Crime Revista Guarda Municipal Ilicitude PDF

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Campinas/SP

6º Ofício

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 9ª VARA FEDERAL DA 5ª


SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CAMPINAS/SP






Processo n. 5009665-50.2020.4.03.6105
PAJ n. 2020/018-02550


JOSÉ NOBRES e MARCELO FERREIRA DA SILVA, já qualificados nos autos em
epígrafe, vem, respeitosamente, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO,
apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS


com fulcro no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos a
seguir dispostos:

I - BREVE RELATÓRIO

Trata-se de denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra ambos os
réus como incursos nas penas do art. 2°, caput e § 1°, da Lei n. 8.176/91 e art. 55 da Lei n.
9.605/98, em concurso formal (id. 254470985).
Narra a denúncia que, no dia 7 de setembro de 2020, na Estrada do Campo
Redondo, nas imediações da intersecção com a Rua 31, próximo à margem do Rio Capivari
em Campinas/SP, os réus teriam extraído, explorado e comercializado areia, pertencente
à União, sem autorização dos órgãos minerários e ambiental.

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6º Ofício

A inicial acusatória foi recebida em 24 de junho de 2022 (id. 254882475). A citação


de Marcelo Ferreira da Silva ocorreu em 9 de agosto de 2022, via WhatsApp (id.
259628050), e de José Nobres no dia 17 de agosto de 2022 da mesma forma (id.
260026646).
A Defensoria Pública da União apresentou resposta à acusação no id. 260540965.
No dia 14 de março de 2023, em audiência de instrução, foram ouvidas as
testemunhas comuns ALEXSANDER NUNES DE BARROS e MARCO CÉSAR VALÉRIO DE
SOUZA e realizado o interrogatório dos réus (termo de audiência de id. 278698712 e
mídias de id. 278781373, 278781376, 278781378, 278781381 e 278781384).
Nada tendo sido requerido na fase do art. 402, do CPP, foi aberta vista às partes
para apresentação de alegações finais por memoriais.
É o que basta relatar.

II – PRELIMINARMENTE

2.1. DA TEMPESTIVIDADE E PRERROGATIVA DO PRAZO EM DOBRO

Preliminarmente, em que pese certidão indicando que decorreu o prazo simples
de 5 (cinco) dias para os réus apresentarem suas alegações finais, como eles estão sendo
assistidos pela Defensoria Pública da União e os prazos deste órgão são computados em
dobro, na forma do art. 44, I, da LC 80/94, não houve decurso de prazo.
Acrescenta-se ao exposto o fato de que, ainda que houvesse escoado, trata-se de
prazo impróprio, na forma de pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
CONVERSÃO DO JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA E SUSPENSÃO DO FEITO. FALTA
DE INTERESSE DE AGIR DO PACIENTE. DILIGÊNCIA JÁ DEFERIDA EM PRIMEIRO
GRAU. POSSIBILIDADE DE POSTERIOR OFERECIMENTO DE DENÚNCIA CONTRA
O SUPOSTO CO-AUTOR. INTEMPESTIVIDADE DAS ALEGAÇÕES FINAIS
APRESENTADAS PELO PARQUET. MERA IRREGULARIDADE. PRAZO
IMPRÓPRIO. PRONÚNCIA. INDÍCIOS. IN DUBIO PRO SOCIETATE. [...] III - A
apresentação intempestiva das alegações finais pelo Ministério Público
configura mera irregularidade, pois o prazo especificado no Código de
Processo Penal é impróprio. [...] (HC n. 123.544/ES, relator Ministro Felix
Fischer, Quinta Turma, julgado em 4/6/2009, DJe de 3/8/2009 – grifado)

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Portanto, não há dúvidas de que esta peça é tempestiva.



2.2. DA ILICITUDE DA PROVA DA MATERIALIDADE OBTIDA MEDIANTE PATRULHAMENTO REALIZADO
POR GUARDAS MUNICIPAIS FORA DE SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS E SEM PODER DE POLÍCIA.


Conforme o auto de prisão em flagrante, no dia 7 de setembro de 2020, por volta
das 16h, os réus foram levados à Delegacia da Polícia Federal pela Guarda Municipal de
Campinas (pág. 2 do id. 38230045).
Contudo, pelos depoimentos dos guardas municipais prestados no dia do ocorrido,
eles patrulhavam o local por razões que não se enquadram nas suas atribuições legais e
acabaram se deparando com os fatos narrados na denúncia.
A discussão acerca dos limites da atuação das guardas municipais no âmbito da
repressão criminal é antiga. A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, diante da
preocupante constatação de que o escopo das guardas municipais vem sendo
significativamente desvirtuado na prática, reforçou o entendimento de que a guarda
municipal, por não estar entre os órgãos de segurança pública previstos pela
Constituição Federal, não pode exercer atribuições das polícias civis e militares,
devendo sua atuação se limitar à proteção de bens, serviços e instalações do município,
conforme estabelecido pela Constituição.
De fato, a Constituição Federal, em seu § 8º do art. 144, estabeleceu a possibilidade
de criação das guardas municipais, com os limites de sua atuação: “Os Municípios poderão
constituir guardas municipais, destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações,
conforme dispuser a lei”.
Desta forma, o texto constitucional limita expressamente a atuação das guardas
municipais à proteção de seus bens, serviços e instalações, assim estabelecendo que não
possuem a mesma amplitude de atuação das polícias.

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Afinal, os guardas municipais não foram elencados pelo constituinte no rol de


órgãos responsáveis por exercer a segurança pública e zelar pela preservação da ordem
pública, elencados nos incisos I a V do art. 1441.
Nesse sentido, Diógenes Gasparini dispõe que:

O disposto nesse parágrafo [art. 144, § 8º/CF] é de uma clareza meridiana,
dispensando assim qualquer interpretação. As guardas municipais só podem
existir se destinadas à proteção de bens, serviços e instalações do Município. Não
lhes cabem, portanto, os serviços de polícia ostensiva, de preservação da ordem
pública, de Polícia Judiciária e de apuração das infrações penais. Aliás, essas
competências foram essencialmente atribuídas à Polícia Militar e à Polícia Civil.2

O ministro relator, Rogério Schietti Cruz (REsp 1977119), expôs que as polícias
civis e militares estão sujeitas a um rígido controle correcional externo do Ministério
Público e do Poder Judiciário, que é uma contrapartida do exercício da força pública e do
monopólio estatal da violência. Por outro lado, as guardas municipais respondem apenas,
administrativamente, aos prefeitos e às suas corregedorias internas. Por conta disso, seria
potencialmente caótico autorizar que cada um dos municípios brasileiros tenha sua
própria polícia, subordinada apenas ao comando do prefeito local e insubmissa a qualquer
controle externo.
No que se refere à busca pessoal, Gustavo Badaró expõe que:

há consenso no sentido de que os guardas municipais não podem realizar
buscas pessoais. Por expressa previsão constitucional, cabem-lhes apenas a
proteção de bens, serviços e instalações municipais, não lhes sendo atribuída
nenhuma função de prevenção ou investigação de crimes.3

1 Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes
órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital.
2 Gasparini, Diógenes. As guardas municipais na Constituição de 1988. Revista de Informação Legislativa,

Brasília, ano 29, n. 113, jan.-mar. 1992. p. 241


3 BADARÓ, Gustavo. Processo Penal, São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021, p. 598-599.

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Desse modo, em conformidade com entendimento do Superior Tribunal de Justiça


(REsp 1977119), ainda que presente a fundada suspeita da posse de corpo de delito, a
busca pessoal só poderia ser realizada pelos agentes pertencentes aos órgãos estatais com
atribuição para a segurança pública e a prática de diligências probatórias criminais
invasivas, o que não é o caso, em regra, das guardas municipais:

RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO DE DROGAS. ATUAÇÃO DAS GUARDAS
MUNICIPAIS. BUSCA PESSOAL. AUSÊNCIA DE RELAÇÃO CLARA, DIRETA E
IMEDIATA COM A TUTELA DOS BENS, SERVIÇOS E INSTALAÇÕES MUNICIPAIS.
IMPOSSIBILIDADE. PROVA ILÍCITA. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 157 E 244 DO CPP.
RECURSO PROVIDO.
1. A Constituição Federal de 1988 não atribui à guarda municipal
atividades ostensivas típicas de polícia militar ou investigativas de polícia
civil, como se fossem verdadeiras “polícias municipais”, mas tão somente
de proteção do patrimônio municipal, nele incluídos os seus bens, serviços
e instalações. A exclusão das guardas municipais do rol de órgãos
encarregados de promover a segurança pública (incisos do art. 144 da
Constituição) decorreu de opção expressa do legislador constituinte –
apesar das investidas em contrário – por não incluir no texto constitucional
nenhuma forma de polícia municipal. [...]
5. A adequada interpretação do art. 244 do CPP é a de que a fundada suspeita
de posse de corpo de delito é um requisito necessário, mas não suficiente,
por si só, para autorizar a realização de busca pessoal, porque não é a
qualquer cidadão que é dada a possibilidade de avaliar a presença dele; isto é,
não é a todo indivíduo que cabe definir se, naquela oportunidade, a suspeita era
fundada ou não e, por consequência, proceder a uma abordagem seguida de
revista. Em outras palavras, mesmo se houver elementos concretos
indicativos de fundada suspeita da posse de corpo de delito, a busca
pessoal só será válida se realizada pelos agentes públicos com atribuição
para tanto, a quem compete avaliar a presença de tais indícios e proceder
à abordagem do suspeito. [...]
7. Da mesma forma que os guardas municipais não são equiparáveis a policiais,
também não são cidadãos comuns. Trata-se de agentes públicos com atribuição
sui generis de segurança, pois, embora não elencados no rol de incisos do art.
144, caput, da Constituição, estão inseridos § 8º de tal dispositivo; dentro,
portanto, do Título V, Capítulo III, da Constituição, que trata da segurança pública
em sentido lato. Assim, se por um lado não podem realizar tudo o que é
autorizado às polícias, por outro lado também não estão plenamente reduzidos
à mera condição de “qualquer do povo”; são servidores públicos dotados do
importante poder-dever de proteger o patrimônio municipal, nele incluídos os
seus bens, serviços e instalações.
8. É possível e recomendável, dessa forma, que exerçam a vigilância, por
exemplo, de creches, escolas e postos de saúde municipais, de modo a garantir
que não tenham sua estrutura física danificada ou subtraída por vândalos ou
furtadores e, assim, permitir a continuidade da prestação do serviço público
municipal correlato a tais instalações. Nessa esteira, podem realizar
patrulhamento preventivo na cidade, mas sempre vinculados à finalidade
específica de tutelar os bens, serviços e instalações municipais, e não de reprimir
a criminalidade urbana ordinária, função esta cabível apenas às polícias, tal como
ocorre, na maioria das vezes, com o tráfico de drogas.

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9. Não é das guardas municipais, mas sim das polícias, como regra, a competência
para patrulhar supostos pontos de tráfico de drogas, realizar abordagens e
revistas em indivíduos suspeitos da prática de tal crime ou ainda investigar
denúncias anônimas relacionadas ao tráfico e outros delitos cuja prática não
atinja de maneira clara, direta e imediata os bens, serviços e instalações
municipais. Poderão, todavia, realizar busca pessoal em situações absolutamente
excepcionais – e por isso interpretadas restritivamente – nas quais se demonstre
concretamente haver clara, direta e imediata relação de pertinência com a
finalidade da corporação, isto é, quando se tratar de instrumento imprescindível
para a tutela dos bens, serviços e instalações municipais. Vale dizer, só é possível
que as guardas municipais realizem excepcionalmente busca pessoal se houver,
além de justa causa para a medida (fundada suspeita de posse de corpo de
delito), relação clara, direta e imediata com a necessidade de proteger a
integridade dos bens e instalações ou assegurar a adequada execução dos
serviços municipais, o que não se confunde com permissão para realizarem
atividades ostensivas ou investigativas típicas das polícias militar e civil para
combate da criminalidade urbana ordinária.
10. Na hipótese dos autos, os guardas municipais estavam em patrulhamento
quando depararam com o recorrente sentado na calçada, o qual, ao avistar a
viatura, levantou-se e colocou uma sacola plástica na cintura. Por desconfiar de
tal conduta, decidiram abordá-lo e, depois de revista pessoal, encontraram no
referido recipiente certa quantidade de drogas que ensejou a prisão em flagrante
delito.
11. Ainda que eventualmente se considerasse provável que a sacola ocultada
pelo réu contivesse objetos ilícitos, não estavam os guardas municipais
autorizados, naquela situação, a avaliar a presença da fundada suspeita e
efetuar a busca pessoal no acusado. Caberia aos agentes municipais,
apenas, naquele contexto totalmente alheio às suas atribuições, acionar os
órgãos policiais para que realizassem a abordagem e revista do suspeito, o
que, por não haver sido feito, macula a validade da diligência por violação
do art. 244 do CPP e, por conseguinte, das provas colhidas em decorrência
dela, nos termos do art. 157 do CPP, também contrariado na hipótese.
12. Recurso especial provido.
(REsp 1977119, 2021/0391446-0, MINISTRO ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Sexta
Turma, STJ, 16 de agosto de 2022 – grifado)

O colegiado considerou que só em situações absolutamente excepcionais a guarda
pode realizar a abordagem de pessoas e a busca pessoal, ou seja, somente quando a ação
se mostrar diretamente relacionada à finalidade da corporação.
Na mesma linha, o art. 9º, da Lei n. 13.675/2018, que estabeleceu o Sistema Único
de Segurança Pública, trouxe também a ressalva de que as guardas municipais devem se
ater aos limites de suas competências:

Art. 9º É instituído o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), que tem como
órgão central o Ministério Extraordinário da Segurança Pública e é integrado
pelos órgãos de que trata o art. 144 da Constituição Federal, pelos agentes
penitenciários, pelas guardas municipais e pelos demais integrantes
estratégicos e operacionais, que atuarão nos limites de suas competências, de
forma cooperativa, sistêmica e harmônica. (grifado)

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No caso em tela, os guardas municipais realizaram busca pessoal nos réus,


bem como no caminhão de posse de um deles, em patrulhamento com a finalidade
de localizar produtos de furtos ou roubos de veículos particulares, o que não se
enquadra nas suas atribuições legais, já que não há correlação com o patrimônio
municipal.
De fato, ao serem questionados acerca do referido, eles disseram:

Depoimento de ALEXSANDER NUNES DE BARROS: [Como o senhor
chegou ao local? O que estava fazendo antes da abordagem?] Ali a gente
tinha denúncia de que estava ocorrendo ali desmanche de veículo
roubado e furtado; [Tinha alguma denúncia sobre extração de areia?]
Não, estávamos patrulhando e nós tínhamos denúncia de que ali estava
ocorrendo desmanches de veículos e produtos ilícitos e durante essa
patrulha nos deparamos com a situação que não sabíamos que estava
acontecendo [...]
[O senhor chegou a revista-los?] Sim, fizemos uma busca ali e não
encontramos mais nada de ilícito, além do crime ambiental (mídias de id.
278844356 e 278844354 – grifado)

Depoimento de MARCO CÉSAR VALÉRIO DE SOUZA: [Como o senhor
chegou a esse local?] Essa área específica é uma área, de final semana,
é patrulhamento constante que você acaba encontrando veículo
abandonado, veículo roubado, furtado; então é uma área que é de
abandono de veículo e coincidentemente nós ouvimos o barulho que
não é normal dentro do rio […] mas estávamos sim em patrulhamento
por ser uma área de desova de veículo. [...]
[O senhor ou o seu colega chegaram a revistar os envolvidos e o
caminhão?] É de praxe, pela nossa própria segurança a gente faz uma
revista pra ver se não existe nenhum tipo de armamento; […] é feito a
revista normal, dentro da legalidade, sem problema nenhum […]; o
caminhão principalmente, as bolsas das pessoas que estavam ali no
local foram tudo revistado e averiguado e não foi achado nada de
ilícito (mídia de id. 278844364 – grifado).

Portanto, os guardas municipais não poderiam ter feito a busca e revista pessoal
dos réus, nem mesmo nos seus bens já que, conforme exposto, não possuem poder de
polícia e são destinados somente à proteção de bens, serviços e instalações do município.
Uma vez reconhecida a ilegalidade da diligência, devem ser consideradas ilícitas as
provas da materialidade do delito, e os réus devem ser absolvidos, por ausência de
materialidade delitiva, nos termos do art. 157, do Código de Processo Penal e do art. 5.º,
inciso LVI, da Constituição Federal.

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2.3. DA AUSÊNCIA DE PROVAS CONTUNDENTES DA MATERIALIDADE. FALTA DE LAUDO PERICIAL QUE


TRATE DOS DANOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELOS RÉUS NO CASO CONCRETO. IN DUBIO PRO REO.


As únicas provas coligidas da materialidade dos delitos consistem na Informação
Técnica n. 019/2020 e no Laudo n. 450/2020, os quais, contudo, não tratam
especificamente dos danos ambientais causados pelos réus.
Com efeito, a Informação Técnica n. 019/2020 - NUTEC/DPF/CAS/SP (págs. 25 a
28 do id. 38230045) se limitou a concluir que: “conforme exames realizados no local, este
apresenta todas as características e equipamentos necessários para extração de areia” (pág.
28 do id. 38230045).
Já o Laudo de Perícia Criminal (Laudo n. 450/2020 – NUTEC/DPF/CAS/SP) (págs.
6 a 14 do id. 48219415) realizou uma análise geral da área, mas não mensurou
especificamente os danos causados pelos réus, tendo apenas mensurado o dano
ambiental presente no local. Por fim, atribuiu valor para a restauração de todo o dano
ambiental causado na área, o qual não é responsabilidade exclusiva dos réus. Vejamos:

Foram constatados danos causados em APP em aproximadamente 570 m2, o
que leva ao custo de restauração de R$ 5.130,00 (cinco mil, cento e trinta
reais).
A tabela SINAPI da Caixa Econômica Federal, de Março de 2019, estabelece um
valor de R$ 59,00 por metro cúbico de areia e considerando o material
encontrado no local, obtém-se o montante de R$ 177,00 (cento e setenta e sete
reais).
Com isso o valor mínimo do dano ambiental causado pela atividade é de R$
5.307,00 (cinco mil e trezentos e sete reais).
Para recuperação da área degradada é necessário que seja elaborado um Plano
de Recuperação de Área Degradada (PRAD), custeado pelo causador do dano
ambiental, apresentado ao órgão ambiental competente para aprovação (pág. 14
do id. 48219415).

Ora, não há provas de que os réus foram responsáveis pela devastação
ambiental de 570 metros quadrados, até porque um dos guardas municipais que já
havia visitado o local antes afirmou que há um espaço queimado e um bairro de
invasão até a beira do rio, além de a água ser de esgoto, já contaminada:

Depoimento de MARCO CÉSAR VALÉRIO DE SOUZA: [Como era o local em
que localizado esse caminhão e essa draga?] Doutora, o local é horrível,
insalubre, uma água pobre, mau cheiro, fizemos um favor para a

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pessoa de tirá-los dali, pois a contaminação com certeza estava


pegando ali, era água pobre, água de esgoto; [...] foi aberta uma
clareira, já foram localizados vários veículos que foram queimados
no local, aproveitaram o espaço que já estava queimado e já fizeram
a entrada, dá a entrada para um bairro de invasão, aí fizeram a picada
até a beira do rio. (mídia de id. 278844364 – grifado).

Ora, o laudo pericial deveria ter se limitado a analisar o dano especificamente
causado pelos réus, entretanto, tão somente apresentou genericamente os danos
advindos de extração de areia já realizada naquele rio. Assim sendo, não fez o essencial,
que seria analisar de forma concreta quais danos teriam sido causados pela ação dos réus
e diferenciá-los dos danos que já existiam anteriormente no local.
A área em questão se trata de local em que ocorre constantemente a extração de
areia há um tempo. Inclusive, o réu MARCELO FERREIRA DA SILVA expressou em seu
interrogatório judicial que nem mesmo sabia da necessidade de autorização
ambiental para extração de areia ali, visto que a prática é comum na área. Ele
também relatou que o dia em que foram abordados pelos guardas era o primeiro dia em
que conseguiram extrair alguma areia do rio.

Interrogatório de MARCELO FERREIRA DA SILVA: [...] ali eles sempre mexem
com areia ali, eu não sei hoje, mas até hoje eles devem mexer ali ainda,
porque o pessoal tira muito na pá ali né.
[...]
[Esse dia em que o senhor foi preso foi o primeiro dia de extração de areia?] sim,
nos outros dias a gente não conseguiu não (mídia de id. 278844368 – grifado).

Ora, o próprio laudo expõe que não é possível estimar a quantidade total de
areia extraída pela draga em questão ou quando a atividade teve início (pág. 12 do
id. 48219415), e acaba por atribuir valor a todo o dano constatado no local, o qual, com
toda certeza, não pode ser atribuído exclusivamente aos réus:

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Além de os laudos não terem detalhado os danos ambientais supostamente
causados pelos réus, não tendo havido a obtenção de imagens por satélite do local
logo antes do dia do delito, as próprias testemunhas da acusação não se lembravam
especificamente deles:

Depoimento de ALEXSANDER NUNES DE BARROS: não se recorda da
fisionomia deles (mídias de id. 278844356 e 278844354 – grifado)

Depoimento de MARCO CÉSAR VALÉRIO DE SOUZA: [sobre se recorda da
fisionomia deles] foi passado muito tempo, não me lembro bem deles
[...] (mídia de id. 278844364 – grifado).

Nesse ponto, interessante citar, com propriedade ímpar, as palavras de Aury Lopes
Jr.:

A partir do momento em que o imputado é presumidamente inocente, não lhe
incumbe provar absolutamente nada. Existe uma presunção que deve ser
destruída pelo acusador, sem que o réu (e muito menos o juiz) tenha qualquer
dever de contribuir nessa desconstrução (...). O juiz, que deve ter por hábito
profissional a imparcialidade e a dúvida, tem a tarefa de analisar todas as
hipóteses, aceitando a acusatória somente se estiver provada e, não a aceitando,
se desmentida ou, ainda que não desmentida, não restar suficientemente
provada. É importante recordar que, no processo penal, não há distribuição de
cargas probatórias: a carga da prova está inteiramente nas mãos do
acusador (...). O processo penal define uma situação jurídica em que o problema
da carga probatória é, na realidade, uma regra para o juiz, proibindo-o de
condenar alguém cuja culpabilidade não tenha sido completamente
provada. Ao lado da presunção de inocência, como critério pragmático de
solução da incerteza (dúvida) judicial, o princípio do in dúbio pro reo corrobora
a atribuição da carga probatória ao acusador e reforça a regra de julgamento
(não condenar o réu sem que sua culpabilidade tenha sido suficientemente
demonstrada).4

Na mesma esteira, compartilha a jurisprudência pátria, representada pelos
julgados abaixo:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. EXPOSIÇÃO A
PERIGO DE AERONAVE. DENÚNCIA. REJEIÇÃO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
RECURSO NÃO PROVIDO. 1. A justa causa para a ação penal está relacionada com
a existência de indícios de autoria e materialidade do delito. A máxima in dubio
pro societatis deve ser interpretada à luz do principio da presunção de inocência,

4 LOPES Jr., Aury. Direito Processual Penal. 10. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2013, pag. 549 – 550.

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sob pena de constrangimento ilegal, haja vista as notórias consequências


negativas da conversão da condição de investigado para réu em uma ação penal.
2. No caso, as provas que instruem a inicial acusatória não contêm indícios
mínimos a respeito da presença do dolo na conduta da acusada,
constatação feita primu icto oculi. 3. Recurso em sentido estrito não provido.
(RSE 0023062-28.2015.4.01.3800 / MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL NEY
BELLO, TERCEIRA TURMA, e-DJF1 de 31/05/2016 – grifado)

PENAL. PROCESSO PENAL. USO DE SELO FALSIFICADO. ART. 296, § 1º, I, DO
CÓDIGO PENAL. ALTERAÇÃO DA CAPITULAÇÃO FEITA NA SENTENÇA
APELADA. DOLO. PROVA INSUFICIENTE. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. IN DUBIO
PRO REO. ABSOLVIÇÃO CONFIRMADA. 1. As circunstâncias fáticas descritas na
denúncia, amoldam-se ao tipo penal descrito no art. 296, § 1º, I, do Código Penal,
como defendido pelo apelante. 2. Todavia, as provas dos autos não fornecem
um juízo de certeza acerca da presença do dolo na conduta do agente.
Dúvida que prevalece em favor do acusado. 3. Alteração do fundamento da
absolvição para o art. 386, VII, do Código de Processo Penal. 4. Apelação
parcialmente provida.
(ACR 0023131-12.2005.4.01.3800 / MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
I'TALO FIORAVANTI SABO MENDES, Rel.Conv. JUÍZA FEDERAL ROSIMAYRE
GONÇALVES DE CARVALHO (CONV.), QUARTA TURMA, e-DJF1 p.261 de
21/10/2015 – grifado)

Diante do exposto, não se mostra razoável atribuir a responsabilidade de todo o
dano ambiental que o local apresenta somente aos réus, visto que, segundo a própria
denúncia, só teriam extraído areia do rio em apenas um dia e pelo período da manhã (até
por volta 13h55min, conforme pág. 5 do id. 38230045) e, não havendo provas
contundentes da materialidade do dano ambiental causado por eles, devem ser
absolvidos, nos termos do art. 386, incisos V e VII do CPP, e em face também do princípio
do in dubio pro reo.

III – DO MÉRITO. ERRO DE PROIBIÇÃO QUANTO AO RÉU MARCELO FERREIRA DA
SILVA

Ainda que se ultrapassem os argumentos supramencionados, é importante
salientar que, conforme prova dos autos, MARCELO FERREIRA DA SILVA acreditava que
a atividade de extração de areia era legal, até porque era realizada por outras muitas
outras pessoas no local. Desse modo, está presente a figura jurídica do erro de proibição,
exigindo-se a aplicação do art. 21, do CP:

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6º Ofício

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato,


se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um
terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem
a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
ou atingir essa consciência.

Com efeito, o desconhecimento sobre a ilicitude do fato fica claro a partir da análise
do interrogatório do Defendente. Vejamos:

Interrogatório de MARCELO FERREIRA DA SILVA: [...] não sabia que
precisava de autorização, mas não tinham autorização; ali eles sempre
mexem com areia, eu não sei hoje, mas até hoje eles devem mexer ali
ainda, porque o pessoal tira muito na pá ali né. (mídia de id.
278844368 – grifado).

A própria testemunha da acusação, ALEXSANDER NUNES DE BARROS, ressaltou
que os réus não informaram se sabiam a respeito da necessidade de autorização
ambiental:

Depoimento de ALEXSANDER NUNES DE BARROS: [sobre se falaram que
sabiam que precisava de autorização ambiental] não informaram.
(mídias de id. 278844356 e 278844354 – grifado)

Portanto, percebe-se que MARCELO FERREIRA acreditava que estava apenas indo
trabalhar e que tal atividade era lícita, tanto que chegou a comprometer as suas finanças,
comprando um caminhão e equipamentos, não havendo dúvidas quanto ao erro de
proibição.
Cabe destacar a valiosa lição de Paulo Queiroz5:

Dá-se o erro sobre a ilicitude do fato ou erro de proibição sempre que o agente
supõe praticar uma conduta legal ou legítima, mas que em verdade configura
ilícito penal. Enfim, há erro de proibição sempre que o autor carecer da
consciência da ilicitude do fato.
No erro de proibição, portanto, o agente erra quanto ao caráter proibido de sua
conduta, ao supor lícita uma ação ilícita. [...]

5 Curso de direito penal: parte geral. Vol. 1. 9ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador, BA: Editora JusPodivm, 2013,

p. 275.
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6º Ofício

Repise-se: MARCELO FERREIRA é pintor e estudou até a oitava série, não


possuindo, ao tempo da ação, noção do caráter ilícito da conduta, e nem poderia, de
outro modo, conhecê-lo, já que outras pessoas atuavam com extração de areia no local.
Assim, é imperioso o reconhecimento da exclusão da culpabilidade, excluindo,
portanto, a prática de crime. Nesse sentido, cabe trazer à colação a jurisprudência do
Tribunal Regional da 4ª Região, in litteris:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES AMBIENTAL E CONTRA A ORDEM
ECONÔMICA. LEIS 8.176/91 E 9.605/98. EXPLORAÇÃO DE BASALTO.
AUTORIZAÇÕES. [...] Ausente demonstração de que o réu tivesse ciência de que
agia irregularmente por não ter licenças vigentes para exploração mineral no
momento da fiscalização, e havendo prova de que tinha licenças ambientais e
autorização do DNPM no período anterior, bem como obteve novas autorizações
pouco tempo após os fatos, em decorrência de requerimentos antes formulados,
mantém-se a sentença absolutória. (TRF4, ACR 5005158-10.2012.404.7104,
SÉTIMA TURMA, Relator MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, juntado aos autos em
02/09/2016)

PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 55 DA LEI Nº 9.605/98. EXTRAÇÃO DE
SUBSTÂNCIAS MINERAIS SEM A COMPETENTE LICENÇA. CRIME DE
USURPAÇÃO DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO. ART. 2º DA LEI Nº 8.176/91.
CONCURSO FORMAL. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS. ERRO DE
PROIBIÇÃO. OCORRÊNCIA. MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO. 1. Materialidade e
autoria da lavra não autorizada de pedras basalto, devidamente comprovadas
pelas provas dos autos. 2. As circunstâncias do caso concreto revelam que o
réu não tinha consciência da ilicitude de sua conduta, razão pela qual deve
ser acolhida a incidência de erro de proibição, mantendo-se a sua
absolvição. (TRF4, ACR 0009108-94.2007.404.7102, SÉTIMA TURMA, Relator
NÉFI CORDEIRO, D.E. 16/09/2010 – grifado)

Percebe-se, portanto, que a boa-fé de MARCELO FERREIRA e o
desconhecimento da ilicitude da conduta está plenamente caracterizado. Diante
disso, por estar demonstrado o erro inevitável sobre a ilicitude do fato, deve-se
reconhecer a excludente de culpabilidade e isentá-lo de pena.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. INVASÃO DE TERRAS DA UNIÃO. ART. 20 LEI
4.947/1966. ATIPICIDADE DE CONDUTA. ABSOLVIÇÃO. ARTS 50-A E 38 DA
LEI 9.605/98. DESMATAMENTO.COMPROVAÇÃO. I - A jurisprudência tem
entendido que o núcleo do tipo previsto no art. 20 da Lei 4.947/1966 é invadir,
isto é, entrar à força, penetrar, fazer incursão, dominar, tomar, usurpar terra que
sabe pertencer à União, Estados ou Municípios. Tendo o agente adquirido terra
pública mediante instrumento de compra e venda, tido como legal, ausente o tipo
objetivo de "invadir". II - O núcleo do tipo penal do art. 50-A abrange não só
o "desmatar", mas especialmente "sem autorização do órgão competente".
Ora, se o réu ignorava serem as terras de propriedade da União, logo,

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6º Ofício

desnecessária seria prévia autorização. Absolvição que se impõe, quanto


aos dois crimes. III - Quanto ao crime previsto no art. 38 da Lei Ambiental, a
área desmatada estava no meio da Amazônia Legal, dentro de uma APP, logo,
configuraria a conduta típica prevista no art. 38. Em sendo objetiva a
responsabilidade por danos ambientais, cabe ao autuado provar que não fora a
responsável pelo desmatamento flagrado e, assim, afastar o nexo de causalidade
entre os fatos e os danos. Precedente do STJ. IV - Apelação do Ministério Público
Federal desprovida.
(ACR 0000202-25.2009.4.01.3903 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
CÂNDIDO RIBEIRO, QUARTA TURMA, e-DJF1 de 20/07/2016) (g. n.)

Assim, considerando o desconhecimento do ré u acerca da necessidade de obtençã o


da autorizaçã o do ó rgã o competente, deve haver a absolviçã o com base no art. 386, inciso
III, do CPP.

IV – EVENTUALIDADE. DA DOSIMETRIA DA PENA

A bem do princípio da eventualidade, caso não acolhido o pleito absolutório, o que
não se acredita, a Defesa irá tratar de aspectos atinentes à dosimetria da pena.

4.1. DA APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA DE FORMA PREPONDERANTE EM
RELAÇÃO À AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.


Os acusados confessaram o delito no interrogatório policial (JOSÉ NOBRES na pág.
10 do id. 38230045 e MARCELO FERREIRA DA SILVA na pág. 16 do id. 38230045), e
durante a audiência também não negaram (mídias de id. 278844366 e 278844368).
Portanto, se proferido decreto condenatório, a confissão deve ser considerada,
para fins de fixação da pena provisória, como atenuante genérica, prevista no art. 65, III,
“d”, do Código Penal, fazendo jus à diminuição da reprimenda. Afinal, a confissão deve
ser considerada, de forma preponderante em relação à reincidência.
Neste sentido, traz-se à baila o entendimento consolidado no Supremo Tribunal
Federal, segundo o qual, em sendo a confissão espontânea uma circunstância
atenuante relacionada à personalidade do agente, esta será preponderante, nos
termos do art. 67, do CP. Vejamos:

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6º Ofício

HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA DA PENA. CONCURSOS DE CIRCUNST NCIAS


ATENUANTES E AGRAVANTES. PREPONDER NCIA. CONFISSÃO ESPONT NEA.
COMPENSAÇÃO COM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA.
1. A Constituição Federal assegura aos presos o direito ao silêncio (inciso LXIII
do art. 5º). Nessa mesma linha de orientação, o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos (Pacto de São José da Costa Rica) institucionaliza o
princípio da “não-auto-incriminação” (nemo tenetur se detegere). Esse direito
subjetivo de não se auto-incriminar constitui uma das mais eminentes formas de
densificação da garantia do devido processo penal e do direito à presunção de
não-culpabilidade (inciso LVII do art. 5º da Constituição Federal). A revelar,
primeiro, que o processo penal é o espaço de atuação apropriada para o órgão de
acusação demonstrar por modo robusto a autoria e a materialidade do delito.
Órgão que não pode se esquivar da incumbência de fazer da instrução criminal a
sua estratégia oportunidade de produzir material probatório substancialmente
sólido em termos de comprovação da existência de fato típico e ilícito, além da
culpabilidade do acusado. 2. A presunção de não-culpabilidade trata, mais do que
de uma garantia, de um direito substantivo. Direito material que tem por
conteúdo a presunção de não-culpabilidade. Esse o bem jurídico
substantivamente tutelado pela Constituição; ou seja, a presunção de não
culpabilidade como o próprio conteúdo de um direito substantivo de matriz
constitucional. Logo, o direito à presunção de não-culpabilidade é situação
jurídica ativa ainda mais densa ou de mais forte carga protetiva do que a simples
presunção de inocência. 3. O Supremo Tribunal Federal tem entendido que não
se pode relacionar a personalidade do agente (ou toda uma crônica de vida) com
a descrição, por esse mesmo agente, dos fatos delitivos que lhe são debitados (HC
102.486, da relatoria da ministra Cármen Lúcia; HC 99.446, da relatoria da
ministra Ellen Gracie). Por outra volta, não se pode perder de vista o caráter
individual dos direitos subjetivo-constitucionais em matéria penal. E como o
indivíduo é sempre uma realidade única ou insimilar, irrepetível mesmo na sua
condição de microcosmo ou de um universo à parte, todo instituto de direito
penal que se lhe aplique – pena, prisão, progressão de regime penitenciário,
liberdade provisória, conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de
direitos – há de exibir o timbre da personalização. Quero dizer: tudo tem que ser
personalizado na concreta aplicação do direito constitucional-penal, porque a
própria Constituição é que se deseja assim orteguianamente aplicada (na linha
do “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, como sentenciou Ortega Y Gasset). E
como estamos a cuidar de dosimetria da pena, mais fortemente se deve falar em
personalização. 4. Nessa ampla moldura, a assunção da responsabilidade pelo
fato-crime, por aquele que tem a seu favor o direito a não se auto-incriminar,
revela a consciência do descumprimento de uma norma social (e de suas
consequências), não podendo, portanto, ser dissociada da noção de
personalidade. 5. No caso concreto, a leitura da sentença penal condenatória
revela que a confissão do paciente, em conjunto com as provas apuradas
sob o contraditório, embasou o juízo condenatório. Mais do que isso: as
palavras dos acusados (entre eles o ora paciente) foram usadas pelo
magistrado sentenciante para rechaçar a tese defensiva de delito
meramente tentado. É dizer: a confissão do paciente contribuiu
efetivamente para sua condenação e afastou as chances de reconhecimento
da tese alinhavada pela própria defesa técnica (tese de não consumação do
crime). O que reforça a necessidade de desembaraçar o usufruto máximo à
sanção premial da atenuante. Assumindo para com ele, paciente, uma
postura de lealdade (esse vívido conteúdo do princípio que, na cabeça do
art. 37 da Constituição, toma o explícito nome de moralidade). 6. Ordem
concedida para reconhecer o caráter preponderante da confissão
espontânea e determinar ao Juízo Processante que redimensione a pena
imposta ao paciente. (STF, HC 101909/MG, Relator(a): Min. AYRES BRITTO,
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6º Ofício

Segunda Turma, julgado em 28/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-119


DIVULG 18- 06-2012 PUBLIC 19-06-2012 – grifado)
Da mesma forma, o Superior Tribunal de Justiça entende que a confissão deve ser
considerada de maneira preponderante e compensada com a agravante da reincidência:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. 1.
CONDENAÇÃO. APELAÇÃO JULGADA. PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ESPECIAL. INVIABILIDADE. VIA INADEQUADA. 2. DOSIMETRIA.
PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNST NCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. ANTECEDENTES. CONDENAÇÕES ANTERIORES COM
TRÂNSITO EM JULGADO. 3. JULGADOS DIVERSOS UTILIZADOS PARA
AUMENTAR A PENA NA CIRCUNST NCIA JUDICIAL E NA AGRAVANTE.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM. INEXISTÊNCIA. 4. LAPSO
TEMPORAL DO CUMPRIMENTO DA PENA. ARTIGO 64, I, CP AUSÊNCIA DE
DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA NOS AUTOS. 5. PERSONALIDADE.
NEGATIVA. PECULIARIDADES OBTIDAS DA CONDUTA DO AGENTE.
EXASPERAÇÃO. POSSIBILIDADE. EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS. 6.
CONFISSÃO UTILIZADA PELO MAGISTRADO. CONDENAÇÃO. REDUÇÃO DA
PENA-BASE PELA ATENUANTE. RECONHECIMENTO. POSSIBILIDADE. 7.
COMPENSAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO COM A AGRAVANTE DA
REINCIDÊNCIA. POSSIBILIDADE. 8. CONSEQUÊNCIAS DO DELITO DE ROUBO.
ARGUMENTOS INIDÔNEOS. ELEMENTARES DO TIPO PATRIMONIAL. 9.
REPRIMENDA FINAL EM PATAMAR INFERIOR A OITO ANOS. CIRCUNST NCIAS
JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. RÉU REINCIDENTE. REGIME SEMIABERTO E
SUBSTITUIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 10. DELAÇÃO PREMIADA. CONTRIBUIÇÃO
TIDA POR INSUFICIENTE. 11. DIVAGAÇÕES OUTRAS SOBRE A MINORANTE.
ANÁLISE FÁTICO-PROBATÓRIA. 12. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. [...]
6. Há evidente ilegalidade se a confissão do increpado foi utilizada para
embasar a condenação, mas deixou de ser reconhecida a atenuante
genérica da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, "d", do Código
Penal.
7. A Terceira Seção desta Corte consolidou o entendimento de que a
atenuante da confissão espontânea, por envolver a personalidade do
agente, deve ser compensada com a agravante da reincidência (EREsp n.º
1.154.752-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23.5.2012). [...] 12.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de reduzir a
pena imposta. (STJ, HC 198.665/DF, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe 28/11/2013 – grifado)

Portanto, a confissão é circunstância que sempre atenua a pena, já que demonstra
a colaboração do acusado no processo, por isso, devendo ser reconhecida e aplicada em
patamar condizente com a sua importância na individualização da pena, de maneira
preponderante em relação à reincidência. Nesse diapasão:

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS NO HABEAS CORPUS.
CRIME DE POSSE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO PERMITIDO. CRIME DE PERIGO
ABSTRATO. 3 CARTUCHOS CALIBRE 9MM. AGENTE CONTUMAZ NA PRÁTICA DE
DELITOS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO APLICAÇÃO.
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6º Ofício

MULTIRREINCIDÊNCIA. CONFISSÃO. COMPENSAÇÃO PARCIAL. REGIME


INICIAL SEMIABERTO. FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. REINCIDÊNCIA E
CIRCUNST NCIA DESFAVORÁVEL. ATIPICIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO. 1. O princípio da insignificância é parâmetro utilizado para
interpretação da norma penal incriminadora, buscando evitar que o instrumento
repressivo estatal persiga condutas que gerem lesões inexpressivas ao bem
jurídico tutelado ou, ainda, sequer lhe causem ameaça. 2. Nos termos da
jurisprudência desta Casa, a reiteração delitiva pode impedir a incidência do
princípio da insignifícância, visto que o referido postulado não busca resguardar
condutas habituais juridicamente desvirtuadas, mas sim impedir que desvios de
conduta irrisórios e manifestamente irrelevantes sejam alcançados pelo Direito
Penal. 3. Tratando-se de réu multirreincidente, cabível a compensação
parcial da atenuante da confissão espontânea com a agravante da
reincidência, bem como a fixação de regime inicial imediatamente mais
gravoso, o semiaberto. 4. Agravo regimental improvido. (AgRg nos EDcl no
HC 569.254/SC, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 14/09/2020 – grifado).

Diante do exposto, requer que a atenuante da confissão seja considerada na fixação
da segunda fase da dosimetria da pena, compensando-se com a agravante da reincidência.

4.2. DA APLICAÇÃO DA ATENUANTE DO DESCONHECIMENTO DA LEI QUANTO AO RÉU MARCELO
FERREIRA DA SILVA


Ainda que não se aplica o erro de proibição inevitável, nos termos do art. 65, II do
Código Penal o desconhecimento da lei é uma circunstância atenuante que deve ser
considerada na fixação da pena.
No caso em tela, o réu MARCELO FERREIRA DA SILVA relatou que não sabia da
necessidade de autorização ambiental visto que a extração de areia no local era conduta
habitual de outras pessoas, conforme já exposto (mídia de id. 278844368).
Por conseguinte, requer que seja considerada a atenuante prevista pelo art. 65, II
do Código Penal, na aplicação da pena do réu MARCELO FERREIRA DA SILVA.

4.3. DA APLICAÇÃO DA ATENUANTE DE BAIXO GRAU DE INSTRUÇÃO OU ESCOLARIDADE DOS AGENTES

De acordo com a Lei n. 9.605/98 em seu art. 14, I, uma das circunstâncias que
atenuam a pena é o baixo grau de instrução ou escolaridade do agente.

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6º Ofício

Conforme exposto, o réu JOSÉ NOBRES é pessoa em vulnerabilidade social e


relatou em audiência que nunca teve oportunidade de estudar e é analfabeto (mídia
de id. 278844366).
Do mesmo modo, o réu MARCELO FERREIRA DA SILVA estudou apenas até o
ensino fundamental, conforme relatado em seu interrogatório (mídia de id. 278844368).
Desse modo, requer que seja considera a atenuante prevista pelo art. 14, I da Lei
9.605/98 na dosimetria da pena dos réus.

4.4. DA ESPECIALIDADE DA NORMA CONTIDA NO ART. 55 DA LEI 9.605/98 EM RELAÇÃO À NORMA
DO ART. 2º, DA LEI 8.176/91.


A defesa dos acusados não desconhece os efeitos perversos que a extração ilegal
de areia pode causar ao meio ambiente, mas a punição criminal dos acusados, caso Vossa
Excelência entenda que houve a prática dos delitos em questão pelos Réus, deve ser feita
sob os parâmetros constitucionais e legais abaixo delineados.
Ademais, é de se ter em vista, ante a acusação formulada, os tipos penais em
comento:

Lei 8.176/91 – art. 2º. Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de
usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem
autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título
autorizativo.
Pena – detenção, de um a cinco anos, e multa.

Lei 9.605/98 - Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais
sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em
desacordo com a obtida:
Pena – detenção, de seis meses a um ano, e multa.

Veja-se que a redação dos tipos em comento é muito parecida, o que não é por
acaso.
De fato, a Lei 8.176 foi publicada em 08/02/1991 para tratar de crimes contra a
ordem econômica e o sistema de estoques de combustíveis fósseis, com o escopo de
defender o patrimônio nacional da exploração irregular das matérias-primas
pertencentes à União.

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6º Ofício

Posteriormente, adveio a Lei de Crimes Ambientais, em 12/02/1998, para tratar


da extração de recursos minerais sem a devida autorização. Veja-se que, apesar das
nomenclaturas diferentes, os tipos em comento tratam da mesma coisa, isto é, da defesa
dos recursos minerais nacionais, que não podem ser explorados sem a devida autorização.
Com o advento da Lei 9.605/98, em seu art. 55, houve evidente novatio legis
in mellius, porquanto um tipo penal veio a tratar de tema já tratado anteriormente,
mas recriminando de forma menos severa.
Com efeito, argumentar que explorar matéria-prima da União e executar
extração de recurso mineral pertencente à União, ambas em desconformidade com
os preceitos legais, são situações distintas foge da racionalidade jurídica.
De fato, o que há, no presente caso, é uma especialidade da norma contida no art.
55 da Lei 9.605/98 em relação à antiga norma do art. 2º da Lei 8.172/91. Há de se aplicar,
portanto, o princípio da especialidade, afastando-se os efeitos da norma geral, para fazer
incidir, no caso concreto, a norma específica mais recente, qual seja, a Lei dos Crimes
Ambientais.
Desta feita, quando o órgão acusatório imputa aos Réus suposta prática de
crime de exploração de matéria-prima da União e, ao mesmo tempo, suposta
prática de crime ambiental por explorar recursos minerais que também pertencem
à União, acaba incorrendo em rechaçado bis in idem.
O mais abalizado entendimento jurisprudencial também é nesse sentido,
superando a mera argumentação de se tratar, supostamente, de bens jurídicos distintos,
para reconhecer, verdadeiramente, a existência, de especialidade de um delito em relação
ao outro:

PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE EXTRAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS
SEM A COMPETENTE AUTORIZAÇÃO (ART. 55, CAPUT, DA LEI Nº 9.605/98).
CRIME DE USURPAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA DA UNIÃO SEM AUTORIZAÇÃO
LEGAL (ART. 2º DA LEI Nº 8.176/91). CONFLITO APARENTE DE NORMAS.
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO CRIME
AMBIENTAL. 1. O conflito aparente se instala quando, havendo duas ou mais
normas incriminadoras e um fato único, o agente, mediante uma única ação ou
omissão, ofende (aparentemente) tais normas. No conflito aparente de normas
há unidade do fato e pluralidade de normas. A ofensa ao mundo naturalístico
ocorre uma única vez. 2. Ao agente que pratica lavra clandestina de minério
(Lei 9.605/98, art. 55) não pode ser imputado, também, o crime previsto
no art. 2º da Lei 8.176/91 (explorar matéria-prima pertencente à União

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6º Ofício

Federal sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações


impostas pelo título autorizador), por tratarem da mesma matéria. 3.
Havendo concurso aparente de normas, deve o juiz valer-se do princípio da
especialidade e proceder à subsunção adequada, aplicando apenas um dos
preceitos legais, qual seja, o que melhor se ajusta à conduta praticada, sob
pena de bis in idem. 4. Manutenção da absolvição dos réus por fundamento
diverso, consistente na inexistência da prática do crime previsto no art. 2º da Lei
nº. 8176/94, eis que os fatos configuraram o crime do art. 55 da Lei 9.605/98,
cuja punibilidade já foi extinta. 5. Nego provimento à apelação do Parquet. (ACR
0003869-96.2007.4.01.3900 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO
NETO, TERCEIRA TURMA, e-DJF1 p.365 de 07/10/2011 - grifamos)

Diante do exposto, e pelas razões acima expendidas, a defesa pugna pelo
reconhecimento do princípio da especialidade, devendo os acusados responderem apenas
pelo delito do art. 55 da lei 9.605/98.

V – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a. preliminarmente, a absolvição dos réus pelos crimes do art. 2°,
caput e § 1°, da Lei n. 8.176/91 e art. 55 da Lei n. 9.605/98, diante da
ausência de provas contundentes da materialidade delitiva e ilicitude da
obtida, nos termos do art. 157 c/c art. 386, incisos II e VII do CPP;
b. no mérito, a absolvição de MARCELO FERREIRA DA SILVA, nos
termos do art. 21, do CP, em razão de erro inevitável sobre a ilicitude do
fato;
c. na remota hipótese de condenação:
(i) a compensação da agravante da reincidência com a atenuante
da confissão;
(ii) a aplicação da atenuante de desconhecimento da lei (art. 65,
II do CP), com relação ao réu MARCELO FERREIRA DA SILVA, e da
atenuante do baixo grau de instrução ou escolaridade do agente
aplicável a ambos os réus (art. 14, I da Lei 9.605/98);
(iii) o reconhecimento da especialidade da norma contida no art.
55, da Lei 9.605/98 em relação à antiga norma do art. 2º da Lei

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6º Ofício

8.176/91;
(iv) a fixação de regime inicial menos gravoso, com a substituição
da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, nos
termos do art. 44, § 3°, do Código Penal.

Nesses termos, pede deferimento.

Campinas, 10 de abril de 2023.

Amanda Ribeiro Costa
DEFENSORA PÚBLICA FEDERAL

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