Cassiano Marques Da Silva

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES

MOTORAS EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA


CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva


Licenciado em Educação Física pelo Centro Universitário do Rio SãoFrancisco – UNIRIOS;
Email:[email protected]

Gilson Pereira Souza


Especialista em Educação Física Escolar. Professor dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Educação
Física do Centro Universitário do Rio São Francisco – UNIRIOS;
E-mail: [email protected]

Ana Carolina Santana de Oliveira


Pós Doutora em Educação. Doutora e Mestra em Educação Especial. Professora dos cursos de Bacharelado e
Licenciatura em Educação Física no Centro Universitário do Rio
São Francisco – UNIRIOS.
E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho investigou a influência das vivencias corporais adquiridas


desde os primeiros anos de vida até os dias atuais de alunos do ensino médio
praticantes de handebol, a influência dessas informações motoras na construção de
uma memória motora rica em diversidade de experiências utilizando práticas
motoras distintas e testes de transferência para análise de resultados; possibilitando
a aprendizagem de novas habilidades motoras, tendo vivencias armazenadas como
base. A pesquisa buscou analisar e compreender o papel dessas vivências na
construção da memória motora e o seu processo de recuperação das experiências
aprendidas para influenciar o desenvolvimento de habilidades exigidas no
handebol. A pesquisa foi composta por 20 alunos (homens e mulheres) de duas
instituições de ensino (pública e privada); estudantes que praticam o handebol e
possuem tempos de prática diferentes. Foram divididos em dois grupos: maior
tempo de prática no handebol (G1) e menor tempo de prática no handebol (G2);
sendo realizados dois tipos de passes (ombro e pronado) em duas formas distintas
de prática motora (blocos e randômica) realizadas por ambos. Os dados apresentam
resultados diferentes em relação ao teste de transferência, tendo o G1 obtido
resultados superiores na transferência imediata e o G2 na transferência retardada.
Diferenças entre os testes de transferência sugerem que a utilização dos tipos de
prática para cada grupo, variedade de experiências em diversos tipos de atividades
motoras e a frequência da prática de uma determinada habilidade possibilitam,
temporariamente ou permanentemente, a consolidação de novas habilidades.

Palavras-Chave: Educação Física escolar. Memória motora. Aprendizagem


motora.

STUDY OF MOTOR MEMORY IN THE DEVELOPMENT OF MOTOR


SKILLS IN HIGH SCHOOL STUDENTS THAT PLAY HANDBALL IN
THE CITY OF PAULO AFONSO-BA
Revista Científica do UniRios 2021.1 |332
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
ABSTRACT

This paper investigates the influence of physical experiences acquired from the
early childhood to adolescence of high school students that play handball, how this
physical information results in the construction of a diverse motor memory, capable
of using different motor skills. Tests were conducted with these students, and the
analysis of their results enabled the learning process of new motor abilities, based
on the motor experiences. This paper aimed to analyze and understand the role of
these experiences in the construction of motor memory, as well as how the process
of recovering abilities learned throughout life can influence the development of the
skills required by handball. The research counted on the participation of 20 students
(boys and girls) from two schools (public and private), whose training frequency
varied from student to student. They were divided into two groups: greatest training
frequency (G1) and smallest training frequency (G2); two handball movements
(overhead pass and wrist pass), performed in two different ways, were used for the
passing tests. The results were different as the G1 had a better performance in quick
passes, while the G2 did better on the slow passes. Differences between the passing
tests suggest that making use of different passes in different ways, the variety of
experiences in several kinds of physical activities and the frequency of practicing a
certain skill enable, temporarily or permanently, the consolidation of new abilities.

Keywords: School Physical Education; Motor Memory; Motor Learning.

1 INTRODUÇÃO

Todas as vivências corporais adquiridas pelo homem desde sua infância tornam-se estruturas
básicas para a aquisição futura de habilidades mais específicas encontradas nos esportes e em
outras manifestações da cultura corporal de movimento. (GARANHANI, 2002)

No período infantil, as diversas informações proporcionadas pelo ambiente possibilitam que a


criança, desde cedo, venha a construir uma bagagem de habilidades motoras que, aprendidas e
consolidadas em sua memória de longo prazo, proporcione um bom desenvolvimento de
habilidades motoras essenciais. (SCHMIDT; WRISBERG, 2001)

Dentro do ambiente escolar, nas aulas de Educação Física, os alunos encontram diversas
manifestações de movimento e não se limitam em apenas uma prática corporal, evitando com
isso um prejuízo na construção de sua memória motora. (GALLAHUE; OZMUN, 2003)

No Ensino Médio, os alunos demonstram seus níveis de desenvolvimento através da prática dos
esportes, da dança e de outras possibilidades de movimentos; o desempenho desses alunos
Revista Científica do UniRios 2021.1 |333
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
refletirá o que está armazenado em sua memória; que traços culturais esses alunos trazem em
si; quais experiências tiveram e como essas informações corporais armazenadas ajudarão em
seu desenvolvimento e aprendizagem no ambiente escolar e na prática esportiva.

Os prejuízos causados por conta de poucas experiências corporais durante o processo de


aprendizagem e desenvolvimento corporal acarretam diversas dificuldades em realizações de
diversos tipos de tarefas corporais.

Tendo em vista que cada experiência adquirida por meio do corpo possui um papel importante
na construção de uma estrutura de memória mais rica e necessária no processo de aprendizagem
de outras habilidades, seja para o dia a dia ou para a prática esportiva, dentro ou fora do
ambiente escolar.

2 A CONSTRUÇÃO DA CORPOREIDADE POR MEIO DAS VIVÊNCIAS


CORPORAIS

O ser humano, desde sua infância, utiliza seu corpo como meio de interação com o meio externo
e, ao mesmo tempo, o meio externo transmite informações para o corpo que, por sua vez,
interpreta as informações recebidas.

Freitas (1999) nos afirma que o corpo se manifesta através de seus movimentos, os quais o
levam em direção do mundo, toma posse de suas mensagens, apropria-se de cada experiência e
bagagem fornecida pelo ambiente ao seu redor; incorpora-os e, de uma forma original,
retransmite todas essas informações que o estruturou novamente para o meio.

A esta capacidade de o indivíduo sentir e utilizar o corpo como ferramenta de manifestação e


interação com o mundo chamamos de corporeidade. Segundo Olivier (1995) a corporeidade é
a maneira em que o nosso cérebro utiliza o corpo como forma de manifestação no meio onde
se encontra.

Segundo Nóbrega (2005), a corporeidade é constituída de trocas de informações entre o corpo


e o ambiente ao seu redor; essas informações são fundamentais em todo o desenvolvimento do
ser em sua totalidade; cada movimento, cada prática corporal, cada forma de receber e transmitir

Revista Científica do UniRios 2021.1 |334


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
informações através do corpo constitui um diálogo entre ambos e possibilita benefícios de suma
importância na vida de um indivíduo.

Tratando-se dessa influência que o ambiente tem na possibilidade de providenciar experiências


ao indivíduo Vigotsky (1998), diz que as informações e experiências voltadas ao aprendizado
das crianças se iniciam muito antes de elas irem às escolas; todas as formas possibilitadas pela
escola e direcionadas ao aprendizado das crianças possuem uma história prévia trazida como
bagagem na memória motora das mesmas; informações cravadas em sua corporeidade
possibilitando, dessa forma um melhor desempenho e desenvolvimento da aprendizagem.

Segundo Gallahue e Ozmun (2003), o meio social, biológico e cultural transmite grande
influência no desenvolvimento motor e pode causar alterações nesse processo durante seu
progresso na aprendizagem ao decorrer dos anos e por meio de possibilidades de movimentos
vivenciados corporalmente.

Schmidt e Wrisberg (2001) acreditam que, quando uma criança vivencia, em seu contexto
social, habilidades básicas, ela começa a construir um conjunto de informações para a
estruturação de uma base para a prática de diversas manifestações corporais, esportivas ou não,
em que essas habilidades estão presentes.

Compreende-se que a Educação Física escolar possui um papel importante na tarefa de


possibilitar aos alunos uma diversidade de experiências favoráveis aonde elas venham inventar,
criar e descobrir novos tipos e formas de movimentos e vivencias corporais diversificadas e
aquisição de experiências motoras na construção do conhecimento de si. (GALLAHUE;
OZMUN, 2003)

Cada experiência vivenciada pelos jovens do ensino médio, desde a sua infância, possibilita a
construção de um composto de informações necessárias para a aprendizagem e
desenvolvimento de habilidades básicas em toda a sua vida; utilizadas em diversos momentos
ou situações vividas em seu ambiente sócio cultural, escolar ou até mesmo na prática esportiva;
é nos primeiros anos de vida que os movimentos e vivencias corporais, experimentadas irão
constituir uma base firme e imprescindível de aprendizagem. (GARANHANI, 2002)

Revista Científica do UniRios 2021.1 |335


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
A maneira de manifestação corporal possibilitada pela capacidade de processamento das
informações adquiridas através da prática corporal de diversas formas de expressões da cultura
corporal de movimento (seja através dos conteúdos da Educação Física ou da vivência cultural
em um determinado ambiente social) sofre mudanças na passagem da infância para a fase
adulta, ou seja, as experiências corporais provadas na infância e armazenadas para a construção
de um vocabulário motor durante essa fase possibilitará a aprendizagem de habilidades mais
avançadas e utilizadas em diversos contextos possibilitando um crescimento e desenvolvimento
sem prejuízos motores. (THOMAS, 1980)

Tratando-se do processamento das práticas corporais na construção do vocabulário motor e do


aprendizado, armazenamento e utilização das habilidades motoras adquiridas desde a infância,
Chi (1976) diz que o controle e manipulação de novas habilidades trazidas na corporeidade,
gravadas na memória, torna-se mais eficiente com a maturação, com o processo de
desenvolvimento da criança para a fase adulta.

3 CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA MOTORA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Platão, ao tentar explicar o que seria a memória, dizia que ela é como uma grande placa de cera,
onde as impressões do mundo são cravadas. Para Aristóteles a memória é a capacidade de se
conservar o passado vivido (GODINHO et al. 1999), e para Xavier (1993, p.62) a memória é
“a capacidade de alterar o comportamento em função de experiências anteriores”.

A memória é mais complexa do que se parece; há níveis de memória e tipos distintos, cada qual
voltado para uma determinada função. Quando se fala sobre memória se engloba um conjunto
de várias classificações distintas (auditiva, visual, tátil, motora), mas seu estudo se dá sobre
uma única entidade. (MAGILL, 1984)

Segundo Habib (2000), a memória humana é dividida em alguns níveis (memória sensorial e
as memórias de curto e longo prazo) e em alguns tipos, classificados por sua função, tempo de
duração e de armazenamento e pelo seu conteúdo.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |336


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
A memória sensorial tem sua origem nos órgãos sensitivos; é conhecida como a memória dos
sentidos humanos (audição, olfato, visão, tato); é muito breve, não permanece por muito tempo.
(LENT, 2002)

A memória de curto prazo possui uma capacidade de armazenamento limitada e não duradoura.
(BADDELEY; WARRINGTON, 1970)

A memória de longo prazo permite o armazenamento duradouro de informações, ou até mesmo


capacidade infinita e ilimitada; como exemplo desse nível de memória se tem a habilidade de
andar de bicicleta, dirigir um automóvel, lembranças de nossa infância e outras marcas cravadas
fortemente no ser, em sua corporeidade, em sua memória. (MAGILL, 1984)

Podemos encontrar duas divisões ou tipos de memória; a memória declarativa (explícita) e a


memória não-declarativa (implícita). (CARDOSO, 2005)

A memória implícita é responsável pelo aprendizado de movimentos e habilidades adquiridas


através de diversas vivencias corporais possibilitadas pelo cotidiano e pelas atividades físicas
proporcionadas no ambiente escolar como os jogos, esportes, atividades recreativas, danças e
outras variedades de manifestações da cultura corporal de movimento, demonstrando uma
relação direta com a musculatura esquelética, com a aprendizagem e o desenvolvimento do ser
humano; responsável também na aquisição de habilidades, motoras, cognitivas e perceptivas
para o fortalecimento do aprendizado, desenvolvimento e armazenamento de todas essas
informações. (CARDOSO, 2005)

Analisando a memória implícita ou não declarativa, encontramos duas subdivisões relacionadas


diretamente com as experiências corporais adquiridas ao longo dos anos, a memória associativa
e a não associativa. (SQUIRE; KANDEL, 2003)

A memória associativa está voltada a aquisição de informações (físicas, auditivas, visuais) e


alterações precisas para a utilização de habilidades que são adquiridas e aprendidas para serem
utilizadas no dia a dia; a memória associativa é compreendida como memória motora, ou seja,
todas as vivências corporais possibilitadas pelo ambiente e captadas pelo corpo são
armazenadas nesse “setor” da memória implícita e trabalhadas para serem utilizadas ao decorrer

Revista Científica do UniRios 2021.1 |337


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
dos anos, possibilitando uma melhor realização das tarefas psicomotoras. A memória não
associativa está voltada as respostas emocionais do corpo para o meio; responsável pela
comunicação entre o corpo, e suas diversas formas de manifestação, e o ambiente. (SQUIRE;
KANDEL, 2003)

Ito (1994) afirma que esse tipo de memória está diretamente ligada ao exercício ou ao “saber
fazer”; no caso da aprendizagem e armazenamento de habilidades motoras, o mesmo autor diz
que essa memória é o que chamamos de memória motora, lugar onde as experiências corporais
vivenciadas desde a infância estão armazenadas e utilizadas para desenvolver outras
habilidades; uma prova desse arcabouço é o fato de não podermos dizer o que aprendemos,
mas, através da prática corporal, torna-se evidente os efeitos de cada contato que tivemos com
o movimento, com a cultura corporal de movimento.

Schmidt (1988) ressalta que a capacidade de recordação de movimentos experimentados ao


passar dos anos e o armazenamento dessas experiências que são essenciais para a construção
de um vocabulário motor fundamental no desenvolvimento humano, são chamados de memória
motora.

Durante o processo de desenvolvimento o corpo recebe uma grande quantidade de informações


que irão influenciar a aprendizagem de novas habilidades mais específicas e exigidas,
principalmente no contexto esportivo; tanto o meio social como o biológico podem ser
expoentes importantes nessas alterações motoras e também no enriquecimento do vocabulário
motor armazenado na memória motora. (GALLAHUE; OZMUN, 2003)

Para Magill e Hall (1990) a aprendizagem motora é uma alteração do desempenho de uma
habilidade motora que pode sofrer uma melhora por conta de experiências passadas, vivências
corporais experimentadas na infância e armazenadas na memória de longa duração, mais
especificamente na memória motora, informações essas que são guardadas e evocadas nas aulas
de Educação Física por meio de seus conteúdos, seja no esporte, na dança, nas lutas ou em
qualquer outro de seus conteúdos e até mesmo na vida secular em geral.

Godinho (2007) afirma que a capacidade de memorizar que o homem possui é o principal
componente para a aprendizagem. Também ressalta que ela está voltada à aquisição de diversas

Revista Científica do UniRios 2021.1 |338


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
formas de vivências ou experiências proporcionadas pelo ambiente; já a memória está voltada
a conservação dessas informações ao passar dos tempos e as evocar quando necessário.

A aprendizagem motora é um componente da memória motora que se desenvolve de forma


latente, oculta, de uma forma não muito aparente; é adquirida através das mudanças e variações
de informações motoras proporcionadas pelo ambiente ao passar dos anos, pela constante
vivência corporal. (KANTAK; WINSTEIN, 2012)

Tendo em vista a importância da memória na aprendizagem, é de extrema importância que os


professores de Educação Física tenham em mente como a prática motora diversificada é
essencial para a aprendizagem de outras habilidades que exigem um grau de desenvolvimento
e vivência mais eficaz; é durante a prática das atividades e tarefas motoras que o sistema
nervoso codifica as informações fornecidas pelas práticas, fortalecendo a memória e deixando
cada vez mais variado o vocabulário motor armazenado na memória motora. (CENSOR; SAGI;
COHEN, 2012)

Para se avaliar a aprendizagem motora e sua fixação na memória, são utilizados dois testes, são
eles: teste de retenção e transferência. Esses testes permitem uma avaliação do desempenho de
habilidades motoras adquiridas após um período de intervalo de tempo, após os sujeitos terem
conseguido aprender as habilidades. Os testes de retenção servem para avaliar o desempenho
de uma habilidade motora que foi aprendida há algum tempo atrás, esse teste nos mostra se a
habilidade foi aprendida e armazenada na memória de longa duração, se houve ou não uma
aprendizagem na memória motora. (SALMONI; SCHMIDT; WALTER, 1984)

Os testes de transferência, por sua vez, visam à análise de outras habilidades que são variadas
de uma habilidade já aprendida anteriormente. Estes testes permitem a verificação da
capacidade flexível da memória motora em adquirir novas habilidades a partir de outras que já
foram aprendidas. (SCHMIDT; LEE, 2004)

Todo esse processo de transferência é possível graças à capacidade de armazenamento e


construção de um acervo motor adquirido através de vivências corporais somadas desde o
período da infância; essa soma de experiências favorece na aquisição positiva de novas
habilidades, isso se as habilidades básicas tenham sido possibilitadas e trabalhadas através de

Revista Científica do UniRios 2021.1 |339


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
brincadeiras, jogos e outras diversas manifestações de movimentos experimentados pelas
crianças em seu processo de desenvolvimento, tanto na escola como em seu contexto sócio
cultural. (SCHMIDT; WRISTBERG, 2001)

Para as habilidades aprendidas e consolidadas na memória motora, Pereira (2002) afirma que
um dos aspectos fundamentais na aquisição de uma aprendizagem de qualidade, armazenada
na memória de longa duração, é o estabelecimento de planos de ensino, onde o professor é uma
peça fundamental; tomando os cuidados necessários para não prejudicar a aprendizagem motora
dos alunos, causando uma especialização precoce, e não possibilitar aos seus alunos uma
vivencia diversificada das habilidades, causando uma falha na consolidação da aprendizagem.

4 A MEMÓRIA MOTORA E O RECRUTAMENTO DAS INFORMAÇÕES


CORPORAIS

Todas as vivências corporais experimentadas por um indivíduo em seu contexto sociocultural,


desde sua infância, são imprescindíveis na construção de um repertório motor rico em
informações necessárias para um desenvolvimento motor mais benéfico para a vida motriz do
mesmo. Cada uma dessas experiências corporais vivenciadas fora do ambiente escolar não
devem ser rejeitadas ou ignoradas pelos professores de Educação Física que, por sua vez,
possuem um papel importante no processo de desenvolvimento dessas habilidades básicas e
fundamentais aprendidas no ambiente fora da escola. Já no ambiente escolar, os alunos
encontram um ambiente propício para uma prática de atividades físicas orientadas e com
objetivos estabelecidos; experiências diversificadas visando à consolidação da aprendizagem
de habilidades mais complexas, as quais são exigidas principalmente na prática dos esportes
utilizados no ambiente escolar como ferramenta metodológica e todas as demais formas de
manifestação da cultura corporal de movimento. (COTRIM et al., 2011)

Robertson e Cohen (2006) por meio de pesquisas a respeito do processo de aquisição e


aprendizagem de novas habilidades a partir de experiências anteriormente vivenciadas,
concluíram que para haver a aquisição de novas habilidades motoras são necessários três
processos distintos, mas que dependem um do outro: codificação, consolidação e recuperação.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |340


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
No processo de codificação, o indivíduo analisa todas as informações que a tarefa e o ambiente
transmitem, exigindo do mesmo uma bagagem anterior de vivências para que haja uma melhor
captação e execução da nova habilidade. (ROBERTSON, 2009)

Após a codificação das experiências ocorre o segundo processo da aquisição de novas


habilidades na memória motora; o processo de consolidação das vivências corporais; de novas
habilidades motoras; gestos esportivos e padrões de movimentos corporais na memória motora.
Esse processo ocorre após o primeiro contato com a habilidade a ser aprendida; um momento
de pós-aquisição de uma habilidade; essa consolidação é um período de estabilização das
informações adquiridas pela memória motora ao passar dos tempos de prática. (KRAKAUER;
SHADMEHD, 2006)

Em um processo de avaliação, a capacidade de armazenamento na memória e a aprendizagem


são analisadas através da capacidade que o indivíduo consegue recuperar as informações
absorvidas durante a prática. Nesse sentido, o processo de recuperação da memória é um
processo muito importante na aprendizagem de novas habilidades, pois a recuperação
possibilita a avaliação dos processos anteriores (codificação e consolidação) na aprendizagem
e aquisição de novas informações motoras que serão armazenadas na memória motora,
possibilitando uma melhor prática e execução de outras tarefas motoras no dia a dia; na prática
esportiva; dentro ou fora do ambiente escolar e em qualquer outra forma de manifestação de
movimento corporal possibilitada pelo ambiente. (KANTAK; WINSTEIN, 2012)

Okano e Balaban (2000) afirmam que para que a memória motora seja formada são necessários
que aconteçam alguns processos que tenham uma relação direta com as vivências corporais
anteriores, experimentadas e praticadas desde a infância, experiências essas que estão
totalmente envolvidas com a aquisição de novas habilidades motoras.

Walker (2005) afirma que esse processo ocorre em duas fases; uma dessas fases está voltada à
estabilização da aprendizagem durante algumas horas após a prática corporal, tornando essa
memória mais firme e evitando com que a aprendizagem de outra habilidade interfira na
aquisição de uma nova (transferência negativa). É na fase de pós-aquisição que as habilidades
motoras são estabilizadas na memória motora. (KRAKAUER; SHADMEHR, 2006)

Revista Científica do UniRios 2021.1 |341


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
Tendo como base esse conhecimento sobre a aquisição e a consolidação das habilidades, o
professor de Educação Física conseguirá proporcionar a seus alunos um melhor
desenvolvimento físico e cognitivo através das suas aulas; tomando o devido cuidado para que
não ocorra uma especialização precoce em uma única atividade motora e que os seus alunos
experimentem as mais diversas manifestações motoras e as fases de consolidação que ocorrerá
após a prática; essa relação entre a Educação Física escolar e o desenvolvimento motor de seus
alunos é fundamental. (FERNANDES et al., 2017)

Cada técnica específica do handebol possui um papel importante na prática do esporte, pois é
por meio das técnicas que o jogo ganha estrutura e objetivo. Cada um desses fundamentos ou
habilidades motoras do handebol (passes, recepção, empunhadura, progressões, dribles,
arremessos, finta) exige do executante uma vivência das habilidades motoras básicas praticadas
no decorrer do seu desenvolvimento psicomotor; isso tudo para que as novas habilidades
trazidas pelo esporte venham ser adquiridas e desenvolvidas em sua prática. (VIEIRA;
FREITAS, 2007)

Thelen e Ulrich (1991) trazem uma explicação sobre a aquisição de habilidades motoras mais
complexas através da evocação de outras mais simples, ou seja, essas servem como base
estrutural na aprendizagem daquelas que, no handebol, são imprescindíveis na realização do
jogo e na aprendizagem dos seus fundamentos e de maneira recíproca; a prática do esporte
possibilita o aperfeiçoamento das experiências armazenadas na memória motora dos alunos
praticantes do handebol no ambiente escolar, nas aulas de Educação Física que, por sua vez,
contribuem em todo o processo de desenvolvimento dos alunos, levando em consideração a
interação das características do indivíduo, do ambiente a sua volta e a tarefa/habilidade a ser
realizada.

O estudo recebeu aprovação institucional do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Sete


de Setembro sob o número de protocolo 20112619.6.0000.8166. Todos os responsáveis dos
participantes e os participantes com mais de 18 anos foram convidados a assinar termos de
consentimento livre e esclarecido. Neste documento ficou explicito que os participantes tinham
liberdade para deixar o estudo a qualquer momento. Todas as perguntas durante a coleta de
dados foram esclarecidas para que não houvesse dúvidas sobre a participação no estudo. Os

Revista Científica do UniRios 2021.1 |342


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
pais ou responsáveis assinaram o termo de consentimento autorizando a participação dos
adolescentes.

O presente estudo foi de natureza básica, tendo sua abordagem quali-quantitativa, buscando
informações precisas para compreender e explicar o fenômeno pesquisado e, através da
quantificação dos dados obtidos, visualizar e compreender de forma mais precisa os resultados
alcançados. (GIL, 1999)

A pesquisa foi bibliográfica e de campo, buscando referencias teóricas para entender, da melhor
forma, como a memória humana funciona e como as vivências corporais armazenadas na
memória motora podem beneficiar no desenvolvimento e na aprendizagem motora.
(FONSECA, 2002)

A pesquisa ocorreu em quatro etapas: questionário, testes de aquisição da habilidade e testes de


transferência (imediata e retardada). Os alunos foram divididos em dois grupos e cada um
desses realizou dois tipos de passes utilizados no handebol e utilizados em outras tarefas
motoras de manipulação.

Os passes foram realizados em duas formas de prática (Blocos e Randômica), buscando


compreender a aquisição das habilidades motoras, seu armazenamento e sua aprendizagem. A
prática em blocos foi realizada de forma repetitiva, os alunos repetiram a execução de uma
tarefa motora algumas vezes antes de mudar para outra tarefa (AAA, BBB, CCC); na prática
randômica também ocorreu à repetição das tarefas, porém sem repetir a mesma tarefa
sucessivamente, intercalando a execução das tarefas motoras (ABC, BCA, CAB).

Participaram do presente estudo 20 alunos de ambos os sexos, com uma faixa de idade entre 15
a 19 anos, sendo 2 meninas e 18 meninos; matriculados no ensino médio de duas escolas da
rede pública e da rede privada de ensino, sendo 9 alunos da escola privada e 11 alunos da escola
pública; alunos com maior tempo de prática (acima de 2 anos) e alunos com menor tempo de
prática (até 1 ano ou 2 anos) no handebol.

Por meio do questionário buscaram-se informações específicas sobre cada participante e suas
experiências motoras vivenciadas desde a infância. Logo após os alunos terem respondido o

Revista Científica do UniRios 2021.1 |343


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
questionário, foram divididos em dois grupos (G1 e G2); sendo (G1) formado com alunos mais
experientes e (G2) formado com alunos menos experientes no handebol praticado nas aulas de
Educação Física escolar. Os grupos realizaram duas formas de prática (Bloco e randômica)
elaboradas por Shea e Morgan (1979) e testada em outros contextos por outros pesquisadores
que buscaram compreender o processo de aprendizagem e a influência da memória motora na
aquisição, armazenamento e transferência das habilidades motoras adquiridas.

A tarefa motora foi constituída da execução do passe do handebol em direção ao gol, com o
objetivo de alcançar a maior pontuação possível, baseado numa situação adaptada do teste de
precisão da AAHPER (1969). Alguns alvos foram colocados em um plano vertical,
posicionados no gol. Como alvos, foram utilizados arcos com tamanhos diferentes sendo que
cada arco correspondeu uma pontuação (4, 6, 8).

Na fase de aquisição foram utilizados dois tipos de passes (Ombro e Pronado) para três alvos
(alvos 1, 2 e 3); nos testes de transferência foram utilizados apenas o passe pronado direcionado
para um novo alvo (alvo 4). Cada passe realizado no teste foi contado como uma tentativa,
independentemente do erro ou acerto; as tentativas em que a bola foi para fora da quadra ou
bateu na trave foram considerados como errados, com a atribuição de zero ponto; os passes que
não acertaram os arcos, mas foram para dentro do gol receberam 2 pontos.

O teste de transferência imediata foi realizado no final da fase de aquisição, após a última
tentativa do último aluno. O teste de transferência retardada foi realizado 8 dias após a fase de
aquisição, sendo realizada a mesma tarefa do teste de transferência imediato, sendo que os
alunos tiveram 6 tentativas cada um na realização dos testes de transferência.

A análise dos dados foi realizada através do pacote estatístico SPSS versão 20, utilizando dados
obtidos na fase de aquisição e nos testes de transferência. O presente estudo teve como variáveis
independentes: tipo de prática (Bloco ou randômica) e o nível de habilidade (superior/ +
vivências; inferior/ - vivências); e como variável dependente: precisão na execução das tarefas
(pontuação).

Para realização da primeira etapa da coleta de dados foi utilizado um questionário com seis
itens; cada uma das perguntas elaboradas foi voltada à identificação dos alunos que possuíam

Revista Científica do UniRios 2021.1 |344


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
maiores ou menores experiências motoras desde sua infância até os dias atuais. As repostas do
questionário serviram para realizar a separação de dois grupos (G1 e G2), que realizaram dois
tipos de prática (bloco e randômica), utilizando dois tipos de passe utilizados no handebol
(passe de ombro e passe pronado).

5 RESULTADOS DA PESQUISA

5.1 Fase de aquisição

A primeira a etapa do teste motor foi dividida em duas formas de prática, sendo uma delas a
prática em blocos, onde os alunos executaram os dois tipos de passe (ombro e pronado) de
forma repetitiva (ombro – ombro – pronado – pronado), a outra prática era a randômica, nesse
tipo de prática os alunos intercalaram os tipos de passe, não os repetindo sucessivamente
(ombro – pronado – ombro – pronado).

O G1 iniciou com a prática em bloco (Grupo Bloco com prática superior - GBS) e logo após
realizou o teste com a prática randômica (Grupo Randômico Superior - GRS); o G2 iniciou com
a prática randômica (Grupo Randômico Inferior - GRI) e logo após realizou o teste com a
prática em blocos (Grupo Bloco Inferior - GBI).

As duas formas de prática foram realizadas no intuito de verificar-se qual das práticas motoras
permite um melhor aprendizado e desenvolvimento dos passes, principalmente do passe
pronado e sua retenção nos testes de transferência pelos dois grupos.

Gráfico 1 - Resultados obtidos na fase de aquisição - G1

Fase de aquisição - G1
70
62
60
Título do Eixo

50 46 48 46
40 42 38
38 GRS
30 36
GBS
20
10
0
tent_1 tent_2 tent_3 tent_4

Revista Científica do UniRios 2021.1 |345


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
Os resultados apresentados pelo gráfico demostram um resultado maior nas tentativas nas quais
eram realizados o passe de ombro, principalmente na prática em bloco; já nas tentativas em que
o passe pronado foi utilizado, os resultados foram na maioria das tentativas, menores.

A primeira forma de prática realizada pelo G1 foi à prática em blocos; no gráfico foi
identificado como GBS (Grupo Bloco Superior). Esses resultados superiores nos passes de
ombro podem ter ocorrido por conta da maior quantidade de vivências motoras obtidas
anteriormente por parte dos alunos (informação que foi confirmada no questionário analisado
anteriormente); por conta da constante utilização desse tipo de passe durante as aulas de
handebol, tendo como base primordial as vivencias motoras experimentadas desde o período
infantil, possibilitando melhores resultados; em contrapartida percebemos uma diminuição na
pontuação nas tentativas com o passe pronado; esse passe não é muito utilizado pelos alunos
durante as aulas e esse fator causa uma diminuição nos resultados por conta da pouca vivencia
dessa habilidade.

Pode-se perceber uma queda de desempenho na realização do passe pronado na prática em


bloco, porém, na prática randômica houve um melhor resultado por parte dos alunos do G1. Os
resultados obtidos na prática randômica, com o passe pronado, podem ter sido alcançados pela
constante reorganização corporal e recrutamento da memória construída através da visualização
e prática da habilidade motora anteriormente executada na prática em bloco, tendo como base
fundamental as experiências motoras já consolidadas em sua memória motora (FUSTER,
1995).

A obtenção requerida na prática randômica requer do aluno uma reorganização corporal para
que o passe seja executado corretamente; esses resultados foram semelhantes aos que Smith
(1997) consegue em sua pesquisa sobre a aquisição de habilidades motoras.

Observando os resultados do G1 pode-se perceber que a prática randômica possibilitou


melhores resultados no passe pronado e um equilíbrio nos resultados do passe de ombro; por
conta da mudança de habilidades em cada tentativa o nosso corpo precisa se auto ajustar e
recrutar informações já armazenadas, informações motoras já vivenciadas para que a execução
da habilidade a ser aprendida venha ser consolidada e melhorada a cada nova tentativa
(BUITRAGO et al., 2004).

Revista Científica do UniRios 2021.1 |346


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
Gráfico 2 - Resultados obtidos na fase de aquisição - G2

Fase de aquisição- G2
35 32 32
30
25 26 20 20
20 18 GRI
15 16 16 GBI
10
5
0
tent_1 tent_2 tent_3 tent_4

Ao se observar o gráfico percebe-se que, assim como o G1, o grupo G2 obteve resultados
maiores nas tentativas onde se realizou o passe de ombro, enquanto que as tentativas com o
passe pronado ainda continuaram com uma pontuação baixa em alguns casos.

A experiência já consolidada na memória motora dos alunos possibilitou melhores resultados


no passe de ombro, por ser mais utilizado, assim possibilitando melhores resultados.

A primeira forma de prática realizada pelo G2 foi a randômica, no gráfico está identificada
como GRI (Grupo Randômico Inferior); pode-se observar através do gráfico que os alunos
obtiveram pontuações elevadas nas tentativas 1 e 4; nessas tentativas foi utilizado o passe de
ombro enquanto nas tentativas 2 e 3 foi utilizado o passe pronado.

Os resultados obtidos podem estar ligados ao processo onde o aluno obtém a ideia de como
funciona o movimento, e qual o melhor posicionamento para se efetuar o passe; sendo esse
processo facilitado pela repetição consecutiva na prática em bloco. (GENTILE, 1972)

O processo de aquisição de novas habilidades ocorre em duas etapas; sendo a primeira etapa
durante a prática da nova habilidade, uma etapa de experimentação. Essa etapa é verificada nos
dois grupos, mesmo os grupos realizando os passes em práticas diferentes (G1- prática em
bloco; G2- prática randômica). É notado que nos primeiros contatos com o passe pronado os
alunos dos dois grupos tiveram resultados baixos. A segunda etapa da aquisição acontece após
os alunos realizarem a habilidade a ser aprendida algumas vezes; é nesse momento em que as
Revista Científica do UniRios 2021.1 |347
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
informações a respeito da execução da habilidade serão fixadas na memória motora.
(SHADMEHR; BRASHERS-KRUGS, 1997)

É notada uma melhora nos resultados do passe pronado (principalmente pelos alunos do G1) e
uma diminuição dos resultados do passe de ombro, resultado que pode ter ocorrido pelo
aumento da concentração na realização do passe pronado e pela autoconfiança na realização de
uma habilidade já adquirida, no caso o passe de ombro.

Em relação aos alunos do grupo (G1), é importante destacar que por meio das suas experiências
na pratica do handebol, os mesmo tinham uma noção corporal elevada, onde mesmo que em
seus resultados não conseguissem acertar os alvos, na pratica da atividade foi possível perceber
que sabiam a forma correta de posicionar o seu corpo para realizar ambas tentativas.

5.2 Teste de transferência

O processo de aquisição de novas habilidades é dividido em três processos distintos que,


segundo Robertson e Cohen (2006), dependem um do outro: codificação, consolidação e
recuperação.

A codificação ocorreu no momento em que os alunos experimentaram diversas habilidades em


seu processo de desenvolvimento, constituindo uma bagagem de informações motoras que são
base para ouras habilidades. (ROBERTSON, 2009)
Logo após a codificação o aluno começa a consolidar as vivencias que teve; inicia o processo
de aquisição de novas habilidades; esse processo ocorre nos primeiros contatos com a
habilidade a ser aprendida (KRAKAUER; SHADMEHD, 2006); sendo essas informações
motoras analisadas por meio do teste de transferência, o qual analisou o nível de aprendizagem
dos grupos. (SCHMIDT; LEE, 2004)

Após a realização dos testes da fase de aquisição, os grupos foram submetidos a dois testes de
transferência, sendo o primeiro realizado após o último passe realizado na fase de aquisição;
esse primeiro teste foi identificado como transferência imediata. Após um período de oito dias
os alunos dos dois grupos realizaram o teste de transferência retardado. Esses testes buscaram

Revista Científica do UniRios 2021.1 |348


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
verificar a consolidação das aprendizagens geradas na fase de aquisição dos dois grupos (G1 e
G2) nos dois tipos de prática utilizados (Bloco e Randômico).

Gráfico 3 - Resultados obtidos nos Testes de transferência pelos grupos G1 e G2

Média e resultados dos grupos G1 e G2


25

20

15 > média

10 < média
Box 1
5

0
G1-T.I G1-T.R G2-T.I G2-T.R

O grupo G1 obteve uma pontuação superior na transferência imediata e uma pontuação menor
na transferência retardada, demonstrando que a consolidação da aprendizagem foi temporária
em comparação à aprendizagem gerada logo após a fase de aquisição; o grupo G2 obteve um
resultado contrário ao do primeiro grupo, alcançou um resultado inferior na transferência
imediata e um resultado superior na transferência retardada; esses últimos resultados foram
alcançados por conta da maior quantidade de repetição da prática do passe pronado.

Smith (1997) traz em seus estudos o mesmo dado obtido pelo G1 ao realizar o teste de
transferência imediata; onde se alcançou um resultado superior comparado ao teste de
transferência retardada.

Essa diferença nos resultados entre os testes imediato e retardado também foi verificado nos
estudos de Smith (1997). O mesmo autor afirma que a atenção causada pela prática randômica
em sua variação de habilidades previne a diminuição dos resultados nas primeiras tentativas do
teste imediato; em contrapartida, ao decorrer das tentativas os indivíduos sujeitos à prática em
blocos recuperam os resultados inferiores no início das tentativas; é o que visualizamos ao
observar os resultados do segundo grupo (G2), o qual realizou, na fase de aquisição, a prática
em blocos antes de realizar o teste de transferência imediato.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |349


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
Buscando-se uma análise individual e mais detalhada dos resultados do processo de aquisição
e aprendizagem dos dois grupos nos dois testes de transferência, foi calculada a média de
pontuação obtida durante a realização para mensurar a evolução dos mesmos.

Através dos resultados demonstrados pelas caixas de dados no gráfico anterior, pode-se
verificar a variação dos resultados acima ou abaixo da média de pontuação obtida pelos alunos
dos dois grupos de prática nas duas etapas do teste de transferência. O grupo G1 teve como
média de pontuação, nas duas etapas do teste, 14 pontos, já o grupo G2 teve como média 14
pontos na transferência imediata e 13 pontos na transferência retardada.

As duas primeiras caixas são referentes aos resultados do G1. No teste de transferência imediata
pode-se observar que maior parte dos alunos obteve resultados satisfatórios se tratando da
aquisição do passe pronado; o nível de variação acima da linha da média de resultados (> média)
demonstra essa informação. Os resultados abaixo da linha da média (< média) foram obtidos
por alguns poucos alunos do G1, o que é visualizado no próximo gráfico, onde os resultados
individuais são apresentados visando uma melhor compreensão do processo de aquisição da
nova habilidade motora.

Gráfico 4 - Resultados individuais no teste de transferência imediata – G1

Transferência Imediata-G1
25

20

15

10

5
14 16 14 12 16 14 14 16 12 14 14 12 20 22
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Trans. IMD Média

Pode-se observar no gráfico 4 que grande parte dos alunos do G1 obtiveram resultados positivos
em relação ao teste de transferência imediata; dos 14 alunos desse grupo, 11 alunos (78,6%)
tiveram resultados iguais ou maiores que a média de resultados; dentre esses alunos, é
visualizado no gráfico anterior que alguns alunos tiveram resultados muito acima da média em

Revista Científica do UniRios 2021.1 |350


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
comparação com os demais (alunos 13 e 14); esses foram os alunos que tinham mais experiência
motora na prática do handebol escolar. Os resultados abaixo da linha de pontuação média
ocorreram com apenas 3 alunos do grupo (21,4%), porém esses resultados não querem dizer
que não houve aprendizagem.

Se tratando da transferência retardada, é possível perceber uma diminuição nos resultados do


G1; o gráfico 3 demonstra que houveram mais resultados abaixo da pontuação média, o que
supõe que houve uma consolidação temporária por parte de alguns alunos do G1 nessa segunda
etapa do teste de transferência.

Gráfico 5 - Resultados individuais no teste de transferência retardada – G1

Transferência Retardada-G1
25

20

15

10

5
14 18 16 20 14 18 8 10 8 20 12 18 12 10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Trans. RET Média

Nessa etapa do teste, ocorrida oito dias após a fase de aquisição, é demonstrado através do
gráfico que 8 alunos (57%) obtiveram resultados iguais ou acima da média de pontuação,
enquanto 6 alunos (43%) tiveram resultados muito baixos em comparação com os alcançados
na primeira etapa do teste de transferência. Um ponto interessante de se observar é que os alunos
que tiveram maiores resultados na transferência imediata reduziram de forma brusca os seus
resultados da transferência retardada, até mesmo os alunos mais experientes (13,14).

O grupo G1 se destaca no fato de apresentar resultados maiores no teste imediato em relação


ao teste retardado. Pode-se argumentar que as últimas informações motoras a que foram
submetidos os alunos, nesse caso a prática randômica pelo grupo G1, podem ter possibilitado
um melhor resultado no teste imediato. Segundo Lee e Magill (1985) os indivíduos que

Revista Científica do UniRios 2021.1 |351


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
possuem uma maior experiência motora e são submetidos à prática randômica alcançam
resultados melhores comparados a indivíduos que praticam em Blocos.

Observando dessa vez os resultados obtidos pelos alunos do G2, é possível perceber através do
gráfico 3, resultados inversos aos que foram obtidos pelo G1. A terceira caixa do gráfico 3,
referente ao teste de transferência imediata realizado pelo G2, apresenta uma pequena variação
de resultados em relação à media (14 pontos); Os resultados desse grupo se mantiveram em
uma escala positiva, equilibrada. Por meio de uma análise individual dos alunos desse grupo é
possível identificar os possíveis fatores que ocasionaram um menor resultado nessa primeira
etapa do teste de transferência.

Gráfico 6 - Resultados individuais no teste de transferência imediata – G2

Transferência Imediata-G2
18
16
14
12
10
8
6
4
2 14 16 16 12 14 12
0
1 2 3 4 5 6

G2- TI Média

Por meio dos dados apresentados no gráfico 6 é possível uma melhor compreensão dos dados
que foram apresentados no do gráfico 3. Entre os 6 alunos que faziam parte do G2, apenas 2
alunos (33,3%) tiveram um resultado de 12 pontos, sendo que a pontuação média do grupo foi
14 pontos, resultados que não são negativos pois estão muito próximos da média.

Os alunos com nível inferior de habilidade no handebol (G2), registraram um menor resultado
na transferência imediata; esses resultados são equivalentes aos demais estudos com alunos
novatos, por estes demorarem mais tempo para analisar as diferenças e similaridades entre as

Revista Científica do UniRios 2021.1 |352


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
habilidades, sendo necessária a submissão a uma maior quantidade de prática em blocos antes
da prática randômica. (EDWARDS; ELLIOTT; LEE, 1986; SANTOS, 1997)

Tratando-se dos demais alunos, estes obtiveram resultados semelhantes, sendo que os alunos 1
e 5 alcançaram 14 pontos e os alunos 2 e 3, 16 pontos; resultados positivos para o processo de
aquisição da nova habilidade motora executada nos testes motores (passe pronado).

Nos resultados do G2 no teste de transferência retardada, pode-se observar, voltando ao gráfico


3, que houve um aumento na variação dos resultados acima da média de pontuação, que dessa
vez tinha uma média diferente das demais (13 pontos); enquanto que os resultados abaixo foram
poucos, sendo eles entre 12 e 14 pontos.

Gráfico 7 - Resultados individuais no teste de transferência retardada – G2

Transferência Retardada-G2
25

20

15

10

5
12 14 20 12 12 18
0
1 2 3 4 5 6

G2-TR Média

É possível notar uma diminuição na pontuação de alguns alunos que foram melhores na
primeira etapa desse teste (alunos 1, 2 e 3); em contrapartida é visualizado que ocorreram
pontuações muito baixas na transferência imediata e obtiveram resultados superiores na
transferência retardada, levando também em consideração a diminuição da média de pontuação
(13 pontos), sendo assim, os alunos do G2 obtiveram melhores resultados nesse teste, mantendo
um nível de pontuação bem próximo ou acima da média.

É importante ressaltar que o G2 executou a tarefa motora inicialmente na prática randômica e


logo em seguida a prática em blocos, o que possibilitou melhores resultados no teste de
Revista Científica do UniRios 2021.1 |353
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
transferência retardada; esse resultado foi registrado por conta da quantidade de repetição
sucessiva dos passes, levando em consideração que se a quantidade de repetições fosse maior
na fase de aquisição (mais de 4 tentativas por aluno), ou um maior número se sessões de prática,
os resultados seriam maiores. (HEBERT; LANDIN; SOLMON, 1996)

Tratando-se dos passes utilizados no presente estudo, apesar de possuírem algumas


características semelhantes, possuem diferenças que marcam cada um deles. As características
semelhantes foram: a frequência de execução, direção da bola e o posicionamento inicial do
corpo. Porém suas diferenças observadas nos passes executados pelos dois grupos foram: a
execução da habilidade, posição final dos movimentos e a utilização de diferentes grupos
musculares.

Ao se analisar a execução dos dois passes pelas duas equipes, foi possível perceber um domínio
motor superior por parte dos alunos do G1, principalmente em 2 alunos mais veteranos os quais
ao errarem uma tentativa, buscavam nas demais tentativas uma reorganização corporal, um
feedback intrínseco, possibilitando a esses alunos melhores resultados e um progresso positivo
ao decorrer dos testes. Já os alunos do G2, por possuírem pouca experiência no handebol,
demoraram mais tempo para entender a dinâmica dos movimentos, decifrarem as diferenças e
similaridades entre as habilidades, mas por possuírem informações motoras armazenadas em
sua memória motora conseguiram, após algumas tentativas, recuperar o resultado.

Podemos observar que o resultado obtido pelo G2 no teste imediato teve um resultado
aproximado do alcançado pelo G1; levando em consideração a quantidade de alunos em cada
grupo, onde o G2 possuía, praticamente, a metade do total de alunos do G1 (G2: 6 alunos;
G1:14 alunos). Segundo alguns autores, pessoas submetidas à prática em blocos superam os
que são submetidos à prática randômica, quando estas pessoas possuem pouca quantidade
prática, no caso do presente estudo aqueles com pouca experiência na prática do handebol
escolar. (BRADY, 2004)

Tratando-se da diferença entre as duas formas de prática utilizadas no presente trabalho, alguns
autores concordam que a prática randômica supera a prática em blocos em algumas situações:
1) situações controladas em laboratório; 2) com sujeitos mais habilidosos; 3) mais na
transferência que na retenção e 4) com a prática extensa. (BRADY, 2004)

Revista Científica do UniRios 2021.1 |354


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
Porém, segundo os mesmos autores citados anteriormente, os alunos submetidos às práticas em
bloco podem superar aqueles que utilizam a prática randômica, quando estes são indivíduos
com pouca vivencia prática.

Os resultados obtidos possibilitam a conclusão que a prática randômica é melhor que a prática
em blocos em alunos com mais experiências motoras, tendo em vista que o G1 mostrou
melhores resultados no teste de transferência imediata, provavelmente por terem realizados a
prática randômica anteriormente.

Em relação ao G2 podemos concluir que a prática foi mais favorável na retenção das
informações adquiridas e armazenadas foi a em blocos. Nos resultados da transferência
retardada podemos observar um aumentar em relação ao imediato, ou seja, houve uma
aprendizagem consolidada por mais tempo comparada a retenção do G1 nos testes de
transferência retardada.

Tendo em vista as informações obtidas nos testes da coleta de dados podemos confirmar que as
vivencias adquiridas e armazenadas na memória motora possibilitam a aprendizagem de novas
habilidades, dependendo do método de ensino utilizado pelo professor ao ensinar aos seus
alunos novas habilidades, sejam os alunos mais experientes ou pouco experientes.

Levando em consideração todas as vivencias corporais descritas pelos alunos, podemos


confirmar mais uma hipótese da presente pesquisa; a bagagem de informações motoras
armazenadas pelos alunos desde sua infância possibilita um melhor desenvolvimento de outras
habilidades motoras que podem ser exigidas em diversas tarefas motoras, jogos, esportes que
são vivenciados no ambiente e também secular e, em contra partida, a pouca vivência prejudica
a construção da memória motora tendo o professor que utilizar metodologias voltadas a
beneficiar esses alunos que não possuíram vivencias suficientes em seu processo de
desenvolvimento, podemos utilizar a prática em blocos para possibilitar, através da constante
repetição, a aquisição das habilidades motoras, e com a prática randômica fortalecer a retenção
dessas informações para toda a vida.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |355


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De fato, as vivências motoras adquiridas e armazenadas no arcabouço motor possibilitam


melhores resultados no desenvolvimento de novas habilidades motoras; como foram
apresentados no presente trabalho. Os alunos que participam das aulas de Educação Física, que
praticam o handebol nas aulas, alunos que, ainda que tenham pouca experiência prática no
handebol, alcançam resultados de aprendizagem positivos.

Cada uma das experiências motoras que os alunos participantes tiveram em todo o decorrer de
seu desenvolvimento contribuiu significativamente no processo de aprendizagem e
desenvolvimento.

As aulas de Educação Física escolar, por meio de seus conteúdos, possibilitam uma vasta
diversidade de possibilidades de vivências motoras para seus alunos desde os anos iniciais e
essa influência na construção da memória motora dos alunos possibilita melhores níveis de
aprendizagem das habilidades motoras mais específicas, como as do Handebol.

Por meio da presente pesquisa, ficou evidente que mesmo alunos com pouca experiência motora
no handebol escolar, conseguiram resultados satisfatórios em relação à aprendizagem de outras
habilidades, resultados que foram possíveis por conta do repertório motor formado através das
demais experiências que esses alunos tiveram.

A pesquisa possibilitou uma melhor compreensão a respeito do repertório motor que os alunos
trazem consigo e como as mesmas podem servir como potencializadoras na aprendizagem de
outras habilidades motoras e reforçando a busca por conhecimentos específicos por parte dos
professores de Educação Física a respeito do desenvolvimento de seus alunos e quais estratégias
se tornam necessárias para favorecer o aluno fisicamente.

Trazendo a pesquisa para a prática e verificação de resultados, surgem métodos de ensino que,
por sua vez, possibilitam grandes resultados, dependendo de como são utilizados. Por meio de
dois tipos de prática motora, sendo em bloco e randômica, é notado que, para cada nível de
experiência, conteúdo já armazenado na memória motora e o tempo de vivencia em um

Revista Científica do UniRios 2021.1 |356


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
determinado jogo, esporte ou brincadeira, há um tipo de prática mais favorável; logo há uma
metodologia na utilização dos mesmos.

Compreender qual tipo de prática é mais favorável a um determinado público, a depender de


sua bagagem motora, é um ponto a ser investigado em futuros trabalhos, possibilitando
melhores resultados nas aulas de Educação Física, no que se diz respeito ao pleno
desenvolvimento de seus alunos.

REFERÊNCIAS

AMERICAN ASSOCIATION FOR HEALTH, PHYSICAL EDUCATION, RECREATION


AND DANCE (AAHPERD). Skills test manual: volleyball for boys and girls. Washington:
AAHPERD, 1969.

BADDELEY, A; WARRINGTON, E. Amnesia and the distinction between long- and short-
term memory. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, v.9, p.176-189, 1970.

BRADY, Contextual interference: a meta-analytic study. Perceptual and Motor Skills,


Missoula, v.99, p.116-26, 2004.

BUITRAGO, M. et. al. Characterization of motor skill and instrumental learning time scales
in a skilled reaching task in rat. BehavBrain Res, v.155, n.2, p.249-256, 2004.

CARDOSO, S. H. Memória o que é e como melhorá-la. 2005.

CENSOR, N; SAGI, D; COHEN, L. Common mechanisms of human perceptual and motor


learning. Nat. Rev. Neurosci, v.13, v.658-664, 2012

CHI, M. T. H. Short-term memory limitations in children: Capacity on processing deficits?


Memory and Cognition, v.4, p.559-572, 1976.

COTRIM, J. R et. al. Desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais em crianças com


diferentes contextos escolares. Revista da Educação Física, v.22, n.4, p.523–533, 2011.

FERNANDES, G. et al. O contributo da educação física para o desenvolvimento motor: Uma


revisão sistemática. Gymnasium, v.2, n.2, p.1–6, 2017.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.

FREITAS, G. G. O esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal e a


corporeidade. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1999. (Coleção Educação Física).

FREUDENHEIM, A.M.; TANI, G. Efeitos da estrutura de prática variada na aprendizagem de


uma tarefa de timing coincidente para crianças. Revista Paulista de Educação Física, v.9,
n.2, p.87-98, 1995.
Revista Científica do UniRios 2021.1 |357
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
FUSTER, J. Memory in the Cerebral Cortex: An Empirical Approach to Neural Networks in
the Human and Nonhuman Primate. Cambridge: MIT Press, 1995. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/257603572_Memory_in_the_Cerebral_Cortex_An
_Empirical_Approach_to_Neural_Networks_in_the_Human_and_Nonhuman_Primates_The_
MIT_Press_Cambridge_MA.>. Acesso em: 03 fev. 2020.

GALLAHUE; OZMUN. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças,


adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

GARANHANI, M. C. A Educação Física na escolarização da pequena infância. Pensar a


Prática: Educação Física e Infância. Revista da Pós-Graduação da Faculdade de Educação
Física – Universidade Federal de Goiás. Goiás: UFG, v.5, p.106-122, jul./jun, 2002.

GENTILE, A. M. A working model of skill acquisition with application to teaching. Quest,


n.17, p.3 - 23, 1972.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GODINHO, M. Controlo Motor e Aprendizagem: Fundamentos e Aplicações. 2ª Ed, Cruz


Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana, 2007.

GODINHO, M. et. al. Controlo motor e aprendizagem: fundamentos e aplicações. Lisboa:


Universidade técnica, faculdade de motricidade humana, 1999.

HABIB, M. Bases neurológicas dos comportamentos. Lisboa: Climepsi Editores, 2000.

HEBERT, E.P.; LANDIN, D.; SOLMON, M.A. Practice schedule effects on the performance
and learning of low- and high-skilled students: an applied study. Research Quarterly for
Exercise and Sport, v.67, n.1, p.52-8, 1996.

ITO, M. La plasticité des synapses. La Recherche special, v.25, p.778-785, 1994.

KANTAK, S; WINSTEIN, C. Learning-performance distinction and memory processes for


motor skills: a focused review and perspective. Behav. Brain Res, v.228, p.219-231, 2012.

KANTAK, S; WINSTEIN, C. Learning-performance distinction and memory processes for


motor skills: a focused review and perspective. Behav. Brain Res, v.228, p.219-231, 2012.

KRAKAUER, J; SHADMEHR, R. Consolidation of Motor Memory. Trends in


Neuroscience, v.29, n.1, p.58-64, 2006.

LEE, T.D.; MAGILL, R.A. Can forgetting facilitate skill acquisition? In: GOODMAN, D.;
WILBERG, R.B.; FRANKS, I.M. (Eds.). Differing perspectives in motor learning,
memory, and control. Amsterdam: North-Holland, 1985. p.3-22.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais da neurociência. São Paulo:


Editora Atheneu, 2002

MAGILL, R. A; HALL, K. G. A Review of the Contextual Interference Effect in Motor Skill


Acquisition. HumanMovement Science, 9, 241-289, 1990.
Revista Científica do UniRios 2021.1 |358
ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blucher,
1984.

NÓBREGA, P. N. Corporeidade e educação física: do corpo objeto ao corpo sujeito. 2ª


ed. Natal: Edufrn, 2005.

OKANO H; BALABAN E. Learning and memory. Proceedings of the National Academy of


Sciences of the United States of America, v.97, n.23, p.12403-12404, 2000.

OLIVIER, G. Um olhar sobre o esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal


e a corporeidade. Dissertação (Mestrado em Educação Física), Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 1995.

PEREIRA, C. O. Estudo dos Parâmetros em Crianças de 02 e 06 anos de Idade na Cidade de


Cruz Alta. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano). Centro de
Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis,
2002.

ROBERTSON, E. From creation to consolidation: a novel framework for memory processing.


PlosBiol, v.7, n.1, 2009.

ROBERTSON, E.; COHEN, D. Understanding consolidation through the architecture of


memories. Neuroscientist, v.12, n.3, p.261-271, 2006.

SALMONI, A; SCHMIDT, R; WALTER, C. Knowledge of results and motor learning: a


review and critical reappraisal. Psychol Bull, v.95, n.3, p.355-386, 1984

SANTOS, L.H.R. Interferência contextual: organização das prácticas em blocos e randômica


na aprendizagem do futebol. 1997. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria, 1997.

SCHMIDT, R. A; LEE, T. Motor controland learning: A behavior alemphasis. Illiois:


Human Kinetics, 2004.

SCHMIDT, R. Motor control and learning: a behavioral emphasis. Champaing, Illinois:


Human Kinetic Publishers, 1988.

SCHMIDT, R.; WRISBERG, C. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da


aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed, 2001.

SHADMEHR, R; BRASHERS-KRUG, T. Functional stages in the formation of human long-


term motor memory. J Neurosci, v.17, n.1, p.409-419, 1997.

SHEA, J.B.; MORGAN, R.L. Contextual interference effects on the acquisition, retention and
transfer of a motor skill. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and
Memory, v.5, n.2, p.179-87, 1979.

SMITH, P.J.K. Attention and the contextual interference effect for a continuous task.
Perceptual and Motor Skills. Missoula, v.84, p.82-92, 1997.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |359


ESTUDO DA MEMÓRIA MOTORA NO DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MOTORAS EM
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO PRATICANTES DE HANDEBOL DA CIDADE DE PAULO AFONSO-BA

Cassiano Marques da Silva | Gilson Pereira Souza | Ana Carolina Santana de Oliveira
SQUIRE, R. L. e KANDEL, E. R. Memória: da mente às moléculas. Tradução de Carla
Dalmaz e Jorge A. Quillfeldt. Porto Alegre: Artmed, 2003.

THELEN, E; ULRICH D. A. A Dynamic Systems Analysis of Treadmill Stepping during the


First Year. Wolff Monographs of the Society for Research in Child Development. v.56,
n.1, 1991.

THOMAS, J. R. Acquisition of motor skills: Information processing differences between


children and adults. Research quarterty for exercise and sport, v.51, p.158-173, 1980.

VIEIRA, S.; FREITAS, A. O que é handebol. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, COB, 2007.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 6ª ed., São Paulo: Livraria Martins Fontes,
1998.

WALKER, M. A refined model of sleep and the time course of memory formation.
Behavioral and Brain Sciences, v.28, n.1, p.51-64, 2005

XAVIER, G. F. A modularidade da memória e o sistema nervoso. Psicologia USP, 1993.

Revista Científica do UniRios 2021.1 |360

Você também pode gostar