Dissertação - Ronaldo - Garcez
Dissertação - Ronaldo - Garcez
Dissertação - Ronaldo - Garcez
FEVEREIRO / 2020
2
RIO DE JANEIRO
2020
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada por:
____________________________________________________________
Prof. Dr. Fábio Garcez de Carvalho – UFRJ
____________________________________________________________
Prof. Dr. Rui Aniceto Nascimento Fernandes - UERJ
____________________________________________________________
Profª. Drª. Warley da Costa - UFRJ
4
5
AGRADECIMENTOS
(Paulo Freire)
8
RESUMO
A aplicação desta dissertação tem como pressuposto básico, capacitar os alunos a identificar
parte do processo científico de construção histórica e ainda contribuir com a estruturação da
percepção de sua própria historicidade e da historicidade da localidade em que habitam. Para
tanto, vamos usar a cidade de Duque de Caxias como objeto e contexto para ilustrar esta
proposta de ensino de História. Assim, vamos propor métodos de ensino de história como a
utilização de fontes históricas, o emprego da História Local, o uso de aulas-oficinas e do
lúdico em sala de aula. Desta forma, vamos propor que a aplicação desta proposta de ensino
seja destinada aos alunos do 9º ano do ensino fundamental da rede pública ou privada da
cidade estudada, pois faremos relações com temas da história geral que são abordados na série
citada. Utilizaremos também a abordagem micro para a concepção do local como categoria de
análise, pois a micro-história pode produzir efeitos de reconhecimento e sensibilização nos
discentes para questões que não são contempladas pela análise macro. Como as aulas-oficinas
precisam da participação ativa dos discentes, vamos propor também atividades ligadas ao
exercício da cidadania. Pois conhecendo parte do processo histórico que resultou na realidade
atual da cidade, acreditamos que será possível incentivar a atuação dos alunos como cidadãos
e assim serão mais conscientes e capazes de agir em prol de mudanças que levem à melhoria
da localidade.
ABSTRACT
The application of this dissertation has as a basic assumption, to enable students to identify
part of the scientific process of historical construction and also contribute to the structuring of
the perception of their own historicity and the historicity of the locality in which they live. To
this end, we will use the city of Duque de Caxias as an object and context to illustrate this
proposal for teaching History. Thus, we will propose methods of teaching history such as the
use of historical sources, the use of Local History, the use of workshops and play in the
classroom. Thus, we will propose that the application of this teaching proposal be aimed at
students in the 9th grade of elementary school in the public or private network of the city
studied, since we will make relations with themes of general history studied in the series
mentioned. We will also use the micro approach to the conception of the site as a category of
analysis, because the micro-history can produce effects of recognition and awareness in
students for issues that are not covered by macro analysis. As the workshops need the active
participation of students, we will also propose activities related to the exercise of citizenship.
Because knowing part of the historical process that resulted in the current reality of the city,
we believe that it will be possible to encourage the performance of students as citizens and
thus be more aware and able to act in favor of changes that lead to the improvement of the
locality.
Keywords: Teaching history. Local history. Didactic games. Historical sources. History
workshops. Duque de Caxias-RJ.
Rio de Janeiro
2020
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1 – Referencial teórico e metodológico.............................................................. 15
1.1. A História Local........................................................................................................... 15
1.2. O uso das fontes históricas em sala de aula.................................................................. 21
1.3. A elaboração das oficinas............................................................................................. 23
1.4. A dinâmica dos jogos.................................................................................................... 25
CAPÍTULO 2 – Oficina: migração, indústria e trabalho......................................................... 28
2.1 – Justificativa do tema................................................................................................... 28
2.2 – Motivação inicial e introdução................................................................................... 28
2.3 – Desenvolvimento das problemáticas.......................................................................... 29
2.4 – O uso das fontes em sala de aula...................................................... ......................... 33
2.5 – Conclusão e avaliação................................................................................................. 35
2.6 – Operações cognitivas.................................................................................................. 37
CAPÍTULO 3 – Oficina: arte, cultura e lazer.......................................................................... 39
3.1 – Justificativa do tema................................................................................................... 39
3.2 – Motivação inicial e introdução................................................................................... 39
3.3 – Desenvolvimento das problemáticas.......................................................................... 40
3.4 – O uso das fontes em sala de aula................................................................................ 46
3.5 – Conclusão e avaliação................................................................................................. 50
3.6 – Operações cognitivas.................................................................................................. 51
CAPÍTULO 4 – Oficina: movimentos sociais e resistência.................................................... 53
4.1 – Justificativa do tema................................................................................................... 53
4.2 – Motivação inicial e introdução................................................................................... 54
4.3 – Desenvolvimento das problemáticas.......................................................................... 55
4.4 – O uso das fontes em sala de aula................................................................................ 59
4.5 – Conclusão e avaliação................................................................................................. 63
4.6 – Operações cognitivas.................................................................................................. 64
CAPÍTULO 5 – O jogo didático: quiz sobre a História da cidade de Duque de Caxias......... 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 86
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 89
APÊNCIDES........................................................................................................................... 95
11
1. INTRODUÇÃO
1
Quiz é o nome de um jogo de perguntas e respostas no qual o objetivo é fazer uma avaliação dos
conhecimentos sobre determinado tema. Podem participar tanto grupo de pessoas, como participantes
individuais, que devem acertar a maior quantidade de respostas para ganhar.
15
CAPÍTULO 1
Referencial teórico e metodológico
Desta forma, as abordagens históricas sobre a localidade, deverão seguir a ideia de que o
contexto local, não promove por si só, a expressão do quadro nacional ou mundial. É
necessário, compreender as problemáticas da vivência social com o devido enquadramento,
para não correr o risco de causar mais confusão do que entendimento. Assim, a micro e a
macro-história, na maioria das vezes, serão complementares e o estudo do particular deve ir
além da mera descrição de um fato ou da ação de determinado personagem.
O ensino de história local será significativo se problematizarmos com abordagens
diferentes partindo de diferentes ângulos de análise. O uso da abordagem micro para a
concepção do local como categoria de análise, pode produzir efeitos de reconhecimento e
sensibilização nos discentes para questões que não são contempladas pela análise macro.
Assim sendo, a diferença principal entre o local e o global é o foco a partir de um ângulo
particular, não deixando de lado “o factor humano de uma história com pessoas, no quadro de
uma dinâmica abrangente do vivido (...) colhendo-se os benefícios da articulação do concreto
estudado com temáticas relevantes da história geral” (SANTOS, 2007. p. 137).
Os historiadores da micro-história, buscavam através da variação de escala contemplar e
entender fenômenos que passariam despercebidos em uma análise macro. É importante
salientar que não existe um antagonismo entre à micro e a macro história, uma vez que, a
variação de escala permite transitar entre o particular e o global relacionando as
peculiaridades aos contextos gerais. Pois “o que a experiência de um indivíduo, de um grupo,
de um espaço permite perceber é uma modulação particular da história global” (REVEL,
1998, p.28). Ou seja, a variante micro não é uma versão inferior ou amputada da história
macro, mas sim um ponto de vista diferente. Ao utilizar à micro-história, podemos perceber
também, que nem sempre o micro acompanha o macro, o que deixa mais perceptível a
complexidade dos processos históricos, portanto, o micro não é necessariamente reflexo do
macro e nem é totalmente autônomo.
A aproximação entre história local e micro-história nos possibilita recriar processos
gerais a partir de uma determinada localidade específica, atentando sempre que, não se
17
pretende abdicar de escalas mais amplas, mas sim, proporcionar novos sentidos à
investigação. Acreditamos ser pertinente usar a variação de escala micro para tratar da história
de Duque de Caxias com os alunos, pois nosso foco é a ação de pessoas comuns, o que
Vainfas (2000) denominou de “protagonistas anônimos da história”. Desta forma, a micro-
história se torna assaz relevante em uma proposta que visa tratar da “história de indivíduos,
comunidades, pequenos enredos construídos a partir de tramas aparentemente banais,
envolvendo gente comum” (idem, 2002. p. 106).
Aqui, a História Local será tratada como “uma abordagem historiográfica que foi se
constituindo em torno da ideia de construir um espaço de observação sobre o qual se torna
possível perceber determinadas articulações e homogeneidades sociais (e a recorrência de
determinadas contradições sociais, obviamente)” (BARROS, 2009. p. 9). Já a micro-história
não tem a necessidade de estabelecer relações com estudos em áreas reduzidas, o que também
não está impedida de fazer. Portanto, não há contratempo em interagir a História Local e a
micro-história, pois o que defendemos aqui é que o debate teórico-metodológico sobre a
micro-história pode contribuir para o adensamento da História Local como ferramenta de
intervenção metodológica. Desta forma, “o micro-historiador nunca está particularmente
preocupado em estudar a região, tal como ocorre com o historiador que se dedica à “História
Local”, mas sim que ele estuda na região. Estudar “a” região, e estudar “na” região, são
evidentemente coisas distintas” (BARROS, 2009. p. 10). Enquanto a História local estuda “a”
cidade de Duque de Caxias, a micro-história estuda “através” da cidade de Duque de Caxias,
ou seja, para a primeira, o que importa é a unidade de observação, já para a segunda, o
considerável é a escala de observação.
O debate sobre História Local se enriquece não apenas a partir do diálogo no âmbito da
própria historiografia, mas também junto a outras áreas das ciências humanas, sendo
Um conceito bem pertinente para a reflexão teórica sobre ensino de História Local
vem da geografia. Segundo a autora citada, o geógrafo Milton Santos contribuiu
positivamente para definição de “lugar”, portanto, qualquer localidade tem suas
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particularidades e assim deve ser entendida, por meio dos vários elementos que o constitui e
das relações das suas funcionalidades. (TOLEDO, 2010. p. 750).
A pesquisadora dialoga também com o conceito de “região” e problematiza o conceito
destacando que não se restringe a uma fronteira administrativa estabelecida por um governo
no qual um grupo de pessoas habitam um mesmo território. Mas sim, a consciência formada
pelos entrelaçamentos de relações sociais que resultam na percepção de pertencimento a um
universo coletivo. Pela proposta desta dissertação, acreditamos ser pertinente usarmos o
“local” entendido como um município definido administrativamente pela política, pois
mesmo com fronteiras artificiais, entendemos que seja possível iluminar este espaço e não
perder de vista o conceito de região trabalho por Toledo. Assim, o foco estará na estruturação
de processos interpretativos relativos às diversas formas de constituições sociais do
município, concentrando-se nos “modos de viver, coletivos e individuais, dos sujeitos e
grupos sociais situados em espaços que são coletivamente construídos e representados, na
contemporaneidade, pelo poder político e econômico, sob a forma estrutural de “bairros” e
“cidades.” (TOLEDO, 2010. p. 751).
A aplicação desta dissertação a um município específico não inviabiliza a adaptação
do mesmo a outra localidade, pois o que mais nos interessa é a particularidade do foco de
análise, que no caso de Duque de Caxias, será flexível entre os bairros, ou seja, dependendo
da temática/problemática faremos menção à cidade como um todo, ou a um bairro especifico,
pois “o local é uma categoria flexível que pode se referenciar a um bairro, uma cidade, uma
comunidade, uma comarca, etc, categoria na qual o importante – ao menos para nós – é a
consciência de sua artificialidade2” (SERNA & PONS, 2003. p. 38). Assim, o recorte espacial
utilizado serão as fronteiras municipais e divisões atuais de bairros e distritos estabelecidas
politicamente. Sem perder a consciência da artificialidade dessas definições territoriais,
analisaremos algumas redes de articulações sociais da cidade partindo de uma visão particular
e de um eixo temático problematizador.
De certa forma, toda história é local, uma vez que a atividade do pesquisador se realiza
a partir de um determinado ambiente. Mas, o “lugar” na História Local não se refere apenas a
este aspecto, aqui, o “local” é o primeiro plano da análise historiográfica, pois
2
Tradução de autoria própria: “lo local es una categoría flexible que puede hacer referencia a um barrio, una
ciudad, una comunidad, una comarca, etcétera, categoría en la que lo importante —al menos para nosotros— es
la conciencia de su artificialidad.”
19
De acordo com Barros (2009), não há “local” que esteja estabelecido e dado de
antemão ao historiador. Toda localidade é uma construção social, ou seja, o historiador
constitui de acordo com seu objeto o espaço a ser analisado. Mas, o local estabelecido pelo
historiador pode condizer com uma localidade já definida administrativamente pelo poder
político. Podemos pensar o “local” não só como ponto de partida, mas também como ponto de
chegada. No caso desta dissertação, a História Local será usada como uma abordagem
teórico-metodológica e terá como ponto de chegada os alunos do município de Duque de
Caxias, o que implica considerar o uso das fronteiras municipais e divisões políticas atuais,
sem perder de vista a historicidade da divisão político-administrativa.
Embora haja uma valorização recente sobre a utilização da História Local no ensino de
história, concordamos com as considerações de Schmidt que ressalta que
Isto quer dizer que a história de uma localidade se explica também pelas relações com
outras localidades e por processos históricos mais amplos, isto é, pela conjuntura e pela
estrutura. Devemos estar atentos a esta observação para não fomentarmos concepções
reducionistas, anacrônicas e etnocêntricas na construção dos saberes históricos em sala de
aula.
Acreditamos que a História Local possa ser usada como uma estratégia de ensino que
contribui para que o discente reconheça a sua existência como agente social, o que pode
contribuir para melhorar sua capacidade de analisar acontecimentos do dia a dia, agregando
assim novas leituras de mundo que direcionem sua ação prática, ou seja, a História Local pode
ser capaz de formar ou aguçar a consciência histórica do aluno.
O conceito de consciência histórica, trabalhado filosoficamente pelo pensador alemão
Jörn Rüsen, (2001), é entendido como algo que transcende o senso comum através da relação
proativa entre experiência do tempo e intenção no tempo que opera no desenvolvimento da
vida do ser humano. A consciência histórica está fundada na ideia de que o ser humano só
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pode viver e se relacionar com o mundo e consigo mesmo se estes não forem tomados como
dados puros.
De acordo com Rüsen (2012), a didática da história, que atua de forma relativamente
independente diante da ciência histórica, exerce sobre a vida prática do ser humano a função
de controle do direcionamento do conhecimento histórico. Assim, a consciência histórica se
define pela “aprendizagem histórica no nível fundamental e básico do trabalho de memória
necessário para a vida prática” (RÜSEN, 2012. p. 71), cumprindo na narrativa a função
imprescindível de constituição e de desenvolvimento da consciência histórica. No entanto, tal
consciência não se manifestará de forma gratuita, pois “a consciência histórica é o local em
que o passado é levado a falar e este só vem a falar quando questionado; e a questão que o faz
falar origina-se da carência de orientação na vida prática atual, diante das suas experiências no
tempo” (SCHMIDT, 2008, p.85).
A narrativa histórica, segundo Rüsen (2001), é configurada como uma representação da
continuidade. De acordo com o autor, para que seja possível formar a consciência histórica
não basta apenas ter consciência do que passou, é preciso ir ao passado a partir de uma
demanda do presente e projetar um futuro. Portanto, a narrativa histórica reconstrói o passado
sempre articulado com o presente que ressurge como a continuação do passado no futuro.
Essa relação de continuidade entre presente, passado e futuro, forjada pela narrativa histórica
constituem a consciência histórica que, por sua vez, orienta a ação humana. Entendemos que a
História Local tem o potencial adequado para ajudar a formar a consciência histórica dos
discentes, pois “a relação passado, presente, futuro pode ser percebida no estudo da história
local ensinada a partir da dimensão conceitual onde é possível discutir aspectos como: relação
macro/micro histórias; relação entre o geral e o particular, o coletivo e o individual, o eu e os
outros” (CAINELLI & SANTOS, 2014. p. 173).
Desta forma, entendemos que a História Local ao ser trabalhada na sala de aula,
contribui fortemente para uma proposta em que o aluno exerça um papel ativo na construção
do conhecimento histórico, se afastando das memorizações, do acúmulo de fatos ordenados
linearmente, e se aproximando do estudo da experiência humana no tempo. Assim,
percebendo e analisando as mudanças e permanências na história das pessoas comuns da
localidade estudada, pretendemos atingir o objetivo de ajudar a formar uma consciência
histórica nos discentes da cidade de Duque de Caxias.
21
Como já foi posto, um dos objetivos da dissertação gira em torno da contribuição para
construção da consciência histórica do aluno. Para tanto, vamos buscar este objetivo
principalmente através do recurso teórico-metodológico de ensino de História Local, desta
forma, devemos ficar atentos, porque nosso objetivo não é passar informações prontas e
acabadas sobre a localidade onde os alunos vivem e estudam, e sim fomentar habilidades
discentes de reconhecimento da historicidade da própria realidade social. Assim, acreditamos
que seja de extrema importância trabalhar a história de Duque de Caxias e incluir leituras de
fontes históricas da localidade nas oficinas propostas, pois estas, além de outras coisas,
ajudam a despertar o caráter investigativo do aluno. Portanto, não podemos deixar de
selecionar algumas fontes históricas da localidade para trabalhar com os alunos, uma vez que
a análise crítica da fonte à luz da variação de escala de observação com vistas a potencializar
o uso qualitativo da história local, pode contribuir para um exercício pedagógico
enriquecedor, pois
micro, entendemos que se abre um espaço de experiência para a percepção dos alunos a
respeito das relações entre o particular e o geral.
Este tipo de tratamento didático e metodológico com fontes locais em sala de aula
permite o desenvolvimento crítico do aluno através das problematizações que serão abordadas
pelo professor, ou seja, é o docente que vai guiar o processo de leitura da fonte, orientando
algumas possibilidades de leitura de uma fonte histórica. É certo que “utilizar documentos
históricos na sala de aula requer do professor conhecer e distinguir algumas abordagens e
tratamentos dados às fontes por estudiosos da História.” (BRASIL, 1998. p. 83). Seguindo a
orientação de Schmidt & Cainelli (2004), vamos primeiramente identificar o tipo de fonte
junto com os alunos na sala de aula. Segundo as autoras, devemos esclarecer se as fontes são
primárias ou secundárias, em seguida identificar o seu tipo, que no nosso caso serão cinco.
O primeiro tipo identificado é a fonte oral, isto é, trechos de entrevistas gravadas e
transcritas com os moradores mais antigos da localidade. O segundo e o terceiro tipo serão as
fontes documentais e cartográficas, no caso da primeira oficina, utilizaremos uma planta de
loteamento e um recibo de compra de lote, na última oficina os documentos utilizados serão
fragmentos de textos de jornalísticos. O quinto e último tipo de fonte utilizada serão as
iconográficas, ou seja, fotografias que retratam o cotidiano de pessoas comuns e outros
aspectos da cidade. No que diz respeito à abordagem e ao tratamento das fontes,
trabalharemos sua natureza ou a origem, algumas problematizações e o que extrair de
informações das fontes.
As fontes históricas aparecem, na maioria das vezes, nos manuais didáticos como
ilustração e não como suporte para uma análise crítica. É importante para o ensino de história
fomentar reflexões sobre a relação presente-passado e buscar situações didáticas em que o
discente tenha contato com procedimentos interrogativos a determinadas fontes produzidas
pelos seres humanos de qualquer época. Desta forma, devemos demonstrar que o produtor da
fonte primária está fortemente influenciado pelo contexto do seu tempo, por sua posição na
sociedade e por seus valores. Portanto cabe ao historiador perceber essa influência, e assim,
extrair a intenção do narrador no momento da produção de tal fonte.
Como os objetivos desta dissertação buscam superar as meras “transmissões” de
conhecimentos prontos e acabados, temos que mostrar que “tratar a história não significa
abordar o passado como dado, mas sim, como discurso interpretativo logicamente
constituído” (KNAUSS, 2005. p. 289). Portanto as aulas-oficinas ajudarão a contextualizar os
temas e preparar os discentes para que eles possam perceber com a devida intervenção do
professor, as interpretações em torno da história da própria cidade. Em outras palavras,
23
De acordo com Barca (2004), a oficina favorece a elaboração de aulas organizadas por
temas e por um conjunto de objetivos a serem alcançados com debates e leitura de fontes
históricas em sala de aula. Inclui-se neste processo o conhecimento prévio do discente sobre o
tema. Assim, estamos propondo um ensino temático da história da cidade de Duque de
Caxias, no qual não abandonaremos o conhecimento tácito dos alunos e nem as leituras de
fontes históricas em sala de aula. Para tanto, é primordial a elaboração de problemáticas em
torno do tema estudado e das fontes analisadas. Serão três oficinas, uma a cada bimestre, já o
quiz, será aplicado no quarto bimestre, tendo como base o que foi estudado nas três oficinas,
fechando assim a proposta de ensino.
A partir dos apontamentos de que não é possível ensinar “toda a história da
humanidade”, surge à opção de ensino de história com base nos eixos temáticos. O tema
gerador ou eixo temático, não deve balizar o conteúdo, mas sim, ajustar e estabelecer outros
temas abrangentes ligados às problemáticas do presente. Assim, ao objetivar a percepção de
historicidade nos discentes, torna-se importante utilizar temáticas que abordem o cotidiano
vivido pelos sujeitos comuns da localidade (BITTENCOURT, 2008, p. 126-127).
24
De acordo com Andrade, “nas últimas décadas educadores e teóricos da educação têm
dedicado grande atenção às potencialidades dos jogos, brinquedos educativos e atividades
lúdicas para auxiliar e tornar possíveis as condições de aprendizado de crianças em idade
escolar”(ANDRADE, 2007. p. 91). A autora em diálogo com pedagogos e historiadores
desenvolve a relação entre o lúdico e o educativo e chega à conclusão que o jogo e “suas
qualidades o tornam um recurso eficaz para o educador criar e organizar as condições para a
aprendizagem ou maximizar a construção de saberes e noções anteriormente trabalhados”
(ANDRADE, 2007. p. 93).
Para o quiz, o professor criará problemáticas que serão pensadas e respondidas pelos
alunos. Algumas questões terão múltiplas escolhas e outras não, de uma forma ou de outra, as
oficinas de história local formarão a base das perguntas, ou seja, é partir dos temas estudados
nas aulas-oficina que o professor formará as questões para o jogo. Assim, por exemplo,
iremos enriquecer o jogo com fotografias do mesmo lugar em tempos distintos, isto é, um
26
antes e depois, e partir das fotos, buscaremos atingir alguns objetivos cognitivos propostos
pela dissertação, como por exemplo, a identificação de permanências e rupturas na localidade
estudada. Pois,
do lúdico na sala de aula, pode aproximar os alunos ao gosto pela disciplina e, a partir disso, o
professor deve articular com o jogo, as operações cognitivas que estão intimamente ligadas ao
ensino de história.
Desta forma, o quiz proposto, será aplicado para maximizar os saberes sobre a cidade
que os discentes habitam e, além disso, o lúdico tem capacidade de potencializar a interação
entre os alunos, aguçar o respeito às regras e coordenar pontos de vista. Só não podemos
esquecer que a utilização do jogo compreende uma, entre outras linguagens capazes de
motivar os alunos a se interessarem mais pela disciplina estudada. Assim, não será o lúdico
em si que irá resolver sozinho ou de forma totalizante o desafio de atrair os discentes, mas
pode ser de extrema utilidade se for utilizada de forma adequada. Os jogos podem e devem se
alinhar aos objetivos intrínsecos da disciplina de história, como por exemplo, a atenção às
permanências e rupturas que acontecem ao redor da localidade, a relativização das diferenças
no tempo e no espaço, a identificação de diferentes formas de compreender um fato, entre
outras.
28
CAPÍTULO 2
Com base nas informações acima, deve ficar claro para os discentes a importância
desses fatores para a localidade, pois as maiores possibilidades de trabalho estavam no
processo de industrialização local e na estrutura de locomoção até a capital, pois o principal
foco de oportunidades ainda era o centro da cidade do Rio de Janeiro. Na parte avaliativa,
faremos um diálogo com o tempo presente do aluno e de suas famílias. Pois como morador da
cidade de Duque de Caxias, percebo que na atualidade ainda temos muitas pessoas que
trabalham na capital do Estado. Pois a luta de hoje aproxima-se com a luta de ontem, e
confere significados ao estudo proposto. É a partir da luta pela sobrevivência dos moradores
da cidade, com todas as adversidades e complexidades, que analisaremos parte da história
cotidiana de Duque de Caxias. Portanto foi neste contexto
Dentro deste processo migratório para a cidade de Duque de Caxias, devemos destacar
a migração nordestina, pois a maior parte desses migrantes veio do nordeste brasileiro. Este
fato nos leva a segunda problemática a ser abordada na oficina. Por que os nordestinos
constituem uma grande parte desses migrantes? Temos muitos alunos na cidade que são
descendentes de nordestinos, isto torna a problemática importante, pois o ponto de partida é a
história cotidiana de pessoas comuns, ou seja, é a história deles. No caso específico da
migração nordestina podemos destacar alguns “fatores que contribuíram para esse processo
migratório: a seca que há séculos castiga o agreste e o sertão nordestino; a busca por
oportunidades de trabalho e por ascensão social; entre outros.” (SILVA, 2016, p. 16). O alto
31
custo de vida da capital do estado do Rio de Janeiro, a proximidade de Duque de Caxias com
a capital, somado aos fatores já apresentados da grande migração para a cidade explica em
partes a questão nordestina.
Os migrantes nordestinos vieram tentar uma vida melhor na localidade, e neste
contexto, a tradicional feira de Duque de Caxias se tornou um importante local de
oportunidades de trabalho e de contato com a cultura nordestina. A feira funciona atualmente
aos domingos no centro da cidade e é conhecida até fora da cidade, desta forma, acreditados
ser importante abordar a relação dos nordestinos com a feira. Na feira, podemos encontrar
comidas típicas, atrações culturais, como a apresentação musical de trios de forró e literatura
de cordel. Assim, a feira serve como um local de encontro de culturas, de ressignificação
cultural e um importante local de trabalho para os migrantes do nordeste.
Após abordar a questão da migração, falaremos da imigração. Agora, partiremos do
local para fazer análises relacionadas ao contexto mundial, assim, abordaremos a seguinte
problemática: Por que vários imigrantes foram para o bairro Jardim Primavera? Acreditamos
que a problemática é importante porque abre a possibilidade de variar escalas entre local e
global, pois amplia o olhar dos alunos para além de sua comunidade de origem por
problematizar o local em sua complexidade. Dentro do contexto de povoamento da cidade
Duque de Caxias a partir de sua emancipação em 1943, o bairro citado tem uma
especificidade, pois concentrou vários grupos de origens internacionais. De acordo com
Manhãs (2004, p.92), o bairro tinha um projeto de urbanização com ruas demarcadas com
meios-fios, arborização e rede pluvial. Este fato atraiu uma população com mais recursos,
assim,
com a história geral, neste caso, a Segunda Guerra Mundial, pois muitos imigrantes vieram
para fugir das mazelas da guerra. Assim,
em 1955 (RODRIGUES, 2013, p. 46-48). Em linhas gerais a história cotidiana dos habitantes
de Xerém está diretamente relacionada com a questão da instalação da fábrica, e esta, tem
relação com contexto regional, nacional e mundial.
Esta etapa da oficina visa trabalhar com fontes históricas da localidade em sala de
aula. A problemática inicial é a origem fundiária do bairro Taquara (3º distrito de Duque de
Caxias), ou seja, o local de nascimento de Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias,
patrono do exército brasileiro que dá nome à cidade. Nosso objetivo não é analisar a história
de personagens famosos, e sim, a história cotidiana de pessoas comuns. Desta forma, a grande
migração impulsionou vários loteamentos e a formação de novos bairros na cidade, entre eles
o bairro Taquara. A primeira problemática visa encontrar a data aproximada de origem da
formação do bairro através da análise de fontes históricas.
Primeiramente, vamos identificar o tipo de fonte junto com os alunos na sala de aula.
Vamos esclarecer se as fontes são primárias ou secundárias e em seguida identificar o seu
tipo, que neste caso serão três, uma documental, outra cartográfica e a última oral. No que diz
respeito à abordagem e ao tratamento das fontes, trabalharemos a natureza ou a origem das
fontes e algumas problematizações.
Como dito, utilizaremos apenas três fontes históricas, pois “mesmo que se use o
documento com função de ilustração ou de criar atmosfera adequada, nunca se deve utilizar
um grande número de documentos na mesma aula.” (PROENÇA Apud SCHMIDT, 2004. p.
106). As fontes que utilizaremos na sala de aula serão uma cópia do recibo de compra de lote
do bairro datada de novembro de 1950, uma cópia da planta do 1º loteamento do bairro que
está sem data e também um trecho da entrevista feita com um morador antigo do bairro, o Sr.
Altivo Cozendey.
Incluímos também dois objetivos específicos com a leitura dessas fontes, o primeiro, é
mostrar que na construção do conhecimento histórico, o pesquisador deve buscar o
cruzamento de fontes para aumentar a objetividade da resposta que se procura. Neste caso a
resposta é a origem fundiária do bairro, ou seja, em que ano ou período que o bairro se
constituiu com lotes divididos, ruas projetadas, isto é, com aspecto urbano. Desta maneira, os
34
O segundo objetivo específico é o de gerar atitudes investigativas nos alunos, pois eles
irão perceber como o pesquisador extrai as informações dos documentos, que neste caso,
servirá de fonte de respostas para hipóteses ou problemas, assim “o documento é um veículo,
um instrumento que não revela nada por ele mesmo, mas serve para responder questões do
aluno e do professor.” (SCHMIDT & CAINELLI, 2004. p. 105). Assim, na leitura das fontes,
a problemática será encontrar uma datação aproximada para a origem fundiária do bairro
Taquara, e para isto, vamos cruzar as fontes e extrair tal informação dos documentos.
Observando a parte ampliada do documento, os alunos deverão perceber que o recibo de
compra de lote (o mais antigo que se pôde encontrar) do bairro data de 1950 e isoladamente
ele não pode servir como fonte segura para chegar à conclusão que o loteamento começou no
início da década de 1950, pois é possível que haja recibos mais antigos.
Assim, nós vamos apresentar a transcrição do áudio3 da entrevista concedida pelo Sr.
Altivo Cozendey (antigo morador do bairro) onde ele afirma que o loteamento do bairro
começou em 1952. Eis a transcrição da fala do entrevistado: “Ahh veja bem, mais ou menos
3
O áudio encontra-se no arquivo pessoal de Ronaldo Elói da Silva Sant’Ana.
35
eu posso dizer. Eu vim em 1950, é em 1950, não tinha esse loteamento, em 52 eu acredito que
sim, que foi depois que eu tava aqui, que eu me lembro”. Neste momento, vamos extrair a
datação aproximada da planta de loteamento, pois a mudança ortográfica que substituiu o
“ph” por “f” data de 1943 e como o recibo data de 1950 e a fonte oral afirma ser em 1952,
vamos propor aos alunos que a constituição da localidade em bairro data entre o período de
1944 e 1952, ou seja, em fins da década de 1940 e início de 1950.
Observe que a palavra “telefone” já não era mais escrita com “ph”, logo conclui-se que a
planta é posterior a data da reforma ortográfica de 1943.
Deve ficar claro para os alunos que a formação da cidade de Duque de Caxias tem
grande peso na ação de pessoas comuns que migraram para a cidade. Muitas pessoas que já
estavam na localidade e as pessoas que migraram para o local se esforçaram e lutaram no
decorrer das décadas para conquistar uma vida digna na cidade. Assim, a história dessas
pessoas é parte importante da história da cidade de Duque de Caxias e os alunos devem
compreender que essa história continua e que eles estão inseridos nela.
A luta por melhores condições de vida continua até hoje na cidade de Duque de Caxias,
e a questão do trabalho continua sendo um tema importante na localidade. De acordo com
dados do IBGE4, a proporção de pessoas ocupadas em 2017 com relação à população total era
4
Dados publicados no site oficial do IBGE, disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/duque-de-
caxias/panorama Acesso em 30 de julho de 2019.
36
de 18.9%. Neste quesito, entre as noventa e duas cidades do Estado do Rio de Janeiro, Duque
de Caxias aparece em 42º lugar, ou seja, a questão do trabalho é tema atual na localidade, pois
o desemprego ainda é grande na cidade.
Em uma aula-oficina, mesmo que a avaliação seja, como neste caso, uma constante,
priorizando o conhecimento tácito e a participação ativa dos discentes, é primordial haver
algum material produzido pelo aluno. Nesta primeira oficina, vamos propor para os alunos,
uma pesquisa sobre os familiares que residem na cidade. Eles deverão entrevistar seus pais,
avós e se for o caso até tios e bisavós, serão cinco entrevistas no máximo para cada aluno. As
perguntas serão as seguintes:
também são fontes históricas, ou seja, eles terão que entender que, os relatos de pessoas
comuns são importantes fontes de informação sobre a localidade e que operadas de forma
adequada pelos historiadores servem de base científica.
Identificar a importância do
estudo da história da localidade
em que vivem.
Motivação inicial e introdução
Analisar a importância do
estudo do tema proposto para
compreensão de parte da história
da localidade.
Relacionar a história da
localidade com a história
nacional e/ou geral.
Relacionar a forte migração da
cidade com a posição geográfica
Desenvolvimento das problemáticas em relação à capital e com o
crescente processo de
industrialização regional.
Analisar a importância do
processo de industrialização da
localidade.
CAPÍTULO 3
Como foi visto na oficina anterior, Duque de Caxias é uma cidade cuja formação foi
marcada pela luta incessante de pessoas comuns que batalharam bravamente por melhores
condições de vida. Além disso, o fluxo populacional local nos permitiu dialogar com as
questões relacionadas ao desenvolvimento econômico brasileiro e os deslocamentos
populacionais de ordem macro. Toda cidade tem histórias que passam pelo povoamento e seu
desenvolvimento através da ocupação dos espaços pelo homem no tempo. Portanto, umas das
várias formas de contar estas histórias estão presentes na análise da cultura dos habitantes
locais. Assim, a cultura nesta oficina será entendida
Para chamar a atenção dos alunos para o tema da oficina, vamos exibir dois vídeos5. O
primeiro com apenas três minutos e quarenta e seis segundos, traz um roteiro com algumas
opções de arte, cultura e diversão da cidade de Duque de Caxias. Entre as opções apresentadas
no vídeo temos: a Praça do pacificador com o Teatro Raul Cortês e a Biblioteca Municipal
Leonel Brizola, O museu Histórico de Duque de Caxias, o Parque Municipal da Taquara, o
Museu Ciência e Vida, a Feira de Artesanato da Praça Roberto Silveira, entre outros. O vídeo
é uma espécie de propaganda de algumas opções de arte, cultura e lazer, desta forma, se torna
importante, pois pode gerar interesse por alguma opção desconhecida ou não visitada, ou até
mesmo, o reconhecimento de algo já explorado pelos discentes.
O segundo vídeo – dura dois minutos e quarenta e dois segundos, pois a ideia é apenas
despertar a motivação inicial para a aula – contém uma reportagem sobre a importância do
lazer em nossas vidas, com o foco na música e na dança. Assim, a partir desses dois vídeos,
acreditamos que os discentes possam identificar de forma preliminar a importância da arte da
cultura e do lazer em nossas vidas e na localidade estudada.
A seguir, ouviremos os alunos, ou seja, as percepções deles sobre os vídeos. Eles
deverão expor se conhecem ou já visitaram alguma opção apresentada nos vídeos e qual são
as formas de lazer e de contato com a arte que eles possuem na localidade. Vamos pedir
também comentários sobre o texto base da oficina que será disponibilizado aos alunos com
antecedência. (Ver APÊNDICE 5, p. 116-122). Sempre buscando o conhecimento tácito dos
discentes e as relações entre o presente e passado, além de permanências e rupturas e um olhar
investigativo sobre as práticas culturais de pessoas comuns da cidade de Duque de Caxias.
5
Duque de Caxias arte, cultura e diversão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X60bDzYjbuw e
Lazer faz bem para a saúde física e mental - Jornal da Vida. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=K-XajHoHc7c Acesso em 05/08/2019. Acesso em 25 de Julho de 2019.
41
p. 12). A partir daí, por exemplo, analisaremos o Teatro Folclórico Fluminense, que fora
fundado por Trindade e funcionava no centro de Duque de Caxias. Ali, o elenco era formado
por afro-descendentes, atores profissionais e pessoas comuns. Além do teatro,
3.3.2 – A capoeira
A segunda problemática a ser trabalhada nesta oficina versa sobre uma cultura afro-
brasileira que mistura arte-marcial, esporte, cultura popular e música, isto é, a capoeira. A
presença da capoeira na cidade de Duque de Caxias, assim como em outras regiões do Brasil,
é bem marcante. Mas aqui, vamos desenvolver a seguinte questão: O que fez a repressão à
prática da capoeira ser tão latente em Duque de Caxias?
Na década de 1960, cidade de Duque de Caxias acolheu dois importantes mestres de
capoeira, o Mestre Gegê e o Mestre Barbosa, até então são os mais antigos praticantes de
capoeira da cidade, ou pelo menos em que se tem registro. Em 1967, Mestre Barbosa iniciou
na cidade, mais precisamente na Praça da Vila São Luiz, a primeira roda de capoeira de rua de
Duque de Caxias. Já o Mestre Gegê, instalou-se definitivamente em Duque de Caxias em
1966 e ministrava aulas de capoeira fora do horário de expediente na fábrica onde trabalhava.
Além de Gegê e Barbosa, temos ainda de grande importância para a cidade de Duque de
Caxias o Mestre Raimundo Filho, Mestre Levi, Mestre Monge, Mestre Russo e outros.
(MARQUES & FILHO, 2011. p. 79).
43
O fato é que mesmo sendo reconhecida como uma “luta brasileira” pela Lei Federal
3.199 de 1941 e como uma prática desportiva pela Deliberação 071 do Conselho Nacional de
Desportos em 1972, os praticantes desta arte sofriam com perseguições resultantes de um
antigo estigma de que a prática da capoeira era coisa de desocupados e/ou marginais. Neste
momento, não podemos deixar de trabalhar na aula-oficina a questão dos males do
preconceito.
Vamos buscar a resposta para a problemática na implantação da ditadura civil-militar de
1964, pois com relação à cidade Duque de Caxias a “Lei 5.449, de 4 de junho de 1968 a
transformaria em Área de Segurança Nacional, tendo em vista a presença em seu território de
uma rodovia interestadual e uma refinaria de petróleo consideradas estratégicas” (ALVES,
2003. p. 104). Este fato, explica a maior repressão à capoeira na localidade, pois Duque de
Caxias passa a ser uma das áreas de segurança nacional, logo, a prática da capoeira que já era
vista como coisa de “marginal”, vai ser perseguida de modo mais sistemático que outras
localidades que não foram determinadas como estratégicas pela ditadura. Até mesmo em
regiões dentro da própria cidade é possível perceber essa diferença, porque muitos mestres
que sofreram com detenções e prisões, acabaram afastando a prática cultural para regiões
mais distantes do centro da cidade, ou seja, a repressão era maior nas regiões do centro da
cidade. Portanto, dentro da perspectiva da micro-história, variar a escala de observação
possibilita explorar redes de relação locais, o que abre perspectivas férteis para o diálogo com
o campo investigativo da história local e a mesma “tem essa dimensão, de comparar, observar
e verificar que o tempo não é único e cada lugar tem uma especificidade e tem uma história,
construída por aqueles que em um dado momento e num determinado espaço ali estiveram”
(CAINELLI & SANTOS, 2014. p. 166). Então, dentro do possível, os praticantes
conseguiram manter a capoeira viva na cidade e os alunos deverão entender a importância da
liberdade cultural e da luta contra o preconceito para que a capoeira continue como uma
opção cultural em Duque de Caxias.
lugar conhecido por quase todos os discentes (senão todos) e que tem uma relação íntima com
o tema da aula-oficina. Portanto, a próxima problemática buscará desenvolver a seguinte
questão: Qual é a relação entre a Praça do Pacificador, a arte, a cultura e o lazer da
localidade?
A Praça do Pacificador ganhou esse nome após uma reforma em 1953, no decorrer das
décadas de 60 e 70, a praça tornou-se local oficial dos desfiles do Dia do Soldado, dos desfiles
dos blocos de carnaval e de expansão da Feira da Comunidade da Igreja de Santo Antônio.
Desde a década de 1960, encontravam-se regularmente na praça, grupos de capoeira,
vendedores de ervas, os fotógrafos, o comedor de espadas, domadores de cobras, cuspidores
de fogo e outros. Além disso, a praça também era local de encontro de pessoas que iam ao
cinema e de aposentados que se juntavam para jogar cartas de baralho. Na década de 1980, a
praça passou por uma grande reforma, nela, foram colocadas uma estátua em homenagem a
Duque de Caxias (hoje, ela está exposta no começo da Avenida Brigadeiro Lima e Silva), um
chafariz e uma estátua em homenagem à primeira bica de água do local (instalada em 1916).
Hoje, temos no local, o Complexo Cultural Oscar Niemeyer. Mas antes da construção do
complexo, o local abrigava um camelódromo que inviabilizava qualquer manifestação
cultural. Em 2004, foi inaugurada a Biblioteca Governador Leonel de Moura Brizola, após
dois anos, foi inaugurado o Teatro Raul Cortez, com capacidade para 440 lugares, assim, o
Complexo Cultural Oscar Niemeyer é formado pelo teatro, pela biblioteca e pela Praça do
Pacificador. (ALMEIDA & MARQUES, 2011. p. 07-10).
Este momento da aula-oficina é importante porque é possível trabalhar com os
discentes de forma específica questões relacionadas às permanências e às mudanças, uma vez
que a observação desses elementos é de grande relevância para a formação do pensamento
histórico dos estudantes. Por isso estamos abordando
de ervas, do comedor de espadas e dos domadores de cobras, por exemplo. Os alunos irão
expor suas análises explicativas para tais mudanças e permanências da localidade estudada.
O Santo Padroeiro é lembrado em uma celebração que é realizada todos os anos desde
a emancipação da cidade de Duque de Caxias no ano de 1943. A problemática a ser analisada
gira em torno da importância do festejo para a população comum da cidade. A importância da
festa não se resume apenas na homenagem ao Santo Padroeiro da cidade de Duque de Caxias,
mas também, pela diversidade de crenças e culturas que se unem na localidade. Portanto,
aspectos que passam despercebidos na história geral podem ser iluminados em uma análise
micro. Como no caso do caráter plural da festa de Duque de Caxias, pois em uma análise
macro, pode-se entender que os festejos em homenagem aos santos são realizados somente
pela instituição religiosa e esta, por sua vez, se direciona apenas aos católicos. Mas como
vimos, a festa Santo Antônio de Duque de Caxias envolve o governo municipal, a iniciativa
privada e religiosos de várias crenças. Assim, a escala de observação reduzida “se direciona,
portanto, quer no estudo de comunidades, de situações-limite ou de personagens populares,
para aquilo que está na sombra da história. À sombra do panteão das histórias nacionais ou
oficiais. À sombra das mitologias, ideologias e religiões” (VAINFAS, 2002. p. 142).
Como já mencionamos, em uma proposta de ensino de História é importante
estabelecer relações temporais que buscam observar parâmetros de mudanças e/ou
permanências. No caso específico da festa de Santo Antônio em Duque de Caxias, pode-se
observar a permanência da festividade em homenagem ao santo casamenteiro, que remonta a
década de 1940. As mudanças são várias, podemos destacar, por exemplo, a pluralidade de
crenças, o caráter “junino” da festividade e o crescimento do contingente populacional que
participa do festejo. Urge que os discentes percebam a relação da festa, da cultura e do lazer
com a história das pessoas comuns da cidade em que habitam, pois
Ao propor o trabalho com fontes históricas em sala de aula, o docente deve ampliar seu
repertório de fontes, portanto, o professor não pode mais “se restringir ao documento escrito,
mas introduzir o aluno na compreensão de documentos iconográficos, fontes orais,
47
testemunhos da história local (...)” (SCHMIDT & CAINELLI, 2004. p. 95) e é exatamente
isso que faremos nesta etapa da aula-oficina.
Uma das fontes utilizadas será uma foto que registra um casamento. Já que a aula-
oficina trata de lazer e cultura, faremos o gancho do tema para a leitura da fonte, pois diante
das contradições de uma cidade que cresce economicamente e mantém a maioria de seus
habitantes em condições de pobreza, a população mais simples buscava desfrutar de seus
raros momentos de lazer basicamente em festas comunitárias, religiosas e familiares.
Portanto, usaremos o registro iconográfico de um casamento para trabalhar alguns objetivos
cognitivos propostos pela dissertação, como por exemplo, a identificação de alguns tipos de
fontes históricas e da importância do cruzamento de fontes para garantir o grau de
objetividade da pesquisa histórica.
Desta forma, os alunos deverão identificar os tipos de fontes que iremos analisar e
perceber como o pesquisador pode extrair informações que não estão claras apenas na
visualização da fonte. Da mesma maneira que foi feito com as fontes escritas e cartográfica,
iremos cruzar a fonte iconográfica com relato oral de uma moradora antiga da cidade de
Duque de Caxias. Além disso, vamos buscar com estas fontes relações com acontecimentos
mais amplos para que os alunos percebam que estão inseridos em contextos mais extensos do
que os limites territoriais da cidade os fazem perceber.
De acordo com Mauad (2015), as fotografias devem ter lugar privilegiado no ensino de
história, uma vez que, integram diversas representações sociais, auxiliam no ensino
direcionado e na representação da realidade, ou seja, assumem diferentes formas de instrução.
As fotografias, portanto,
reforçar um texto ou uma informação qualquer que a ele se refere diretamente, mas sim, no
sentido de ajudar o aluno a pensar historicamente. Assim, entendemos que
Buscaremos operar com as fontes em sala de aula considerando que a construção das
fontes históricas não são ações isoladas, mas que resultam de impulsos que podem estar
relacionados a contextos mais amplos.
A fotografia apresenta numa primeira impressão um simples registro de um casamento,
que por sinal não está datado, não há indicação do lugar onde foi tirada, ou seja, não se sabe
nada além do que se pode ver. A partir daí, iremos criar algumas problemáticas como: Qual é
o local da foto? Qual é a data da foto? O que impulsionou a construção desta fonte? É
possível fazer alguma relação entre o contexto mundial com o local? Antes de buscar
respostas, iremos destacar que a fonte é um indício, uma testemunha do passado, no qual só
fala quando é perguntado, o que significa que a fonte pode dizer muito mais do diz em um
olhar imediato. Portanto, as fotos “precisam ser datadas e reproduzir cenas e personagens que
possam ser reconhecidos, para que se transformem em fonte histórica confiável e tragam
informações que possam ser articuladas a outras fontes” (BITTENCOURT, 2004. p. 368).
Agora, podemos contextualizar a produção da fonte, situando-a no tempo e no espaço,
assim, chegaremos ao impulso de sua construção. Neste momento, o professor deverá explicar
a origem do acesso à fonte, assim, os discentes saberão que a foto foi doada por uma
moradora muito antiga da cidade que concedeu uma entrevista no qual ela relata o contexto da
foto. Assim, os alunos irão perceber que
Ao doar a foto e conceder uma entrevista, a Srª Margarida Marques construirá uma
narrativa, a partir disso, a fonte ganha um maior significado, pois “a narrativa histórica é
49
6
O áudio encontra-se no arquivo pessoal de Ronaldo Elói da Silva Sant’Ana.
50
CAPÍTULO 4
7
Aqui, entendo movimentos sociais como ações sociopolíticas dinâmicas promovidas por atores sociais
coletivos que, a partir de seu cotidiano, se agregam formando grupos que se organizam em busca de objetivos
comuns. Assim, o que define o conteúdo e a forma das ações coletivas são os elementos que os caracterizam
como grupo social e suas demandas, sejam elas materiais ou simbólicas. (GOHN, 2011. p. 335 - 337).
54
essa trajetória é necessariamente de luta constante. Neste contexto, analisaremos outros dois
movimentos sociais de resistência, o movimento operário e o movimento camponês, nestes
casos, a escala particular de observação serão a luta camponesa no bairro de Xerém e a
movimento grevista dos funcionários da FIAT em 1979.
Nesta etapa, vamos exibir dois vídeos8 com o objetivo de despertar a atenção dos
discentes para o tema da aula-oficina. O primeiro exibe oito relatos de como é ser negro no
Brasil. O racismo é um problema mundial e a luta contra esse preconceito é global, mas nesta
aula-oficina, partiremos do local para observar o desenvolvimento da resistência
afrodescendente. Os relatos presentes no vídeo trazem à tona várias situações lamentáveis
vividas cotidianamente por pessoas negras, por exemplo, a relação com o negro e o trabalho
de limpeza, a determinação de que o cabelo do afrodescendente é “ruim”, a “estranheza” na
relação amorosa entre afrodescendentes e loiros, a suspeição que coloca o afrodescendente
como um potencial ladrão, entre outros. Neste momento vamos solicitar testemunhos dos
alunos, pediremos relatos de situações parecidas com as citadas no vídeo, ou seja, situações
que eles conheçam, presenciaram ou sofreram na cidade de Duque de Caxias.
O segundo vídeo trata da greve dos professores da rede pública municipal de Duque de
Caxias durante o ano de 2016. O vídeo denuncia a precariedade de algumas escolas quanto à
estrutura física que prejudica a qualidade da educação. Além disso, a denúncia traz a falta de
recursos como bibliotecas, sala de informática, climatização, entre outros. A partir desses
problemas, a forma de atuação dos profissionais da educação foi à decretação de uma greve.
Aqui, mais uma vez, recorreremos ao testemunho dos alunos, não podemos esquecer que o
conhecimento tácito do discente não pode ser abandonado em uma aula-oficina. Eles se
pronunciarão sobre ter, ou não, vivido momentos de greve na sua vida escolar e se eles
acharam necessário que fosse este o caminho para buscar melhores condições de ensino nas
escolas da localidade.
Antes de iniciarmos as análises das problemáticas propostas, vamos ouvir,
comentários sobre o texto base da aula-oficina (Ver APÊNDICE 8, p. 133-137). O texto se
inicia contextualizando historicamente o movimento negro em caráter nacional, pois a cidade
8
8 relatos sobre como é ser negro no Brasil, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fl6tvDlTJbg e
A luta dos profissionais da Educação pública de Duque de Caxias, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=b_aWavgigQU Acesso em 6 de Setembro de 2019.
55
de Duque de Caxias contou com alguns núcleos de cunho nacional. O texto segue com os
casos específicos de luta operária dos metalúrgicos da empresa FIAT em Duque de Caxias e a
luta pela posse da terra no bairro de Xerém. Neste momento, vamos ouvir os comentários dos
alunos sobre o tema e o texto estudado.
É neste contexto que partiremos para as análises das problemáticas propostas na aula-
oficina. O movimento negro começou a se estruturar em Duque de Caxias a partir da década
de 1950 e mediante a exploração desta escala de observação, os discentes poderão identificar
relações com o contexto nacional – principalmente na ação da UHC, TEN e MNU – de luta
contra a exclusão e discriminação racial aos negros. Assim, os movimentos de resistência da
cidade tinham “um caráter assistencialista, formavam associações filantrópicas que
aglutinavam uma elite negra de advogados, militares, médicos, poetas, músicos, que tinham
como tarefa prestar atendimento à comunidade negra e carente” (PEREIRA, 2004. p. 73).
Em 1949, a União dos Homens de Cor, instalou um núcleo em Duque de Caxias, este
núcleo – com sede na capital federal – tinha o objetivo de prestar apoio jurídico aos negros e
de organizá-los politicamente. Já o Centro Cultural José do Patrocínio, fundado também em
1949 e com sede na cidade de Duque de Caxias, tinha vários departamentos que se
esforçavam para atender as demandas da comunidade negra carente da localidade, entre as
quais a alfabetização e a continuidade dos estudos como meio de ascensão social. Dentre
outras estratégias, os movimentos negros de Duque de Caxias em especial a União dos
Homens de Cor e o Centro Cultural José do Patrocínio buscavam espaço no cenário político.
Para isso, preparavam lideranças negras para atuar neste campo, pois assim, haveria mais
chances de incluir nos debates políticos locais algumas demandas dos negros (PEREIRA,
2006. p. 22).
Ainda de acordo com Pereira (2004), em 1983 se instala em Duque de Caxias o Grupo
Afro-Cultural Ojuobá-Axé, este núcleo buscava combater o racismo e salvaguardar o papel do
negro na composição da sociedade brasileira. Assim, com o objetivo de valorizar a cultura
afrodescendente o grupo manteve cursos de cabeleireiro afro, música, capoeira e informática.
O resultado foi a formação de bandas musicais, concursos de beleza negra, blocos de
carnavais entre outros eventos voltados para a conscientização da importância do papel do
negro na sociedade.
A busca por uma vida melhor, dentro do contexto de pobreza de Duque de Caxias,
passa também pelo acesso a terra, pois como vimos, a cidade foi formada com uma grande
quantidade de migrantes. Assim, buscaremos trabalhar com a seguinte problemática: Como o
movimento camponês atuou em Duque de Caxias? Mas essa luta não é um caso à parte na
cidade de Duque de Caxias, essa resistência faz parte do contexto nacional de reforma agrária.
Após a ditadura de Vargas na metade da década de 1940, tivemos no Brasil, vários
movimentos sociais promovidos por camponeses que evidenciam a resistência dessas pessoas
em relação à posse da terra. Com o apoio do Partido Comunista do Brasil, surgiram após a
57
Nesta etapa da aula-oficina, vamos trazer para análise, mais uma vez, fragmentos de
fontes históricas. Desta vez, as fontes serão textos da imprensa jornalística. Como foi indicado
no campo teórico, trabalharemos inicialmente a natureza das fontes, depois,
contextualizaremos sua produção, e na sequência, analisaremos o conteúdo do texto
apontando algumas problematizações. As questões que serão levantadas nas análises das
fontes incluem a abordagem dos vínculos políticos e ideológicos da publicação jornalística,
pois estes fatores influenciam na produção da fonte histórica. Portanto, “o importante no uso
de textos jornalísticos é considerar a notícia como um discurso que jamais é neutro ou
imparcial (...) para que se possa realizar uma crítica referente aos limites do texto e aos
interesses de poder implícitos nele” (BITTENCOURT, 2008. p. 337).
Desta forma, vamos trabalhar com fragmentos de uma edição-extra do Jornal da
Baixada de julho de 1979 e com partes do Jornal do Brasil de 28 de julho do mesmo ano. As
fontes históricas tratam da greve dos metalúrgicos da FIAT em Duque de Caxias. Neste
momento, vamos caracterizar as fontes, tratando de como a informações estão distribuídas nos
jornais. As capas, por exemplo, mostram questões importantes a serem exploradas pelos
discentes. O Jornal da Baixada, apresenta uma edição extra que trata exclusivamente da greve,
enfatizando na capa, obviamente, tal tema. Este jornal era local e tinha pouca circulação, ou
seja, não fazia parte da grande imprensa, por isso, trata-se de uma imprensa alternativa. O
Jornal da Baixada “se propôs a construir uma nova abordagem dos problemas da região, cuja
solução dependeria da mobilização política de sujeitos sociais que ficavam à margem das
decisões políticas, em mãos de grupos tradicionais que ocupavam o poder” (ANDRADE &
SENRA, 2017. p. 263). Portanto, mesmo tendo uma edição extra para a greve, o Jornal da
Baixada, caracterizava-se pelo apoio incondicional à luta política-ideológica da classe
operária da localidade. Analisando a capa da edição que trata da greve9 pode-se perceber
facilmente esse apoio aos metalúrgicos de Duque de Caxias.
9
Capa da edição-extra do Jornal da Baixada, julho de 1979. Apud. RIBEIRO. Adriana Maria. Greve fundiu a
Fiat: O movimento dos metalúrgicos de Duque de Caxias na perspectiva do Jornal da Baixada. Revista
Pilares da História. Ano 17. nº 16 maio/2018. ISSN. 1983-0963. p. 41.
60
Já a capa do Jornal do Brasil do dia 28 de julho de 197910, não faz nenhuma menção à
greve da FIAT. Pois, trata-se da grande imprensa, mesmo assim, após analisar o texto do
Jornal da Baixada, vamos refletir sobre como o Jornal do Brasil tratou do tema da greve da
FIAT em Duque de Caxias.
10
Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/030015/per030015_1979_00111.pdf Acesso em 19 de setembro de
2019.
61
Desta forma, vamos analisar alguns trechos da edição espacial do Jornal da Baixada
sobre a greve da FIAT. Sobre a assembleia dos funcionários da fábrica no dia 24 de julho de
1979 no Jornal da Baixada temos a seguinte transcrição: “Mesmo com a deliberação pelo
retorno das atividades, 200 operários do turno da noite se mantiveram parados, dando
continuidade à greve” (Jornal da Baixada, Edição-extra, julho de 1979, p. 2, apud RIBEIRO,
2018. p. 39). Podemos perceber que a ênfase do jornal está na quantidade de funcionários que
aderiram à greve, ficando obscura a quantidade de operários que não optaram pela greve.
Assim os discentes poderão perceber que a omissão também traz informações importantes a
serem analisadas. Ainda sobre a mesma convenção o Jornal destaca que:
Percebe-se nesta transcrição que, o Jornal da Baixada narra o inicio da greve como
uma ação espontânea dos funcionários, e diante de um conflito, destaca a inexistência de uma
briga, contrariando o que teria sido noticiado pela grande imprensa, além disso, passa uma
sensação de êxito ao descartar qualquer abalo na coesão dos trabalhadores. Nas páginas
seguintes, o Jornal da Baixada, desenrola os acontecimentos narrando de forma evolutiva os
62
Temos que deixar claro para os alunos que não estamos tentando apontar qualquer
descrédito na narrativa do jornal, mas sim, o posicionamento de solidariedade deste veículo de
informação ao movimento grevista em questão. Além disso, temos que observar a importância
do uso da imprensa escrita na sala de aula, pois este recurso estimula nos discentes um olhar
mais crítico sobre a imprensa atual, favorecendo uma visão mais analítica das notícias atuais.
Neste momento, vamos analisar uma publicação do Jornal do Brasil sobre o mesmo tema.
Como vimos, na capa do jornal de 28 de julho de 1979 não há menção à greve, mas na página
14 encontramos uma reportagem contendo três parágrafos, ocupando uma das menores partes
da página e com o seguinte título: “Negociação avança na Fiat-Diesel”. Já no título, pode-se
perceber que, não há a intenção de colocar os grevistas como protagonistas, pois a palavra
“negociação” já indica certa paridade entre as partes. O texto do Jornal do Brasil começa da
seguinte forma: “Houve pequenos recuos por parte dos empregados e melhora na contra-
proposta da Fiat-Diesel”, ou seja, a palavra “recuo” está direcionada aos grevistas e a palavra
“melhora” está relacionada a empresa. Na própria matéria, um trecho aponta que os jornais
alternativos acusam o Jornal do Brasil de defender os interesses da Fiat-Diesel, no mais, o que
resta do pequeno texto sobre a greve é o detalhamento do chamado “recuo” dos grevistas e a
melhora na proposta da empresa em termos percentuais.
Assim, os discentes devem perceber que o texto jornalístico é um meio de
comunicação influente que carrega interesses variados no meio político e na formação de
opinião. Portando, uma forma valiosa de analisar essa fonte histórica em sala de aula se dá
“com destaque às diferenças entre os jornais de uma mesma época: os de uma grande
imprensa jornalística e os produzidos por grupos sindicais, com triagens limitadas, por
exemplo.” (BITTENCOURT, 2008. p. 336).
63
Nesta última oficina, podemos concluir com os discentes que a história da cidade de
Duque de Caxias se constitui também pela variedade das estratégias de sobrevivência
construídas por sua população comum em um cotidiano complicado de luta permanente por
uma vida melhor. Assim, a história da vida nesta cidade revela ao longo de seu processo
histórico que a população comum é protagonista de sua história. Pois a atuação do movimento
negro, dos operários e dos camponeses, foram alguns exemplos de como os moradores da
localidade se organizaram para lutar por melhores condições de sobrevivência. Mas a
pobreza, o racismo e a exclusão social ainda estão presentes em Duque de Caxias, ou seja,
com o passar dos anos os moradores buscaram melhorias para localidade, mais ainda existem
muitos problemas locais, portanto, a luta continua.
A partir desta conclusão, vamos propor a avaliação desta aula-oficina, que neste caso,
está intrinsecamente ligada à questão da cidadania e se relaciona diretamente ao tema
proposto. Portanto, para pensar a função que a educação desempenha atualmente na sociedade
brasileira, temos que perceber qual é a demanda social e como ela se relaciona com as funções
sociais da educação. É certo que no Brasil, vive-se um momento de angústias onde a
esmagadora maioria da população é desprovida de condições decentes de sobrevivência. Em
uma observação micro da cidade de Duque de Caxias, é fato que se trata de um lugar onde a
maior parte da população está enquadrada numa escala onde a pobreza também é evidente.
Diante deste quadro, fica claro que uma proposta de ensino não pode ser voltada para o
conformismo e sim para uma visão transformadora. Assim, no que diz respeito a esta
avaliação, buscaremos pedagogicamente fomentar nos alunos uma ação cidadã, pois como diz
Paulo Freire “(...) ler e escrever não são suficientes para perfilar plenitude da cidadania, (...) é
necessário que a tornemos e a façamos como um ato político (FREIRE, 2001. p.30).
Desta maneira, vamos propor aos discentes que eles pesquisem problemas da
localidade que habitam, ou seja, os alunos relatarão em forma textual problemas como: falta
de saneamento, má iluminação, ausência de projetos culturais e áreas de lazer, por exemplo.
Além disso, eles deverão fazer um relatório das possíveis formas de se resolver tais problemas
e se possível, fotografar o embaraço, e neste caso, deverão contar com o apoio familiar.
Assim, buscaremos nesta avaliação promover uma ação que se volte fundamentalmente para a
questão da cidadania, pois “tal questão nos remete à necessidade de instituição de uma escola
que se preocupa com a formação - e nesse sentido abrange o projeto de situar o aluno no seu
64
contexto histórico, a fim de capacitá-lo para o agir e transformar, e não apenas para atuar e
reproduzir.” (GASPARELLO, 2007. p. 99)
Além disso, em uma proposta de ensino que também busca fomentar a consciência
histórica, se torna importante relacionar a ação cidadã com a história local, pois “a
consciência histórica é o trabalho intelectual realizado pelo homem para tornar suas intenções
de agir conforme com a experiência do tempo” (RÜSEN, 2001. p. 58). Desta forma,
acreditamos que esta avaliação pode se relacionar com o aprendizado da história de alguns
movimentos de resistência da cidade de Duque de Caxias, uma vez que
CAPÍTULO 5
Neste capítulo vamos desenvolver o jogo didático de perguntas e respostas. Este jogo
pode ser realizado na sala de aula ou em qualquer espaço do ambiente escolar que possa
dividir a turma em dois grupos. O material usado para a elaboração do jogo é bem simples,
pois trabalhamos com realidades difíceis, na maioria das vezes, nos deparamos com infra-
estruturas precárias. Portanto, na pior das hipóteses, bastam papéis dobrados com as perguntas
e os desafios para fazer o jogo acontecer.
A base das perguntas, obviamente, é a história da localidade estudada nas aulas-
oficinas. Como o desafio se dará na ocasião da dúvida sobre a resposta, criaremos perguntas
com níveis de dificuldades variados, pois assim, daremos dinâmica ao jogo. Teremos
perguntas discursivas e objetivas com base em fontes históricas. Além do objetivo de atrair o
interesse dos alunos para o estudo da história da localidade, o jogo também é avaliativo, pois
as perguntas estão em conformidade com os objetivos propostos pelas oficinas. Assim, o
professor poderá avaliar o resultado da proposta de ensino de forma bem clara.
Regras do Jogo:
• O professor deverá fazer uma lista com os nomes dos alunos de cada grupo para
organizar a participação de cada um.
• Caso o aluno não saiba a resposta ele passa a mesma pergunta para o oponente.
• Caso o oponente não saiba a resposta ele repassa a pergunta novamente ao colega.
• O aluno que tiver a pergunta direcionada a ele em uma rodada e acertar a resposta, o
mesmo dará lugar a outro aluno do mesmo grupo. E desta forma, o oponente terá
direito a responder outra pergunta, e se caso acertar, também dará lugar a outro do
mesmo grupo.
• Caso o aluno não acerte ou passe a pergunta, o oponente terá que responder a mesma
pergunta.
• Caso ninguém acerte a resposta, o professor deverá responder para que os alunos não
saiam da atividade com dúvidas.
• O jogo conta com 20 desafios, caso se esgote os 20, os sorteios recomeçam com os
mesmos desafios.
• O término do jogo pode ser após um determinado tempo ou quando o último aluno
participar.
• Se o professor optar pelo tempo de jogo, a lista de alunos deverá ser reiniciada caso
todos já estiverem participado.
68
Imitar um gatinho.
Imitar um cachorro.
Dançar samba.
Imitar o Faustão.
Fazer um Beatbox.
Recitar um poema.
Cantar um pagode.
69
Ler a frase rapidamente: A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha. Nem a aranha
arranha a rã. Nem a rã arranha a aranha.
Duque de Caxias recebeu muitos migrantes, aponte um fator que explique esse
fenômeno.
70
Analise o mapa de Duque de Caxias e responda em qual distrito se localiza o bairro que
recebeu uma grande quantidade de imigrantes, ou seja, o bairro de Jardim Primavera.
“Em suas diásporas os nordestinos ocuparam as periferias das grandes metrópolis. (...) É,
justamente, num espaço periférico e global, que esse sujeito tenta criar raízes e começar tudo
de novo.”
SILVA. José Severino. Migração nordestina na Baixada Fluminense: Identidades Transitórias. Revista
Pilares da História. Ano 15. edição especial. maio/2016. p. 18.
Por que os nordestinos constituem uma grande parte dos migrantes que vieram para
Duque de Caxias?
“A implantação da FNM começou a ser pensada pelo brigadeiro Guedes Muniz em 1939.
Muniz comprometeu-se com um projeto revolucionário para o Brasil, que visava à construção
de motores de avião em nosso território. O ministro conduziu a proposta para o presidente
Getulio Vargas que imediatamente formou uma comissão para dar seguimento ao projeto.”
Cite dois fatores que indicam a importância da construção da Fábrica Nacional de Motores
em Duque de Caxias?
71
De acordo com as fontes históricas acima, cite duas mudanças e duas permanências da
cidade de Duque de Caxias.
De acordo com as fontes históricas acima, cite duas mudanças e duas permanências da
cidade de Duque de Caxias.
72
“A maior parte dos neoproprietários era constituída por duas classes distintas: a primeira, de
imigrantes advindos de vários países devastados pela Segunda Guerra Mundial, tais como
alemães, austríacos, poloneses, italianos, judeus, árabes, etc. A segunda, de migrantes do
próprio estado, de municípios vizinhos e de outros estados.”
MANHÃS. Adriano. Jardim Primavera: lugar de refúgio e sobrevivência Revista Pilares da História. Ano 3.
nº 4. maio/2004. p. 91.
Identifique uma razão para que o bairro de Jardim Primavera tenha recebido grande
quantidade de imigrantes.
“No decorrer da Segunda Guerra Mundial foi definido o projeto de construção da FNM,
projetada para produzir motores de avião. Podemos concluir que para a escolha do lugar aonde
seria sediada a fábrica de motores, os fatores geopolíticos foram de fundamental importância
para auxiliar a tomada de decisão da comissão de construção”.
A) pelo acordo entre Brasil e Estados Unidos, pois o governo estadunidense teria autorização
para instalar bases militares no nordeste brasileiro.
B) após a derrota dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
C) através da ajuda financeira da Alemanha, grande aliada do Brasil na Segunda Guerra
Mundial.
“Os estrangeiros foram se acomodando, limitados pela desconfiança, já que vinham de uma
sociedade beligerante onde sofriam perseguições. Somente com a chegada de conterrâneos é
que passaram a formar seus grupos, bastante fechados. Entre as várias famílias que se
instalaram em Jardim Primavera, a primeira, oriunda da Alemanha, foi a família Allo”.
MANHÃS. Adriano. Jardim Primavera: lugar de refúgio e sobrevivência Revista Pilares da História. Ano 3.
nº 4. maio/2004. p. 94. (adaptado).
COSTA. Pierre. Caxias dos anos 1940 aos 1970: Cidade dormitório e industrial Revista Pilares da História.
Ano 7. nº 8. maio/2008. p. 30. (adaptado)
RAULINO, Sebastião Fernandes. As bacias hidrográficas de Duque de Caxias e suas influência no cotidiano
da população do município. IN. TENREIRO. André (org). Duque de Caxias território e sua gente. Duque de
Caxias. 2016. p. 135.
“Em 1968, o município de Duque de Caxias passou a ser considerado Área de Segurança
Nacional, devido a existência da REDUC e, a partir, de 1971, os militares passaram a
administrar diretamente o Executivo municipal até 1982. Assim, os militares catalisaram a
máquina municipal, controlando mais diretamente os políticos locais, barganhando com eles
ocupações e indicações a cargos, em troca, de apoio. Em 1982, já no período final da Ditadura
Militar foi nomeado um interventor civil, o então deputado federal Hydekel de Freitas, que
governou até 1985”.
A) Duque de Caxias se tornou Área de Segurança Nacional por ordem do prefeito da cidade.
B) a História da cidade não se relaciona nunca com a História do Brasil e do mundo.
C) o que acontece no local muitas vezes se relaciona com acontecimentos nacionais.
74
“Poucas cidades têm tido a honra de receber em seu solo, como Duque de Caxias, uma figura
dotada de excepcional valor cultural e humano. A criação do Cine-Clube Solano Trindade no
início dos anos oitenta, foi a tentativa de alguns amigos resgatarem para esta cidade um pouco
da memória do poeta e artista popular, que a escolheu para viver um de seus melhores
momentos de criação.”
PERES. Guilherme. Solano Trindade – O poeta da Resistência. Revista Pilares da História. Ano 7. nº 8
maio/2008. p. 24.
“Pouco antes do Complexo Cultural Oscar Niemeyer ser inaugurado, o mesmo espaço abrigou
um camelódromo, isto é, conjunto de barracas dos vendedores informais, que inviabilizava
qualquer manifestação cultural”.
ALMEIDA, Tânia Maria da Silva Amaro de. & MARQUES, Alexandre dos Santos. Conjunto Praça do
Pacificador. Revista Pilares da História. Ano 10. nº 11. maio/2011. p. 09. (adaptado)
Cite uma permanência e uma mudança ocorrida historicamente no local conhecido como
a Praça do Pacificador em Duque de Caxias.
76
Cultura pode ser definida como um “conjunto de atividades e modos de agir, costumes e
instruções de um povo, e o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência,
mudando a realidade, então cultura é um processo rico e diverso”.
ALMEIDA, Tânia Maria da Silva Amaro de. & LIMA, Jacqueline de Cássia Pinheiro. Cidade, cultura e
patrimônio: o direito à memória e identidade. Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. n.14,
2018, p.195.
Cite uma forma de lazer que representa uma permanência na história de Duque de
Caxias, ou seja, que é usufruído por pessoas comuns desde a emancipação da cidade.
A folia de reis é uma manifestação cristã de origem européia, trazida por portugueses
para o Brasil. Sobre ela é correto afirmar:
A) não existe mais essa manifestação em Duque de Caxias.
B) ainda existe, mas agora é uma manifestação política e não religiosa.
C) é uma tradição que ainda se mantém viva na cidade de Duque de Caxias.
77
Disponível_em:_htttps://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Paroquial_Nossa_Senhora_do_Pilar_(Duque_de_Caxias)#/media/Fichei
ro:Igreja_de_Nossa_Senhora_do_Pilar_02.JPG
A Igreja Nossa senhora do Pilar é a mais antiga igreja católica de Duque de Caxias,
construída no início do século XVIII. Sobre ela é correto afirmar:
A) o local é considerado patrimônio histórico do Brasil desde a década de 30.
B) a Igreja está restaurada e aberta aos cultos.
C) a Igreja é a sede da festa de Santo Antônio.
“Na década em que os primeiros capoeiristas se instalaram em Duque de Caxias esta cidade se
tornou área de segurança nacional pela ditadura e, a partir de 1971, seus prefeitos eram
militares interventores que cerceava ainda mais a liberdade da população de Duque de
Caxias.”
MARQUES. Alexandre dos Santos. & FILHO. Geraldo da Costa. A trajetória da capoeira em Duque de
Caxias. Revista Pilares da História. Ano 10. Edição Especial. Ago/2011. p.82. (adaptado)
Durante a década 1980, muitos mestres e praticantes da capoeira foram para as regiões
mais afastadas do centro da cidade de Duque de Caxias em razão de que:
A) as regiões mais distantes eram mais populosas e assim mais pessoas poderiam participar.
B) o centro da cidade era local de paz e não poderia haver lutas e nem barulho.
C) os praticantes sofriam com perseguições resultantes de um antigo estigma de que a capoeira
era coisa de “vagabundos” ou “marginais”.
Mesmo sendo reconhecida como uma “luta brasileira” pela Lei Federal 3.199 de 1941 e como
uma prática desportiva pela Deliberação 071 do Conselho Nacional de Desportos em 1972, os
praticantes da capoeira de Duque de Caxias sofriam com perseguições e eram tratados por
órgãos de repressão como desocupados, marginais ou vagabundos.
Por que a repressão a prática da capoeira foi bastante intensa em Duque de Caxias?
A) a ditadura civil-militar de 1964 tornou a cidade uma área de segurança nacional.
B) a intensidade da repressão seguiu o modelo repressivo ocorrido em outras cidades.
C) Por que as rodas de capoeira atrapalhavam a passagem de pedestres.
“Solano Trindade está vinculado de tal jeito a Caxias que, onde estiver será sempre um dos
nossos. Aqui ele viveu grandes poemas e fez da “maria fumaça” o tema de seus melhores
versos; aqui Solano suou e sofreu muitas angústias, integrando-se no desconforto da classe
desfavorecida e fazendo de sua voz o canto forte da renúncia, da tristeza e da expressão moral
de nossa gente. Por isto e por muitas coisas mais, Solano estará sempre em Caxias, na presença
de seus versos profundos e belos”.
PERES. Guilherme. Solano Trindade – O poeta da Resistência. Revista Pilares da História. Ano 7. nº 8
maio/2008. p. 21 (adaptado).
Francisco Solano Trindade foi um grande poeta, pintor, ator, teatrólogo e cineasta que
viveu em Duque de Caxias. Podemos destacar que sua obra foi importante porque:
A) não é aconselhável cruzar fontes históricas, pois assim se perde o foco para a
construção do conhecimento histórico.
B) toda imagem gera nos observadores outras imagens mentais, fazendo-os produzir
textos intermediários orais.
C) são duas fontes jornalísticas.
81
PEREIRA. Sandra Godinho Maggessi. A trajetória do movimento negro em Duque de Caxias: Uma Análise
em Construção. Revista Pilares da História. Ano 3. nº 4 maio/2004. p. 75.
Cite um caminho seguido pelos movimentos sociais para buscar ascensão social para os
afrodescendentes em Duque de Caxias.
O que a estátua de Zumbi dos Palmares que fica no “calçadão” entre a Avenida Nilo
Peçanha e a Rua José de Alvarenga representa para a cidade de Duque de Caxias?
“A reestruturação política feita pela Ditadura Militar no poder local da Baixada ao longo de 20
anos teve como principal objetivo suprimir, enfraquecer ou cooptar as formas de oposição
política que existiam ou viessem a surgir.”
ALVES, José Cláudio Souza. Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada Fluminense.
Duque de Caxias: APPH: Clio, 2003. p.101.
Cite uma relação entre a ditadura civil-militar de 1964 e a cidade de Duque de Caxias.
As décadas de 1940 e 1950 em Xerém foram marcadas pela intensa presença de lavradores.
Com a valorização da região após a instalação da FNM, começaram a aparecer grileiros, estes
passaram a reivindicar as terras ocupadas por colonos e lavradores. A disputa por terras em
Xerém foi marcada por muita violência, prisões, resistência e ações políticas.
O caso acima trata da questão da luta por terras no bairro de Xerém. Aponte um
movimento social da atualidade que esteja dentro do contexto nacional de disputa por
terras e faça um breve comentário sobre o mesmo.
82
“Em 1973, ao enfrentar dificuldades financeiras, a Alfa Romeo repassou 43% de suas ações
para outra montadora italiana: a Fiat, que no final de 1976 assumiu o controle acionário da
antiga FNM, rebatizando-a de Fiat Diesel. Ao tomar o controle da fábrica, a Fiat deflagrou um
processo de demissões em massa: em apenas um ano, mais de três mil empregados seriam
demitidos.”
RIBEIRO. Adriana Maria. Greve fundiu a Fiat: O movimento dos metalúrgicos de Duque de Caxias na
perspectiva do Jornal da Baixada. Revista Pilares da História. Ano 17. nº 16 maio/2018. p. 36.
RIBEIRO. Adriana Maria. Greve fundiu a Fiat: O movimento dos metalúrgicos de Duque de Caxias na
perspectiva do Jornal da Baixada. Revista Pilares da História. Ano 17. nº 16 maio/2018. p. 36.
“Em meados da década de 1950, tem início a organização de núcleos negros em Duque de
Caxias inspirados no contexto do movimento negro nacional e internacional. Em âmbito local,
a presença e a militância das organizações negras se constatam no Guia Brasileiro de Fontes
para a História do Negro na Sociedade Atual, em levantamentos feitos pela Secretaria de
Cultura caxiense e nos relatos da comunidade afrodescendente.”
PEREIRA. Sandra Godinho Maggessi. A trajetória do movimento negro em Duque de Caxias: Uma Análise
em Construção. Revista Pilares da História. Ano 3. nº 4 maio/2004. p. 75.
“Em meados da década de 1950, tem início a organização de núcleos negros em Duque de
Caxias inspirados no contexto do movimento negro nacional e internacional. Apresentando um
caráter assistencialista, formavam associações filantrópicas que aglutinavam uma elite negra
de advogados, militares, médicos, poetas, músicos, que tinham como tarefa prestar
atendimento à comunidade negra e carente”.
PEREIRA. Sandra Godinho Maggessi. A trajetória do movimento negro em Duque de Caxias: Uma Análise
em Construção. Revista Pilares da História. Ano 3. nº 4 maio/2004. p. 73.
Qual era o objetivo da “A União dos Homens de Cor (UHC)” de Duque de Caxias?
A) prestar apoio jurídico aos negros e de organizá-los politicamente.
B) formar um país apenas com pessoas negras.
C) escravizar os homens brancos.
A) Formar associações de uma elite negra de advogados, médicos, poetas, que tinham como
tarefa prestar atendimento à comunidade negra e carente.
B) Manter cursos de culinária italiana, de consertos de smartphones e de criação de sites.
C) Mandar grupos de afrodescedentes estudar na Alemanha para aprender outra língua.
84
“Antes do início da construção da FNM, Xerém restringia-se a algumas fazendas, muitas áreas
alagadiças onde havia grande proliferação de malária, grandes extensões de mata atlântica, mar
de morros florestados e áreas ao entorno da estação de trem. A maior parte das propriedades
eram posses, a região era composta, em grande parte, por pequenos produtores rurais sem a
documentação que garantisse suas propriedades.”
“No que se refere especificamente ao movimento dos metalúrgicos de Duque de Caxias, após
um período de retração, ocorrido a partir da decretação do quinto Ato Institucional em 1968, a
segunda metade da década de 1970 foi marcada pela retomada das paralisações e das greves
como principal instrumento de luta da categoria.”
RIBEIRO. Adriana Maria. Greve fundiu a Fiat: O movimento dos metalúrgicos de Duque de Caxias na
perspectiva do Jornal da Baixada. Revista Pilares da História. Ano 17. nº 16 maio/2018. p. 37. (adaptado).
“Todos os trabalhadores sabem, por sua própria experiência, que os salários de hoje não
compram a mesma coisa que compravam há cinco ou dez anos atrás. O salário, portanto,
diminuiu, mesmo que hoje tenha números maiores. Patrões e governo dizem que não podem
aumentar os salários, porque os preços sobem juntos. É claro, correto. Mas isto é verdade
porque os patrões e o governo controlam os preços. Se os salários subissem, os lucros dos
patrões diminuiriam. E aí que está o problema. Os patrões não querem que o lucro diminua.
Então, aumentam os preços, e desvalorizam os salários.”
JORNAL DA BAIXADA, n.4, outubro de 1979, p. 5 apud ANDRADE, Flávio Anício & SENRA, Alvaro de
Oliveira. Uma narrativa alternativa sobre a Baixada Fluminense: a experiência do Jornal da Baixada
(1979-1980). Antíteses. Londrina. jan./jun. 2017, v. 10, n. 19. p. 273.
“O Jornal “A Luta Democrática”, cita a Fazenda Santo Antônio, na localidade de Xerém como
pertencente ao governo, que estando abandonada por um tempo, posteriormente, teve seu
núcleo populacional aumentado com a chegada de algumas famílias de lavradores, o que com
o tempo atraiu o interesse de grileiros pela terra ali cultivada.”
SILVA. Ângelo Márcio da. Xerém: Um olhar sobre a resistência camponesa e luta pela terra. Revista Pilares
da História. Ano 14. nº 15 maio/2015. p. 55.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
história hoje, entre outras coisas, para ajudar o discente a conviver com o que é diferente,
remoto, distinto do seu dia a dia.
Como este trabalho se dedica a por em prática na sala de aula novas perspectivas de
ensino, temos que refletir obrigatoriamente sobre a aliança entre teoria e prática. O contato
com a teoria nos facilita entender que os conteúdos científicos da área de História formam a
base indispensável do objeto de ensino, mas esses conteúdos não são e não podem ser
transmitidos aos alunos de forma mais “fácil”, ou seja, apenas como uma reprodução menos
complexa para o entendimento de algo que é “maior”. É mais que isso, é algo novo que se
constrói no processo ensino/aprendizagem de História, esse entendimento teórico se torna
indispensável para a realização de um bom trabalho como professor de História, pois nos
tornam produtores e não meros reprodutores.
Os trabalhos de (BITTENCOURT, 2011; CAIMI, 2015; GONÇALVES &
MONTEIRO, 2017) revelam que o olhar para o ensino de história vem ganhando força, e que
esse olhar se tornou necessário a partir das mudanças curriculares ocorridas após a
reconstituição da História como disciplina autônoma no final do século XX. Portanto, é neste
momento que o saber histórico deixa de compor os Estudos Sociais. Assim, abre-se a
possibilidade de pesquisadores produzirem trabalhos que dialogam com conceitos mais
profundos sobre os saberes e práticas em torno do ensino de história. Além disso, cabe
destacar que, o aumento do público escolar resultou em uma redefinição de critérios para a
escolha do conteúdo a ser ensinado em sala de aula. Desta forma, novas pesquisas têm
buscado refletir sobre o ensino escolar de história. Tais estudos mostram que é possível
consolidar o lugar específico do campo de ensino de história sem perder a relação com a
produção científica da área de história e da pedagogia.
Neste processo, percebe-se a importância da concepção da existência de um saber
histórico escolar que dialogue tanto com o campo da educação quanto com o campo
historiográfico da ciência de referência. Portanto, neste diálogo, transformações na ciência de
referência trarão transformações ao currículo escolar, pois através da relação com a
historiografia, abre-se a possibilidade de novas abordagens. Uma dessas novas possibilidades
se manifesta no campo do ensino da História Local. Trabalhar com História Local se torna
primordial, uma vez que, “pretende-se que os estudantes se apropriem dos conhecimentos e
desenvolvam as atitudes necessárias para entender as especificidades do mundo em que
vivem.” (CAIMI, 2015. p. 19). Neste ponto acreditamos que o ensino de História Local tenha
um papel importantíssimo, pois relacionar processos históricos locais com regionais,
88
nacionais e mundiais, faz com que os alunos pensem historicamente e ainda se sintam agentes
da história, isto é, entenda sua inserção no processo.
Nesta reflexão em torno do “currículo de história”, sabemos que existe uma disputa de
poder em torno do que ensinar em História e também da impossibilidade de se ensinar “tudo”
em História. Por isso, a seleção do que ensinar deve ser feita de forma adequada, bem pensada
e devidamente teorizada. Assim, pensar um currículo com história da localidade faz com que
o ensino de História não se limite
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Caxias: encontro com a história da cidade. 2ª edição. Duque de Caxias: APPH-Clio, 2010.
ALMEIDA, Tânia Maria da Silva Amaro de. & LIMA, Jacqueline de Cássia Pinheiro.
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http://wpro.rio.rj.gov.br/revistaagcrj/category/numero-14/ Acesso: 04/08/2019.
ALMEIDA, Tânia Maria da Silva Amaro de. & MARQUES, Alexandre dos Santos.
Conjunto Praça do Pacificador. Revista Pilares da História. Ano 10. nº 11. maio/2011.
ISSN. 1983-0963. p. 07 – 10.
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Baixada Fluminense. Duque de Caxias: APPH: Clio, 2003.
ANDRADE, Flávio Anício & SENRA, Alvaro de Oliveira. Uma narrativa alternativa
sobre a Baixada Fluminense: a experiência do Jornal da Baixada (1979-1980). Antíteses.
Londrina. jan./jun. 2017, v. 10, n. 19. p. 262-284.
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BARCA, Isabel. Isabel Barca fala sobre o ensino de História. Entrevista concedida a
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https://novaescola.org.br/conteudo/930/isabel-barca-fala-sobre-o-ensino-de-historia
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as relações entre teoria e metodologia no ensino de história. Antíteses, Londrina, 2010.
vol. 3, n. 6, p. 743 – 756.
WELCH, Clifford Andrew. Movimentos sociais no campo até o golpe militar de 1964: a
literatura sobre as lutas e resistências dos trabalhadores rurais do século XX. Lutas e
resistências, Londrina, 2006. v. 1, p. 60-75.
APÊNDICES
A região sudeste foi a que mais recebeu migrantes, sobretudo, o Estado do Rio de
Janeiro, pois a modernização e o crescimento econômico do estado acentuaram o
deslocamento de vários contingentes populacionais durante as décadas do século XX,
superando até a imigração que também ocorria no período.
As décadas que seguiram a emancipação da cidade refletem um momento de forte
industrialização nacional, este contexto é marcado pela concentração das indústrias na região
sudeste do país. Assim, muitas pessoas migraram para as regiões metropolitanas neste
período, como as do Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. No caso da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, parte desses migrantes passou a habitar a Baixada
Fluminense, que sofre nessa época um dos maiores aumentos demográficos da região
metropolitana e do Brasil.
De acordo com o especialista em políticas territoriais Antonio Silva dos Anjos
Magalhães, em 1950, a população da cidade era de 92.459 habitantes. Já em 1960, a
população passou para 241.026 habitantes, esse crescimento resulta principalmente da
migração e da imigração ocorrida na cidade, tal fato pode ser explicado por vários fatores
entre eles: a eletrificação e a ampliação do acesso ao transporte ferroviário, a abertura de
rodovias como a Avenida Brasil, Avenida Presidente Dutra e a rodovia Washington Luiz, o
que facilitou a instalação de indústrias na região e a ligação com a capital do estado, a
instalação da Refinaria Duque de Caxias (REDUC) e da Fábrica de Borracha (FABOR) que
ajudaram a atrair ainda mais indústrias. Assim, surgiram vários loteamentos com facilidades
de financiamento e pouca burocracia, o que não ocorria na capital. Estes fatores contribuíram
para a migração de nordestinos, mineiros, capixabas e pessoas do interior do estado do Rio de
Janeiro. Entre este migrantes, destacamos os nordestinos, pois grande parte da população da
cidade de Duque de Caxias veio do nordeste ou é descendente de nordestinos.
Vários fatores influenciaram a migração dos nordestinos para as mais diversas capitais
do país, entre elas estão: a seca que atingia grande parte da região, a busca por trabalho e
ascensão social. O alto custo de vida da capital do estado do Rio de Janeiro atraiu muitos
nordestinos para a baixada fluminense, e especialmente para cidade de Duque de Caxias, pela
sua proximidade com a capital do país, pois Duque de Caxias é uma cidade satélite, fazendo
parte da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
Em Duque de Caxias aos domingos, funciona a mais de 50 anos no bairro Vinte e
Cinco de Agosto, uma feira nordestina com centenas de barracas, o que contribui com
multiplicidade cultural da cidade, lá, podemos encontrar comidas típicas, atrações culturais,
como a apresentação musical de trios de forró e literatura de cordel. Assim, a feira serve como
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migrantes para a região, mas não houve o planejamento urbano necessário para receber as
pessoas que vinham trabalhar no setor. Esses migrantes não encontravam uma infra-estrutura
razoável, apenas loteamentos precários sem projeto de urbanização, situação que permanece
até os dias atuais, principalmente no Distrito de Campos Elíseos onde a REDUC está
instalada.
Muitos migrantes nordestinos buscaram nas atividades culturais (artesanato, música,
escultura e principalmente no cordel) sua forma de sobrevivência, no cordel, eram relatados
suas lutas, seus desejos e o cotidiano de um povo ignorado pelas autoridades do país. A
cultura e o lazer em Duque de Caxias serão os temas da nossa próxima oficina.
Bibliografia
ALMEIDA. Tamires Santos de. Rio Petrópolis, Presidente Kennedy e leonel Brizola: três
nomes e uma avenida no desenvolvimento da cidade de Duque de Caxias. Revista Pilares
da História. Ano 17. nº 16. maio/2018. ISSN. 1983-0963. p. 97 – 108.
BRAZ. Antônio Augusto. Dos loteamentos aos bairros: A construção dos “lugares” em
Duque de Caxias nos anos 40 e 50 do século XX. Revista Pilares da História. Ano 8. nº 9.
maio/2009. ISSN. 1983-0963. p. 25 – 40.
COSTA. Pierre. Caxias dos anos 1940 aos 1970: Cidade dormitório e industrial Revista
Pilares da História. Ano 7. nº 8. maio/2008. ISSN. 1983-0963. p. 26 – 34.
MAGALÃHES. Antonio Silva dos Anjos. O que os censos (entre outras estatísticas)
revelaram (e ainda revelam) sobre a geografia da população duquecaxiense?. IN.
TENREIRO. André orgs. Duque de Caxias território e sua gente. Secretaria Municipal de
Educação de Duque de Caxias – SME. 2016. p. 150 – 189. Disponível em:
http://lurdinha.org/site/wp-content/uploads/Duque_de_Caxias_-_o_territorio_e_sua_gente.pdf
A folia de reis, manifestação cristã de origem européia, trazida por portugueses para o
Brasil, conta a viagem que os três reis magos fizeram até o local onde Jesus nasceu. Duque de
Caxias já teve muitas folias de reis, poucas resistiram, o reisado Flor do Oriente, do bairro
Vila Rosário, mantém a tradição desde a década de 1940. O grupo percorre as casas do bairro
espalhando mensagens bíblicas. Os festejos acontecem durante o período de 24 de dezembro
até 20 de janeiro, o dia de São Sebastião. É importante destacar que não é só Duque de Caxias
que mantém a tradição da folia de reis, mas as que resistem na cidade fazem parte diretamente
da história da localidade, ou seja, da nossa história, portanto, merecem destaque.
A Igreja Nossa senhora do Pilar é a mais antiga igreja católica de Duque de Caxias,
construída no início do século XVIII a igreja tem mais de 300 anos e desde 2014 está
interditada por questões de segurança. Há mais de 15 anos os fiéis aguardam por obras
emergenciais, que se não forem feitas, colocarão em risco o próprio prédio. O local é
considerado patrimônio histórico do Brasil desde a década de 30 e as cerimônias atualmente estão
sendo realizadas em local improvisado.
No Candomblé, uma personalidade negra importante para a história cidade de Duque de
Caxias foi João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Golméia. Joãozinho obteve notoriedade
não apenas por ser um importante pai-de-santo, mas também pela sua dança, pois era um
exímio dançarino, com um corpo flexível e muita agilidade. Joãozinho da Golméia era
procurado por vários políticos, entre eles, Juscelino Kubtschek e Adhemar de Barros,
desfilava frequentemente como destaque na Escola de Samba Império Serrano e na Imperatriz
Leopoldinense, era conhecido até mesmo artistas internacionais, por exemplo: o poeta chileno
Pablo Neruda, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1971.
A cidade de Duque de Caxias recebeu na década de 1960 seus dois mais antigos
mestres de capoeira, o Mestre Gegê (Geraldo da Costa Filho, vindo da Bahia) e o Mestre
Barbosa (José Barbosa da Silva, vindo de Pernambuco), até então são os mais antigos
praticantes que se tem registro. Em 1967, Mestre Barbosa iniciou na cidade, mais
precisamente na praça da Vila São Luiz, a primeira roda de capoeira de rua de Duque de
Caxias, por ser tradicionalista, o mestre só permitia a prática com uso de camisa. Já o Mestre
Gegê, instalou-se definitivamente em Duque de Caxias em 1966, conseguiu emprego em uma
fábrica de motores na mesma cidade, e lá, ministrava aulas de capoeira fora do horário de
expediente. Além dos dois mestres citados, temos ainda de grande importância para a cidade
de Duque de Caxias: Mestre Raimundo Filho, Mestre Levi, Mestre Monge, Mestre Russo e
outros.
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Mesmo sendo reconhecida como “luta brasileira” por uma lei federal em 1941 e como
uma prática desportiva pelo Conselho Nacional de Desportos em 1972, os praticantes desta
arte sofriam com perseguições resultantes de um antigo estigma de que a prática da capoeira
era coisa de “vagabundos”, “vadios” ou “marginais”. Em Duque de Caxias a repressão era
latente, pois com a implantação da ditadura civil-militar de 1964, a cidade tornou-se área de
segurança nacional, assim, os prefeitos interventores cerceavam ainda mais a prática da
capoeira, muitos mestres sofreram com detenções e prisões.
Durante a década 1980, muitos mestres e praticantes da capoeira foram para as regiões
mais afastadas do centro da cidade de Duque de Caxias, pois assim, conseguiam manter a
tradição na medida do possível. Com o fim da ditadura e a virada do milênio, o departamento
de Patrimônio Histórico e Cultural da cidade junto com o Conselho Municipal de Cultura,
fomentou a divulgação das rodas de capoeira organizadas pelos mestres que foram
identificados e devidamente registrados, mas para que a cultura da capoeira continue
avançando, é necessário uma política contínua de valorização da prática da arte, para tanto, o
movimento que busca a valorização continua atuando, certamente com um longo caminho a
seguir.
Em 1975, foi inaugurado o “Calçadão de Caxias”, isto é, a adequação de ruas
exclusivas para pedestres, que compreende basicamente as ruas José de Alvarenga e a
Avenida Nilo Peçanha no centro de Duque de Caxias. Um ano após, foi oficializada a feira de
artes da cidade, que fora idealizada pelo Grupo Arco (Arte e Comunicação), este grupo nos
anos 70, desenvolvia produtivo trabalho de incentivo às artes e às letras em Duque de Caxias.
Esta feira de arte funcionava aos domingos, no calçadão das ruas de pedestres.
Nas manhãs dominicais, tornou-se um programa especial uma passagem pelo calçadão
de Caxias, ali ficavam expostos trabalhos artísticos dos mais variados, desde o artesanato às
artes plásticas. Na feira, havia pintores exercendo seu oficio, músicos ensaiando suas
composições e artesãos confeccionando diversos objetos. Era o momento que os artistas,
iniciantes ou não, se juntavam para expressar suas criatividades.
Diante das contradições de uma cidade que cresce economicamente e mantém a
maioria de seus habitantes em condições de pobreza, a população mais simples buscava
desfrutar de seus raros momentos de lazer basicamente em festas comunitárias, religiosas e
familiares. Dentre as poucas formas de diversão, podemos destacar o futebol como uma das
principais. Como vimos, Duque de Caxias é uma cidade formada basicamente por migrantes,
e estes, buscavam se adequar à região e interagir com os habitantes que já estavam no local, o
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que poderia facilmente ocorrer através das disputas dos times de futebol. Os torneios de
futebol eram organizados pela Liga de Desportos de Duque de Caxias, fundada em 1945.
Durante a década de 1950 o futebol se popularizou no Brasil e mesmo com a derrota
da copa de 1950 o entusiasmo não cessou e a consagração veio na vitória da copa de 1958.
Em Duque de Caxias a população acompanhou a final pelos rádios e autos-falantes
improvisados em carros de propaganda nas ruas, a vitória resultou em um verdadeiro carnaval
na cidade e em todo o Brasil. As dificuldades que a população pobre enfrentava no dia-a-dia
eram superadas nos campos de futebol. Este esporte era mais que uma forma de lazer coletivo,
ele dava significado tornando a realidade mais agradável e aglutinando uma sociedade
oriunda de diversas regiões.
Além do futebol, uma outra cultura popular com presença marcante em Duque de
Caxias é o samba. Entre as décadas de 1940 e 1970, o samba caxiense era representado por
algumas escolas, entre elas, União do Centenário, Unidos da Vila São Luiz, Capricho do
Centenário e a Cartolinhas de Caxias. Em 1971, para competir com as grandes escolas do Rio
de Janeiro, estas escolas fizeram uma fusão, formando a Escola de samba Grande Rio,
representada pelas cores azul e branco. Já em 1988, há uma nova junção, agora com a
G.R.E.S. Acadêmicos de Duque de Caxias, assim, surge a tricolor G.R.E.S. Acadêmicos do
Grande Rio, que hoje figura como uma das principais escolas de samba do estado.
Hoje, o samba configura um elemento da cultura nacional com reconhecimento
internacional. Mas essa manifestação cultural foi criada e organizada por grupos sociais das
favelas, dos subúrbios e bairros populares no início do século XX. Sendo marginalizada pelas
elites da época, muitos sambistas foram perseguidos, agredidos, tiveram instrumentos
apreendidos e tiveram que resistir muito para superar o preconceito que existia ao samba.
Atualmente, a festa inclui todas as classes, mas para o samba se tornar o que é, houve muita
resistência, portanto, o samba é genuinamente uma festa plural de origem popular.
Um local que pode ser considerado a representação da arte, da cultura e do lazer em
Duque de Caxias é a Praça do Pacificador. A praça recebeu esse nome em homenagem a Luiz
Alves de Lima e Silva (o Duque de Caxias), pois este personagem teria participação decisiva
no controle de revoltas populares durante o Período Regencial. Em 1943, quando o distrito se
emancipou de Nova Iguaçu, se transformou em município com o nome “Duque de Caxias”. A
cidade recebe o seu nome por ele ter nascido em um bairro do município que hoje se chama
Taquara (antiga Fazenda São Paulo).
A localidade já foi chamada de Praça do Brejo e Praça do Caranguejo e, em 1953,
assumiu uma moderna configuração e a denominação: Praça do Pacificador. No decorrer das
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décadas de 60 e 70, a praça tornou-se local oficial dos desfiles do dia do soldado (25 de
agosto), dos desfiles dos blocos de carnaval e de expansão da Feira da Comunidade da Igreja
de Santo Antônio. As várias manifestações culturais espontâneas que aconteciam na praça
demonstra sua importância para a cidade no que diz respeito à arte, cultura e lazer. Desde a
década de 1960, encontravam-se regularmente na praça, grupos de capoeira, vendedores de
ervas, os fotógrafos, o comedor de espadas, domadores de cobras, cuspidores de fogo e
outros. Além disso, a praça também era local de encontro de pessoas que iam ao cinema e de
aposentados que se juntavam para jogar cartas de baralho.
Na década de 1980, a praça passou por uma grande reforma, nela, foram colocadas
uma estátua em homenagem a Duque de Caxias (hoje, ela está exposta no começo da Avenida
Brigadeiro Lima e Silva), um chafariz e uma estátua em homenagem à primeira bica de água
do local (instalada em 1916). Hoje, temos no local, o Complexo Cultural Oscar Niemeyer.
Mas antes da construção do complexo, o local abrigava um camelódromo que inviabilizava
qualquer manifestação cultural. Em 2004, foi inaugurada a Biblioteca Governador Leonel de
Moura Brizola, após dois anos, foi inaugurado o Teatro Raul Cortez, com capacidade para
440 lugares, assim, o Complexo Cultural Oscar Niemeyer é formado pelo teatro, pela
biblioteca e pela Praça do Pacificador.
Ao tratar de arte, não podemos deixar de falar sobre um grande poeta, pintor, ator,
teatrólogo e cineasta que viveu em Duque de Caxias. Nascido em Recife em 1908, Francisco
Solano Trindade chegou ao Rio de janeiro em 1942, em 1944, já morador de Duque de
Caxias, ele publica seu primeiro livro chamado “Poemas d’uma vida simples”. Neste mesmo
ano, Trindade sofre sua primeira prisão política. Na obra “O Poeta do Povo” organizado por
sua filha Raquel Trindade em 1999, temos o relato do episódio:
Neste inquérito, Solano Trindade foi acusado de distribuir boletins contendo injúrias
contra o governo, Trindade nega as acusações e seu processo é arquivado por falta de provas
em 1945.
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A década de 1950 foi fértil para o poeta, montou a peça “Orfeu da Conceição” de
Vinícius de Moraes, atuou como ator em filmes como “O Santo Milagroso” e “Agulha no
Palheiro” de Augusto Matraga, colaborou para a realização de documentários como “O Brasil
Dança” e “Magia Verde”, conseguiu para o Brasil um prêmio no festival de Cannes, e além
disso, participou do Festival da Juventude Comunista em Varsóvia com o Teatro Popular
Brasileiro, sendo aplaudido de pé na ocasião.
Em maio de 1957 foi inaugurada no centro de Duque de Caxias, a “1ª. Exposição
Coletiva de Artes Plásticas”, na ocasião, vários artistas de renome compareceram ao evento,
entre eles: Barboza Leite, Frank Schaeffer, Goulart, Henrique Osvald, Inimá, Luis Guimarães
e Bruno Giorgi. Entre as obras da exposição havia uma cabeça em bronze esculpida por
Bruno Giorgi representando Solano Trindade, segundo o historiador Guilherme Peres “Era
uma homenagem do artista escultor, oferecida ao amigo e poeta que tanto divulgou a cultura
do povo brasileiro, e decorava a sede do Teatro Popular Brasileiro, no Rio de Janeiro, de onde
foi transferida para esse salão”.
Ainda em 1957, Solano Trindade anuncia sua intenção de mudança de cidade,
deixando imensa melancolia nos seus amigos caxienses. Na sua morada em Duque de Caxias,
Trindade defendeu a inserção da diversidade da negra como parte da cultura brasileira.
Através de suas poesias, denunciava o preconceito e tentava intervir na ordem social
estabelecida para possibilitar mudanças estruturais na vida dos negros, ou seja, foi dentro de
uma cultura afro-brasileira que ele elaborou a sua mensagem de integração do negro à
sociedade brasileira.
Referências Bibliográficas
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Conjunto Praça do Pacificador. Revista Pilares da História. Ano 10. nº 11. maio/2011.
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MARQUES. Alexandre dos Santos. & FILHO. Geraldo da Costa. A trajetória da capoeira
em Duque de Caxias. Revista Pilares da História. Ano 10. Edição Especial. Ago/2011. ISSN.
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PEREIRA. Diego Lúcio Vilela. O futebol em Duque de Caxias durante a década de 1950.
Revista Pilares da História. Ano 11. edição especial. maio/2012. ISSN. 1983-0963. p. 53 –
59.
SILVA. Renato Mendonça Barreto da. Nos passos biográficos: um olhar sobre os palhaços
da folia de reis Flor do Oriente. Revista Pilares da História. Ano 10. edição especial.
agosto/2011. ISSN. 1983-0963. p. 07 – 21.
apenas um ano, mais de três mil funcionários foram demitidos. A partir de então, os
trabalhadores fizeram protestos e várias greves. Melhores condições de trabalho e de salários
estavam entre as reivindicações dos operários.
No cenário político nacional, a segunda metade da década de 1970 foi marcada pela
retomada do movimento operário. Este processo trará renovação ao sindicalismo, pois, neste
momento, os metalúrgicos assumem um papel de liderança do movimento operário brasileiro.
Mas isto não ocorreu apenas no Brasil, países como o México e a Argentina, que junto com o
Brasil eram os paises mais industrializados da América Latina, também tiveram o sindicato
das indústrias automobilísticas liderando o operariado nos movimentos sociais. Durante o
movimento de resistência, os trabalhadores enfrentaram os patrões, as autoridades políticas e
todo o aparato de repressão possível. Neste contexto, vários lideres do movimento foram
demitidos ou presos. Mas isso não intimidou o movimento, pois a resistência continuou e até
houve ampliação das formas de luta, tudo com muita organização e mobilização.
Em Duque de Caxias, após o enfraquecimento do movimento operário em virtude do
decreto do Ato Institucional 5 (AI 5) em 1968, as paralisações e as greves só retornam a partir
da segunda metade da década de 1970. Formou-se então, neste momento, uma rede de
solidariedade, pois muitas greves de Duque de Caxias aconteciam no mesmo momento em
outras partes do Brasil, sobretudo em São Paulo, na região do ABC.
Uma importante greve ocorrida na Fiat em Duque de Caxias se iniciou em julho no
ano de 1979. Neste mesmo mês e ano ocorria uma grande greve em Minas Gerais, conhecida
como a “rebelião dos pedreiros”, só no ano de 1979 tivemos mais de duzentas greves no país.
A greve da FIAT de Caxias se iniciou com manifestações contra demissões em massa, a ideia
da empresa era reduzir custos e racionalizar a produção. Logo, outras questões entraram na
pauta, como por exemplo, péssimas condições de higiene no ambiente de trabalho, má
qualidade dos alimentos servidos aos funcionários e os baixos salários. Insatisfeitos com a
negociação entre a empresa e o sindicato dos metalúrgicos, os trabalhadores montaram uma
comissão encarregada de discutir as demandas da classe. A direção da fábrica não concordou
com o salário exigido pela comissão, mas durante as negociações outro galpão do complexo
fabril entrou em greve, acirrando a situação da empresa. Assim, a direção da fábrica decidiu
efetuar o pagamento exigido desde que todos voltassem ao trabalho, desta forma, a assembleia
dos trabalhadores decidiram encerrar a greve. Estes foram alguns exemplos de como os
moradores da cidade se organizaram para lutar por melhores condições de vida, mas a
pobreza, o racismo e a exclusão social ainda estão presentes na nossa cidade, portanto, a luta
continua.
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Referências Bibliográficas
SOUZA. Marlúcia dos Santos. O Debate étnico e a união dos Homens de Cor em Duque
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SILVA. Ângelo Márcio da. Xerém: Um olhar sobre a resistência camponesa e luta pela
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RIBEIRO. Adriana Maria. Greve fundiu a Fiat: O movimento dos metalúrgicos de Duque
de Caxias na perspectiva do Jornal da Baixada. Revista Pilares da História. Ano 17. nº 16
maio/2018. ISSN. 1983-0963. p. 35 – 43.