ASSIS MOURA, Maria Theresa Rocha De. Justa - Causa para A Ação Penal

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MOURA, Maria Thereza Rocha de

Assis. Justa causa na ação penal. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2001,
pp. 165-217.

Justa Causa para a Ação Penal

CAPÍTULO X: CONCEITUAÇÃO PROCESSUAL PENAL DA JUSTA


CAUSA

O conceito de justa causa não é unânime. Segundo a autora, deve ser diferente
daquele atribuído ao instituto nos demais ramos do Direito. Ainda assim, a ideia
de justa causa como óbice, amparo, proteção contra o abuso de direito, está
mantida no direito processual penal.

Os processualistas, em geral, tratam do conceito de Justa Causa durante a análise


das hipóteses de coação ilegal, previstas no art. 648 do CPP, ensejadoras de
habeas corpus.

Alguns doutrinadores negam a possibilidade de uma definição absoluta,


delegando ao juiz a tarefa de verificar a (in)justiça na coação processual.

Na maioria do caso, preferem enumerar as hipóteses de falta de justa causa: a


falta de criminalidade do fato, a falta de prova, a não-identidade da pessoa, a
conservação indevida de uma pessoa na prisão, a prisão que não repousa em um
fato provado sumária ou concludentemente, ausência de indícios suficientes de
autoria, a prisão feita por motivos vagos, a extinção da punibilidade, o processo
nulo e etc. Leia-se, são hipóteses, e não o conceito.

Justa Causa não é igual à causa legal. A Justa Causa, em sentido processual
penal, é, portanto, para a autora, “a causa conforme o ordenamento jurídico”
ou a causa “secundum ius”. E, por ordenamento jurídico, deve-se entender sua
conformidade com a Constituição, Tratados Internacionais de Direitos Humanos,
Leis Ordinárias, Princípios Gerais do Direito e, até mesmo, a Analogia.

A maioria dos juristas trata da justa causa como a legalidade da coação à


liberdade pessoal ou sob apenas um de seus diversos ângulos. Todavia, para
Maria Thereza Rocha de Assis Moura, tal argumento é insuficiente e desidratado
de suas interfaces de legitimidade e política. Dentro dessa linha de raciocínio,
pode tal constrangimento estar respaldado por lei, mas, mesmo assim, faltar justa
causa.

Importante destacar que, para a Autora, não se trata de um conceito absoluto ou,
até mesmo, casuístico, mas de um conceito-limite, a partir do qual é possível
examinar o caso concreto dentro do amplo leque e hipóteses ensejadoras de falta
de justa causa, seja em relação à prisão, ao exercício da ação penal ou à própria
condenação.

A pergunta que deve ser feita é: há, segundo a ordem jurídica vigente, causa
legítima para a coação processual? Se não houver, falta justa causa e é passível
de impetração de habeas corpus.

CAPÍTULO XI: AS DENOMINADAS CONDIÇÕES PARA O


EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL

A Autora parte do seguinte conceito de ação: atuação correspondente ao direito à


jurisdição, público, subjetivo, abstrato, autônomo, que se exercita perante os
órgãos da Justiça Criminal.

Os conceitos de condições da ação, segundo a Autora, são históricos, mutáveis


no tempo e espaço, que cumprem uma função político-ideológica na sociedade.

A doutrina civilista em sua grande maioria aponta como condições da ação:


possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade das partes.

O antigo art. 43 do CPP não trazia as duas primeiras condições. Recorda-se: “a


denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - o fato narrado evidentemente não
constituir crime; II - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra
causa; III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida
pela lei para o exercício da ação penal.”

A Autora critica a transposição dos conceitos civilistas para o processo penal


mediante adaptações ao que dispunha o art. 43 do CPP. Ao que parece, até
mesmo a utilização desses conceitos, para autora, é desnecessário, ante o
conceito de Justa Causa.

Sobre a possibilidade jurídica do pedido:

Para Liebman, trata-se da admissibilidade em abstrato do provimento pedido,


segundo as normas vigentes no ordenamento jurídico.

No direito processual civil, o conceito de possibilidade jurídica do pedido é


formulado de forma negativa. O ordenamento jurídico anuncia certas situações
que não serão objeto de julgamento.
No processo penal, todavia, existem diversas correntes sobre o que se deve
entender por possibilidade jurídica do pedido e sua correlação com o disposto no
art. 43 do CPP.

Em regra, para os processualistas penais, é vista de forma positiva. A providência


pleiteada deve ser admissível, em abstrato, pelo ordenamento jurídico. Tratando-
se de ação penal condenatória, a imputação deve sempre conter uma conduta que
à evidência corresponda a um tipo penal.

Alguns, então, relacionam a possibilidade jurídica do pedido à tipicidade. Para


José Frederico Marques, configura a impossibilidade jurídica do pedido quando
inexiste a providência ou prestação pretendida no ordenamento jurídico (pena de
açoite) ou não existe o tipo penal em abstrato (adultério). Sustentava ainda haver
impossibilidade jurídica do pedido quando ausente condição suspensiva ou
presente condição resolutiva de punibilidade. A posição não é unânime.

José Barcelos de Souza, se falta tipicidade, não é hipótese de impossibilidade


jurídica do pedido, mas inépcia da denúncia. Ada inclui as condições de
procedibilidade no conceito de possibilidade jurídica do pedido.

A Autora concorda com Paula Bajer Fernandes Martins da Costa de que a ação
penal pública não precisa da possibilidade jurídica do pedido enquanto condição
da ação, pois os mecanismos do ordenamento jurídico não suportam o pedido
juridicamente impossível e a atipicidade narrativa. Para a Autora, a tipicidade ou
não integra o juízo de legitimidade da acusação. Se faltar, possibilita o
trancamento da ação penal por falta de Justa Causa.

Sobre a legitimação para agir:

Diz respeito a titularidade ativa e passiva.

No âmbito criminal, o titular é o Estado. Titular do poder de punir.

Excepcionalmente, o Estado outorga o direito à jurisdição ao ofendido na ação


penal de iniciativa privada (legitimação extraordinária), como disposto no art.
100 do CP.

Em regra, ao Ministério Público, na condição de órgão do Estado-Administração,


cabe promover a ação, nos moldes do art. 129, I, da CF.

No caso de ação penal de iniciativa privada subsidiária, a legitimação do


ofendido é extraordinária e sucessiva, pois condicionada à inércia do MP.
Já a legitimidade passiva significa que somente deve figurar como acusado
aquele em face de quem o pedido há de ser feito. Para a Autora, se acusação for
recebida, será a hipótese de trancamento da ação por ausência de justa causa.

A doutrina aponta hipóteses controvertidas de justa causa: denúncia contra menor


de 18 anos. Hipótese de ilegitimidade ad causam passiva para a autora, pois não
poderá ser atribuída aquela sanção. Outros entendem como hipótese de
ilegitimidade ad processum, pois aquela só ocorre quando o agente não foi parte
na relação processual.

Sobre o interesse de agir:

Não se pode confundi-lo com o interesse de direito substancial.

Segundo Liebman, é o interesse do autor em obter o provimento pedido. Isto é,


existe quando há para o autor utilidade e necessidade de conseguir o recebimento
de seu pedido, para obter, por esse meio, a satisfação do interesse (material) que
ficou insatisfeito pela atitude de outra pessoa. A doutrina costuma associar ao
binômio necessidade e adequação.

No processo penal, há controvérsias para o transporte dessa categoria.

Como o Estado não pode impor a pena senão pela via jurisdicional (nulla poena
sine iudicio), fala-se que o interesse-necessidade sempre está presente. Tornando-
se desnecessária a sua avaliação, pois está implícito.

O interesse-adequação, por sua vez, também não merece maiores considerações.


Na ação penal condenatória, o pedido deve ser de aplicação da sanção penal.
Dificilmente esbarraremos com pedido de açoite, prisão perpétua. Pedido idôneo
a provocar a jurisdição.

O interesse-utilidade compreende a ideia da eficácia do provimento pedido.


Inexistirá interesse quando de agir quando se verificar que o provimento
condenatório não poderá ser aplicado, como a denúncia oferecida na iminência
da prescrição.

Firmou-se também na doutrina a ideia que só existirá interesse de agir quando


houver justa causa, visto como a idoneidade do pedido. Os conceitos se
confundem.

Afirma não ter muita relevância. A imposição de pena só se dá a partir da


intervenção do judiciário, como corolário dos princípios da obrigatoriedade de
ação e legalidade.
Por fim, quanto a legitimidade da parte, também fala em sua desnecessidade. O
ativo é sempre o Estado. Se for o sujeito passivo, o próprio CPP prevê causa de
nulidade, no art. 564, inc. II.

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