Julgados Relevantes para A Fazenda Pública Municipal 2021/2022

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Prof.

ª Isabella Vieira do Nascimento


Curso Trevo – Aula de 08/08/2022

JULGADOS RELEVANTES PARA A


FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL
2021/2022
JULGADOS RELEVANTES PARA A FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL 2021/2022

 REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL EM DISSOLUÇÃO IRREGULAR:


LEGITIMIDADE DO ADMINISTRADOR/GERENTE1 (TEMAS REPETITIVOS 962 e 981)

Dissolução irregular = UMA DAS HIPÓTESES DE INFRAÇÃO DE LEI=>infração aos dispositivos


legais que regulam a dissolução, liquidação e extinção das sociedades= Dissolução irregular,
comprovada ou presumida (Súm. 435 STJ)

3. É obrigação dos gestores das empresas manter atualizados os


respectivos cadastros, incluindo os atos relativos à mudança de
endereço dos estabelecimentos e, especialmente, referentes à
dissolução da sociedade. A regularidade desses registros é exigida para
que se demonstre que a sociedade dissolveu-se de forma regular, em
obediência aos ritos e formalidades previstas nos arts. 1.033 a 1.038 e
arts. 1.102 a 1.112, todos do Código Civil de 2002 – onde é prevista a
liquidação da sociedade com o pagamento dos credores em sua ordem
de preferência – ou na forma da Lei 11.101/2005, no caso de falência. A
desobediência a tais ritos caracteriza infração à lei. (STJ, REsp
1.371.128/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA
SEÇÃO, DJe de 17/09/2014).2

- ORIGEM da controvérsia:
Dúvida: Qual o MOMENTO em que se avalia quem era o gerente para se aplicar o art.
135, III do CTN? 3 possibilidades:
1. No momento do inadimplemento (óbice: Súm. 430 STJ3)
2. No momento da dissolução irregular (2ª Turma do STJ)
3. Inadimplemento + dissolução irregular (1ª Turma do STJ)

- Portaria PGFN 180/2010, NR Portaria PGFN 713/2011 (art. 2º, §ú, II)4: regra: gerente na época

1
2
Repetitivo em que restou pacificada a possibilidade de redirecionamento da execução fiscal também para
dívidas não tributárias.
3
Temas relacionados: 1. Tema Repetitivo 97 e Súmula 430/STJ (mero inadimplemento).

4
"Art. 2º A inclusão do responsável solidário na Certidão de Dívida Ativa da União somente ocorrerá após a
declaração fundamentada da autoridade competente da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) ou da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) acerca da ocorrência de ao menos uma das quatro
situações a seguir: I - excesso de poderes; II - infração à lei; III - infração ao contrato social ou estatuto; IV -
dissolução irregular da pessoa jurídica. Parágrafo único. Na hipótese de dissolução irregular da pessoa
jurídica, deverão ser considerados responsáveis solidários: (Redação dada pelo(a) Portaria PGFN nº 713, de
14 de outubro de 2011) I - os sócios-gerentes e os terceiros não sócios com poderes de gerência à época da
dissolução irregular; (Incluído(a) pelo(a) Portaria PGFN nº 713, de 14 de outubro de 2011) II - os sócios-
gerentes e os terceiros não sócios com poderes de gerência à época da dissolução irregular, bem como os à
da dissolução irregular/ exceção: gerenteapenas na época do fato gerador, quando comprovada
fraude na retirada da sociedade antes da dissolução irregular (laranjas).

- TESES FIRMADAS:
“O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa
jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o
terceiro não sócio, com poderes de administração na data em que configurada ou presumida a
dissolução irregular,ainda que não tenha exercido poderes de gerência quando ocorrido o fato
gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135, III, do CTN.” (TEMA 981)

“O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa


jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser autorizado contra o sócio ou
o terceiro não sócio que, embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador,
sem incorrer em prática de atos com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou
aos estatutos, DELA REGULARMENTE SE RETIROU E NÃO DEU CAUSA À SUA POSTERIOR
DISSOLUÇÃO IRREGULAR, conforme art. 135, III do CTN.” (TEMA 962)

RESSALVAS:
1. fraude, simulação e ilícitos análogos
2. mesmo não sendo gerente na data da dissolução irregular, praticou outro ato ilícito do
135 durante sua gestão.
3. mesmo não sendo gerente na data da dissolução irregular, deu causa à dissolução
irregular

ÔNUS DA PROVA: DA FAZENDA PÚBLICA


- CERNE DO PRECEDENTE:
A responsabilidade pelo débito tributário deve recair sobre aquele que pratica o fato ensejador
da responsabilidade, ou seja, “não tendo o ex-sócio concorrido para a dissolução irregular da
pessoa jurídica executada, não pode ele ser responsabilizado por esse fato"

. REGRA-MATRIZ DE RESPONSABILIDADE x REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA (STF, RE


562.276/PR)
. FATO GERADOR PRÓPRIO da regra do art. 135, III do CTN: a prática de ato “com excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos”

época do fato gerador, quando comprovado que a saída destes da pessoa jurídica é fraudulenta.
(Incluído(a) pelo(a) Portaria PGFN nº 713, de 14 de outubro de 2011)"
. Livro “Responsabilidade e Substituição Tributárias”, Leandro Paulsen
 ITBI

CESSÃO DE DIREITOS AQUISITIVOS - Tema de repercussão geral nº 1124


Tese:
“O fato gerador do imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ITBI) somente
ocorre com a efetiva transferência da propriedade imobiliária, que se dá mediante o registro”.5

- PENDENTES SEGUNDOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – AINDA NÃO TRANSITOU EM


JULGADO, MAS ACÓRDÃO PUBLICADO JÁ EFICAZ (SEM DECISÃO DE SUSPENSÃO NOS
AUTOS).

- Foi julgada como REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA pelo Plenário Virtual. Ocorre que
a jurisprudência reafirmada é relativa a não incidência de ITBI sobre promessa de compra
e venda SEM REGISTRO NO CARTÓRIO DE IMÓVEIS, não sobre cessão de promessa.

A Constituição Federal prevê três hipóteses de incidência do ITBI sobre: 1) transmissão


inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso de bens imóveis; 2) transmissão inter vivos, a
qualquer título, por ato oneroso de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia; 3) cessão
de direitosà aquisiçãode bens imóveis e de direitos reais sobre imóveis: essa hipótese
deCESSÃO DE DIREITOS OBRIGACIONAIS é fato gerador expressamente previsto no art. 156, II da
CF e, diferentemente da transmissão de direito REAL, prescinde do registro para se aperfeiçoar
(art. 1227 do Código Civil/2002).

DOUTRINA:
“O ITBI incide, finalmente, sobre cessões de direitos à aquisição de bens
imóveis por natureza e acessão física e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia. A cessão de direitos pessoais à aquisição dos
bens imóveis está abrangida pela norma constitucional, pelo que o

5
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA.
IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS - ITBI. FATO GERADOR. COBRANÇA
DO TRIBUTO SOBRE CESSÃO DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. EXIGÊNCIA DA
TRANSFERÊNCIA EFETIVA DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA MEDIANTE REGISTRO EM
CARTÓRIO. PRECEDENTES. MULTIPLICIDADE DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS.
ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL DOTADA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO
CONHECIDO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO.
(ARE 1294969 RG, Relator(a): MINISTRO PRESIDENTE, Tribunal Pleno, julgado em
11/02/2021, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-031 DIVULG
18-02-2021 PUBLIC 19-02-2021)
tributo incidirá sobre a cessão da promessa de venda e compra e
sobre a cessão da promessa de cessão, embora não incida sobre as
promessas.” (Ricardo Lobo Torres. Tratado de Direito Constitucional
Financeiro e Tributário. Vol. IV, Renovar, 2007. Página 353)

 BASE DE CÁLCULO DO ITBI- Tema repetitivo 1.113

“valor VENAL” – art. 38 CTN


TRÊS teses relativas ao cálculo do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI)
nas operações de compra e venda (REsp 1937821/SP):

1) A base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em condições normais de mercado,


não estando vinculada à base de cálculo do IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso
de tributação;

2) O valor da transação declarado pelo contribuinte goza da presunção de que é condizente


com o valor de mercado, que somente pode ser afastada pelo fisco mediante a regular
instauração de processo administrativo próprio (artigo 148 do Código Tributário Nacional –
CTN);

Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em


consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos
jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará
aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé
as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos
expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado,
ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória,
administrativa ou judicial.

3) O município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do ITBI com respaldo em valor de
referência por ele estabelecido de forma unilateral.

VALOR VENAL DO IPTU (genérico, objetivo e invariável)


X
VALOR VENAL DO ITBI (individual, variável conforme condições da venda/mercado)
 IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE (IRRF) – Repercussão Geral (Tema 1130)

ATENÇÃO PGM-POA6
Tese
Pertence ao Município, aos Estados e ao Distrito Federal a titularidade das receitas arrecadadas
a título de imposto de renda retido na fonte incidente sobre valores pagos por eles, suas
autarquias e fundações*a pessoas físicas ou jurídicas contratadas para a prestação de bens ou
serviços, conforme disposto nos arts. 158, I, e 157, I, da Constituição Federal.

Art. 158. Pertencem aos Municípios:


I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e
proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos
pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações
que instituírem e mantiverem;

No RE 1.293.453, o Supremo, interpretando o art. 157, I e art. 158, I da CF/88, decidiu pela
interpretação mais ampla da expressão "rendimentos pagos a qualquer título" e fixou que os
entes locais e regionais têm direito ao IR por eles retido na fonte sobre pagamentos a quaisquer
fornecedores e prestadores de serviços, não apenas o IR incidente sobre rendimentos de seus
trabalhadores e sobre títulos da dívida pública (tese restritiva, que era defendida pela União,
Solução COSIT 166/2015 e IN 1.599).

*As empresas públicas e sociedades de economia mista, como pessoas jurídicas de direito
privado que são, embora retenham o IR incidente sobre seus pagamentos, devem repassá-lo
normalmente à União (RE 1032235 AGR / PE).

 HONORÁRIOS POR EQUIDADE EM EXECUÇÃO FISCAL EXTINTA POR CANCELAMENTO DA


CDA

AgInt no AREsp 1.967.127-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por unanimidade,
julgado em 07/06/2022.
DESTAQUE:

6
*IRDR – TRF 4ª Região - Município de Sapiranga (RS) – Min. Carmen Lucia deu abrangência nacional aos
efeitos suspensivos da afetação (o Município pedia que não fosse obrigado a repassar à União o IRRF sobre
pagamentos a terceiros pelo fornecimento de bens e serviços).
A obrigatoriedade de deferimento de honorários advocatícios nos casos de extinção de execução
fiscal – nos termos da Súmula 153 do STJ – em razão do cancelamento da inscrição da dívida
ativa não pode ensejar ônus excessivo do Estado, sob pena de esvaziar, por completo, o
disposto no art. 26 da Lei de Execução Fiscal.
- É um julgado de Turma que, no entanto, eu considero relevante para provas discursivas e orais
e que foi selecionado pelo STJna última Edição Especial de Informativos de Direito Público – nº 5.
- APESAR do Tema repetitivo 1073 (art. 85 §8º do CPC x §3º)Possível “distinguishing” ?
Art. 26 da LEF7 (abrandado pela Súmula 153 do STJ): norma especial
O CASO: houve Embargos à Execução Fiscal e a sentença extinguiu o processo
incidental em razão de petição da Fazenda Pública informando cancelamento da CDA. A atuação
do advogado da parte contrária não influiu em nada para a decisão terminativa.
Irrazoabilidade(art. 8º do CPC)de fixação dos honorários tendo como base o valor da causa, pois
ausente evidente relação de causalidade entre a defesa contratada e o proveito econômico
obtido pela parte, já que a extinção da execução decorreu apenas do cancelamento do título
executivo.

Art. 26 da LEF: Se antes da decisão de primeira instância, a inscrição de


Dívida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a execução fiscal será
extinta, sem qualquer ônus para as partes.
SÚMULA N. 153. A desistência da execução fiscal, após o oferecimento
dos embargos, não exime o exeqüente dos encargos da sucumbência.

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"Se antes da decisão de primeira instância, a inscrição de Dívida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a
execução fiscal será extinta, sem qualquer ônus para as partes".

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