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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO


PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
4ª Turma

APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001107-06.2009.4.03.6124


RELATOR: Gab. 47 - DES. FED. WILSON ZAUHY
APELANTE: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVAVEIS, UNIÃO FEDERAL
APELADO: ANILSON APARECIDO CLAUDINO, DEBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, CESP COMPANHIA
ENERGETICA DE SAO PAULO, MUNICIPIO DE SANTA FE DO SUL, RIO PARANÁ ENERGIA S.A
Advogados do(a) APELADO: GUILHERME SONCINI DA COSTA - SP106326-A, RODRIGO SONCINI DE OLIVEIRA GUENA -
SP259605-A
Advogados do(a) APELADO: ALEXANDRE ABBY - SP303656-A, LAURA FANUCCHI - SP374979-A
Advogado do(a) APELADO: ADRIANA ASTUTO PEREIRA - SP389401-A
Advogado do(a) APELADO: RODOLFO QUEIROZ MACHADO - SP499982
OUTROS PARTICIPANTES:

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
4ª Turma

APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001107-06.2009.4.03.6124


RELATOR: Gab. 47 - DES. FED. WILSON ZAUHY
APELANTE: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVAVEIS, UNIÃO FEDERAL

APELADO: ANILSON APARECIDO CLAUDINO, DEBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, CESP COMPANHIA
ENERGETICA DE SAO PAULO, MUNICIPIO DE SANTA FE DO SUL, RIO PARANÁ ENERGIA S.A
Advogados do(a) APELADO: GUILHERME SONCINI DA COSTA - SP106326-A, RODRIGO SONCINI DE OLIVEIRA GUENA -
SP259605-A
Advogado do(a) APELADO: ADRIANA ASTUTO PEREIRA - SP389401-A
Advogados do(a) APELADO: CARINA SANTANIELI - SP213374-A, GIOVANI RODRYGO ROSSI - SP209091-A, MARIANI
PAPASSIDERO AMADEU - SP270827-A, MILTON RICARDO BATISTA DE CARVALHO - SP139546-A, PAULO ROGERIO
GONCALVES DA SILVA - SP294562-A, RODOLFO QUEIROZ MACHADO - SP499982, SEIJI KURODA - SP119370-N
Advogado do(a) APELADO: ALEXANDRE ABBY - SP303656-A
OUTROS PARTICIPANTES:

R E LAT Ó R I O

Trata-se de ação civil pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - MPF em face de
ANILSON APARECIDO CLAUDINO e DÉBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, da CESP -
COMPANHIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO, da UNIÃO FEDERAL, do INSTITUTO
BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA e
do MUNICÍPIO DE SANTA FÉ DO SUL/SP.

Narra o Parquet em sua inicial, em síntese, que os corréus pessoas físicas (“rancheiros”) são
proprietários de construção erguida na área de preservação permanente do reservatório da Usina
Hidrelétrica de Ilha Solteira e que foram instados administrativamente a repararem o dano
ambiental, mas permaneceram inertes.

Argumenta que a concessionária também deu causa ao dano ambiental ao descumprir obrigações
legais e contratuais e que, além de não ter adotado medidas para preservar e recuperar a área de
preservação permanente no entorno do reservatório, ainda firmou contratos de concessão de uso
com particulares para que utilizassem a faixa de segurança da represa.

Sustenta que o IBAMA é parte legítima para o feito porque descumpriu seus deveres de
fiscalização, inclusive aduzindo que questionou a autarquia sobre 594 (quinhentos e noventa e
quatro) procedimentos administrativos e apenas 6 (seis) haviam sido concluídos.

Alega que o município não só deixou de exercer seu poder de polícia como incentivou a ocupação
pelos “rancheiros”, “criando normas legais para burlar a legislação ambiental federal” e perpetuar
o dano ambiental.

Formula os seguintes pedidos:

“(...)

VIII - PEDIDO DE PROVIMENTO CONDENATÓRIO APÓS COGNIÇÃO EXAURIENTE:

137. Diante de todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, em sede de cognição


exauriente, além da confirmação dos pedidos concedidos em sede de cognição sumária
requer o seguinte:

138. Com relação à União Federal requer:

a.

Seja condenada a União Federal pela omissão na fiscalização do contrato de


concessão firmado com a concessionária-ré, acarretando na imediata ruptura da
avença por inobservância das imposições legais e constitucionais (preservação do
meio ambiente);

b.
Seja compelida a União Federal a proceder apuração de eventuais
responsabilidades dos gestores públicos, especialmente do fiscal/gestor do contrato
administrativo, em razão da não fiscalização da execução do contrato;

c.
Seja condenada a União Federal a, em conjunto com os demais réus, recompor
integralmente os danos ambientais perpetrados nas APPs, consistente na adoção de
todas as medidas necessárias para tal recomposição; e

d.
Seja arbitrada multa pecuniária, levando-se em conta o período em que a ré União
Federal foi omissa na fiscalização do contrato, devendo ser criteriosamente arbitrado
por este r. Juízo e revertido ao fundo previsto na Lei 7.347/85.

139. Com relação ao(s) Rancheiro(s)requer:

a.

Seja(m) condenado(s) o(s) Senhor(es) ANILSON APARECIDO CLAUDINO e


DÉBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, nos termos do artigo 30 e seguintes da
Lei n° 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) à obrigação de fazer consistente na
completa recuperação da área de preservação permanente efetivamente prejudicada
(florestamento), mediante a retirada das edificações e impermeabilizações existentes
no local e adoção de práticas de adequação ambiental, utilizando-se técnicas de
plantio e de manutenção da área e produtos não lesivos ao meio ambiente, mediante
a supervisão do órgão ambiental, que deverá aprovar a forma de recuperação;

b.
e Seja(m) condenado(s) o(s) Senhor(es) ANILSON APARECIDO CLAUDINO e
DÉBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, nos termos do artigo 311 e seguintes
da Lei n° 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) à obrigação de coibir toda e qualquer
atividade que possa causar lesão à área de preservação permanente objeto da ação
civil pública ou nela promover ou permitir que se promovam atividades danosas,
ainda que parcialmente.

140. Com relação ao IBAMA, a Municipalidade e a Concessionária requer:

a.

Seja condenado o MUNICÍPIO DE SANTA FÉ DO SUL e a empresa CESP,


solidariamente, à obrigação de fazer consistente na completa recuperação da área
de preservação permanente efetivamente prejudicada;

b.
Seja determinado ao IBAMA, a Municipalidade e a Concessionária, mediante a
remoção das edificações existentes no local, caso não cumprida a obrigação pelos
réus rancheiros, e a adoção de práticas de adequação ambiental, utilizando-se
técnicas de plantio e de manutenção da área e produtos não lesivos ao meio
ambiente; ou

c.
Alternativamente, mediante o auxílio na remoção das edificações existentes no local
e da adoção de práticas de adequação ambiental, utilizando-se técnicas de plantio e
de manutenção da área e produtos não lesivos ao meio ambiente;

d.
Seja condenado o IBAMA na obrigação de fazer consistente na fiscalização e
acompanhamento técnico ambiental até completa recuperação da área de
preservação permanente; e

e.
Seja condenado o IBAMA e a Municipalidade, na obrigação de fazer consistente no
exercício de seu poder de Polícia Ambiental, para realizarem fiscalização diuturna,
ostensiva e ininterrupta em toda a APP, no sentido de:

e.1) realizarem a delimitação física da APP;

e.2) evitar novas construções ou edificações;

e.3) interromper toda e qualquer atividade em andamento que estiver em desacordo


com a legislação ambiental protetora da APP, realizando para tanto, interdições,
aplicação de multa, embargos e demolições;

e.4) realizar vistoria mensal em toda a APP, para o cumprimento das

e.5) obrigações acima mencionadas, fiscalizando as delimitações físicas realizadas,


remetendo mensalmente a este juízo relatório de tais vistorias, sob pena de multa a
ser estipulada por Vossa Excelência em caso de eventual descurnprimento; e

e.6) que AFIXEM, mantenham e conservem as placas alertando sobre os limites da


APP, informando ainda que se trata de bem insuscetível de ocupação/utilização.

141. Com relação todos os réus requer:

a.

Seja declarada, incidenter tantum, a inconstitucionalidade da legislação do município


de Santa Fé do Sul (notadamente LC no 92/03 e 111/06), que contraria os preceitos
contidos na legislação federal (Lei 4.771/65 e 6.766/79) e respectivas Resoluções do
CONAMA (nº 4/85 e 302/02), no tocante à extensão, ocupação e utilização das
faixas de proteção do reservatório de Ilha Solteira;

b.
Sejam condenados os réus no pagamento de indenização quantificada em perícia ou
por arbitramento deste Juízo Federal, correspondente aos danos ambientais que, no
curso do processo, mostrarem-se técnica e absolutamente irrecuperáveis nas áreas
de preservação permanente irregularmente utilizadas pelos réus, acrescidas de juros
e correção monetária, a ser recolhida ao Fundo a que se refere o artigo 13 da Lei n.
7.347/85 (Ação Civil Pública);

c.
Seja imposta multa diária não inferior a R$ 3.000,00 (três mil reais) com fundamento
no artigo 461, § 4º, do Código de Processo Civil, para a hipótese de descumprimento
das obrigações impostas nos itens acima; e

d.
Seja reconhecida e declarada a rescisão do contrato de concessão entre a
concessionária de energia e o infrator por quebra de cláusula contratual
(preservação do meio ambiente).

(...)” (ID 281053664 - pág. 11/28 e ID 281053665 - pág. 01/11).


Deferida em parte a liminar, com as seguintes determinações:

“(...)

a.

que o(s) réu(s) rancheiro(s) se abstenham de promover ou permitir que se promova


qualquer nova atividade na faixa de Área de Proteção Permanente - APP do imóvel
objeto da ação, como, por exemplo, novas construções, reformas naquelas
existentes, novas impermeabilizações ou aumento das já existentes. Deverá(ão),
ainda, se abster de promover o plantio de espécies, de colocar animais na área em
questão ou de movimentar o solo. Verificadas, a contar da data da citação, qualquer
nova atividade que altere a situação do imóvel em área de APP, o(s) réu(s)
deverá(ão) deixar imediatamente de praticá-la, devendo desfazê-la imediatamente,
sem prejuízo da imposição de multa;

b.
que o IBAMA e a Prefeitura de Santa Fé do Sul, em conjunto, realizem, no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, a contar da data da citação, vistoria no imóvel objeto
dos autos, e elaborem um laudo preliminar onde constem todos os elementos
necessários para garantir a eficácia do provimento constante do item "a" deste
dispositivo, cabendo ao instituto ambiental e à Municipalidade, ainda, a fiscalização
das atividades exercidas pelo(s) o(s) réu(s) rancheiro(s), visando coibir qualquer ato
tendente a alterar a situação atual do imóvel, verificada e atestada quando da
vistoria e da apresentação do laudo. Deverá o IBAMA, ainda, verificadas novas
atividades na área de preservação, proceder à imediata autuação do infrator,
comunicando ao Juízo o ocorrido, através de ofício encaminhado aos autos deste
processo;

c.
que a União Federal, regularmente citada, e ciente de que poderá vir a integrar o
pólo ativo da ação, em aplicação analógica do dispositivo inserto na Lei n.° 4.717/65,
caso entenda por bem contestar a ação, que realize a fiscalização efetiva da
execução do contrato de concessão firmado com a CESP, sob pena de
responsabilidade do administrador público, especialmente do fiscal/gestor do
contrato administrativo e que, em caso de inexistência de cláusula nesse sentido,
que proceda à imediata revisão do acordado com a CESP, fazendo nele constar
expressamente a previsão da imposição de sanção e eventual dissolução do
acordado por descumprimento dos seus termos, notadamente em virtude do uso
nocivo/abusivo da propriedade/posse por parte da concessionária.

Tendo em vista que o objeto desta demanda e, em especial, esta decisão, limita
parcialmente o uso e gozo - faculdades inerentes ao domínio - do imóvel em questão,
determino que, realizada a citação do(s) réu(s) rancheiro(s), seja imediatamente expedido
ofício ao Cartório de Registro de Imóveis competente, para que se faça a averbação da
citação na matrícula respectiva, nos termos do artigo 167, inciso i, n°21, da Lei n.°
6.015/73.

Indefiro, por ora, o pedido de cominação de multa diária à União Federal, haja vista que
este pedido está condicionado a sua decisão em figurar ou não no pólo ativo da ação.
(...)” (ID 281053665 - pág. 14/20).

Manifestação da União Federal pelo seu ingresso no polo ativo da demanda, o que foi deferido
pelo Juízo, que consignou que ficaram inteiramente prejudicados os pedidos deduzidos em face
do ente público (ID 281053665 - pág. 27/32 e ID 281053667 - pág. 01/10 e 18).

Manifestação do IBAMA pela sua inclusão no polo ativo da lide, o que também foi deferido,
consignando o Juízo que ficaram inteiramente prejudicados os pedidos deduzidos em face da
autarquia (ID 281053667 - pág. 21/23 e 24).

Contestação pelo Município de Santa Fé do Sul/SP (ID 281053669 - pág. 07/30 e ID 281053670 -
pág. 01/06).

Contestação pela CESP (ID 281053670 - pág. 17/22 e ID 281053672 - pág. 01/11).

Contestação conjunta pelos réus pessoas físicas (ID 281053800 - pág. 04/24, ID 281053801 -
pág. 01/23, ID 281053805 - pág. 01/24, ID 281053809 - pág. 01/22 e ID 281053818 - pág. 01/12).

Reconsiderada a parte da decisão em que determinada a expedição de ofício ao CRI competente


para averbação da citação dos rancheiros na matrícula respectiva (ID 281053888 - pág. 16).

Em razão do julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, das cinco ações que discutiam
dispositivos do Código Florestal, foi determinada a intimação do MPF, que manifestou pela
inclusão da Rio Paraná no polo passivo da demanda e pelo seu regular prosseguimento (ID
281053936 - pág. 21 e 24/28 e ID 281053937 - pág. 01).

Proferido ato ordinatório no “processo piloto” n° 0001653.95-2008.4.03.6124 e trasladado a estes


autos, com o seguinte teor:

“concedo à concessionária (RIO PARANÁ) o prazo de 20 dias úteis para contestar, a partir
da intimação (deste) ato ordinatório (...) Em concentração de atos processuais, já na
contestação, a concessionária (RIO PARANÁ) deverá se manifestar, concretamente, a
respeito das provas que pretenda produzir, seu custeio e ônus, bem como sobre pontos
fulcrais dos processos, a exemplo dos eventuais impactos das alterações do Novo Código
Florestal nos feitos, interesse processual dos autores, definição e normas aplicáveis à Área
de Preservação Permanente (esclarecendo inclusive a respeito do licenciamento/Pacuera),
e inserção ou não do imóvel sindicado judicialmente na APP (...)” (ID 281054098).

Contestação pela RIO PARANÁ ENERGIA S/A (ID 281054104).

Proferido ato ordinatório no “processo piloto” n° 0001653.95-2008.4.03.6124 e trasladado a estes


autos, com o seguinte teor:

“(...) (tendo em vista) a juntada de resposta da concessionária (RIO PARANÁ), todas as


outras partes (autores e corréus), no prazo comum de 20 (vinte) dias úteis (isonomia),
poderão se manifestar a respeito das peças apresentadas, bem como acerca do conteúdo
do processo até então existente, também já se manifestando sobre provas que pretendam
produzir, seu custeio e ônus, bem como sobre pontos fulcrais dos processos, a exemplo
dos eventuais impactos das alterações do Novo Código Florestal nos feitos, interesse
processual dos autores, definição e normas aplicáveis à Área de Preservação Permanente
(esclarecendo inclusive a respeito do licenciamento), e inserção ou não do imóvel sindicado
judicialmente na APP (...) ficam desde logo indeferidos pedidos de dilação/prorrogação de
prazo. Ficam também indeferidas quaisquer tentativas de transferir ao Juízo o trabalho das
partes de protocolo/documentação individual de suas peças em cada um dos processos,
como infelizmente feito no passado..." (ID 281054145).

Manifestações pela União Federal, pelo MPF, pelos réus pessoas físicas, pela CESP, pelo
Município de Santa Fé do Sul/SP e pelo IBAMA (ID 281054146, 281054148, 281054151,
281054155, 281054169 e 281054171).

Proferida decisão saneadora com as seguintes determinações:

“III – CONCLUSÃO

Por todas essas razões:

a) DETERMINO o regular prosseguimento deste feito e o desvinculo de qualquer sujeição


processual ou instrutória a outro feito chamado “processo-piloto”;

b) REJEITO a alegação de conexão e o pedido de reunião, para julgamento conjunto, de


todas as ações civis públicas relativas à APP da UHE de Ilha Solteira;

c) INDEFIRO o pedido de reconsideração relativo à legitimidade da CESP e da RIO


PARANÁ S/A;

d) REJEITO a preliminar de ilegitimidade dos proprietários do imóvel;

e) REJEITO a preliminar de perda superveniente do interesse processual;

f) REJEITO a alegação de prescrição;

g) DETERMINO, em conformidade aos parâmetros de constitucionalidade declarados pelo


STF, que para fins de prova pericial a Área de Preservação Permanente – APP no entorno
da UHE de Ilha Solteira seja aferida a partir do parâmetro fixado pelo art. 62 do Novo
Código Florestal;

h) DETERMINO a inversão do ônus probatório, atribuindo-o aos proprietários do imóvel


quanto à prova de que as edificações apontadas na inicial estão na APP da UHE de Ilha
Solteira;

i) DETERMINO a realização de prova pericial, cujo ônus financeiro de adiantar a


integralidade dos valores deve ser arcado pelo(s) proprietário(s) do imóvel;

j) NOMEIO como perito o Dr. Artur Pantoja Marques, professor da UNESP – Ilha Solteira,
que realizará a perícia nos termos de projeto firmado entre esta instituição de ensino e a
Justiça Federal (Processo SEI 0015936-98.2020.4.03.8001). Ficam as partes cientes de
que já houve aceite do encargo e que currículo do expert está disponível na plataforma
Lattes (http://lattes.cnpq.br/7547159209899887);

k) FIXO o valor dos honorários periciais no patamar de R$ 1.157,00 (um mil, cento e
cinquenta e sete reais), nos termos do projeto citado. Intime-se o proprietário do imóvel
para adiantar, em 15 (quinze) dias, o valor integral dos honorários periciais, mediante
depósito judicial na Caixa Econômica Federal, vinculado a estes autos, sob pena de
preclusão da prova pericial e julgamento do processo no estado em que se encontrar;

l) INTIMEM-SE as partes para, no mesmo prazo de 15 (quinze) dias, querendo,


apresentarem seus quesitos e eventualmente indicarem assistente técnico;
m) Efetuado o adiantamento dos honorários, EXPEÇA-SE ordem de transferência à
UNESP de valor correspondente a 50% (cinquenta por cento) do valor depositado.
Concomitantemente, INTIME-SE o perito para indicar o período de realização da perícia,
que deverá ser comunicado ao Juízo com antecedência mínima de 10 (dez) dias. Com a
indicação, INTIMEM-SE as partes para ciência, ficando o(s) proprietário(s) do imóvel
cientes de que deverão franquear livre acesso do expert para realização da perícia, sob
pena de incursão em crime, além de terem de suportar o ônus da não realização da perícia;

n) Realizado o exame pericial, o laudo deverá ser elaborado na forma do CPC, 473, I a IV,
com respostas aos quesitos das partes e aos seguintes quesitos fixados pelo Juízo:

1 – Considerando que a APP – Área de Proteção Permanente do imóvel fora fixada nesta
decisão nos termos da Lei 12.651/2012, artigo 62 (distância entre o nível máximo operativo
normal e a cota máxima maximorum), INDICAR e ESTABELECER fisicamente o limite no
imóvel objeto da perícia;

2 – Nos limites da APP, existe alguma intervenção humana que impede a regeneração da
vegetação nativa? Em caso positivo, ESPECIFICAR qual a natureza da intervenção e a que
se destina, preferencialmente através de imagens.

o) Apresentado o laudo, VISTA ÀS PARTES no prazo comum de 15 (quinze) dias, nos


termos do CPC, 477, § 1º. Havendo impugnação, pedido de esclarecimento ou quesitos
suplementares, intime-se o perito para respondê-los. Após manifestação do perito, expeça-
se ordem de transferência à UNESP do restante dos honorários.

Com a apresentação final de esclarecimentos pelo perito; ou não os tendo sido requeridos;
ou não tendo havido o adiantamento dos honorários periciais; venham os autos conclusos
para sentença.

Intimem-se as partes para os fins do art. 357, § 1º, do CPC/15” (ID 281054172).

O MPF apresentou quesitos (ID 281054175)

A Rio Paraná, a CESP, o IBAMA e os corréus pessoas físicas indicaram assistentes técnicos e
apresentaram quesitos (ID 281054181, 281054237, 281054238 e 281054243).

A União apresentou quesitos (ID 281054246).

Elaborado o laudo pericial (ID 281054275).

Manifestações do MPF, da CESP, dos corréus pessoas físicas, do Município de Santa Fé do


Sul/SP, da Rio Paraná e do IBAMA (ID 281054284, 281054287, 281054292, 281054296,
281054300, 281054302).

Em sentença proferida em 18/05/2023, o Juízo de Origem julgou improcedente o pedido, sem


condenação em custas e honorários. Determinou a transferência do saldo remanescente do
depósito judicial dos honorários periciais para a conta indicada pelo perito e condenou a União ao
ressarcimento dos honorários periciais adiantados (ID 281054304).

O MPF apela, formulando os seguintes pedidos recursais:

“a) acolhimento da preliminar formulada nos termos do art. 1.009, § 1º, do CPC,
reformando-se a r. decisão interlocutória saneadora do feito para a aplicação da Lei
4.771/65, artigo 2º, alínea “b”, e Resolução CONAMA nº 302/2002 como marco normativo
para instrução do feito , a fim de que a APP seja delimitada em 100 metros, medida a partir
do nível máximo normal, afastando-se a incidência do art. 62 da Lei 12.651/2012;

b) consequentemente, a anulação do laudo pericial juntado aos autos e,


consequentemente, da r. sentença recorrida, determinando-se a realização de nova perícia
nos termos da legislação que fundamentou os pedidos iniciais;

c) subsidiariamente, a reforma da r. sentença para que os pedidos sejam julgados


totalmente procedentes , sendo determinada a realização de nova perícia na fase de
cumprimento de sentença para determinar a extensão dos danos a serem reparados” (ID
281054306).

A União apela pleiteando a reforma da sentença para que seja afastada a sua condenação ao
ressarcimento das despesas correspondentes à perícia requerida pelo réu, como prevê o art. 18
da Lei nº 7.347/85. Subsidiariamente, requer que a condenação seja rateada entre os
litisconsortes ativos (ID 281054307).

O IBAMA apela formulando os seguintes pedidos:

“1. Seja declarada a nulidade da sentença e o consequente retorno dos autos à 1ª instância
a fim de que os quesitos formulados pela Autarquia possam ser integralmente respondidos
pelo Sr. perito judicial; ou, subsidiariamente,

2. Seja acolhida a preliminar formulada nos termos do art. 1.009, § 1º, do Código de
Processo Civil, reformando-se a r. decisão interlocutória saneadora do feito; e, por via de
consequência,

3. Seja retificada também a r. sentença de mérito, fazendo-se constar as balizas


apresentadas pelo IBAMA acerca do art. 62 do Novo Código Florestal, nos termos acima
delineados; e, por fim,

4. Caso sobrevenha a constatação de intervenções ilegais em APP, considerada esta


conforme a interpretação do art. 62 da Lei 12.651/12 acima exposta pelo IBAMA, sejam
condenados os réus à sua remoção e à recuperação da área, nos termos definidos na
petição inicial” (ID 281054308).

Contrarrazões pela CESP, pela Rio Paraná, pelo Município de Santa Fé do Sul/SP e pelos corréus
pessoas físicas (ID 281054321, 281054361, 281054363 e 281054368).

Parecer do Ministério Público Federal pelo conhecimento e provimento do reexame necessário,


pelo provimento parcial do recurso do MPF e pelo provimento do recurso do IBAMA, para declarar
a nulidade da sentença por cerceamento de defesa e determinar a devolução dos autos à Vara de
origem para complementação da prova pericial, restando prejudicada a análise do recurso da
União Federal (ID 282987519).

É o relatório.

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
4ª Turma

APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA (1728) Nº 0001107-06.2009.4.03.6124


RELATOR: Gab. 47 - DES. FED. WILSON ZAUHY
APELANTE: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVAVEIS, UNIÃO FEDERAL

APELADO: ANILSON APARECIDO CLAUDINO, DEBORA APARECIDA BATISTA CLAUDINO, CESP COMPANHIA
ENERGETICA DE SAO PAULO, MUNICIPIO DE SANTA FE DO SUL, RIO PARANÁ ENERGIA S.A
Advogados do(a) APELADO: GUILHERME SONCINI DA COSTA - SP106326-A, RODRIGO SONCINI DE OLIVEIRA GUENA -
SP259605-A
Advogado do(a) APELADO: ADRIANA ASTUTO PEREIRA - SP389401-A
Advogados do(a) APELADO: CARINA SANTANIELI - SP213374-A, GIOVANI RODRYGO ROSSI - SP209091-A, MARIANI
PAPASSIDERO AMADEU - SP270827-A, MILTON RICARDO BATISTA DE CARVALHO - SP139546-A, PAULO ROGERIO
GONCALVES DA SILVA - SP294562-A, RODOLFO QUEIROZ MACHADO - SP499982, SEIJI KURODA - SP119370-N
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OUTROS PARTICIPANTES:

VOTO

Do reexame necessário

Conheço do reexame necessário por força do art. 19 da Lei n° 4.717/1965 (Lei da Ação Popular),
de aplicação analógica às ações civis públicas (STJ, AgInt no REsp 1547569/RJ, Rel. Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, julgado em 17/06/2019, DJe 27/06/2019).

Das alegações de nulidade da decisão saneadora e do laudo pericial

Alega o MPF que teria havido nulidade na decisão saneadora e, por conseguinte, no laudo pericial
em razão da adoção do parâmetro fixado pelo art. 62 do Novo Código Florestal para determinar a
extensão da área de preservação permanente.

Pleiteia que seja considerada, para esse fim, faixa de 100 (cem) metros, medida a partir do nível
máximo normal.

Em sentido semelhante, o IBAMA sustenta que a aplicação do art. 62 do Código Florestal deve
observar determinadas balizas, que serão apreciadas oportunamente, além de argumentar que
houve nulidade no laudo porque os quesitos por ela formulados não foram integralmente
respondidos.

As preliminares de nulidade da decisão saneadora e do laudo pericial têm relação direta com a
delimitação da extensão da área de preservação permanente e, portanto, confundem-se com o
mérito da causa e com ele serão analisadas.

Da extensão da área de preservação permanente

A matéria está assim disciplinada pelo atual Código Florestal:

“Art. 5º Na implantação de reservatório d’água artificial destinado a geração de


energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou
instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação
Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento
ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem)
metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta)
metros em área urbana. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

§ 1º Na implantação de reservatórios d’água artificiais de que trata o caput , o


empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambiental de
Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com termo de referência
expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, não
podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área de Preservação
Permanente. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).

§ 2º O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial, para


os empreendimentos licitados a partir da vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao
órgão ambiental concomitantemente com o Plano Básico Ambiental e aprovado até o início
da operação do empreendimento, não constituindo a sua ausência impedimento para a
expedição da licença de instalação.

§ 3º (VETADO).

(...)

Art. 62. Para os reservatórios artificiais de água destinados a geração de energia ou


abastecimento público que foram registrados ou tiveram seus contratos de
concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória nº 2.166-67,
de 24 de agosto de 2001, a faixa da Área de Preservação Permanente será a distância
entre o nível máximo operativo normal e a cota máxima maximorum. (Vide ADIN Nº
4.903)

(...)” (destaquei)

No julgamento conjunto da ADC 42/DF e das ADI 4901/DF, ADI 4902/DF, ADI 4903/DF e ADI
4937/DF, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela constitucionalidade do art. 62 do Código
Florestal, ocasião em que firmou a seguinte tese:

“h) Artigos 5º, caput e §§ 1º e 2º, e 62 (Redução da largura mínima da APP no entorno de
reservatórios d’água artificiais implantados para abastecimento público e geração de
energia): O estabelecimento legal de metragem máxima para áreas de proteção
permanente no entorno de reservatórios d’água artificiais constitui legítima opção de
política pública ante a necessidade de compatibilizar a proteção ambiental com a
produtividade das propriedades contíguas, em atenção a imperativos de desenvolvimento
nacional e eventualmente da própria prestação do serviço público de abastecimento ou
geração de energia (art. 175 da CF). Por sua vez, a definição de dimensões
diferenciadas da APP em relação a reservatórios registrados ou contratados no
período anterior à MP nº 2166-67/2001 se enquadra na liberdade do legislador para
adaptar a necessidade de proteção ambiental às particularidades de cada situação,
em atenção ao poder que lhe confere a Constituição para alterar ou suprimir espaços
territoriais especialmente protegidos (art. 225, § 1º, III). Trata-se da fixação de uma
referência cronológica básica que serve de parâmetro para estabilizar expectativas quanto
ao cumprimento das obrigações ambientais exigíveis em consonância com o tempo de
implantação do empreendimento; CONCLUSÃO: Declaração de constitucionalidade dos
artigos 5º, caput e §§ 1º e 2º, e 62, do novo Código Florestal;” (destaquei).

Com isto, não prevalecem as alegações de inconstitucionalidade do referido dispositivo.


Dito isto, registro que há no atual Código Florestal dois regramentos distintos para fixação da área
de preservação permanente no entorno dos reservatórios d’água artificiais de usinas hidrelétricas,
a saber: (i) aplica-se a regra do art. 62 àqueles que “foram registrados ou tiveram seus contratos
de concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001” e (ii) aplica-se a regra do art. 5°, caput, às demais hipóteses.

Dito de outro modo, a extensão da área de preservação permanente varia de acordo com a data
do registro ou do contrato de concessão e autorização. Mas, uma vez definida a extensão da área
de preservação permanente, ela é válida tanto para intervenções pretéritas quanto para
intervenções futuras, uma vez que não há fundamento legal para essa pretensa distinção.

Tampouco o fato de o art. 62 do atual Código Florestal estar inserto em capítulo intitulado
“Disposições Transitórias” permite chegar a tal conclusão.

Na verdade, o legislador posicionou a norma dentre as disposições transitórias porque, de fato,


ela se destina a disciplinar as áreas de preservação permanente de reservatórios cujo registro ou
contrato de concessão e autorização sejam anteriores a determinada data, mas não previu que,
para intervenções futuras nessas áreas, seria preciso observar qualquer outra norma.

E, diga-se uma vez mais, a adoção dos critérios constantes do art. 62 é constitucional, conforme
decidido pelo Supremo Tribunal Federal.

Desta forma, e com as devidas vênias a quem adota entendimento diverso, tenho que não é
possível aplicar uma regra para intervenções pretéritas e outra para intervenções futuras em área
de preservação permanente, por ausência de previsão legal.

Portanto, fica rejeitado o pedido recursal subsidiário de adoção das datas de 22/07/2008 ou de
28/05/2012 como marcos temporais para fins de determinação de regularização de intervenções
antrópicas consolidadas e de proibição de intervenções futuras.

No caso concreto, não consta dos autos a data exata da concessão da Usina Hidrelétrica de Ilha
Solteira, mas é certo que ela é anterior à Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001.

É o que se extrai, dentre outros, do teor da Portaria nº 289, de 11 de novembro de 2004, do


Ministério de Minas e Energia, assim reproduzida em sentença:

“A MINISTRA DE ESTADO DE MINAS E ENERGIA, no uso da atribuição que lhe confere o


art. 3º do Decreto nº 1.717, de 24 de novembro de 1995, nos termos dos Processos nºs
48500.005033/00-41, 48100.00.000118/96-05, 48100.000114/96-46, 48100.000113/96-83,
48100.000111/96-58 e 27100.001961/88-93, resolve:

Art. 1º Prorrogar, pelo prazo de vinte anos, contado a partir de 8 de julho de 1995, as
concessões para exploração das Usinas Hidrelétricas – UHE, a seguir especificadas,
de que é titular a Companhia Energética de São Paulo – CESP:

I – UHE Ilha Solteira, nos Municípios de Ilha Solteira e Selvíria, Estado de São Paulo.

(...)

Art. 3º A prorrogação dos prazos das concessões de que trata esta Portaria somente terá
eficácia com a assinatura do respectivo contrato de concessão entre a Companhia
Energética de São Paulo – CESP e o Poder Concedente, que será efetuado por intermédio
da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, nos termos da delegação de
competência constante do Decreto nº 4.932, de 23 de dezembro de 2003” (destaquei).

Aplicável ao caso, portanto, a regra do art. 62 do atual Código Florestal, de sorte que a faixa da
Área de Preservação Permanente será a distância entre o nível máximo operativo normal e a cota
máxima maximorum.

No caso dos autos, foi realizada prova pericial que constatou que não houve intervenção na área
de preservação permanente, cuja extensão foi definida na forma do art. 62 do atual Código
Florestal.

Confira-se:

“Quesito: 2 – Nos limites da APP, existe alguma intervenção humana que impede a
regeneração da vegetação nativa? Em caso positivo, ESPECIFICAR qual a natureza da
intervenção e a que se destina, preferencialmente através de imagens.

Resposta: Não há intervenção! (Ver anexo 4)

(...)” (ID 281054275 - pág. 12).

De rigor a rejeição das teses de nulidade do laudo pericial aventadas pelo MPF e pelo IBAMA,
porquanto todas dizem com a extensão da área de preservação permanente a ser considerada no
caso concreto.

Do mesmo modo, os quesitos apontados pelo IBAMA como não respondidos no laudo pericial só
seriam relevantes se sua tese de direito tivesse sido adotada, mas foi ela fundamentadamente
rejeitada em sentença, que ora mantenho.

E o tão só fato desses quesitos não terem sido formalmente rejeitados pelo juízo a quo não obriga
o perito a respondê-los, dada sua irrelevância para o deslinde da causa.

Desta forma, demonstrado por prova pericial que não houve intervenções na área de preservação
permanente, correta a sentença de improcedência do pedido.

Do ressarcimento dos honorários periciais

Pleiteia a União Federal o afastamento de sua condenação ao ressarcimento dos honorários


periciais adiantados pelo réu pessoa física, ou que a condenação seja rateada entre os
litisconsortes ativos.

Cumpre registrar que o art. 18 da Lei n° 7.347/1985 exige a comprovação de má-fé da parte
autora para sua condenação em honorários de advogado, custas e despesas processuais, mas
não para a condenação ao ressarcimento de honorários periciais adiantados pela parte adversa.

No mais, a sentença está de acordo com tese repetitiva firmada pelo Superior Tribunal de Justiça,
in verbis (Tema n° 510/STJ):

“Não é possível se exigir do Ministério Público o adiantamento de honorários periciais em


ações civis públicas. Ocorre que a referida isenção conferida ao Ministério Público em
relação ao adiantamento dos honorários periciais não pode obrigar que o perito exerça seu
ofício gratuitamente, tampouco transferir ao réu o encargo de financiar ações contra ele
movidas. Dessa forma, considera-se aplicável, por analogia, a Súmula n. 232 desta Corte
Superior ('A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à exigência do
depósito prévio dos honorários do perito'), a determinar que a Fazenda Pública ao qual se
acha vinculado o Parquet arque com tais despesas” (destaquei).

Neste sentido:

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EM MANDADO DE


SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECISÃO
JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE TERATOLOGIA OU MANIFESTA ILEGALIDADE.
ADIANTAMENTO DE HONORÁRIOS PERICIAIS, EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
RESPONSABILIDADE DO ESTADO A QUE ESTIVER VINCULADO O MINISTÉRIO
PÚBLICO, AUTOR DA AÇÃO. INCIDÊNCIA, POR ANALOGIA, DA SÚMULA 232/STJ.
INAPLICABILIDADE DO ART. 91 DO CPC/2015. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE.
PRECEDENTES DO STJ. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA IMPROVIDO.

(...)

II. Trata-se, na origem, de Mandado de Segurança, impetrado pelo Estado de São Paulo,
em razão da decisão judicial proferida nos autos de ação civil pública ajuizada pelo
Ministério Público do Estado de São Paulo, que determinara que o impetrante – por meio
do Fundo Estadual de Defesa dos Interesses Difusos - FID, órgão vinculado à Secretaria da
Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo – efetuasse o adiantamento da
verba honorária do perito, em processo do qual não é parte. O Tribunal de origem denegou
a ordem, concluindo que "o art. 18, da Lei n. 7.347/85 proíbe o adiantamento de custas,
emolumentos ou despesas com perícia por parte do Ministério Público, salvo se
comprovada eventual má-fé", ressaltando, ainda, a inaplicabilidade, no caso, do art. 91 do
CPC/2015.

(...)

IV. Na hipótese, contudo, não se verifica a ocorrência de decisão judicial manifestamente


ilegal ou teratológica, tampouco a existência de direito líquido e certo amparável pelo
Mandado de Segurança, na medida em que a Primeira Seção do STJ, no julgamento do
REsp 1.253.844/SC, submetido ao rito do art. 543-C do CPC/73 (art. 1.036 do CPC/2015),
firmou entendimento no sentido de que, em sede de ação civil pública, promovida pelo
Ministério Público, o adiantamento dos honorários periciais ficará a cargo da
Fazenda Pública a que está vinculado o Parquet, pois não é razoável obrigar o perito
a exercer seu ofício gratuitamente, tampouco transferir ao réu o encargo de financiar
ações contra ele movidas, aplicando-se, por analogia, a orientação da Súmula
232/STJ, in verbis: "A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à
exigência do depósito prévio dos honorários do perito". No mesmo sentido: STJ, REsp
1.884.062/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de
25/09/2020; AgInt no RMS 61.383/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA
TURMA, DJe de 12/12/2019; AgInt no REsp 1.426.996/SP, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de 19/03/2018; RMS 54.969/SP, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 23/10/2017; AgInt no REsp
1.420.102/RS, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
30/03/2017; AgRg no AREsp 600.484/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA
TURMA, DJe de 28/04/2015.

V. Cabe destacar que "não se sustenta a tese de aplicação das disposições contidas
no art. 91 do Novo CPC, as quais alteraram a responsabilidade pelo adiantamento
dos honorários periciais; isto porque a Lei 7.347/1985 dispõe de regime especial de
custas e despesas processuais, e, por conta de sua especialidade, a referida norma
se aplica à Ação Civil Pública, derrogadas, no caso concreto, as normas gerais do
Código de Processo Civil" (STJ, RMS 55.476/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 19/12/2017). Em igual sentido: STJ, AgInt no RMS 60.339/SP,
Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de 26/08/2020; AgInt no RMS
61.818/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de
13/04/2020; AgInt no RMS 59.106/SP, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA
TURMA, DJe de 21/03/2019; AgInt no RMS 56.454/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 20/06/2018.

VI. Recurso em Mandado de Segurança improvido” (destaquei).

(STJ, RMS n° 65.086/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe:
19/04/2021).

Por fim, deixo de condenar o IBAMA ao ressarcimento de honorários porque, muito embora tenha
sido admitido no polo ativo da demanda, a regra aplicável ao Ministério Público Federal aplica-se
igualmente à autarquia coautora.

Dispositivo

Ante o exposto, voto por negar provimento às apelações e ao reexame necessário.

É como voto.

EMENTA

DIREITO AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE DO RESERVATÓRIO DA USINA HIDRELÉTRICA DE ILHA
SOLTEIRA. LIMITES DEFINIDOS NA FORMA DO ART. 62 DO CÓDIGO FLORESTAL. PROVA
PERICIAL QUE DEMONSTROU A INEXISTÊNCIA DE INTERVENÇÃO NA APP:
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. HONORÁRIOS PERICIAIS ADIANTADOS PELO CORRÉU
PESSOA FÍSICA. RESSARCIMENTO DEVIDO PELA UNIÃO.

1. Trata-se de ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal fundada na possível
ocorrência de dano ambiental na área de preservação permanente do entorno do reservatório
d’água da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. As preliminares de nulidade da decisão saneadora e
do laudo pericial têm relação direta com a delimitação da extensão da área de preservação
permanente e, portanto, confundem-se com o mérito da causa e com ele serão analisadas.

2. Há no atual Código Florestal dois regramentos distintos para fixação da área de preservação
permanente no entorno dos reservatórios d’água artificiais de usinas hidrelétricas, a saber: (i)
aplica-se a regra do art. 62 àqueles que “foram registrados ou tiveram seus contratos de
concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de
agosto de 2001” e (ii) aplica-se a regra do art. 5°, caput, às demais hipóteses.

3. A extensão da área de preservação permanente varia de acordo com a data do registro ou do


contrato de concessão e autorização. Mas, uma vez definida a extensão da área de preservação
permanente, ela é válida tanto para intervenções pretéritas quanto para intervenções futuras, uma
vez que não há fundamento legal para essa pretensa distinção.
4. Não consta dos autos a data exata da concessão da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, mas é
certo que ela é anterior à Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001. Aplicável ao
caso, portanto, a regra do art. 62 do atual Código Florestal, de sorte que a faixa da Área de
Preservação Permanente será a distância entre o nível máximo operativo normal e a cota máxima
maximorum.

5. Demonstrado por prova pericial que não houve intervenções na área de preservação
permanente, correta a sentença de improcedência do pedido.

6. O art. 18 da Lei n° 7.347/1985 exige a comprovação de má-fé da parte autora para sua
condenação em honorários de advogado, custas e despesas processuais, mas não para a
condenação ao ressarcimento de honorários periciais adiantados pela parte adversa.

7. Correta a sentença ao condenar a União ao ressarcimento de honorários periciais adiantados


pelo corréu pessoa física. Tema Repetitivo n° 510 e precedente do Superior Tribunal de Justiça.

8. Apelações e reexame necessário não providos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Quarta Turma, à
unanimidade, decidiu negar provimento às apelações e ao reexame necessário, nos termos do
voto do Des. Fed. WILSON ZAUHY (Relator), com quem votaram a Des. Fed. MARLI FERREIRA
e a Des. Fed. MÔNICA NOBRE. Ausente, justificadamente, o Des. Fed. ANDRÉ NABARRETE ,
nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

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