Gas Ideal Bosons
Gas Ideal Bosons
Gas Ideal Bosons
Essas notas estão baseadas no capítulo 7 do livro do Pathria (ref. 2) e capítulo 7 do Sethna
(ref. 3), capítulo 6 do Gould&Tobochnik (ref. 1), capítulo 3 da Vauclair (ref. 4), capítulo 10
do Salinas (ref. 5) e no artigo The elusive chemical potential, R. Baierlein, Am. J. Phys.
Como zemos para o caso dos férmions, podemos inicialmente escrever as equações fun-
X
ln Z(T, V, µ) = − ln {1 − exp [−β (j − µ)]} (1)
j
pressão como
1
p(T, µ) = −kB T lim Z(T, V, µ) (2)
V →∞ V
Bose-Einstein ) ca
1
hnj i = (3)
eβ(j −µ) −1
X X 1
N= hnj i = (4)
j j
eβ(j −µ) −1
X X 1
U= j hnj i = j (5)
j j
eβ(j −µ) − 1
1
Já comentamos no capítulo anterior que, para um gás de bósons, o potencial químico
necessariamente tem que ser negativo ou nulo. Para temperaturas altas, essa condição é
evidente. Para baixas temperaturas, o potencial químico pode se anular. Essa situação gera
efeitos físicos inesperados que discutiremos aqui. O fato do potencial químico ser negativo
reete a tendência dos bósons (ideais) de acumularem-se nos estados de uma partícula, e, a
Vamos discutir dois exemplos de gás ideal de bósons que permitem explorar as consequên-
cias físicas da estatística quântica de sistemas de partículas com spin inteiro. Temos duas
situações bem distintas, uma quando o número de partículas não é xo porque as partículas
tem massa zero e, portanto, energia de ponto zero, com partículas existindo virtualmente.
Vamos considerar um gás de bósons não-interagentes que possuem massa. Nesse caso, o
O melhor sistema para isso é um gás de átomos, com spin total inteiro, bosônicos, por-
tanto. Não vamos analisar o problema em detalhe, mas apenas desenvolver o suciente para
podermos ter uma percepção da física envolvida. Para isso, vamos considerar um sistema de
p2 −∇2
h= = (6)
2m 2m
~
eik·~r
ψ= (7)
V
2
~k 2
= (8)
2m
( 3/2 )
h2
µ 1N 1 3
= ln = ln nλ (9)
kB T 2V 2πmkB T 2 T
nλ3T 1 (10)
Efeitos quânticos começam a aparecer quando o sistema ca menos diluído e/ou a tem-
peratura aumenta. Quando nλ3T é pequeno mas não desprezível, temos que considerar os
efeitos quânticos. A situação ca mais drástica quando nλ3T ca da ordem da unidade. Nesse
caso, a distinção entre férmions e bósons se faz necessária. A gura 1 mostra o potencial
químico em função da temperatura para uma densidade xa, onde podemos observar quando
dendo da concentração e da massa das partículas), o potencial químico atinge o valor nulo.
Enquanto isso não é um problema para férmions, esse é o limite máximo para bósons. Clara-
mente, nessas circunstâncias, a equação 9 não é mais válida. Na prática, a medida que a
um condensado.
3
Figura 1: Potencial químico em função da temperatura para uma densidade xa para férmions
e bósons livres. A linha cheia indica o limite clássico. A temperatura T0 indica o início da
condensação de Bose-Einstein. Extraído da ref. 5.
ˆ ∞
g()
N (µ) = d (11)
0 e(−µ)/kT −1
não pode superar o valor de menor energia que um único átomo pode ter, o que nesse caso é
zero. Logo, µ deve sempre ser negativo. Para um grande número de partículas, aumentamos
4
Para bósons livres em três dimensões, o valor de N (µ) converge para um valor nito. O
número máximo de partículas que pode estar contido na caixa, na aproximação contínua da
ˆ
cont g()
Nmax = d
e/kT
−1
ˆ ∞ √
V m3/2
= √ d
/kT
2
2π ~ 0 3 e −1
√ !3 ˆ ∞ √
2πmkT 2 z
= V √ z
dz
h π 0 e −1
V
= ζ(3/2) (12)
λ3T
onde ζ é a função zeta de Riemann (caso especial das funções de Bose-Einstein que
em um volume de de Broglie.
A questão que nos interessa é o que acontece quando tentamos introduzir ainda mais
partículas. Na prática, o que fazemos não é acrescentar mais partículas, mas trabalhar com
crítica, Tc ,
3/2
h2
N
kTc = (13)
2πm V ζ(3/2)
químico aproxima-se do menor valor de energia possível, a diferença entre esses dois valores é
muito menor que a diferença de energia entre o estado fundamental e o primeiro estado exci-
5
falha. Na prática, com a aproximação contínua, estávamos desprezando a participação do
estado fundamental, o qual agora tem a tendência a acomodar um grande número de partícu-
las. Na verdade, ele absorve o número excedente de partículas em relação àquele calculado
a uma certa temperatura na aproximação contínua. Essas partículas vão se encontrar todas
no estado fundamental, com a mesma fase, e o que temos é uma transição de fase, formando
um condensado de Bose-Einstein.
Vamos examinar em mais detalhe o que acontece nesse limite. Para isso, retomamos nossa
pV X
= ln Z = − ln(1 − ze−βj ) (14)
kB T j
6
X 1
N= (15)
j
z −1 eβj −1
O gás de átomos está contido em uma caixa. Utilizando as condições de contorno per-
estados
m √
g()d = 2md (16)
2π 2 ~3
dos estados. Aqui está o ponto delicado de nossa aproximação. Ao somarmos (integrarmos)
na energia, estamos atribuindo um peso zero para os estados com = 0. Embora essa
estratégia não é um problema no limite semi-clássico, uma vez que estamos falando de apenas
um estado em relação a uma innidade de outros, a situação torna-se crítica quando estamos
no limite degenerado. Para gases de bósons, um grande número de partículas pode encontrar-
se no estado fundamental e não é possível desprezar o peso estatístico desse estado. Temos
que corrigir essa contribuição. Para isso, vamos extrair esse estado da somatória antes de
ˆ ∞
p 2π √ 1
= − 3 (2m)3/2 d ln(1 − ze−β ) − ln(1 − z) (17)
kB T h 0 V
ˆ ∞ √
N 2π 1 z
n= = 3 (2m)3/2 d + (18)
V h 0 z −1 eβ −1 V 1−z
O limite da integral foi extendido a zero uma vez que, como vimos, essa contribuição tem
peso nulo na integral. Vamos examinar agora em mais detalhe o último termo que destacamos
da somatória.
7
Para z 1, no limite semi-clássico, cada termo é da ordem de 1/N e, portanto, é
uma fração signicativa de N/V . Note que os termos da eq. 18 referem-se ao número de
N0 1 z
= (19)
V V 1−z
ˆ ∞ √
Ne 2π
= 3 (2m)3/2 d
−1 β
(20)
V h 0 z e −1
N0
z= (21)
(N0 + 1)
1 1
ln(1 − z) = ln(N0 + 1) ≈ 0(N −1 ln N ) (22)
V V
ˆ ∞
p 2 3/2 √
= − λ
1/2 T
dx x ln(1 − ze−x )
kB T π
0 ˆ
3 ∞ x3/2
2
3/2 2 3/2 −x ∞
= − 1/2 λT x ln(1 − ze )|0 − dx
π 3 2 0 z −1 ex − 1
ˆ ∞
4 x3/2 1
= 1/2
dx
−x
= 3 g5/2 (z) (23)
3π 0 1 − ze λT
8
Figura 3: Funções gν (z). Extraído da ref. .
e,
ˆ ∞
N − N0 2 3/2 x1/2 1
= 1/2 λT dx = g3/2 (z) (24)
V π 0 z −1 ex − 1 λ3T
ˆ ∞
1 xν−1 z2 z3
gν (z) = dx = z + + + ... (25)
Γ(ν) 0 z −1 ex − 1 2ν 3ν
∂ 2 ∂ pV
U = − ln Z|z,V = kT
∂β ∂T kT z,V
d 1 3 V
= kT 2 V g5/2 (z) 3
= kT 3 g5/2 (z) (26)
dT λT 2 λT
9
Combinando as equações, temos,
2
pV = U (27)
3
relação a N ). Com isso, podemos eliminar z se zermos uma inversão da série da eq. 24 e a
substituirmos na equação 23. A equação de estado toma a forma de uma expansão virial (já
∞ l−1
λ3T
p X
= al (28)
nkT l=1
v
onde v = 1/n é o volume por partícula (já denido anteriormente) e os coecientes al são
a1 = 1
1
a2 = − √ = −0, 17678
4 2
2 1
a3 = − √ − = −0, 00330
9 3 8
3 5 1
a4 = − + √ − √ = −0, 00011
32 32 2 2 6
etc ... (29)
cV 1 ∂U 3 ∂ pV
= =
N kB N kB ∂T N,V 2 ∂T N kB v
∞ 3
l−1
3 X 5 − 3l λT
= al
2 l=1 2 v
10
" 3 3 2 3 3 #
3 λT λT λT
= 1 + 0, 0884 + 0, 0066 + 0, 0004 + ... (30)
2 v v v
altas (condição de validade desses resultados) o calor especíco tem um valor maior do que o
seu valor limite ou seja o calor especíco tem uma derivada negativa para temperaturas altas.
No entanto, o calor especíco deve ir para zero quando T → 0, temos que ter um máximo
em algum ponto. Isso vai acontecer exatamente na temperatura crítica (quando o potencial
calor especíco com a temperatura sendo descontínua. Examinaremos esse ponto mais tarde.
A medida que a temperatura diminui, a expansão do virial não é mais possível. Temos
que voltar às equações anteriores. Para encontrarmos z temos de utilizar a equação 24, que
(2πmkB T )3/2
Ne = V g3/2 (z) (31)
h3
onde Ne é o número de partículas nos estados excitados ( 6= 0). Exceto no caso em que
z é muito próximo da unidade, Ne ' N . z tem como valor limitante a unidade. A medida
que T → 0, temos
N0 N
z= → (32)
N0 + 1 N +1
que é muito próximo da unidade (mas inferior). O valor de g3/2 (z)cresce monotonicamente
com z, como vimos, sendo limitada ao seu valor máximo para z = 1,
1 1
g3/2 (1) = 1 + + + ... ≡ ζ(3/2) ' 2, 612 (33)
23/2 33/2
11
V
Ne ≤ ζ(3/2) ≡ Nmax (34)
λ3T
que é o valor encontrado anteriormente. Temos agora uma imagem mais precisa do que
acontece. Enquanto o número de partículas for inferior ao número máximo, temos Ne ' N e
o potencial químico é determinado pela equação 31. Quando o número de partículas excede
o valor máximo, não é mais possível para os estados excitados absorverem partículasa. Essas
V
N0 = N − ζ(3/2) (35)
λ3T
e o potencial químico é
N0 1
z= '1− (36)
N0 + 1 N0
quântico (na ausência de interações) e (b) ela ocorre no espaço dos momentos e não no espaço
de coordenadas espaciais.
(2πmkB )3/2
N > V T 3/2 ζ(3/2) (37)
h3
2/3
h2
N
T < Tc = (38)
2πmkB V ζ(3/2)
12
(i) uma fase normal formada por Ne = N (T /Tc )3/2 partículas distribuídas nos estados
excitados, e
fundamental.
é z/(1 − z) ≈ 0(1), que é desprezível quando comparado com N. A situação muda para
3/2
N0 T 3 Tc − T
=1− ≈ (39)
N Tc 2 Tc
A gura mostra a dependência de z com a temperatura (na verdade, com v/λ3T , a variável
da expansão do virial, que é proporcional a T 3/2 ).
Figura 4: Frações da fase normal e da fase condensada para o gás ideal em fução da temper-
atura. Extraído da ref. 2.
13
Figura 5: Fugacidade, z, para um gás de Bose-Einstein em função de (v/λ3T ). Extraído da
ref. 2.
(p, T ) mantendo v xo. Para T < Tc , a pressão é obtida da equação 23, fazendo z = 1,
kB T
p(T ) = ζ(5/2) (40)
λ3T
3/2
2πm
p(Tc ) = (kB Tc )5/2 ζ(5/2) (41)
h2
ζ(5/2)
p(Tc ) = (nkB Tc ) ' 0, 5134(nkB Tc ) (42)
ζ(3/2)
14
temperaturas acima da temperatura crítica,
g5/2 (z)
p = nkB T (43)
g3/2 (z)
λ3T h2
g3/2 (z) = =n (44)
v (2πmkB T )3/2
forma do calor especíco a volume constante. Ele diminui com a temperatura, indo a zero
na gura 7.
15
Figura 6: Pressão e energia interna de um gás de Bose-Einstein em função da temperatura.
Extraído da ref. 2.
16
Figura 7: Calor especíco de um gás de Bose-Einstein em função da temperatura. Extraído
da ref. 2.
A condensação de Bose-Einstein foi prevista por Einstein, baseado nos trabalhos de Bose,
em 1924-1925. As primeiras manifestações desse efeito foram identicados com a fase su-
peruida do He4 , em 1938, por F. London. A razão disso foi a identicação da variação
do calor especíco do He4 com a temperatura e sua comparação com a previsão teórica. A
17
Figura 8: Medidas do calor especíco do hélio a volume constante nas vizinhanças do ponto
crítico (λ). Interessante observar a precisão com que a temperatura crítica pode ser denida.
(gura extraída da ref. 5, baseada no artigo de M.J. Buckingham e W.M. Fairbank, publicado
no Progress in Low Temperature Physics, vol. 3, editado por C.J. Gorter, North Holland,
1961).
cos, por E. A. Cornell, W. Ketterle e C.E. Wieman, trabalhando com metais alcalinos (rubídio
e sódio).Para atingirem esse estado, foi necessário reduzir a temperatura para valores da or-
dem do nano-kelvin. Por esse trabalho eles ganharam o prêmio Nobel em 2001. A gura 9
18
Figura 9: Condensação de Bose-Einstein. Extraído de
http://nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/2001/public.html
Nota nal : A discussão que zemos aqui indica que não é possível formar fases de con-
densado de Bose-Einstein com partículas que não conservam seu número, como os fótons. No
entanto, recentemente, (J. Klaers, J. Schmitt, F. Vewinger e M. Weitz, Nature 468, 545 (25
nov. 2010)), foi observado a condensação de Bose-Einstein em fótons. Como isso é possível?
Só há uma forma: os fótons devem estar em uma situação onde seu número se conserva. Isso
19
quantização do campo eletromagnético, temos um sistema de fótons não-interagentes (dentro
de uma boa aproximação), cada um com uma energia hν , onde ν é a frequência da radiação.
O sistema mantém-se em equilíbrio pela interação dos fótons com as parades do recipiente
que o contém. Os átomos podem emitir e absorver fótons, de forma que o número total de
fótons não é mantido. Quando um corpo em equilíbrio térmico emite radiação, chamamos
de radiação de corpo negro e o objeto um corpo negro. O nome origina-se na radiação que
depende apenas da temperatura T. A lei de radiação do corpo negro foi derivada por Planck
canônico. A não-conservação do número de fótons faz com que o potencial químico anule-se.
Há várias maneiras de compreendermos esse resultado. A mais direta é partir do fato que o
equilíbrio é estabelecido pelas interações entre os fótons e os átomos das paredes do recipi-
ente. Portanto, o número de fótons N não pode ser imposto externamente (pelo contato com
um reservatório de fótons, por exemplo), mas sim, xado pela temperatura T das paredes
precisamos saber sobre o gás de fótons em equilíbrio térmico pode ser conhecido sabendo-se a
temperatura e o volume. ou seja, a entropia pode ser escrita em função de T, V . Com isso, a
função de T, V - pode ser expressa em função de S e V. Com isso, a energia livre, F , também
não depende explicitamente de N, mas apenas de T, V : F (N (T, V ), T, V ) → F (T, V ). N não
é uma variável termodinâmica e toda derivada da energia livre com S e V constantes deve ser
1
hnj i = (45)
eβj −1
Uma discussão mais ampla sobre o potencial químico anular-se no caso dos fótons pode
20
ser encontrado no artigo de R. Baierlein (Am. J. Phys. 69, 423 (2001)).
equilíbrio. A radiação emitida reetirá essa distribuição. Para isso, precisamos calcular a
densidade de estados por unidade de energia para esse sistema (a mesma grandeza g() que
= ~ω (46)
e,
2
~k 2 = ω (47)
c2
d ~
k
2 2V
g(ω)dω = (4πk ) dω (48)
dω (2π)3
É comum para fótons escrevermos g(ω) em vez de g(). Temos então uma densidade de
estados por unidade de frequência. Observe que gω (ω)dω = g ()d, e, portanto, gω = ~g .
Os termos da expressão 48 são facilmente identicáveis: o primeiro termo é a superfície de
~
uma esfera de raio k , o segundo termo é a espessura da casca nessa superfície, contendo
os estados no intervalo dω, o terceiro termo é o número de estados de um único fóton por
d ~
k
1
= (49)
dω c
e então,
21
V ω2
g(ω) = (50)
π 2 c3
~ωg(ω)
u(ω)dω = dω
e~ω/kT −1
~ ω3
= dω (51)
π 2 c3 e~ω/kT − 1
Planck, mais utilizada na sua forma ~ = h/2π . A gura 10 mostra a radiação de corpo-negro
calculada por Planck (e de acordo com os dados experimentais) e o resultado obtido por
Figura 10: Espectro demissão da radiação de corpo-negro calculado por Planck e por
Rayleigh-Jeans. Extraído da ref. 3.
22
Para baixas frequências, temos,
~ω
e~ω/kT − 1 ≈ (52)
kT
kT
uRJ (ω)dω = V ω 3 dω
π 2 c3
= kT g(ω) (53)
energia de ~ω leva a uma supressão da ocupação dos estados mais energéticos por um fator
23
Referências
[1] Harvey Gould e Jan Tobochnik, Statistical and Thermal Physics, Princeton Uni-
[2] Pathria,
[3] James P. Sethna, Statistical Mechanics: Entropy, Order Parameters, and Com-
24