O documento analisa o livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. [1] O livro usa pares de tipos como "trabalho e aventura" para analisar os fundamentos do destino histórico brasileiro. [2] As características ibéricas como o personalismo tiveram grande impacto na colonização brasileira. [3] O livro forneceu indicações importantes para compreender certas posições políticas da época no Brasil.
O documento analisa o livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. [1] O livro usa pares de tipos como "trabalho e aventura" para analisar os fundamentos do destino histórico brasileiro. [2] As características ibéricas como o personalismo tiveram grande impacto na colonização brasileira. [3] O livro forneceu indicações importantes para compreender certas posições políticas da época no Brasil.
O documento analisa o livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. [1] O livro usa pares de tipos como "trabalho e aventura" para analisar os fundamentos do destino histórico brasileiro. [2] As características ibéricas como o personalismo tiveram grande impacto na colonização brasileira. [3] O livro forneceu indicações importantes para compreender certas posições políticas da época no Brasil.
O documento analisa o livro Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. [1] O livro usa pares de tipos como "trabalho e aventura" para analisar os fundamentos do destino histórico brasileiro. [2] As características ibéricas como o personalismo tiveram grande impacto na colonização brasileira. [3] O livro forneceu indicações importantes para compreender certas posições políticas da época no Brasil.
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“Civilização e barbárie” formam o arcabouço do
Facundo e de Os Sertões. O pensamento do autor
não foge a esse modelo, se constitui pela abordagem O significado de Raízes do Brasil, por Antônio dialética de conceitos polares, não como se eles Candido fossem mutuamente excludentes. A visão de um Em meados do século XX, três livros levaram uma determinado aspecto da realidade histórica é obtida geração a refletir e se interessar pelo Brasil, obras pelo enfoque simultâneo dos dois; um suscita o que pareciam exprimir a mentalidade ligada ao outro. Sérgio Buarque aproveita o critério tipológico “sopro” de radicalismo intelectual e análise social de Max Weber ao focar pares de tipos ao invés de impulsionado após a Revolução de 1930. pluralidades de tipos, para tratá-los de maneira dinâmica e ressaltar a interação dentro do processo A anticonvencional composição extremamente livre histórico. Com este instrumento, o autor analisa os e franca de Casa Grande e Senzala, como no fundamentos do nosso destino histórico e suas tratamento dado à vida sexual do patriarcalismo, e a diversas manifestações: trabalho e aventura, método importância decisiva atribuída ao escravo na e capricho, rural e urbano, burocracia e caudilhismo, formação do modo de ser do brasileiro causou forte norma impessoal e impulso afetivo – são pares impacto na época. Informações e dados que destacados na estrutura social e política pelos quais é ensejavam noções e pontos de vistas inovadores no possível analisar e compreender o Brasil e os Brasil de então. Entretanto, a preocupação do autor brasileiros. com problemas de fundo biológico (raça, aspectos sexuais da vida familiar, equilíbrio ecológico alimentação) dialogava com o naturalismo dos velhos intérpretes da nossa sociedade, como Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Oliveira Vianna. Três anos depois aparecia Raízes do Brasil. Livro curto, de poucas citações, mas que, entre outras influências, fornecia indicações importantes para compreenderem o sentido de certas posições políticas daquele momento, em que se se buscava soluções novas, fosse à direita, no integralismo, fosse à esquerda, no socialismo e no comunismo. Seis anos depois do livro de Sérgio Buarque de Em “Fronteiras da Europa”, o primeiro capítulo, Holanda, Caio Prado Jr. lançava Formação do Brasil Espanha e Portugal são o ponto de partida para Contemporâneo. Interpretação do passado em função tratar, por exemplo, das diversas formas de das realidades básicas da produção, da distribuição e colonização da América, e de pontos que serão do consumo. Nele, o autor afasta-se do ensaísmo desenvolvidos ao longo da obra, como o tradicional (marcante nos outros dois livros), prioriza dados e personalismo e a consequente frouxidão das argumentos em detrimento de categorias qualitativas instituições e baixa coesão social. como “feudalismo” ou “família patriarcal”. O A ausência do princípio de hierarquia e a exaltação materialismo histórico aparecia como forma de do prestígio pessoal que implica em privilégio seria captação e ordenação do real, desligado do outra característica ibérica de grande impacto na compromisso partidário ou desígnio prático colônia. Isso fez com que a nobreza permanecesse imediatista. aberta ao mérito e ao êxito, o que favoreceu a mania No pensamento latino-americano, a reflexão sobre a de fidalguia, ou seja, a repulsa ao trabalho regular e realidade social foi marcada pelo senso dos às atividades utilitárias, de que decorre a falta de contrastes e mesmo dos contrários – apresentados organização. O ibérico não renuncia às veleidades como condições antagônicas em função das quais se em benefício do grupo ou dos princípios. Aos ordena a história dos homens e das instituições. preteridos de tal privilégio, cabe a obediência cega: “A vontade de mandar e a disposição para cumprir social rápida que coíbe a formação de uma ordens são-lhes igualmente peculiares [aos ibéricos]” mentalidade específica, como em outros países. (p. 39). A escravidão matou de uma vez a O capítulo “Homem cordial” apresenta necessidade no homem livre de cooperar e organizar- características do brasileiro resultantes do que foi se. tratado anteriormente. As “relações de simpatia” No capítulo seguinte, “Trabalho & aventura”, está a reinam, ou seja, as relações impessoais, tipologia básica do livro, a distinção entre o características do Estado, são suscetíveis de serem trabalhador e o aventureiro e suas éticas opostas: a levadas para o padrão pessoal e afetivo. Isso impede que busca novas experiências, acomoda-se no a formação de uma sociedade urbana moderna. O provisório e prefere descobrir a consolidar; e a que “homem cordial” pressupõe, de fato, o predomínio estima a segurança, o esforço e a compensação a do comportamento de aparência afetiva, não longo prazo. O continente americano foi colonizado necessariamente sincera. por homens mais próximos do primeiro tipo, o que O capítulo 6, “Novos tempos”, analisa o choque nos foi positivo para o Brasil, pois o português velhos padrões coloniais causado pela vinda da manifestou uma adaptabilidade excepcional, ainda família real. que “com desleixo e certo abandono”. Dada a A sociabilidade é aparente, uma vez que não se diversidade reinante, o espírito de aventura foi o impõe ao indivíduo, tampouco contribui para a “elemento orquestrador por excelência” (p. 46). estruturação de uma ordem coletiva. Encontra séria Assim, a lavoura de cana foi mais um barreira na individualidade que emerge na relutância aproveitamento de espaço do que ação de uma perante a lei que o contraria. A isso também está civilização agrícola. ligada a satisfação no saber aparente, cujo fim está “Herança rural” é o próximo capítulo que analisa o em si mesmo e, por isso, deixa de ser aplicado em impacto da vida rural na sociedade brasileira, e suas um objetivo concreto. A mudança de atividade torna- diferenças em relação à mentalidade urbana. se constante, por buscar a satisfação pessoal. As A agricultura acompanhou a escravidão em seu profissões liberais se aproximam dessas declínio, promovido por políticos e intelectuais de características, tanto por permitirem a manifestação família fazendeira. O capital ocioso migrou para as individual quanto por prestarem-se ao saber de cidades, promovendo progresso social e fachada. É a opção dos membros da classe investimento técnico. Isso não refletiu em um dominante em função da crise das velhas instituições desenvolvimento coeso em função da “radical agrárias, por prescindirem do trabalho direto sobre as incompatibilidade entre as formas de vida copiadas coisas, que lembra a condição servil. de ações socialmente mais avançadas, de um lado e o A força adquirida pelo positivismo também pode patriarcalismo e personalismo fixados entre nós por estar relacionada a esse contexto. Uma confiança uma tradição de origens seculares” (p. 79). consistente às ideias, mesmo quando inaplicáveis, “O semeador e o ladrilhador” é o quarto capítulo. A ajuda a entender o liberalismo que, no Brasil, se cidade é entendida como instrumento de dominação constituía como uma oposição à autoridade já a partir de sua concepção. Ladrilhador refere-se ao incômoda. Da mesma forma, tratou-se de importar a espanhol, que vê a cidade como empresa da razão, democracia e acomodá-la aos privilégios como as que fundou aqui, planejadas rigorosamente aristocráticos, sendo que, em outros países, elas eram e contrárias à ordem natural; como se conflitantes. correspondessem a um prolongamento da metrópole. O capítulo 7, “Nossa revolução”, mais compacto, Os portugueses, agarrados ao litoral, foram sugere que a dissolução da ordem tradicional “semeadores” de uma cidade irregular, cuja “silhueta ocasiona contradições não resolvidas na estrutura se enlaça na linha da paisagem” (p. 110). O aparente social, que surtirão efeitos nas instituições e ideias desleixo corresponde a uma prudência condicionada políticas. A passagem do rural para o urbano por um realismo não imaginativo ou regido por representa a passagem da tradição ibérica, baseada regra, fruto de um desejo pela fortuna e ascensão em instituições agrárias, para um modo vida próprio, americano. Está ligada a esse momento a passagem da exploração da cana de açúcar, como produto principal de exportação, para o café. Os modelos políticos do passado se adaptam aos novos tempos. Isso é possível através da combinação não harmoniosa entre leis formalmente perfeitas e uma organização administrativa ideal com o mais extremo personalismo. A Abolição tornou inviável a velha sociedade agrária, o que foi o início da “nossa revolução”. Trata-se de superar o passado, adotar o ritmo urbano e propiciar, ao mesmo tempo, a ruptura do predomínio das oligarquias e a emergência das camadas oprimidas da população, únicas com capacidade para revitalizar a sociedade, tornando viável uma vida democrática no Brasil. Contra essa tendência, poderia surgir uma resistência saudosa do antigo modelo, que, de acordo com a intensidade de sua força, poderia se traduzir em formas que comprometam as esperanças de qualquer transformação profunda. O caudilhismo, expressão maior do personalismo que intervém no processo democrático, é um exemplo dessa resistência. A repulsa pela hierarquia e a relativa ausência dos preconceitos de raça e cor são elementos que permitem a convergência rumo à democracia. Raízes do Brasil escapa ao dogmatismo e abre o campo para a meditação dialética. O autor baseou sua análise na psicologia e na história social, com um senso agudo de estruturas, vinculando dessa forma o conhecimento do passado aos problemas atuais. Propôs que a liquidação das raízes era um imperativo para o desenvolvimento histórico. Perder as características ibéricas era o caminho para a evolução moderna brasileira, cuja trajetória não incluiu um louvor ao autoritarismo, como solução para sua organização. Sérgio Buarque afirmou, em 1936, estar na fase aguda da decomposição da sociedade tradicional. Em 1937 veio o golpe de Estado e o advento da fórmula rígida e conciliatória, que encaminhou a transformação das estruturas econômicas pela industrialização. Era o primeiro passo para a modernização. Bibliografia:
CANDIDO, Antonio. O significado de Raízes do
Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.