F604 JAB 1s2011 8 GasClassicoCanonico PDF
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Essas notas estão baseadas no capítulo 6 do Salinas (ref. 1) e no capítulo 7 do Greiner (ref.
2) e capítulos 7 (seções 7.2 a 7.7) e 10 (seções 10. 3 10.5) do Reif (ref. 3), além de outras
O objetivo desse capítulo é estudar um pouco mais em detalhe as propriedades dos gases
clássicos, detalhando alguns resultados para o caso do gás clássico ideal (partículas não-
interação entre as partículas (gás real). Aproveitaremos também para discutir o teorema do
hamiltoniano
N
X p2i X
H= + V (|~ri − ~rj |) (1)
i=1 2m i<j
onde V (r) (r = |~ri − ~rj |) é um potencial entre pares. Essencialmente, ele é formado por
atrativa que se anula de maneira sucientemente rápida para r→∞ (necessariamente mais
rapidamente do que r−1 uma vez que a origem do potencial é eletrostática e blindada pelos
efeitos de interação entre as várias outras cargas presentes). Um exemplo típico, e que já
" 6 #
σ 12 σ
VLJ (r) = 4 − (2)
r r
1
Figura 1: Potencial de Lennard-Jones, uLJ (r) (VLJ (r) no texto) onde r é a distância entre as
partículas.
mente, os sólidos são considerados como esferas rígidas com raio r0 /2. A distância mínima
2
Figura 2: Potencial de Sutherland. Aqui R0 substitui r0 , respectivamente, no texto. (extraído
da ref. 3)
innito - impenetrável - nas paredes mas que não está explícito na hamiltoniana 1.
Vamos examinar esse sistema clássico na descrição de ensemble canônico. Para isso,
ˆ ˆ ˆ ˆ
1 3 3 3 3
Z= ... d r1 ...d rN ... d p1 ...d pN exp (−βH) (4)
N !h3N
sobre as coordenadas de momento é trivial, similar ao gás ideal (não há nenhuma difer-
conhecidas:
ˆ ∞
!1/2
βp2
!
2πm
dp exp − = (5)
−∞ 2m β
e então,
3
!3N/2
1 2πm
Z= QN (6)
N! βh2
onde,
ˆ ˆ
3 3
X
QN = ... d r1 ...d rN exp −β V (|~ri − ~rj |) (7)
V V i<j
A grande diculdade no tratamento dos gases reais está justamente no termo QN . Antes
de aprofundarmos nessa discussão, vamos explorar o caso mais simples, e que já tratamos em
Para o caso do gás clássico ideal, onde não há interação entre as partículas e toda a energia
ensemble canônico. No capítulo 6 (anterior), discutimos esse caso. Dentro da nossa descrição
QN = V N (8)
e a função de partição é
!3N/2
VN 2πm
Zideal = (9)
N! βh2
A partir de Zideal podemos prosseguir da mesma forma que zemos no capítulo 6, que
reproduzimos a seguir apenas para termos uma descrição completa da nossa discussão.
!3/2
V 2πmkT
F (T, V, N ) = −kT ln Z(T, V, N ) = −N kT 1 + ln (10)
N h2
4
!
∂F N kT
p=− = ⇒ pV = N kT (11)
∂V T,N
V
! !3/2
∂F 5 V 2πmkT
S=− = N k + ln (12)
∂T V,N
2 N h2
! ( !)
∂F V 2πmkT
µ=− = −kT ln (13)
∂N T,V
N h2
3
U = F + T S = N kT (14)
2
X
x = lim (15)
N →∞ N
mos mais utilizar a mecânica clássica e só conseguimos uma descrição correta utilizando a
5
Figura 3: Dependência da entropia com a temperatura para um gás ideal monoatômico
clássico. (extraído da ref. 1)
βp2
!
1
p(~v )d3 v = V exp − 3
d p (16)
Z1 2m
onde,
ˆ !3/2
βp2
!
3 2πm
Z1 = V d p exp − =V (17)
2m β
Temos então,
!−3/2
βp2
!
2πkT
p(~v )d3 v = exp − (18)
m 2m
6
Essa distribuição de probabilidade depende apenas do módulo da velocidade. Logo,
direções e ob10ter,
βp2
3/2 !
m
p(~v )d3 v 2
→ p(v)4πv dv = exp − 4πv 2 dv = p0 (v)dv (20)
2πkT 2m
velocidade (em módulo) mais provável, ṽ , pode ser encontrada maximizando p0 (v),
dp0
|ṽ = 0
dv
mv 2 3 mv 2
" ! ! #
m 3/2 m
⇒ 4π − exp − v + exp − 2v =0
2πkT kT 2kT 2kT ṽ
m 3
⇒ − ṽ + ṽ = 0
2kT
!1/2
2kT
⇒ ṽ = (21)
m
ˆ ∞ 3/2 ˆ ∞
mv 2 3
!
m
< v >=< |~v | >= dvp0 (v)v = 4π dv exp − v (22)
0 2πkT 0 2kT
3/2 !2 ˆ ∞
m 2kT 1
−y
hvi = 4π dye y
2πkT m 2 0
3/2 !2
m 2kT 1
= 4π Γ(2)
2πkT m 2
7
!1/2
8kT
= (23)
mπ
ˆ ∞ 3/2 ˆ ∞ 2
!
m mv
D E
v2 = 2
dvp0 (v)v = 4π dv exp − v4
0 2πkT 0 2kT
!2 ˆ ∞
m 3/2 2kT 1
−y 3/2
= 4π dye y
2πkT m 2 0
3/2 !2
m 2kT 1
= 4π Γ(5/2)
2πkT m 2
3kT
= (24)
m
3√
onde utilizamos Γ(5/2) = 23 Γ(3/2) = 31
22
Γ(1/2) = 4
π . Podemos escrever então,
s
q 3kT
hv 2 i = (25)
m
para as várias médias calculadas, normalizadas para a velocidade mais provável (igual a 1).
q
Vemos que ṽ < hvi < hvi.
A energia cinética média por partícula é,
1 D E 3
hεK i = m v 2 = kT (26)
2 2
D E D E D E 1 D 2 E kT
vx2 = vy2 = vz2 = v = (27)
3 m
8
molecular de um gás como o ar será de aproximadamente 500 m/s (próximo da velocidade
do som).
Nosso objetivo aqui é encontrarmos relações envolvendo a energia média hEi = U , mais
tição de Energia para um sistem físico (como o gás clássico) a uma temperatura T. Consid-
9
∂H
xi ∂x k
, onde xi e xk são duas variáveis arbitrárias de coordenadas ou momenta:
* + ˆ
∂H 1 6 ∂H
xi = 3N d xρ(~
x)xi (28)
∂xk h ∂xk
onde ρ(~x) é a densidade de probabilidade no espaço de fase. Essa média pode ser calcu-
lada em qualquer um dos ensembles. Para uma demonstração utilizando o ensemble micro-
canônico, ver a seção 7.13 da ref. 2. Vamos utilizar aqui o ensemble canônico (ver refs. 2 e
4):
* + ˆ
∂H 1 6 −βH ∂H
xi = d xe xi (29)
∂xk Zh3N ∂xk
Podemos escrever,
∂H 1 ∂ −βH
e−βH =− e (30)
∂xk β ∂xk
* + ˆ " #xmax ˆ
∂H 1 6N −1 1 k
δik
xi = d xxi − e−βH + dx
6N −βH
e (31)
∂xk Zh3N β xmin
β
k
são invertidos (para os gases) e o potencial é innito de tal forma que e−βH → 0. Se
considerássemos, por exemplo, um sistema de osciladores clássicos, então não temos recipiente
e xmin
k → −∞ e xmax
k → ∞ é permitido mas nesse caso V (x) → ∞ e e−βH → 0 mais
* +
∂H δik
xi = = δik kT (32)
∂xk β
10
D E
∂H
Esse é o resultado desejado. A expressão xi ∂x k
só tem valor não-nulo para i = k.
Vamos analisar agora cada caso. Consideremos primeiramente que xi é uma coordenada qν .
Das equações de movimento de Hamilton,
∂H ∂H
= = −ṗi (33)
∂xi ∂qi
e,
* +
∂H
xi = − hqi ṗi i = − hqi Fi i = kT (34)
∂xk
uma vez que ṗi é a i-ésima componente da força generalizada Fi . Para xi como coordenada
de momento, temos
∂H ∂H
= = q˙i (35)
∂xi ∂pi
e,
* +
∂H
xi = hpi q̇i i = kT (36)
∂xk
Mas a grandeza pi q̇i nada mais é do que duas vezes a energia cinética em uma certa
3
hTi i = kT (37)
2
Da mesma forma, podemos escrever a equação 34 para uma partícula em três direções,
na forma vetorial,
D E
− ~ri · F~i = 3kT (38)
11
* + * + * +
X ∂H X X
xi =− qi ṗi = − qi Fi = 3N kT (39)
i ∂xk i i
e,
* + * +
X ∂H X
xi = pi q̇i = 3N kT (40)
i ∂xk i
N
* +
1 X 3
hT i = − ~ri · F~i = N kT (41)
2 i=1 2
A equação 38é o virial de Clausius e mede a média da energia potencial, da mesma forma
potencial V (~ri ),
*N + *N +
~ri · F~i = − ~ i
X X
− ~ri · ∇V (42)
i=1 i=1
Vamos assumir que a hamiltoniana só possui termos quadráticos (embora seja um caso
especial, constitui-se um caso especial de grande importância). Nesse caso, podemos escrever
a hamiltoniana na forma
3N
Aν p2ν + Bν qν2
X
H= (43)
ν=1
3N
!
X ∂H ∂H
2H = pν + qν (44)
ν=1 ∂pν ∂qν
12
3N 3N
( * + * +)
1 X ∂H X ∂H
hHi = pν + qν (45)
2 ν=1 ∂pν ν=1 ∂qν
f = 6N ), então temos,
1
hHi = f kT (46)
2
Do ponto de vista físico, nem sempre os graus de liberdade podem ser livremente excitados.
A uma certa temperatura T , alguns graus de liberdade podem estar congelados, isto é, não há
energia térmica suciente para excitá-los. Esses graus de liberdade não contribuiriam para a
energia interna (e, consequentemente, para o calor especíco). Quanto maior a temperatura,
maior será a validade do teorema. Temos então que cada termo quadrático (ou harmônico)
1
na hamiltoniana tem uma contribuição de
2
kT para a energia interna do sistema e, conse-
1
quentemente, uma contribuição de
2
k para o calor especíco CV . Mantendo a nomenclatura
em termos de graus de liberdade, temos o teorema de equipartição de energia, que pode ser
sintetizado na forma na média, cada grau de liberdade do sistema a uma temperatura T tem
1
uma energia térmica 2 kT . O teorema de equipartição de energia é um caso especial do
teorema do virial para potenciais quadráticos. Para a energia cinética apenas, o teorema de
O teorema do virial pode ser obtido da mecânica clássica. Para isso, calcula-se a média
temporal ao longo da trajetória no espaço de fase. O nosso resultado foi obtido fazendo
uma média sobre o ensemble canônico (poderia ter sido feito uma média no ensemble mi-
crocanônico, com o mesmo resultado). A comparação entre os dois resultados nos permite
validar a igualdade entre as médias temporais e sobre ensembles (teorema ergódico). Esse é
13
um dos poucos casos em que isso é possível. Para derivar o resultado da mecânica clássica,
X
G= p~i · ~ri (47)
i
dG X
= p~˙ i · ~ri + p~i · ~r˙ i (48)
dt i
dG
F~i · ~ri + 2T
X
= (49)
dt i
ˆ t
dG 1 dG
= lim dt (50)
dt t→∞ t
0 dt
e,
1
~ri · F~i = lim {G(t) − G(0)}
X
2T + (51)
t→∞ t
i
Para uma certa energia dada, G(t) é uma função limitada em todos os tempos e o valor
1X
T =− ~ri · F~i (52)
2 i
que é novamente o teorema do virial mas obtido por meio de uma média temporal na
14
8.4.1 Teorema do virial no gás ideal
Vamos considerar agora o teorema do virial aplicado no caso do gás ideal. Da equação 41
temos
*N +
~ri · F~i = 3N kT
X
− (53)
i=1
A força F~i em uma partícula no gás ideal é exclusivamente fornecida pelas paredes do
recipiente, quando o momento é invertido. Ela pode ser expressa em termos da pressão do
~
gás. Vamos chamar de dF
0
a força média exercida por todas as partículas incidentes em um
~ , ou seja, dF~
elmento de superfície dS
0 ~
= pdS ~ é para o exterior). Então,
(a orientação de dS
~
dF = −dF~ 0 = −pdS
~ ~ das paredes do recipiente no
é a força média exercida pelo elemento dS
*N + ˛
~ri · F~i = −p ~
X
~r · dS (54)
i=1
˛ ˆ ˆ
−p ~ = −p
~r · dS 3 ~
d r∇ · ~r = −3p 3
d r = −3pV (55)
e então,
pV = N kT (56)
h i qi ṗi i,
P
Devemos ainda mencionar o teorema virial de Clausius (1870), para a grandeza
que é o valor esperado da soma sobre o produto de todas as coordenadas das várias partículas
do sistema com as forças respectivas agindo sobre elas. Essa grandeza é conhecida como o
que
15
V = −3N kT (57)
e temos então,
V = −2K (58)
Vamos retornar agora para o problema inicial, dos gases reais, quando a interação entre as
partículas não pode ser desprezada. Essencialmente, essa é a situação quando a densidade
!3N/2
1 2πmkT
Z(T, V, N ) = QN
N! h2
onde,
ˆ ˆ ˆ
3 3 3N
X Y
QN = ... d r1 ...d rN exp −β V (|~ri − ~rj |) = d r exp {−βVik } (59)
V V i<j i,k,i<k
Para Vik = 0 temos o caso dos gases ideais já discutido. Queremos considerar agora o
caso em que Vik 6= 0. A melhor forma de iniciarmos essa análise, é considerarmos situações
que diferem pouco dos gases ideais, ou seja, com interações fracas entre as partículas (mas
não mais desprezíveis). Nesse caso, considerando que βVik 1, então, exp {−βVik } ≈ 1, e
podemos escrever
onde fik 1. A expansão apropriada será em torno de fik , na medida que fik → 0 para
16
hrik i → ∞ ou para T → ∞. Podemos agora calcular o produto
Y X X
(1 + fik ) = 1 + fik + fik flm + ... (61)
i<k i<k i<k,l<m
Vamos considerar apenas os dois primeiros termos. Os termos de ordem superior podem
ser calculados utilizando diversas técnicas que podem ser encontrados em diversas referências
ˆ
3N
X
QN (V, T ) ≈ d r 1 + fik
i<k
ˆ ˆ
N N −2 3 3
X
= V +V d ri d rk (exp {−βVik − 1}) (62)
i<k
O primeiro termo, V N, nada mais é do que o termo dos gases ideais. O termo seguinte é
a primeira correção dos gases reais em relação aos gases ideais, ou seja, a primeira correção
ˆ
N N −1 N (N − 1) 3
QN (V, T ) = V +V d r (exp {−βV (r)} − 1) (63)
2
uma vez que temos N (N − 1)/2 pares de partículas com i<k que dão a mesma con-
ˆ ˆ
3
a(T ) = d r (exp {−βV (r)} − 1) = 4π dr (exp {−βV (r)} − 1) (64)
!3N/2 "
N2
#
1 2πmkT
Z(T, V, N ) ≈ VN + V N −1 a(T )
N! h2 2
17
aN 2
∂F ∂ N kT 2
p(T, V, N ) = − |T,N = (kT ln Z) = − kT 2 Va N 2
∂V ∂V V 1+ 2 V
N kT aN a 2 1 a 1
≈ 1− = kT ρ − ρ = kT − (65)
V 2V 2 v 2 v2
Caso tivéssemos guardado termos de ordem superior na equação 61, teríamos um resultado
do tipo
1 1 1
p = kT + B2 (T ) 2 + B3 (T ) 3 + ... (66)
v v v
onde B2 (T ) = a(T )/2, e os demais termos têm que ser calculados (essa expansão é
ˆ r0 ˆ ∞
( 6 ) !
r0
2 2
a(T ) = 4π r dr(−1) + 4π r dr exp βu0 −1 (67)
0 r0 r
( 6 ) 6
r0 r0
exp βu0 ≈ 1 + βu0
+ ...
r r
ˆ ∞ 6
4π 3 r0
⇒ a(T ) ≈ − r0 + 4πβu0 r2 dr
3 r0 r
4π
≈ − r03 (1 − βu0 ) (68)
3
2πr03
( )
kT u0
p= 1+ 1− (69)
v 3v kT
18
Podemos ainda escrever na forma,
!−1
2πr03 u0 2πr03 2πr03
! !
kT kT
p+ = 1+ ≈ 1− (70)
3v 2 v 3v v 3v
onde zemos a aproximação baseado no fato que o volume 4πr03 /3 dos átomos é pequeno
comparado com o volume por partícula, v. Isso é válido para baixas densidades. A equação
a
p+ (v − b) = kT (71)
v2
2π 3
a= r u0 (72)
3 0
2π 3
b= r (73)
3 0
19
Figura 5: Dependência de B2 com a temperatura T. A curva denomindada clássica refere-
se ao cálculo utilizando o potencial de Lennard-Jones. As outras curvas foram calculadas
para o He e o H2 incluindo correções quânticas. Resultados experimentais foram incluídos
(símbolos) para vários gases. (extraído da ref. 3)
20
Referências
[1] Sílvio R. A. Salinas, Introdução à Física Estatística, EdUSP, 1997.
[2] Walter Greiner, Ludwig Neise e Horst Stöcker, Thermodynamics and Statistical
1965.
21