Geografia Da População
Geografia Da População
Geografia Da População
João Mendes
9 788538 763062
Geografia da População
João Mendes
Esta obra tem como propósito instigar você, leitor, a refletir sobre
os fenômenos populacionais e as múltiplas relações que se estabelecem
entre os habitantes e a produção e transformação do espaço geográfico.
Tais fenômenos constituem a base da Geografia da População, que tem
como objeto de estudo, com base em diferentes teorias e dinâmicas com-
plexas e contraditórias, os conceitos sobre população. Assim, a temática
aqui apresentada é reflexo desse dinamismo, pois envolve a análise dos
fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que interferem na reali-
dade das populações.
Boas reflexões!
Sobre o autor
João Mendes
4 Os movimentos da população 53
4.1 A mobilidade da população 54
4.2 As migrações internacionais 58
4.3 As causas e consequências da mobilidade da população 61
6 Geografia da População
Sumário
Geografia da População 7
1
Conceitos fundamentais
sobre população
Introdução
Geografia da População 9
1 Conceitos fundamentais sobre população
1 Dados atualizados de acordo com IBGE Países (2016). Disponível em: <http://paises.ibge.gov.br/>. Acesso
em: 2 jun. 2017.
10 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
Observando-se esse mapa, é possível constatar que a maior parte da população brasi-
leira se concentra na porção leste do país. Segundo Andrade (1998), países como a Bélgica,
Alemanha e os Países Baixos (Holanda), apesar de possuírem números populacionais infe-
riores aos de população elevada, são superpovoados, devido à sua relativa pequena exten-
são territorial.
Dividindo-se o número total de habitantes do território brasileiro (dados de 2010) pela sua
área total, obtém-se a densidade demográfica de 22,4 habitantes/km². Esse conceito precisa ser
usado com cautela, já que, na maioria das vezes, de acordo com Andrade (1998, p. 47), “países
que possuem baixa densidade demográfica estão superpovoados, pois há em seu território áreas
anecumênicas, isto é, desfavoráveis à ocupação humana”. O autor cita como exemplo o Brasil,
cuja distribuição da população pelo território ocorre de forma irregular, como é possível consta-
tar no mapa da Figura 1, apresentado anteriormente.
Geografia da População 11
1 Conceitos fundamentais sobre população
Essas taxas são obtidas por meio de levantamentos de dados realizados em cartórios de
registro civil, que são obrigatórios na maioria dos países do mundo. Esses dados também
são obtidos por meio de recenseamentos, que, no caso do Brasil, são realizados pelo IBGE.
12 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
1.1.5 Expectativa de vida
O número médio de anos que uma pessoa pode viver em determinado país, região, es-
tado ou município é definido como expectativa de vida. Consiste, portanto, numa estimativa
do número de anos que se espera que uma pessoa possa viver.
Esse indicador está associado às condições médico-sanitárias e de bem-estar dos indi-
víduos na sociedade em que estão inseridos. Dessa forma, a expectativa de vida tende a ser
menor entre os indivíduos submetidos a aspectos como poluição ambiental, elevadas taxas
de criminalidade e violência, acidentes, condições econômicas insuficientes e precariedade
de serviços como saúde e educação. Assim, melhorias nas condições médico-sanitárias au-
mentam a expectativa de vida.
Segundo Camarano, Kanso e Mello (2004), no Brasil, sobretudo a partir da década de 1980,
as melhorias das condições médico-sanitárias permitiram a redução das taxas de mortalidade
infantil e óbitos provocados por doenças infectocontagiosas e parasitárias. Tal redução, ainda
segundo os autores, foi acompanhada por uma queda significativa da mortalidade de pessoas
na idade adulta, atingindo mais intensamente, a partir dos anos 1990, a população idosa. Esses
fatores resultaram em um aumento significativo da expectativa de vida.
Geografia da População 13
1 Conceitos fundamentais sobre população
Como exemplo do crescimento populacional, Andrade (1998, p. 49), cita países como
Brasil e México, onde “observa-se uma elevada taxa de natalidade e uma baixa taxa de mor-
talidade, o que explica o grande crescimento destes dois importantes países”. Assim, em-
bora a medicina preventiva tenha provocado queda considerável da taxa de mortalidade,
como ocorre nos países desenvolvidos, a taxa de natalidade mundial continua elevada.
Nessa perspectiva, mesmo admitindo uma tendência ao envelhecimento da popu-
lação de países como Brasil e México, há um grande contingente de população jovem.
Conforme Damiani (2004, p. 72), “essa população crescente tende a diminuir o ritmo do
crescimento econômico, pois parte dos investimentos é desviada para manter a população
jovem dependente”.
Ao se referir ao acelerado crescimento da população e à elevada porcentagem de jovens,
Andrade (1998, p. 51) afirma que “provocam uma série de problemas a vários países, pois
torna indispensável a ampliação constante da infraestrutura de assistência médica e escolar,
além de outros serviços”.
Desse modo, a problemática que envolve o crescimento da população mundial é com-
plexa e permeada por diferentes abordagens e teorias.
Superfície
Continente População
(km2)
Europa 10.000.000 738.849.000
Ásia 42.000.000 4.436.224.000
América
23.000.000 489.093.000
do Norte
A análise da distribuição dos habitantes pela área territorial requer considerar que, com
exceção da Antártida, embora a população seja numerosa, a densidade demográfica é desi-
gual. Nessa perspectiva, Andrade (1998) adverte que não se pode generalizar tal análise, já
que existem áreas com elevada concentração populacional e áreas que se caracterizam como
14 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
verdadeiros vazios demográficos. Como exemplo, pode-se destacar a distribuição da popu-
lação na Ásia, que apresenta cerca de 50% dos habitantes concentrados na porção oriental
do continente, compreendendo países como a China, cuja população passa de um bilhão.
No mapa a seguir, é possível identificar as áreas de elevada concentração populacional:
Geografia da População 15
1 Conceitos fundamentais sobre população
• As altas montanhas, como o Himalaia, que ultrapassa os oito mil metros de altitu-
de. Devido à altitude, as temperaturas permanecem baixas na maior parte do ano
e há baixa concentração de oxigênio, dificultando a ação humana sobre a natureza.
Por esse motivo, as mais elevadas habitações humanas estão abaixo de 4.500 me-
tros de altitude.
• As florestas equatoriais, cujo clima quente e úmido favorece o desenvolvimento
da vegetação, mas cujos solos são rapidamente desgastados, o que também desfa-
vorece a ação humana. Por esse motivo, as densidades demográficas são baixas,
como ocorre nas bacias do Amazonas e do Congo. Somente em Java, onde os solos,
por terem origem vulcânica, são férteis, as densidades demográficas são elevadas.
A distribuição da população brasileira sobre o território, conforme mencionado ante-
riormente, também ocorre de forma desigual. Evidencia-se tal desigualdade ao se comparar
a densidade demográfica da cidade de São Paulo (SP), por exemplo, que era de 7.387,69 hab./
km² em 2016, segundo o IBGE, com a densidade demográfica do município de Canutama,
no Estado do Amazonas, com 0,43 hab./km² (IBGE, 2017b).
Referindo à distribuição da população mundial como um todo, Andrade (1998) des-
taca que as populações são mais ou menos densas, segundo uma série de fatores, como a
maior ou menor quantidade de recursos naturais disponíveis e o maior ou menor nível de
desenvolvimento econômico. Na concepção do autor, esses fatores não determinam as den-
sidades demográficas, mas influenciam o povoamento, principalmente quando se trata da
capacidade de acesso aos mercados consumidores.
16 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
Segundo Malthus, na relação entre população e desenvolvimento, a primeira seria uma
variável independente, pois tendia a crescer sempre acima da disponibilidade de recursos
de subsistência. Isso tornaria inviável historicamente o desenvolvimento de qualquer socie-
dade e, logo, de qualquer tipo de progresso social (ALVES, 2014).
Contrapondo-se às ideias de Malthus, ainda de acordo com Alves (2014), o pensamento
de Karl Marx (1818-1883), ao relacionar população e desenvolvimento, considera que o capi-
talismo sempre é capaz de produzir bens e serviços de acordo com as demandas requeridas.
Logo, o aumento da população não representaria prejuízos ao desenvolvimento de um país.
Ao pensar as relações em questão, Andrade (1998) esclarece que o desenvolvimento
e o subdesenvolvimento não dependem exclusivamente da maior ou menor população
absoluta ou densidade demográfica, mas das características de cada população. Assim,
conforme o autor, “os países que possuem grande porcentagem de jovens criam uma so-
brecarga para a população adulta, que tem de prover as suas necessidades e manter e
educar esses jovens” (ANDRADE, 1998, p. 62).
Ainda se referindo às populações com alta porcentagem de jovens, Andrade (1998) afir-
ma que, no futuro, quando esses jovens se integrarem ao mercado de trabalho, constituirão
uma força que participará da produção, contribuindo, consequentemente, para a elevação do
Produto Interno Bruto (PIB)2 e para o desenvolvimento do país. Por outro lado, “uma popu-
lação de velhos terá um ônus a corrigir, de vez que grande número de aposentados e pensio-
nistas se constituirá numa séria carga para a população ativa”, ou seja, a população que está
inserida no mercado de trabalho (ANDRADE, 1998, p. 63).
O autor destaca que a restrição de natalidade, ou planejamento familiar, recomendada
por muitos cientistas sociais como estratégia de desenvolvimento para os países subdesen-
volvidos, precisa ser vista com cautela. Isso porque a elevada densidade demográfica ou a
superpopulação não é empecilho ao desenvolvimento, devido à futura integração dos jo-
vens ao mercado de trabalho.
2 Produto Interno Bruto (PIB) é o total, em valores monetários, de todos os bens e serviços produzidos
em uma região durante um período de tempo específico.
Geografia da População 17
1 Conceitos fundamentais sobre população
18 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
A população mundial encontra-se em um processo de reestruturação
demográfica que se caracteriza pela redução das taxas de fecundidade,
diminuição da mortalidade e consequente aumento da expectativa de
vida. A transição demográfica vem acontecendo de forma heterogênea na
população mundial e encontra-se em diferentes fases ao redor do mundo.
Iniciou-se na Europa, e o primeiro fenômeno observado foi a diminuição
da fecundidade na Revolução Industrial, fato este anterior ao apareci-
mento da pílula anticoncepcional. Por outro lado, o aumento na expecta-
tiva de vida ocorreu de forma lenta, devido a melhores condições sociais e
de saneamento, com o advento do uso de antibióticos e de vacinas.
Muitos países, entre eles o Brasil, vêm passando por uma mudança em suas
estruturas etárias, que se reflete em uma diminuição relativa na proporção
de crianças e jovens e um aumento na proporção de adultos e idosos no
conjunto da população.
Geografia da População 19
1 Conceitos fundamentais sobre população
[...]
20 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
que o ocorrido no século passado, o desafio para o futuro é garantir que os
indivíduos possam envelhecer com segurança e dignidade, mantendo sua
participação ativa na sociedade, como cidadãos e com todos seus direitos
assegurados, sempre compatíveis com aqueles de outras faixas etárias e
que as relações entre as gerações sejam constantemente estimuladas.
Atividades
1. No site <http://www.cidades.ibge.gov.br>, é possível ter acesso a diversas informa-
ções sobre cada município brasileiro. Acesse e busque os seguintes dados sobre o
seu município:
• área total;
• população absoluta;
• densidade demográfica.
Com base nas informações obtidas, elabore um texto abordando os fatores que ex-
plicam as características desses dados e como é a distribuição da população pelo
território do município. Se necessário, faça pesquisas adicionais.
Distribuição percentual da população por grandes grupos de idade: Brasil – 1980 a 2010
Geografia da População 21
1 Conceitos fundamentais sobre população
Referências
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<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/Arq_29_Livro_Completo.pdf>. Acesso
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22 Geografia da População
Conceitos fundamentais sobre população 1
______. IBGE Países. 2016. Disponível em Disponível em: <http://paises.ibge.gov.br/>. Acesso em: 30
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VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência brasileira.
Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 21, n. 4, 2012. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.
br/pdf/ess/v21n4/v21n4a03.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017.
Resolução
1. Você pode citar os motivos pelos quais o município onde mora se caracteriza como
de baixa ou elevada população absoluta e, ainda, a forma como ocorre a distribuição
da população pelo território, destacando, por exemplo, os fatores que fazem com que
ocorram maiores densidades demográficas num determinado ponto do município.
2. Observe que, entre 1980 e 2010, a população entre 0-14 anos diminuiu e que as por-
centagens da população entre 15-64 anos e da população com mais de 65 anos au-
mentaram. Além disso, explique que as mudanças representadas nos gráficos se re-
lacionam às melhorias nas condições médico-sanitárias, o que permite diminuir as
taxas de natalidade, mas, também, diminuir as taxas de mortalidade, traduzindo-se
num aumento da população e no seu “envelhecimento”.
Geografia da População 23
2
Concepções sobre
população na
geografia clássica
Introdução
Geografia da População 25
2 Concepções sobre população na geografia clássica
26 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
Como a característica marcante dos estudos da geografia clássica é a descrição exausti-
va dos fenômenos, os trabalhos sobre população eram marcados pelas descrições, sobretudo
quantitativas, desse tema. Essa perspectiva de trabalho, na qual, segundo Mormul (2013), os
dados sobre população e suas variáveis são interpretados numa visão empirista, tornam os
estudos isolados e distantes da realidade. Desse modo, a população era tomada como um
elemento do âmbito geográfico sistematizado e estudado isoladamente. Segundo Andrade
(1998), essa abordagem da geografia encontra-se:
[...] ultrapassada, de vez que, em relação à produção do espaço geográfico, temos
de estudar a ação do homem apropriando-se dos recursos existentes, de acordo
com as estruturas econômicas, sociais e políticas como estão organizadas. Daí a
influência do modo de produção e das formações econômicas e sociais dominan-
tes no espaço e no tempo e concluirmos que existe apenas uma Geografia que é
chamada de uma ou outra maneira, conforme o enfoque que se dá à mesma nos
estudos em realização. (ANDRADE, 1998, p. 23)
Assim, os estudos sobre a população em nossos dias consideram que não se trata de
um conceito meramente numérico, pois requer análises que envolvam aspectos econômicos,
sociais e ambientais.
Geografia da População 27
2 Concepções sobre população na geografia clássica
Figura 1 – Na Bulgária, o país mais pobre da União Europeia, uma mulher coberta por pombos
mendiga em uma rua de Sofia.
Fonte: Cylonphoto/iStockphoto.
28 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
2.2.1 O conceito de demografia
Em 1855, Achille Guillard empregou pela primeira vez o termo demografia (dêmos = po-
pulação, graphein = estudo). Segundo Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998, p. 6), demografia
“refere-se ao estudo das populações humanas e sua evolução temporal no tocante a seu ta-
manho, sua distribuição espacial, sua composição e suas características gerais”. Já Mormul
(2013, p. 33) conceitua a demografia como “a ciência que estuda a dinâmica populacional, por
meio de estatísticas que utilizam como critérios a religiosidade, educação, etnia, entre outros,
influenciados por fatores como taxa de natalidade, mortalidade, fecundidade, entre outros”.
Carvalho, Sawyer e Rodrigues (2013, p. 7) afirmam que a demografia “trata dos aspec-
tos estáticos de uma população num determinado momento – tamanho e composição –, as-
sim como também da sua evolução no tempo e da inter-relação dinâmica entre as variáveis
demográficas”.
Considerada um ramo das ciências sociais, sua importância se evidencia “no fato de
a população ser um elemento político que caracteriza uma sociedade e, logo, tornar-se-ia
necessário compreendê-la a fim de tornar possível o planejamento econômico, social ou po-
lítico” (MORMUL, 2013, p. 33).
Referindo-se às especificidades da demografia, Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998) di-
ferenciam a concepção do termo população para a estatística e para os propósitos de estudos
dos habitantes de determinado espaço geográfico. Assim, na estatística, população se refere
a um conjunto de elementos, por exemplo, um conjunto de parafusos. Já para a demografia,
o termo se trata de um conjunto de seres humanos com características específicas inseridos
num contexto dinâmico.
Ainda segundo Carvalho, Sawyer e Rodrigues (1998), na caracterização da população
em demografia, questiona-se: Qual o seu tamanho? Quantas pessoas existem numa localida-
de, num determinado momento? Também se pensa sobre sua composição: quantas pessoas
são do sexo feminino? Quantas são do sexo masculino? Quantas pessoas são maiores de 50
anos? Quantos indivíduos são economicamente ativos?
Sobretudo, além dessas informações, os autores destacam a importância de compreen-
der as dinâmicas que se estabelecem com base nesses fenômenos populacionais. Assim, afir-
mam que “uma questão importante que surge seria: como é que as mudanças em um ou mais
destes componentes poderiam afetar os demais?” (CARVALHO; SAWYER; RODRIGUES
1998, p. 7). Como possíveis respostas para evidenciar a amplitude da demografia, os autores
listam algumas variáveis demográficas, como: a distribuição da população por sexo, idade,
estado civil; a distribuição da população pelo território; e a residência de nascimento atual
ou anterior.
Evidencia-se, assim, que a demografia vai além do levantamento de informações esta-
tísticas e descritivas sobre a população de determinado espaço geográfico, pois busca expli-
car as dinâmicas que influenciam seus indicadores. Além disso, faz estimativas que são úteis
ao planejamento econômico e social e que alertam para dinâmicas populacionais que podem
interferir na qualidade de vida e bem-estar dos seus habitantes.
Geografia da População 29
2 Concepções sobre população na geografia clássica
2 O termo coisidade é usado nesse contexto para sugerir que a força de trabalho coisifica o homem,
ou seja, transforma-o em uma coisa, na medida em que não o individualiza e não faz com que ele se
reconheça como indivíduo, mas como um mecanismo dentro de uma máquina social sobre a qual ele
não pode interferir.
30 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
aproximação entre esses campos do conhecimento passa também pela temática do desenvol-
vimento econômico desigual entre os países, que, segundo Mormul (2013, p. 100), envolvem
“questionamentos a respeito de como as ações humanas sobre o meio podem ser mitigadas. Para
que possamos manter a vida e a sustentabilidade do planeta Terra”.
Segundo Sathler (2012), a demografia demorou a considerar a dimensão ambiental na
análise dos fenômenos populacionais. Isso porque somente na década de 1990 surgiram
alguns trabalhos que buscavam explicar as dificuldades dessa ciência em estabelecer uma
linha sólida para debater as relações entre meio ambiente e população.
De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2005), a geografia caracteriza-se por um históri-
co em abordagens da dimensão ambiental, com larga experiência em focar simultaneamente
as dinâmicas naturais e sociais. Já a demografia, ainda segundo esses autores (2005, p. 29),
“enfrenta maiores dificuldades, por ter incorporado a dimensão ambiental a seu escopo
científico bem mais recentemente”.
Em relação ao diálogo entre essas duas ciências, aos geógrafos interessa o próprio es-
paço que, numa perspectiva integrada dos aspectos físicos e humanos, inclui a população.
Para os demógrafos, o foco parte da importância do ambiente na delimitação das condições
de vida da população (MARANDOLA JR.; HOGAN, 2005).
Nesse contexto, tem se destacado a abordagem das questões ambientais, buscando, con-
forme Sathler (2012), reflexões sobre envelhecimento populacional, estrutura etária e distri-
buição espacial dos habitantes, levando em consideração a relação existente entre homem e
meio ambiente. Esse debate inclui também a relação entre população e disponibilidade de
recursos naturais, como a qualidade da água, o consumo, os habitantes em situação de risco
ambiental e os problemas sociais em diferentes escalas.
Geografia da População 31
2 Concepções sobre população na geografia clássica
Figura 2 – O Morro do Papagaio, em Belo Horizonte (MG), revela os contrastes sociais da cidade.
Fonte: fredcardoso/iStockphoto.
32 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
2.3.2 População e espaço geográfico
Conforme mencionado, ao produzir o espaço, a sociedade produz também as desigual-
dades sociais, uma vez que há diferenças no acesso aos recursos existentes. Isso porque, do
ponto de vista da população, o processo de produção capitalista exige a expropriação dos
meios de produção da maioria das pessoas. Assim, como destacam Carlos e Rossini (1983, p.
14), “essa parcela majoritária constitui uma classe que tem como condição única de sobrevi-
vência a venda de sua força de trabalho”.
Nesse sentido, a forma de apropriação do espaço será, segundo Carlos e Rossini (1983, p.
14), estabelecida “pelo lugar que o indivíduo terá na classe social e, consequentemente, pelo
lugar que esta ocupa na sociedade”. Conforme Maricato (2002), a produção do espaço pela
população não somente materializa as desigualdades sociais, como também as reproduz.
Ao se referir à relação entre população e espaço geográfico, Andrade (1998) enfatiza
que, no atual estágio de desenvolvimento da sociedade, o território vem sendo organizado
de forma diversificada e com uma especialização de porções do espaço em ramos de ativi-
dades cada vez mais dinâmicos. Essa especialização “provoca a concentração populacional
nas áreas mais favoráveis e, naturalmente, desenvolve a implantação de uma infraestrutu-
ra dos serviços necessários ao atendimento das necessidades da população” (ANDRADE,
1998, p. 42). O acesso a esses serviços e essa infraestrutura é diferenciado de acordo com as
condições sociais e financeiras de seus habitantes. Tais diferenças se manifestam no espaço
geográfico na forma de contrastes entre pobreza e riqueza: a população, portanto, materia-
liza no espaço as desigualdades sociais.
Geografia da População 33
2 Concepções sobre população na geografia clássica
34 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
aprofundamento e consolidação de iniciativas já percebidas na comu-
nidade científica, mesmo que de maneira tímida, por demógrafos e não
demógrafos.
Geografia da População 35
2 Concepções sobre população na geografia clássica
Atividades
1. Considerando a abordagem dos estudos populacionais numa perspectiva clássica,
na qual predominam a apresentação descritiva de informações sobre a população de
determinado espaço geográfico, e os estudos numa abordagem crítica, busque três
reportagens de jornais ou revistas que abordem o tema envelhecimento da população
brasileira. De posse das reportagens, verifique se o enfoque dos textos se alinha a uma
perspectiva clássica ou crítica. Depois, elabore um texto de oito a dez linhas sobre as
conclusões a que chegou.
Segundo Mormul (2013), a demografia pode trazer contribuições significativas aos estudos
geográficos sobre população, permitindo que se vá além dos dados quantitativos e a uma me-
lhor compreensão sobre as dinâmicas populacionais.
Tendo como referência o que estudou sobre população e produção do espaço geo-
gráfico, elabore uma síntese explicando as causas da pobreza na produção do espaço
geográfico.
Referências
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SANTOS, W. G. dos; COIMBRA, M. A. Política social e combate à pobreza. 4. ed. Rio de Janeiro: J.
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36 Geografia da População
Concepções sobre população na geografia clássica 2
CARVALHO, J. A. M.; SAWYER, D. O.; RODRIGUES, R. N. Introdução a alguns conceitos básicos em
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Resolução
1. A abordagem sobre população apenas descreve os dados sobre o tema “envelheci-
mento dos habitantes” (abordagem clássica) ou se apresenta, além da descrição, as
explicações sobre os fenômenos populacionais retratados (abordagem crítica). Nessa
perspectiva crítica, deve verificar se aborda, por exemplo, fatores relacionados às
desigualdades de acesso às condições médico-sanitárias, a bens de consumo e a as-
pectos que garantem a qualidade de vida.
Geografia da População 37
2 Concepções sobre população na geografia clássica
38 Geografia da População
3
As teorias
sobre população
Introdução
Geografia da População 39
3 As teorias sobre população
40 Geografia da População
As teorias sobre população 3
existência do homem. Segundo: Que a paixão entre os sexos é necessária e que permanecerá
aproximadamente em seu atual estágio.” A partir desses dois postulados, Malthus afirma que:
[...] o poder de crescimento da população é indefinidamente maior do que o
poder que tem a terra de produzir meios de subsistência para o homem. A po-
pulação, quando não controlada, cresce numa progressão geométrica. Os meios
de subsistência crescem apenas numa progressão aritmética. Um pequeno co-
nhecimento de números demonstrará a enormidade do primeiro poder em com-
paração com o segundo. Por aquela lei da nossa natureza que torna o alimento
necessário para a vida humana, os efeitos desses dois poderes desiguais devem
ser mantidos iguais. Isso implica um obstáculo que atua de modo firme e cons-
tante sobre a população, a partir da dificuldade da subsistência. Esta dificuldade
deve diminuir em algum lugar e deve, necessariamente, ser duramente sentida
por uma grande parcela da humanidade. (MALTHUS, 1996, p. 246)
Nessa perspectiva, a resposta mais evidente e imediata, conforme Deters e Gullo (2013),
foi a de que a população de qualquer território era limitada pela quantidade de alimentos,
sendo estes a condição necessária para a existência dos seres humanos. Apesar de Malthus
considerar que com maior quantidade de trabalho e melhores métodos de produção os seres
humanos poderiam aumentar o volume de alimentos produzidos, chegaria um momento
que, em determinados territórios, essa produção seria cada vez menor.
Para Malthus (1996 p. 251), “tomando a população do mundo como qualquer número,
1 bilhão, por exemplo, a espécie humana cresceria na progressão de 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128,
256, 512 etc. e os meios de subsistência na progressão de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 etc.”. Nessas
progressões, em pouco mais de dois séculos a população estaria, considerando os meios de
subsistência, em uma proporção de 512 para 10, e, em três séculos, de 4.096 para 13. Desse
modo, para Malthus, em seu Ensaio sobre a população, de 1798 (MALTHUS, 1996), ainda que
o poder da população fosse de ordem superior, o aumento do número de habitantes do
planeta só poderia ser mantido proporcionalmente à ampliação da produção de alimentos.
Considerando que a produção de alimentos pudesse aumentar em progressão aritmé-
tica, Malthus quer dizer que cada geração só pode aumentar essa produção em quantida-
de aproximadamente equivalente ao aumento conseguido pela geração anterior (DETERS;
GULLO, 2013). Nesse contexto, Malthus aponta dois tipos de obstáculos ao crescimento da
população:
[...] [a] previsão das dificuldades em atender ao sustento de uma família atua
como um obstáculo preventivo; e a miséria efetiva de algumas das classes mais
pobres, em razão da qual estas não são capazes de dar o alimento e os cuida-
dos adequados para seus filhos, atua como um obstáculo positivo, impedindo o
crescimento natural da população. (MALTHUS, 1996, p. 263-264, grifos nossos)
Malthus admitia que a fome e a miséria que atingiria as classes mais pobres acabaria
sendo um fator de controle de natalidade. Porém, esse seria o destino da maioria das pes-
soas, pois os futuros insucessos nas condições de sobrevivência atingiriam uma parte signi-
ficativa da população. Na visão de Malthus (1996, p. 247), haveria uma lei natural que “se
Geografia da População 41
3 As teorias sobre população
mostra decisiva contra a possível existência de uma sociedade em que todos os membros
viveriam em tranquilidade, prosperidade e num relativo ócio, e não sentiriam nenhuma
angústia para providenciar os meios de subsistência para si e para os filhos”. Desse modo,
considera inevitável e natural a diferença entre classes sociais. Para ele, “a pobreza depen-
dente deve continuar sendo uma ignomínia [desonra], por mais duro que isso possa parecer
em termos individuais” (p. 271).
A esses dois grandes obstáculos ao crescimento da população, ou seja, ao preventivo e
ao positivo, Malthus (1996, p. 275) afirma que “podem ser acrescidos os costumes corruptos
em relação às mulheres, as grandes cidades, as manufaturas insalubres, a intemperança, a
peste e a guerra”. Assim, juntamente com a fome, as epidemias, as catástrofes naturais e as
guerras possibilitariam o crescimento da taxa de mortalidade.
Como forma de reduzir as altas taxas de natalidade, o economista pregava suas ideias
morais defendendo, sobretudo, o casamento. Segundo ele, “o amor à variedade é uma in-
clinação viciosa, corrupta e antinatural e não predomina, em grau maior, num estágio puro
e perfeito da sociedade.” (MALTHUS, 1996, p. 304). Evidencia-se a defesa do controle de
natalidade pelo casamento na seguinte afirmação:
O caráter irreversível do casamento, como ele se constitui hoje, sem dúvida im-
pede muitos de chegar àquele estágio. Relações sexuais livres, ao contrário, se-
riam um poderoso incentivo a uniões prematuras, e como estamos admitindo
não existir nenhuma angústia acerca do sustento futuro dos filhos, não conce-
bo que houvesse uma única mulher entre cem, de 23 anos, sem uma família”.
(MALTHUS, 1996, p. 304)
Assim, se as dificuldades de prover famílias fossem totalmente eliminadas, poucos(as)
jovens permaneceriam solteiros(as). Então, a manutenção das dificuldades de sustentar uma
família constituía-se numa forma de reduzir os casamentos e as taxas de fecundidade por
meio de práticas anticoncepcionais que partissem dos próprios casais. Desse modo, se os
homens se casam, de acordo com Malthus (1996, p. 271), “com pouca ou nenhuma possi-
bilidade de manter com independência suas famílias, eles não somente são injustamente
induzidos a trazer infelicidade e dependência a si próprios e a seus filhos, mas são levados
sem o saber a prejudicar a todos da mesma classe que eles”.
Malthus (1996) se posicionou contra a chamada Leis dos Pobres, uma lei aprovada pelo
Parlamento inglês que consistia em enviar um pobre a uma “casa de trabalho”, onde desen-
volveria atividades e receberia o indispensável para não morrer de fome. Também apregoa-
va essa lei que nenhuma pessoa pobre poderia ser enviada a um posto de trabalho fora da
localidade onde vivia.
Em linhas gerais, os propósitos da teoria de Malthus sobre população visavam subs-
tituir os obstáculos positivos pelos preventivos ligados à redução das taxas de natalidade
pelo viés moral. Isso ocorreria sobretudo por meio da abstinência sexual, pois os casamentos
deveriam ser mais tardios, o que seria garantido pelo tempo que os jovens levariam para
alcançar as condições econômicas para o sustento de uma família.
42 Geografia da População
As teorias sobre população 3
Dessa forma, estaria garantida a riqueza da classe dominante da Inglaterra. Afinal,
Malthus, como pastor da Igreja Anglicana, “representava os interesses dos proprietários de
terra contra os interesses dos trabalhadores e da burguesia nascente” (ALVES, 2014, p. 220).
Converge para essa afirmação a citação de Abramovay (2010, p. 38), segundo o qual Malthus
“defendia os interesses dos latifundiários britânicos de sua época e elaborou uma lei cientí-
fica cujo resultado apocalíptico mostrou-se felizmente errado”. Isso porque em nossos dias,
ainda conforme Abramovay (2010), a fome é provocada muito mais pela falta de recursos
financeiros para adquirir alimento do que pela escassez absoluta na oferta.
No entanto, como afirma Abramovay (2010),
Malthus errou menos do que se supunha e, sobretudo, acertou em cheio num
problema central que a ciência econômica posterior a ele insiste em ignorar: a
elevação da produção material e da oferta de serviços encontra um claro limite
no esgotamento da capacidade de os ecossistemas continuarem prestando os ser-
viços de que depende a sobrevivência das sociedades humanas. (ABRAMOVAY,
2010, p. 38)
Embora controversas, as ideias de Malthus sobre população, conforme Galvêas (1996),
são da mesma natureza daquelas que hoje impulsionam debates sobre as relações entre po-
pulação, política, ambiente e bem-estar.
3.2 O neomalthusianismo
Vídeo
No período Pós-Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o cresci-
mento populacional acelerado nos países subdesenvolvidos levou os estu-
diosos a retomar as ideias de Malthus. Esses pesquisadores, conforme Deters
e Gullo (2013), passaram a ser chamados de neomalthusianos.
Geografia da População 43
3 As teorias sobre população
redução das taxas de fecundidade”. Se para Malthus o controle de natalidade se dava por
meio das “Leis Naturais”, para os neomalthusianos esse controle exige políticas de conscien-
tização sobre a necessidade de redução da população. Pautados nessas bases teóricas, vários
países adotaram políticas antinatalistas (DETERS; GULLO, 2013).
Para os neomalthusianos, a redução do ritmo de crescimento populacional representa
uma decolagem do desenvolvimento, pois, de acordo com Alves (2014, p. 221), “não poderia
haver incremento da renda per capita sem a redução do ritmo de crescimento do denomina-
dor da equação e sem a diminuição do ônus da razão de dependência dos jovens”.
Na Conferência Internacional sobre População, realizada na cidade de Bucareste, em
agosto de 1974, durante o período da Guerra Fria, os países ricos, liderados pelos Estados
Unidos, defendiam, segundo Alves (2014, p. 222), a “concepção neomalthusiana de reduzir
a fecundidade para promover o desenvolvimento e a erradicação da pobreza”. A China e
a Índia defendiam o fortalecimento das políticas de apoio ao desenvolvimento com o bor-
dão: “o desenvolvimento é o melhor contraceptivo”. No entanto, houve uma surpreendente
reconfiguração de forças políticas, e a China, em 1979, passou a adotar a política do filho
único1, que, conforme Alves (2014), é uma política neomalthusiana. Essa política trouxe con-
sequências sociais e demográficas que vêm sendo observadas com pessimismo.
A politização excessiva da problemática do crescimento demográfico, segundo Carvalho
e Brito (2005), levou os neomalthusianos a supervalorizar a eficiência das políticas de con-
trole de natalidade e os efeitos positivos da desaceleração do aumento da população. Ainda
conforme os autores, essas abordagens neomalthusianas, assim como as ideias do próprio
Malthus, são marcadas por questões ideológicas, que já foram superadas pela história. Isso
porque as abordagens críticas e os direitos sociais possibilitam pensar estratégias de distri-
buição de renda e de desenvolvimento dos países pobres.
Ao se referir às teorias neomalthusianas, Singer (1976) destaca que elas correspondem
às ideologias dominantes no mundo capitalista e aos interesses dos países ricos. Segundo
Deters e Gullo (2013), a própria denominação neomalthusiano se deve, principalmente, ao
apoio recebido pelo Clube de Roma, um grupo de personalidades ilustres advindos de co-
munidades científicas, acadêmicas, políticas, empresariais e financeiras que debatem sobre
temas políticos, econômicos e de meio ambiente. Essas comunidades estão ligadas a interes-
ses, sobretudo, capitalistas.
1 Em 2015, depois de mais de 30 anos da política do filho único, o Partido Comunista anuncia o fim
dessa política, permitindo aos casais ter até dois filhos.
44 Geografia da População
As teorias sobre população 3
Essa escassez, ainda conforme Deters e Gullo (2013), estaria sendo provocada pelas
mudanças climáticas e pela degradação ambiental, o que, por consequência, representaria
riscos futuros para o ambiente. Nessa perspectiva, os neomalthusianos defendem que o am-
biente é produto das dimensões do aumento da população, determinando uma relação di-
reta com a demanda de recursos naturais, evidenciando-se, assim, a necessidade de controle
desse crescimento populacional.
Conforme Deters e Gullo (2013), é praticamente impossível negar que o crescimento
populacional seja um problema; a questão central está na escolha do modelo de desenvolvi-
mento e dos tipos de tecnologias adotadas para atender às demandas por recursos naturais.
Entretanto, o debate envolvendo o tema população e ambiente, de acordo com Lima (2013,
p. 576), “abriga diversos entendimentos e éticas, [e] o seu amplo espectro de ação ajuda a
proposição de múltiplos enfoques, muitas vezes harmônicos e complementares, conquanto
existam abordagens conservadoras e dissidentes”. Ainda conforme o autor, o principal alvo
das críticas às abordagens neomalthusianas seria a simplificação da questão ambiental no
contexto do desenvolvimento capitalista.
Nessa perspectiva, Deters e Gullo (2013), apontam que a solução dada pelos neomal-
thusianos para o dilema ambiental se apresenta de forma simples e aparentemente eficaz,
tendo como base a ideia de que, reduzindo-se o crescimento da população, automaticamen-
te os impactos ambientais e sociais reduziriam.
Damiani (2004) afirma que Malthus não só ainda vive por meio dessas abordagens
neomalthusianas, em pleno século XXI, mas que recuperou seus ensinamentos, os quais se
tornaram comuns, orientando a elaboração da demografia e conferindo importância socioe-
conômica aos problemas populacionais. Na concepção da autora, a demografia formal acaba
por superestimar as técnicas quantitativas em suas abordagens.
Geografia da População 45
3 As teorias sobre população
46 Geografia da População
As teorias sobre população 3
Para Marx (1996b, p. 262), há “uma lei populacional peculiar ao modo de produção
capitalista”. Tal lei se impõe pela acumulação do capital produzido, em volume crescente,
pela população trabalhadora, a favor dos proprietários dos meios de produção. Assim, o
acúmulo de capital permite novos investimentos e novas demandas de trabalho podem sur-
gir. Desse modo, como afirma Marx,
Uma lei populacional abstrata só existe para planta e animal, à medida que o ser
humano não interfere historicamente. Mas, se uma população trabalhadora ex-
cedente é produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza
com base no capitalismo, essa superpopulação torna-se, por sua vez, a alavanca
da acumulação capitalista, até uma condição de existência do modo de produção
capitalista. (MARX, 1996b, p. 262)
O aumento populacional, além de prover o exército de mão de obra, se constitui na con-
dição de existência do capitalismo, pelo consumo das mercadorias produzidas, e também
passíveis de serem consumidas, pela classe trabalhadora. Segundo Marx (1996b, p. 246), “as
circunstâncias mais ou menos favoráveis em que os assalariados se mantêm e se multipli-
cam em nada modificam, no entanto, o caráter básico da produção capitalista”. Esse caráter
é o consumo de mercadorias produzidas e que precisam, para garantir a acumulação de
capital, serem vendidas. Isso evidencia, conforme Marx (1996b, p. 246), que a “acumulação
do capital é, portanto, multiplicação do proletariado”.
Nessa perspectiva, à produção capitalista, em específico, segundo Damiani (2004, p. 17),
“não basta a quantidade de força de trabalho disponível, fornecida pelo incremento natural
da população. Para poder se desenvolver livremente, a produção capitalista ultrapassa esses
limites”. Evidencia-se, assim, a importância da superpopulação, ou seja, do exército de mão
de obra, que tem a seguinte utilidade para a produção capitalista:
O trabalhador desocupado, ou semi ocupado, isto é, ocupado em atividades
intermitentes, irregulares, de baixíssimos salários, transforma-se numa pressão
viva para rebaixar ou manter baixos os salários daqueles efetivamente ocupados;
já que, estes últimos, podem ser substituídos pelo primeiro. (DAMIANI, 2004,
p. 18)
Nesse contexto, o trabalhador, diante da concorrência, é pressionado a se submeter a
formas de exploração do seu trabalho intensamente mais lesivas e sob remuneração cada vez
mais irrisória e a jornadas de trabalhos mais extensas. Com base em Marx (1996b), Damiani
(2004, p. 19) afirma que “a acumulação de riqueza, nos termos em que se dá, é ao mesmo
tempo acumulação da miséria”.
Considerando o pensamento de Marx, não se pode desprezar a problemática do cresci-
mento da população e as dinâmicas dele decorrentes. Entretanto, é preciso evitar os limites
da compreensão das dinâmicas populacionais com base em teorias e leis abstratas. Nessa
perspectiva, faz-se necessário valorizar os condicionantes históricos e sociais e os interesses
econômicos que interferem no acesso da população aos meios de subsistência.
Geografia da População 47
3 As teorias sobre população
[...]
48 Geografia da População
As teorias sobre população 3
A partir daí, a política norte-americana passou a considerar a América
Latina como um “continente explosivo”, um campo fértil para a agitação
comunista. Começaram a ser criadas, então, organizações de ajuda aos
latino-americanos. Estas ajudas traziam como exigência a adoção de pro-
gramas e estratégias de redução do crescimento populacional. Em 1961,
por exemplo, a Conferência da OEA, que criou a Aliança para o Progresso,
foi a mesma que expulsou Cuba daquele organismo. O entendimento era
de que o crescimento rápido da população latino-americana, e sua con-
sequente pobreza, seriam fortes aliados da revolução comunista. Deste
modo, o perigo representado por uma questão política foi transformado
no da “bomba demográfica”.
Geografia da População 49
3 As teorias sobre população
Atividades
1. As reflexões de Malthus sobre população tiveram como referência a situação dos
pobres na Inglaterra na passagem do século XVIII para o XIX. Malthus (1996)
afirma que:
As leis dos pobres foram instituídas na Inglaterra para remediar a frequente mi-
séria do povo, mas é para se recear que, embora elas possam ter aliviado um
pouco a intensidade da miséria individual, provocaram um dano geral numa
parcela muito maior. É um assunto frequentemente suscitado em conversas e
mencionado sempre como causa de grande admiração que, não obstante a enor-
me quantia que é anualmente arrecadada para os pobres na Inglaterra, ainda
exista tanta miséria no meio deles. (MALTHUS, 1996, p. 268)
2. Crie dois mapas conceituais, um sobre as ideias de Malthus e outro sobre as ideais
de Marx, referentes ao tema população. Depois, elabore um texto de oito a dez linhas
sobre as principais diferenças de pensamento entre os dois autores.
50 Geografia da População
As teorias sobre população 3
3. Com base no que estudou sobre neomalthusianismo, cite as principais ideias dessa
abordagem sobre população e explique os motivos das críticas lançadas a essa linha
de pensamento.
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Geografia da População 51
3 As teorias sobre população
Resolução
1. Para Malthus, a pobreza é proveniente de uma lei natural, que seria decisiva contra a
existência de uma sociedade que assegurasse tranquilidade e bem-estar, ócio e pros-
peridade e ausência de angústia para garantir os meios de subsistência a todos os
seus membros. Nesse contexto, as diferenças entre classes sociais seria algo natural e
a pobreza deveria ser encarada como uma estratégia para garantir a apropriação de
riqueza pela elite. Somam-se a essa estratégia as epidemias e as guerras como forma
de se evitar o crescimento populacional.
52 Geografia da População
4
Os movimentos
da população
Introdução
Geografia da População 53
4 Os movimentos da população
54 Geografia da População
Os movimentos da população 4
centros passaram a ter como tendência de destino as cidades médias, o que dá importância
aos deslocamentos pendulares. Esses deslocamentos, conforme Moura, Branco e Firkowski
(2005, p. 124), “caracterizam-se por deslocamentos entre o município de residência e ou-
tros municípios, com finalidade específica”, o que deixa de ser um fenômeno meramente
metropolitano. Assim, cenas de “multidões” esperando o transporte público, por exemplo,
são comuns nas grandes metrópoles em que populações residentes em cidades próximas
deslocam-se para trabalhar nestes centros urbanos.
Em relação às migrações internacionais, Oliveira (2011) destaca que mudanças re-
levantes também são observadas. É o caso, por exemplo, de países europeus como Itália,
Espanha e Alemanha, nos quais, considerando-se o início e meados do século XX, predo-
minavam as emigrações e que, atualmente, tornaram-se nações que atraem imigrantes.
Ainda, países que, tradicionalmente, recebiam imigrantes, agora criam sérias restrições
quanto à entrada de novos habitantes, como os Estados Unidos da América e alguns paí-
ses da Europa Ocidental.
Resstel (2015) destaca como fatores que envolvem a mobilidade da população no mun-
do atual: o aumento vertiginoso das diferentes formas de trânsito, que diminuem o tempo
do deslocamento entre uma localidade e outra; e a maior comunicação entre regiões, países,
continentes e povos com culturas notadamente diferentes. A autora aponta, ainda, que hoje,
diferentemente de outras épocas, os intercâmbios culturais e científicos e as viagens turísti-
cas com durações variáveis são comuns.
Desse modo, é possível “permanecer em um lugar longínquo por alguns dias ou por
uma longa temporada ou, ainda, ter domicílios em diferentes países” (RESSTEL, 2015, p.
38). Na concepção da autora, é frequente o imigrante “carregar consigo” uma imagem que
o retrata como intruso, perigoso e como um ser inferior, mas ele pode também ser visto de
forma positiva.
Considerando ainda a complexidade que envolve a problemática, vários pesquisadores
buscam bases teóricas para analisar as causas e consequências da mobilidade da população.
Geografia da População 55
4 Os movimentos da população
56 Geografia da População
Os movimentos da população 4
Figura 1 – Representação do grupo étnico polonês em Curitiba, PR.
Geografia da População 57
4 Os movimentos da população
Para Singer (1980), o fenômeno migratório se caracteriza como social e assume a di-
mensão de classe social. Dessa forma, a migração seria consequência de processos sociais,
econômicos e políticos, já que, na perspectiva de Singer, a migrações internas são condicio-
nadas historicamente e resultam de um processo global de mudanças, da qual não podem
ser separadas (OLIVEIRA, 2011).
Na visão de Singer (1980), a problemática principal estaria relacionada às desigualda-
des regionais de território, que seriam as causadoras das migrações internas (OLIVEIRA,
2011). Segundo Oliveira (2011), Singer defende que no lugar de origem surgiriam fatores
que causariam expulsão de população, os quais se manifestam basicamente de duas for-
mas: a introdução de técnicas inovadoras de produção, a qual aumenta a produtividade do
trabalho, mas gera uma redução do nível do emprego, e, com isso, camponeses e pequenos
proprietários, por exemplo, seriam expulsos do campo; e fatores de estagnação, associados
à incapacidade dos agricultores, em economia de subsistência, de aumentar a produtividade
da terra, resultando daí a migração da população.
Referindo-se às abordagens neoclássica e estruturalista, Vainer (1998, p. 828) diz que
“neoclássicos e estruturalistas mostram-se incapazes de identificar o lugar e o papel da coer-
ção na produção e reprodução dos deslocamentos e localizações do trabalho no movimento
normal do desenvolvimento capitalista”. Essas análises acabariam omitindo, portanto, a di-
mensão da dinâmica que determina os fluxos e localizações de população. De acordo com
Oliveira (2011), “as teorias produzidas sobre migração estiveram influenciadas pelo mundo
industrial e pelo desenvolvimento econômico, tanto aquelas ancoradas na teoria da moder-
nização quanto as baseadas no enfoque estruturalista”.
Nessa perspectiva, aponta-se, com base em Oliveira (2011), que, quanto às abordagens
teóricas sobre os fenômenos migratórios, há a necessidade do aprimoramento de teorias que
deem conta de explicar os fatores econômicos, sociais, tecnológicos e políticos que envolvem
a mobilidade da população.
58 Geografia da População
Os movimentos da população 4
Nessa perspectiva, essas mudanças são advindas do processo de reestruturação da pro-
dução capitalista, que traz novas modalidades de mobilidade do capital e da população em
diferentes países do mundo (PATARRA, 2010). Segundo a autora, isso evidencia visões de
mundo e posturas ideológicas que entram em confronto na tentativa de enfrentar a crise e
as contradições de ordem capitalista na atual fase da ordem política e econômica global, que
traz consigo grandes desigualdades sociais e exclusão, o que acaba por estimular a transpo-
sição de fronteiras.
Para a compreensão desse processo, Martine (2005) destaca que é preciso entender
como esses condicionantes políticos, econômicos e culturais afetam o deslocamento espacial
da população. Nas palavras do autor, “nos dias de hoje, o horizonte do migrante não se res-
tringe à cidade mais próxima, nem à capital do estado ou do país. Seu horizonte é o mundo –
vislumbrado no cinema, na televisão, na comunicação entre parentes e amigos” (MARTINE,
2005, p. 3). Ainda conforme o autor, muitos países crescem pouco ou praticamente nada, e,
enquanto isso, as desigualdades aumentam e contribuem para o desejo, ou mesmo a neces-
sidade, de migrar para outros países.
As migrações internacionais atuais, de acordo com Patarra (2010), vêm exibindo um
crescimento contínuo desde a década de 1960. A maior parte dos fluxos ocorre em direção
aos países classificados como desenvolvidos. Referindo-se a esse crescimento das migrações,
Martine (2005) destaca a necessidade de formulação de políticas migratórias que consistam
na revalorização dos aspectos positivos da migração e na busca de redução progressiva dos
seus efeitos negativos. No entanto, para serem eficazes, essas políticas precisam considerar o
“deslocamento espacial como parte das estratégias de sobrevivência e de mobilidade social
da população” (MARTINE, 2005, p. 4). A Figura 2 retrata vários refugiados sírios vagando
em direção à Alemanha para pedido de asilo.
Fonte: iStockphoto/djenkaphoto.
Geografia da População 59
4 Os movimentos da população
60 Geografia da População
Os movimentos da população 4
em meados da década de 1990, cerca de 1,5 milhão de brasileiros estava vivendo em outros
países, o que evidenciou uma importante questão demográfica a ser debatida nos estudos
sobre a população brasileira. Entre 1950 e 1980, a população brasileira havia sido conside-
rada como fechada, ou seja, seria resultado apenas do crescimento natural ou vegetativo.
Nessa perspectiva, do ponto de vista quantitativo, seria irrelevante o reduzido número de
estrangeiros que adentraram no Brasil no Pós-Segunda Guerra Mundial, bem como o núme-
ro de brasileiros que se dirigiram a outros países (PATARRA, 2010).
A partir da década de 1980, os fluxos dos movimentos internacionais, tendo como
destino o Brasil, passaram a ter características distintas daqueles que ocorriam anterior-
mente, quanto aos países de origem. De acordo com Patarra (2010), cresceu o número
absoluto de imigrantes chineses, angolanos, bolivianos, paraguaios, coreanos, entre ou-
tras nacionalidades, sobretudo os haitianos. Soma-se também a esses fluxos o retorno de
brasileiros que emigraram.
Destaca-se, nesse contexto, a importância de se compreender a política migratória, se-
gundo Siciliano (2013, p. 9), como “o conjunto de ações de governo para regular a entrada,
a permanência e a saída de estrangeiros de território nacional, bem como as ações desti-
nadas a regular a manutenção dos laços entre o Estado e os seus nacionais que residam
no exterior”. Em 1980, foi promulgada a Lei n. 6.815, que criou o Conselho Nacional de
Imigração, com o fim de orientar as políticas migratórias. Esse conselho é presidido pelo
Ministério do Trabalho, com representantes de outros ministérios. Segundo Patarra (2010),
desde o início de sua vigência essa lei é alvo de críticas, principalmente por privilegiar a
imigração sob o ponto de vista da assimilação de tecnologias e investimentos de capital
estrangeiro. A autora destaca, ainda, a criação do Comitê Nacional para os Refugiados
(Conare), também vinculado ao Ministério do Trabalho, o qual estabelece diretrizes no
que concerne à autorização de trabalho ao estrangeiro e define juridicamente sua situação.
O Brasil se caracteriza como um dos países mais restritivos quanto à imigração.
Em 2015, foi lançado o Projeto de Lei n. 2.516, para a criação de uma nova Lei de
Migração, tendo como propósito garantir ao imigrante a condição de igualdade com os na-
cionais, com direito à liberdade, à segurança, à inviolabilidade do direito à vida, à proprie-
dade e ao acesso aos serviços públicos e ao exercício de funções públicas (BRASIL, 2015).
Geografia da População 61
4 Os movimentos da população
62 Geografia da População
Os movimentos da população 4
4.3.2 Tipos de migração: êxodo rural e
migrações temporárias
Para uma análise mais efetiva das causas e consequência da mobilidade da população,
faz-se necessário conhecer as características de dois tipos específicos de migração: êxodo
rural e migrações temporárias.
O êxodo rural se caracteriza, segundo Andrade (1998, p. 57), pela “transferência do
habitante do campo para a cidade – é uma das formas de migração interna mais importante
nos dias atuais”. Esse tipo de migração ocorre em quase todo o mundo, pois, conforme o
autor, com a industrialização, a facilidade de transportes e de comunicações, as cidades
estão crescendo de forma extraordinária. Com isso, indivíduos de todas as classes sociais se
deslocam, atraídos pelo desejo de melhores salários, pela necessidade, por exemplo, de com-
pletar sua educação. Outro fator de expulsão do homem do campo é a intensa mecanização,
ou seja, os postos de trabalho passam a ser extintos devido ao uso de máquinas agrícolas.
Nos países desenvolvidos, o êxodo rural não se constitui num problema, dadas as es-
truturas capazes de absorver mão de obra e produzir no campo com intenso uso de tecno-
logia. Já nos países subdesenvolvidos, como afirma Andrade (1998, p. 57), “ocorrem proble-
mas sérios: as cidades não têm condições de oferecer empregos estáveis”, o que leva parte
significativa dos migrantes a viver de serviços eventuais ou, até mesmo, pedir esmolas e
vasculhar restos de comida no lixo. Ainda segundo o autor, a dificuldade de acesso à mora-
dia dá origem a grandes favelas.
As migrações temporárias se caracterizam por ocorrerem num dado período de tempo,
relativamente curto. Andrade (1998) classifica esse tipo de migração em três grandes grupos:
migrações por tempo indeterminado; migrações sazonais; e migrações diárias.
Migrações por tempo indeterminado “são aquelas feitas por pessoas que se transferem
para um outro país ou região, com intenção de regressar após atingir determinados objeti-
vos” (ANDRADE, 1998, p. 57). Ainda segundo o autor, as migrações sazonais se caracte-
rizam quando as pessoas se deslocam de uma área para a outra quando há oportunidade
de trabalho. Estão ligadas ao período das várias culturas agrícolas, que, influenciadas pelo
regime de chuvas, não têm a mesma época de plantio e colheita. Um exemplo é o constante
movimento de trabalhadores do Agreste brasileiro, região de transição entre a Zona da Mata
e o Sertão no Nordeste do país. Nessa região, durante a estação das chuvas, ocorre o cultivo
de milho, feijão e algodão, o que garante o trabalho de março a setembro. No período entre
outubro a abril, entretanto, os trabalhadores migram para a Zona da Mata, para o trabalho
nas lavouras de cana de açúcar (ANDRADE, 1998).
Nas grandes cidades, são observadas as migrações diárias ou pendulares, caracteriza-
das pelo deslocamento de trabalhadores que, de acordo com Andrade (1998), recebem bai-
xos salários e conseguem acesso a moradias apenas em subúrbios distantes do seu trabalho.
Geografia da População 63
4 Os movimentos da população
Nos últimos anos, após a entrada oficial do Brasil na rota dos grandes
deslocamentos internacionais, as leis, os programas, os dispositivos,
os decretos e outras medidas relativas à entrada de imigrantes no país
têm sido repensados e revisados. Isso implica, segundo a Organização
Internacional para as Migrações (OIM, 2009), tanto uma reorganização
institucional, para atender às novas funções do governo frente às novas
tendências e características do movimento migratório, quanto uma
ampliação do papel de instituições oficiais já existentes para corroborar
essa situação.
64 Geografia da População
Os movimentos da população 4
entre os povos para o progresso da humanidade e a concessão do asilo
político. Entende-se que o respeito a esses princípios pode promover rela-
ções pacíficas e integradoras entre os países e, ainda, contribuir para a
inserção de um imigrante no país (BRASIL, 1988).
Nesse contexto, acredita-se que, uma vez que essa lei diz mais da preo-
cupação com a segurança nacional, característica típica do período
ditatorial, e que a mesma continua sendo aplicada nos dias de hoje, é
urgente ampliar os efeitos dessa lei a fim de redemocratizar o processo
de circulação de pessoas, atentando especialmente para o processo de
integração. Se a globalização é inevitável, também deve ser inevitável
a mudança da legislação, de modo que esta contemple as demandas
contemporâneas.
Geografia da População 65
4 Os movimentos da população
Atividades
1. Considerando os conceitos estudados sobre as migrações, entreviste uma pessoa
adulta, com o fim de identificar os tipos de movimentos migratórios por ela reali-
zados atualmente ou em anos anteriores. Com base na entrevista, escreva uma his-
tória da pessoa e destaque as denominações e as características dos movimentos
realizados. Aborde também, no seu texto, os fatores políticos, econômicos, sociais e
culturais que estimularam os movimentos migratórios realizados pelo entrevistado.
66 Geografia da População
Os movimentos da população 4
2. Conforme abordou-se, em 2015 foi lançado o projeto de Lei n. 2.516, que cria uma
nova Lei das Migrações, com o propósito de garantir direitos ao imigrante (BRASIL,
2015). Busque informações sobre o projeto, tendo como referência as seguintes ques-
tões: Foi aprovado no Senado? Quais direitos essa nova lei garante ao imigrante? Em
que aspectos essa lei se diferencia da Lei n. 6.815, de 1980?
3. Considere os tipos de migrações internas abordados por Andrade (1998): êxodo ru-
ral, migrações temporárias, sazonais, definitivas e diárias. Que fatores motivaram (e
continuando motivando) essas migrações no Brasil?
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Geografia da População 67
4 Os movimentos da população
PEDRO, J. M. A experiência com contraceptivos no Brasil: uma questão de geração. Revista Brasileira
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SINGER, P. I. Dinâmica populacional e desenvolvimento: o papel do crescimento populacional no
desenvolvimento econômico. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1976.
Resolução
1. Identifique alguns dos tipos de migrações abordados por Andrade (1998), como
mudanças de um lugar para outro dentro do próprio país. Quanto aos fatores
que as estimularam, aborde os motivos econômicos que envolvem esses movi-
mentos. Caso o entrevistado seja estrangeiro, identifique as circunstâncias em
que o imigrante chegou ao país, o que estimulou o movimento e os desafios aqui
encontrados para se estabelecer.
2. Busque informações sobre os debates que envolvem essa lei. Quanto à compara-
ção entre as leis, conclua que a Lei n. 6.815, de 1980, embora traga diretrizes para o
estabelecimento dos imigrantes no país, é limitada quanto aos direitos humanos e
bem-estar destes.
68 Geografia da População
5
Os efeitos da globalização
sobre a população
Introdução
De forma geral, não se pode negar que a globalização traz mudanças políticas,
econômicas, sociais e culturais significativas para as sociedades capitalistas, as quais
acabam influenciando também os fenômenos populacionais e suas relações com a pro-
dução e o consumo.
Geografia da População 69
5 Os efeitos da globalização sobre a população
Ao se referir à época atual, Milton Santos (2001a, p. 34) destaca que, “como período
e como crise, a época atual mostra-se, aliás, como coisa nova. Como período, as suas
variáveis características instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indi-
retamente. Daí a denominação de globalização”. Sobre a crise, Santos (2001a) diz que as
variáveis que constroem o sistema capitalista chocam-se continuamente, exigindo novos
70 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
arranjos e definições, e isso se constitui numa situação persistente, mas que mantém
resquícios das características anteriores.
Sobre o processo de globalização, segundo Martine (2005, p. 22), há “muitas interpre-
tações da história a partir das técnicas”. Nessa perspectiva, as técnicas são oferecidas como
um sistema e realizadas combinadamente [por meio] do trabalho e das formas de escolha
dos momentos e dos lugares de seu uso. Ainda se referindo à relação entre globalização e
técnicas, Martine afirma que
no fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema
de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um
papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico
uma presença planetária. (MARTINE, 2005, p. 22)
Também destacando essa mesma relação, Santos (2001a, p. 24) diz que “a globalização
não é apenas a existência desse novo sistema de técnicas. Ela é também o resultado das ações
que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos
processos políticos atualmente eficazes”. Ao se referir ao fator mercado no mundo global,
Martine (2005, p. 4) assinala que a “globalização caracteriza-se por aumentos significativos
no intercâmbio comercial e financeiro, dentro de uma economia internacional crescente-
mente aberta, integrada e sem fronteiras”.
Nesse sentido, Santos (2001a, p. 24) enfatiza que “os fatores que contribuem para ex-
plicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos
momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história, re-
presentado pela mais-valia globalizada”. Nesse contexto, surge um mercado global que, por
meio de um sistema de técnicas avançadas, resulta numa globalização que, nas palavras de
Santos (2001a, p. 24), é “perversa”. O autor destaca que esse processo poderia ser diferente
se tivesse outro uso político, ou seja, o debate central, o qual traz a possibilidade de utilizar
o sistema técnico contemporâneo a partir de outras formas de ação.
Conforme afirma Martine (2005, p. 4), “a globalização é uma força poderosa no novo
sistema mundial, e continuará sendo determinante no curso da história futura da humani-
dade. Sem dúvida, ela nos coloca tanto desafios como oportunidades”. Entretanto, segundo
Santos (2001a, p. 17), “globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à
condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz
as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”. Desse modo, a globalização
que se estabelece, na visão deste autor, não estaria a serviço da humanidade.
Ainda destacando os aspectos sociais da globalização, Santos (2005, p. 19) afirma que
o “mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta
quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas”. Outros aspectos da globaliza-
ção destacados pelo autor são: o culto ao estímulo do consumo; uma busca de uniformidade
ao serviço dos atores hegemônicos; e o mundo tornando-se menos unido, distanciando-se
do sonho de uma cidadania verdadeiramente universal (SANTOS, 2001a).
Nessa perspectiva, Martine (2005, p. 4) explica que “praticamente todos os países foram ins-
tados a adotar as mesmas regras do jogo e a submeter-se aos fiscais internacionais, propiciando
Geografia da População 71
5 Os efeitos da globalização sobre a população
a expansão do mercado global”. Desse modo, ainda conforme o autor, a globalização continua
sendo uma realidade inacabada, pois enquanto os países ricos levarem vantagens sobre os paí-
ses pobres, haverá dificuldades a esses últimos para trilharem o desenvolvimento econômico.
Numa análise crítica do processo de globalização, Santos (2001a, p. 173-174) afirma que
Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade,
acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a de-
sejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades
e possibilidades serão aproveitadas pela política.
Para o autor, o processo de globalização não é irreversível, pois pode alcançar outra
significação, diferente da atual que aprofunda as desigualdades entre países e, consequen-
temente, as desigualdades sociais, resultando em fluxos migratórios. Um exemplo é o êxodo
rural, causado pela expansão das áreas monocultoras por grandes empresas multinacionais
do ramo do agronegócio.
Santos (2001a) também considera a globalização como um processo que pode ser re-
versível e destaca que a mudança histórica em perspectiva deriva de um movimento de
baixo para cima, tendo como atores principais os habitantes de países subdesenvolvidos: os
deserdados, os pobres, os excluídos. Sobre essa temática, Kaizeler e Faustino (2012, p. 22)
ressaltam que
[...] não se deve generalizar a análise dos efeitos de globalização na repartição
do rendimento, uma vez que cada país tem características próprias, e existem
outros fatores que influenciam a desigualdade e que devem ser analisados, e são
realidades diferentes em cada nação.
Nessa perspectiva, evidencia-se a complexidade que envolve o debate sobre a globali-
zação e suas relações com as dinâmicas populacionais.
72 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
população. Segundo a autora, “milhares de pessoas lutam para sobreviver sob condições
extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as legiões de perseguidos e de
refugiados, mas também onde o capitalismo se apresenta como mais próspero” (SANTOS,
2001b, p. 177).
Nesse contexto, o capitalismo destaca-se como um sistema polarizador e contraditório,
o que se configura no aumento constante de riquezas em poder de uma minoria, mas tam-
bém expande a pobreza da maior parte da população mundial (SANTOS, 2001b). Considera-
se nessa análise que o termo pobreza é bastante amplo e carece de algumas reflexões sobre a
complexidade que o envolve.
Ao abordar o conceito de pobreza, Buss (2007, p. 1.578) o aponta como “um conceito
multidimensional e uma situação real de vida”. Ainda segundo a autor, antes dos trabalhos
críticos de Amartya Sen (Prêmio Nobel de Economia de 1988), eram considerados pobres os
indivíduos que viviam com menos de 1 dólar por dia, ajustado pelo poder aquisitivo do país
ou região. Após os debates de Amartya Sen, esclareceu-se que não é possível estabelecer uma
linha de pobreza e generalizá-la sem levar em conta as características e circunstâncias pessoais.
Nessa perspectiva, para Buss (2007, p. 1.578), “a análise da pobreza também deve concentrar-
-se na capacidade da pessoa para aproveitar oportunidades, assim como de fatores como saú-
de, nutrição e educação, que refletem a capacidade básica para funcionar na sociedade”. Esses
fatores se relacionam diretamente com a qualidade de vida de uma população.
A satisfação das necessidades básicas da população, de acordo com Santos (2001b, p.
195), requer a “construção de um modelo alternativo de sociedade, no qual formas igualitá-
rias e solidárias possam sobrepor-se aos interesses particulares do capital”. Assim, é impres-
cindível reconhecer, ainda segundo a autora, que a exclusão social só poderá ser superada
por meio de mecanismos políticos, tendo como objetivo a construção de uma sociedade
mais justa e que atenda às necessidades básicas de toda a população.
Destaca-se, nessa análise, outro conceito fundamental, a desigualdade internacional,
que, segundo Kaizeler e Faustino (2012, p. 16), “refere-se à desigualdade entre países devido
a diferenças do rendimento per capita entre eles”. Evidencia-se também a necessidade de se
considerar a dimensão política na análise da relação entre globalização e população. Desse
modo, a principal contradição do capitalismo no contexto da globalização e que precisa ser
encarada é a crescente concentração de riquezas nas mãos de poucos e o empobrecimento
cada vez mais intenso da maior parte da população mundial.
Geografia da População 73
5 Os efeitos da globalização sobre a população
74 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
Entretanto, as análises desses indicadores na atualidade revelam que tais políticas não
se concretizaram. Sobre essas discrepâncias nos indicadores, afirma Buss (2007, p. 1.578) que
elas “existem entre países e regiões do mundo e entre ricos e pobres no interior dos países”.
O autor destaca os significativos diferenciais que se verificam entre grupos de países reuni-
dos por nível de desenvolvimento, evidenciando os prejuízos nos indicadores da população
para as nações mais pobres e menos desenvolvidas, como apresentado na Tabela 1.
Mortalidade
Mortalidade
População Renda anual Expectativa abaixo de
Categoria de infantil
(em média (em de vida cinco (mortes
desenvol- (mortes antes
milhões/ dólares ao nascer antes de
vimento de 1 ano de
2015) americanos) (anos) 5 anos de
idade ‰)
idade ‰)
Países menos
745 302 55 98 155
desenvolvidos
Países de renda
2.095 1295 72 32 36
média-baixa
Países de renda
582 4.905 73 24 32
média-alta
Países de
905 25.766 80 4 4
renda alta
África
683 550 53 95 148
subsaariana
Fonte: BUSS, 2007, p. 1579; PNUD, 2015. Adaptado.
Geografia da População 75
5 Os efeitos da globalização sobre a população
investimentos menores e/ou restritos nos setores de saúde e educação se expressam como
um decréscimo na qualidade de vida dos cidadãos.
Outro fator destacado por Santana e Krom (2006) é a vulnerabilidade dos indivíduos
oriunda das formas de se trabalhar e se viver num contexto de constantes pressões do mun-
do globalizado, que traz também o aumento do desemprego, salários reduzidos, piores
condições de moradia, desinformação, elevação das distâncias entre a casa e o trabalho e
permanência de precariedade ou inexistência de saneamento básico. Nessa perspectiva, evi-
denciam-se as relações entre o processo de globalização e suas influências nos indicadores
da população.
76 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
aquisitivo, o que impede o acesso a alimentos nutritivos. De acordo com o Documento da
Rio+20 (ONU, 2012), a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO) estima que as perdas globais de alimentos e desperdícios alcancem 1,3 bilhão de
toneladas por ano.
Como solução a esse cenário, o Documento da Rio+20 aponta a necessidade de uma
reforma significativa do sistema de alimentação e de agricultura para garantir a seguran-
ça alimentar das pessoas que sofrem com a fome. Além de garantir a disponibilidade de
alimentos, o mesmo documento (ONU, 2012) destaca também a importância de garantir o
acesso a condições de subsistência, como o aumento de postos de trabalho e de rendimentos.
Geografia da População 77
5 Os efeitos da globalização sobre a população
“maioria dos problemas ambientais mais críticos enfrentados pela civilização moderna tem
suas origens nos padrões de produção e consumo; estes estão claramente centrados nas áreas
urbanas”. Esse autor aponta ainda uma dimensão importante na relação entre consumo e po-
pulação: a urbanização. Assim, “paradoxalmente, as cidades também apresentam vantagens
significativas em termos do seu potencial para conciliar as realidades econômicas e demográ-
ficas do século 21 com as exigências da sustentabilidade” (MARTINE, 2007, p. 182).
Considerando a dimensão populacional, quando ocorrem mudanças demográficas, há
tendência de alterações também na quantidade e qualidade dos bens produzidos, como
afirmam Silva, Barbieri e Monte-Mór (2012). Ainda de acordo com os autores, as dinâmicas
demográficas podem afetar diversas características de uma sociedade por meio das formas
pelas quais uma população se altera em relação à estrutura etária, distribuição espacial,
estrutura familiar e tamanho absoluto. Desse modo, “a maior ou menor participação percen-
tual de pessoas em tal ou qual grupo etário de uma população terá impacto sobre a curva de
consumo agregado por idade” (SILVA; BARBIERI; MONTE--MÓR, 2012, p. 425). Destaca-se,
assim, que o consumo é influenciado também pela renda pessoal ou domiciliar, mantendo
relações com a estrutura etária e as variáveis demográficas.
Globalização: as
consequências brasileiras
(SILVA; MOURA, 2014, p. 2-5)
78 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
“o espaço tornou-se [...] emancipado das restrições naturais do corpo
humano” (1999, p. 24). As informações que antes respeitavam e acompa-
nhavam a velocidade do corpo, hoje estão instantaneamente disponíveis
em todo planeta. [...]
Geografia da População 79
5 Os efeitos da globalização sobre a população
Percebe-se que este medo está batendo na porta das casas dos cidadãos
brasileiros das mais diferentes classes sociais, principalmente, pelo prisma
de sentir-se inadequado. Em uma sociedade que valoriza mais o ter do
que o ser, como é o caso da sociedade brasileira, observa-se um comércio
fortemente relacionado à vinculação social, ao pertencimento à determi-
nados grupos. Sobretudo, um comércio reforçado pela mídia, que faz com
que muitos jovens brasileiros “exijam” de seus pais a aquisição de deter-
minado produto (de marca é claro) porque seus colegas têm, esperando
que, com a posse deste bem se sentirão incluídos no grupo. [...]
Atividades
1. Considerando-se os efeitos da globalização, analise a maneira como esse processo
pode ter se manifestado no município em que você reside. Para isso, busque infor-
mações tendo em mente as seguintes questões:
De posse desses dados, elabore um texto expressando suas reflexões sobre o assunto,
relacionando-as às questões populacionais presentes no seu município.
2. É comum haver uma associação entre a globalização dos dias de hoje e os processos
similares de globalização de séculos passados. No entanto, na fase atual esse pro-
cesso se caracteriza de forma diferente das fases anteriores. Cite as características da
globalização na atualidade e destaque o motivo de ela se diferenciar dos processos
de globalização de períodos passados.
80 Geografia da População
Os efeitos da globalização sobre a população 5
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em: 15 jan. 2017.
Geografia da População 81
5 Os efeitos da globalização sobre a população
Resolução
1. Nessa atividade você deve verificar a presença ou não de empresas multinacionais
no município onde vive e a forma como essas organizações influenciam a constru-
ção do espaço e a distribuição da renda. Nesse sentido, pode evidenciar os fatores
políticos e econômicos que influem nos indicadores sociais e na qualidade de vida
da população.
82 Geografia da População
6
Raças, etnias e
povos do mundo
Introdução
Com a globalização ocorrem diversos contatos entre povos do mundo, seja por
intermédio dos meios de comunicação, seja por viagens, pelo mercado de trabalho
ou pela imigração. Nesse contexto, há sociedades ou grupos que apresentam pecu-
liaridades quanto à identidade cultural, pontos de vista, crenças e forma de interação
com a natureza.
Geografia da População 83
6 Raças, etnias e povos do mundo
6.1.1 Raça
O conceito de raça, segundo Santos et al. (2010), engloba as características fenotípicas1,
como a cor da pele, por exemplo. No entanto, devido à sua ampla utilização, o debate sobre
o assunto tende a ser mais de cunho social do que científico.
A polêmica que envolve o tema se deve ao fato de que as primeiras teorias que tratavam
do conceito de raça estavam baseadas no paradigma de raça superior e raça inferior. Nesse
sentido, o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) pode ser considerado o fundador do
racismo científico, pois, a partir de suas elaborações, denominadas de evolucionismo social,
as tipologias e os sistemas classificatórios foram transplantados do mundo biológico para
o mundo cultural (CHAVES, 2003). As ideias desse cientista reforçavam o pensamento de
que determinadas características físicas e biológicas poderiam tornar povos e sociedades
superiores, se comparadas a outras.
Essa perspectiva de Spencer categorizou os povos como superiores, constituídos sobre-
tudo por europeus; e inferiores, cuja maior representatividade seriam os índios. Além disso,
Spencer classificou as sociedades com base no domínio técnico, considerando as industriais
como mais civilizadas e evoluídas. Dessa forma, as demais sociedades, como as agrícolas,
por exemplo, eram tidas como primitivas e atrasadas, devido à incapacidade de seus mem-
bros em melhorar as condições de existência e alcançar um promissor desenvolvimento eco-
nômico (CHAVES, 2003). Para Spencer, no processo de evolução social ocorria uma luta pela
supremacia, na qual naturalmente os povos superiores, por serem mais fortes e inteligentes,
pela sua persistência dominavam os povos mais fracos.
Influenciado pelas ideias de Spencer, Charles Darwin (1809-1874) também elaborou
preceitos evolucionistas baseados na noção de superioridade cultural e racial, reforçando o
paradigma de raças superiores e raças inferiores (CHAVES, 2003). Em seus preceitos, tam-
bém defendia que as raças superiores naturalmente dominavam as raças inferiores, conside-
rando-se as características biológicas e de seleção natural.
Relacionando o pensamento desses estudiosos à geografia, destaca-se que essa ciência
se desenvolveu num contexto ideológico e político, em que a ideia de raças superiores e
inferiores se manifestou nas teorias de produção do espaço pelas sociedades. Nasce, nes-
se contexto, a ideia de determinismo geográfico, tendo como seu principal representante
Friedrich Ratzel (1844-1904). Nessa perspectiva, o homem é determinado pelo meio no qual
84 Geografia da População
Raças, etnias e povos do mundo 6
está inserido e, na luta pela sobrevivência, vencem os mais capazes de se adaptar ao meio
natural. Sendo assim, o clima europeu, por exemplo, por ser mais ameno, daria origem
a populações mais valentes e dominadoras, enquanto nas zonas quentes e equatoriais as
populações seriam mais preguiçosas e pouco dispostas – e, logo, deveriam ser dominadas
pelas mais fortes (RODRIGUES, 2008).
Ainda sobre as teorias de supremacia das “raças superiores”, destaca-se o trabalho
do médico e antropólogo brasileiro Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), no fim do
século XIX e início do século XX, o qual defendia o “branqueamento” da população, que
se daria devido à mistura de raças oriundas da imigração, a partir do pressuposto de
que a raça branca era superior às demais. “A ideia de formar um povo mais branco fazia
parte do pensamento da elite brasileira que acreditava, entre outras coisas, na ‘extinção’
dos elementos ‘inferiores’ por meio da mescla progressiva com imigrantes selecionados”
(NEVES, 2008, p. 243).
Hoje essas ideias são fortemente refutadas, visto que não são as condições naturais do
meio ou as características biológicas dos povos que determinam superioridade ou inferio-
ridade, e sim o domínio técnico e os interesses na interação entre sociedade e natureza. A
ciência contemporânea se contrapõe às classificações entre raças ou povos superiores ou
inferiores e considera que as bases teóricas para a análise das relações sociais no contexto
do debate sobre a questão racial precisam ser buscadas no contexto social e histórico, que,
como já citado, passou por transformações significativas ao longo do desenvolvimento
das sociedades.
Referindo-se especificamente ao termo raça, Santos et al. (2010) enfatizam que ele apre-
senta uma variedade de definições e que geralmente é utilizado para descrever um grupo
de pessoas que apresentam certas características morfológicas em comum. Os autores des-
tacam, ainda, que a maioria dos estudiosos sobre o assunto admite que o termo raça não é
científico e só pode ter significado biológico quando o ser se apresenta de forma homogênea
e estritamente pura, como em algumas espécies de animais domésticos – condições essas
que não são encontradas em seres humanos (SANTOS et al., 2010).
Sendo o genoma humano composto de cerca de 25 mil genes2, as diferenças mais apa-
rentes, como cor da pele, textura dos cabelos, formato dos olhos e do nariz são determinadas
por um grupo insignificante de genes. Desse modo, “as diferenças entre um negro africano
e um branco nórdico compreendem apenas 0,005% do genoma humano” (SANTOS et al.,
2010, p. 122). Assim, há um amplo consenso entre geneticistas e antropólogos de que, sob o
ponto de vista biológico, raças humanas não existem.
Evidencia-se, portanto, que o conceito de raça envolve uma dimensão social, já que,
ao longo da evolução das ciências, tentou-se desenvolver bases teóricas para comprovar
“cientificamente” a superioridade de uma “raça” sobre outras. No entanto, considerando o
contexto social e histórico que marca as sociedades, não há bases para outro debate que não
seja pelo viés social e pela busca da superação de preconceitos, sobretudo o racial.
Geografia da População 85
6 Raças, etnias e povos do mundo
6.1.2 Etnia
Buscando uma conceituação de etnia a partir do significado dessa palavra, tem-se a
acepção de “gentio”, que é proveniente do adjetivo grego ethnikos, relacionado à “gente es-
trangeira”. O termo etnia foi concebido pelo antropólogo francês Georges Vacher de Lapouge
(1854-1936), com base no paradigma de raças superiores e raças inferiores, e apontava a mis-
cigenação como um fator negativo para o desenvolvimento dos povos.
O emprego do termo etnia ganhou força no início do século XIX, para distinguir as ca-
racterísticas culturais próprias de um grupo, como os costumes e as línguas. Considerando
que o conceito de raça vem sendo cada vez mais refutado, a concepção de etnia vem ga-
nhando espaço nas ciências sociais, apesar de ser apontado como um conceito que deve ser
melhor compreendido (SILVA; SILVA, 2006).
Etnia se refere, portanto, ao âmbito cultural de um grupo ou comunidade humana liga-
da por afinidades linguísticas e semelhanças genéticas. Independentemente dos laços con-
sanguíneos, a etnia envolve o sentimento de pertencer a um grupo e compartilhar aspectos
culturais. Trata-se de um conceito “polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo
resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da
aparência física” (SANTOS et al., 2010, p. 122).
Referindo-se ao debate atual sobre o conceito de etnia, Silva e Soares (2011) destacam
que este envolve a noção de universo cultural que cerca o indivíduo. O fazer parte de um
grupo étnico não significa necessariamente possuir características físicas semelhantes, mas,
mais do que isso, avança no sentido de compreender a dimensão sociocultural e as experiên-
cias incomuns que ligam indivíduos ou comunidades num mesmo grupo.
Essa mudança de abordagem do conceito de etnia que valoriza os elementos sociocultu-
rais de um grupo ou comunidade é imprescindível para a análise das trocas, aculturações e
processos de resistências e transformações que podem ocorrer na interação de determinado
grupo étnico com aspectos das demais culturas. Com os movimentos migratórios caracterís-
ticos das populações ao longo do tempo, os intercâmbios e o advento da globalização, um
determinado grupo étnico, ainda que de forma incipiente, pode ter e conhecer aspectos de
diferentes culturas, origens e identidades.
Destaca-se, ainda, a diferença entre etnia e grupo étnico. A etnia, segundo Silva e Silva
(2006), caracteriza-se por abranger um número significativamente extenso de pessoas, o que
não permitiria uma interação direta entre todas elas. Já o grupo étnico se constitui num
conjunto de pessoas que mantêm interação entre todos os seus membros, além das caracte-
rísticas que distinguem uma etnia.
A análise da evolução histórica sobre etnia revela que esse conceito não teve caráter es-
tático ao longo do tempo, e diversas ideias, inclusive limitadas e ideológicas, como a questão
da superioridade de um grupo, por exemplo, foram a ele atribuídas. Desse modo, a ressig-
nificação do conceito de etnia considera as dimensões socioculturais, os debates científicos e
os embates políticos e sociais entre os diversos grupos humanos.
86 Geografia da População
Raças, etnias e povos do mundo 6
6.2 Os conflitos étnicos
Vídeo
As características culturais e a identidade dão origem a diversos grupos
étnicos. No entanto, alguns grupos encontram desafios significativos para
mantê-las. Assim, destaca-se o papel do Estado (como organização política
e territorial) em garantir direitos e buscar soluções para eventuais conflitos.
Geografia da População 87
6 Raças, etnias e povos do mundo
(IDH) é menor que o da população geral, assim como seu acesso ao saneamento básico,
mercado de trabalho e à educação.
Também se referindo à relação entre Estado e etnia, Chiriboga (2006) afirma que
os Estados têm obrigação de proteger e promover a diversidade cultural e adotar
políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos, para
que se garanta, assim, a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz.
(CHIRIBOGA, 2006, p. 44)
Evidencia-se, dessa forma, que a resolução dos conflitos e a garantia dos cidadãos à
vida digna e ao bem-estar passa pelas ações do Estado na promoção de políticas voltadas ao
respeito às diferenças e ao convívio na diversidade.
88 Geografia da População
Raças, etnias e povos do mundo 6
Relacionando etnias e direitos humanos, Vigevani, Lima e Oliveira (2008) distinguem
dois cenários. No primeiro destacam-se as sociedades multiétnicas, onde as relações entre
indivíduos e grupos ocorrem sem maiores embates. Quando ocorrem, o Estado tem capa-
cidade para equacioná-los e solucioná-los de maneira compatível com a perspectiva dos
direitos humanos. Em relação à capacidade do Estado nesse contexto, “não significa que
não ocorram violações desses direitos, já que é improvável que exista um Estado no qual os
direitos humanos não sejam infringidos de algum modo” (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA,
2008, p. 186). Entretanto, a sociedade, nesse cenário, tem certa confiança de que o Estado
poderá dirimir os conflitos sem, necessariamente, recorrer à violação dos direitos humanos.
No segundo cenário, conforme Vigevani, Lima e Oliveira (2008), o Estado perde ou ne-
gligencia sua capacidade em dirimir e buscar soluções para os conflitos ou, simplesmente,
não quer solucioná-los, o que constitui uma ausência de resposta às demandas de direitos
humanos da sociedade ou de parte dela. Assim, “indivíduos e grupos começam a ver uns
nos outros uma ameaça à sua existência e aos seus interesses; nesse contexto, a eliminação
dessa ameaça passa a ter caráter prioritário” (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 188).
Essa ausência de resposta do Estado se constituiria em um retorno de indivíduos ou
grupos sociais às formas primitivas de vida, ou seja, o “fazer justiça com as próprias mãos”.
Nesse contexto, quanto mais a sociedade recorre à violência para atingir seus propósitos
políticos, maior é o desgaste da figura do Estado e sua falência na capacidade de solucionar
conflitos (VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008). Desse modo, ainda segundo os autores, há
um rompimento dos valores e normas essenciais sobre os quais se fundamentam o regime
internacional de direitos humanos que vem se consolidando desde 1948, com a Declaração
Universal do Direitos Humanos (ONU, 1998), e complementado pela Declaração de Viena e
o Programa de Ação de 1993 (ONU, 1993).
Diante da “falência” do Estado, surgem atores não estatais transnacionais que intervêm
nesses conflitos para a busca de soluções e garantias dos direitos humanos. Vigevani, Lima
e Oliveira (2008) citam como exemplos dessa intervenção internacional os episódios ocorri-
dos na última década do século XX e na primeira década do século XXI, na Iugoslávia, no
Afeganistão, no Iraque, em Ruanda, Sudão e Israel-Palestina, nos quais ocorreram ações
internacionais de caráter humanitário como forma de garantir o bem-estar da população.
Essas intervenções, no entanto, não estiveram isentas de interesses políticos e econômicos
por parte das nações que as realizaram.
Geografia da População 89
6 Raças, etnias e povos do mundo
90 Geografia da População
Raças, etnias e povos do mundo 6
Desse modo, evidencia-se a importância do debate e estabelecimento de políticas que
visem à consolidação da cidadania do estrangeiro e ao combate a preconceitos e todas as
formas de discriminação. Nesse processo, destaca-se a importância das reflexões sobre os
motivos que geram o preconceito e da busca de sua superação.
Geografia da População 91
6 Raças, etnias e povos do mundo
Etnicidade
(VIGEVANI; LIMA; OLIVEIRA, 2008, p. 189-191)
[...]
92 Geografia da População
Raças, etnias e povos do mundo 6
[...] aqueles grupos humanos que desfrutam de uma crença sub-
jetiva de descendência comum por causa de similaridades físicas,
culturais ou ambas, ou por causa de memórias da colonização e
migração. Essa crença deve ser importante para a propagação da
formação do grupo; não importa se efetivamente há ou não um
relacionamento de sangue (tradução dos autores).
Geografia da População 93
6 Raças, etnias e povos do mundo
Atividades
1. De acordo com os conceitos de raça, há uma certa polêmica que envolve o assun-
to e diferentes interpretações sobre essa conceitualização. No entanto, existe amplo
consenso entre geneticistas e antropólogos de que, sob o ponto de vista biológico,
raças humanas não existem. Entreviste pelo menos três pessoas para saber o que
elas definem como raça e se aplicam esse conceito aos seres humanos (por questões
de ética na pesquisa, garanta o sigilo dos entrevistados; para isso, use somente as
terminologias entrevistado a; entrevistado b; entrevistado c).
De posse das informações e tendo como base as reflexões sobre o conceito de raça,
registre por escrito as conclusões a que chegou.
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Raças, etnias e povos do mundo 6
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Geografia da População 95
6 Raças, etnias e povos do mundo
Resolução
1. Nessa questão, espera-se que você detecte nas entrevistas a relação que muitos fa-
zem do conceito de raça com diversos povos, como, por exemplo, “raça de gente tal”.
No entanto, relacionando as falas dos entrevistados aos conceitos trabalhados no
texto, você concluirá que, socialmente, não faz sentido falar em raças para se referir
ao contexto social dos grupos humanos.
2. Nessa atividade, você deve encontrar e relatar informações relacionadas aos grupos
minoritários, por exemplo, alguns grupos indígenas brasileiros que encontram difi-
culdades em manter suas terras, seus direitos e seus aspectos culturais.
3. Nessa questão você deve encontrar notícias sobre diferentes grupos étnicos que so-
frem perseguições relacionadas à xenofobia ou sobre as dificuldades que imigrantes
encontram para se estabelecer, sobretudo, nos países europeus. Espera-se que você
detecte as ações do Estado ou de instituições internacionais na busca de soluções
para os conflitos ou a garantia dos direitos humanos.
96 Geografia da População
7
População e meio ambiente
Introdução
Geografia da População 97
7 População e meio ambiente
1 De acordo com Kuhn (2011, p. 13), um paradigma pode ser definido, de modo simplificado, como “as
realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e
soluções modulares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”.
98 Geografia da População
População e meio ambiente 7
evidenciar sua premissa, o autor destaca que as sociedades indígenas tradicionais são evoca-
das como modelos de uma relação harmônica entre ser humano e natureza, já que os indíge-
nas retiram dela apenas o que é necessário para o seu sustento. Essa forma de se relacionar
com o meio ambiente não provoca modificações significativas como os impactos gerados
pelas sociedades industriais.
Nessa perspectiva, explicita-se claramente os paradigmas de interação entre ser huma-
no e natureza. Desse modo, na concepção indígena tradicional, o ser humano está para a
natureza, que é vista como uma “progenitora”, aquela que provê os meios de subsistência
humana, e, como tal, é respeitada ou reverenciada. Por outro lado, nas sociedades indus-
triais, o conceito de natureza é visto a partir da concepção de que a natureza está para o
homem. Assim, ela “é um objeto a ser dominado por um sujeito, o homem, muito embora
saibamos que nem todos os homens são proprietários da natureza (GONÇALVES, 2006, p.
26). Gonçalves destaca que a maioria dos seres humanos é considerada também como obje-
tos (no sentido de força de trabalho para a exploração) que podem ser descartados.
Essa separação entre ser humano e natureza, ainda de acordo com o autor, é uma carac-
terística marcante do pensamento do chamado mundo ocidental, cujas origens vêm da Grécia
e Roma clássicas. Tal distinção, segundo Gonçalves (2006, p. 23), “constitui um dos pilares
[por meio] do qual os homens erguem as suas relações sociais, sua produção material e espi-
ritual, enfim, a sua cultura”. Essa perspectiva de dominação da natureza como se o homem
dela não fizesse parte cristalizou-se a partir da Revolução Industrial, evidenciando uma
concepção que desconsidera a dimensão social do meio.
Esse paradigma se manifestou de forma significativa na elaboração das bases científicas
e do advento das ciências, sendo que as ciências da natureza tiveram sua gênese separadas
das ciências do homem. Analisando essa separação em nossos dias, Dulley (2004) destaca
que não se pode dissociar o natural do social, pois, além da degradação do meio ambiente,
outros temas, como a exploração intensa da força de trabalho com precárias remunerações,
as desigualdades sociais, o trabalho infantil e o tratamento cruel aos animais, são considera-
dos parte da interação com a natureza.
Deve-se admitir, portanto, que o conceito de natureza é uma construção social, ou seja,
pensada pelo ser humano, que é capaz de acumular os conhecimentos e refletir sobre eles.
Dulley (2004) ilustra essa concepção por meio do seguinte esquema (Figura 1):
Natureza Ambiente
Geografia da População 99
7 População e meio ambiente
2 Em relação ao conceito de qualidade de vida, Pereira, Teixeira e Santos (2012) esclarecem que ele pode
ser definido a partir de quatro abordagens gerais: econômica; psicológica; biomédica; e geral ou ho-
lística. “A abordagem socioeconômica tem os indicadores sociais, como instrução, renda e moradia,
como principal elemento [...]. A abordagem psicológica busca indicadores que tratam das reações sub-
jetivas de um indivíduo às suas vivências, dependendo assim, primeiramente, da experiência direta
da pessoa cuja qualidade de vida está sendo avaliada e indica como os povos percebem suas próprias
vidas, felicidade, satisfação [...]. As abordagens médicas tratam, principalmente, da questão de ofere-
cer melhorias nas condições de vida dos enfermos e condições de saúde [...]. As abordagens gerais ou
holísticas baseiam-se na premissa segundo a qual o conceito de qualidade de vida é multidimensional,
apresenta uma organização complexa e dinâmica dos seus componentes, difere de pessoa para pessoa
de acordo com seu ambiente/contexto e mesmo entre duas pessoas inseridas em um contexto similar
[...]” (PEREIRA, TEIXEIRA; SANTOS, 2012, p. 242-243).
sociedades, nem sempre seus habitantes encontram as condições básicas para alcançar uma
boa qualidade de vida.
Assim, conforme afirma Martine (2007, p. 186), a “fecundidade urbana é sempre mais
baixa do que a rural. Além disso, os migrantes nas cidades acabam tendo menos filhos do
que teriam se tivessem permanecido nas áreas rurais”. Esse fator pode ser considerado na
análise da relação entre crescimento populacional e demanda de recursos naturais, porém,
é imprescindível levar em conta também os padrões de desenvolvimento, como a produção
e o consumo insustentáveis, que influenciam o aumento da pobreza e a ameaça à qualidade
de vida.
Desse modo, as cidades apresentam impactos ambientais significativos, porque, con-
forme Martine (2007, p. 186), “concentram tanto a população quanto a atividade econômica
e a riqueza, mas tais efeitos estão associados a um determinado padrão de civilização e
poderiam ser abrandados”. Nesse sentido, na relação entre população, urbanização e meio
ambiente, faz-se necessário considerar a influência dos interesses capitalistas e dos modelos
de desenvolvimento econômico.
[...]
Atividades
1. Crie um glossário com suas próprias palavras sobre os conceitos principais
abordados no capítulo: natureza, sociedade, meio ambiente, cultura e plane-
jamento ambiental.
Referências
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ECOLÓGICA, 10., 2013, Vitória, ES. Anais... Vitória, 2013. Disponível em: <http://www.ecoeco.org.br/
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DULLEY, Richard Domingues. Noção de natureza, ambiente, meio ambiente, recursos ambientais e
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FOLADORI, Guillermo; TAKS, Javier. Um olhar antropológico sobre a questão ambiental. MANA,
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tureza, meio ambiente e educação ambiental por professores de duas escolas públicas. Ciência
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d=S1516-73132011000200005&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em: 23 jan. 2017.
Resolução
1. Em seu glossário, você pode conceituar: a natureza incluindo, além da dimensão na-
tural, o ser humano que dela faz parte; o meio ambiente numa perspectiva de conjunto
dos aspectos físicos e humanos; a cultura como o conjunto de práticas, conhecimen-
tos, costumes e formas de interação com a natureza; a sociedade como um conjunto de
seres que mantêm entre si diversas relações sociais; e o planejamento ambiental como
estratégia para projetos integradores de aspectos físicos e humanos.
2. Para a elaboração do texto, você deve identificar a forma como a sociedade indíge-
na em questão se relaciona com a natureza. Nesse sentido, pode-se destacar uma
relação mais harmônica, em que os indivíduos retiram da natureza apenas o que é
preciso para manter a própria subsistência.
Introdução
Homem Mulher
Numa pirâmide etária, o total de mulheres que vivem no espaço geográfico represen-
tado é indicado numa coluna à direta, e o número de homens, numa coluna à esquerda. A
Tendo como referência as características dessa pirâmide etária, observa-se que ela apre-
senta a base larga, o meio afunilado e topo estreito, uma representação típica da situação
de países “pobres”. Assim, a base larga indica altas taxas de natalidade, o meio indica que
as taxas de mortalidade são também altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa
(CERQUEIRA; GIVISIEZ, 2004).
A pirâmide etária da Figura 3, por sua vez, representa a estrutura da população da
França em 2017.
Homem Mulher
Desse modo, tendo como referência os países europeus, o processo de modernização das
sociedades e o desenvolvimento econômico estariam na origem das taxas de natalidade e
mortalidade, causando mudanças no ritmo de crescimento da população (VASCONCELOS;
GOMES, 2012). Assim, segundo as mesmas autoras, essa transformação constitui-se na pas-
sagem de uma sociedade rural e tradicional, com elevadas taxas de natalidade e mortalida-
de, para uma sociedade urbana e industrial, com baixas taxas de natalidade e mortalidade.
No decorrer dessa transição, primeiro as populações passariam por desequilíbrios de-
mográficos caracterizados por um descompasso entre as taxas de natalidade e mortalidade.
A redução precoce das taxas de mortalidade, acompanhada pela redução das taxas de nata-
lidade, promoveria ritmos acelerados de crescimento populacional. O alcance do equilíbrio
populacional viria com a redução, em momento posterior, das taxas de natalidade e, con-
sequentemente, do ritmo de crescimento da população (VASCONCELOS; GOMES, 2012).
Uma fase de crescimento acelerado da população mundial ocorreu do fim do século XIX
até a metade do século XX, pois descobertas de novos recursos na área médica e o desenvolvi-
mento da indústria farmacêutica influenciaram as taxas de natalidade e mortalidade em vários
países, inclusive no Brasil. A expectativa de vida também aumentou de forma considerável.
Na atualidade, os índices de natalidade vêm caindo em todo o mundo. Nos países eu-
ropeus, para evitar a diminuição da população e a contratação de mão de obra estrangeira,
são realizadas campanhas para as famílias terem mais filhos. As taxas de natalidade nos
países subdesenvolvidos também têm diminuído, embora de forma mais lenta. Os fatores
que provocam essa queda são a diminuição da mortalidade e a urbanização (CERQUEIRA;
GIVISIEZ, 2004). E provavelmente essas taxas continuarão caindo nas próximas décadas.
A análise da pirâmide etária da década de 1960 revela que o grupo etário de 5 a 9 anos
declinou consideravelmente nas pirâmides de 2010 e 2020. Observando essa pirâmide, nota-
-se que a proporção de idosos não chegava a 5% e que a população jovem era predominante.
Já na pirâmide de 2000, verifica-se uma diminuição do número de crianças e um aumento
da população adulta e idosa. De acordo com as estimativas, a pirâmide de 2020 apresenta
um número maior de idosos, caracterizando o envelhecimento da população. Esse fato tem
ocorrido no mundo todo, principalmente em países desenvolvidos e em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil.
Considerando as três pirâmides etárias apresentadas, constata-se, conforme Carvalho e
Rodríguez-Wong (2008), que o formato extremamente piramidal da década de 1960 começa
a ter sua base diminuída, anunciando um processo de envelhecimento e uma distribuição
praticamente retangular da população brasileira no futuro. As autoras destacam que, por se
tratar de projeções, os pesquisadores mais céticos podem tratá-las como exercício de “futu-
rologia”. No entanto, é fato comprovado que a transição das taxas de mortalidade e fecun-
didade, que estimulam as mudanças demográficas, já avançaram significativamente, sendo
improvável a reversão dessa tendência.
Além disso, há evidências históricas representadas por países da Europa Ocidental,
como Itália, Portugal e Espanha, que já vivenciaram esse processo de transição demográfi-
ca, com o envelhecimento da população e um crescimento vegetativo ou natural próximo
a zero ou negativo. Nesse contexto, segundo Carvalho e Rodríguez-Wong (2008), há a
necessidade de se definir e implantar políticas que possam aproveitar as oportunidades
e os desafios impostos por esse processo, como investimentos na educação de crianças e
jovens e melhorias nas áreas de saúde e previdência social, para garantir a qualidade de
vida, sobretudo dos idosos.
Desse modo, a temática da transição demográfica precisa mobilizar não apenas os estu-
diosos sobre o assunto, mas também profissionais de diversas áreas relacionadas à educa-
ção, à saúde, ao trabalho e à qualidade de vida e todos os cidadãos que consideram impor-
tante o bem-estar coletivo e das futuras gerações.
[...]
3. Busque informações sobre a história do município onde você vive, com a finalidade
de analisar os movimentos populacionais que nele ocorreram ou que ainda ocorrem.
Para isso, tenha como roteiro as seguintes questões:
Com base nas informações encontradas, elabore um texto com as conclusões a que
chegou.
Referências
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BAENINGER, Rosana. Migrações internas no Brasil: tendências para o século XXI. Revista Necat, ano
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Resolução
1. Espera-se que você explique que a pirâmide da Finlândia apresenta o meio pouco
afunilado e o topo mais largo, evidenciando baixas taxas de natalidade e de morta-
lidade e uma expectativa de vida elevada. Em relação à pirâmide do Níger, a base
larga indica elevadas taxas de natalidade, o meio indica que as taxas de mortalidade
são também altas e o topo indica que a expectativa de vida é baixa.
2. Espera-se que você aponte fatores como as melhorias nas condições médico-sanitá-
rias que permitiram a queda nas taxas de mortalidade. Isso se deve principalmente
ao acesso da população a vacinas, saneamento básico e diagnósticos de doença e tra-
tamentos adequados. Esses fatores permitiram, também, a elevação da expectativa
de vida e a diminuição das taxas de fecundidade.
9 788538 763062