Atividade 1 9º Ano TEATRO 1
Atividade 1 9º Ano TEATRO 1
Atividade 1 9º Ano TEATRO 1
ARTE/TEATRO
ATIVIDADE 1
Tema: Contextos e Práticas: O fenômeno teatral.
Habilidades:
(GO-EF09AR25-A) Compreender e argumentar sobre o fenômeno teatral a partir de diferentes dimensões:
estética, social, antropológica, ética, econômica, política e histórica, realizando sínteses e registros.
NOME:
UNIDADE ESCOLAR:
VAMOS ASSISTIR
COMMEDIA DELL’ART E A CARAVANA DA ILUSÃO
A Commedia Dell’arte foi uma vertente popular do teatro renascentista. Ele teve início no século XVI com o
advento do Renascimento, possuía um caráter popular se opondo ao modelo erudito existente na época. Seus
atores se apresentavam em locais públicos, seja nas ruas ou praças. Os palcos eram improvisados e o
esquema de apresentação estava baseado na improvisação e espontaneidade de seus atores. As companhias
ainda eram itinerantes, ou seja, seus atores se apresentavam em locais públicos, sejam nas ruas ou praças. Os
palcos eram improvisados e o esquema de apresentação estava baseado na improvisação e espontaneidade de
seus atores.
Os personagens que faziam parte das comédias desenvolvidas pela Commedia Dell’arte eram caricaturados,
tipificados e estereotipados. Estavam divididos em três grupos: os enamorados, os criados e os patrões.
Espetáculo: A caravana da Ilusão
O espetáculo partiu de uma iniciativa do grupo "Trupe
dos Cirandeiros – Núcleo de Criação Artística" em
estabelecer uma nova criação dramatúrgica a partir do
texto A Caravana da ilusão, do autor Alcione Araújo, em
uma obra teatral que decorra deste momento peculiar em
que vivemos numa forma de ampliar o senso crítico da
plateia em relação ao papel da arte e do artista na
sociedade. O espetáculo é bastante rico nesses aspectos,
Espetáculo: A Caravana da Ilusão.
Grupo: Trupe dos Cirandeiros - Núcleo de Criação Artística, grupo por estabelecer de forma poética o questionamento sobre
pertencente ao Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte da
Seduc Goiás. Fonte: Arquivo do grupo.
as expectativas do artista em sua busca, levando à
reflexão sobre o papel da arte e principalmente do artista
como sendo representatividade da cultura na sociedade.
A caravana da ilusão conta a história de três irmãos artistas saltimbancos recentemente órfãos de pai, que
acompanhados por um músico mudo caminham por uma estrada na qual se encontra uma encruzilhada.
Indecisos diante de direções que levam para lados opostos, eles só têm uma certeza: um desses caminhos
permite a continuação da história da trupe e do seu trabalho artístico e, o outro, traz o perigo iminente do
desmembramento do grupo e o fim da história daqueles artistas. Numa parada para descansar e matar a fome
de respostas, a trupe encontra outra personagem da história, Ziga, uma triste cigana que, a partir desse
momento, os obriga a tomarem uma decisão.
ATIVIDADE I
Assista agora ao espetáculo: A Caravana da Ilusão. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=9H6az_hph4Q>. Acesso em 07 dez. 2022.
ATIVIDADE II
Leia abaixo o trecho do texto “A Caravana da Ilusão” do autor Alcione Araújo e observe como como foi
feita a passagem do texto para a montagem, no vídeo da atividade anterior.
A Caravana da ilusão
Delírio em 1 ATO de
Para Qorpo-Santo, Nélson Rodrigues e Glauber Rocha, que me ensinaram a liberdade do delírio.
Para Fabio Picasso, louco genial que sobre uma tela pintou essas personagens.
Para Vera, Eid, Grassy, Gilberto e Mabel, que trazem no coração os caminhos do mar e da montanha.
(Descampado absolutamente deserto. Esparsa vegetação, ressequida pelo sol, destacando-se um
esquálido arbusto. Um caminho se divide inesperadamente em dois, sem avisos ou indicações. Nessas
encruzilhadas de maus presságios, dúvidas, indecisões e desenlaces, o ar está sempre parado. Consta que
até mesmo o vento as evita, temendo dividir suas forças. Os místicos acreditam que em qualquer
encruzilhada, um dos caminhos leva à virtude e o outro à perdição, um ao céu e o outro ao inferno, um à
felicidade e o outro à desgraça, um no apocalipse e o ouro à salvação. Os práticos concluem
apressadamente que dois caminhos distintos só podem levar a lugares distintos; enquanto os esperançosos
suspeitam sempre que se pode chegar a) mesmo lugar por diferentes caminhos. É o fim de um dia. Vindo da
esquerda surge Bufo, eis passos lentos. Pára, súbito, olhando assustado para os caminhos à sua frente. Olha
para um lado. Olha para o outro. Está visivelmente indeciso. Logo surgem, vindos do mesmo lugar, Lorde e
Bela. Ele a ampara docemente com a mão sobre o ombro. Bela está triste e abaixada. Ao perceberem que
Bufo parou mais adiaste, Bela e Lorde também param e ela repousa a cabeça em seu peito. Indeciso diante
da surpresa que o atormenta, Bufo vira-se para trás.
BUFO – E agora?
(Bela e Lorde o olham em silêncio, sem entenderem a razão da interrupção e sem terem o que
responder. Durante esse momento de silêncio, e vindo do mesmo lugar dos demais, surge Escroto,
horroroso, carregando às costas um enorme saco. Distraído, sopra uma música delicada em sua
inseparável gaita. Ao se aproximar, os outros o olham com reprovação. Ele vai silenciando lentamente a
sua gaita.).
Está em cena a caravana da ilusão. São quatro figurar exauridas pelo cansaço das longas
caminhadas, abatidos pela tristeza que a morte recente do velho Bufão lhes deixou no coração;
melancólicas pela nobreza envelhecida e esfarrapada de suas roupas de cores, outrora fortes, mas agora
pálidas e que, apesar disso, conservam a altivez nas atitudes e a intensidade nos sentimentos, movidos,
quem sabe, pela fé e a esperança que lhes vêm no sangue desde tempos imemoriais. Bufo usa roupa
inteiriça, cobrindo a enorme barriga postiça puída nos joelhos e cotovelos. Em outros tempos foi vermelha.
Algo como um nobre e rendado colarinho salta-lhe à altura do pescoço. Usa um barrete vermelho, cuja
ponta, resultado de alguma misteriosa armação, ergue-se tortuosa, mas não cai sobre as costas. Leva um
pequeno saco apoiado sobre o ombro, cuja boca ele retém com a mão, à altura do peito. Lorde se veste
quase como um Arlequim, com losangos irregulares e de cores desmaiadas na roupa muito justa. O uso
secular esgarçou o tecido nas articulações, deixando-o quase transparente. Enrolado ao pescoço tem
sempre um cachecol, improvisado com o velho trapo rosa desmaiado. Bela veste-se como uma triste
bailarina. Roto saiote rosa, manchado, desbotado e sujo, e um corpete marrom, que a deixa mais esguia e
talvez mais elegante, embora seja muito mais justo que o desejável para quem, supostamente, vai dançar.
Seus cabelos são revirados de trás para a frente, formando um pequeno tufo, cuidadosamente armado, meio
para um lado da cabeça. Escroto é o mais esmolambado da caravana. Uma calça roxa, que lhe deixa as
canelas à mostra e um paletozinho cintado que certamente pertenceu a alguém menor que ele, num azul
claro que a sujeira com o tempo vem dando novos e sombrios matizes. Um lenço avermelhado sobre os
ombros, com as pontas pendentes dos dois lados do peito nu, pois não há camisa sob o paletozinho. Todos
usam velhas e gastas sapatilhas de couro cru, exceto Bela, que as tem em rosa pálido, mas delicada, porém,
mais surrada. Sem resposta para a sua pergunta, Bufo tenta Esclarecer aos de trás, o que se passe, como
quere pede auxílio
BUFO - O caminho se bifurca...
LORDE - Não entendi.
BUFO - Chegamos a uma encruzilhada. Por onde seguir?
(A questão tem mais significado do que aparenta. Todos se assustam, como se nunca tivessem sido
colocados diante de tal situação. Um crescente mal-estar vai tomando conta de Bufo. Nos outros é a
decepção e o cansaço que assomam. Escroto põe o saco no chão e senta-se sobre ele como se antevisse uma
longa discussão. A pergunta fica no ar, sem resposta. Bufo tenta, olhando ao longe, descobrir para onde
leva um e outro caminho. Seu esforço parece inútil. Volta-se humildemente.).
BUFO - E então, Lorde? Qual dos dois caminhos seguimos?
LORDE - Pergunte, então, qual dos três...?
(Todos encaram Lorde como se ele tivesse profanado velhos dogmas. Bufo se aproxima ofendido e
sem entender. Lorde tenta, com humildade, explicar-se.).
LORDE - Há também o caminho de volta.
(A afirmação, aparentemente óbvia, revolve sentimentos profundos em toda a trupe. Bufo controla
explosivas energias enquanto encara ameaçadoramente Lorde.).
BUFO - O que está acontecendo com você, Lorde? E a segunda vez que fala em voltar! Agora e logo
depois do enterro. O que significa isso, Lorde? Está querendo desafiar o destino? Já não basta a morte do
pai? Quer atrair sobre nós a terrível maldição? Você sempre soube que, para gente como nós, não há volta
nem retorno!
(Um silêncio aterrador toma conta de tudo. Lorde abaixa a cabeça. Bela está visivelmente ansiosa
com o clima ameaçador. Sentado sobre o saco, Escroto cobre os olhos, amedrontado. Bufo olha para trás,
para o caminho que já percorreu. Depois, vira-se, mais calmo, para Lorde).
BUFO - Para trás, já conhecemos tudo. Temos que ir para frente, mano.
LORDE - Agora que o pai se foi, Bufo, você é o guia. Por herança. Por tradição e por direito. Eu
concordo, aceito e respeito. Eu o amo, como um irmão deve amar o irmão. Mas não quero esconder os
temores que me apertam o coração. Você fala em nossas tradições, mas as nossas tradições não previam que
um dia iríamos desaparecer.
BELA - Por Deus, Lorde!
LORDE - Bela, minha querida Bela, hoje, minha irmãzinha, nossa gente somos apenas nós, e agora,
desfalcada do pai. Talvez uns poucos mais, espalhados e perdidos por esse mundo. Para a nossa própria
sobrevivência, como os últimos dessa raça, talvez as nossas tradições nem devam ser preservadas.
BUFO - Cale-se, Lorde!
LORDE - Perdão, se os ofendo. Mas, se a terra é redonda, como disse aquele velho na última feira,
que diferença faz se andamos para lá ou para cá? Em qualquer direção que formos, estaremos girando, e
passaremos sempre pelos mesmos lugares.
BUFO - Você fala pelo prazer que lhe dá o sons das palavras. No fundo, você é um músico, Lorde.
Deveria estar ao lado de Escroto, acompanhando a gaita com o ritmo de suas palavras.
(Só agora Bufo percebe o estado de profundo abatimento em que mergulhou Bela. Afetuosamente,
retira a irmã do peito de Lorde, onde ela, assustada com o que ouvia, se aninhara. Bufo a abraça
ternamente.)
[...]
Material complementar:
ARAÚJO, Alcione. A caravana da Ilusão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000 (Dramaturgia de
Sempre).
KOUDELA, Ingrid Dormien. A ida ao teatro. Programa Cultura é Currículo. São Paulo, 2010. Disponível
em: <http://culturaecurriculo.fde.sp.gov.br/administracao/Anexos/Documentos/420090630140316A%20ida
%20ao%20teatro.pdf> Acesso em: 07 dez. 2022.