam o terno de
seu uso comum.
Para compor tal linha de pensamento, no primeiro capítulo
tratamos do contexto histórico em que se dá o surgimento do terno,
bem como sua evolução formal que resulta na estrutura que hoje
conhecemos. No entanto, é importante ressaltar que se trata de um
exame não linear de sua história e da alfaiataria, com a referência
aos acontecimentos que consideramos relevantes nesta pesquisa. Na
sequência, a fim de se compreender um pouco mais sobre sua utilização
como vestuário em grande parte do mundo, abordamos aspectos
relacionados às atribuições simbólicas ligadas ao terno, como erotismo
e poder, ilustradas por meio da figura do personagem James Bond. Para
finalizar este capítulo, apresentamos o levantamento das principais
transformações ocorridas no sistema produtivo do terno, relacionadas à
substituição do trabalho artesanal pelo processo industrial, bem como a
adaptação do traje ao novo cenário surgido com a Revolução Industrial.
Nesse sentido relacionamos o terno ao sistema de produção denominado
- 14 -
prêt-à-porter, na contramão da roupa sob medida.
Tendo em vista o surgimento da produção de ternos em larga
escala e a maior acessibilidade dos consumidores, o segundo capítulo
está voltado para uma análise sobre o traje e sobre o design de moda.
Em nossas hipóteses consideramos o terno como um elo entre a
tradição e o design, uma vez que o traje mantém sua estrutura formal
e suas características tradicionais, mas mostra-se aberto a inovações.
Este apontamento poderá ser visto por meio do trabalho de designers
como o japonês Yohji Yamamoto e a inglesa Vivienne Westwood, que
interpretam a alfaiataria e o terno cada um à sua maneira, de forma a
conferir-lhe singularidade e distinção.
Posteriormente, apresentamos aproximações entre o terno e a
moda sob a ótica dos paradoxos que caracterizam esse sistema: o traje
é pensado como vestuário capaz de conferir distinção ao indivíduo, ao
mesmo tempo que pode funcionar como vestimenta padronizadora.
Inicialmente, interpretado como um artigo do vestuário que possibilita
uma certa uniformidade entre os indivíduos, serão feitas algumas
reflexões relacionadas à apropriação do terno masculino pelas mulheres.
As possibilidades distintivas do terno, por sua vez, podem ser percebidas
quando este é deslocado de seu “lugar comum”, ou seja, quando seu uso
é relacionado à situações nas quais o traje não seria adequado. Alguns
desses deslocamentos poderão ser vistos no trabalho do designer inglês
Adrien Sauvage, intitulado This is not a suit – “isso não é um terno”,
em português -, em que ele descontextualiza o terno de seu uso comum.
Serão utilizados como exemplos a banda de rock britânica, The Beatles
e a figura do popular “malandro carioca” tipicamente brasileiro. No
primeiro caso, o terno é apresentado como um traje que rompe com
o estereótipo do roqueiro, e no segundo, como vestuário capaz de
caracterizar um tipo social.
No terceiro e último capítulo, o terno é apresentado na
perspectiva diferenciada dos estilos de vida, dos usos individuais e da
arte. Por meio dos estudos sobre o terno, trabalhamos com alguns
conceitos trazidos pelo prêt-à-porter, relacionados ao consumo e à
construção de modelos existenciais pré-estabelecidos. Em contrapartida,
para pensar usos individualizados, apresentamos exemplos de maneiras
- 15 -
distintas de vesti-lo através de imagens de moda de rua retiradas de blogs
especializados, fazendo comparações com sua tradicional configuração,
composta por paletó, calça e colete.
Como proposta de finalização, nosso objeto de estudo será
pensado a partir de um exemplo que envolve sua inserção no território
artístico. Esta abordagem traz a oportunidade de se refletir sobre o terno
no contexto da experiência estética. O trabalho do alfaiate e artista
plástico mineiro Marcelo Blade é enfocado a partir da apresentação
de suas ações performáticas, nas quais o traje é de uso recorrente.
O terno, sob esta ótica, é retirado de seu lugar comum e visto pela
perspectiva de um artista que o desvincula de seus atributos simbólicos
usuais. Para compreender o trabalho de Marcelo Blade, o entrevistamos
informalmente em seu ateliê, em Belo Horizonte, por considerar
relevante vivenciar seu processo criativo em relação ao terno.
Consideramos relevante nosso estudo por se tratar de uma
espécie de “janela” para investigar o terno sob diferentes perspectivas,
tais como aquelas ligadas aos campos da história, do design de moda e
da arte. Além disso, esta pesquisa enfatiza um artigo do vestuário pouco
abordado de modo específico, em termos teóricos. Nosso trabalho teve
como referências autores como Hollander (1996), Boucher (2010),
Souza (1987) e Musgrave (2009), no que diz respeito à abordagem
histórica. Sudjic (2010), Simmel (2008), Svendsen (2010) e Forty
(2007), colaboraram para uma compreensão mais ampliada com relação
ao design de moda e, por fim, facilitando o entendimento na esfera da
individualização e da experiência estética, estivemos em diálogo com
Lipovetsky (2009), Featherstone (1995), Gumbrecht (2006), Preciosa
(2005) e Crane (2006). Fizeram-se também relevantes as pesquisas
realizadas na internet, mais especificamente, nos blogs de moda, por
permitir uma maior aproximação visual com relação aos usos do terno
no cenário contemporâneo.
- 16 -
Capítulo 1
O terno: um breve
resgate histórico
17
1.1. O início da alfaiataria
Figura 2:
Armadura medieval
Armadura medieval feita
em aço e chapas de ferro
que cobrem todo o corpo.
Podiam conter até 250
partes articuladas, o que
evidencia a valorização das
formas humanas.
Fonte: www.tienda-
medieval.com, acesso em
05/10/2011.
- 19 -
As inovações nas armaduras representaram a primeira
modernidade real na moda ocidental. Substituía a estrutura
humana nua por outra tridimensional. O vestuário
masculino perde o aspecto folgado que tinha desde a
Antiguidade e surgem novas formas e linhas para o torso
e passa a considerar a forma completa das pernas e braços
(HOLLANDER, 1996, p. 62).
Figura 9: Vestuário Mello e Souza (1987, p. 44) afirma que a moda, nesse momento,
masculino do
século XVIII. “evolui da imobilidade para a mobilidade, o corpo evolui do bloco total
Traje mais simplificado,
apesar de ainda conter para a libertação dos membros.” Nesse sentido, observa-se que o traje
certos excessos.
Fonte: www.
masculino passa a ser feito de partes separadas, dispostas em camadas e
modahistoria.blogspot. destacáveis e a grande mobilidade física permitia a roupa se ajustar, tanto
com, acesso em
07/10/2011. ao corpo parado, quanto em movimento. A libertação dos membros e a
simplificação das vestimentas são influenciadas pelo resgate dos valores
Figura 10: Protótipo do da Antiguidade Clássica, ocorrido no fim do século XVIII.
terno do século XVIII.
Protótipo do terno De acordo com Hollander (1996), apesar de a alfaiataria ter
mais próximo de
como conhecemos traços de sua origem na Idade Média, o corte masculino clássico,
hoje, formado por
casaca, colete e culotte.
sugerindo um corpo masculino que se afina a partir dos ombros largos
Segunda metade do e peitos musculosos, é originalmente neoclássico e foi inventado e
século XVIII.
Fonte: www.oglobo. aperfeiçoado entre 1780 e 1820. A elegância nesse período, era
globo.com, acesso em
16/10/2011. sinônimo de seriedade. Os princípios estéticos característicos da época,
no fim do século, propunham “um ideal de ordem autoperpetuante,
flexível e infinitamente variável, privilegiando a simplicidade, a limpeza
- 26 -
de detalhes e cortes” (HOLLANDER, 1996, p. 16), marcando o
despertar para valores clássicos da antiguidade, afastando-se
esteticamente do barroco, aproximando-se, cada vez mais, de uma
simplicidade menos exibicionista.
Figura 11:
Discóbolo de Mirón,
Encontrada em 1781.
Uma das mais famosas
estátuas gregas e
exemplo de liberdade
de movimento. A
estaticidade e a rígidez
das esculturas de
períodos anteriores,
foram substituídas,
na Antiguidade,
por movimentos
tridimensionais, de
modo que as pessoas
pudessem admirar
o corpo humano tal
como ele é.
- 29 -
7. A simplificação, recato dos dândis era, então, precedido de um preparo pessoal meticuloso
aqui referenciada com
relação aos dândis, em relação ao corte, à modelagem, ao caimento do tecido sobre o corpo
baseia-se no fato de
tratar-se de roupas e à maneira de se portar socialmente.
menos ornamentadas, se
comparadas às do início Mesmo que, na maioria das vezes, o dândi optasse por uma
do século XIX.
combinação de roupas mais sóbria e simplificada7 visualmente, sua atitude
e postura mantinham-se rebuscadas, pautadas por um certo excesso de
preocupação com a maneira de se portar e de agir socialmente.
- 30 -
A essência do traje masculino estava consolidada desde o início do
século XIX e, dessa maneira, o que se modificavam eram os detalhes, e
não sua estrutura básica. Segundo Hollander (1996), desde 1800, as
roupas masculinas mostravam-se variáveis e expressivas, fluidas e criativas.
A diferença, no entanto, é que
Figura 13: George
Beau Brummell. surgem de maneira mais definitiva,
Século XIX (1805).
O precursor do dandismo, uma vez que já teriam atingido sua
Fonte: www.
oglobo.globo.com,
simplificação. O paletó tradicional,
acesso em 14/10/2011. por exemplo, se mantinha e o que
mudava eram suas lapelas, seus
detalhes como botões, bolsos, etc.
Na análise de Mello e Souza (1987),
a casaca que dará origem ao paletó
conhecida em inglês por riding-coat
8. Amplo casaco e, em francês, como redingote8, é
masculino longo e
cintado, cujas abas adotada pela maioria dos homens
se juntavam na
frente, próprio para europeus no fim do século XVIII. O
cavalgar.
paletó mais informal, como data
Boucher (2010, p. 347), surgiu em
1835, dividindo as horas do dia com
o redingote. O paletó era cada vez
mais usado depois de 1870, e o
terno – paletó, colete e calça de mesmo tecido – ganhou espaço após
1875, sem ser, todavia, considerado traje de gala.
No fim do século XIX, a sobrecasaca, ancestral do double
brasted - casaca com abotoamento trespassado, considerada estilosa e
autoritária - se faz presente com forte influência militar. Com a era
vitoriana chegando ao fim, houve um aumento da utilização do que era
considerado um traje informal, nomeado traje de passeio, e a sobrecasaca
se inseria nessa definição. Na virada do século, porém, a simplicidade
da sobrecasaca foi substituída pelo paletó de abotoamento simples, que
passou a ser considerado ideal para o dia (MUSGRAVE, 2009).
Segundo análise do mesmo autor, paletós e calças deveriam
respeitar as linhas do corpo e trabalhar sua proporção, uma vez que era
fundamental que as partes de um traje se complementassem. O terno
- 31 -
9. “Fato” pode referir-se ideal era aquele que disfarçava os defeitos e valorizava as qualidades do
à indumentária, roupa,
traje, vestuário. No corpo masculino. Roetzel (2000, p. 90), afirma que “o corte de um bom
presente contexto é
o mesmo que terno fato9 devia ser “natural”, o que significa que ele deverá fazer realçar da
masculino.
melhor forma a figura do portador do fato e só deverá intervir para
corrigir certas partes em figuras
verdadeiramente problemáticas.”
A evolução do terno
masculino também foi marcada por
algumas transformações que serão
aqui brevemente abordadas. Trata-
se de uma abordagem não linear
de alguns itens que constituem ou
Figura 14: Traje de
passeio do século complementam o terno moderno.
XIX. Sobrecasaca,
colete e calças. As calças, por exemplo, logo
Fonte: www.
oglobo.globo.com, substituiriam os calções, na segunda
acesso em 16/10/2011.
década do século XIX, lançadas pelo
duque de Wellington. Em concordância, para Eric Musgrave (2009),
a partir de 1820 as calças se tornaram mais comuns, embora fossem
bastante disformes, sem mostrar os contornos das pernas, terminando
sobre os tornozelos. Em 1895, de acordo com Boucher (2010),
introduziu-se a moda de marcar com ferro quente um vinco na perna
da calça, e, por sua vez, as pregas feitas no cós datam de 1911.
Outro exemplo refere-se à gravata. Boucher (2010, p.327) descreve
o acessório quando diz que “os últimos anos do século XVIII trazem
de volta a moda da gravata de musselina, mas bem diferente do que
tinha sido sob Luís XVI, consistindo num grande quadrado dobrado na
diagonal, enrolado em volta do pescoço, preso apenas por um pequeno
laço sem roseta [...]” As gravatas e os coletes se mantiveram até 1830,
quando a moda masculina, ainda concordando em alguns aspectos com
a feminina, privilegiava o estrangulamento dos corpos, acentuando as
formas com as “cintas bascas” usadas sobre a pele.
Mesmo a gravata não fazendo parte do traje entendido como
terno, uma vez que o mesmo compreende calças, colete e paletó, nas
mais recentes configurações desse artigo do vestuário – calças, paletó,
camisa e gravata – ela se insere como um acessório que o caracteriza
- 32 -
como tal. Na imagem a seguir é possível vizualizar como era a gravata
no século XIX e como ela se configura no contemporâneo.
Quanto aos tecidos, até o século XIX, não havia diferença entre
o masculino e o feminino. O uso do linho e da lã, combinados com
a seda, foi generalizado com o desenvolvimento da indústria têxtil. A
medida que o século avançava, o homem ia renunciava às sedas, aos
cetins e aos brocados, cabendo aos mesmos, apenas tecidos ásperos e
estruturados (MELLO E SOUZA, 1987). O aparecimento dos tecidos
sintéticos, já no século XX, trouxe uma nova dimensão para o terno
masculino e permitiu que os trajes pudessem ser feitos em tecidos muito
mais leves do que antigamente e, naturalmente, mais confortáveis e
frescos (ROETZEL, 2000). A invenção do poliéster combinado com
a lã, permitia uma enorme redução de custos na confecção dos trajes.
Tecidos sintéticos e misturas têxteis eram muito comuns em 1970, mas
os ternos de lã continuavam supremos, mesmo mantendo seus altos
custos (MUSGRAVE, 2009).
Até o fim do século XIX, o terno era considerado impróprio para
ocasiões formais, sendo utilizado somente durante o dia. É no século
XX que, mesmo muitos homens usando ternos sóbrios tradicionais,
uma variedade de possibilidades estilísticas foi implantada. No fim de
1960 e início de 1970, era possível encontrar tanto ternos clássicos
tradicionais, quanto ternos feitos de acordo com as inovações da moda.
- 33 -
Para Musgrave (2009), somente na década de 1930 é que o terno passou
a ser usado para o trabalho e para o lazer, de dia ou à noite. O contraste
entre o terno como roupa de trabalho e como roupa capaz de conferir
estilo pessoal foi estabelecido na década de 1970 e permanece até hoje.
Figura 17:
Terno inglês
Terno masculino,
1981. Corte e
modelagem mais
tradicionais
Fonte:
MUSGRAVE,
2010, p. 61.
Figura 18:
Terno italiano
Terno masculino,
1969. Modelagem mais
próxima do corpo.
Fonte: MUSGRAVE,
2010, p. 81
- 34 -
algum tempo, divide o monopólio estilístico com a Itália, que inseriu
critérios estéticos para a confecção de ternos que extrapolam os moldes
tradicionais (ROETZEL, 2000).
Segundo Roetzel (2000, p. 90), “o fato (terno) continua a ser a
roupa mais elegante que um homem pode vestir, pressupondo que o
corte, a cor e o tecido estejam correctos e que condigam com a ocasião,
a hora do dia, a estação do ano e o clima da região”. Vale ressaltar aquilo
que mencionamos inicialmente: originalmente composto por três
peças, paletó, colete e calça, o terno adquire, ao longo da história, uma
nova configuração, transformando-se em costume, um traje de duas
peças composto por paletó e calça, como veremos no terceiro capítulo
desta pesquisa, quando abordaremos alguns dos usos deste traje no
contemporâneo.
13. www.
que sabe o que quer e como conseguir, em todos os aspectos de sua
bondcollection. vida”13 e o terno, nesse sentido, pode reforçar a ideia de determinação.
com.ar
- 41 -
Figura 27: Imagem do O agente 007 é descrito nos livros como um homem alto, moreno,
filme 007 – O mundo
não é o bastante. viril, de porte atlético e sedutor. Em muitas cenas, está vestido de
Pierce Brosnan
interpretando 007 no terno, que, associado aos atributos simbólicos averiguados, tende a
filme 007-O mundo
não é o bastante, em enfatizar tais características.
1999. O terno (nesse
caso o costume) está Hollander (1996, p. 144),
presente nas cenas de
ação da personagem,
afirma que “o terno não restringe o
demostrando corpo do modo como a armadura
sua adaptação ao
corpo também em ou os gibões da Renascença” e, sim,
movimento.
por ser um traje de caimento fácil,
permite uma maior movimentação.
No caso de James Bond, mesmo
em movimento, em cenas de ação,
o terno está presente, conferindo,
nas palavras de Hollander (1996, p.
145), uma “masculinidade adulta
confiante” e reforçando a “aparência
moderna de abstração dinâmica cuidadosamente simplificada, que tem
seu próprio apelo sexual forte.”
Figura 28: Imagem
do filme 007 contra
Golden Eye.
Fonte: www.
webcine.com.
br, acesso em
24/10/2011.
Figuras 31 e 32:
Imagens do filme 007
contra a chantagem
atômica. Filme de
1965. Sean Connery
interpretando o
agente secreto em dois
momentos distintos:
expondo o corpo e
trajando um smoking14.
Ambas as imagens
podem ser consideradas
sexualmente fortes.
Fonte: www.webcine.
com.br, acesso em
24/10/2011.
- 44 -
quando utilizados pelo grupo masculino, certos trajes
assumiam significados específicos, como a glória na hierarquia
militar, civil ou religiosa. No conjunto, a indumentária
masculina conferia aos homens o poder, a grandeza, a riqueza,
a dignidade no contexto de uma determinada coletividade
(CASTILHO, 1996, p. 144).
Figura 35:
Caseamento artesanal
A figura tal ilustra a
costura das casas dos
botões de maneira
artesanal, técnica que
exige algumas horas de
dedicação.
- 47 -
Como as roupas eram feitas de maneira exclusiva, não pensava-se
em um padrão único de medidas e nem em um design que atendesse a
todos. A fita métrica como conhecemos hoje, dividida em centímetros,
foi inventada pelos próprios alfaiates, em 1820, com a finalidade de
se produzir mais de um traje por vez. Antes disso, cada cliente tinha
sua própria tira de medidas, com marcações específicas para seu corpo.
Observou-se, no entanto, semelhanças nas proporções de alguns corpos
masculinos e que, dessa maneira, seria possível produzir várias peças
ao mesmo tempo, para corpos semelhantes (HOLLANDER, 1996).
A possibilidade produtiva que surge com a invenção da fita métrica é
potencialmente ampliada na era industrial.
O advento da industrialização e a incapacidade de competir com
a rapidez de produção e os baixos preços das lojas, tornou o serviço
do alfaiate caro e elitizado, o que não significa que este não continue
tendo seu espaço no mercado, mesmo que reduzido. No entanto, a
fabricação em série ganhou maior visibilidade por ser considerada capaz
de fornecer roupas de todos os tipos a um preço acessível (BOUCHER,
2010). O mesmo autor afirma ainda que:
- 49 -
A produção de roupas feitas em larga escala permitiu que os
ternos, antes restritos a camadas sociais abastadas, se tornassem mais
acessíveis e adequados às mudanças produtivas e às exigências de um
público cada vez mais diverso. Mas, mesmo com as constantes mudanças
de gostos e ideais relativos à moda, as formas da alfaiataria masculina
foram ganhando força e valorização ao longo de sua existência e servem
até os dias de hoje, sendo periodicamente remodeladas pelas diretrizes
do campo da moda.
Diante da permanência da alfaiataria na contemporaneidade,
é possível considerar que esta continua mostrando a força simbólica
de alguns valores. O mesmo não se pode dizer dos alfaiates, antigos
profissionais especializados na técnica, que hoje somam muito poucos
em consideração aos períodos anteriores à industrialização.
Na era industrial, esses profissionais, ainda necessários nas
fábricas que se formaram, precisaram ensinar a técnica e os segredos
da alfaiataria para que a confecção em larga escala pudesse acontecer.
Durante algum tempo muitos deles continuaram a trabalhar dentro do
sistema fabril ensinando e disseminando seu conhecimento. Por volta
de 1940, os alfaiates que monitoraram as fábricas foram substituídos
por administradores e, a partir de 1950, as mudanças trouxeram uma
redução no trabalho humano resultando em uma queda no tempo de
produção e na melhoria da qualidade dos produtos (MUSGRAVE,
2009). A redução considerável dos ateliês de alfaiataria tornou o serviço
sob medida caro e altamente especializado.
A produção em série desencadeou o início da extinção das
alfaiatarias. No entanto, outros fatores têm contribuído igualmente para
esse fato. Um dos maiores problemas que impedem a perpetuação do
ofício do alfaiate é a falta de continuadores nos ateliês. A imagem pouco
atrativa que as alfaiatarias foram adquirindo gerou desinteresse das
camadas mais jovens que, possivelmente, garantiriam sua continuidade.
Além disso, para agravar ainda mais o quadro, trata-se de uma profissão
que exige um longo período de aprendizagem e não oferece uma
estrutura organizada de formação profissional.
Podemos considerar que a situação descrita, acaba por prolongar
uma crise generalizada na atividade. Os poucos alfaiates qualificados,
- 50 -
por serem raros, encontram sempre empregos sem dificuldade, mas os
jovens, cada vez mais desinteressados, preferem atividades relacionadas
ao esquema de trabalho ligado ao prêt-à-porter que se por um lado
oferecem menos possibilidades de expressão da sua criatividade, por
outro auferem, em geral, melhores salários no mercado de moda. Os
jovens querem estudar ou optam por trabalhar em atividades que
lhes pareçam mais atrativas e com mais possibilidades de ascenção
profissional. Optam, por exemplo, pela área de design de moda, ao
invés da área de alfaiataria.
O capítulo que se segue investigará algumas questões relacionadas
à alfaiataria e ao design, com ênfase no paradoxo que atravessa essas
instâncias no contemporâneo.
- 51 -
Capítulo 2
Tradição, Moda e Design
52
No presente capítulo, as reflexões acerca do terno são direcionadas
à possíveis diálogos que este artigo do vestuário pode estabelecer entre a
tradição, o design e a moda.
A associação do terno à tradição, possívelmente, relaciona-
se à sua origem clássica e à sua estrutura formal que mostra-se ainda
permanente na contemporaneidade. Por outro lado, sobre essa mesma
estrutura, inúmeras são as possibilidades criativas que a moda e o design
proporcionam e, como veremos, permitem ao terno ser considerado
um possível suporte para tais mudanças.
Nesse sentido, o principal objetivo deste capítulo é pensar alguns
dos paradoxos relacionados ao terno contemporâneo, aproximando-o
ao território também paradoxal da moda e, dessa maneira, investigar
como o design colabora com a perpetuação deste traje na atualidade.
Essa reflexão inicia-se com uma abordagem que permite pensar
o terno como um possível elo entre a tradição e o design de moda.
Isso porque o traje possui, simultaneamente, características clássicas e
contemporâneas, o que significa que, mesmo mantendo sua estrutura
formal, acompanha as aceleradas transformações estéticas que se fazem
presentes no campo do design. Este apontamento poderá ser visto por
meio do trabalho de designers como o japonês Yohji Yamamoto e a
inglesa Vivienne Westwood, que interpretam a alfaiataria e o terno à sua
maneira, de forma a conferir-lhe singularidade e distinção.
Muitos autores como Simmel (2008), Lipovetsky (2009) e,
posteriormente, Svendsen (2010) se preocuparam em abordar a moda
e seu caráter paradoxal de individualização e de uniformização. Nesse
sentido, utilizando o terno como principal exemplo, serão feitas
aproximações entre este artigo do vestuário e o campo da moda,
pautadas pelas possibilidades de uniformização e de distinção que o
terno proporciona.
Inicialmente, o terno será pensado como um artigo do vestuário
que possibilita uma certa uniformidade entre os indivíduos. Para tal,
serão feitas algumas reflexões relacionadas à apropriação do terno
masculino pelas mulheres, pensando em seu viés homogeneizador.
As possibilidades distintivas do terno, por sua vez, podem ser
percebidas quando este é deslocado de seu “lugar comum”, ou seja,
- 53 -
quando seu uso é relacionado à situações em que, normalmente, este
traje não seria adequado. Alguns desses deslocamentos poderão ser vistos
por meio da apropriação do terno masculino pelas mulheres, no trabalho
16. www.asauvage.com do designer inglês Adrien Sauvage, intitulado This is not a suit16 – “isso
não é um terno”, em português -, em que ele descontextualiza o terno
de seu uso comum. De maneira semelhante, pensando ainda no terno
como traje capaz de conferir distinção, serão utilizados como exemplos
a banda de rock britânica, The Beatles e a figura do popular “malandro
carioca” tipicamente brasileiro. No primeiro caso, como veremos, o terno
é apresentado como um traje que rompe com o estereótipo do roqueiro,
e no segundo, como vestuário capaz de caracterizar um tipo social.
18. Outras informações como exemplos de interação entre esses campos e, por meio de imagens,
a respeita da
será possível perceber de que maneira ela acontece.
designer inglesa pode
ser visto em: www. O designer japonês Yohji Yamamoto tem, como uma das
viviennewestwood.co.uk
- 57 -
principais características de seu trabalho, o desenvolvimento de
alfaiataria assimétrica e desconstruída, com proporções ampliadas que
marcam suas criações desde o início de sua carreira.
Por ser recorrente, a assimetria pode ser considerada uma marca
do trabalho do designer. Nas imagens apresentadas, podemos perceber
modelagens modificadas e desproporcionais. Nesse sentido, ainda
reconhecido por suas formas características – conjunto de paletó e calça,
lapelas, bolsos, etc, - o terno adquire novas configurações na perspectiva
do designer, a partir de alterações em técnicas de corte, costura e
modelagem, além da desconstrução formal, proposta por Yamamoto.
- 58 -
A desconstrução – aqui entendida como desmontagem ou
reconfiguração de elementos – pode ser vista, por exemplo, na figura
39, onde os botões do paletó são deslocados de sua posição usual. Nesta
mesma imagem, o colete é construído sobre uma modelagem
diferenciada, que não se assemelha diretamente ao colete de alfaiataria
comum. Dessa forma, é possível perceber que o terno recebe as
influências do designer, embora não descaracterize sua forma
historicamente construída.
As criações de Vivienne Westwood também nos servem de
exemplo. O trabalho da designer inglesa, tem como característica a
mistura da cultura jovem e do tradicionalismo. Westwood, uma das
precursoras do movimento punk, é considerada como um dos nomes
mais criativos na moda contemporânea e conhecida por desafiar padrões.
Nas palavras de Pacce (2006, p. 51), “é conhecida pelo senso de humor
e pela estranheza que arremata suas roupas.”
- 62 -
comercial e industrial, parece, “por mais bem cortado e elegante, marcar
uma desvalorização do prazer de vestir; no século XIX, falar de roupas e
de moda tornou-se quase sinônimo de feminilidade.” Dessa forma,
pode-se perceber que, de certa maneira, as vestimentas masculinas
relacionavam-se a uma negação do feminino, consolidando-se numa
sobriedade comum aos homens.
Figura 43: Advogados
em solenidade de
posse. Auditório da
OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil)
em abril de 2010.
Fonte: http://www.
folhadaregiao.com.br/
Materia.php?Canal=
Arquivo&id=257677,
acesso em 23/12/2011.
- 63 -
que a uniformização fez parte da evolução do traje moderno no que diz
respeito à sua gradual simplificação, vista de maneira mais detalhada,
no primeiro capítulo deste trabalho.
Embora ocorram mudanças pontuais em detalhes dos ternos
contemporâneos, em criações e modos de uso, é possivel perceber que
o traje ainda possui um caráter padronizante, ou seja, confere certa
semelhança aos usuários.
Pode-se citar como exemplo de uniformização, o uso do terno em
atividades profissionais que exigem uma certa formalidade. É o caso de
advogados e políticos que o utilizam como traje principal de trabalho,
como podemos observar nas imagens 43 e 44.
Como as figuras nos ajudam a visualizar, os ternos não são
idênticos: variam em termos de cores, de caimento, de gravatas, entre
outros detalhes. Entretanto, podemos considerar que ainda assim,
proporcionam uma leitura visual de unidade e similaridade. É provável
que a escolha deste traje como “uniforme de trabalho” se relacione, entre
outros fatores, com os códigos que a ele são relacionados, discutidos no
20. A reportagem
pode ser vista na capítulo anterior.
íntegra no endereço:
http://epocanegocios.
A valorização do traje como apropriado para o trabalho, pode
globo.com/Revista/ ser compreendida também, por meio do trecho de uma reportagem
Common/0,,EMI
215055-16365,00- da revista Época Negócios20 que aborda questões relacionadas aos
A+MODA+CORPO
RATIVA.html uniformes corporativos.
- 66 -
dificilmente se extinguirá por ser a roupa que mais dá segurança ao
homem (ÉPOCA, abril de 2011).
Nossos exemplos colaboraram para explicitar o terno como um
traje capaz de conferir certa similaridade entre seus portadores. Com o
intuito de abordar sua faceta capaz de realçar características de estilos
individuais, no próximo tópico serão abordadas situações em que este
traje possibilita a distinção dos indivíduos, no sentido de destacá-los
dos demais.
- 70 -
Figura 51 e 52: Desfile
de Tommy Hilfiger.
Outono, 2011. O terno
presente nas coleções de
moda feminina.
Fonte: http://www.
comunidademoda.
com.br, acesso em
22/10/2010.
Figuras 60 e 61: Homens de caracterizada pelo terno de linho branco S-12033, camisa de seda,
terno praticando esportes
Foto de Adrien Sauvage.
sapato bicolor, navalha no bolso e chapéu de palha. A escolha desta
Fonte: http://thisisnotasuit. personagem para ilustrar a presente discussão está pautada na associação
tumblr.com, acesso em
13/05/2011. do “malandro” com seu terno branco (ROCHA, 2005).
33.“Super 120” refere-se ao
título do fio do tecido: é a
Sobre esse personagem e sua aparência, Rocha (2005, p. 123)
relação entre a massa (m) e pontua: “é sabido que o vestuário designa um tipo de linguagem
o comprimento (c) do fio.
Quanto maior o numero, simbólica, um importante modo de significação cultural. Em particular,
melhor é a qualidade do
tecido, já que a espessura o vestuário do malandro pode ser visto como uma narrativa por meio da
do fio é mais fina, exigindo
uma maior quantidade qual podemos ler e ver aspectos fundamentais do processo de construção
de fio por centímetro
quadrado de tecido. Neste da sua identidade social.” Tal perspectiva nos interessa por realçar que
aspecto, a durabilidade,
toque e caimento,
este terno branco possui uma formalidade característica, mas distingue-se
tornam-se superiores.
por ser associado a uma figura considerada “esperta”, de “lábia sedutora”
(www.homensmodernos.
wordpress.com, acesso em e capaz de “aplicar golpes aos otários” (ROCHA, 2005).
12/08/2011).
- 75 -
Figura 62: Terno do
malandro.
Terno típico do
malandro. Considera-se
o uso do terno branco
de linho como uma
de suas principais
características.
Fonte: www.
embriagadodeletras.
blogspot.com, acesso
em 20/05/2011
- 77 -
Capítulo 3
Algumas interpretações
para o terno: olhares
contemporâneos
78
Para Lipovetsky (2009, p. 184), a contemporaneidade abarca
a “lógica da renovação precipitada, a diversificação e a estilização
dos modelos”, e pauta-se no incessante surgimento no “novo” como
“imperativo categórico.” Nesse contexto, num cenário onde predomina a
multiplicação das escolhas e das opções de consumo, pode-se considerar
o terno como um artigo do vestuário que, mesmo atrelado à tradição,
mostra-se flexível, adaptável e aberto a interpretações carregadas de
inovação no campo do design ou ainda, interpretações criadoras que
esbarram nos terrenos da arte.
O presente capítulo tem como principal objetivo apresentar
interpretações para o terno no contemporâneo, compreendendo
algumas de suas conexões no que diz respeito aos seus usos e à sua
adaptação aos modos de vida das sociedades contemporâneas.
A trajetória desta reflexão será construída sobre três principais
pilares de pensamento: o primeiro deles relacionado ao advento do prêt-
à-porter e ao estilo de vida inaugurado a partir daí, a fim de discutir a
inserção do terno na era da democratização do vestuário e da moda
como instrumento de possível individualização.
Trata-se de compreender, com o auxílio de autores como
Lipovetsky (2009) e Crane (2006), de que forma a moda contribui para
a noção de autonomia. Nesse sentido, a ideia é refletir sobre o modo
de vida relacionado ao modelo de consumo “self-service”, no qual o
individuo tem a ilusão de estar escolhendo aquilo que está adquire.
Nesse contexto, o “kit terno” – combinação semipronta de paletó,
camisa, calça e gravata – será tomado como exemplo.
Num segundo momento, serão abordados os usos do terno, suas
adaptações e interpretações por parte de alguns de seus usuários, no
início século XXI. Dessa maneira, a individualidade será enfocada, bem
como o modelo também sugerido por Lipovetsky (2009), relacionado
ao consumo à La carte, ou seja, feito de acordo com a escolha pessoal.
De maneira a romper com conceitos pré-estabelecidos relacionados
ao terno, num terceiro momento, ele poderá ser compreendido como
um suporte para a arte, mais especificamente no trabalho do alfaiate e
artista plástico mineiro, Marcelo Blade.
Nosso intuito é investigar, por meio da utilização do terno como
- 79 -
integrante de manifestações artísticas, algumas possíveis conexões que
retiram esse artigo dos modelos de uso convencionais a ele atrelados.
Para tal, autores como Featherstone (1995), Gumbrecht (2006)
e Preciosa (2005) serão de grande valia, por discorrerem sobre a
contemporaneidade levantando aspectos relativos à estetização, entre
eles a aproximação entre arte e vida cotidiana.
O artista tomado como exemplo exerce a função de alfaiate,
produzindo ternos sob medida e, ao mesmo tempo, atua como artista
plástico, utilizando os mesmos como parte integrante de sua arte.
Enfocaremos a perspectiva com a qual Blade lida com os ternos, criando
diálogos entre a tradição, o design de moda e a arte.
- 81 -
que garante um poder-saber circular na instabilidade contemporânea e
ser reconhecido no meio da multidão.”
Com o intuito de gerar possíveis conexões entre as combinações
pré-definidas e os indivíduos, “mundos personificados de identificação
são produzidos pelos meios de comunicação em um número avassalador”
(MESQUITA, 2008, p. 119), estimulando o processo de sedução ao
qual Lipovetsky (2005) atribui a tendência à personalização.
Esta perspectiva tornou-se, para o autor, a mais ampla estratégia
de vendas, uma vez que se trata de um real idealizado, convidativo,
que incita o envolvimento do consumidor com determinado produto
num patamar que vai além das referências materiais. De acordo com
Lipovetsky (2009), o consumo se manifesta na esfera do bem estar, da
funcionalidade e do prazer para si mesmo, movido, entre outros fatores,
pela ilusão de uma construção identitária que se faz possível devido à
estratégia da sedução. Em suas próprias palavras, essa estratégia:
- 82 -
pela construção individual, há também uma inclinação para seguir os
juízos da maioria.
Para Mesquita (2008, p. 113), “algumas variáveis prometem
constituir eus, a partir de pacotes construídos por uma somatória de
frações intangíveis, recolhidas na própria subjetividade. Um sem número
de substantivos são somados e subtraídos para compor modelos que
se adéqüem, pelo menos, a um molde básico”. No sentido de refletir
um pouco mais sobre o modo como se dão essas construções, serão
apresentados alguns tipos de organizações de produtos denominados
genericamente de “kits”, encontrados à venda em diferentes setores do
mercado, por reunirem possibilidades combinatórias e modelos pré-
moldados que colaboram para a venda de diferentes produtos reunidos
num mesmo conjunto.
Os “kits” significam um “pacote pronto”: elementos variados
passíveis de se complementarem quando colocados em conjunto. Se
esses elementos não estiverem pré-determinados e forem escolhidos e
combinados pelo consumidor, possibilitam ao sujeito a sensação de
montar as peças à sua maneira, mesmo que este conjunto tenha sido
previamente selecionado, dentro de um leque limitado de opções.
Nas definições encontradas em alguns dicionários, por “kit”
entende-se “estojo com ferramentas, instrumentos ou equipamentos
para fins específicos ou conjunto de peças ou materiais para serem
34. www.michelis. montados”34. Ou ainda, “conjunto de peças que atendem juntas a
uol.com.br
um mesmo fim. Estojo que abriga esse conjunto”35. O “kit” pode ser
35. HOUAISS, ilustrado, por exemplo, por um jogo de peças de montar ou um “kit”
2003, p. 315
de maquiagem, entre outros, como nas figuras 64 e 65:
Lipovetsky (2009, p. 201), aponta para o gosto e a procura pela
autonomia presente na contemporaneidade. Em conexão com este
pensamento, é possível perceber que no primeiro caso trata-se de um
“kit” que exalta a propensão ao “cada um por si”, ou seja, estimula a
sensação de liberdade, de construção individual e o sujeito vê-se capaz
de efetuar a montagem das peças “por si mesmo”.
Porém, é comum em “kits” que configuram conjuntos de peças
de montar, que estes venham acompanhados de manuais que fornecem
as informações necessárias e direcionam o individuo na execução da
- 83 -
montagem. Nesse caso a ideia de liberdade e autonomia individual é, de
certo modo equivocada, uma vez que junção de peças é mediada por
um manual de instruções que direciona o sujeito.
Figura 64: Kit para
montar carros
Dodge Charger R/t
1969 – 1:24 Maisto.
Carro em miniatura
para montar.
Figura 66
Figura 66: Manual de
instruções.
Uma das páginas de um
manual de instruções
para a montagem de
uma miniatura de
carro de corrida.
Fonte: www.small-
dreams.com, acesso em
10/11/2011.
- 88 -
Figura 70 e 71: Kit
terno loja virtual.
Exemplos de “kit
ternos” de loja virtual
voltadas para o mercado
de massa.
Fonte: www.seguro.
leopard.com.br, acesso
em 02/09/2011.
Figuras 74 e 75:
Combinação informal
do terno
O “costume” utilizado
com short e tênis
exalta o caráter da
personalização e do
rompimento com o
tradicional.
Fonte: www.
thesartorialist.com,
acesso em 01/08/2011.
- 94 -
Para o presente trabalho foram selecionadas imagens nas quais os
indivíduos utilizam o terno ou “costume” para arquitetar a construção
de seus estilos, caracterizados, entre outros fatores, pala mistura de
elementos, cores variadas e combinações incomuns.
As imagens anteriormente retratadas representam alguns
rompimentos no uso dos ternos tradicionais. O terno é, de certa forma,
deslocado do campo da formalidade clássica para o campo da livre
informalidade: pode ser visto combinado com tênis, jeans, camisetas de
malha, mochilas e outros acessórios.
Figura 76: Acessórios Nesse sentido, podemos
informais usados
com o terno. Acessórios considerar que o conceito de “sob
como a mochila, por
exemplo, possibilitam medida”, originalmente atrelado
uma interpretação
mais informal em
à alfaiataria, adquire, diante desse
relação ao terno. quadro, uma nova interpretação. Se
Fonte: www.
bolsasdevalor.net, antes estava relacionado à confecção
acesso em 01/10/2011
de peças com a medida do cliente
e únicas para cada tipo de corpo,
agora ganha outra conotação:
relaciona-se com a diversidade, com
múltiplas escolhas e combinações,
num cenário no qual o indivíduo seleciona e adquire aquilo que lhe é
conveniente para a construção de uma aparência especifica.
Podemos fazer um paralelo entre o “sob medida” tradicional
e o “sob medida” individual: o primeiro diz respeito à determinadas
técnicas de corte e costura, aos cuidados com o acabamento das peças e,
principalmente, à unicidade das mesmas, uma vez que são produzidas
para um indivíduo determinado. O segundo, de forma semelhante,
confere uma certa unicidade, por referir-se à composição autoral e à
criação de um estilo diferenciado, mas pauta-se pela manipulação de
informação e códigos para a construção de um modo de vestir.
Vale ressaltar que a criação da imagem pessoal, aparentemente
pautada por um livre arbítrio é encarada, de acordo com Mesquita
40. MESQUITA, (2008, p. 98), como necessidade no contemporâneo40. O indivíduo
Cristiane. Políticas do
vestir, recortes em viés. assume, então, a responsabilidade sobre sua própria construção pessoal
Tese de Doutorado.
PUC-SP, 2008. por meio do vestuário. Na busca por diferenciação, ele experimenta
- 95 -
múltiplas possibilidades de construção do “eu” através da moda, que
se torna uma potente ferramenta capaz de moldar identidades. O
terno se insere, nesse contexto, como um tipo de suporte, uma possível
plataforma de expressão.
Assim, esse artigo do vestuário pode ser interpretado como
instrumento de individualização por meio de seus usos individualizados
nem sempre atrelados às suas raízes tradicionais. Em outras palavras,
partindo em busca de diversas versões de si mesmo, o individuo é capaz
de subverter os usos do terno e manipular seus significados, através de
rupturas diversas.
Figura 77 e 78:
“Costume” tradicional.
“Costumes” usados de
maneira tradicional:
calça e paletó do mesmo
tecido, combinados
com gravata, sapato
e camisa social.
Fonte: www.
homensmodernos.
wordpress.com, acesso
em 13/12/2011.
- 96 -
Figura 80 e 81:
Composição
personalizada do terno.
Combinações não
usuais, compostas
por elementos que
constituem um
“costume”.
Fonte 80: www.
skinnysuits.blogspot.
com, acesso em
18/11/2011.
Fonte 81: www.
itsadriancano.blogspot.
com, acesso em
18/11/2011.
Figura 82
Figura 82: Marcelo
Blade,
O alfaiate e artista
plástico, em uma de
suas performances.
Fonte: www.
marcelobladealfaiate.
com.br, acesso em
01/10/2011.
Figura 83:
Intervenções de
Marcelo Blade.
Os ternos estão
sempre presente
nas intervenções
de Marcelo que os
utiliza, também,
como suporte para
sua arte.
Fonte: www.flickr.
com/photos/
bladealfaiate, acesso
em 01/10/2011.
46. Outras Inserida nas fronteiras entre o design de moda e o campo da arte46,
manifestações artísticas
relacionadas ao terno a descontextualização do terno com relação aos seus usos, pode tomar
podem ser vistas no
trabalho do artista diversas proporções. Para Featherstone (1995, p. 101), “a arte deixou
alemão Joseph Beuys
(1921-1986), intitulado de ser uma realidade protegida e separada; ela ingressa na produção e
como O terno de feltro
(1970), em www.beuys.
reprodução, de modo que tudo, mesmo que seja a realidade cotidiana
org, e nas fotografias e banal, é por isso mesmo classificado como arte e se torna estético”.
da sueca Maria Friberg,
disponíveis em www. Segundo o autor, trata-se de um retrato da sociedade contemporânea
mariafriberg.com.
que enfatiza o apagamento das fronteiras entre a arte e a vida cotidiana,
resultando na estetização da mesma.
A ruptura pela qual o terno tradicional passa quando se fala em
sua inserção no território artístico, pode consistir em uma “experiência
estética” que, nas palavras de Gumbrecht (2006, p. 51), “sempre será
uma exceção que, de maneira totalmente natural e de acordo com cada
situação individual, desperta em nós o desejo de detectar as condições
(excepcionais) que a tornaram possível”. Nesse sentido, pode-se
considerar os deslocamentos e as transformações no uso do terno como
parte de um tipo de experiência que caracteriza-se por uma quebra no
- 102 -
47. No caso do fluxo dito “natural”47 das coisas.
terno, o uso
“natural” pode As propostas de Featherstone (1995) e Gumbrecht (2006) podem
significar sua
combinação de ser visualizadas no trabalho que Marcelo realizou, em 2010, durante
tecidos, modelagem
e composição o evento Classic Fusca II, ocorrido na cidade de Tiradentes (MG). O
tradicional: calças,
paletó e, em alguns conjunto de objetos pode ser visto nas imagens que se seguem e forma o
casos, o colete.
cenário que serve de palco para a atuação do artista. No contexto de suas
performances, dentre os objetos selecionados, o terno se faz presente,
tanto para consumo, quanto para a apreciação artística, e a maioria deles,
expostos em araras, apresentam interferências feitas por Blade.
48. Escritor Para Alexander48, Blade “fez uma verdadeira arqueologia que
no blog www.
lindatiradentes2010. resultou numa coletânea de objetos hoje obsoletos, mas que fizeram
wordpress.com.
parte do cotidiano dos anos 1960 a 1980. Cada um deles cuidadosamente
preparado para ser parte de sua performance”.
Figura 86 e 87:
Performance de Marcelo
Blade em Tiradentes.
Performance em
Tiradentes (MG), em
2010, durante o evento
Classic Fusca II. Objetos
antigos constroem um
imaginário nostálgico das
décadas de 1960 a 1980 e
os ternos ficam expostos
para a venda.
Fonte: www.
lindatiradentes2010.
wordpress.com, acesso
em 01/10/2011.
- 110 -
Considerações
Finais
111
Nesta dissertação, nosso principal objetivo foi pensar o terno e seus
trânsitos entre a tradição e a contemporaneidade, no cenário do design
de moda. A pesquisa nos permitiu conjeturar esse artigo do vestuário
para além de suas interpretações convencionais. Nosso percurso nos
possibilitou aproximações e distanciamentos do terno com sua origem
na alfaiataria tradicional e com aspectos do design de moda e da arte.
No primeiro capítulo, percebemos que o surgimento do terno
foi consequência de uma série de transformações socioeconômicas
que simplificaram as formas das vestimentas masculinas ao longo da
história. Sua origem artesanal e clássica, de certa maneira, influenciou e
fortaleceu a relação comum entre o terno e a tradição. Dessa maneira,
mesmo diante das possibilidades adaptativas do terno, observadas ao
longo da pesquisa no que diz respeito ao design e à moda, seu alicerce
principal está sempre calcado em sua procedência histórica. Foi possível
perceber, também, que códigos como o erotismo e o poder usualmente
relacionados ao terno, colaboram para a força de sua imagem de
masculinidade e superioridade, o que, provavelmente, contribui para
sua permanência no cenário do design e consumo de moda.
No segundo capítulo, as conexões estabelecidas entre o terno
e o campo do design de moda, mostraram-se pertinentes por permitir
a compreensão da inserção deste artigo do vestuário nesse sistema de
criação e produção, nos permitindo observar alguns dos paradoxos
a esses relacionados, e por revelar que o terno pode ser considerado
um elo entre a tradição e o design. Observou-se que o traje tem,
de maneira similar, um caráter paradoxal, por assumir diferentes
posicionamentos face às perspectivas diversificadas: ora possibilita a
distinção do indivíduo, ora permite a padronização. Isso demonstra
que ele dialoga com as características do contemporâneo, calcadas na
pluralidade e na diversificação. Considerá-lo um elo entre a tradição
e o design é um pensamento possível, pois percebemos que o terno
recebe influências inovadoras ao mesmo tempo que mantém sua
estrutura formal original.
Finalmente, ao investigar aspectos do terno no contemporâneo,
confirmou-se sua tendência a adequar-se aos diversos cenários nos quais
está inserido: adapta-se ao “kit terno”, tornando-se parte do sistema
- 112 -
massificado da moda; confere distinção àqueles que o interpretam de
maneira individualizada e, num viés mais subjetivo, adentra o território
da arte, rompendo com os padrões pré-estabelecidos relacionados aos
seus usos e avançando sobre as linhas tênues que, em alguns momentos,
separam os campos da moda e da arte contemporânea. Com relação à
inserção do terno no cenário artístico, ilustrado pelo trabalho de Marcelo
Blade, percebeu-se deslocamentos e transformações no uso do traje
como parte integrante de um tipo de experiência que se caracteriza por
um rompimento com seu uso tradicional. A compreensão do conceito
de “experiência estética” possibilitada por autores como Preciosa (2005),
Gumbrecht (2006) e Featherstone (1995), bem como o entendimento
da maneira como o terno se insere e desencadeia esse tipo de experiência,
nos permitiu desvinculá-lo de seu espaço e valores comuns e observar
novas possibilidades de interação com outros campos.
Esta dissertação se propôs a abordar o terno sob uma das
muitas possibilidades investigativas a respeito do assunto. Devido
à escassa bibliografia sobre o terno e a alfaiataria, concluiu-se que o
estudo relativo ao tema pode ser ainda vastamente explorado para além
de manuais sobre o vestir e análises históricas. Neste trabalho, várias
questões se abriram no que diz respeito aos usos do terno no século XXI.
Nosso trajeto aponta diversas perspectivas para o traje. Entre aquelas
que investigamos, a compreensão do terno que evidencia os paradoxos
e a pluralidade do cenário contemporâneo nos parece instigante para o
avanço de nossas pesquisas.
- 113 -
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ROETZEL, Bernhard. O Gentleman: Livro da moda clássica Masculina. Edição portuguesa:
Konemann Verlagsgesellschaft mbH, 2000.
SIMMEL, George. Filosofia da moda e outros escritos. Lisboa: Edições Texto & Grafia, Lda, 2008.
SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo: Companhia
das Letras, 1987.
STALLYBRASS, Peter. O casaco de Marx: roupas, memória, dor. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2008.
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Anexos
Blade: [...] Então, eu tenho o dom de levar isso que está aqui, que você está vendo aqui para um
evento. Eu monto esse circo...
Blade: Mas em uma facilidade que nem eu mesmo acredito. Então, assim, é substituível. O espaço
ele move. Interferi no deck todo da loja com produtos que pego em caçamba, já vejo que é a asa
de um avião... Aquilo tudo tem uma conversa cósmica. A Casa: “Apesar da aparente dificuldade
formal, tem alma, tem gesto e tem uso. Parece possuir duas mediações: entre o passado e o atual,
entre as intimidades do lar e a exposição pública, privilegiando o desligamento com seus antigos
donos. Inserir objetos móveis ou utilitários no alvo do transeunte, do passante é como [...], mas
aqui a imagem é outra, numa realidade invertida como se fosse contar uma mentira de trás para
frente. Desloca em seu interior com maior propriedade de uso. Marcelo Blade responde a uma
multiplicação da oferta cultural, ou seja, recicla objetos, inclui novamente no mercado. Em outro
tempo, os deslocam da suas demandas habituais para um lugar inventado. São novas contribuições,
ignora as depreciações, deixa de lado [...] criação e cópia. Enfim, podemos fingir que nos encontramos
de fato esquecidos, acreditamos em segredos antigos, libertamos nossa mais ingênua imaginação por
outro contexto: pelo humor, pela inquietação e pelo afeto”.
Luisa: Eu queria entender a sua formação mais especificamente com o terno. Como funciona?
Blade: O terno...
Luisa: Assim, você como artista e você como alfaiate. São duas visões.
Blade: ... e a minha alucinação também, essa derivação. Eu mesmo banco os meus projetos. Agora
estou fazendo um filme.
Blade: Fazendo o tempo todo. Agora mesmo eu estava limpando a mão ali porque sujei o dedo de
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graxa. (risos) Então, o negócio é o seguinte: o atelier é pronto para atender o cliente agora e fazer
um terno para ele amanhã. Então nós estamos marcados o dia inteiro com os clientes e de boca a
boca é a melhor propaganda... ou irmão, ou sobrinho, ou tio, ou pai.
Blade: Não, são as malas já todas montadinhas com as cartelas, eu tenho os tecidos.
Simone: E esse agora de quinta-feira ele falou assim: “eu conheci o Marcelo Blade de saia”. Eles
ficam rindo, mas eles querem fazer o terno com o alfaiate Blade...
Simone: Agora, a gente atende presidente de banco, diretor da Fiat... Não dá. Mas eles já sabem que
ele é assim. Assim que a gente atende.
Luisa: Entendi.
Blade: A mala com os tecidos, funciona assim: são duas malas. Essa com os tecidos meus que eu já
aplico o cliente num tecido que eu já escolhi.
Blade: Super cem, que agüenta o... eu penso a roupa para o dia a dia. Esse tecido é novinho com o
blazer. Combina com um monte de calças, calças lisas. Isso é o blazer. Tem aqui os the best: são o
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130. Normalmente o cliente tem que me orientar o que ele está querendo fazer. Ele já tem alguma
idéia.
5’’ --
Blade: Em outra cartela ele aparece. É de outra estação, mas sempre tem os tecidos que são... veludo.
Esse aqui é o supra sumo dos tecidos que é o Valentim, esse aqui é um super 150... um pouco muito
caro, né?
Blade: É, compra o corte, né? O corte 3,20, 3,30, 3 metros... dependendo a estatura. Então, falando
basicamente eu acordo cedo e fico disponível para o meu cliente até as 18 horas. Ai eu faço qualquer
coisa: faço manta para cavalo, batina de padre...
Blade: Ele veio na linha do meu trabalho para poder entregar um produto na hora. Porque o cliente
ele me conhece e eu tenho que encontrar com ele umas duas vezes até entregar o trabalho. O avental
vai na hora, ele veste qualquer pessoa, modelagem universal. E como eu participo de eventos, eu
tenho um produto que me dá um outro contato. Inclusive abriu um comercial para feminino, que
eu não tinha acesso. Então eu pego, visto a mulher, amarro ela por trás... aquilo dá uma alegria...
Blade: Mas o avental... O que acontece, ele custava R$ 69,00. Ai eu vi que R$ 69,00 é muito para
quem está lá no bar e está disposto a tomar uma cervejada. Ai eu abaixei o preço dele pra R$ 50,00.
R$ 50,00 é a nota de uma onça (risos). Eu já chego fazendo a performace, parecendo um parangolé.
Tem que vender um, um. Eu preciso de um primeiro. Ai, menina, parece que cria...
Blade: Esse momento para mim é de felicidade plena, por que aquilo ali assim... [...] e vai só
acreditando, né? Então aqueles momentos ali como se estivesse em uma vibe, assim, única. De
prazer absoluto...
Luisa: ...total.
Blade: Lógico! Lógico! Mas ele veste bem demais, a pessoa vai copiar e não consegue. (risos) É isso
que é a alegria dele para mim.
Blade: Isso é roupa que eu fiz pra fazer o desfile de uma formanda da FUMEC, olha que bacana.
Luisa: Demais. Isso que eu queria saber também... Você acha que o terno, ele é um suporte?
Blade: Olha só essa roupa ela nasceu para ser usada do avesso. Ela pediu para ser assim. Ele não era
assim não, ele saiu ser querer. Cada dia eu to de um jeito.
Blade: Não, mas eu estou demais. Eu estou pedalando e o pedal está me desobrigando a ficar...
Blade: Não porque o pedal tá me desobrigando de ter que ficar inventando muita coisa para queimar
energia de outro lado. Olha que jóia!
Luisa: Entendi.
Blade: Aqui, isso aqui é uma capa. Eu com esses espelhinhos aqui eu fui convidado para fazer um
festival.
Blade: Capô de Fusca! Agora eu trouxe umas cuecas de Roma, já é outra performace. Aquela que
tem um David de Michelangelo. Virou outra coisa, já abre... (risos)
Luisa: Entendi... e você vai para Tiradentes o ano inteiro, ou como que é? Só para os festivais?
Blade: Não, você sabe que tem 18 anos que eu freqüento lá. Esse ano eu fui mais em festivais, mas
agora tem esse feriado depois de amanhã, eu estou o tempo todo achando que eu to indo. Se eu não
for na terça ou na quarta na quinta com certeza.
Luisa: Entendi.
Luisa: E me conta aqui... você vende seus ternos na praça também, na bicliceta. Sua performace
serve para isso... São um tipo de...
10’’ --
Blade: O palhaço vem de terno. O palhaço vende terno, faz terno. Então fica todo mundo “o que
esse cara faz?”. Não sabe o que esse cara faz. Foi por isso que eu dei uma diminuída. Nós fomos para
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um congresso agora... o máximo, lá é chique demais. É para quem pode, e é chique.
Blade: Uma cultura de pai que fazia roupa com alfaiate... É um cara que já ficou bem de vida mais
cedo, já quer ser diferente dos outros. Então tem esse feeling. Ai que fazer uma roupa com um
alfaiate.
Blade: Agora eu estou colocando uma nova marquinha no nosso produto, para identificar...
Blade: Ai tem hora que não pode colocar muito colorido não. Aqui, esse daqui eu estava em um
casamento sábado com ele. Ai cruza os botões... vermelho, oh.
Blade: Os dos clientes também estão indo. Mas tem que pedir autorização, né? Para não... tem
gente que não dá conta. Mas o Nissan que é sem capota... carro conversível... a capota já é vinho.
Lá dentro tudo já é bege claro, que era cafona um tempo atrás. Então as coisas estão transformando
para ficar chique. Então essa marca... tem cliente meu que faz questão que eu ponha. Agora, tem
camarada que é presidente do banco, não quer então eu também não...
Blade: Sei... tem os forros também, que são os forros coloridos. Isso tudo... eu estava assistindo
agora um Discovery Turbo da Porche... nenhuma Porche é igual a outra. Todas são montadas,
com quatro caixas de som...
Blade: O cara quer a moldura do volante diferente da porta, do forro.... Então essa roupa... A roupa
quando o cliente chega e já sabe o que ele quer já me ajuda bastante. Mas se eu o ver por aquele
vitrô, se deixar eu faço uma obra de arte
Luisa: Eu li uma entrevista sua, que você deu para esse jornal Peru Molhado... Que você fala que
você pega objeto na rua, traz para casa e interfere naquilo e tal... E você fala ‘como que uma pessoa
convive com uma cadeira há 30 anos e joga fora’. Então, como é essa relação da memória, do terno
e ...
Blade: Ah, isso rola. Rola demais. Olha só o José Alencar faleceu e o neto dele trouxe quinze ternos
para arrumar do avô. Eu acho isso de uma seriedade, de uma... você usar a roupa do seu avô... Esse
saudosismo deve ser gostoso de mais. Não é gostoso?
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Luisa: É, é incrível.
Blade: Ai vem uma menina que traz um smoking do avô para eu mexer nele para ela usar com a
calça Jean rasgada. Chique.
Luisa: Então você faz essas interferências. Se eu trouxer um terno para você...
Blade: Eu sou mágico com alfinete. Eu vou no espelho e vou refazendo tudo. E não tenho dó não.
Blade: Esse daqui já é uma roupa doida. Na hora que eu acordo eu tenho um monte de idéias.
Luisa: E esse lance seu? Desses objetos que você espalha pela cidade? Como que funciona? Isso faz
parte da sua performance eterna... ou você escolhe esse lugar para por esses objetos... como é que é
isso? As rodas, os bonecos...
Blade: Você acredita que eu não tenho, assim, uma resposta fundamental...
Blade: No fundo é... é uma arte que eu inventei... eu ando com esse carro que é uma nave, ai eu
paro ele lá na praça de Santa Tereza, para o festival de cinema. Ai coloco uns bancos de cinema em
cima, cheio de televisão ligada. Uai, eu não tenho...
Blade: Menina, o mais bacana é... tem que extrair isso para um documentário... O que eu ouço das
pessoas.
15’’ --
Blade: Uai, cara ia com a irmã para a praça, pulava o muro do cinema por causa daquela cadeira...
O outro foi assistir o primeiro filme da vida dele, Tarzan, naquela cadeira. E o trem não queta... E
aquilo que eu te li da casa, aquilo está escrito. Outro dia eu vi um cara, que mora em uma dessas
ruas perto da minha casa, que ele tem um Corcel branco, que está cheio de recado. De manhã ele
está no sacolão, faz doação... ai eu olhei lá de novo, dei ré e falei ‘eu não vou ficar assim não’. (risos)
Tomar cuidado para não ficar assim.
Luisa: E esses projetos que você tem, por exemplo, com a Ju? O que que é esse projeto? É uma coisa
que pode ser dita, ou não?
Blade: Na verdade, a Juliana ela aprendeu aqui na alfaiataria. Eu não sei se a gente menciona treze
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anos que eu... a época que passou, uma rapidez danada.
Blade: Treze! O ser humano, nós... eu fui para a festa sábado, né? Festa no interior, festa de cliente.
Eu fiquei passando mal quatro dias por causa dessa festa, não queria ir de jeito nenhum. Chega lá...
eu sempre estou adiantado, sou um dos primeiros. Chega lá: música. Eu sentei na primeira mesa, lá
para dançar. Eu fiquei igual em uma aula de aeróbica, e a música não vai. Da vontade de gritar, eu
vou gritar. Por que eu quero dançar.
Blade: Quem não cuidou disso? A festa é de menino, porque eles estão colocando música de gente
velha para ouvir? Eu nunca ouvi aquelas músicas! (risos) Então, essa arte que a gente vê por ai, que
o Blade solta na cidade... ela já lá na faculdade onde eu fiz estudo, que é na Federal, eu sou o cara.
Nem eu sei disso direito, mas eles todos acompanham.
Luisa: Claro.
Blade: Então na hora que você passa num ambiente que eu decorei... ‘O Blade passou por aqui...’
Luisa: Eu acho, e foi por isso que eu te escolhi. No meio daquela coisa normal, daquela coisa
comum, aparece o Blade. Poderia ser uma coisa comum, porque você é um alfaiate, você trabalha
com a tradição, com o clássico, mas você rompe com todos esses valores e desconstrói tudo, e isso
é muito legal.
Blade: É muito legal te ouvir falar, sinceramente. Agora lá em Tiradentes nós pintamos tudo... tem
o vermelho do Silvio Meireles... pintamos tudo de amarelo. Ai o cara ‘Porque amarelo? Por que
não vermelho?’. Chegou um cara muito chique e falou ‘Num primeiro momento eu fiquei olhando
e pensando... esse cara é cafona’ (risos) ‘É uma coisa cafonona. Mas não é que esse cara é bacana’
– ele falando comigo. Depois ele foi ler o jornal, ficou me olhando, o povo chegando e falou ‘Esse
cara não parece o Elvis Presley, aquelas gutarronas grandonas’ (risos). Ai você vai... continuando
fazendo. Ninguém me segura. Agora mesmo eu estava na [...] na loja das araras, já voltei e estou de
olho nos bonecos. Esse fim de semana nós fomos para o Inhotim, confirmei algumas coisas lá e já
sai correndo, né apressado. Eu estou com pressa. Como que fala, absorver e apurar aquilo.
Luisa: Entendi...
Blade: Mas a roupa, ela está no meu sangue, na minha veia. Alguém me convidou para um desfile,
uma apresentação, uma mostra de pessoas de Belo Horizonte lá no BH Shopping ai ‘descreve você
em uma linha’. ‘Alfaiate de nascença. A moda masculina corre na minha veia”. Pronto, sabe? Eu
não tenho o menor problema de fazer roupa para homem, o menor problema. E me desobrigo a
ficar pensando muito em desfile. [...] Sinceramente, eu acho que desfile tem uma coisa muito falida,
aquela trabalheira toda...
Luisa: E hoje não faz tanto sentido mais, né? Porque o desfile está na rua, não está mais na
passarela.
Blade: Quer ver uma coisa que eu acho incrível? Esse tanto de jogo de futebol que existe, esse tanto
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de campeonato. Eu não entendo. Virou outra coisa, virou uma coisa de grana. Não é mais pegar,
levar um cara que gosta de futebol... tem jogo terça, quinta, sábado e domingo.
Blade: Antigamente era sábado, um jogo maravilhoso à tarde. Todo mundo disposto. Hoje cara
pega avião, vai para lá... As coisas estão meio enfadonhas, né?
Luisa: Mas me fala aqui. Eu vi um terno seu em uma foto, que era um terno que você estava
vendendo à preço de banana.
Blade: Sei.
20’’ --
Luisa: Bárbaro. Esses ternos que você vende na rua, eles são mais baratos do que os daqui?
Blade: Ah, pois é. Para mim isso ai é muito difícil. Vender é uma arte. Eu tenho um preço para a
roupa...
Blade: ...é que eu vou pegar, te mostrar a cartela e você vai escolher.
Blade: Mas não quer dizer que eu não coloco o novo... eu tenho uma modelagem que veste... O cara
fez 35 ternos, ele sempre tinha cinco e eu coloco no seu irmão para ver... Beleza, eu descobri meu
M, eu tenho o G e o P. Veste para cima e para baixo, modelagem universal. O P está no PP e o P
está no MP. PM. O M está no MM e no MG. O G está no GG... (risos)
Blade: Ai, na hora que o cara pega, ele vem aqui e esse terno já está pronto... eu incluo ele no pacote,
minha flor. Ele leva na hora.
Luisa: Claro.
Luisa: Mas e esse quando você leva na rua? Esse é que eu quero entender.
Blade: Na rua...
Blade: Não, mas eu não mexo com ninguém, graças a Deus, você não acredita...
Blade: Está só curtindo... Esse negócio de ciúme tem que ser mais explicado, não é? Isso não é assim
também não. Até acontecer alguma coisa tem muita água para passar de baixo dessa ponte. Porque
esse trem é perigoso.
Blade: O cara começou a gostar da Simone, eu falei: ‘Aqui, deixa eu te falar. Você vai levar ela
agora... com os cartões de crédito...’ (risos)
Luisa: ‘Leva agora, se não for agora não tem mais jeito’. (risos)
Blade: Uai, mas que entrevista boa essa nossa aqui, hein, sô!
Luisa: Eu vou filmar e vou te mandar tudo. Aqui, mas a última pergunta é a seguinte: Marcelo
Blade é... um alfaiate que faz arte ou um artista que faz terno?
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