Competênica X Caráter - MilitaryReview - Doty Sowden 2010 PDF
Competênica X Caráter - MilitaryReview - Doty Sowden 2010 PDF
Competênica X Caráter - MilitaryReview - Doty Sowden 2010 PDF
Em que Pé Estamos?
Qual é o motivo dessa proposta? Por que agora?
Nosso Exército continuará a operar em alguns dos
Exército no qual o desenvolvimento de caráter é inten- ambientes mais moralmente ambíguos e complexos
cionalmente parte de, literalmente, tudo o que fazemos. da história — sem um final à vista. Nosso chefe de
Parece fantasioso e absurdo? Não deveria. Estado-Maior, general George Casey, chama, apro-
Conforme nosso Exército olha para o futuro, pre- priadamente, a presente
cisamos examinar como formamos e desenvolvemos época de era de conflito
soldados e líderes para que possuam o caráter e a com- persistente. Casey e ou- O Maj Walter Sowden
petência que compõem o contrato não negociável entre tros líderes mais antigos é o subchefe de logística
nossa nação e seus profissionais militares. Nossa proposta do 807° Comando de
é que nos livremos de praticamente todo o treinamento Apoio de Desdobramento
e ensino isolados em desenvolvimento ético e de caráter O Ten Coronel Joe Doty, Médico, Posto de Comando
em todo o Exército. Nada mais de aulas sobre assédio Ph.D., Exército dos EUA, Operacional, Seagoville, TX.
sexual. Nada mais de aulas sobre a “lei de guerra terres- é vice-diretor do Centro de Anteriormente, foi diretor
tre”. Nada mais de orientações jurídicas sobre conflito Excelência de Ética Militar de pesquisa e operações
de interesse e aceitação de suborno. Em vez disso, nossa Profissional, na Academia do Centro de Excelência de
proposta é incorporar o ensino de ética e caráter em tudo Militar dos Estados Unidos. Ética Militar Profissional na
o que fazemos, em todos os canais de treinamento, todas Comandou, anterior- Academia Militar dos Estados
as experiências educacionais, tudo. Essa significativa mente, o 1º Batalhão, 27º Unidos. É bacharel pela South
mudança cultural não só será mais produtiva e eficiente, Regimento de Artilharia Dakota State University e mes-
como também acabará sendo mais eficaz e mais acertada de Campanha (Sistema de tre pela Columbia University.
pedagogicamente e exigirá menos recursos. Lançamento Múltiplo de Atuou como comandante de
Entendemos que pedimos uma transformação Foguetes), V Corpo de companhia na 1ª Divisão de
enorme e revolucionária ao propor isso agora. Os Artilharia, Exército dos EUA Cavalaria durante a Operação
líderes do Exército terão de mudar radicalmente sua na Europa. Iraqi Freedom II.
Instruções de segurança com soldados e praças da Força Aérea da equipe de reconstrução provincial de Kapisa-Parwan, na base avan-
çada de operações Morales-Frazier, na Província de Kapisa, Afeganistão, 13 de agosto de 2009, antes de uma missão. (Departamento de
Defesa, Sgt Teddy Wade)
reconhecem que a presente época terá um efeito no jovens o treinamento e a educação necessários para o
desenvolvimento e no ambiente moral e ético do devido desenvolvimento e mudança cognitiva” — o que
nosso Exército. significa que os atuais métodos não estão produzindo os
O nosso é, sem dúvida, o Exército mais competen- efeitos que desejamos2.
te, experiente, bem treinado e equipado do mundo.
Nossos modelos, sistemas e centros de treinamento são, Sinais do Problema
de longe, os melhores, mais avançados e mais eficazes Uma análise recente do currículo do Centro de
do mundo, e nossa superioridade tecnológica é igual- Preparação dos Oficiais da Reserva (Reserve Officer
mente impressionante. O nosso é um Exército em que Training Corps — ROTC) do Exército revelou que mais
o “treinamento é rei”. E com razão. Contudo, ao olhar- de 90% dele se concentra em desenvolver a compe-
mos para o futuro e nos examinarmos de forma crítica tência, enquanto menos de 10% se refere ao ensino de
(como devem fazer os profissionais), constatamos um caráter. Além disso, apenas cerca de 5% da instrução
descompasso entre competência e caráter. do Comando de Instrução e Doutrina do Exército dos
Curiosamente, esse mesmo tema foi abordado há EUA (Training and Doctrine Command — TRADOC)
12 anos pelo coronel Darryl Goldman, agora re- no sistema de ensino tanto de oficiais quanto de
formado, no artigo “The Wrong Road to Character graduados se concentra na ética e na liderança. É essa
Development”, na edição em inglês de janeiro-fevereiro proporção de 5% de caráter para 95% de competência
de 1998 da Military Review. Em seu artigo, Goldman que o Exército quer defender?
também enfocou a necessidade de uma mudança E quanto ao treinamento e ensino voltados ao cará-
cultural em função da natureza compartimentada do ter em nossas unidades? O descompasso entre compe-
nosso treinamento de “caráter”. Observou, de forma tência e caráter existe em nossas unidades (em termos
acertada, que, no Exército, “não proporcionamos aos de tempo devotado a cada um), e as experiências o
agravam. Por exemplo, examine o cronograma de trei- trabalho, etc.) como “treinamento obrigatório” ou
namento de qualquer unidade e compare o tempo gasto “ensino em cadeia”. Para executar esse treinamento, o
em competência com o tempo despendido em caráter. Exército normalmente envia apresentações “enlatadas”
Quantas vezes um grupo de combate teve de repetir de PowerPoint para os comandantes e instrutores,
um exercício tático porque ele não correu conforme o ordenando-lhes que treinem todos os integrantes da
planejado? Compare isso com o número de vezes que unidade sobre um tema específico antes de certa data.
um instrutor teve de repetir uma aula sobre os valores Essas aulas consistem em sessões de uma hora no
do Exército. Está claro que há um descompasso. Além cronograma de treinamento da unidade. Durante essa
disso, o Exército começou, recentemente, a eliminar hora, o comandante ou algum outro líder da unidade
vagas para capelães nas escolas mediante um plano de apresenta o treinamento. Depois que o treinamento é
transferir as aulas de ética para o ensino a distância. Por concluído, coloca-se um “X” na lista de conferência e a
muitos anos, essas aulas foram de responsabilidade dos unidade passa para a tarefa seguinte.
capelães. Todos esses são exemplos de uma incapaci- Esse método não é uma forma eficaz de desenvolver
dade sistêmica de entender e implantar uma estratégia um indivíduo ou incutir um valor referente à cultura
holística de ensino e desenvolvimento de liderança ética de uma organização4. Na verdade, pode ter o efeito con-
para o nosso Exército. trário. Esse método de transferir conhecimentos sobre
O Exército, inconscientemente, adotou um mo- esses importantes assuntos não é exclusivo das unidades
delo empresarial ineficaz de treinamento de caráter. valor companhia. É como o treinamento moral e ético
Contudo, as pessoas aprendem melhor a partir da ocorre em todos os níveis do Exército. Infelizmente,
experiência. Treinar para ensinar uma habilidade não funciona e talvez seja até contraproducente:
inclui tentar encaixar uma grande quantidade de Essa tendência de criar iniciativas novas e
experiências em um curto espaço de tempo. Isso se isoladas para tratar vários tipos de má condu-
dá normalmente por meio de uma palestra ou aula. ta em relações humanas constitui o fracasso
Essa abordagem só é eficaz se a intenção é munir o fundamental na forma como as forças mili-
aluno de uma habilidade. Esse é um ótimo método tares americanas abordam o desenvolvimen-
se o resultado almejado é ensinar um soldado como to de caráter desde o governo Eisenhower.
carregar e limpar uma arma ou trocar o pneu de um Presumimos continuamente que as iniciativas
caminhão. Contudo, essa não é a forma de desenvolver isoladas de abordar a ética, moralidade ou
alguém, especialmente no campo moral ou ético. Não valores sejam importantes só porque elas dão
se pode ensinar como reconhecer um dilema moral, a impressão de que “estamos fazendo algo”. Na
avaliar os efeitos potenciais de uma decisão e portar- verdade, essa fé enganosa em projetos novos
-se de forma moralmente correta por meio de uma e desconectados é um sinal de que eles fazem
apresentação de PowerPoint. A única forma de fazer mais mal que bem ao desviar a atenção da li-
isso é desenvolver — mudar — uma pessoa3. derança, que tem a autoridade para provocar
Como em relação à maioria dos temas que ensina- a verdadeira mudança5.
mos no Exército, atualmente transmitimos a ética e os Em outubro de 2008, o Exército realizou uma
valores de forma compartimentada. Isso fica evidente Reunião de Cúpula de Treinamento em Prevenção do
quando se examinam os cronogramas de treinamento Assédio Sexual e Redução de Risco. Durante a reunião
das unidades. Designamos os cursos enquadrados na (cujos palestrantes convidados incluíam o secretário e
categoria de educação moral e ética (respeito, ética o chefe do Estado-Maior do Exército), foi anunciada a
na guerra, assédio sexual, violência doméstica e no nova campanha “I A.M. Strong” para ajudar a prevenir
a agressão sexual no Exército. Por que o Exército pre- Cinco dos comandantes de brigada tiveram de subs-
cisaria tratar de questões de respeito por membros da tituir ou admoestar um chefe ou sargento de pelotão
força singular em 2008? Um dos sete valores do nosso pelo abuso de detentos ou violação das regras de engaja-
Exército é o “respeito”. Temos certeza de que a maio- mento ou regras de escalada da Força. Um comandante
ria das pessoas no Exército sabe os sete valores de cor. de batalhão no Iraque, envolvido em uma investigação
Contudo, não basta decorá-los. Para que os valores do segundo o Artigo 15-6 do Código Uniforme de Justiça
Exército tenham algum significado, é preciso internali- Militar dos EUA sobre as circunstâncias que levaram
zá-los, personificá-los e vivenciá-los. Podemos e deve- a um caso de sequestro e morte horrível, afirmou que
mos ser melhores que isso. seria preciso um “comandante especial” para impedir a
Um poderoso exemplo da mentalidade de “slogan” ocorrência desse terrível incidente (por causa do clima
dos nossos valores do Exército ocorreu em 2005, duran- depreciativo na unidade depois do amplamente divul-
te a corte marcial de um soldado acusado de empurrar gado estupro e assassinato de uma menina iraquiana).
um iraquiano de uma ponte sobre o rio Tigre. Durante Quando lhe perguntaram se o Exército possuía esses
a fase de sentença da corte marcial do soldado, o tenen- “comandantes especiais”, ele respondeu: “sim, mas muito
te-coronel Nate Sassaman, o comandante do batalhão, poucos apenas”7. Como cultivar e desenvolver esses sol-
depôs que todos os integrantes do batalhão portavam dados e líderes especiais para atuarem em um ambiente
um cartão “baseado nos valores do Exército” e “sabiam complexo e moralmente ambíguo que provavelmente
os valores do Exército — de trás para frente — e os se- persistirá por alguns anos ainda?
permanente. Por exemplo, podemos treinar (trans- Nossa meta precisa ser a de intencionalmente criar
ferindo habilidades e competências) um líder em oportunidades e estabelecer as condições para que os
técnicas de acompanhamento (mentorship). Podemos soldados entendam e internalizem as quatro etapas de
ensinar (transferindo conhecimentos) a um líder o desenvolvimento moral de James Rest9:
processo de desenvolvimento humano por trás dessas • reconhecimento moral;
mesmas técnicas de acompanhamento. Por fim, po- • discernimento moral;
demos desenvolver (mudanças duradouras na identi- • intenção moral;
dade, perspectivas e sistema de criação de significado • ação moral.
de uma pessoa) líderes ao criar uma identidade em Precisamos desenvolver soldados que sejam mais
que eles veem a si próprios como mentores e forma- complexos intelectual e moralmente e que tenham a co-
dores de líderes8. ragem moral de agir segundo suas crenças e valores. Isso
Os soldados revelam o seu caráter pelo seu é mais fácil falar do que fazer. Os programas de sucesso
comportamento — no contexto do seu dia-a-dia e “começam com um modelo que inclui a dimensão cogni-
enquanto exibem sua competência. Um bom teste tiva, afetiva e comportamental… e uma programação tão
do caráter dos soldados é como eles se comportam variada quanto o esclarecimento de valores, a discussão
quando algo dá errado. O caráter não se revela em de dilemas morais, a dramatização e a resolução de con-
um vazio. O conceito de “caráter” está visível no que flitos”. Além disso, há indícios de que “o desenvolvimento
fazemos o tempo todo (embora muitas vezes não moral possa continuar durante a idade adulta e que
pensemos nesses termos). Assim, nosso Exército mudanças especialmente drásticas possam ocorrer em
precisa desenvolver moralmente líderes éticos para jovens adultos no contexto da educação profissional… O
as contingências complexas. desenvolvimento moral e ético ocorre em vários contex-
Como as pessoas desenvolvem o caráter? As tos, tanto formais quanto informais”10.
pesquisas dessa área mostram resultados variados. Nosso Exército precisa criar esses contextos formais
Um poderoso método pedagógico, proposto por Lee e informais e praticar (por meio da dramatização e
Knefelkemp, da Universidade Columbia, em Nova do ensaio) a intenção moral e a ação moral. A maior
York, é fazer com que as pessoas saiam da sua zona lacuna no modelo de Rest é a etapa entre as intenções
de conforto — fazer com que se sintam incomodadas morais e as ações morais. Muitas vezes, nossos soldados
mediante debates sobre assuntos que elas não queiram sabem qual é o certo a fazer, mas (com frequência devi-
discutir. Esse processo provoca uma dissonância cog- do a um sentido distorcido de lealdade) não têm a co-
nitiva na mente das pessoas, que desafia suas crenças e ragem moral para de fato fazê-lo. Há muitos exemplos
leva à mudança. dos nossos conflitos atuais (os espancamentos na base
O Exército precisa adotar uma visão holística do aérea de Bagram, Abu Ghraib, Operação Iron Triangle);
desenvolvimento de caráter. Um modelo comum utili- os soldados sabiam qual era o certo a fazer, mas não o
zado para o desenvolvimento é descrito a seguir: fizeram. Toner observa que esse problema fundamen-
tal tem uma solução: “Um importante problema com
o ensino de ética é que ele não pode ser colocado em
Novos Conhecimentos
compartimentos perfeitos e convertido em resultados
de aprendizagem sonoros e desejados… Não existe uma
solução “mágica” — nenhuma bússola ética sempre se-
Reflexão Experiências de
gura. Devemos ensinar o raciocínio moral, e não apenas
Desenvolvimento
‘valores centrais’ ou ‘listas de conferência éticas’”11.
Albert Bandura descreveu a escolha de não fazer por uma série de prismas éticos (voltados para o re-
nada (ou fazer vista grossa) como um ato de “desco- sultado, voltados para regras/processos, voltados para
nexão moral”: valores). Ao expô-los a operações táticas, multitarefas
Em palavras simples, a “desconexão moral” é e complexas, devemos incorporar variáveis moral-
o que acontece com as pessoas quando elas mente intensas à equação. Devemos buscar fazer com
recebem uma carga além da sua capacidade que os soldados saiam de suas zonas de conforto, gerar
emocional e psicológica. Seus corpos, psiques, ansiedade e exigir que tomem decisões difíceis que
mentes e almas se desconectam dos eventos não tenham uma resposta necessariamente certa, mas
à sua volta e elas se tornam alheias, em um que tenham consequências.
estado quase de dissociação. Se não for con- A orientação (coaching) e o acompanhamento (refle-
trolada, a pessoa “reinterpretará” ou utilizará xão orientada) de qualidade devem ser contínuos du-
uma lógica forçada para justificar comporta- rante todo o processo. Um líder, orientador ou mentor
mentos amorais12. deve ajudar os alunos a encontrar significado em suas
A presente era de conflito persistente sobrecarrega experiências e examinar suas percepções e decisões. Os
e continuará a sobrecarregar os soldados além de sua líderes e orientadores também devem transmitir suas
capacidade emocional e psicológica: experiências sem julgar. Escolhemos a palavra “orien-
Para desenvolver o bom caráter, os alunos tador”, e não professor ou conselheiro, porque a forma
precisam de várias oportunidades diferentes como se transmite a mensagem é importante. Para que
para aplicar valores como responsabilidade alguém mude, é preciso que se desenvolva, e isso exige
e justiça em interações e discussões diárias… realismo, experiência e repetição. O ponto-chave é que
Por meio de repetidas experiências morais, os o treinamento é ineficaz quando se tenta desenvolver
alunos… desenvolvem e praticam as habili- as pessoas. “Só depois que o ‘líder em treinamento’ é
dades morais e os hábitos comportamentais obrigado a passar por um problema e resolvê-lo em
que compõem o aspecto da ação do caráter… primeira mão é que ele absorve a lição”14.
em uma comunidade moral e que aprende, na Essa ideia não é nova. A integração do treina-
qual todos compartilham da responsabilidade mento, ensino e desenvolvimento em um modelo ho-
pelo ensino de caráter e buscam aderir aos lístico de desenvolvimento de competência começa a
mesmos valores centrais13. infiltrar-se na cultura do Exército. Nosso Exército se
Como se criam as experiências de desenvolvimento movimenta lentamente em direção a um modelo de
e se introduzem os novos conhecimentos para desen- treinamento e desenvolvimento de liderança adap-
volver os soldados moral e eticamente? Não é difícil, tável. Por causa da complexidade cada vez maior do
mas leva tempo, raciocínio e acompanhamento. Um campo de batalha moderno, os soldados e os líderes
ponto de partida é oferecer aos soldados experiências devem tomar decisões extremamente importan-
simuladas do mundo real, semelhantes às pistas de tes em uma fração de segundo, que têm efeitos de
exercício tático, e acrescentar contextos e situações segunda e de terceira ordem e, às vezes, estratégicos.
realistas a serem enfrentados; desenvolver problemas Não devem ser treinados em habilidades específicas,
do mundo real com os quais eles precisem lidar; criar mas desenvolvidos para possuir certas características
oportunidades para que os soldados e líderes prati- e traços — os soldados e líderes terão de ser ágeis
quem a tomada de decisões éticas e analisem cenários física, mental, social e emocionalmente — e possuir
Soldados do Gabinete de Relações Públicas ouvem um graduado na Estação de Segurança Conjunta Zafaraniya, leste de Bagdá, Iraque,
18 de abril de 2009. (Exército dos EUA, Sgt James Selesnick)
colegas quanto a esses temas difíceis e incômodos é uma diferente nas mentes dos comandantes. Os comandantes
das técnicas de desenvolvimento mais eficazes. Somos compreenderão que, se deixarem de desenvolver o caráter
limitados nessa área apenas pela nossa imaginação e de seus soldados de forma adequada e plena, estabelecerão
não precisamos reservar um período de instrução de condições para o fracasso.
uma hora para iniciar essas discussões.
Garantir que os soldados de uma unidade verdadeira- Como Mudar uma Cultura
mente tenham caráter (e sejam competentes) é uma res- A mudança que defendemos seria uma transfor-
ponsabilidade de liderança e comando em seu nível mais mação revolucionária na cultura do Exército, não uma
básico. Como a maioria dos “problemas” no Exército, esse é transformação gradual ou metódica. Para que ela seja efi-
simplesmente um problema de liderança. Historicamente, caz, os líderes dos escalões mais elevados da organização
“os comandantes são responsáveis por tudo que uma teriam de exigi-la. Esses líderes precisam criar, direcionar
unidade faz ou deixa de fazer”. Esse é um conceito sim- e impulsionar essa mudança para assegurar que ela afete
ples, mas poderoso. Curiosamente, em termos de aceitar todas as facetas dos sistemas de desenvolvimento e ensi-
responsabilidade pelo ambiente e comportamento de “ca- no de liderança do Exército17. O atual status quo separa o
ráter” de uma unidade, podemos aprender algo dos nossos desenvolvimento de competência do baseado em caráter.
companheiros de armas da Marinha. Se nosso Exército O novo paradigma sempre desenvolverá a competência
adotasse o conceito da Marinha de que “se um navio enca- e o caráter simultaneamente — aumentando, assim, o
lha, o comandante é o responsável”, criaria um paradigma tempo gasto no desenvolvimento do caráter.
Depois da mudança cultural, a competência e o facilitar essas conversas incômodas. Entretanto, boa
caráter passarão a fazer parte de tudo o que fizermos. parte da estratégia para implantar essa mudança é
Como um guia para impulsionar essa mudança, propo- “simplesmente fazê-lo”. Precisamos estabelecer as
mos que se utilizem os oito passos de John Kotter para condições e criar oportunidades para os soldados
mudar a cultura de uma organização: pensarem sobre a forma como entendem questões di-
1. estabelecer um sentido de urgência (de cima para fíceis, como o assassinato, a tortura, o estupro, e como
baixo e de baixo para cima); elas são relacionadas com detentos e estrangeiros. Os
2. criar uma coalizão orientadora (para iniciar e con- soldados precisam testar e desafiar seus pensamentos,
tinuar o processo); crenças e valores. Esse simples primeiro passo será, na
3. desenvolver uma visão e estratégia para integrar o realidade, um enorme passo rumo a tratar da mudan-
caráter e a competência; ça cultural que propomos.
4. comunicar a visão de mudança utilizando os líderes Se o Exército decidir realizar essa mudança
mais antigos; cultural, economizará na verdade tempo e dinheiro.
5. possibilitar a ação de base ampla ao remover obstá- A economia líquida ocorrerá porque os soldados não
culos à mudança; terão mais de entrar em salas de aula ou auditórios
6. gerar ganhos de curto prazo integrando o ensino de para assistirem a treinamentos referentes a ética.
caráter em nossos currículos; Nosso Exército se transformará em uma profissão
7. consolidar os ganhos e produzir mais mudança em que o treinamento, ensino e desenvolvimento de
(integrando o ensino de caráter em nossos canais caráter e competência ocorrerão simultaneamente
de treinamento); — e o resultado será soldados que entendem e
8. fixar novas abordagens na cultura desafiando ou- internalizam o que significa ser um soldado america-
tros na organização a falar sobre a mudança18. no. Por fim, nosso Exército e nossa nação se benefi-
Haverá uma curva de aprendizado pronuncia- ciarão de tal mudança. É a coisa certa a fazer e agora
da para os instrutores e líderes sobre como criar e é a hora de fazê-lo.
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